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O painel de publicidade – também – não pode falhar

Semana passada, a maior parte do primeiro jogo entre Barcelona (EQU) e Grêmio, pela semifinal do principal e mais visto torneio de clubes do continente, ficou sem a publicidade no perímetro do campo, projetada por painéis eletrônicos. Na final da Copa do Mundo sub-17 no último fim de semana, algumas falhas nesta publicidade de mesma natureza. É cada vez mais comum optarem por esta modalidade para dar visibilidade aos parceiros comerciais do clube, do campeonato ou de uma liga – o campeonato brasileiro da primeira divisão é exceção. Ao mesmo tempo não é raro observar falhas no seu funcionamento, nos mais diversos torneios.

No jogo entre Barcelona e Grêmio por quase quarenta minutos as marcas parceiras (ou patrocinadoras, como preferirem) não apareceram. Por falha na operação dos painéis, elas deixaram de ser vistas. Não foram, naqueles instantes, relacionadas a um grande jogo (pelo menos para os gremistas) que é transmitido pelo mundo todo.

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Barcelona (EQU) x Grêmio, sem publicidade no perímetro do campo. /Foto: Lucas Uebel (Grêmio FBPA)

 

Ora, quando uma empresa se associa ao esporte, pressupõe-se que, no mínimo, sua marca seja exposta. Tão importante quanto o retorno financeiro em uma relação de patrocínio, são os ganhos de atribuições conquistados quando marcas se associam: uma esportiva (o evento) e outra que com ele se relaciona.

Foram milhões no mundo todo que não viram quais se relacionavam ao jogo e ao torneio. Por analogia, é o mesmo que um futebolista, quando ao marcar um gol em partida com transmissão da TV para o país inteiro tirasse a camiseta. O patrocinador deixa de ser visto e associado ao momento máximo do futebol.

Os responsáveis pelas marcas que deixaram de ser expostas nos painéis eletrônicos em Guaiaquil devem ter se irritado bastante. É necessário extremo cuidado e zêlo nestas operações, afinal são elas as principais fontes de financiamento destes torneios. Ademais, não tão menos importante, uma falha no painel descaracteriza o espetáculo esportivo, ao torná-lo esteticamente desagradável dentro de um campo de visão como um todo, o que pode ter consequências na audiência da TV.  Em um espetáculo esportivo de alto nível, também o painel não pode falhar.

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O nome das coisas

A Fifa anunciou na última sexta-feira (27), após congresso realizado na Índia, que havia decidido reconhecer como mundiais as Copas Intercontinentais disputadas entre 1960 e 2004, período em que os embates entre campeões da América do Sul e da Europa foram feitos sem chancela da entidade. Até então, apenas o torneio de 2000 e as edições disputadas de 2005 em diante eram consideradas. E o que isso muda? A resposta passa diretamente por muitos conceitos de comunicação.

Pergunte ao torcedor de Santos, Flamengo, Grêmio ou São Paulo, times que haviam sido campeões mundiais no período que a Fifa ainda não tinha reconhecido, se eles deixaram para celebrar apenas agora. Pergunte se isso mudou o valor ou o sentimento que envolveu essas conquistas.

A resposta é que o reconhecimento da Fifa nunca foi imprescindível. A chancela da entidade tem seu peso, é claro, mas não muda a história. O nome das coisas é apenas o nome, e isso é somente um elemento em um contexto de um título. Reduzir a festa ao “é Mundial” ou “não é Mundial” é reduzir também o valor da taça.

É por isso que é tão questionável o comportamento do Palmeiras sobre a Taça Rio de 1951. A competição foi relevante, contou com grandes clubes, e chamar o torneio de Mundial é uma demanda que apenas diminui o valor do certame.

O Brasil já acompanhou um episódio semelhante quando a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) resolveu reconhecer como Brasileiros o Roberto Gomes Pedrosa e a Taça Brasil. Houve uma canetada para mudar o status e o nome de duas competições que foram nacionais, como se equipará-las ao Brasileiro fosse fundamental para o valor delas. De certa forma, é uma linha de comunicação que diminui os próprios eventos.

Se você depende de chamar um objeto de cadeira para que as pessoas se sentem, existe uma falha em diversos níveis de comunicação não verbal sobre o artefato. A teoria lacaniana de comunicação diz que a cadeira só existe a partir do momento em que alguém se refere a ela como cadeira. Essa construção, contudo, não depende apenas do nome. É uma soma de elementos que se aglutinam e moldam um perfil palatável.

Comunicação é feita de sutilezas e não depende apenas de nomes, ainda que nomes sejam elementos que ajudem a dar identidade.

 

A queda do Corinthians

Não foi apenas a vantagem do Corinthians que derreteu no Campeonato Brasileiro; foi o próprio Corinthians. Líder do certame nacional, o time paulista fez campanha histórica no primeiro turno e abriu vantagem que parecia intransponível. Depois, perdeu rendimento e ressuscitou o Palmeiras, a despeito de o time alviverde também ter questões a resolver – basta lembrar que a diretoria mudou o comando técnico há menos de um mês, quando demitiu Cuca e efetivou Alberto Valentim.

A história do Campeonato Brasileiro pode ser a de times que conseguiram chegar ao título apesar das temporadas acidentadas – casos de Palmeiras e Santos. Mas se o ano não acabar com título do Corinthians, vai ser contado sempre sobre a decadência vertiginosa (pela proporção e pela velocidade) do time paulista.

No momento, o que parece acontecer é um enorme cenário de problema de comunicação entre diretoria, comissão técnica, jogadores e torcedores do Corinthians. Há uma carga evidente de desmobilização, de falta de confiança e de pressa.

O Corinthians tem muitas questões a resolver até o clássico contra o Palmeiras, agendado para a próxima rodada. Muitas dessas perguntas têm a ver com comunicação: como fazer para que um grupo recupere o elã e retome a confiança em tão pouco tempo? Como preparar a mentalidade desses jogadores para uma necessidade que o time não teve neste ano, que é a de vencer sempre?

Independentemente do resultado final, as últimas rodadas do Campeonato Brasileiro serão marcadas por estratégias e pelo discurso. Vai ser curioso ver a abordagem que cada equipe terá.

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Síndrome do excesso

Relatei um pouco no último texto o quanto percebo e observo o futebol jogado aqui no Brasil, tanto pela minha obrigação profissional, como pela minha pesquisa e estudo. A sensação que me passa é de que às vezes (para não falar na maioria das vezes) não se sabe muito bem o que se fazer no jogo, com e sem bola. Uma das desculpas plausíveis é a criatividade, ou a intenção de se dar mais oportunidades para expressar a “criatividade do brasileiro” durante o jogo de futebol. A velha “desculpa” de não engessar ou mecanizar o jogador de futebol brasileiro (um assunto para outro texto).

Na falta de saber o que se deve fazer, faz-se qualquer coisa. Na dúvida, corre! Escuta-se muito por ai. Ao “fazer qualquer coisa” pelo menos se tem a desculpa de que “fez alguma coisa”, e não ficou parado esperando e/ou olhando as coisas acontecerem. Claro que o “certo” é relativo, depende de muitos fatos para quem está jogando e para aquele que gerencia quem está jogando. Mas fico com a impressão, quando observo alguns jogos, que muitos atletas preferem fazer qualquer coisa do que pensar, do que se predispor a fazer o “certo” para aquele momento, para a equipe e para o jogador.

Será esse um pensamento correto ou mais uma daquelas ideias vivas há muitos anos e não sabemos por quê? Errar por excesso, nem sempre é a melhor opção, principalmente quando se fala de jogo de futebol. E, esse paradigma do futebol brasileiro ainda se encontra muito enraizado na cultura de jogo da maioria dos jogadores e treinadores.

Esta caracterização que faço das atitudes durante o jogo de futebol, nos leva a pensar na famosa “vertigem da pressa”. Uma síndrome (da sociedade humana) que afeta os jogadores em campo a fazerem tudo de forma apressada e acelerada. Sempre em excesso, corre-se demais, pressiona-se demais (inevitavelmente de forma descompactada), grita-se demais, cobra-se demais, etc. O que contraria o futebol de qualidade, onde há pressupostos conceituais que te exigem a ler o jogo e saber exatamente o que se vai fazer. Nos quais é decisivo correr e parar, acelerar e travar, antecipar e esperar, fundamentos essenciais para um futebol de alto nível.

Aliás, a melhor posse de bola é aquela que sabe mudar o ritmo da bola, saber transitar na própria posse. Um tempo ideal para melhor atacar, para melhor transitar entre posse apoiada-ataque rápido e ataque rápido-apioada. Acredito que tal como é impossível ler com pressa um bom livro, é impossível ler um jogo em alta velocidade. O jogador precisa aprender saber pensar o jogo e tentar, com isso, controlar o impulso de querer atacar sempre.

Quase um futebol de impacientes. Onde o planejamento não tem espaço, muito em virtude desse desespero da pressa em fazer e na pressa em remediar. Sempre será melhor previnir do que remediar. E a melhor prevenção de todas, sempre será o treino. E quando falo de treino, quero dizer treinos, muitos treinos. Como sabemos, somos animais de hábitos e precisamos estar habituados a sempre jogar de determinada maneira, se quisermos alcançar a excelência nessa determinada maneira de jogar.

Esse pensamento passa muito pelo treino, e de como nos importamos com um treino elaborado e devidamente pré-estruturado. Estruturado de uma forma intencional, sabendo onde se quer chegar e o que alcançar com cada exercício, com cada treino. Precisamos saber criar o treino com antecedência e de forma deliberada. Já tive a experiência de trabalhar e observar alguns treinadores que tinham por costume elaborar a sessão de treinamento minutos antes do início do treino, ou deixar esta tarefa para o seu auxiliar e/ou preparador físico. E, geralmente, acaba não sendo uma experiência muito agradável. Contra censo maior é quando o treinador cobra determinados comportamentos coletivos e individuais que não foram treinados, por vezes, minimamente orientados.

Às vezes, penso que a cada evolução que conseguimos no futebol brasileiro, sempre nos deparamos em segregar mais as áreas de conhecimento. Continuamos separando o corpo da mente. Parece que estamos tendendo a formar cada vez mais jogadores atléticos do que jogadores pensantes, com um instinto dominante que faz correr desenfreadamente quando tem a bola, ou se desfazer dela de qualquer forma sem nenhum critério coletivo ou circunstancial.

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O passe e a diferença entre movimentar e desmarcar

Há um longo tempo venho refletindo internamente sobre alguns aspectos pormenorizados do jogo, observando, assistindo, lendo, e também conversando com treinadores de futebol, especialmente com meu grande amigo Willian Batista de Almeida, amigos do futsal e outras modalidades coletivas. Dentre algumas inquietudes, de muitas, surgiu a diferença conceitual entre o movimentar e o desmarcar.

É tradicional e de praxe enxergamos muitos treinadores pedirem para seus jogadores se movimentarem. Nos treinamentos ou na área técnica, muitos gritos de “movimenta”, “movimenta” e “movimenta”, são ouvidos. E claro, naturalmente, os jogadores vão para lá, giram para cá, circundam para lá, correm para cá, correm para lá; um sem fim de movimentos, muito contínuo, na mesma direção, sem sentido e sem troca de ritmo. Nisso, muitos movimentos que são vistos soam interessantes aos olhos de quem vê, mas quase todos sem intencionalidade e coordenação entre os jogadores.

Então, existe excesso de movimentos desnecessários, que beiram um movimentar por movimentar, ficando muito visível que os jogadores se movimentam de qualquer jeito quase o jogo todo. Nisso, três problemáticas podem ser levantadas:

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Essa identificação faz da ideia do movimentar muito ouvida, um movimentar de qualquer jeito, que rouba tempo-espaço dos companheiros de equipe. E o que mais vemos, especialmente aqui no Brasil, são movimentos sem uma lógica comum e um entendimento. O que mais se enxerga são esses movimentos abaixo:

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Isto acima corrobora que muitos movimentos se produzem na mesma direção, velocidade e momento dos oponentes. Assim, quando o passe acontece, defensor e atacante correm ao mesmo tempo para a mesma direção, tirando o fator surpresa e a possível vantagem. Além disso, confirma-se também uma suposta superioridade que não gera vantagem posicional e um exagero de espaços inadequados de intervenção.

Suplantando a constatação acima, primeiramente, a ideia é melhorar a localização dos jogadores no terreno de jogo para que tenham variadas opções e ampliem suas probabilidades. Então, os jogadores devem se separar em distâncias de relação encontrando-se “num futuro próximo”. Ou seja, se ficarem demasiadamente próximos ou excessivamente separados, com movimentos sem inteligência posicional e distância adequada, diminuirá a eficácia da fluidez nas interações. Ainda mais que o jogo de futebol é de progressão, e focalizando na localização do passador e na localização do receptor, quando o objetivo é ganhar espaço, é importante que o oponente tenha dificuldades para ver receptor e o passador simultaneamente. Portanto, um eixo diferente entre ambos fará muito mais dano ao oponente, devido a sua atenção ser dividida e a progressão poderá acontecer com maior naturalidade.

É aí que entra a ideia de desmarque, que é uma interação coordenada e antecipatória, que busca a ocupação e um ganho de um espaço efetivo antes do defensor, evitando sua marcação. O desmarque deve oportunizar a possibilidade de ganho de tempo-espaço para o jogador que se desmarca em benefício próprio ou em benefício de um companheiro. Equipes que se movimentam demasiadamente, sem intencionalidade, com pouco respeito a interações coordenadas, acabam ficando desequilibradas e engatadas. Entender isso, a essência do desmarque, equivale muito mais do que se movimentar, e tem em conta várias dimensões:

 
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Para isso ser eficaz, os 11 jogadores precisam dominar e ter conhecimentos de como utilizar o desmarque em benefício próprio e depois em benefício do companheiro. No Brasil, vários jogadores quando possuem a bola como primeiro homem, demonstram dificuldades de dominar o tempo-espaço com ações técnicas, sendo assim, diminuem suas próprias possibilidades de modificar o contexto do jogo. E, é esse primeiro homem que sempre se transforma como o portador da bola, que em primeiro momento leva a todos outros tempo-espaço. O segundo homem é o que gera a capacidade de tempo e espaço em seu benefício, em benefício do primeiro e de um próximo, pois ao estar sem a bola, com seus desmarques, torna-se de fundamental importância para a continuidade de progressão. Através dessa coordenação, surge o terceiro e os demais homens que são fundamentais para o jogo. Se a fluidez entre 1, 2 e 3 homem não for adequada, por meio de trajetórias diferentes, diminui muito a possibilidade de êxito e a progressão pelo chão.

Isso exige reconhecimento do espaço e consciência de jogo para realizar o desmarque no momento certo, que dê tempo à equipe e tire tempo do adversário. O passe é o estágio final de uma interação que envolve a intenção do oponente direto, o perfil do desmarque para o momento e a execução técnica do passe. Essa é a diferença de passar por passar e passar para jogar. Passar para jogar carrega um sentido comum e um tempo-espaço individualizante e coletivo ao mesmo tempo. Pois é na coordenação (individual-coletiva) que cada um acha esse tempo-espaço individualizante com distintos timings de espaço-tempo (distância, orientação, direção, trajetória, momento e velocidade) que o jogo fica coletivo e a progressão acontece. Esse ajuste dos parâmetros dá uma maior possibilidade de êxitos.

Nesse contexto, existem vários aspectos que devem ser coordenados com o momento do passe e o ganho das costas do oponente, pois para progredir, temos que ganhar as costas. O passe deve ser efetuado sempre que o receptor inicia seu deslocamento, sendo que ele é quem leva a iniciativa sobre o momento do passe. Já o deslocamento do receptor, nas costas do oponente, deve ser efetuado depois de ter obrigado a defesa ficar parada ou defender para frente, após a fixação ter acontecido.

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Além disso, uma correta utilização e realização do desmarque exige um domínio, especialmente de trocas de direção e trocas de ritmos, pois o objetivo é variar a intenção e jogar contra o movimento do adversário, tanto em velocidade como em direção, e isso também depende da resposta do defensor em cada caso.

Assim, a questão vital é saber se reconhecer no espaço para utilizar o perfil do desmarque necessário e, muitas vezes ficar parado realizando pequenos deslocamentos, pode gerar muito mais vantagem para se beneficiar ou beneficiar o companheiro, do que se mover demasiadamente, pois nesses pequenos perfis de desmarque, consegue-se controlar as distâncias e transformar o jogo em duelos em zonas individualizantes ou zonas de atração, fixando o oponente, obrigando que ele fique estático, defenda duas ações, percorra maiores distâncias e se distancie da bola, o que automaticamente gera vantagens posteriores, encontrando homens livres pra progredir e posteriormente utilizar outros perfis de desmarques em zonas prováveis.

Então, pode-se considerar que o desmarque teve êxito se conseguirmos certo desequilíbrio do defensor, ludibriando sua decisão e afastando de sua área de ação. E para isso, é muito importante que os receptores evitem dar informação ao oponente com sua posição corporal, por exemplo. O desmarque as costas, seja fixando ou vindo de trás após uma fixação com bola, faz dano quando a defesa corre para frente, fica parada ou inicia sua corrida. Claro, os deslocamentos as costas da linha defensiva são mais prejudiciais quando se inicia desde trás (2 linhas) e num espaço entre dois defensores (entre linhas) e não na altura do último defensor, apesar que essa questão também pode gerar danos capitais.

Enfim, tudo se resume na coordenação entre jogadores, porém, por vezes e muitas, pode-se ter vantagem qualitativa pela circunstância que o jogo de futebol proporciona. Mesmo realizando movimentos precipitados, invadindo zonas individualizantes, a vitória acontece. Enxerga-se isso muito, especialmente por aqui. Esse é o futebol, e é aí que tem graça. Agora, se existir relação fidedigno-dinâmica entre passe, coordenação dos jogadores, intenção do desmarque e progressão coletiva, a qualidade do jogo aumenta consideravelmente, indo além de movimentos demasiados e sem sentido.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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Futebol que gera entretenimento

Diante de uma feroz concorrência que se insere a indústria do esporte atualmente, a busca por novos mercados, sua cativação e fidelização é cada vez mais intensa. O futebol nacional concorre com a mesma modalidade (em outras categorias e campeonatos, como os estrangeiros), com outros esportes e com diversas opções de lazer que um indivíduo possui em um domingo à tarde, por exemplo. O produto que melhor resolver o “problema” do consumidor/torcedor em uma relação custo-benefício, vence.

Neste sentido o futebol tem sido observado – ainda que timidamente aqui no Brasil – como um produto. Muitos assustam ao ler a palavra “produto”. Por que não pensar assim? Já foi escrito neste espaço, que é possível desenvolver esta ideia quando respeitados os dois elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor. Discute-se muito sobre o potencial de mercado que o futebol brasileiro possui, não apenas o campeonato da primeira divisão, mas os campeonatos estaduais das diversas divisões, as categorias inferiores e as seleções brasileiras. O potencial é enorme!

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Camarote do túnel do Manchester City FC (ING)/Foto: Divulgação

 

Os clubes de futebol são donos do próprio conteúdo, através daquilo que são capazes de oferecer: um jogo de campeonato, um treino, uma coletiva de imprensa, um trabalho beneficente, até o próprio túnel de acesso ao campo nos instantes que antecedem uma partida (haja vista o trabalho recente do Manchester City FC). Tudo isso colocado de maneira organizada e sistematizada com todos os clubes, é capaz de fazer com que aos poucos haja esta transformação, novos mercados sejam conquistados, cativados e fidelizados. Para isso, é preciso planejamento estratégico e um trabalho de comunicação encaixado neste planejamento. Ao mesmo tempo, é necessário possuir espírito de iniciativa e inovação, capaz de romper com o círculo vicioso da política dos clubes de futebol do Brasil, acostumados ao fortalecimento do grupo interno em vez de terem uma visão de mercado.

Com tudo isso, é preciso enxergar o futebol como sendo um gerador de conteúdo e entretenimento. E isso não significa romper com a essência do esporte: o atleta e o torcedor. Pelo contrário, eles serão ainda mais respeitados, porque são quem gera e quem consome o conteúdo, respectivamente.

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Um erro nem sempre é só um erro

Jô usou o braço para fazer o gol que deu a vitória ao Corinthians contra o Vasco em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. No último domingo (22), Lucas Pratto também balançou as redes depois de a bola ter batido em sua mão – o São Paulo venceu o Flamengo por 2 a 0 no Morumbi, também pelo certame nacional. Dois lances similares, com infrações similares, mas duas histórias absolutamente distintas: esse é um exemplo claro do quanto o contexto influencia em qualquer discussão – e não apenas no futebol.

Antes de avançar na discussão, apenas para deixar claro: Jô e Pratto cometeram irregularidades. Os dois lances deveriam ter sido invalidados e não há um que seja pior do que outro. O que existe, numa comparação entre ambos, é apenas uma diferença de entorno.

Como já foi dito por aqui, todo o episódio de Jô foi potencializado. Meses antes, o atacante havia sido protagonista de um lance com Rodrigo Caio, zagueiro do São Paulo, em partida válida pelo Campeonato Paulista. O corintiano foi advertido pelo árbitro naquela ocasião por um suposto choque com o goleiro rival, mas o defensor se adiantou para avisar que tinha sido o autor do toque. O cartão amarelo foi cancelado, e Rodrigo Caio acabou se transformando num enorme exemplo de fair play.

Depois daquele jogo, Jô enalteceu a atitude de Rodrigo Caio. Disse que aquele lance refletiria em outros episódios e que ele pretendia rever suas ações em campo à luz da honestidade demonstrada pelo são-paulino. O atacante, portanto, criou para si uma pressão que depois aumentou a proporção de um erro cometido.

A história de Jô é um exemplo do quanto podemos nos colocar em situações complicadas quando falamos demais ou adotamos discursos exageradamente assertivos. Ainda mais em um período de redes sociais e acesso rápido à informação, é difícil lidar com esse tipo de comportamento. Não é raro ver alguém ser cobrado pelo que disse ou por determinado comportamento do passado – a internet dá um caráter perene a qualquer opinião, independentemente do contexto.

Existe, portanto, uma decisão de comunicação que potencializou um episódio. Também há no caso de Jô um fator coincidência – o atacante havia sido justamente o beneficiado pela honestidade de Rodrigo Caio e teve chance de mostrar que havia evoluído a partir disso. Você pode até analisar o lance pelo lance, mas descartar esse contexto é não enxergar toda a tela.

Acho que nunca é demais pensar nessa lógica. Quando nos deparamos com um lance ou um episódio, o que ele representa no todo? Temos acesso ao cenário completo ou vamos tirar conclusões apenas por um pedaço?

O perfil @footure na rede social Twitter republicou recentemente um excerto de uma palestra do técnico argentino Marcelo Bielsa. No trecho, “El Loco” usa um exemplo que é pertinente também nessa linha de raciocínio. Ele pediu para nos atermos à ideia de Neymar, atacante e goleador, ajudando na marcação e roubando uma bola. Se isso gerar um contragolpe e o time vencer, o treinador que conseguiu esse nível de dedicação será incensado por extrair um nível diferente de um jogador extraclasse; se a equipe for derrotada, em contrapartida, será considerado culpado por fazer um craque atuar em uma zona mais distante da meta adversária. No fim, tudo é contexto.

É o caso do menor de idade que atirou em colegas de escola em um colégio particular de Goiânia. Filho de policiais militares, ele teve acesso a uma arma de fogo em casa e reagiu após ter sido vítima de bullying de colegas de classe. Foi o suficiente para fomentar discussões sobre armamento da população e limites de provocações/brincadeiras de mau gosto.

Ele pode ter cometido um atentado porque teve acesso a uma arma, mas esse é apenas um meio. Não fosse isso, o mesmo menino poderia ter reagido usando uma faca ou outro artefato. Também reagiu ao bullying, mas esse foi apenas um estopim. Se não fosse essa provocação, poderia ter sido outra.

O que é necessário discutir no caso é o entorno. Um menino capaz disso é antes de qualquer coisa um menino que entende que precisa reagir de forma definitiva quando se sentir oprimido. É alguém que acompanhou esse tipo de comportamento em diferentes âmbitos – a influência pode ter partido da família, da própria escola, de amigos, da TV ou do videogame, por exemplo. O fato é: ele achou que matar alguém era uma resposta para cessar um comportamento que o incomodava.

Entender o entorno, portanto, é fundamental para saber o que aconteceu no quadro todo. Quando algo assim acontece, não podemos discutir apenas o acesso às armas (ainda que seja fundamental discutir isso). Não podemos discutir apenas o bullying (ainda que seja fundamental discutir isso). É preciso entender o contexto.

Esse é um exercício que muitas vezes nós deixamos de lado no futebol. O Corinthians das últimas rodadas é um time que caiu de rendimento e que apresenta problemas de formação, e não uma equipe que lida com questões inerentes ao status atingido após campanha histórica no primeiro turno. Há muita discussão sobre momento ou sobre estopins e pouca análise sobre o quadro todo.

Os gols marcados por Jô e Pratto podem ter tido infrações similares, mas esse é apenas um recorte. Você vê o quadro todo quando fala de futebol?

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Lutando contra o rebaixamento

Chegamos ao momento crucial da luta desesperada contra o rebaixamento, no campeonato brasileiro. Nestas situações sempre me questiono: qual ou quais seriam as melhores ações ou decisões para conseguir fugir do descenso de divisão no futebol brasileiro? Na verdade, só sabemos que as respostas não estão prontas e que cada alternativa de sucesso do passado não representa garantia de sucesso no presente. Então o que fazer?

No meu ponto de vista, essa luta desesperada nada mais é do que uma consequência de ações impróprias para uma gestão profissional do futebol, mas que agora não cabe aprofundar, pois não há mais tempo hábil para implementar ações de médio prazo, pois estamos falando de poucas semanas para o término do campeonato.

Porém você, amigo leitor, me questionaria, sobre o que realmente poderia contribuir nessa luta, com o objetivo de conseguir a desejada salvação do rebaixamento. Existe algo consistente a se fazer, para aumentar as chances de sucesso?

Acredito que sim, existem ações a serem feitas por diversos atores desse contexto, sendo que todas elas comporão o que chamo de círculo base da confiança e já vou esclarecer sobre isso agora.

Os atores envolvidos no contexto seriam:

  • Gestores do futebol
  • Comissão técnica
  • Atletas
  • Torcedores (fãs)

Os Gestores têm a responsabilidade de construir ou promover um ambiente de confiança, depositando suas crenças de sucesso na sua comissão técnica e nos atletas, além de demonstrarem congruência em suas ações de contribuição para o momento. Prometer o que não poderão cumprir, vai minar a relação de confiança da gestão. A eventual troca de comando na reta final não tem garantia de sucesso contra o rebaixamento e, além disso, parece mais uma ação sem fundamentos do que algo baseado em argumentos viáveis.

A comissão técnica possui a missão de reavaliar a melhor estratégia tática e capacidade técnica, conforme o elenco a disposição e os rendimentos coletivos e pessoais no ano, para adotar o mais adequado esquema de jogo conforme seu material humano disponível. Ao realizar essa missão e acreditar nela, a comissão reforça o compromisso com o clube e com seus atletas, fortalecendo a confiança no grupo, para conseguirem o êxito no final da competição.

Os atletas, por sua vez, possuem a responsabilidade de se engajarem nessa jornada. Acreditando no posicionamento da sua gestão e nas orientações, decisões e direcionamentos da comissão técnica. Neste momento é fundamental que os atletas possam demonstrar realmente suas capacidades de atuar em grupo, com foco nas metas coletivas da equipe.

E aos torcedores, cabe o papel de apoiar de forma efetiva as ações empreendidas pelos demais atores desse contexto, pois o apoio positivo e o voto de confiança, em situações como esta, podem sim aumentar a confiança de todos, rumo aos objetivos de curto prazo traçados.

Então, como havia comentado, aí está a minha percepção do ciclo base da confiança profissional entre os atores deste contexto, visto que dessa maneira todos os atores podem perceber que estão fazendo da melhor forma possível seus papéis e desta maneira existiria uma condição mais favorável para se lutar de forma eficaz contra o indesejado rebaixamento.

Até a próxima.

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Interpretação e “automatização” de comportamentos

Muito do que se tem falado/comentado no futebol pode ser considerado, por mim, uma mistura de paixão com razão. Uma combinação perigosa, onde se tem muito mais ingredientes do “torcedor” do que do “profissional”. Opina-se muito mais com o fervor da emoção do que as coerências do profissional. “As equipes de top jogam com posse e de forma apoiada”, falaram algumas vezes tempos atrás. “O jogo ofensivo das melhores equipes é caracterizado pelo ataque rápido”. Disseram eles, mas analisaram alguns jogos e cada jogo é um jogo; o futebol é algo construído e não normalizado. E, como tudo que é fabricado precisa de um alicerce sólido e confiável, o futebol para mim advém de qualquer coisa que possa ser válida tecnicamente e cientificamente.

O futebol não é só treino, nem só competição. É treino e competição em um único processo. Por isso, o período preparatório não é fundamental. Fundamental é o período competitivo. Onde consigo interpretar melhor a equipe que estou analisando/treinando.

O desempenho do coletivo, não é a soma dos desempenhos individuais. A soma das partes pode ser maior que o todo, pois sempre há algo novo que possa ser fabricado com a interação entre jogadores e entre setores. Tanto intra equipe, como entre equipes. Podemos produzir algo novo dependendo das qualidades e deficiências do(s) adversário(s).

O que os jogadores pensam sobre futebol, sobre jogo, também é jogo (para eles). Temos que, como treinadores, tentar saber o que cada um pensa e fazer com que a cabeça dos atletas se “abra” ao saber que as coisas não são linearmente assim ou, em nosso ponto de vista, de outro jeito. É preciso readequar a lógica do todo, a “imagem” que se tem do futebol (concepção do futebol) deve ser “visível” para todos. Pensamento do treinador e pensamento dos atletas: se não houver concordância as coisas podem se complicar.

Nós somos um animal de hábitos; se não fizermos, desabituamo-nos. Sendo a prática do hábito, que te leva a perfeição (mesmo sendo utópica).

O que os jogadores pensam sobre o jogo também é jogo, porque promove a adequação do jogador em cada momento da partida. Se isso colide com a forma do treinador ver o futebol, não há solução. O jogador fará o que foi proposto pelo treinador, porém não de uma forma a qual ele acredite como “certo”. E quando fazemos algo que não acreditamos, sabemos que tende a não dar muito certo. Primeiro temos que alertar o atleta de que ele está equivocado e só depois dele se conscientizar disso, poderemos corrigir “com êxito” o comportamento tático dele.

Quando estudamos uma equipa, temos que estudar a equipa e não somente as características de cada jogador. O que eles fazem enquanto equipe, tanto setorial, na estrutura coletiva e, principalmente, como comportamento padrão da equipe. Não somente no aspecto individual. A velha expressão que diz: “na dúvida, corre!”, no final acaba sendo: correr em vez de pensar. Ou quando se fala: “jogue lá a bola (cruzamento ou lançamento), e alguém deve aparecer”. Os jogadores devem ler o jogo, e não jogar às cegas.

Precisamos entender que a organização da equipe é o principal objetivo de um treinador. Sendo o aprimoramento do jogador (individual) um desenvolvimento que segue o desenvolvimento do coletivo. O que se deve treinar é a organização do jogo e da equipe. Tornando importante a operacionalização dessa organização que se pretende. Ou seja, fazer aquilo que se treinou para fazer, fazendo aquilo que se deve fazer, fazendo aquilo que se sabe fazer. Só assim o êxito da partida estará mais próximo. Somente pensando assim o alto rendimento estará mais alcançável, tanto para o jogador como para a equipe.

O treino deve ser igual à competição. Sendo o treino é o que faz a competição que queremos. Só a partir da repetição sistemática é que podemos automatizar os movimentos. Quando um movimento está automatizado, passou para a esfera do subconsciente, pois não precisamos pensar no que vamos fazer e podemos dirigir a atenção para outros aspectos que possam influenciar a nossa prestação. E, como diz Vítor Frade: “a esfera fundamental do saber fazer, está no subconsciente”.

Um pequeno exemplo de automatização (não mecânica) de comportamento:

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Utopia da mudança

Os dias estão passando, o futebol no Brasil segue com seus vícios históricos, sua vaidade e sua mania de grandeza. Uma grande parcela de profissionais contribui com isso, pois ocupam seu dia a dia fabricando ações que pouco cooperam para evolução do esporte, preocupando-se demasiadamente com fatos prontos, fatos pessoais, não aproveitando esse fenômeno expansivo para se localizar, desenvolver internamente e se reconstruir individualmente de possíveis precipitações interpretativas. São informações supérfluas e pouco fundamentais, ou fundamentais em quase nada.

O problema é que qualquer episódio que vai contra essas informações, contra a ordem estabelecida, o sistema criado gera um medo avassalador. Muitos que estão no futebol fazem uma ditadura de seus medos. Então, qualquer mudança gera um desconforto interno, ou desprezo, que carrega barreiras quase intransponíveis. As pessoas se sentem seguras, por que desprezam o que não compreendem, mas na verdade, desprezam aquilo justamente para não se desprezarem individualmente. É uma espécie de consolo.

Está claro que a mudança não é bem vinda num processo tão viciado como o futebol. Quem está nele, como nós, deve estar ciente que uma tentativa de mudança de paradigma pode gerar conflitos que precisam ser relevados e administrados para um andamento normal do processo. Abaixo algumas tendências:

A história do ex jogador e os profissionais das novas gerações: No futebol, ainda existe essa divisão de quem jogou e quem não jogou. Evidente que todo jogador, que esteve sentindo a longo prazo o futebol, internamente, na sua essência, pode contribuir, e claro, contribui muito com sua experiência. Mas apenas usar essa experiência, pode-se negligenciar alguns fatores evolutivos que o futebol vem evidenciando. Mais que isso, os pré-julgamentos que surgem do ter jogado e não ter jogador, do estudar ou do “termo cientistas da bola”, é um fator ainda existente. Claro, muitos ex-jogadores estão construindo carreiras de sucesso, pois aliam sua prática que tem um valor incalculável com atualizações e busca por conhecimento. Independentemente de ter jogado ou ter apenas estudado, o futebol precisa de sensibilidade contextual. Gerir essa relação é uma arte necessária para os dias atuais, muito ainda pautadas por egos inflados de ambas as partes.

Protagonismo do treinador: Aquela velha e atual frase que o futebol é dos jogadores, ainda não foi entendida pelos treinadores. Muito do que acontece no futebol atualmente é pelo excesso de protagonismo que o treinador quer e determina no jogo. O treinador necessita aparecer mais que o jogador, será? Não seria tarefa do treinador apenas facilitar os contextos de atuação dos jogadores e não engrandecer sua atuação, ser soberbo e mais influente no jogo que o jogador? O treinador precisa ser valorizado e desvalorizado ao mesmo tempo para o futebol crescer novamente.

A mentira da formação: Atualmente vem se falando muito em formação, em como formar jogadores e como melhorar os aspectos metodológicos. Como treinador, acredito muito na formação do jogador e na possibilidade que ele tem de aprender novos ideais de jogo. Mais que isso, acredito na formação do jogador em qualquer idade, até ele se aposentar. Mas nas idades menores, na base, o grande problema desse termo, ou a interrogação desse termo, surge quando o resultado não vem, quando acontecem as finais das competições, quando um processo é viciante em ganhar de qualquer forma, quando alguns dirigentes procuram a formação apenas na vitória, quando treinadores querem se promover a qualquer custo; aí a formação vira a formatação para a vitória a qualquer custo em função de algum interesse pessoal. Essa mentira de formação está visível na grande maioria das equipes, evidente, há sempre algumas raridades.

Ir para o treino e não ir treinar: Ainda mora a ideia no futebol que treinar é ir para o treino jogar uma bolinha todos os dias, brincar e se divertir. Claro, são faces do futebol, e acredito que o futebol se joga, pois é um jogo. Mas a forma como o futebol evoluiu, obriga uma comissão técnica a criar cenários que contenham conteúdos do jogo, das mais diversas formas, em níveis organizacionais diferentes e exigências diferentes, e não simplesmente ir ao treino brincar e jogar uma peladinha todo dia.

Jogadores viciados: À medida que o jogador vai crescendo, vai adquirindo vícios processuais que não são fáceis de serem retirados, especialmente se o histórico anterior é pautado em processos simplistas, seja quanto a treinamento, perfis de jogo, ideias pré-estabelecidas, perfil de jogador, glamour, status, dinheiro e outras questões. Isso gera uma limitação evolutiva e dificulta o trabalho de uma comissão técnica que quer mostrar a face intrínseca do futebol que ultrapassa o campo de jogo. É uma epidemia social.

Olho de corvo envolta do jogador: Sendo o futebol algo que vai além do jogo e já ultrapassa um sem fim de áreas e pessoas, o estado frenético que alguns degustam, tem tornado esse esporte uma mina de dinheiro. Crianças com 10, 11 anos já com empresários, já valorizadas, pessoas deixando de trabalhar para se tornarem agentes esperando pela primeira transferência internacional, empobrecem esse esporte na famosa tese do “corvo na carniça”.

Bem, nenhuma mudança acontece do dia para noite, ainda mais nesse mundo individualista e imediatista que vivemos. Quem vive do jogo de futebol, e acredita na sua essência, sofre um pouco com esses vícios processuais, mas cria esperanças, vendo algumas pequenas mudanças, vistas até certo ponto por aqui nos últimos anos. Mas entra dia e sai dia, a realidade vai aparecendo: o sistema é mais forte e faz entender que toda transformação é uma grande utopia que não tem data para acontecer, pois o contágio ainda é grande.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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O futebol comunicado estrategicamente

Não se pode confundir o marketing com a comunicação em uma organização esportiva. Por marketing entende-se como sendo o produto (o jogo, o ídolo, o campeonato). Por comunicação, em como ela quer ser vista e reconhecida, através de uma comunicação interna, institucional e mercadológica. Em suma, como a instituição é percebida pelos seus colaboradores, outras instituições e pelo público externo. Para que isso aconteça, é preciso que haja um trabalho alinhado com a natureza da organização, com sua matriz estratégica. Clubes, federações e ligas são organizações, logo, estão sujeitas a este processo.

A matriz estratégica surge de perguntas iniciais da própria organização: qual a sua vantagem competitiva, as habilidades distintivas, missão, visão, valores, ou seja, em quê ela acredita, onde ela quer estar e o que ela está fazendo agora para chegar onde quer chegar. Quais são os seus objetivos. Isso, a prazo, conduz uma filosofia de trabalho e gera identidade a organização,  que acaba por conferir a imagem que ela busca: interna e externa. O que quer um clube ou uma federação: títulos? Reconhecimento? É preciso ter isso bem claro para o sucesso sólido e sustentável de uma organização esportiva.

Isso tem acontecido com o futebol do Brasil. Sim, timidamente, com algumas ações bastante pontuais. Esse trabalho leva tempo para ser implementado e, na ânsia por títulos, os resultados imediatos se sobrepõem ao planejamento e aos projetos. Isso não passa apenas por um bom trabalho de comunicação digital, mas ele está dentro de campo também: por exemplo, da contratação de atletas que se encaixem em um estilo de jogo característico e valorizado por um clube, com base nos pilares que fundaram a instituição (o “jogo bonito”, pode ser). Exemplo disso é a utilização de apenas atletas bascos nas fileiras do Athletic de Bilbao, da Espanha. Isso não limita a busca do clube por títulos? Sim, porque a população basca é pequena. No entanto, a instituição segue uma matriz estratégica que os posiciona e faz o clube ser reconhecido, mais pelos propósitos do que pelos títulos.

Athletic Bilbao's supporters celebrate as their team won 6-2 against Manchester United's, during their Europa League second leg, round of 16 soccer match at the San Mames stadium in Bilbao, northern Spain, Thursday, March 15, 2012. (AP Photo/Juan Manuel Serrano Arce)
Torcida do Athletic Club Bilbao (Foto: AP Photo/Juan Manuel Serrano Arce)

 

Um trabalho como este, a prazo, podendo abrir mão – provisoriamente – do palmarés, daria certo no Brasil? A matriz estratégica confere solidez e existência duradoura através de uma identidade, tão importante para uma organização esportiva. Com tudo isso é preciso saber, antes de tudo e de maneira clara, o que quer a instituição.