Categorias
Colunas

A importância da gestão da imagem no esporte

Por imagem se entende enquanto sendo a representação visual e o domínio subjetivo. Ou seja, no domínio visual, são os objetos, pinturas, gravuras e desenhos. No campo subjetivo, associações, esquemas, representações da mente humana sobre algo. Estas representações são baseadas em experiências, vivências anteriores dos indivíduos (que as compartilham) em relação a algo, resultado da interação e comunicação com ele. Em outras palavras, a imagem é construída a partir de um conjunto de dados compartilhados pelas pessoas, com base em informações que acabam por conferir significados – atributos – aos objetos.

Em um segundo momento, os objetos se associam. Como visto no parágrafo anterior, cada um destes objetos possui atributos próprios. Por associação, os atributos de um são relacionados a outro e vice-versa. Exemplo: quando um futebolista é contratado por um clube por “se encaixar no perfil da instituição”. Ou então, quando um narrador ou comentarista é contratado por emissora de rádio ou TV por possuir uma característica de trabalho que o veículo de comunicação busca. Um restaurante, ao oferecer para influenciadores, almoços ou jantares, em troca de postagens nas redes sociais, vai ter essa relação implementada.

“Diga-me com quem andas que te direi quem és”, já diz o ditado.

Aos poucos vêm à cabeça vários exemplos dentro do universo do esporte. Provavelmente os mais marcantes são os de fabricantes de chuteiras e indumentária, com os atletas, até mesmo porque sua comunicação é bastante presente. Entretanto, ela também acontece entre e em organizações de administração do esporte (federações). Em muitos casos seus membros podem ser figuras públicas – por popularidade, carisma, cargos exercidos públicos ou de projeção -, que também possuem atributos a eles relacionados, que podem ser positivos e negativos.

Lee Nelson, comediante inglês, instantes antes de jogar cédulas de dólares em direção ao ex-presidente da FIFA, Joseph Blatter. | Foto: Arnd Wiegmann/Reuters

 

Com tudo isso, é preciso ser bastante cuidadoso e cauteloso em relação à nomeação dos colaboradores, diretores, conselheiros, em quaisquer organizações relacionadas ao esporte, aqui especificamente, o futebol. A opinião pública – com muita razão – exige transparência, responsabilidade e idoneidade. No caso da entidade máxima do futebol do país, depois de tantos escândalos que envolvem o atual e os antigos presidentes – e em processo, tomara, de renovação (com muitos cuidados políticos é verdade) -, é preciso pensar na imagem que se quer transmitir para a população ao nomear um diretor (no caso, de desenvolvimento). Quanto vale todo esse cuidado político? Não deve valer a pena.

Categorias
Colunas

Entre o direito e a negociação

Bem-vindos ao nosso “Entre o Direito e o Esporte”! E nesse abril nós vamos conversar mais sobre aqueles que são parte dos negócios do esporte, aqueles que são parte das notícias do futebol, aqueles que influenciam o dia a dia do nosso esporte mesmo fora de campo. Nesse mês nós vamos conversar sobre os intermediários (ou agentes, empresários, e todos os outros nomes que a gente já ouviu por aí).
Como todo começo de mês hoje nós vamos ver o que vai ter em cada uma dessas quatro semanas que fecha o primeiro quarto do ano. “Primeiramente”, vamos conversar sobre os regulamentos “do mundo do futebol” que falam dos intermediários (é, esse é o “melhor” nome hoje em dia). Na terceira semana vamos ver o contrato modelo do atleta com o agente por aqui – isso mesmo, mais “modelão”. E daí a gente fecha o mês falando de mais um registro, e dessa vez não é o do atleta.
Bora lá?
Imagina que você é dono de uma pizzaria na Itália. Na sua pizzaria você recebe vários jogadores famosos – afinal, a sua pizza é boa. Aliás, a pizza é boa e você é melhor ainda como “a cara” dessa pizzaria. Os clientes gostam de você, gostam das suas ideias, e gostam do jeito que você fala com eles. Você deixa uma boa impressão tão grande que te convidam para negociar um contrato aqui e outro ali. E quando você menos esperar vira um dos maiores intermediários da história.
Só que para sair da pizzaria e vestir a roupa de intermediário, você tem que saber onde pisa (não, não a cidade). Do mesmo jeito que você precisava saber a quantidade de farinha para fazer a pizza, como intermediário você precisa saber a idade mínima de um atleta para intermediar o contrato dele. Do mesmo jeito que você precisava saber as regras da vigilância sanitária para ter a pizzaria, como intermediário você precisa saber quais regras você tem que seguir na hora de fazer o contrato do seu cliente.
É por isso que é importante saber mais sobre os regulamentos “do mundo do futebol” que dão a base para o dia a dia do intermediário (e dos clientes – seja o seu clube ou um dos atletas). Uma base que tem que ser perfeita como o molho de tomate que é a essência da nossa pizza do fim de semana! E é bem isso que vamos ver semana que vem.
Imagina que você cresceu com um amigo que te destruía na quadrinha da escola. Você tentava, tentava e tentava. Mesmo assim só levava caneta! O tempo passou, esse amigo foi parar num time e você na faculdade. O tempo passou, seu amigo queria jogar bola e você começar a vida profissional. O tempo passou, seu amigo tinha que cuidar de tudo fora do campo e você sabia como ajudar.
Quando menos você percebeu, seu amigo é seu primeiro cliente. Você virou um intermediário. E como um intermediário precisa saber como fazer um contrato. Não se preocupe tanto, é exatamente aí que surge o “modelão” da vez! E é isso que vamos ver na nossa terceira semana aqui nesse mês de abril. O básico do contrato do intermediário com o seu cliente. Que tal?
Imagina que você sonhava em ser um grande jogador. Imagina que passou a sonhar em ser um jogador. Imagina que acabou indo vender chapéu na praia. Chapéus que a sua mãe fazia. Mãe que te ajudou a abrir o seu primeiro negócio – não, não uma agência de talentos. Seu primeiro negócio foi um bar. E lá um jogador ia nos seus dias de folga.
Até hoje você não sabe bem o que aconteceu naquele dia. Só sabe que esse jogador pediu ajuda. Você foi atrás e sabia das regras. E para ajudar o atleta dentro das regras, vocês assinaram um contrato de intermediação. Só que qual é o próximo passo? É sobre isso que a gente vai conversar na última coluna desse mês.
Você sabia como registrar aquele chope que você vendeu para o seu cliente naquele HH depois do trabalho. E você descobriu que precisava fazer a mesma coisa para transferir aquele seu outro cliente para o time que ele queria ir. Esse registro é uma parte importante no dia a dia do intermediário e é a garantia do negócio.
A vida de intermediário é curiosa e cheia de histórias. Histórias que montam o nosso futebol. Um futebol que é cheio das suas regras, dos seus modelos, e dos seus registros. É por isso que o jogo que passa na nossa televisão toda semana começa lá longe das quatro linhas – numa pizzaria, numa quadra de escola, ou até num bar.
Seja você um torcedor, um cartola, ou um atleta, é sempre bom saber como tudo isso afeta o dia a dia do nosso esporte. Afinal, o que acontece com aquele intermediário vai afetar o seu time, o jogador do seu time, e você como torcedor.
No fim do dia, o nosso futebol é paixão e também um negócio.
Espero que tenham gostado do nosso “Entre o Direito e o Esporte” aqui na Universidade do Futebol. E nos vemos daqui a uma semana para conversar sobre os regulamentos do “mundo do futebol” sobre os intermediários. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!

Categorias
Colunas

Cadê o futebol ofensivo brasileiro?!

O futebol brasileiro construiu suas vitórias através do jogo bem jogado. E esse jogo foi marcado pela ofensividade – sim, também é possível jogar bem tendo como principal virtude a defesa. Porém, quando passamos a chamar a atenção do mundo ganhando três entre quatro Copas do Mundo (de 1958 a 1970) nos caracterizamos pelo drible, velocidade, alegria, malemolência dos nossos craques.
O mundo mudou e o futebol também. Muitos brigam com isso, mas é a realidade. Antes não tínhamos celular. Hoje o mundo está na ponta dos nossos dedos. Antes a pedagogia do futebol de rua formava nossos craques. Hoje nossos garotos não conseguem ter as tais dez mil horas de prática, necessárias para a excelência de qualquer atividade.
O movimento recente de nossa ‘escola’ vem produzindo muito mais defesas do que ataques. Se diminuímos o número de craques formados e exportamos a maioria deles precocemente para a Europa, a saída que nossos treinadores encontraram foi trabalhar princípios e sub-princípios defensivos. Hoje vemos nos principais clubes do Brasil compactação, marcação por zona, sempre com coberturas bem executadas.
O próximo passo então é resgatar o que fazíamos, mas sabendo que só o talento não vai resolver. Com essas defesas bem estruturadas, apenas ataques com ideias e conteúdos vão funcionar. Nada de somente fazer a bola chegar ao terço final do campo e lá os jogadores saberão o que fazer.
Dá para trabalhar conceitos ofensivos. Dá para treinar. Existem mecanismos de fazer o jogador entender que mesmo sem a bola ele tem importância. Ele pode abrir linhas de passe, dar apoio, levar a marcação, gerar amplitude abrindo o campo e ter uma enorme relevância, mesmo sem tocando na bola.
É treino, é convencimento, é mudar a crença individualista geral que reina na nossa cultura. Dá trabalho. Mas dá para fazer.

Categorias
Colunas

Complementar o outro sendo você mesmo

O mundo atual está tão obcecado pelo padrão, pela mesma configuração, que quem foge um pouco desse protótipo estrutural, é taxado de louco ou vulgarizado por não seguir diretrizes balizadoras.
O futebol, um reflexo social, também tem essa problemática, pois está se transformando em uma produção serial, ou seja, todos padronizados com o mesmo perfil. Isso induz a enlatar os jogadores como sardinhas com um selo de atributo único, obcecado pelo controle, pela velocidade, pelo padrão, desvalorizando a natureza da diversidade e a vida contemplativa do jogar sendo você mesmo.

Processo padronizado do futebol atual

Independentemente da realidade, a palavra padrão tomou conta. E o padronizar é um cancro que existe em vários níveis processuais. Dentro de uma lógica hierárquica, ao existir uma ideia macro padrão sem uma sensibilidade devida para os pormenores, enrijecendo a singularidade e os detalhes, por mais que seja defendida com unhas e dentes e pareça astuta na sua lógica, dependendo de sua operacionalização e entendimento, corre o risco de sagrar um protótipo único de jogador com caudilhismo e não criar um contexto natural evolutivo diverso.

Processo formatado do jogador

Mas a diversidade e a natureza singular de cada um é um fator que humaniza as relações. Todos os lastros antropológicos e culturais demonstram que a diversidade e sua ramificação comunicativa é um fator “sine qua non” para a evolução da espécie. Encontrar esse equilíbrio entre ideias e singularidade, é o grande imperativo para não enlatar as capacidades naturais e processuais de cada indivíduo.

Diversidade nos anos 70. Foto: Divulgação

 
Atualmente existe um estado organizacional mais acentuado confundido com rigidez. Um bom processo deve ir contra isso e facilitar que o jogador encontre a si mesmo num primeiro momento, ausentando-se dos padrões estabelecidos. Não é simplesmente se reconhecer no espelho, mas saber de suas debilidades e potencialidades, entender o fio invisível de sua intervenção dentro de sua atuação e procurar também entender o outro para complementar com intencionalidade criativa sua atuação transformadora.
Encontrar e interpretar os mais distintos perfis ao mesmo tempo buscando complementos interativos, é a grande arte da diversidade microscópica que se ausenta de uma forma única preestabelecida. Estes estados que muitas vezes são invisíveis, não podem se equiparar por completo, mas podem compartilhar de certas estruturas profundas.

 

Interação dos jogadores

A interação dos jogadores, ou seja, uma supraconsciência, tem uma unidade do eu com ela, do eu com o eu, do eu com o outro e do outro com eu. Isso, por si só, revela cultura, qualidade e diversidade. E dentro desse mundo, complementar é interpretar e habilitar as capacidades dos integrantes com uma luminosidade progressiva que crie evoluções e propósitos para a singularidade de todos, sem uma classe única.
Riquelme deixou claro isso em uma entrevista no Jornal Marca: “Não podemos pretender ter 10 jogadores como Iniesta ou Busquets. No Atlético, Diego Costa se sente cômodo e desfruta. Seu estilo, podem gostar mais ou menos, porque a Espanha está acostumada com a qualidade, mas Diego é um atacante muito perigoso e difícil de marcar, estilo Luis Suárez no Barça. Lutam, são chatos… e servem, claro que servem”.

Categorias
Colunas

A mudança no futebol: em nome da inovação, progresso e do avanço

É cada vez mais presente no cotidiano discussões sobre inovação, progresso, avanço. É da natureza humana ir adiante e querer algo mais. Até porque o ser humano se cansa do obsoleto, é contra o atraso e também o retrocesso. O futebol não foge desta dinâmica. O seu regulamento, esquemas táticos e organização evoluíram ao longo de pouco mais de 150 anos da modalidade. Impossível imaginar uma partida em que o árbitro atua sem cartões, como outrora. Daqui alguns anos é bem provável que falarão o mesmo sobre o vídeo-árbitro.
Esta coluna quer tocar no assunto da discussão em torno da confirmação da final única da Taça Libertadores. Quem dera todos os problemas do futebol fossem desta ordem, e não os de dopagem e o de manipulação de resultados. Este reboliço por conta de apenas um jogo para a decisão de um grande torneio traz à tona uma reflexão sobre inovação, progresso e avanço. Ora, se não fosse necessária uma alteração no calendário para só um confronto do campeonato continental de clubes (Taça Libertadores), a Confederação Sul-Americana sequer tornaria o tema público. Quer seja por pressão comercial ou política, quer seja por questões que dizem respeito à integridade do atleta e valorização da competição (tomara seja isso mesmo), é preciso mudar. Esta mudança não acontece da noite para o dia e ela é estudada. Inúmeros cenários são estudados e questionados. Em jogo estão a reputação do torneio e de toda uma instituição que é o futebol da América do Sul.

Fotomontagem dos estádios do Grêmio. O antigo, o Olímpico, e o atual, a Arena Fotos: Divulgação

Hoje todos enchem os olhos com os modernos estádios espalhados pelo Brasil. Não falo dos “elefantes brancos”, mas sim dos economicamente viáveis. Muitos foram contra as suas construções em nome de uma história e uma tradição construída ao longo de décadas. Isso não morre, caso sejam preservadas e cultivadas, a fim de que sejam transmitidas de geração para geração. Os tempos mudam, as prioridades e os objetivos também mudam. Os estádios de outros tempos, com capacidade para dezenas de milhares de pessoas, sem quaisquer condições de segurança e conforto, hoje não teriam sequer aprovação para serem construídos. Por analogia, impossível imaginar um carro fabricado hoje, sem o encosto para a cabeça no assento, ou retrovisor no lado passageiro, como era feito antes.
Outro exemplo é o do campeonato brasileiro ser disputado por pontos corridos e o quanto, na altura do debate se seria ou não implementado, isso impactaria nas receitas dos clubes. Bom, para este formato durar desde 2003 significa que algum êxito teve. Por último, toda a polêmica em volta da utilização do gramado artificial, com a entidade máxima do futebol (FIFA) a aprová-la. Se houve um sinal positivo de Zurique, não foi à toa. Como guardiã da modalidade, ela deve levar em consideração o jogo e a integridade do atleta.
Com tudo isso, assim como falado em outros textos nesta coluna, é tudo questão de costume. A mudança é necessária para que haja inovação, avanço e progresso. E é a única constante da vida, dizem alguns. Para cada mudança, são necessárias ações. Algumas serão certas e outras erradas. Serão bem-vindos os acertos. Os erros, sim, também serão. Oportunidade para se aprender! Que bom que estes erros são novos, e não os mesmos do passado. Sinal de que se vai para a frente.

Categorias
Colunas

Ruptura

O futebol brasileiro vai conhecer no próximo fim de semana a maior parte dos campeões estaduais de 2018. E a partir disso, também estabelecerá uma série de parâmetros para análise do restante da temporada das principais equipes do país. Ouvimos e lemos há anos que os torneios regionais são “mentirosos” e que servem apenas para “criar crise”, mas será que eles são tão dissociados assim da realidade e do restante do ano?
A verdade é que os Estaduais dizem bem mais sobre os principais times do país do que a superfície oferece. Essa análise profunda, contudo, depende de uma abordagem menos focada em resultados. O Fluminense não chegou à decisão no Rio de Janeiro, por exemplo, mas mostrou muitos pontos positivos e apresentou evolução considerável em seu repertório. Em São Paulo, a despeito de terem sido eliminados nas semifinais, Santos e São Paulo também deixaram claro que não é tão grande assim a distância para os rivais Corinthians e Palmeiras – o que também diz muito sobre o nível dos finalistas.
Os Estaduais, como toda competição de tiro curto, são apenas um retrato específico de um período. Não dizem quais são os melhores times de cada Estado, mas quais se adaptaram melhor às regras e aos momentos dos certames. Há muitas variáveis no cenário – calendário, tamanho do elenco e lesões, por exemplo.
O que fica dessa longa pré-temporada do futebol brasileiro, portanto, é uma análise sobre os caminhos escolhidos pelas equipes. Nesse sentido, Atlético-MG, Botafogo, Flamengo e São Paulo são exemplos de times que não esperaram a temporada avançar e já promoveram mudanças em seus comandos. Aí sempre entra a máxima de que os Estaduais são fábricas de crise, ainda que esse clichê não se encaixe em todos os casos.
Tomemos como objeto o Flamengo. Após três meses claudicantes, o time carioca resolveu abrir mão de um trabalho que estava estruturado havia três temporadas. Não demitiu apenas o técnico, mas desfez praticamente todo o departamento de futebol. Mudou rumos diretivos e repensou toda a concepção do elenco.
A revisão rubro-negra tem a ver com o acúmulo de resultados ruins, mas é, sobretudo, um reflexo de um clube que não sabia exatamente o que estava perseguindo. Nas últimas temporadas, o investimento do Flamengo foi mais direcionado a nomes do que a perfis específicos e à composição entre essas peças. Mais vale ter um Diego Ribas do que olhar para quais são as carências do elenco ou os jovens com potencial de ocupar esse espaço.
Essa lógica não é nociva apenas porque limita o espaço para consolidação de talentos menos maturados, mas porque cria um mercado em que o talento é supervalorizado. O investimento em nomes mais rodados sempre vai dar margem a um grupo menor de alvos, e esse grupo menor, por lei de oferta e demanda, vai acabar recebendo exponencialmente mais.
Os Estaduais não são um termômetro apenas do time que tem bom nível e do que não tem. Antes disso, servem para mostrar o nível de convicção que as diretorias possuem em seu trabalho e o grau de eficiência do fluxo de comunicação que elas estabeleceram para levar isso a seus torcedores.
A criação de uma cultura que reduza o impacto de resultados passa por definição dos anseios do público, análise sobre a própria identidade e criação de um modelo que possa suprir as duas pontas sem que a resposta seja apenas “títulos”. Não é por acaso que o Barcelona se apoiou há tantos anos no slogan “mais que um clube”.
A questão é que os Estaduais escancaram que no Brasil há poucos clubes incomodados em não serem mais do que um clube. A maioria aqui trabalha pensando apenas no fim de suas organizações, que é a competição, sem pensar numa ampliação dessa base de objetivos e sem considerar a criação de uma base orgulhosa como norte administrativo.
E aí, quando você joga por vitórias e não por algo mais, qualquer tropeço pode criar crise. No Estadual ou não.

Categorias
Colunas

Os objetivos que devemos perseguir no processo de formação

Anteriormente, quando falamos sobre os estágios de desenvolvimento e exemplificamos como cada estágio promove um foco diferente, idealizamos que o processo de formação deveria ser dividido e organizado em etapas. Desta forma, poderíamos determinar os objetivos a serem alcançados em cada etapa e o período de prática apropriado para se atingir o domínio de certas habilidades.
Hoje, o foco vai em direção aos aspectos mais elementares, mas que contribuem significativamente no desempenho do jovem futebolista. Correr, frear, girar, saltar, mudar de direção durante a corrida (vamos chamar tudo isso de movimentos fundamentais), e evidentemente, os fundamentos técnicos, são ações tão importantes quanto os princípios do jogo.
Por sorte, muitos bons autores escreveram e ainda escrevem sobre o crescimento e o desenvolvimento motor. Justamente por isso, sabemos que para um desenvolvimento ideal, o jovem necessita de saúde, nutrição apropriada e ambiente estimulante.
Falando especificamente deste último, o jovem deve ser incentivado a fazer tentativas objetivas e realizar inúmeras tarefas que envolvam tanto os movimentos fundamentais como os fundamentos técnicos. Desta forma, um ambiente que forneça estímulos suficientes, seguramente será benéfico, pois acelera a aquisição e o desenvolvimento das habilidades motoras.
Seguindo esta perspectiva, parece um pouco óbvio que a evolução técnica deveria acompanhar o desenvolvimento motor, e a prática permanente das mesmas levaria o indivíduo a um processo de automatização. Como resultado, o jovem adquire uma base sobre a qual poderá refinar os padrões motores e terá recursos técnicos bem desenvolvidos para resolver as situações que se produzem no jogo com maior facilidade.
É claro que o fundamental será sempre dar a melhor formação futebolística, mas devemos nos lembrar que o jogador não existe sem a pessoa, e só por isso merecem ser tratados com respeito e dignidade. Além disso, cada jogador tem um tempo próprio de desenvolvimento e tanto o clube, como o staff responsável devem se ajustar a esta realidade. Sendo assim, educar, ensinar e planificar, são questões básicas para se alcançar os objetivos da formação futebolística do jovem.
Então, devemos:

  • Educar de forma ativa, positiva, transmitindo empolgação e um bom modelo de conduta.
  • Ensinar, satisfazendo as necessidades de aprendizado do jogador, demonstrando o modelo motor ideal de cada gesto técnico e instruir até que o movimento seja aprendido.
  • Planificar os conteúdos que serão ensinados através de uma progressão lógica e sequencial, tendo sempre em mente que o aprendizado também depende do tempo de prática, ou seja, o ensino deve ser distribuído ao longo do ano.

Desta maneira, seguindo a organização dos conteúdos, entraremos em um ciclo de Explicação-Execução-Correção-Repetição, o que nos permite ter uma melhor noção da evolução individual e do que avaliar no decorrer do tempo.
Por fim, exemplifico de forma bem simples uma progressão do ensino da técnica do cabeceio:

Obviamente, o que pretendemos levar adiante é que o jovem tenha a possibilidade de aprender e melhorar o gesto motor, a técnica futebolística e aplicar tudo isso dentro do jogo.

Categorias
Colunas

Entre o esporte, o trabalho e o Brasil

Bem-vindos ao fechamento do mês de março aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessas últimas semanas nós vimos o que a gente acha entre o esporte e o trabalho. Ou seja, a gente conversou sobre o que o jogador pode (ou tem que) fazer por causa do contrato dele com o seu clube, a gente conversou sobre o que o clube pode (ou tem que) fazer por causa do contrato com os jogadores do seu time, e a gente conversou sobre como o “mundo do futebol” coloca alguns limites nesses contratos. Já hoje a gente vai dar uma olhada em como a Lei Brasileira dá as caras por aí.
E para deixar a casa em ordem antes de continuar, vou deixar aqui a linha da coluna dessa semana: vamos começar falando sobre o que o Pelé tem a ver com o contrato do jogador do seu time – mesmo o contrato daquele reforço hermano. Depois vamos conversar sobre alguns outros detalhes do que o seu clube e os jogadores podem (ou tem que) fazer. Para aí deixar uma pergunta e resposta bem importantes mais para o final.
Bora lá?
Afinal, o que é que o Pelé tem a ver com tudo isso? Pois é, nosso querido Edson Arantes do Nascimento já foi o Ministro do Esporte do Brasil, garotada! Foi nessa época que teve uma dessas tais “reformas legislativas” – quando o Congresso tenta mudar alguma coisa. E dessa vez o que mais mudou foi como a Lei Brasileira vê o esporte. Aí que veio a tal da “Lei Pelé”, isso nos idos de 1.998.
Essa Lei é o par de óculos que o Brasil usa para enxergar o esporte – e por causa disso o grau precisa ser ajustado de vez em quando, sabe? Por isso que essa Lei já passou por um monte de emendas (esses ajustes) que deixaram ela mais remendada do que uma colcha de retalhos. É um daqueles óculos que já é quase inútil de tão desgastado.
Esses óculos ainda são as lentes usadas para ler o contrato do jogador com o seu time. Com esse par de óculos que a gente vê as regras gerais sobre o que é o esporte, o que é o esporte de rendimento, e o que é o esporte de rendimento profissional – que é o caso do nosso futebol da televisão. E isso mesmo quando esses óculos deixam ainda mais difícil de ler o nosso futebol.
É por isso que a nossa Lei ainda é importante, mesmo que com todos os seus defeitos – e isso vale até para aquele atleta hermano que vem aqui jogar (já que fala um pouco do que esse jogador precisar ter para jogar no Brasil, como o visto de trabalho). A “Lei Pelé” é parte do guia jurídico do nosso futebol.
E o que mais que a “Lei Pelé” fala sobre o contrato do jogador profissional de futebol com o meu clube? A gente já conversou sobre o “modelão”, as tais das cláusulas extras, e os regulamentos do “mundo do futebol” nessas semanas e ainda tem espaço para mais? Pois é, sempre tem. E a “Lei Pelé” não foge a essa regra geral e joga um tempero a mais em todo esse cozido que o nosso esporte tem que comer.
Essa Lei fala um pouco do que a gente já viu nesse mês por aqui, e complementa quando fala da concentração (coloca limite de dias), fala do dia de descanso e fala das férias do jogador – ah, e também quantas horas por semana o atleta trabalha. Traz até quando o jogador pode dizer “não vou jogar” para o seu clube (basicamente quando está sem receber por algum tempo já). E até a parte disciplinar – por exemplo, o que o clube pode fazer com o atleta quando ele se atrasa para o treinamento.
Agora… tudo bem que a “Lei Pelé” ainda importa, só que já está mais do que na hora do esporte brasileiro voltar ao oftalmologista e dessa vez pedir um novo par de óculos para ver o nosso esporte como ele é – já que só assim que a gente vai poder pensar em escolher um caminho para chegar no como a gente espera que ele seja!
Tudo isso quer dizer que mesmo assim o que vale para o contrato é a Lei Brasileira e ponto? Bom, essa é a regra geral. No fundo, tudo o que a gente viu esse mês de básico tem também na “Lei Pelé” – mesmo se escrito de um jeito diferente. Agora, não dá para dizer que o que importa é só a nossa Lei (ainda mais do jeito que está).
Imagina que você é o presidente do seu clube. Imagina que você recebeu uma notificação da FIFA que não cumpriu alguma regra “do mundo do futebol” sobre o contrato de um dos jogadores. Imagina que o que você fez não tem problema pela legislação brasileira. E aí? Você segue o que a FIFA disse ou segue o que a Lei Brasileira fala? A resposta não é simples, e o jogo é sempre de risco.
Escolher a “Lei Pelé” pode não te dar nenhum problema por aqui, só que com toda a certeza vai te dar uma dor de cabeça lá fora. E essa dor de cabeça pode ser tão forte que vai levar de Torcida Organizada até advogado para o seu Centro de Treinamento. E, acredite, isso é o pior dos mundos para quem está sob toda a pressão de uma “nação de torcedores”. E é por isso que esse quadro até surrealista de modelos, regras e leis deixam o nosso esporte um mundo cada vez mais complexo.
É… não é só o impedimento que causa uma grande confusão nesse mundo do futebol, né? E é bem por isso que é importante saber o que a gente acha entre o esporte e o trabalho, senão numa dessas a gente fica perdido até como torcedor – e imagina como jogador, técnico, ou cartola do seu clube!
Espero que tenham gostado desse mês sobre o contrato do jogador de futebol com o seu clube aqui no “Entre o Direito e o Esporte” e nos vemos na próxima sexta-feira. Aliás, vamos conversar sobre os intermediários no futebol assim que virar o mês. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, aproveitem o feriado e até mais!
 

Categorias
Colunas

Análise de jogo

A análise de um jogo de futebol pode se basear por vários aspectos: o técnico, ou seja os gestos executados pelos jogadores de maneira individual; um chute perfeito, um cabeceio ou até a defesa de um goleiro. O aspecto tático que vai abranger mais as ações coletivas da equipe. O físico que vai pegar basicamente distâncias percorridas e velocidades máximas atingidas. E podemos analisar o jogo também sob uma ótica emocional e mental.
Todas essas vertentes, porém, trazem uma visão singular, através de um único viés, para algo que é complexo e sistêmico, que é uma partida de futebol. Ou não temos há todo momento o gesto técnico, envolvido com a inteligência tática, com a capacidade física para execução e a força mental e a coragem para tomar a decisão? Sim, ou seja, o jogo é um mix de tudo isso, ao mesmo tempo.
Pondero isso em todos os jogos que vejo para tentar entender o porque de uma derrota e também o porque de uma vitória. Minimizar e reduzir as explicações não cabe mais no futebol de hoje.
Por exemplo, no clássico Corinthians x Palmeiras ainda na fase de classificação do Campeonato Paulista, o técnico corintiano, Fábio Carille, escalou o time sem centroavante. Foi uma novidade. Mas só por isso o time dele venceu o de Róger Machado? Não! Foi também por isso. Porém, foi também porque o Corinthians nos gestos técnicos foi mais eficiente, convertendo em gol as chances criadas. Quando o Palmeiras teve oportunidade acabou desperdiçando. Por estar postado de uma maneira que o adversário não esperava, os corintianos precisaram correr menos para fazer mais. O popularmente conhecido como correr certo. E teve também a força mental que sempre acompanha o Corinthians nos jogos em sua Arena.
Em um jogo mais recente, quando o São Paulo eliminou o São Caetano: foi só o fator emocional que a chegada do técnico Diego Aguirre trouxe? Foi também por isso. Mas o treinador uruguaio alterou a equipe, deixando Petros no banco de reservas. E no intervalo colocou o garoto Lucas Fernandes que jogou bem demais. E teve a vontade do atacante Trellez que foi dividir com o goleiro adversário no lance do primeiro gol. Não dá para reduzir essa vitória a uma maior “intensidade” do São Paulo. O que é um jogo intenso? Para mim é quando há uma combinação positiva entre esses aspectos técnicos, táticos, físicos e emocionais. Assim como velocidade não se restringe a correr mais. E sim a ter tomadas de decisão e fazer a bola correr de maneiras mais velozes.
É fundamental o torcedor ter um olhar mais amplo ao tentar entender o resultado de uma equipe. Não dá para individualizar algo que é coletivo e tão complexo. Nem quando ganha e nem quando perde.

Categorias
Colunas

Copiar não é solução

Olá, caro leitor!
Como é do conhecimento (e alegria!) da grande maioria, mais uma Copa vem se aproximando!
O futebol já possui uma enorme exposição da mídia (dado que se comprova pelo fato de as receitas com direitos de transmissão serem as principais de vários clubes no Brasil e no Mundo) e, em tempos de Copa do Mundo, as atenções voltadas ao jogo e tudo o que o cerca são ainda maiores. Tudo relacionado ao jogo ganha uma repercussão maior nesse momento.
Voltando um pouco no tempo, cerca de 4 anos, é bem viva ainda a lembrança de 08 de julho de 2014, dia do fatídico 7×1 em favor da Alemanha. Foi notória, e ainda mais sustentada, a ideia de que nosso futebol vivia uma crise técnica (ideia que já refutei em minha primeira coluna nesta casa) que passava desde os nossos jogadores até aos nossos treinadores. Motivados por essa ideia, cresceu ainda mais o êxodo de treinadores (em todos os níveis de atuação) para o continente Europeu em busca de novos conhecimentos. O que é extremamente positivo!
Ainda assim, é preciso esclarecer que ir até a Europa para tão somente assistir sessões de treino, é deveras insuficiente para se afirmar que está atualizado com o que é feito de mais moderno no mundo do futebol, ou então, ler as biografias de treinadores de sucesso como Ferguson, Mourinho e Guardiola, ou muito menos, utilizar nomenclaturas rebuscadas para se traduzir como a equipe “A” ou “B” joga.
Será que, em matéria de conhecimento em Futebol, estamos realmente compreendendo o que é desenvolvido fora do nosso país? Será que tudo o que é produzido fora é adequado para nossa realidade? Possuímos as mesmas demandas?
A partir da expressão “complexo de vira-lata” (criada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues para ilustrar a falta de autoestima do brasileiro), peço a licença poética para a parafrasear com a expressão “complexo de 7×1”. Pois desde aquele dia, a ideia de que está tudo errado no futebol brasileiro tem ganhado mais e mais força.
E os radicais estão dos dois lados! Pois existem também aqueles que, salivando soberba, apontam as cinco estrelas da camisa de nossa seleção, dizendo que não é preciso sair do país em busca de conhecimento, que não há nada de novo lá fora, que tudo de inovação que hoje se apresenta no futebol já havia sido desenvolvido antes pelos brasileiros.
E então eu lhe pergunto, leitor, quem está certo?
Saber jogar é a mesma coisa que saber ensinar/treinar? Ler livros ou escrever teses é a mesma coisa que saber ensinar/treinar? Assistir a uma sessão de treino ou ver o planejamento da sessão é a mesma que compreender o que ali está sendo feito? Aquilo que funcionou bem para Portugal, também funcionou para Espanha, Bélgica ou aqui no Brasil?
Senhores, a meu ver, no geral, o olhar está um tanto quanto à margem do problema… Erramos ao fazer o diagnóstico. A demanda de um, não necessariamente é a do outro. Pensamos num médico receitando remédio a um doente, ele pode até utilizar a mesma forma de diagnosticar e o medicamento para tratar dois pacientes, porém, de acordo com a gravidade da patologia de cada um, irá indicar a posologia do remédio. Precisamos entender melhor qual é a demanda dos nossos problemas! Para, então, conseguir buscar solução da melhor forma possível.
Não adianta dar respostas a perguntas que não foram feitas.
Por que a literatura do futebol português é amplamente difundida no Brasil e a do futebol inglês, italiano, alemão ou belga não é? Seriam os portugueses o farol do conhecimento em futebol, ou seríamos nós brasileiros que nos acomodamos pela facilidade de compreensão da língua?
Nosso futebol possui sim sérios problemas. Não me canso de dizer que basta olhar países com uma dimensão territorial e população muito menor (dado que também trouxe em minha primeira coluna aqui) e que tem obtido resultados significativos quanto à formação de jogadores, estrutura física e administrativa, qualidade de jogo de suas equipes e seleções nacionais, e também de conquista de títulos. Fazemos pouco com muito mais recursos humanos disponíveis em nosso país. E nossa visão do problema não pode ser fragmentada, não adianta “copiar” o tratamento que estas nações utilizaram para resolver os seus problemas, nossos problemas e demandas são diferentes! Ano após ano o Brasil e a América do Sul continuam sendo os polos que mais exportam jogadores para os grandes centros, seria então a qualidade técnica nosso maior problema? São muitos os que dizem que a qualidade técnica (como se o jogador fosse um boneco de Lego®) dos nossos jogadores diminuiu, que precisamos fazer treinamentos individualizados (e na maioria das vezes de forma descontextualizada do jogo), enfim, são vários os problemas levantados e muitas vezes identificados fora de uma ótica sistêmica da nossa realidade, e para solver esses “problemas”, buscam resoluções que funcionaram para os problemas do futebol de outros países, como se fosse tudo igual. Será que essa é realmente a melhor saída? Será que estamos realmente conseguindo diagnosticar nossos reais problemas?
Senhores, trouxe aqui vários questionamentos. E é válido ressaltar que não estou do lado de nenhum dos radicais, busco estudar e fazer uso do conhecimento desenvolvido por várias nações diferentes (e não somente de conteúdo específico do futebol), mas não descarto excelentes autores e profissionais que possuímos aqui (Alcides Scaglia, João Batista Freire, Israel Teoldo, Tite, Fernando Diniz e etc.), é preciso encontrar um equilíbrio nisso tudo, não desconsiderar tudo que é feito aqui para reproduzir tudo que é feito fora, e vice-versa! O olhar deve ser sistêmico, buscando visualizar a dimensão e necessidade dos nossos problemas.
Copiar não é a solução, e muito menos, ignorar.
Até a próxima, senhores!