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Clube-empresa – SA pode trazer governança e investimentos

A inesperada pandemia trouxe junto com a paralisação dos jogos, o aprofundamento de um debate que até então se enquadrava pouco na programação esportiva e nas pautas que tanto tratam de resultados de jogos e de contratações.

No Brasil há ao menos sete emissoras de canais de TV fechados produzindo todos os dias, exclusivamente, conteúdo relacionado a esportes, além dos programas esportivos em canais diversos, rádios AM, FM, Web, canais de vídeos na internet, e também páginas e mais páginas em redes sociais voltadas para o esporte. Quando fomos pegos pela impensável paralisação ocasionada pelo COVID 19, do que falar? O que fazer quando não se pode mais discorrer horas sobre as rodadas dos mais diversos campeonatos, sobre até quando este ou aquele treinador agüenta a pressão das derrotas, qual seria a melhor tática e a melhor escalação para ter vencido o jogo, ou os motivos que levaram à vitória? O que dizer quando os campos estão em silêncio?

A ausência de jogos e conseqüentemente do imediatismo “resultadista” da maioria dos profissionais da imprensa pode ter nos levado a um aprofundamento na complexidade do futebol como um todo, não somente do jogo.

A pandemia, de um lado escancarou os rombos financeiros daquelas instituições administradas de forma temerária e de outro evidenciou a organização das melhores gestões.

Nesse sentido, uma das discussões que ganhou destaque foi a transformação de clubes associativos em clubes empresa e em um dos formatos possíveis dentro do modelo empresa que são as sociedades anônimas. Possivelmente, uma das razões para que este fosse um tema de destaque é o fato de que, entre outras coisas, o futebol brasileiro pode estar chegando perto do seu teto de receitas. Por maior que seja a criatividade do departamento de marketing de um clube – como na ação do Esporte Clube Bahia com o programa Sócio Digital – não é possível elevar exponencialmente a arrecadação.

Isso pode ser percebido por meio de números divulgados nos balanços financeiros publicados pelos clubes. De acordo com estudo da Ernst&Young, as receitas comerciais dos 20 principais clubes do ranking da CBF não têm crescimento desde 2017. As únicas fontes de receitas com elevação relevante nos últimos três anos foram provenientes de premiações e transferências de atletas.

Os idealizadores do PL nº 5.516/19 que cria a Sociedade Anônima do Futebol – S.A.F (“PL SAF”), um dos dois projetos que tramitam no Senado para a transformação do modelo atual de organização dos clubes, defendem que a captação de receita mais eficaz e segura para essas instituições se dá através da venda de ações na bolsa de valores. E, diferente do que ocorre com as receitas comerciais dos clubes, a B3 – Bolsa de Valores do Brasil -registrou em maio deste ano, em meio a uma crise econômica mundial, uma alta de 41,8% com relação ao número de pessoas físicas que investiram no mesmo período do ano anterior, tal ascensão não é um fato isolado, mas uma constante. De março de 2017 a maio de 2020 o crescimento monetário do aporte de pessoas físicas foi de R$57 bilhões.

É importante salientar que até aqui, estamos tratando de relações comerciais, ou seja, pessoas físicas que investem em empresas que entendem ser lucrativas e vislumbram a possibilidade de retorno financeiro. No futebol temos a adição de um componente que provavelmente nenhuma empresa conseguirá equiparar, a paixão dos torcedores!

Com a inserção de clubes de futebol nesse mercado, a tendência seria um salto numérico ainda mais expressivo. Contudo, realizar essa transformação não é uma tarefa tão simples.

Um dos empecilhos para essa transformação é o aumento abissal na carga tributária decorrente da mudança de natureza dos clubes que no caso dos associativos são entidades sem fins lucrativos e arcam apenas com a tributação trabalhista. Em contrapartida, seriam concedidos benefícios fiscais, parcelamento de débitos com grande redução de multa, juros e completa isenção de encargos legais, possibilidade de recuperação judicial e um regime especial de administração e pagamento de débitos trabalhistas. Mesmo com os benefícios propostos e as concessões, o compromisso tributário, gera receio.

Há também uma imensa dificuldade na maior parte dos clubes em quebrar o paradigma da cultura política que vem se enraizando e fortalecendo ao longo de mais de 120 anos de existência das associações civis desportivas. As relações políticas estão arraigadas de tal forma nos clubes brasileiros que aparentemente faz mais sentido para os gestores que as comandam transferir como forma de receita, vários de nossos atletas mais talentosos para clubes como Manchester City, Arsenal, Bayern de Munique, por exemplo, agigantá-los com maior qualidade nos “espetáculos” e inclusive perder torcedores brasileiros para eles, do que abrir mão do poder que até então lhes cabe e que é disputado em cada novo processo eleitoral.

Para que essa transformação seja promissora é necessária uma legislação específica para o desporto, pois os modelos implementados por alguns poucos clubes até então sem essas adequações, se mostraram tão ou mais ineficazes que as associações existentes.

De qualquer forma, fica claro que os processos, sejam eleitorais, de gestão, ou outros tantos que estão obsoletos, clamam por transformações em prol do bom futebol, seja em clubes no modelo empresa ou não.

*As opiniões dos nossos autores parceiros não refletem, necessariamente, a visão da Universidade do Futebol

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Tite evoluindo

É sempre relativo analisar a importância da seleção brasileira no cenário doméstico e internacional. Há quem defenda que o encanto de outrora já não existe mais. Os argumentos são os mais variados: os nossos craques não jogam aqui e só ‘pensam em dinheiro’, a qualidade do jogo não é mais a mesma, faz tempo que não ganhamos uma Copa do Mundo, estamos atrasados com relação ao que se faz na Europa e etc. Porém, sempre que a seleção joga eu me esforço para acompanhar. Penso ser importante procurar entender quais as ideias do treinador e como cada jogador convocado se comporta, já que para mim faz sentido o específico clichê que diz: jogar em clube é uma coisa e na seleção é outra.

Me apego aqui mais ao treinador, porque é o que tem me chamado a atenção. Já falei inúmeras vezes que Tite é o melhor técnico brasileiro. Com o conservadorismo da CBF é impensável  termos um profissional estrangeiro, portanto a permanência de Tite se mostra mais do que coerente. E é a evolução do ex-treinador do Corinthians que mais salta aos olhos. 

Tite é hoje o ponto intermediário entre os mais competentes treinadores do mundo e a mesmice de ideias que, de maneira geral, impera no Brasil. E a cada pequeno ‘ciclo’ de jogos é possível ver melhora na seleção brasileira. E falo aqui de conceitos, de ideias. Por exemplo, se na Copa do Mundo, há dois anos, a seleção insistia em uma saída de bola com a linha defensiva de quatro ‘sustentada’, hoje vemos uma saída de três, ou até mesmo com dois jogadores dependendo da marcação do adversário. Se o Brasil antes sofria ao perder a bola, já que sem uma compactação bem feita é impossível realizar um ‘perde-pressiona’ eficaz, hoje atacando com mais gente as linhas invariavelmente estão mais próximas e uma transição defensiva acontece de maneira natural.

Brasil x Bolívia pela primeira rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2020
Tite em ação na estreia da seleção nas eliminatórias. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Não jogar contra as melhores seleções do mundo por conta do calendário é um problema gigante, mas de poucas, ou quase nenhuma, solução. O que está ao alcance de Tite ele está fazendo: aprimoramento tático, busca de conhecimentos do que se faz no mais alto nível e evolução profissional. E o que é mais difícil: com pouquíssimo tempo para treinar. Ao invés de criticar as circunstâncias que envolvem a seleção prefiro olhar para dentro de campo. E o que tenho visto tem me agradado cada vez mais. É garantia de vitória? Claro que não. Mas aumenta as probabilidades.

*As opiniões dos nossos autores parceiros não refletem, necessariamente, a visão da Universidade do Futebol

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Por que os clubes de futebol brasileiros devem vestir a camisa da sustentabilidade?

Futebol e Meio Ambiente, o que um tem a ver com o outro? Pode parecer que não há nada que os relacionem, mas é bem verdade que estes dois temas estão mais próximos do que podemos imaginar, afinal, nada está desconectado da sustentabilidade e a necessidade em preservar o meio ambiente e os recursos naturais.

Ademais, é importante ressaltar que o futebol não pode ser visto mais apenas na ótica da bola, do campo e dos jogadores durante a partida carecendo de uma visão abrangente – e empresarial – que compreende também as questões socioambientais.

Dessa forma, preservação do Meio Ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, que são expressões originalmente relacionadas ao desenvolvimento socioeconômico, político e cultural, vem sendo incorporadas ao futebol quando atreladas à responsabilidade ambiental, a qual tem ganhado maior atenção dos clubes e das empresas parceiras destes, sempre na busca de manter uma imagem positiva com a torcida e o público em geral.

A preocupação com as questões ambientais no meio futebolístico é recente, tendo ganhado maior espaço com a copa do mundo de 2014 em que foram criadas diretrizes do Ministério do Esporte para construção e reforma de estádios e centros de treinamento, incluindo questões de sustentabilidade, eficiência energética, possibilidade de uso racional da água dentre outros.

Em relação a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a sustentabilidade teve relação, inicialmente, com as próprias obras de construção e/ou reforma dos Estádios, mas o legado é visto atualmente, em alguns casos, de maneira positiva e com boas práticas ambientais, a exemplo do Estádio Mineirão em Belo Horizonte, o qual adota práticas de reaproveitamento da água da chuva, geração de energia limpa e renovável, por meio da usina solar fotovoltaica instalada na cobertura do estádio e o reaproveitamento de resíduos.

Antes disso, a Federação Paulista de Futebol criou o projeto “Eco Torcedor” em parceria com os clubes de futebol da primeira divisão do estado de São Paulo. As principais ações realizadas no âmbito da preservação ambiental do programa foram: plantio de bosques urbanos e coleta de resíduos sólidos recicláveis que teve um significativo resultado com a coleta de mais de uma tonelada de resíduos recicláveis nos eco pontos instalados nos estádios. Além disso, foram plantadas 16.260 mudas para a formação de bosques urbanos.

Muitos times brasileiros têm investido ou já investiram em ações que buscam a promoção da sustentabilidade e projetos voltados para o meio ambiente. São exemplos o Internacional e Grêmio com seus estádios sustentáveis com sistemas de aproveitamento da água da chuva para irrigação do gramado e jardins e limpeza de áreas internas e externas.

Em São Paulo, Corinthians e Palmeiras firmaram parceria com empresa do setor privado no extinto projeto de carboneutralização – captura de gases do efeito estufa por meio do plantio de árvores, chamado “Jogando pelo Meio Ambiente” – iniciado no ano de 2010 e responsável pela criação de uma reserva ambiental de árvores nativas da Mata Atlântica onde foram plantados um total aproximado de 50 mil árvores.

Outro exemplo é o clube Atlético-MG, o qual inaugurou em 2020 a “Usina do Galo”, responsável pela produção de energia fotovoltaica para abastecer a sede administrativa, o centro de treinamento e os dois clubes sociais, o que poderá gerar economia financeira e benefícios ao meio ambiente imensuráveis.

É evidente o crescente incentivo por práticas ambientais mais conscientes, aliando o desenvolvimento sustentável – e proteção ao meio ambiente – ao futebol, e possibilitando diversos benefícios relacionados a conquista de um relacionamento ético e dinâmico com os órgãos públicos e entidades de proteção ambiental e a garantia de segurança e credibilidade aos torcedores e patrocinadores quanto a execução de boas práticas ambientais, dentre outros.

Percebam que todos estes programas e ações realizadas buscam ou buscaram trazer benefícios para a sociedade e propiciar a promoção de benefícios para o meio ambiente, agregando valor à marca do próprio clube de futebol e aos patrocinadores que veem sua marca atrelada a uma entidade esportiva que valoriza princípios de Responsabilidade Social e Sustentabilidade Ambiental, ou seja, ações em consonância com os desafios a serem superados no século XXI.

Iniciativas que busquem melhorias na qualidade ambiental e utilização consciente dos recursos naturais, seja em centros de treinamento ou em estádios de futebol, têm sido valorizadas pelos torcedores e patrocinadores devido ao recente movimento de conscientização da população que de modo geral busca apoiar a sustentabilidade, fazendo-se necessário aos clubes de futebol também buscarem promover iniciativas de proteção ao meio ambiente ainda mais consistentes.

A nossa concepção é que os clubes de futebol reconhecidos por promovem melhorias ambientais e implantação de processos eficientes de controle e reaproveitamento de água e resíduos, ou seja, clubes que adotam boa gestão ambiental terão resultados financeiros mais satisfatórios quando comparados aos clubes que não fazem uma gestão ambiental preventiva em razão da valorização de suas marcas, reconhecimento da torcida e empresas parceiras.

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Jogar bem é jogar bonito

A beleza na vida e no futebol é algo subjetivo. Depende do modelo de mundo de cada um. As experiências prévias, as influências, o contexto e uma serie de outras coisas condicionam a maneira com que enxergamos tudo. O que é belo para mim pode não ser para você. E vice-versa. 

Entendendo essa complexidade, simplifico o ‘jogar bonito’ do futebol para ‘jogar bem’. Não são exatamente sinônimos, mas cabe para o argumento que quero defender. Isso porque jogar bonito – por mais complexo e interpretativo que seja, repito – aproxima da vitória. A proposta pode ser tanto um jogo calcado na ocupação inteligente do espaço como por ter o controle da partida por meio da posse de bola. Mas qualquer ideia sendo bem executada tem sua beleza e tudo que é eficaz tem maior probabilidade de êxito. Um jogo supostamente ofensivo e sempre com maior posse de bola não basta para ser considerado nem bonito e nem eficiente. Faça bem o que se propõe a fazer e se aproximará da vitória. Dá trabalho. É difícil. Por isso nem todos conseguem.

As glórias mais marcantes do futebol brasileiro foram obtidas com o talento individual do jogador, tendo como base sempre o jogo ofensivo. Entretanto isso não anula uma marcação elaborada e uma transição rápida em direção ao gol adversário. Até porque o jogo é uma ‘coisa’ só. Não cabe mais nos dias de jogo compartimentar uma equipe em defesa, meio de campo e ataque.

A bipolarização entre jogar bonito e jogar para vencer trata-se de uma distorção colossal. Ter uma ideia clara e executá-la com excelência tem sua estética. E isso conduz ao resultado. Não é, nunca foi e nunca será excludente.

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O futuro do sócio-torcedor e os impactos financeiros causados aos clubes em tempos de pandemia

O que já se sabe é que estamos vivendo um ano atípico, onde todo o mundo se volta para a sobrevivência, o comprometimento momentâneo, e aos detalhes que por diversas vezes passaram por ali despercebidos, passamos a valorizar ainda mais outro. E, após oito meses, tivemos que nos reinventar e readequar nossos costumes e hábitos.

Assim também acontece no meio do futebol. Os clubes brasileiros, em sua grande maioria, dependem de programas como o sócio-torcedor e da receita das bilheterias dos jogos como pilares sólidos de suas finanças. Em um estudo realizado pela empresa de consultoria Ernst & Young no ano de 2019, concluiu-se que 16% de toda receita que circula no futebol tem como origem uma dessas duas fontes.

Especificamente no ano de 2019, os clubes auferiram cerca de 20% de receita com bilheteria e programas exclusivos de sócio maiores que o ano de 2018, configurando uma crescente considerável ao ano anterior.

E assim, trilhava o cenário positivo e ascendente para o ano de 2020, até que o mundo virou de pernas para o ar. O futebol foi suspenso por um período considerável, e os clubes passaram por perdas financeiras significativas, praticamente desconsiderando as receitas com bilheteria. O cenário de evolução da pandemia promete jogos sem públicos ou com capacidade reduzida pelo menos até o final da temporada, e a consequência direta é a tendência de inadimplência ou cancelamento dos programas de sócios torcedores, afetando também os cofres das agremiações.

Existem, porém, algumas maneiras de se atenuar o impacto e a queda das receitas dos programas de sócio-torcedor com ações que deveriam ser implementadas antes mesmo da crise, mas que ainda estão em tempo de serem retomadas.

Primeira etapa, os clubes precisam entender o impacto que a diminuição das receitas com programas de sócio e bilheteria irá gerar em seus caixas – lembrando que os clubes praticamente não terão receitas com bilheteria pelo menos durante o ano de 2020. A segunda etapa consiste em conhecer os mecanismos e as vantagens que cada plano oferece ao seu torcedor para que ele continue adimplente, visto que a crise também afetou financeiramente os torcedores e, além disso, entender o que o plano poderá oferecer àqueles que ainda não são afiliados e contratem o plano em meio a pandemia.

Em outras palavras, os planos de sócios-torcedores que quiserem ter sucesso e cumprirem suas funções de manter um fluxo de caixa precisam tratar o jogo em si como mais um “detalhe”.

Hoje no Brasil, alguns clubes oferecem planos com vantagens exclusivas e até chance de se candidatar à presidência do clube. Porém, em sua grande maioria, os clubes oferecem apenas o acesso às partidas, o que provavelmente não ocorrerá em um futuro próximo, uma vez que no atual cenário não se sabe ao certo quando os portões estarão inteiramente abertos para o espetáculo.

Para a fidelização do torcedor deve ser oferecido muito mais do que se tem visto em sua grande maioria dos clubes, podemos citar alguns exemplos, como programas exclusivos de vantagens, acumulo de pontos, conteúdo exclusivo para sócios, experiencias e viagens futuras, descontos e anistias, dentre outros.

O programa “Avanti” do Palmeiras concede aos seus torcedores até 20% de desconto em redes de grandes drogarias e em mensalidades de Universidades. Já o programa de sócio do Internacional focou em descontos em serviços bastante conhecidos de streaming de músicas, filmes e séries, mas esses são exemplos de um primeiro passo a ser dado. Um segundo passo, mais ousado, costuma ser bem mais efetivo: permitir ao sócio-torcedor o direito de participar da vida política do clube, concedendo o direito ao voto e até mesmo de ser votado nas eleições para o conselho deliberativo e/ou presidência. Estudos afirmam que os planos que permitem a participação gerencial do clube tendem a ter quedas menos acentuadas.

Este é o exemplo seguido pelo Bahia: no primeiro ano de adesão ao programa de sócio você adquire o direito de voto como associado e no segundo ano poderá se candidatar ao conselho ou até mesmo a presidência do clube. Com essa e outras ações, o clube do nordeste vem se mantendo com uma média de 30 mil sócios adimplentes por mês, a despeito da pandemia.

Por outro lado, os sulistas, que têm um dos planos mais antigos e robustos do mercado, veem inclusive um certo crescimento na sua base, que gira em torno de 120 mil associados, mesmo na pandemia. É evidente que não é apenas o direito de participar da vida do clube que vem garantindo a consistência dos dois programas. Nos dois casos, há inúmeros ações fazendo a sustentação. Mas, certamente, perder a chance de ter “voz” na administração pesa na hora de se abandonar o pagamento do “carnê” no final do mês.

Avaliando os discursos e mecanismos dos clubes, torna-se cada vez mais claro que manter os benefícios do programa limitados apenas a entrada nos jogos dá pouca consistência a algo que se mostra cada vez mais vital na sobrevivência das agremiações.

Mas também é fácil concluir que são os jogos que fazem com que o torcedor decida desembolsar uma quantia que muitas vezes lhe faz falta para se associar. Por mais que vantagens, experiências, voto e voz tenham apelo, se a bola não rolar, não haverá estratégia milagrosa para assegurar a manutenção dos caixas por muito tempo.

O que não quer dizer que a “lição de casa” não precise ser feita, e que as medidas de segurança não devam ser observadas.

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Os direitos de transmissão – união dos clubes e acesso do torcedor é o que interessa

O Futebol Brasileiro vem passando por uma transformação gradativa em termos de transmissão de seus campeonatos. A Rede Globo de Televisão, que manteve a hegemonia nas últimas décadas com certa tranquilidade, vem sofrendo uma série de ameaças a esse respeito. Com a pandemia esse movimento foi acelerado, mas ele já se mostrava uma tendência mesmo antes do espalhamento do vírus pelo planeta.

Em 2016, Santos, Palmeiras, Internacional, Athletico, Bahia, Ceará e posteriormente Coritiba e Fortaleza, fecharam acordo com a Turner para a transmissão em canal fechado das temporadas de 2019 a 2024 do Campeonato Brasileiro da Série A. A relação já se iniciou conturbada, pois alguns dos representantes dos clubes se manifestaram muito insatisfeitos com o anúncio, em agosto de 2018, do fim dos canais Esporte Interativo e a realocação da transmissão das partidas para canais de séries, filmes e variedades. Ainda assim, os clubes mantiveram o cumprimento dos contratos, por entenderem o balanço da relação como positiva, apesar dos percalços mencionados.

Independente das movimentações do mercado dos direitos de transmissão, o que é uma realidade comum durante a maior parte da história do futebol brasileiro, e se mostra presente também em relação às negociações dos direitos de transmissões, é a falta de união dos clubes no país!

O Brasil é um dos países que realiza as negociações com as emissoras de forma individual. Com a Turner, a abordagem foi diferente já que a negociação com os clubes foi feita em bloco, porém, em um segundo momento, a empresa entrou em acordo com o Palmeiras por um valor em luvas bem superior ao acertado com os demais. Houve, então, uma renegociação com os clubes, mas ainda com valor inferior ao do clube paulista – os valores do contrato com o Fortaleza eram outros pois, na época, o clube disputava a série C.

Amenizadas estas animosidades, o ano de 2019 se mostrou promissor para os clubes com a nova parceria, mas a paralisação das competições em março de 2020 por conta da pandemia trouxe novos retrocessos. Menos de 20 dias após as interrupções dos jogos, a Turner notificou os clubes alegando diversos descumprimentos contratuais. Clubes como o Coritiba, por exemplo, que sequer haviam realizado seu primeiro jogo pelo Campeonato Brasileiro da Série A, não poderia ter cometido quaisquer irregularidades. Para estes clubes, esse movimento da Turner poderia estar sinalizando uma intenção de rescisão sem o pagamento de multa, consequência do resultado financeiro inferior às expectativas da emissora. Também na pandemia, a Turner suspendeu 50% dos pagamentos referentes aos direitos de transmissão, o que fragilizou ainda mais a relação.

Quando o fim da parceria parecia iminente, o presidente da República, Jair Bolsonaro, assinou a Medida Próvisória nº 984, em 18 de junho de 2020, que trouxe, entre outras ações, alterações na Lei nº 9.615, de 24 de março de 1.998 (Lei Pelé).

O que motivou o nascimento da MP 984 não tem relação alguma com o contexto apresentado, mas a medida acabou “salvando” a relação entre os 8 clubes e a Turner, já que com a legislação vigente até então, as emissoras só poderiam transmitir confrontos entre dois clubes que tivessem contratos com a mesma emissora – Turner com Turner e Globo com Globo, por exemplo – pois o direito de transmissão era compartilhado. Com a MP 984 o direito passou a ser exclusivamente do mandante, dessa forma, quantidade de transmissões permitidas aumentou substancialmente. Tendo 8 clubes sob contrato, a Turner poderia transmitir apenas 56 jogos no modelo anterior, com a MP esse número passou a ser de 152 jogos.

A Globo também se beneficiou com a alteração em relação às transmissões em canal fechado, passando de 132 para 228 jogos que podem ser transmitidos nesse meio pela emissora. Na TV aberta, ela permanece detentora dos direitos de transmissão de todos os clubes participantes do Campeonato Brasileiro.

Além de todas essas mudanças, o SBT, emissora que não realizava transmissões nacionais de futebol desde 1998, adquiriu recentemente os direitos de transmitir em canal aberto o principal campeonato continental, a Copa Libertadores da América. Para que o negócio fosse fechado, o contrato da CONMEBOL com a Globo, válido até 2022, foi rescindindo em meio a uma renegociação de valores que a emissora buscava junto à confederação.

Foi também por meio das condições possibilitadas pela MP 984, que o SBT pôde transmitir o segundo jogo da final do Campeonato Carioca de 2020. Importante pontuar que a TV Globo não teve direito a exibir nenhum jogo dessa competição em suas plataformas, pois a Foxsports transmite os jogos na TV fechada e a Bandsports, em PPV.

A verba proveniente dos direitos de transmissão é a maior fonte de receita dos clubes, representando 39% da renda total na média dos 20 primeiros no ranking da CBF (Fonte: Ernst Young).

Como as mudanças abruptas apresentadas até aqui demonstram, o tema vem sendo tratado de maneira caótica e fragmentada por parte dos clubes, que além do público consumidor/torcedor, são os maiores interessados em um desenvolvimento sustentável das negociações desses direitos.

Alguns clubes tiveram a iniciativa de organizar um movimento chamado Futebol Mais Livre para que a Medida
Provisória ganhe força, seja votada no Congresso e convertida em lei. A MP tem 60 dias de validade para vigorar como Lei, prorrogáveis por mais 60. Se for rejeitada na Câmara dos Deputados, sua vigência e tramitação são encerradas e o projeto arquivado. Estamos há 23 dias do término do prazo e a votação ainda não ocorreu. Doze dos vinte clubes de série A fazem parte do movimento: Athetico Paranaense, Atlético GO, Bahia, Ceará, Coritiba, Flamengo, Fortaleza, Goiás, Red Bull Bragantino, Palmeiras, Santos e Vasco. Apesar da dificuldade histórica dos clubes em chegar a um consenso nas mais diferentes pautas, esse movimento sinaliza união maior do que nos últimos anos, inclusive se considerarmos que os clubes que não se manifestaram como apoiadores, não são declaradamente contrários à MP, o que mitiga conflitos.
O que precisa ficar claro para todos é que a o cerne da questão não está na emissora que irá negociar os direitos de transmissão, mas na forma como o acordo será fechado. Os conflitos com a Turner, por exemplo, mostraram que a Globo tem também vantagens a oferecer. Pontos positivos de uma, ou outra, e ate de uma terceira, podem ser potencializados com a união dos clubes.

A gestão dos campeonatos e a sua venda demanda ainda muitos avanços por parte da CBF e federações, mas poderia ser transformada de uma maneira mais rápida se a rivalidade dos clubes permanecesse somente em campo e existisse a compreensão de que sem a entrega de um bom produto, todos perdem.

Outro ponto fundamental é que a fragmentação dos direitos e a desunião dos clubes tornam o simples fatos de assistir a um jogo, um desafio para o torcedor. Os clubes têm o direito de utilizar a MP 984 para suas transmissões, mas não o dever, então, alguns jogos chegam a ficar sem transmissão em sem público – ausência essa, ocasionada pelo COVID 19. A mensagem que é passada ao torcedor é que ele pode ficar sem o “produto futebol”, procurando se informar sobre os resultados da partida após o seu término ou mesmo apenas acompanhando os jogo pelas rádios.

Lembrando, falamos aqui de 39% da receita do futebol brasileiro! Se o torcedor perder o interesse em assistir ou de estar presente nos jogos, a audiência cai, a presença nos estádios segue essa mesma tendência, o produto perde valor e as receitas despencam. E nem foi mencionada aqui a realidade que extrapola os 20 principais clubes do país. Nesse contexto, as questões a serem resolvidas são bem mais profundas do que as emissoras e suas trasmissões.

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A complexa problemática do Flamengo

A cultura futebolística no Brasil foi pautada sempre pela individualidade. No “futebol antigo”, jogadores se sobressaiam com mais facilidade, hoje, o coletivo prevalece mais do que nunca. Podemos ampliar essa visão sobre o conceito de coletivo, que é básico, já que o jogo se dá em onze contra onze, para questões de fora do campo também. Um clube tem que estar alinhado em seus mais variados setores, como financeiro, administrativo, político, jurídico, dentre outros, para que dentro de campo o sucesso esteja mais próximo. Com cada setor funcionando bem e de maneira integrada, as probabilidades de vitória aumentam.

Dentro dessa visão sistêmica e complexa, a figura do treinador é extremamente importante. É ele quem interliga tudo o que o clube gera e canaliza para as quatro linhas, trocar o técnico significa um rearranjo geral. Por isso o dilema do Flamengo hoje é cruel: como fazer Domenec Torrent alcançar os mesmos resultados do seu antecessor, Jorge Jesus?

Pessoas diferentes criam relações igualmente diferentes. Poderíamos aqui falar de princípios e sub-princípios ofensivos e defensivos, de comportamentos de transição e de bola parada, mas não é só a tática que marca a diferença entre o técnico espanhol e o português. A questão é de personalidade, de relacionamento, de comunicação, de liderança. Nesse sentido, é óbvio que a gestão do ambiente será diferente porque se tratam de pessoas diferentes. O simplista argumento de “era só dar sequência ao que vinha sendo feito” não cabe em nenhuma circunstância. Não falamos de um motor no qual se troca uma peça e o seu funcionamento segue o mesmo, ps próprios jogadores passam a interagir de maneira diferente pela “simples” troca no comando.

A direção do Flamengo tem que ser persistente na ideia, mostrar convicção e crença no treinador escolhido. Não prego a permanência de Domenec com fim nela mesmo, se vierem dez derrotas consecutivas não há como segurar, entendo isso, mas perseverar diante de dificuldades iniciais é mais do que necessário. Assumir um trabalho extremamente vitorioso traz inúmeros desafios, esse é o momento dos dirigentes entenderem isso e mostrarem que realmente o Flamengo pensa e age de maneira diferenciada. 

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O papel dos intermediários no futebol

Empresário, agente, representante, procurador, Agente FIFA, várias já foram as denominações utilizadas para designar a atividade de agenciamento de jogadores de futebol. Com a desregulamentação da figura do agente FIFA, desde 1º de abril de 2015, a entidade máxima do futebol delegou a tarefa de regulamentar as negociações com intermediários, que lhe incumbia, às federações nacionais.

Deste modo, a FIFA desvinculou-se totalmente do processo de obtenção de licenças e excluiu a obrigatoriedade do exame de admissão que era aplicado, imputando às federações associadas a elaboração das regras para o exercício da atividade.

O intermediário, nome técnico exclusivo para a profissão, que pode ser tanto uma pessoa física como jurídica, é visto como uma ponte entre clubes e jogadores que age para tornar as transações transparentes e evitar conflitos de interesses. Diferentemente dos agentes FIFA, que muitas vezes tinham participação no direito federativo dos atletas, ou seja, vínculo com uma das partes, o intermediário atua de forma independente, recebendo somente a comissão para intermediar o acordo entre as partes: treinadores, jogadores e clubes.

Desde 2015, a CBF anualmente publica o Regulamento Nacional de Intermediários (RNI), com regras específicas para regulamentar a profissão e limitar a atuação àqueles que constem na lista de intermediários cadastrados na entidade.

Vale aqui informar que o descumprimento do RNI por intermediário, técnico, jogador ou clube, está sujeito às severas sanções previstas no Regulamento da Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD), podendo o Comitê Disciplinar da FIFA estender sua eficácia a nível mundial, que vão de advertência até a proibição de atuar em qualquer atividade relacionada ao futebol às pessoas físicas/jurídicas ou desfiliação de um clube perante a CBF.

Conforme informado acima, cumprindo o encargo atribuído pela FIFA, desde 2015 a CBF publica anualmente o Regulamento Nacional de Intermediários (RNI)[1], cujo objetivo é organizar e legalizar a profissão, trazendo segurança jurídica às transações e às partes envolvidas.

Publicado em 06 de janeiro, o RNI de 2020, logo em seu artigo 1º, traz o conceito da figura do intermediário, de forma ampla:

Art. 1º. Considera-se Intermediário, para fins deste Regulamento, toda pessoa física ou jurídica que atue como representante de jogadores, técnicos de futebol e/ou de clubes, seja gratuitamente, seja mediante o pagamento de remuneração, com o intuito de negociar ou renegociar a celebração, alteração ou renovação de contratos de trabalho, de formação desportiva e/ou de transferência de jogadores.

As disposições do Regulamento aplicam-se a jogadores, técnicos de futebol e clubes que utilizam os serviços de um intermediário para negociar ou renegociar a celebração, alteração ou renovação de contratos de trabalho, formação desportiva, transferência ou cessão de direito de uso de imagem.

É condição indispensável o registro do intermediário na CBF para atuar nas negociações, tanto no Brasil como nos casos de transferências internacionais, em que envolvam outras associações estrangeiras.

É importante ressaltar que a FIFA vem tentando trazer mais transparência às negociações. Com o declarado propósito de prevenir situações de conflitos de interesses, proibiu que dirigentes possam ser intermediários. Outrossim, proibiu que intermediários detenham percentual do passe de atletas, estabelecendo que só os clubes podem ser donos e possuir os direitos econômicos dos jogadores – salvo a exceção do atleta ser detentor parcial do seu próprio passe, direito conferido em 2019.

Nessa toada, a FIFA já puniu clubes de fachada, criados por intermediários com o intuito de burlar a legislação. Nesses casos, o intermediário utiliza-se do clube para camuflar a real propriedade dos direitos econômicos dos atletas, assegurando o recebimento dos valores pagos a título de transferências destes direitos.

Apesar do regulamento prever uma série de deveres, a atividade do intermediário é muito mais ampla do que a prevista, uma vez que, na prática, sua função é gerenciar a carreira do atleta e não apenas mediar as transferências. Usualmente ele assume a gestão das questões “extracampo” (propostas, patrocínios, por exemplo) para que o atleta, desonerado do encargo de administrar os rumos da sua carreira, possa focar no seu desempenho e apresentar resultados satisfatórios.

Feitas as considerações acima, em resumo, para atuar regularmente como intermediário de atletas é necessário firmar um contrato de intermediação, registrá-lo na CBF com a documentação da pessoa física ou pessoa jurídica, preencher a declaração de intermediário e contratar um seguro de responsabilidade civil, cuja cobertura por danos seja de pelo menos R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais). No caso de intermediários estrangeiros não-residentes no Brasil, o valor do seguro deverá ser de US$ 100.000,00 (cem mil dólares).

No tocante à remuneração, existem duas formas para a figura dos intermediários. Nos casos em que contratados por jogador ou técnico de futebol, os intermediários estipulam sua comissão com base na remuneração total bruta ou no salário total bruto que negociar ou renegociar. Em regra, o pagamento se dá em parcelas anuais ao final de cada temporada contratual.

Nas hipóteses de contratação pelo clube, a remuneração dos intermediários é previamente acordada e paga em valor fixo, à vista ou em parcelas. A remuneração é devida pela parte que contratar o intermediário, sendo vedado o pagamento a dirigente de qualquer valor a título de honorários devidos aos intermediários.

Quando omissa a previsão da remuneração do intermediário, esta será fixada em 3% (três por cento) da remuneração total bruta do jogador ou do técnico de futebol até o prazo final do contrato. Já se o clube cedente contratar os serviços do intermediário, fixar-se-á a remuneração proporcionalmente ao tempo restante de contrato do jogador ou técnico junto a tal clube.

Como anteriormente salientado, a FIFA veda a participação de intermediários nos direitos econômicos dos atletas, não podendo receber qualquer valor referente à transferência, sendo papel dos clubes garantir que o pagamento será feito de clube para clube.

Por oportuno, uma das novidades do RNI é que um intermediário pode firmar contrato de representação com um jogador ou técnico de futebol que tenha contrato vigente de representação exclusiva, registrado com outro intermediário, desde que expressamente autorizado por este.

Conclui-se que o papel do intermediário deve ser pautado nos princípios da lealdade, transparência, honestidade, probidade, boa-fé e diligência profissional, seguindo as normas e regulamentos aplicáveis da CBF e da FIFA, bem como a legislação brasileira, para o correto cumprimento de sua função, além de informar a seus clientes sobre eventuais negociações em andamento, esclarecendo, ainda, cláusulas contratuais e dúvidas referentes às operações conduzidas, nos termos do artigo 33, do RNI.

Portanto, cabe a este profissional pautar sua conduta visando à consecução dos interesses dos seus clientes, sendo-lhe vedado exigir recompensas ou condicionar a transação à vinculação do jogador a um intermediário específico.

Concluindo, compete à Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apreciar quaisquer questões decorrentes deste Regulamento, podendo o Comitê Disciplinar da FIFA estender sua eficácia a nível mundial.


[1] https://www.cbf.com.br/a-cbf/regulamento/de-intermediarios/regulamentos-de-intermediarios/ acesso em 02/05/2020

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Habilidades para reerguer o Corinthians

A situação do Corinthians é preocupante, dentro e fora de campo, e no médio prazo as esferas externas e internas às quatro linhas sempre acabam se confundindo e produzindo juntas um único resultado. Um clube com problemas financeiros e políticos, que se soma a um time sem confiança e sem uma herança tática deixada pelo treinador que saiu, se mostra um desafio gigantesco ao próximo treinador. Seja ele o interino Dyego Coelho ou outro que vier a ser contratado.Todo e qualquer modelo de jogo deve ser condicionado pelo que os jogadores podem oferecer. Em todos os aspectos: técnico, tático, físico, emocional e até em questões espirituais, sociais . Por exemplo, jogadores intimidados pelo momento dificilmente vão apresentar passes e/ou dribles ousados. Ou zagueiros lentos terão dificuldade em jogar adiantados porque terão dificuldades para acompanhar atacantes velozes. Veja: situações físicas e emocionais interferindo na maneira de jogar.

Mas além dessas questões que são mais relacionadas ao campo, o comandante corintiano terá que ter outras competências que são até mais complexas. A gestão do ambiente se mostra nesse momento a situação mais desafiadora a ser enfrentada. Capacidades de comunicação, liderança, habilidade de se relacionar, capacidade de adaptação rápida com uma ações, consequentemente, eficazes no ambiente, serão tão ou até mais importantes do que os conhecimentos técnicos. Todo grande clube tem suas peculiaridades e uma história calcada em identidade de jogo e maneira de se relacionar com o torcedor. O bom treinador é aquele flexível o suficiente para se adequar ao ambiente e não chegar com um modelo já pronto. Nesse atual instável Corinthians não há muita margem para testes e erros. Em uma temporada tão atípica, vacilos custarão muito caro. 

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Quem treina o treinador de futebol no Brasil? – Melhorando a tomada de decisão

Salve, salve amantes do futebol! Na coluna anterior falamos sobre a importância do autoconhecimento na carreira de um treinador e sugerimos algumas práticas para o desenvolvimento de competências intrapessoais.

Nesta, falaremos sobre a relevância em preparar o treinador para tomar decisões e traremos algumas sugestões para que o mesmo seja mais assertivo ao fazê-las.

Quantas decisões o treinador toma por temporada? Decisões de curto prazo, mais frequentes e fundamentais como o processo treino-jogo: titulares, reservas e listas de jogos; o que treinar; como treinar; que feedbacks passar para atletas; contratações de atletas e comissão técnica; substituições nos jogos; estratégia de jogo e comunicação; como lidar com pais, agentes, torcida, imprensa, entre tantos outros. Decisões de longo prazo como: negociar salário e contratos; escolher clubes; definir se vai para outro clube ou não; se pede demissão ou não; escolher categoria; mudar de cidade com família ou sem; se trabalha com agentes ou não; que profissionais convidar para trabalhar junto, entre tantas outras também.

Mas afinal, quem treina o treinador para melhorar essas tomadas de decisões? Falamos muito sobre evoluir a tomada de decisão do atleta, e as decisões do treinador? Alguns prontamente dirão que é na vida, no dia-a-dia, que ele aprende na prática, mas será que não há maneiras de ajudar o treinador a aperfeiçoar esse processo? Será todos precisarão cometer os mesmos erros? Certamente, a prática gera experiência, no entanto, mas aprender a tomar melhores decisões não se resume a isso.

No processo de ensino-aprendizagem do treinador algumas ações podem ser realizadas para promover uma melhora nas escolhas pontuais, de curto, médio e de longo prazo que o treinador toma ao longo de sua carreira, tanto pelos próprios treinadores, como por instituições de ensino, clubes e federações, responsáveis pela formação continuada desses profissionais.

a) Criar fóruns de debates sobre erros e acertos de treinadores mais experientes;
b) Realizar pesquisas qualitativas sobre o mindset e o comportamento de treinadores em diferentes níveis;
c) Treinar o processo LICA (ler, interpretar, compreender e agir)
d) Desenvolver um plano de ação: i) identificar a decisão, ii) reunir informações, iii) identificar alternativas, iv) ponderar as evidências, v) escolher entre as alternativas, vi) tomar decisão, vii) rever decisão;
e) Inserir esse conteúdo em ementas de cursos de formação e desenvolvimento de treinadores;
f) Escrever livros sobre resoluções de problemas embasadas em tomadas de decisões de treinadores em diferentes contextos e diferentes complexidades;
g) Bate papos informais transparentes com os pares;
h) Refletir sobre erros e acertos das suas próprias tomadas de decisões;
i) Sistematizar aprendizagens de séries de treinadores e clubes esportivos disponíveis em serviços de streaming;
j) Processos reflexivos em mentorias.

Fez sentido? E você, como faz para melhorar sua tomada de decisão? Traga mais sugestões! Continuaremos na semana que vem com mais uma coluna sobre treinar o treinador. Grande abraço e até lá!