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Cuca e os erros de comunicação do Palmeiras

A despeito de ter investido mais de R$ 100 milhões em reforços apenas para esta temporada, o Palmeiras foi eliminado precocemente no Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e na Copa Libertadores, que era o principal objetivo do clube no ano. Também está a 14 pontos do Corinthians, que tem uma partida a menos e lidera o Campeonato Brasileiro. É um roteiro ascendente entre aporte, expectativa e frustração. A construção dessa espiral negativa tem a ver com uma série de erros de gestão, é claro, mas também foi permeada por decisões questionáveis do ponto de vista de comunicação. E nesse aspecto específico, o técnico Cuca tem sido um dos principais problemas da equipe alviverde em 2017.

Cuca foi campeão brasileiro com o mesmo Palmeiras no ano passado. Deixou o clube no fim do ano, quando estava em alta com torcida, diretoria e mídia, e priorizou questões pessoais no primeiro semestre de 2017. Foi substituído por Eduardo Baptista, profissional de natureza absolutamente distinta, e funcionou como uma sombra para o sucessor.

Baptista foi demitido em maio, depois de o Palmeiras ter caído no Estadual. Com a saída dele e o retorno de Cuca, a ideia da diretoria era reencontrar o elã da temporada anterior a tempo de salvar a campanha na Copa Libertadores. Em menos de três meses, porém, a mudança serviu mais para expor problemas do que para perseguir soluções.

Há o caso Felipe Melo, por exemplo. Titular na Copa do Mundo de 2010, o volante foi um dos principais reforços do Palmeiras para este ano. Foi contratado como um acréscimo técnico e como uma liderança, apesar do histórico comportamental. Cuca julgou que o meio-campista não se encaixaria em algumas premissas táticas que ele considerava inegociáveis – a marcação individual, por exemplo. Também considerou que o jogador poderia se tornar um problema se fosse preterido.

O episódio culminou com o afastamento de Felipe Melo, que acionou o Palmeiras na Justiça. O que poderia ser uma decisão técnica/tática, ainda que questionável, virou um problema de tribunais e jogou pressão sobre todo o restante do elenco.

A eliminação na Libertadores mostrou que não foi um caso isolado. O Palmeiras caiu nos pênaltis, e a TV Globo flagrou o zagueiro Luan e o atacante Deyverson, que não bateram, conversando com Cuca antes das cobranças. Depois do jogo, em entrevista coletiva, o técnico criticou a omissão de alguns de seus atletas e novamente criou um problema maior do que a situação existente.

Deyverson foi achincalhado por torcedores depois do jogo. O caso dos pênaltis transformou o centroavante, que foi contratado neste ano e tinha bons números com a camisa alviverde, em um problema para o Palmeiras administrar.

O mesmo vale para Egídio. Cuca expôs o lateral, que passa longe de ser unanimidade entre os torcedores, e o manteve entre os titulares com as mesmas orientações de marcação individual e proposição (?) ofensiva. O pênalti perdido foi apenas o epíteto de uma relação que já vinha sendo minada havia tempos.

No domingo (13), em empate contra o Vasco, Cuca tirou Egídio do time titular. Disse que estava tentando preservar o lateral, responsável pelo pênalti que eliminou o Palmeiras da Libertadores, um dos mais cobrados pela torcida. Todavia, em que essa decisão foi positiva para o atleta? Que tipo de preservação é essa?

Falta maturidade à comunicação de Cuca no Palmeiras. O técnico age de forma rasa, procurando vilões e entregando culpados para individualizar problemas que são muito mais densos. A discussão sobre as questões coletivas foi sobrepujada nos últimos dias pelos jogadores que rechaçaram cobranças de pênaltis ou o lateral que errou e acabou preterido.

Erros acontecem em qualquer ambiente e são parte fundamental em um planejamento bem concebido. Um projeto de sucesso depende do quanto está preparado para lidar com o que sai do roteiro – improviso é uma virtude, mas até para improvisar é preciso ter repertório e preparação.

O Palmeiras não soube reagir ao que saiu do roteiro. Em vez disso, tomou o caminho que Cuca escolheu: apontou culpados, anunciou deficiências no elenco e foi ao mercado. A diretoria segue achando que resolverá com reforços um problema que não é de peças, mas de cultura.

Havia uma chance de o mercado aproveitar os percalços do Palmeiras e evoluir. Havia uma chance de os insucessos do clube gerarem debates que ultrapassassem a superfície. Do jeito que Cuca e a diretoria conduziram as coisas, porém, o que fica é apenas a certeza de que o imediatismo que dominou o clube neste ano só vai se tornar mais latente.

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Refletindo sobre a troca de comando técnico

Atualmente ainda convivemos, dentro do futebol brasileiro, com as rotineiras trocas de comando técnico nos clubes. A incorreta percepção de que trocar o técnico resolve os problemas atuais de desempenho, ainda é prática comum na atuação de muitos dirigentes dos clubes de futebol.

Porém, será que realmente eles acreditam nessa prática como a forma mais adequada para buscar o melhor desempenho de suas equipes dentro de campo?

Bem, eu acredito muito que a escolha de um comando técnico, poderia ser encarada como um processo seletivo profissional, onde seriam considerados vários aspectos para uma melhor seleção do profissional que comandará uma determinada equipe, tais como, por exemplo:

– Perfil comportamental do técnico;

– Experiência profissional;

– Aderência de valores do profissional com os valores do clube;

– Crença do profissional no projeto apresentado pelo clube.

Mas apenas esses parâmetros na seleção seriam suficientes para se esperar o elevado desempenho em campo? Acredito que não, pois penso que se deve dar alguns passos antes da referida seleção do profissional que comandará tecnicamente o time. A gestão pode e deve ter elaborado um ou mais projetos para o futebol do clube, com definição de objetivos de curto, médio e longo prazos, para os quais serão associadas metas a serem atingidas ao longo do desenvolvimento do trabalho em si.

Se faz fundamental que o clube saiba gerenciar muito bem as expectativas de todos, quanto aos projetos planejados, bem como, sobre os resultados esperados para o clube. Não gerenciar as expectativas é algo complicado, pois coloca em situação delicada toda a estratégia de gestão e invariavelmente acarreta numa pressão desnecessária na comissão técnica, a qual responde pelo desempenho do time dentro de campo.

Mas é claro que, além da gestão do clube fazer o que lhe compete, o técnico ao ser selecionado também tem sua parcela de contribuição efetiva para buscar promover uma rápida assimilação do seu trabalho e da sua forma de liderança, junto ao grupo de jogadores. Ele poderá construir uma relação de confiança e empatia, para poder promover ou estabelecer um ambiente de alta performance, no qual ele possa apoiar o desenvolvimento da equipe, bem como desafiá-la, nas doses certas ao longo do trabalho realizado. Então, para esse trabalho do técnico, dois passos são importantes para que se conquiste a confiança:

  1. Criar uma genuína e autêntica relação um-para-um com os atletas;
  2. Conseguir empatia através de um olhar incondicional sobre a realidade do time e dos atletas.

Assim, penso que podemos compreender a troca do comando técnico como apenas uma pequena parcela de incongruência da gestão esportiva, visto que antes da própria seleção em si, precisamos definir e divulgar qual ou quais projetos serão executados para o futebol, bem como reconhecer os valores do clube e alinhar as expectativas de todos os envolvidos. Para então buscar um profissional que possa ser uma parte integrada, engajada e efetiva na execução do(s) projeto(s) que irão levar o clube ao patamar desejado, no contexto do futebol nacional e mundial.

Até a próxima.

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A posse como um dos “problemas”

Como tentei relatar na coluna anterior, a posse de bola é um problema do jogo pois está  inerente a sua prática. Em alguns momentos tua equipe vai tê-la e se torna fundamental saber o que fazer com ela (individualmente/coletivamente). Como também, em alguns momentos tua equipe vai ter que defender, e é preciso saber o que fazer (individualmente/coletivamente). E, isso equivale para cada situação ao longo do jogo. Talvez, seja neste ponto que está a diferença entre futebol de alto nível para os demais. Saber o que fazer, de forma individual e coletiva, o que é um dos objetivos mais difíceis de se alcançar. Ainda mais quando se tem a bola, algo que todos querem. Saber ter a posse e conseguir criar espaços na estrutura defensiva do adversário, exige muita sincronização e inteligência coletiva. Requer tempo para se aprimorar.

Como todos nós sabemos, existem diversas formas de jogar o jogo, isso tanto para atacar como para defender. Contudo, para cada forma há uma estruturação diferente de ideias. Ou seja, as ideias para o ataque rápido não são as mesmas para a posse e circulação de bola. Como também as ideias da marcação zonal não são as mesmas para a marcação individual. Aliás, mais importante que o modelo de jogo a ser seguido, são as ideias que o constitui. Sendo elas emergentes de um processo previamente elaborado (deliberado) ou nascidas por geração espontânea através da interação dos próprios agentes envolvidos (atletas). Independentemente, os comportamentos individuais e coletivos somente alcançarão a perfeição com a prática (algo que sempre escutei). E o tempo é a única ferramenta de aperfeiçoamento do comportamento. Pouco ou muito tempo? Depende da sapiência de quem gerencia este processo e/ou da qualidade da interação dos atletas. Hábito da posse, hábito que advém da prática. Talvez, seja por isso que Aristóteles alerta que a excelência é um hábito.

Uma das grandes dificuldades da posse e circulação de bola está no gerenciamento do espaço, previamente já ocupado pela marcação do adversário. Ou seja, fazê-lo sair da posição para que a equipe em posse da bola possa progredir. O que requer uma inteligência coletiva a fim de manter/progredir a bola e ao mesmo tempo consiga manipular o adversário sem a bola para criar espaço na sua estrutura defensiva. O que difere do ataque rápido e da transição ofensiva (contra-ataque), que se abdica de preservar o controle da bola, arriscando sua posse em troca de chegar a meta o quanto antes.

Ideias mais complexas levam mais tempo, como também a recíproca se torna verdadeira. E, por tudo que envolve o mercado futebol, e muito também por algo que nos “acostumamos” a sofrer, não há tempo. A escassez de tempo não te dá o mínimo direito da dúvida, de desafiar a capacidade de conseguir algo mais elaborado (complexo) no futebol brasileiro. Almejar, talvez chegar ao ponto que difere as equipes alto nível das demais: saber o que fazer nos diversos e diferentes momentos do jogo de futebol. Nossas ações são frutos também da influência do meio. Nossas escolhas são influenciadas pelo meio em que estamos. Influenciadas, não determinadas.

Como vídeo exemplo, trago uma das virtudes necessárias para a construção da posse no campo do adversário, ter confiança em não se submeter a pressão/pressing do adversário.

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Montagem e desmontagem de grupos

Como treinadores criamos crenças pessoais e individuais que nos fazem ter maior ou menor sensibilidade na avaliação, análise, contratação, evolução, involução ou dispensa dos jogadores. É natural que essas crenças inibem ou estimulam emoções, sonhos e expectativas diariamente nos jogadores que convivemos onde passamos.

No futebol, há questões que são de praxe em todos os contextos, apesar de algumas diferenças processuais. Apesar de muitas coisas acontecerem pelos estímulos serem diferentes de uma realidade para a outra, numa ordem cronológica, desde a chegada do jogador ao clube, seus treinamentos, sua titularidade, seu crescimento formativo, seu entendimento da filosofia de jogo, sua subida para o profissional depois de anos na base, sua dispensa ou venda, nada acontece de muito diferente nesse ciclo natural visível para o jogador. Mas essa estrada para alguns tem muitos buracos e curvas traiçoeiras.

E, nisso tudo, o que não se pode negligenciar, é que apesar de alguns processos serem mais claros que outros no nível de conceituação macro, a individualidade de cada ser humano, de cada treinador, faz perceber de forma diferente o jogador e especialmente o futebol. Isso influencia positiva ou negativamente na montagem de um grupo, na continuidade de um jogador ou na dispensa. Logicamente, as convicções influenciam um panorama de escolhas por mais que algumas interferências possam acontecer.

Definir grupos, montar grupos e dispensar jogadores não é uma tarefa tão fácil como parece. Muitos erros acontecem. A natureza complexa do jogador e do jogo faz isso calhar sem aviso prévio. Por mais que as preferências declaradas pelos perfis de jogadores evidenciem a ordem e a interação pretendida pelos treinadores, o dia a dia dos comportamentos, atitudes, resultados, conquistas e a qualidade evolutiva influenciam na efetividade das escolhas; pois o jogo é um jogo de escolhas e de verdades individuais nos bastidores que também posteriormente serão vistas dando certo ou não no grande jogo. E cada montagem de grupo carrega essas verdades individuais.

Bielsa, com suas crenças, idealista, na sua roda de imprensa no Lille da França, por meio de sua sagacidade filosófica, entrou nesse tema de forma brilhante:

Expressar respeito ao jogador é dizer-lhe claramente se tem possibilidades reais de ser útil dentro de um projeto. Eu nunca faço avaliações do nível dos jogadores. Quando elejo e tomo decisões, as decisões tomo em função se um jogador vai poder ser útil para o desenvolvimento de minhas ideias, as ideias que quero transmitir a equipe. Para um jogador parece ser incomodo inicialmente não ser/fazer parte da equipe, mas é muito pior incluí-lo no grupo sabendo que não vai ter oportunidades. Eu observei toda temporada passada e elegi os jogadores que me pareceram harmonizar com o que eu vou propor, com o desenvolvimento do que eu vou propor. Mas de nenhuma maneira eu me expresso sobre o valor do jogador que não considero. Muito menos quando os jogadores têm uma história no passado pelo clube tão importante. Temos a obrigação, temos que decidir, de eleger. Eleger significa descartar e incorporar.  Descartar um jogador ou não considerar um jogador não é uma expressão sobre seu valor, senão a necessidade que alguém imagina para sua equipe. E, manter um futebolista se alguém não o considera necessário, é muito sofrido para todos. Isso é uma explicação sincera e que tem lógica. Isso não quer dizer que eu tenha elegido bem. Eu quando elejo sei que corro muito risco de acertar e de me equivocar. Não pensem que todas minhas decisões são certas. O que sei é que faço todos os esforços que estão ao meu alcance para tratar de não equivocar-me. Mas sempre tenho dúvida se a decisão foi acertada ou não.” 

Bielsa dignificada a nossa profissão.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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O pensar global do futebol do Brasil

Olá a todos!

Esta coluna vai tratar de diversos temas relacionados à gestão, marketing e comunicação do futebol brasileiro e internacional, e suas implicações tanto no Brasil quanto no mundo. O objetivo é fomentar a discussão destes temas para, à sua medida, contribuir rumo a um futebol melhor. Desde já quero agradecer ao amigo Carlos Pereira e à equipe da Universidade do Futebol por este espaço.

Este primeiro texto lembra a apresentação do Neymar Jr em Paris. Essa transferência do clube catalão para a Cidade-Luz rendeu inúmeros debates de diversas temáticas, mas tratamos da que é a internacionalização de uma marca do esporte, no caso a de um clube de futebol. Com a globalização e desenvolvimento das telecomunicações, isso é cada vez mais evidente. A equipe francesa nos faz lembrar quando Raí foi lá jogar em meados dos anos 90. Os clubes das ligas espanhola e italiana, já fazem isso há mais tempo. A comunicação do futebol inglês pelo mundo todo impressiona. Nessa linha de pensamento, a Liga Norte-Americana (MLS) caminha neste sentido: quem não se lembra do Beckham em Los Angeles? Percebe-se a presença cada vez maior de torcedores de equipes estrangeiras em nosso país, que se encontram aos sábados e domingos pela manhã para assistirem – pela TV ou internet – os jogos dos seus times preferidos. Teriam os clubes brasileiros – caso queiram isso – capacidade de tornarem os seus produtos mais globais?

Foto: C. Gavelle/PSG
Foto: C. Gavelle/PSG

 

A resposta é sim! O trabalho leva tempo e deve se concentrar em como a entidade esportiva (o clube) se comunica, no que diz respeito à disponibilidade de informação para o público estrangeiro que é potencial consumidor do seu produto (os jogos pela TV via satélite ou internet, os “lives” com o ídolo pelas redes sociais com tradução simultânea). Ao mesmo tempo isso dependerá em certa medida das relações comerciais do Brasil com diferentes regiões do planeta, ao passo que quanto maior for a aceitação por produtos brasileiros no exterior, também será com o futebol dos clubes do país. Por analogia, as telenovelas daqui possuem essa abrangência.

Para tudo isso é preciso que o produto esportivo seja atraente tanto para o público local e, em um segundo momento, global: bons jogos, torneios competitivos, detecção e manutenção de grandes talentos em casa e potencializar os rendimentos dos nossos clubes, a fim de que os recursos sejam direcionados aos elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor. Daí a importância na especialização de treinadores e integrantes das comissões técnicas e do profissionalismo dos gestores do esporte. Este trabalho, a prazo, é capaz de competir com outras ligas estrangeiras de futebol e fazer os clubes do Brasil reconhecidos internacionalmente, não apenas serem lembrados de maneira pontual.

Com tudo isso, o processo de internacionalização do futebol de clubes do Brasil é totalmente pertinente. No entanto, é preciso que isso seja feito com muita organização, mais interessante em um primeiro momento ao público local, para depois, de uma maneira articulada com outros setores da atividade econômica, buscar novos mercados pelo mundo. O interesse dos árabes com o Neymar Jr em Paris vai além do projeto esportivo, cujo processo não está distante do futebol de clubes do nosso país.

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Neymar: decisão certa ou errada?

Nesta semana muito foi falado sobre a ida de Neymar para o PSG, deixando a super equipe do Barcelona. E, no momento que vejo a enxurrada de opiniões e debates a respeito do assunto, me pergunto: estamos sendo apenas observadores do fato ou entramos na questão do julgamento sobre as decisões que envolvem esta transferência de clube?

Penso que comentar e expor nossas opiniões, deve ser acompanhado de imparcialidade e bom senso. Para embasar tal questão e a conversa sobre ela, relembro algumas considerações feitas em colunas anteriores sobre as tomadas de decisão, fora das quatro linhas, exploradas por mim.

Um fator importante em toda tomada de decisão é o processo de autoconhecimento. Este muitas vezes é dificultado pelo estímulo ao atleta de olhar mais para fora de si, do que para dentro. Um baixo autoconhecimento, pode mascarar os objetivos reais da carreira e impedir que o atleta realmente alcance o que deseja. Assim, lançar mão de ferramentas que apoiem o atleta num constante processo de autoconhecimento, pode favorecê-lo em momentos de tomada de decisão fora do campo.

Outro ponto importante é compreendermos as consequências potenciais de toda e qualquer decisão e sobre como elas podem levar o atleta a caminhos diferentes e distantes daquele que ele realmente deseja ou aproximá-lo dos objetivos perseguidos. Sobre essas consequências, relembro uma pesquisa de mais de cinquenta anos realizada pelo Dr. Edward Banfield, da Universidade de Harvard, que chegou à conclusão de que a “perspectiva de longo prazo” pode ser mais importante para determinar o seu sucesso na vida e na carreira, do que a origem familiar, a educação, a raça, a inteligência, as suas relações ou praticamente qualquer outro fator isolado. E, em termos bem práticos, quando o atleta necessita, se torna possível promover reflexões que o leve a considerar as consequências de nossas decisões, exemplificado abaixo.

  1. 1. O pensamento em longo prazo melhora a tomada de decisões em curto prazo.

Possuir uma ideia clara sobre o que você deseja para si mesmo em longo prazo, na sua carreira, torna mais fácil tomar decisões sobre suas prioridades em curto prazo. Sendo assim, antes de começar a fazer alguma coisa, você pode sempre se perguntar: “Quais são as consequências, em potencial, de tomar essa decisão”?

  1. 2. As resoluções para o futuro frequentemente determinam as ações do presente.

Quanto mais claras forem as resoluções para o futuro, maior será a influência que a clareza terá sobre o que se vai realizar num determinado momento. Esta visão de longo prazo mais clara trará mais capacidade de avaliar uma atividade ou tomada de decisão no presente e poderá aumentar a certeza de que ela será consistente com o objetivo que se deseja alcançar.

Ou seja, se existem formas de apoiar o atleta em momentos de mudança, como as comentadas acima, e partindo do ponto que acredito que todo atleta de ponta já se utilize delas para decisões que possam mudar radicalmente o rumo de sua carreira, esta mudança de clube promovida pelo atleta Neymar, já deve ter sido exaustivamente debatida e refletida por ele e por todos que estão envolvidos na gestão da sua carreira.

Ainda, mesmo levando em consideração todas as reflexões possíveis e ferramentas que podem ser utilizadas para promovê-las, talvez seja injusto julgarmos se decisão foi correta ou não. Nosso ponto de vista, externo a situação do atleta, ficamos limitados e talvez não tenhamos como considerar os reais valores e crenças que ele possui e que potencialmente embasaram sua tomada de decisão. Sendo assim, do ponto de vista do atleta e das pessoas relacionadas a ele, certamente essa decisão foi a melhor a ser tomada neste momento, com todo o direito que ele possui de fazer suas escolhas de carreira.

Por isso, acredito particularmente que nos caiba ampliar o debate para diversos outros aspectos da transferência, tais como por exemplo a possibilidade de crescimento ou não da sua carreira ou um potencial crescimento ou não do seu desempenho técnico, com suas prováveis consequências desta mudança, do que predominantemente explorarmos sobre os reais motivos ou motivações que o levaram a esta decisão recente.

Até a próxima.

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Discutindo Treino – 2

Olá, caro leitor!

Peço licença para que, antes de iniciar a discussão desta coluna, possa realizar uma breve atualização em minha situação profissional. No último mês recebi o convite para participar de um processo seletivo do Clube Atlético Paranaense, o clube buscava um profissional para ser seu novo Auxiliar Técnico da Categoria Sub-17, ao final do processo o clube entendeu que meu perfil se enquadrava no que procuravam e então fui o escolhido para ocupar o cargo. Fico extremamente honrado, feliz e motivado com a oportunidade e confiança depositada em mim para participar do grandioso (e bem estruturado) projeto de futebol do clube.

Feito isto, vamos retornar ao tema da coluna, retomando as discussões sobre atividades de treino. Certa vez, ouvi a seguinte frase de um vitorioso jogador profissional em atividade (ao qual irei preservar a identidade): “Não tem muito segredo… Treinou direitinho, as coisas acontecem no jogo. Não é mais como antigamente, quando se resolvia na hora do jogo…Hoje em dia, se não treinar direito, depois as coisas não acontecem…”

Quis compartilhar esta frase para reforçar a importância dos processos de treino, e mais ainda a importância de bons processos de treino. Processos estes que, na maioria das vezes, são reconhecidos pelos jogadores (mesmo que de forma intuitiva), e tem papel determinante na qualidade do jogo que a equipe irá apresentar. Sendo assim, mãos à obra!

Trago hoje um jogo conceitual (termo já discutido aqui) com objetivos principais de “Passes de ruptura” e “Linha de 4 defensiva”:

treino

treino1

treino2

  • Conteúdos Primários: Buscar realizar passes para romper a linha de marcação adversária; Estruturar linha de 4 defensiva.
  • Conteúdos Secundários: Quebras de linha; Coberturas; Equilíbrio; Flutuação; Passe; Domínio orientado.
  • Desenvolvimento: equipes de 8 x 8; Dois blocos de 6×2’/1’ com 5’ de pausa entre eles; Cada equipe busca trocar o máximo possível de passes para romper a linha de marcação adversária (passes de ruptura); após 2’, a equipe que tiver trocado mais passes de ruptura vence a rodada; os passes podem ser em qualquer direção ou altura, mas só são contabilizados os passes de ruptura; 1 jogador de cada equipe pode invadir o espaço do adversário, afim de recuperar a bola ou facilitar um passe de ruptura; cada quarteto tem até 10’’ para realizar um passe de ruptura, do contrário, a equipe perde a posse da bola; quando uma equipe recupera a bola, instantaneamente passa a buscar trocar passes de ruptura; A cada 2’ se troca os quartetos de posição.
  • Feedbacks: Para quem ataca, são realizados com o intuito de que os jogadores busquem gerar desequilíbrios na linha defensiva adversária através de passes, movimentações e domínios orientados. Enquanto que aos defensores, se ajustam questões de distâncias entre os companheiros na linha de 4 (equilíbrio), rápida flutuação de acordo com a posição da bola, fechamento de espaços para impedir passes de ruptura, momento certo de quebra de linha com as coberturas dos demais jogadores e ajustes para melhor posição do corpo. Rápida mudança de comportamento (ofe/def) e tomada de decisão para todos.

Agora é com você leitor! O que pensa a respeito desta atividade? Que alterações/adaptações sugere? Que atividades realizaria para trabalhar os mesmos objetivos?

Traga suas ideias e sugestões! Treinos de qualidade, irão favorecer que a equipe apresente um jogo com cada vez mais qualidade nas partidas.

Até a próxima!

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Mais que um clube: uma nação contra Neymar

Com pouco mais de 32 mil km², idioma próprio e cerca de 7,5 milhão de habitantes, a Catalunha é uma comunidade autônoma espanhola cuja capital é Barcelona. É governada pelo separatista Carlos Puigdemont, do Partido Democrático Europeu Catalão (PDeCAT), e a sua assembleia possui uma maioria esmagadora de deputados que apoia o movimento separatista.

A comunidade autônoma é a mais rica da Espanha e conta com um PIB de mais de 200 bilhões de euros.

Sob o slogan “mais que um clube”, o Barcelona, um dos maiores times do mundo, não representa apenas os títulos conquistados, mas a identidade catalã, que vive o sonho separatista e um conflito diplomático antigo com o governo espanhol. Mais que um clube porque o Barcelona representa a cultura e os sentimentos da nação catalã, tanto que em 1921 redigiu seus estatutos em catalão.

Por tudo isso, ao trocar voluntariamente o clube catalão pelo PSG, o sentimento do povo da Catalunha não é de ter havido uma simples opção profissional (e financeira), mas, de ter virado as costas para tudo o que o clube simboliza.

É algo como se amanhã Neymar trocasse a Seleção Brasileira pela Uruguaia. A sensação é de traição, de menoscabo. Por isso um dos maiores jornais de Barcelona, o “Sport” entabulou a manchete “Hasta Nunca” (até nunca mais).

A transferência que promete fazer girar os polos geográficos do futebol colocando Paris no centro, deve fazer de Neymar um “vilão” do povo catalão.

Independente do desenrolar político, o mundo dos negócios do futebol se dividirá em antes e depois da transferência Neymar/PSG.

Parabéns, Marcelo Bechler pelo mega furo, e sorte ao Neymar.

Que venha o hexa, na Rússia, com mais um brasileiro “camisa 10 no PSG”.

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O “problema” da posse

Ter a bola vem se tornando um problema para muitas equipes. Em alguns jogos, prioritariamente do Campeonato Brasileiro, observa-se (frequentemente) equipes com menos posse de bola e com larga vantagem no placar. Como o contrário também é verdade, equipes com larga vantagem na posse de bola e com ineficiência ofensiva, consequentemente, com derrota no resultado. Somando a isto, temos equipes onde a grande maioria dos gols feitos se dá na forma de transição ofensiva (contra-ataque). De fato, existem equipes que não sabem ter a bola ou não sabem o que fazer com ela, contudo, precisamos entender e aceitar, que o problema é mais complexo do que parece.

Muitos podem pensar que se não sabemos (ou não sei) o que fazer com a bola, vamos apenas atacar de forma rápida e/ou em transição (contra-ataque). Uma forma simples de resolver um problema complexo? Pode ser! Mas será a ideal? Talvez, não! Sei que o ideal no futebol brasileiro é algo momentâneo, por isso, o ideal muda a todo momento. Mas penso que existe um problema que o próprio jogo te oferece. Em alguns momentos (vários) tua equipe vai ter a bola. Em alguns momentos (vários) tua equipe vai ter tempo e espaço para construir o jogo ofensivo que tu pretende. E, se torna condição fundamental para equipes e treinadores saberem responder estes problemas quando surgirem, se quiserem chegar e ter alto rendimento (constante). Saber (coletivamente) o que fazer para responder o problema que o jogo oferece e manter a tua qualidade (teu ideal) enquanto equipe/atleta/treinador.

Contudo, o problema não se esgota em ter ou não ter a bola. Passa necessariamente pela intencionalidade quando se tem ou não se tem a bola. E, aqui não adianta dar e inventar soluções para este problema (a famosa receita de “bolo”). Como falei, a complexidade do problema requer um estudo de cada caso, de cada contexto e ambiente.

Ter ou não ter a bola pode ser uma ideia de jogo da equipe/atleta/treinador ou uma cultura de jogo do clube. E, quando falamos de cultura falamos de hábitos. Esta ideia de ter ou não ter a bola precisa estar correlacionada aos hábitos da equipe/hábitos dos atletas. E, o processo de ensino-treino precisa fielmente respeitar estes aspectos. Hábitos (comportamentos) que se adquire na prática, vivenciar as devidas ideias (sistematicamente/frequentemente) de jogo para que se possa obter aquilo que se pretende. E, é exatamente por isso que o modelo de jogo (que vem também das ideias de jogo), mesmo quando não existindo, pode contrariar aquilo que quero modelar.

Enquanto um único querer não prevalecer, em algum momento a equipe vai confundir (ou vai demorar para se encontrar) o caminho que se quer percorrer quando se tem a bola. Assim, o percurso que se pretende seguir não será claro, demorando a se chegar no destino final, se chegar.

Video reflexão

 

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Por que não fabricamos 5 como Redondo e Busquets?

As estruturas e as posições de jogo ao longo dos anos foram passando por várias revoluções que delinearam características diversas para o jogo. Estrutura de jogo pode ser definida “como a opção escolhida para dispor os jogadores no terreno de campo por um viés numérico-espacial”.

A estrutura é o pontapé inicial e, sozinha, analogicamente, seria como dispor 11 árvores dentro de campo. Sem dinâmica, domínio posicional, domínio espacial, progressão espacial e a funcionalidade pretendida, advindos das características individuais e relacionais dos jogadores, a estrutura nasceria morta. E várias são as estruturas montadas que geram diferentes posições. Muitas perderam um pouco sua essência e outras ganharam uma hipervalorização.

Esse panorama arrasta consigo aspectos positivos e ao mesmo tempo exageros, distorções e propriamente invenções que desvirtuam algumas posições.

O grande problema é que o gerenciamento dessas posições distorcem em alguns momentos as características dos jogadores por ideias fixas de jogo. Evidente que cada ideia de jogo vai arrastar repercussões diferentes e cada jogo também, mas gerar chavões únicos e eternos é algo que descura muita coisa.

Atualmente, vejo uma visão muito simplista para a posição 5. Parece que só existe um perfil único de 5. O famoso perfil “tranca ataque”. É impressionante o imaginário comum para essa posição. E, nesse perfil traçado trago algumas perguntas para refletirmos:

Essa posição só serve para marcar?

O jogador deve inibir o adversário para jogar nessa posição?

Para jogar nessa posição o jogador tem que ser Pit Bull?

Para jogar nessa posição o jogador deve ser lutador de MMA?

Essa posição só serve para correr atrás dos adversários?

Não enxergamos essa posição como o primeiro jogador para armar a equipe?

O jogador dessa posição deve entrar a todo momento no meio dos zagueiros?

Jogador técnico não pode jogar nessa posição?

Criamos cenários nas categorias de base para desenvolver que perfil de jogador nessa posição?

Por que os jogos nas categorias de base ficam muito de bolas longas e dificultam quem joga nessa posição?

Jogadores leves e baixos não podem jogar de 5?

Por que algumas equipes colocam um duplo 5 com pouca intenção de jogar?

Não podemos ajudar um jogador menos técnico a dominar o espaço dessa posição?

Jogadores como Redondo e Busquets jogariam no Brasil?

Muitas perguntas para refletirmos. Penso que para jogar nessa posição o jogador precisa muito mais que a famigerada dimensão física. Ele precisa de inteligência, ou seja, opções e decisões variadas para dominar o espaço posicional, estar bem situado, bem posicionado e ordenar a equipe em todos os momentos e instantes do jogo. O perfil dessa posição deve desenvolver futebolistas que o jogo bem jogado deve interessar a todo momento.

Redondo e Busquets clarificam um pouco esse perfil, e deixam claro algumas possibilidades para jogar nessa posição com algumas ideias abaixo:

Redondo

“Para jogar nessa posição o jogador deve jogar com sentido de orientação, de espaço e ouvir os ruídos. Não se pode jogar futebol sem ouvir ou falar. Há que escutar para eleger. Fico com raiva quando um companheiro pede a bola a gritos e logo não está só e está com um rival próximo. Quero me matar. A posição 5 é muito importante para que a equipe jogue bem. Pela posição que ocupa em campo, sempre está vendo as costas de seus companheiros e é o jogador que tem maior panorama para ordenar o jogo”. 

Busquets

“Trato de estar bem colocado. Basicamente, meu jogo depende de manter a posição, devo dar equilíbrio à defesa e ao centro do campo. Minha posição fica no meio de todo sistema. Meu jogo é uma questão de ordem. Se a equipe está ordenada, eu jogo mais rápido. Trato de saber o que fazer com a bola antes que ela chegue. Por isso, necessito saber onde estão meus companheiros, é uma questão posicional, de automatismos. Se não perdermos as posições, é mais fácil que a bola corra”.

Não existe um perfil único posicional, até por que todos os jogadores são singulares, mas criar dogmas e automaticamente arrastar um panorama funcional em cima, pode gerar uma cultura única para uma posição. E a posição 5 precisa fugir dessa cultura unanime. Para mim, é estar ordenado para dominar a situação sendo o vértice para progredir, retirar da pressão, variar o centro do jogo e trocar o ritmo do que simplesmente uma posição que o jogador lute para brigar alucinadamente com o rival.

Abraços e até a próxima quarta!