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O sensacionalismo do futebol e a construção do imaginário coletivo do treinador

Fico cada vez mais impressionado com a capacidade que temos de construir e destruir episódios em questão de dias, de horas ou minutos. Pré-julgamos fatos e chegamos a um consenso coletivo com pouco suporte reflexivo para verdadeiramente entender as particularidades dos acontecimentos.

O futebol em geral tem experimentado fatos circulares, efeitos cíclicos, observações unilaterais que apenas olham para o abstrato, para o denominador final sem propriedade aguçada. A falta de fidedignidade contextual e conhecimento específico é desmedida.

Algumas pessoas emitem opiniões tendenciosas, momentâneas e desarticuladas, onde a irracionalidade toma conta, o calor do momento fala mais alto, contagiando pessoas, grupos e até mesmo o imaginário de outros que não entendem absolutamente nada do assunto.

O chacotear das informações, a falta de conteúdo, as informações copiadas e coladas, e às vezes ocultas, configuram-se como prato de entrada e saída. Mais do que isso, olha-se apenas para a polêmica, para debates vazios ou para o resultado final, e muito pouco para todas as situações vividas e configuradas diariamente dentro de um verdadeiro processo futebolístico. É uma análise descabida de contexto e entendimento. Uma tônica influenciadora.

Evidente que quem trabalha no futebol e não quer ser interrogado ou comentado que fique em casa vendo a sessão da tarde ou programas de fuxico. É uma das profissões com maior exposição. Como treinadores, devemos ser contestados, cobrados, e claro que a cobrança maior é sempre pelo momento, no agora, pelo jogo de hoje, pelo treino de hoje, pelo resultado, mas a forma como se levantam questionamentos e se esquece de alguns fatores é algo tradicional e trivial. Uma cegueira unânime influenciadora.

Outro aspecto também evidenciado se traduz no desrespeito basilar ao histórico humano-profissional. Essa interação entre o humano-profissional, que é uma coisa só, e interage constantemente com o passado, presente e futuro, deve ser mais respeitada e levada mais em consideração.

Poucos respeitam e levam em consideração que construir uma imagem, uma carreira normal, leva tempo, e a forma como essa imagem vai sendo polida não é por geração espontânea, mas sim por caráter, ética, trabalho e convicção. Também toda energia colocada em cima e especialmente no que criamos em cada contexto, carrega consigo um emaranhado de sentimentos, emoções e ensinamentos que vão sendo testados e sentidos em cada treinamento, cada jogo e no decorrer da carreira. A dimensão humana do legado do treinador nunca deve ser desrespeitada. E é essa filosofia particular criada para conseguir a vitória, ou influenciar uma cultura que deve ser debatida.

E o problema é que a série de questionamentos está longe desse panorama que é o jogo, o jogar, o jogador e o treinamento. Está na superficialidade de mensagens dispensáveis, subliminares ou com duplo sentido, que tentam negociar e rumar para um lado ambicioso, robusto e pessoal, que fazem desativar a essência, buscando uma série de conflitos e embates que promovem quem os aceita e quem caminha com a corrente e não desafia a ambiguidade informacional presente no futebol. E há muitas pessoas dentro do futebol que compactuam com isso.

E é aí que entra o grande lance da questão: matam-se diariamente pessoas convictas e se constrói outras por interesse e amizade interna e externamente. A subordinação no futebol tem feito profissionais fantoches. Claro, alguns querem ser fantoches ou se promoverem para aproveitar a corrente, agora outros, a minoria, que ainda sente paixão pelo que faz, tem caráter e pensa no jogo, sobrevivem num mundo paralelo sendo considerados fantasmas da realidade contemporânea, por incrível que pareça. Não sei quando a comunidade do futebol (isso envolve quem está dentro do jogo, ao redor dele e fora dele) buscará um equilíbrio deixando de lado os sensacionalismos habituais.

Enfim, no futebol muitos chegam, sobrevivem dele, em todas as áreas, mas poucos estão nele de verdade. Se a inércia está confundida com a iniciativa, o embuste com o fato, não sei mais o que falta para perceber a natureza desse esporte, sua realidade, veridicidade e a ética necessária para estar nele. Só sei que se deve ter mais respeito primeiramente com o jogo de futebol, com treinadores sérios, profissionais sérios de todas as áreas que sobrevivem nesse meio selvagem com sua filosofia e que acreditam que o jogo e o jogador são maiores que tudo. Não existem herois mas esperamos cada vez mais que as novas gerações de treinadores não sejam influenciadas pelo sistema, pela homogeneização do produto selvagem, da linguagem corriqueira e habitual e fiquem longe da plantação dos novos herois ou vilões. Que a autonomia do jogo e do ser-humano prevaleça.

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A Libertadores é uma mentira

Joseph Goebbels disse que “uma mentira contada milhares de vezes torna-se verdade”, e Jacques Lacan tem uma série de referências à capacidade de fixação de qualquer informação repetida insistentemente, independentemente da veracidade. O futebol tem uma lista de mentiras tão recorrentes que serve como cenário perfeito para ilustrar os dois casos: basta pensar no que aprendemos a entender como “clima de Libertadores”.

A Copa Libertadores é o principal campeonato de clubes do continente sul-americano, mas nem sempre recebe tratamento condizente com esse status. Trata-se de uma disputa subvalorizada, assaltada por décadas de dirigentes corruptos, omissos, incompetentes ou membros de todos esses grupos.

Só isso justifica as histórias de guerra e absurdos que constroem a história da Libertadores. Times acuados em estádios rivais, ameaças a jogadores e árbitros, objetos ameaçados na direção do campo e toda sorte de assédio que ultrapassa qualquer limite. A cena que costuma descrever melhor a competição é um atleta, antes de cobrar um escanteio, protegido por escudos policiais para não ser atingido por artefatos oriundos da arquibancada.

E não, esses elementos não fazem parte do jogo. É uma falácia o “clima de Libertadores”, admitido durante décadas. Atletas são profissionais, e o mínimo que se pode esperar de um profissional é que ele tenha um ambiente adequado para desenvolver seu trabalho. Exigir rendimento de alguém sujeito à lista de coisas impostas por essa competição beira a sandice.

Uma sandice, aliás, que engloba todos os aspectos do jogo da Libertadores. É inadmissível um campeonato com tanto assédio moral, com tantas ameaças físicas e psicológicas, com fatores que se sobrepõem ao desempenho técnico. Até aspectos como altitude deveriam ser discutidos em nome de uma competição mais equânime e condizente com critérios técnicos.

A valorização da técnica é uma das bases das ligas esportivas dos Estados Unidos. É por isso que todos os principais campeonatos do país trabalham com limites de gastos, tetos salariais e divisão planejada de recursos.

O futebol pode até ser um território inóspito para conceitos como teto salarial, mas não pode ser tão alheio ao conceito incutido nisso. Competições como a Liga dos Campeões da Uefa e a Premier League já têm fóruns para discussão sobre distribuição de receita. Nos dois casos, a ideia é ter uma distância menor entre os rivais. Fomentar a rivalidade também é uma forma de colocar sob holofotes o nível técnico do evento.

Todo esse contexto é fundamental para discutir o que aconteceu na última quarta-feira (26), data de Peñarol x Palmeiras. Houve confusões entre atletas e torcedores em Montevidéu, e todos os episódios tiveram em comum a total falta de uma política de controle.

É fundamental que exista uma discussão ampla sobre Peñarol x Palmeiras. Felipe Melo foi vítima de ofensas racistas? Quem agrediu quem? Quais atitudes colocaram em risco a integridade física de outras pessoas? E o mais importante: por que não houve um controle adequado de riscos?

Há ainda o caso dos portões. Se o Peñarol os fechou para impedir que seguranças do Palmeiras acessassem o gramado, é um crime. Se não for punido, a responsabilidade por isso passa às mãos da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol).

Qual tribunal terá condição de fazer uma análise isenta e minuciosa do que aconteceu em Montevidéu, com as devidas punições a todos os envolvidos? Quem cobrará para que isso aconteça? A resposta, baseada em anos de experiência, é que a Conmebol não vai fazer esse papel. Vai preferir a omissão, como fez em casos como o de Kevin Spada.

A Justiça uruguaia ao menos puniu três jogadores do Peñarol pelo que aconteceu no jogo de quarta-feira. Matías Mier, Nahitan Nández e Lucas Hernández terão restrições para participar de partidas e eventos esportivos, bem como limitações para viajar. É o mínimo que se espera, mas não pode ser limitado aos três.

A questão é que a Conmebol é uma entidade historicamente omissa e permissiva, e os clubes que disputam a Libertadores seguem valorizando um campeonato balizado por esses conceitos. O principal evento esportivo de clubes na América do Sul não prioriza o que acontece em campo, infelizmente.

A Libertadores não elege o melhor time da América do Sul. Isso é uma mentira. Determina apenas o mais capacitado para lidar com todos esses fatores extracampo. E nem sempre isso é questão de mérito.

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O Principado em busca de sua Coroa

A grande surpresa da fase semifinal da Champions League que será disputada a partir de hoje é, sem dúvida alguma, a equipe do Mônaco, até então pouquíssimo cotada para chegar tão longe e que vem sendo a grande sensação do torneio.

A história do clube é bastante peculiar, começando pelo fato de receber o mesmo nome de seu minúsculo país, localizado entre a França e Itália. Mônaco é o segundo menor país do mundo, separado apenas pelo Vaticano. A sua população é de 35 mil habitantes, incapaz de encher qualquer grande estádio do futebol mundial.

Por motivos óbvios, não há um campeonato nacional em Mônaco, sendo que o clube é afiliado à Federação Francesa de Futebol e, portanto, participa das competições em território vizinho. No cenário francês, merece destaque, sendo um dos clubes de maior expressão, onde conquistou 7 títulos nacionais da Ligue 1 e 5 Copas da França.

O grande feito internacional do clube em sua história foi chegar à final da Champions League na temporada 2003-04, ficando com o vice-campeonato, após eliminar os galácticos do Real Madrid nas quartas de final e o ascendente Chelsea na semifinal. O título ficou com o FC Porto de José Mourinho. Esse momento histórico foi sucedido por anos difíceis e uma grave crise institucional, com o clube sendo rebaixado para a 2ª divisão do Campeonato Francês, em 2011.

Essa queda possibilitou uma grande revolução na forma de gerir o clube, com o Principado abrindo mão do controle acionário para a entrada de investidores estrangeiros. A partir desse momento, o Mônaco passa a ser gerido por um bilionário russo, que injetou muito dinheiro na reformulação do elenco, retornando à elite do futebol francês em 2013. A expectativa era que, com o poder de investimento que tinha em mãos, o clube logo chegaria ao topo do futebol europeu, ainda mais após grandes contratações realizadas com valores superiores a 100 milhões de euros.

Porém, essa estratégia durou apenas um ano. Na temporada seguinte, as grandes estrelas foram negociadas e a equipe passou a apostar em jovens promessas. Essa mudança repentina ocorreu pela nova legislação fiscal que obrigava o clube a pagar até 75% de impostos sobre os grandes salários e também pelo altíssimo custo do divórcio envolvendo o seu proprietário russo com a sua então esposa, avaliado em cerca de 5 bilhões de dólares.

O plano adotado a partir desse momento e em vigor durante a atual temporada tem superado qualquer expectativa e garantido um enorme sucesso. Além de estar na semifinal da Champions League, também ocupa a liderança do Campeonato Francês.

Em termos comparativos, o time que representa o país com a imagem de local mais luxuoso da Europa, é o mais “pobre” entre os quatro semifinalistas da Champions e também entre os demais pertencentes à elite do futebol europeu. Enquanto o todo-poderoso Real Madrid possui uma receita de 620 milhões de euros, o seu rival Atlético de Madrid outros 229 milhões de euros e a forte Juventus o total de 341 milhões de euros, o Mônaco trabalhou nessa temporada com uma receita de 64 milhões de euros, dez vezes menor do que o Real Madrid e abaixo até mesmo dos maiores clubes brasileiros.

A receita específica de patrocínio não ultrapassou os 15 milhões de euro, enquanto os direitos de transmissão garantem a maior fatia do bolo, com 45 milhões de euros.  O valor restante de 4 milhões de euros é proveniente da venda de ingressos, sendo esse um fator de desequilíbrio, uma vez que o Mônaco representa o clube com a pior média de público do Campeonato Francês entre todos os participantes, com média de 8.700 torcedores por jogo, muito por conta da localização do estádio e de grande parte dos seus torcedores residirem em outras localidades distantes do Principado.

O potencial de fazer dinheiro com a venda de grandes revelações desse time é garantia de sucesso no final da temporada. As especulações envolvendo os maiores e mais ricos times ingleses e espanhóis por nomes como Mbappé, Bernardo Silva, Mendy, Bakayoko e Lemar certamente reforçarão o caixa monegasco.

O título de gestão mais eficiente da temporada já tem dono. Porém, o grande sonho é conquistar o reinado europeu da Champions League e marcar o nome do Mônaco na história do futebol mundial.

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Promovendo a evolução no futebol

Eu tenho visto uma certa relação de bons resultados de algumas equipes, entre o tempo de comando na beira do campo e a melhor performance de resultados na prática. Então me pergunto: essa relação é efetivamente válida ou algo mais está relacionado a melhoria constante dos resultados das equipes dentro de campo?

Sobre este tema, eu particularmente acredito que uma estratégia que pode estar dando respaldo aos bons resultados das equipes que mantém seus comandantes por mais tempo, a capacidade de promover o “aprendizado contínuo” por parte dos atletas de futebol.

A busca pela excelência no futebol pode ser compreendida como um processo de autodescoberta e de ampliação dos limites em todos os sentidos, no qual cada atleta atua em novas descobertas que podem levá-lo à sua melhor concentração e ao seu melhor desempenho possível.

Relembrando citações de outras reflexões anteriores, vale muito a pena compreendermos que para se conquistar o aprendizado contínuo, se faz necessária uma concentração específica. E as habilidades do atleta em aprender continuamente crescerão quando seu foco estiver centrado em:

  • Encontrar prazer naquilo que se faz bem e nos pequenos passos adiante;
  • Extrair lições relevantes de cada experiência ou desempenho;
  • Refletir acerca daquilo que se pode melhorar e de como fazer esses ajustes;
  • Agir sempre de acordo com suas lições aprendidas.

A conquista da excelência particular de cada atleta é resultado da vivência das lições que o atleta obtém de suas próprias experiências.

É uma grande verdade o fato de que os atletas de elevada performance alcancem altos níveis de excelência e cada vez melhores resultados, pelo fato de serem comprometidos com o aprendizado contínuo. Todos se preparam muito bem, se concentram bem, lidam bem com as distrações, procuram fazer constantemente avaliações rigorosas pós-atuação e procuram agir conforme as lições que aprenderam com as suas experiências. Igualmente, eles conseguem perceber suas próprias boas qualidades, ter uma percepção cada vez mais apurada de si e com isso reconhecem os pontos positivos no seu desempenho. Com isso, passam a desejar cada vez mais melhoras consideráveis no seu desempenho.

Para finalizar a coluna desta semana, complemento com algumas boas reflexões sobre o aprendizado contínuo para os atletas:

  • O atleta está comprometido em aprender continuamente e em usar este aprendizado para se tornar cada vez melhor?
  • O atleta extrai lições relevantes de cada atuação e de cada experiência?
  • O atleta atua conforme essas lições todos os dias ou em todas as oportunidades, antes de sua próxima atuação?

Até a próxima!

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Que desafios você propõe?

Próximo ao final do ano de 1994 joguei minha primeira Copa do Mundo, em uma final épica, o “Brasil do Danilo” foi derrotado pelo “Brasil do Douglas” (meu irmão um ano mais novo) e sagrou-se campeão mundial de “Gol a Gol” na disputadíssima partida realizada no quintal da casa dos meu pais! Nem mesmo os avisos (entenda-se berros) de minha mãe para que a partida fosse encerrada, visto o risco iminente de um acidente (quebra de uma janela ou do registro de água, que seria seguido de punição severa!), foram suficientes para cancelar a partida, nenhum dos dois oponentes abandonaria o jogo tão importante como aquele, aliás, eu e acredito que também meu irmão, mal ouvíamos o que nossa mãe dizia, apenas buscávamos realizar a melhor defesa possível, sem deixar que a bola cruzasse a linha de meio campo, para depois desferir o chute perfeito que conseguisse vencer o goleiro adversário. Somente ao final do jogo é que fomos nos dar conta dos arranhões e de nossa mãe que avidamente nos aguardava, para nos “saudar” após tão grande partida. Fatos que passaram desapercebidos durante o jogo…

Caros leitores, acredito que grande parte de vocês já tenha vivido “finais” como essa! Seja no quintal de casa contra o irmão ou o cachorro, seja nos torneios interclasses das escolas, ou num dos maiores clássicos do futebol mundial: rua de cima contra rua de baixo. Situações em que o seu nível de envolvimento com o jogo, ou a atividade que estivesse realizando, foi tão grande que você perdeu um pouco a noção do tempo e do que lhe rodeava, daquilo que não fazia parte diretamente do jogo, você se envolveu profundamente com aquilo que estava realizando. Fazendo agora este exercício de relembrar estes momentos, um sentimento de satisfação deva estar surgindo em você, um sentimento de que naquele momento, você teve um desempenho ótimo! E, este momento, esta situação que você viveu tem nome, é o estado da psique que a psicologia chama de flow. 

https://youtu.be/Z6JokQXRVlg

O vídeo é um trecho retirado do filme For love of the game, e ilustra exatamente o que muitos já devem ter vivenciado, quando se está imergido totalmente no jogo, nada lhe tira a concentração, nenhum barulho externo o incomoda, você está vivendo plenamente o jogo.

Um dos pioneiros e maiores estudiosos do flow, ou “teoria do fluxo” em português, é o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi. Ele nos diz que o fluxo é um estado mental de profundo envolvimento com determinada tarefa que se está realizando, quando a concentração é tão intensa que nenhuma atenção é desviada para pensamentos irrelevantes ou as preocupações com problemas que não sejam os da tarefa. O indivíduo canaliza toda a sua capacidade cognitiva e emocional na tarefa, a autoconsciência desaparece e a noção do tempo fica distorcida. A atividade que induz a tais experiências é gratificante para aqueles que desejam praticá-la por vontade própria, ainda que a atividade seja difícil ou perigosa (isto também explica o porquê de muitas pessoas praticarem esportes em que existe um real risco de vida).

Basicamente, é este o estado que muitos de nossos atletas vivenciam quando estão jogando, por isso, tem-se a percepção de que muitos “se transformam” em outra pessoa durante o jogo. Existem inúmeros estudos mostrando que atletas, ao atingirem tal estado, elevam seus níveis de desempenho ao máximo e que, portanto, buscam utilizar o fluxo como ferramenta de treino, já que é atitude extremamente eficaz para se obter ótimos níveis de desempenho.

Ministrar uma sessão de treino onde os atletas atinjam este nível de envolvimento, deveria ser uma meta diária de toda comissão técnica. Autores brasileiros como Scaglia e Freire, há algum tempo, defendem que este estado de fluxo, chamado por eles de estado de jogo, está diretamente ligado à melhora na performance dos atletas. Scaglia nos diz que “a medida em que o jogador está em estado de jogo (se entregou ao jogo) ele irá mobilizar os recursos (competências e habilidades) disponíveis para jogar cada vez melhor (obter êxito)”.

Visto que tal estado psíquico possa gerar tamanhos benefícios aos nossos atletas, basicamente algumas características são necessárias às atividades para que estes possam atingir o estado de jogo, são elas:

  • Equilíbrio entre habilidade e desafio. Dificilmente será benéfico trazer atividades com um grau de dificuldade/desafio demasiado elevado ou baixo do nível de sua equipe e jogadores. Atividades abaixo do nível de desempenho da equipe irão gerar monotonia, desinteresse e falta de concentração, enquanto atividades acima do nível irão gerar frustração/preocupação visto que quase nunca se alcança os objetivos. É necessário saber em que nível de entendimento e aplicação eles estão.
  • Metas e regras claras. Os atletas devem conhecer quais são os objetivos, o que se espera deles com esta atividade, e quais são os caminhos (regras da atividade) que os induzem ao cumprimento dos objetivos.
  • Feedback claro e imediato. É necessário que os atletas recebam abordagens que lhes indique o quanto estão ou não se aproximando dos objetivos propostos.

Por exemplo, no jogo, os atletas são desafiados a vencer a equipe adversária, é do conhecimento deles as regras que balizam este jogo, o placar final do jogo lhe dá uma rápida e direta resposta de que se conseguiram ou não vencer este desafio.

Estas situações podem ser induzidas dentro da sessão de treino. E em meio a este contexto, estarão os objetivos da comissão para a equipe e cada jogador, sobretudo quando falamos de categorias de base, a comissão deve também entender que o placar do jogo não pode ser o único fator balizador da análise de desempenho da equipe e dos jogadores.

O nível de engajamento alcançado pelo estado de fluxo, ou estado de jogo, induz os jogadores a atingirem seus limites de performance, que é um dos principais objetivos de todo treinador esportivo e também dos jogadores. Sabe-se que tais limites de performance dificilmente são alcançados quando não se está totalmente concentrado na atividade que se realiza. Sendo assim, buscar conhecer como seus atletas atingem o estado de jogo, e fazer com que eles treinem neste estado, é fator importante e que pode potencializar o nível de ganho de performance destes atletas e de sua equipe.

Aguardo seus comentários, até a próxima.

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Violência: “Isso não é Libertadores”

A Copa Libertadores da América é conhecida mundialmente pela catimba, virilidade dos jogos e até pelos gramados ruins e campos acanhados. Diante disso, sempre que há um fato inusitado, ouve-se com frequência: “Isso é Libertadores”.

Essas características são encontradas em várias partidas não só da Libertadores, mas de competições sul-americanas.

Em 1997, na final da Copa Conmebol, o técnico Leão do Atlético teve uma grave fratura no rosto ao ser agredido após a partida contra o Lanus, na Argentina.

Em 2011, após a final da Libertadores, um tumulto generalizado tomou conta do Pacaembu na partida entre Santos e Peñarol.

Na final da Copa Sul-Americana, de 2012, a partida entre São Paulo e Tigres não chegou ao fim em razão da violência.

Enfim, muitos são os casos e poucos são os avanços.

A Copa Libertadores teve sua fórmula alterada neste ano a fim de tornar-se comercialmente mais atrativa e diminuir o imenso penhasco que a separa da Champions League.

Mas, de nada adianta alterar fórmula e incluir participantes se não houver fortes critérios para a utilização de estádios e punições severas para os atos de violência.

Em 2013 perdeu-se a chance de se aplicar uma punição exemplar ao Corinthians, após a morte de um torcedor na Bolívia, durante a estreia do clube paulista na Libertadores, em Oruro contra o San José.

Na Libertadores de 2015 a Conmebol deu dicas de que não toleraria atos de violência quando eliminou o Boca Juniors nas oitavas de final da competição quando jogadores do River Plate foram atingidos por um composto de pimenta quando retornavam para o segundo tempo do confronto em La Bombonera.

Novamente, o Tribunal Disciplinar da Conmebol está diante de um incidente que merece atenção especial.

Após a partida entre Palmeiras e Peñarol, no Uruguai, uma confusão generalizada tomou conta do gramado quando jogadores do clube uruguaio, derrotado na partida, foram para cima dos atletas do time paulista.

O Regulamento Disciplinar da Conmebol estabelece em seu artigo 5.2. “l” que atos de violência ou agressões são comportamentos imputáveis e são sancionáveis.

O artigo 22, por seu turno, traz o rol de punições cabíveis que podem variar de uma simples advertência até a eliminação.

Segundo o art. 11, as equipes que se comportem de forma imprópria devem sofrer as sanções do artigo 22.

Diante disso, o Peñarol pode ser, inclusive, eliminado da Libertadores.

Tal medida seria exemplar e teria um imenso caráter pedagógico, pois, esse precedente desestimularia atos impróprios de outros clubes.

É muito importante que a Conmebol, por meio de seu Tribunal, entenda que “aproximar-se” comercialmente da Champions exige coragem e tolerância zero com estádios ruins, catimba e atos de violência.

O primeiro passo foi dado na punição ao Boca em 2015, mas se tratava do segundo tempo do segundo jogo da fase eliminatória em que o clube eliminado precisava reverter um placar adverso. Coragem e exemplo mesmo será eliminar uma equipe favorita à classificação ainda na primeira fase da competição.

E que fique o recado. Violência: “Isso não é Libertadores”.

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Os jogos são instantes nos momentos e não apenas momentos do jogo

O processo natural do ser humano é o amadurecimento. Como treinadores não fugimos desta tese. Amadurecendo percebemos novas situações, novos processos e especialmente novos detalhes que são importantíssimos para o real entendimento do jogo de futebol. Especialmente, aprendemos que como simples mediadores não conseguimos controlar tudo que acontece no jogo. Por mais que cunhamos teorias, cabalas, treinamentos e analisamos todos os “pormenores e pormaiores”, o jogo sempre prega uma peça, traz algo peculiar e deixa claro suas garras.

Primeiro o jogo tem seu caráter singular, natural e caótico. Segundo quem joga são os jogadores e cada jogador possui suas particularidades. Terceiro a evidência que do outro lado tem um adversário que também joga e têm jogadores com suas características únicas. No fim, e sem hipocrisia, como treinadores não conseguimos controlar todas as variáveis do jogo.

messi
Messi demonstra cada vez mais que o futebol é dos jogadores| Foto: Reprodução Twitter

 
Mas nossa classe é obcecada pelo controle. Falamos em controlar, controlar e controlar. Adestrar os jogadores como cachorros. Uma obsessão que danifica coisas óbvias e simples. E, nos últimos anos, essa tese fortaleceu quando a expressão momentos de jogo recebeu uma forte conotação de controle.

Claro que as modificações das nomenclaturas geradas pela abertura científica, tecnológica e o descobrimento de novas formas organizacionais de jogo contribuíram e contribuem muito para a evolução da profissão, mas fazer da expressão momentos do jogo uma pedra filosofal que controla tudo e todos, pode negligenciar muitas coisas extraordinárias.

Os momentos Organização Ofensiva, Organização Defensiva, Transição Ofensiva, Transição Defensiva e Bola Parada começaram a ficar célebres, comentados, dissecados e não saíram mais da cabeceira das camas dos treinadores. Sem sombra de dúvidas são importantes, obviamente estão no jogo, mas a configuração usada para sua identificação beirou bastante a objetividade e o analítico.

Evidente que entender o jogo por momentos foi um avanço para o processo organizacional e metodológico. Muitas possibilidades evolutivas foram conseguidas e estruturadas. Mas o jogo passou a ser muito fracionado ficando refém dos momentos.

Sim, didaticamente podemos separá-los, pois há preferências de ideias de jogo de cada treinador, em focar determinados conteúdos dentro de um momento, mas quando se propõem apenas algo, apenas um, há uma correspondência linear, e crer apenas nisso, pode em longo prazo virar um grande problema, especialmente na formação de jogadores.

Ao longo dos últimos anos, criaram-se muitos roteiros e manuais parecidos com estátuas e monumentos históricos em cima disso. Muitos treinadores (eu me incluo nisso), passaram, passam ou vão passar por esse aspecto.

Então como desenvolver e criar um processo complexo-interativo sem perder a essência do jogo, do jogador, com uma ordem-desordem-natural-infindável?  Um grande desafio. A superficialidade teórica e até mesmo mecânica da escolha de um ou dois momentos, pode prejudicar a profundidade real do jogo se não manifestar interações qualitativas? Uma boa pergunta.

Creio que se optarmos por fracionar e mecanizar o momento perde-se um episódio primordial: o instante no momento. O instante do jogo sempre vai estar presente no momento, mesmo que se queira abolir. E cada instante está “no aqui e agora do jogo” por algo que dificilmente saberemos com antecedência, por mais que cada momento esteja previamente e especificamente desenhado pelas ideias do treinador.

Nesse contexto, “ironicamente”, entendemos que não podemos entender tudo. O desconhecido do instante do jogo não deve ser negligenciado pelas escolhas organizacionais optadas pela mecanização dos momentos do jogo, pois por mais que queira e parafraseando a frase o “mesmo lugar nunca é o mesmo”, a mesma organização de jogo escolhida nunca será a mesma no jogo”.

A relação natural dos momentos do jogo e seus instantes gera mais dúvidas e incertezas para os treinadores, mas são essas dúvidas que fazem a equipe avançar e se modelar abertamente. Sem isso, a expansão do processo fica estagnada e tem um prazo de validade precoce.

E o instante do jogo não é um assunto, é uma prática. E é nisso que pecamos, pois o jogo não existe na teoria, num momento só, por mais que se queira que exista, que se camufle, mas ele não existe, e muito menos num ritmo só, pois tem fissuras e é mais descontinuo que contínuo.

iniesta
Iniesta sabia que esse instante aconteceria nos jogos? O que ele fez?

 

É difícil ter objetivos tão concretos com uma natureza álgebra em algo que tem uma natureza que cada jogo e cada semana de treino provocam avanços e recuos consideráveis. Daí que devemos entender que o jogo, e o jogo que se quer praticar, deve abarcar uma relação sem fim de probabilidades dos instantes relacionados aos momentos do jogo.

E essa relação do entendimento dos instantes do jogo faz aceitar com mais subjetividade a liberdade e a criatividade do jogador no jogar, no jogo, claro, com os objetivos intrínsecos entre todos representes da equipe. Cada instante é incerto, mas a interação deles pode criar uma grande obra coletiva. Sejamos mais instantes e menos momentos?

Abraços e até a próxima quarta!

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"El Clásico" de sucesso

O último domingo foi marcado por grandes clássicos, como Corinthians x São Paulo pela semifinal do Paulistão, Flamengo x Botafogo pela semifinal do Carioca e, principalmente, Real Madrid x Barcelona pelo Campeonato Espanhol.

Esse último ultrapassa cada dia mais as fronteiras espanholas e se consolida como uma grande atração global. Em comparação com o que vemos hoje no Brasil, há um grande abismo entre a qualidade do produto oferecido aos fãs.

Além da constelação de craques remunerados a peso de ouro, incluindo os dois maiores jogadores do futebol mundial desse início de século, a atmosfera construída com extrema organização faz com que o espetáculo futebol alcance um outro patamar. Estádio completamente lotado, transmissão ao vivo para mais de 150 países com audiência estimada em 650 milhões de telespectadores, patrocinadores satisfeitos e uma partida fantástica e emocionante são parâmetros que comprovam o quanto o resultado dentro e fora de campo está totalmente relacionado ao seu planejamento.

elclassico
Lionel Messi e Cristiano Ronaldo antes do clássico entre Barcelona e Real Madrid, pelo Campeonato Espanhol| Crédito: Alex Gallardo

Enquanto o jogo entre Real e Barcelona teve mais de 80 mil torcedores presentes no Estádio Santiago Bernabéu, o clássico carioca entre Flamengo e Botafogo obteve apenas um quarto disso, ou seja, 20 mil torcedores. Enquanto as camisas de Real Madrid e Barcelona expunham de forma limpa os seus principais patrocinadores, coincidentemente duas das maiores companhias aéreas do mundo como Emirates e Qatar Airways, o clássico paulista entre Corinthians e São Paulo mostrava uma falta de padronização. Por um lado, o Corinthians, clube com a maior torcida e potencial de consumo no Estado, jogou sem patrocinador máster após o término de contrato com a Caixa. Pelo lado tricolor, o uniforme expunha o exagero de 5 marcas patrocinadoras, sem contar a marca de material esportivo.

Não considero que lá fora tudo é feito com maestria e que aqui está tudo errado. Vemos polêmicas importantes também por lá. Tanto Real Madrid como Barcelona, apesar de ostentarem orçamentos bilionários, possuem também enormes dívidas. A arbitragem é amplamente discutida, ao ponto de jogadores dos dois clubes tornarem a discussão pública via redes sociais. O abismo dos dois clubes para os demais clubes espanhóis é exorbitante, tornando o campeonato uma disputa polarizada entre Real Madrid e Barcelona, com a participação ocasional de um ou outro entrante.

Ao mesmo tempo, é inegável que temos melhorias por aqui. Os estádios e campos de jogo são melhores do que eram há 10 anos atrás. A organização dos campeonatos, mesmo que em passos lentos, tem avançado. Parte dos clubes já adotam uma gestão profissionalizada e capacitada.

Os exemplos citados dos clássicos entre Flamengo e Botafogo e Corinthians e São Paulo não faz referência a uma crítica direta aos modelos específicos desses clubes, mas sim de uma constatação geral que o produto em si precisa ser melhor valorizado e construído entre todas as partes interessadas, trazendo clubes, federações, mídia e patrocinadores para a mesa.

O pequeno público entre Flamengo e Botafogo não é culpa isolada dos dois clubes. É um problema de segurança pública, de falta de renda dos torcedores para comprar ingresso, de um calendário extremamente desorganizado e confuso.

O excesso ou falta de patrocinadores citados de Corinthians e São Paulo, não é apenas um problema criado por essas instituições, mas sim da pressão e do modelo existente em todo o cenário nacional. Há profissionais capacitados nesses dois e em outros clubes, mas que não conseguem desenvolver algo com resultado mais imediato pelo fato do sistema predominante ser ainda amador e muito político.

O avanço de cada clube depende, portanto, da união entre todas as partes para que o produto se desenvolva. Não adianta um clube adotar uma política isolada de modernização e profissionalização. O máximo que vai acontecer é fazer com que esse clube obtenha destaque e melhores resultados dentro do cenário atual, mas com um produto defasado. Para alcançar novos patamares, é dever desses clubes puxar a corda para que os outros também cresçam e tornem o espetáculo mais atrativo para seus fãs, potencializando todas as oportunidades existentes.

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O esporte e o limite da humanidade

Um ex-zagueiro brasileiro que defendeu a Roma conta um episódio emblemático acerca de rivalidade e o que extrapola as quatro linhas. Segundo ele, num clássico contra a Lazio, houve um entrevero com o então volante argentino Diego Simeone, hoje técnico do Atlético de Madri. Depois de uma discussão ríspida, o defensor acertou uma cusparada no rosto do rival. O que complicou a história: no dia seguinte, com ambos de folga, as famílias dos dois atletas se encontraram na fila de um cinema da capital italiana. O brasileiro, constrangido, teve a iniciativa de interpelar o hermano e pedir desculpas. Ouviu, em tom contemporizador, que Simeone havia pensado em fazer o mesmo e só foi menos rápido. O brasileiro em questão é Antonio Carlos Zago, treinador do Internacional.

No último domingo (23), o time colorado perdeu para o Caxias por 1 a 0 em partida válida pelas semifinais do Campeonato Gaúcho e precisou dos pênaltis para assegurar vaga na decisão. No entanto, nenhuma história do que aconteceu em campo chamou mais atenção do que um episódio protagonizado por Zago. O técnico interveio em uma discussão de jogadores no campo, foi empurrado por um adversário e simulou de forma patética uma agressão no rosto.

O treinador canastrão foi apenas um dos exemplos de um comportamento que pululou em jogos de futebol no Brasil durante a reta final dos Estaduais. Faz parte de um grupo que também conta, por exemplo, com o meia Lucas Lima, titular do Santos, time que foi eliminado pela Ponte Preta. Instantes depois de o Palmeiras cair diante do mesmo rival, o jogador correu às redes sociais para publicar uma provocação em forma de emoji.

Na outra semifinal do Campeonato Paulista, o são-paulino Rodrigo Caio teve um raro lance de honestidade – raro na comparação com o contexto: na primeira partida, depois de o árbitro ter identificado um pisão do corintiano Jô no goleiro Renan Ribeiro e punido o atacante com cartão amarelo, o defensor procurou o juiz para dizer que havia sido o autor do toque que atingiu seu companheiro. Inocentou o adversário e causou o cancelamento de uma advertência que teria alijado Jô do duelo seguinte.

De tão insólito, o lance de Rodrigo Caio reverberou mais do que o próprio jogo. Foi assunto em todo o país, e o zagueiro Maicon, companheiro do defensor no São Paulo, teve a resposta que mais chamou atenção. Questionado sobre a atitude do parceiro, disse que jamais teria feito algo parecido: “Antes a mãe dele [Jô] chorando do que a minha”.

A torcida do Corinthians respondeu no domingo. Em Itaquera, os alvinegros vaiaram Maicon a cada toque na bola e direcionaram cânticos homofóbicos ao defensor tricolor. No fim, com uma reação assim, muitas foram as mães com motivos para chorar.

Também têm motivos para pranto as mães dos torcedores do Criciúma que tentaram provocar a Chapecoense no domingo, em jogo válido pelo Campeonato Catarinense. Os aurinegros cantaram algo como “ão, ão, ão, abastece o avião” e chegaram a tocar uma marcha fúnebre nas arquibancadas, reação de extremo mau gosto ao maior desastre aéreo da história do esporte brasileiro.

Provocações fazem parte do jogo, e a rivalidade inerente ao futebol competitivo leva qualquer pessoa a um limite emocional que fomenta comportamentos extremos, é claro. Nada disso, contudo, serve como desculpa ou atenuante. Não há algo que amenize quando se extrapola os limites.

E não, o esporte não está ficando chato. Está ficando adulto e entendendo que é parte de um contexto maior, o que é extremamente benéfico. A simples existência de discussão em torno desse tipo de comportamento é prova de que existe uma evolução.

É necessário problematizar, sim. É necessário entender que o esporte profissional não é um mundo isolado e não pode ser permissivo. É fundamental entender que não estabelecemos os limites do outro.

Há linhas entre o que é piada, o que é provocação e o que é falta de respeito. São coisas diferentes, sim, e tratar tudo como parte do mesmo balaio é desrespeitar demais o outro.

O futebol não precisa apenas de mais gente como Rodrigo Caio. Um passo atrás, precisa de mais gente com discernimento suficiente para entender que brincadeiras ou provocações podem ofender, sim. Que não há contexto que justifique uma cusparada gratuita na cara de um rival. Mesmo que isso seja fundamental para determinar o placar de um jogo. O futebol é, afinal, apenas um jogo.

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Quando a mente entra em campo

Quando as competições de futebol entram em fases decisivas, com confrontos diretos em grandes partidas disputadas, chega o momento de cada jogador estar preparado mentalmente para estes desafios em campo. Mas como isso seria viável na prática? Os atletas podem se tornar capazes de suportar as pressões destes momentos e terem a confiança adequada para acreditar em tudo que foi treinado para reproduzir em campo o esperado?

Para tentar responder estas questões, podemos estar atentos em compreender que existe uma enorme diferença entre falar sobre aquilo que se deseja fazer em campo e estar mentalmente preparado para fazê-lo. Aqui está o ponto central da reflexão desta coluna, o preparo mental.

Ele está diretamente relacionado com manter uma atitude positiva, permanecendo concentrado, persistentemente e totalmente comprometido em agir conforme as suas expectativas.

Na prática, o adequado preparo mental vai exigir um foco específico e este crescerá quando seu foco estiver concentrado em:

  • Preparar-se, praticar, treinar, trabalhar, atuar e competir com concentração total e com o nível certo de intensidade;
  • Adotar uma atitude positiva nos treinos, no trabalho e nas suas atuações;
  • Recuperar uma atitude positiva caso você comece a ter uma atitude negativa;
  • Aproveitar cada treino e cada oportunidade de melhorar seu desempenho;
  • Refinar suas habilidades mentais, físicas, técnicas e táticas essenciais, necessárias para alcançar a excelência;
  • Avaliar a eficácia de sua concentração na prática, no trabalho e depois de cada desempenho, assim como agir de acordo com as lições aprendidas em sua próxima oportunidade;
  • Relaxar, descansar, recuperar-se e manter uma atitude positiva consigo mesmo e com os outros, nos momentos bons e nos momentos difíceis.

É importante ressaltar que um dos principais benefícios do preparo mental para o atleta é conseguir ficar concentrado em extrair o melhor do que ele tem em cada momento – seja ele de seu treinamento, de sua atuação, de sua temporada, de sua carreira ou de sua vida.

Para nos auxiliar nesse desafio de preparo mental dos atletas, algumas estratégias a seguir podem servir de ajuda para que o atleta possa se concentrar de modo positivo:

  • Refletir a respeito de coisas que ele já conquistou
  • Refletir sobre as coisas que ele ainda deseja aprender, melhorar ou realizar
  • Refletir nos objetivos específicos que ele deseja alcançar e coloque-os no papel
  • Antes de treinar ou atuar, refletir a respeito daquilo em que ele vai se concentrar para alcançar suas metas

Assim, amigo leitor, cabe a nós refletir sobre a importância de irmos além do preparo convencional dos atletas e apostar cada dia mais na expansão da capacidade mental destes para um resultado em campo cada vez mais excelente.

Até a próxima.