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Como o sucesso comunica

Não foi apenas o desempenho da seleção brasileira que mudou desde que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) contratou Tite para o lugar outrora ocupado por Dunga. As cinco vitórias em cinco jogos com o novo técnico transformaram drasticamente a percepção popular sobre a geração, o time e o nível do futebol nacional. Existe um ambiente positivo em torno da equipe canarinho, e isso é maior do que qualquer resultado do campo. Tite alicerçou seu trabalho em boas práticas de gestão e comunicação, mas também tem servido de exemplo de como o sucesso pode ser uma boa ferramenta de comunicação.

Há um bom exemplo no jogo contra a Argentina, disputado na última quinta-feira (10): a despeito de ter atuado em casa, a seleção brasileira abriu mão do controle da bola no início da partida. Recuou as linhas de marcação e ofereceu o domínio aos visitantes, que não conseguiram ir além de uma posse estéril e fizeram pouco para desestabilizar o sistema defensivo armado por Tite. Como definiu o meia Renato Augusto, os mandantes “souberam sofrer”.

Se a Argentina tivesse encontrado espaço entre as linhas do Brasil ou tivesse aproveitado melhor o momento de maior controle, a análise sobre o início do clássico teria sido outra. Como o time comandado por Tite fez 2 a 0 no primeiro tempo e venceu por 3 a 0, contudo, o que poderia ser inferioridade acabou virando armadilha.

Temos uma tendência de avaliar futebol com a lógica do controle. Costumamos dizer que o melhor time é quem mais tem a bola ou o que atua em uma faixa mais avançada do campo. Ignoramos muitas vezes as nuances desse cenário.

Em sua última passagem pelo São Paulo, Muricy Ramalho montou um time que controlava a bola. A equipe paulista era um exemplo perfeito de domínio estéril: trocava mais passes do que qualquer adversário, passava muito tempo no campo de ataque e sofria para transformar isso em chances de balançar as redes.

Foi essa a principal questão em torno de Pep Guardiola no início do trabalho do técnico em Barcelona. Os catalães tinham a bola, gostavam de controlar o jogo, mas o estilo moroso nem sempre era eficiente para criar espaços.

Em outras modalidades, a lógica do domínio do jogo é bem mais maleável do que no futebol. No basquete ou no handebol, por exemplo, o time que se defende bem e que trabalha estrategicamente com contragolpes não é visto como “inferior”. Há uma noção mais clara de que as ações ofensivas podem ser construídas a partir de diferentes naturezas e que nem sempre é preciso controlar as ações para ter superioridade no todo.

É o que acontece no xadrez, para falar de um exemplo mais distante: se o que vale no jogo é derrotar o rei adversário, nem sempre a melhor estratégia é tirar peões e outras peças do tabuleiro. É perfeitamente plausível a ideia de atrair um adversário e oferecer algumas de suas armas para encontrar um caminho específico para o triunfo.

O sucesso de Tite é um exemplo de que há diferentes caminhos para o bom futebol. A seleção hoje não é um time que pretere a bola; em vez disso, é uma equipe preparada para diferentes situações que o jogo pode oferecer. O elenco comandado pelo treinador soube construir vitórias a partir de forte pressão sobre a saída de bola do adversário (contra a Venezuela, por exemplo) ou tocar a bola para diminuir o ritmo (foi assim diante da Colômbia). Não há qualidade maior para um grupo do que repertório.

Em cinco jogos, a seleção brasileira fez mais do que mostrar que há diferentes caminhos para a eficiência e que nem sempre o pragmatismo precisa ser sinônimo de covardia ou de mau futebol: Tite investiu na criação de um ambiente positivo, baseado em boas práticas de comunicação e gestão de pessoas.

A seleção brasileira tem hoje uma realidade favorável, e os resultados são apenas parte (ou consequência) disso. Não é por ter vencido cinco jogos em cinco que o trabalho de Tite tem méritos, mas esses resultados confirmam o que tem sido feito.

O ambiente favorável serve até para amenizar a crise institucional vivida pela CBF. A entidade que comanda o futebol nacional não deixou de ter problemas e tampouco melhorou em seus processos de gestão, mas agora tem um esteio mais consistente.

Sim, Tite acabou virando um importante escudo para a gestão que poucos meses atrás ele mesmo havia condenado em abaixo-assinado. No documento, o treinador e outras figuras relevantes pediam mudanças no comando do esporte mais popular do país e cobravam a saída de Marco Polo del Nero, presidente da CBF, denunciado pelo FBI por corrupção.

Tite não precisa ter aberto mão de suas convicções para entender que é possível trabalhar numa empresa sem concordar com tudo que acontece em escalões superiores. A contribuição do treinador para um futebol melhor poderia ter sido incrível se ele tivesse rejeitado o convite da CBF, mas também é grande ao usar o sucesso para ensinar a relevância de bons processos de comunicação e gestão.

O caminho pode ser menos radical ou menos intenso, mas a ruptura nem sempre é o único jeito de ensinar ou de estabelecer novos parâmetros. Os primeiros jogos da seleção mostram isso.

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Mente subconsciente produtiva

Estamos no momento em que os nervos de atletas de futebol chegam ao limite da saturação emocional, às últimas rodadas do Campeonato Brasileiro da série A e B. São inúmeras dúvidas que pairam na cabeça dos atletas, sejam elas relacionadas a perda de uma vaga para a Libertadores ou a perda de chance de um acesso dado como certo.

Para esses momentos, tenho uma sugestão que pode contribuir e muito para o melhor desempenho dentro de campo: o subconsciente produtivo!

Falando em subconsciente, é valioso sabermos que nós podemos utilizar a mente subconsciente dos atletas para que possam eliminar o medo que pode surgir nesses momentos decisivos. Muitos atletas podem ficar apavorados com a possibilidade do fracasso na reta final das competições mencionadas e com isso podem se demonstrar incapazes em reproduzir em campo tudo que foi treinado e preparado para determinadas partidas.

Nossa mente subconsciente é sensível à sugestão e assim pode ser controlada por sugestão também. Quando somos capazes de silenciar a mente e relaxar, os pensamentos que ocupam o consciente acabam por permearem o subconsciente da mente. Caso tenhamos a capacidade de sugestão de pensamentos positivos, essas sementes positivas chegam até a área do subconsciente, facilitando que sejamos mais equilibrados e serenos.

Falando especificamente do medo de fracassar, muitos de nós, atletas de futebol ou não, já passamos por algo semelhante. A explicação deste fato está relacionada a questão de que, uma ideia que se transforma em realidade é geralmente aquela que damos mais atenção concentrada. Quando um atleta pensa incessantemente no risco de fracassar, essa poderosa emoção do medo se transforma em realidade no subconsciente dele. E imagine comigo sobre o que acontecerá no momento do jogo, onde ele precisa reproduzir o que foi treinado e preparado antes do evento? Ele será atacado pela amnésia por sugestão! Ou seja, não conseguirá corresponder aos movimentos esperados individual e coletivamente em campo.

Uma boa maneira de fazer com que a mente subconsciente produza favoravelmente, no sentido do melhor desempenho do atleta é, por exemplo, conseguir criar sugestões diárias para a mente subconsciente. Como agora sabemos, a mente é orientada por sugestão e responde favoravelmente a esta sugestão. Então, podem os atletas aprenderem a imaginar diariamente os reconhecimentos, elogios e a repercussão favorável dos resultados positivos que a equipe obteve nas partidas subsequentes da competição. Quando submetemos a mente subconsciente a esses estímulos, damos poder ao condicionamento do subconsciente favorável, que trará calma, tranquilidade e serenidade necessária para as melhores decisões dentro de campo. A sabedoria residente instalada no subconsciente poderá então assumir o controle momentâneo e com isso contribuirá para que o atleta tenha respostas físicas e comportamentais rumo aos melhores desempenhos desejados.

E assim amigo leitor, para os momentos decisivos em questão, cabe sempre uma capacidade abrangente de observação de técnicas adicionais para que possamos ter atletas muito mais preparados para lidar com esses desafios extremos, que o ambiente do futebol exige cada dia mais dos seus participantes.

Até a próxima!

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Como você está formando “Jogadores Inteligentes”?

Primeiramente, o que é um “Jogador Inteligente”?

Fiz essa pergunta a alguns profissionais do futebol. A partir de suas respostas construí uma possível definição para a expressão acima:

“Jogador Inteligente é aquele que, num curto espaço de tempo, consegue identificar os problemas do jogo aos quais está exposto e executar as melhores soluções possíveis. Situação que também se transfere para suas ações extra campo (relação com companheiros, comissão, diretoria, mídia, torcedores, etc)”.

Sem a menor pretensão de afirmar que esta conclusão seja a definição oficial para o título de “jogador inteligente”, mas com o objetivo de buscar uma noção do que pensam aqueles que estão atuando com jogadores de diferentes idades, da base ao profissional, em grandes clubes do Brasil, para podermos iniciar uma discussão mais ampla sobre o assunto.

Dado esse padrão de opinião sobre o que é um jogador inteligente, lanço a pergunta que dá o título a esse texto: como você está formando jogadores inteligentes?

Em outra coluna (Toma decisões: algo simples e complexo) adentrei um pouco neste assunto e trouxe a sabida noção das vertentes (que são indissociáveis no jogo) física/técnica/tática/psicológica que compõem um jogador de futebol. Existem diversificados métodos usados para se desenvolver três destas vertentes, a física, a técnica e a tática, e a grande maioria dos profissionais do futebol tem bem definida (e domina) sua linha de trabalho para cada uma delas.

Porém, quando o assunto recai sobre a vertente psicológica, a responsabilidade acaba caindo somente sobre um psicólogo ou sobre o próprio atleta. Não seria o caso de os demais membros da comissão terem um pouco mais de domínio sobre o assunto afim de poder contribuir para uma intervenção mais eficaz neste viés? O que estamos fazendo no intuito de potencializar as tomadas de decisão de nossos jogadores?

Outros profissionais do futebol, do esporte e de fora do esporte, bem antes deste que vos escreve, também fizeram esta pergunta (mesmo que não diretamente relacionada à formação de jogadores de futebol). Abaixo apresento sucintamente alguns exemplos de profissionais que se dedicaram a encontrar alternativas para solucionar esta questão.

O River Plate, da Argentina, conta, em sua comissão técnica, com o suporte da Dra. Sandra Rossi, uma neurocientista que busca contribuir na melhoria das capacidades cognitivas dos jogadores. O vídeo abaixo apresenta um pouco do trabalho desta profissional.

A Dra. Paula Fernandes (psicóloga) e o Dr. Irineu Loturco (cientista do esporte) desenvolvem pesquisas a respeito do assunto, podemos conferir um pouco de seus trabalhos na reportagem a seguir:

O renomado Dr. Miguel Nicolelis (neurocientista) em entrevista no programa “Arena” do Sportv, falou um pouco sobre o funcionamento do cérebro de grandes atletas:

O também Dr. Alcides Scaglia, cientista do esporte e mentor do Projeto do Paulínia Futebol Clube, alerta sobre a necessidade dos clubes em identificar e desenvolver as competências de um jogador inteligente:

http://sportv.globo.com/site/programas/sportv-reporter/noticia/2013/08/clubes-devem-mudar-perfil-e-buscar-jogadores-inteligentes-diz-especialista.html

O Prof. Dr. Juan Luiz Martinez García trabalhou na base e profissional do Espanyol, foi diretor de formação das categorias de base do Dínamo de Moscou e, atualmente, trabalha em “la Fábrica”, como é chamada a base do Real Madrid.  Lá implementa o Smartfootball, uma metodologia que desenvolveu e que pretende formar jogadores mais criativos e capazes de resolver os problemas impostos pelo jogo, priorizando o talento acima de qualquer outra capacidade do jogador. O trabalho no Real Madrid ainda é recente, cerca de 1 ano e meio, porém, após 11 anos no Espanyol, deixou o clube com 13 jogadores da base na equipe profissional e, em 5 anos no Dínamo de Moscou, contribuiu para a conquista da Manchester United Premier Cup Sub-15 de 2014, foi a primeira vez que um clube russo conquistou um título desta relevância internacional.

Abaixo, um vídeo exemplificando o método aplicado no Dínamo:

Recentemente um vídeo de um treino da equipe profissional inglesa do Arsenal foi destaque na internet mostrando uma atividade que envolve a relação da tomada de decisão e ação dos atletas:

https://www.youtube.com/watch?v=aRhwv5cJ-9g

Um outro ponto importante na formação de jogadores inteligentes é a oferta de atividades que também extrapolem as quatro linhas. Nosso cérebro pode, e deve, ser estimulado de muitas maneiras e o trabalho junto aos jogadores deve intervir não somente na sua formação atlética, mas também humana. Pensando nisso, alguns clubes já adotam medidas para contribuir nesse processo, deixo aqui alguns exemplos do Coritiba e do Botafogo:

http://www.coritiba.com.br/artigo/24104/pensando_no_futuro
http://www.coritiba.com.br/artigo/24486/sub_11_visita_museu_da_vida
http://www.coritiba.com.br/artigo/24756/fazendo_o_bem
http://www.botafogo.com.br/noticia_interna.php?cat=oclube&session=2794&subtag=Base
http://www.botafogo.com.br/noticia_interna.php?cat=oclube&session=2644&subtag=Base

No Footecon de 2013, a Universidade do Futebol, também fez a pergunta do que seria um jogador inteligente, seguem algumas respostas:

Trouxe aqui estes exemplos de iniciativas que buscam intervir diretamente no viés psicológico dos atletas, buscando trazer soluções ao problema de formar jogadores inteligentes. Ainda há muito a se estudar e desenvolver neste campo, pensando numa intervenção mais específica e direta para se otimizar a formação deste jogador inteligente. Porém, muitos estudos e técnicas já estão disponíveis e operando, caberá à comissão se capacitar e identificar quais as necessidades da equipe e de seus jogadores, visto que uma coisa é fato: todos queremos jogadores cada vez mais inteligentes em nossos times.

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Mais sobre a qualidade do jogo…

Os pressupostos estabelecidos pelo treinador, são pressupostos que inicialmente conceberá a possibilidade de se formar uma equipa e trabalhá-la de forma que ela passe a jogar bem. Mas o que é isso?  jogar bem?

O jogar bem está indiferente para muitas pessoas, porque os grandes investidores do futebol só querem saber de resultados (aqui entramos na ambiguidade de visão entre o torcedor e o profissional), mas para quem se importa com o lado racional do futebol, este é um fato recusável. Também existem alguns treinadores (os que eram para ser técnicos, no sentido literário da palavra) tentando justificar resultados apresentando fatos que não vão de encontro com a realidade. Muitas vezes elucidando e justificando ações e acontecimentos com argumentos que não condizem com a realidade. Tentando embutir conceitos técnicos que não fazem sentido lógico e racional.

A verdade é que no futebol bem jogado, a equipe que joga bem é aquela que consegue sustentar um jogo com grande “qualidade por um grande tempo, ao longo do jogo e por muitos jogos. Mantendo esta forma ao longo da(s) temporada(s), caracterizando um padrão de comportamento, um hábito (hábito que se adquiri na prática). Esta “qualidade está para o nosso jogo assim como os gostos estão para cada um. Ou seja, da mesma forma que as pessoas têm diferentes gostos, ou ponto de vistas, o futebol com “qualidade está suscetível ao gosto do espectador, porém, não se pode negar quando há ou quando falta “qualidade” no jogo.

No entanto, a “qualidade não é nada abstrata, tem que ser caracterizada e organizada coletivamente e individualmente. Lembrando sobre a essência do futebol (escrevi sobre isso a 3 colunas atrás), a coletividade deve ser algo mais próximo do racional, do inteligente e da eficiência do movimento (fazer aquilo que deve ser feito com o menor desgaste possível).

Assim, só há “qualidade se os limites possíveis do ataque garantem a funcionalidade necessária em termos defensivos. No caso, neste jogar bem deve prevalecer a harmonia entre setores, pois não existe “qualidadeno futebol se ele for ofensivo, defensivo e ou meio-termo, existe futebol harmonioso (equilibrado). O importante não é ganhar agora, e sim permanentemente.

Nesta harmonia prevalece o equilíbrio, onde os setores estão ligados aos momentos do jogo em tempo integral e toda a equipa passa a atuar como um organismo e não como unidades integrantes deste organismo.

E isto pode formar uma boa equipa. E “(…) uma boa equipa, só é uma boa equipa quando a organização do ataque é boa, mas a organização defensiva também é boa (…) e não se restringe como só o setor defensivo (…) mas sim na ligação com outros setores e os jogadores que estão nesta linha (…) traduzindo assim equilíbrio” (Frade).

Resumindo. Uma boa equipa é aquela em que pratica todos os momentos do jogo com uma regularidade fulcral (com princípios e seus subprincípios), e com o sem a posse da bola exercita uma ação condicionante nas ações adversárias e mantém sempre um grande equilíbrio entre as suas linhas em todo o jogo, ou num maior tempo possível do jogo. Jogando um jogo racional e integral.

É importante mais uma vez salientar que “Quando pensamos ter encontrado todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas (ditado popular). E é por algumas razões que entendemos que os nossos trabalhos, para além da busca de respostas, inserem-se naquilo que denominamos de consciência heurística (descobrir sempre novas coisas), onde mais importante que as tais respostas é conseguir levantar novas questões e assim abrir ainda mais o horizonte para a compreensão humana. E não me canso de enfatizar o que Julio Garganta expõe ao dizer “Que as grandes equipes não respondem, as grandes equipes geram problemas” (como mostra o vídeo).

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Precisamos pensar fora da Caixa

Convivemos diariamente com a paixão que o futebol desperta em todo o Brasil, chegando ao ponto de sermos considerados um país de monocultura esportiva. Consumimos futebol durante os 365 dias do ano, e, apesar desse potencial, não evoluímos, ficando cada vez mais distantes do que acontece no futebol europeu, com suas ligas fortes, bilionárias e globalizadas.

Como o futebol que mais conquistou títulos mundiais não consegue avançar para um campeonato de excelência e que desperte mais desejo e respeito?  Vivemos em um círculo vicioso que ainda não fomos capazes de nos desvencilhar. A organização do campeonato não é de qualidade, o calendário inchado prejudica o desempenho dos atletas e das comissões técnicas, os jogadores saem cada vez mais cedo para todos os cantos do mundo, os clubes (salvo raras exceções) não conseguem equilibrar as suas contas por serem geridos de forma amadora e não costumam trabalhar o potencial de suas enormes marcas como deveriam.

Tratando especificamente sobre o potencial dos clubes como marcas, olhemos como o patrocínio é visto e trabalhado no futebol brasileiro. Ser um país menos desenvolvido do que os europeus e passar por um momento econômico complexo são elementos que atrapalham o nosso amadurecimento, porém não podemos nos esconder atrás somente desses fatores.

Quando falamos em patrocínio dos clubes brasileiros, invariavelmente ficamos presos ao chamado patrocinador máster, aquele que terá exposição de marca na camisa. Em sua maioria, os clubes viram reféns dessa receita, não desenvolvendo alternativas que possam minimizar essa dependência e também aumentar o potencial de faturamento com novas propriedades. Quando concretizam a venda da cota máster, é comum ver o clube ter como meta obter novos acordos sempre envolvendo a exposição da marca na camisa em espaços menores, fazendo com que a camisa perca a sua identidade.

Hoje, entre os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, 15 possuem um banco estatal como patrocinador principal, sendo 13 clubes patrocinados pela Caixa e 2 clubes pelo Banrisul. Apesar de ser uma marca de varejo que compete com os bancos privados e a estratégia de associação com o futebol ser uma plataforma consistente, esse monopólio da Caixa não é saudável, pois escancara a fragilidade do mercado de patrocínio em nosso território.

É importante registrar que os clubes não são os únicos culpados dessa situação. A mídia esportiva, em sua maioria, trata o assunto sempre de olho na marca que estará estampada na camisa, sem que haja uma visão mais ampla se o clube desenvolve ações diferenciadas que trarão benefícios e novas receitas em um médio prazo. Pelo lado das empresas, o futebol normalmente é visto como forma de gerar mídia espontânea por um custo menor se comparado à compra de mídia tradicional (publicidade). Dessa forma, destinam parte de sua verba de mídia para esse fim, porém pouco ou nada fazem de ativação desse patrocínio.

Vale a ressalva que alguns clubes e empresas desenvolvem projetos interessantes, seguindo a cartilha de como executar um bom programa de patrocínio. Fica a torcida para que esses modelos se solidifiquem e não sejam abandonados nas primeiras dificuldades que surgirem.

Para fazer um contraponto, vamos avaliar um clube europeu gigantesco como o Barcelona (poderíamos falar de tantos outros clubes da “La Liga” Espanhola, “Premier League” Inglesa, “Bundesliga” Alemã, “Serie A” Italiana ou “Ligue 1” Francesa). Recentemente, o clube publicou o seu balanço financeiro com recorde de faturamento no valor de € 679 milhões (algo em torno de R$ 2,3 bilhões), sendo o marketing responsável por € 268 milhões (algo em torno de R$ 907 milhões). As parcerias de material esportivo com a Nike e de patrocínio máster com a Qatar Airways representam um volume importante desse montante, porém devemos considerar que o clube possui outros 7 parceiros premium, 8 parceiros oficiais e 15 parceiros chamados regionais. São 32 marcas diretamente associadas ao clube.

Se pegarmos a receita de patrocínio no balanço de 20 clubes brasileiros, chegamos ao total de R$ 500 milhões, um pouco mais da metade do que o Barcelona arrecada sozinho. Sem sombra de dúvida, esses números não são reflexo somente da situação econômica do país e do nosso nível de desenvolvimento, mas sim da diferença entre os modelos de negócio.

O Barcelona possui 4 marcas expostas em sua camisa, sendo a Nike como material esportivo, a Qatar Airways com a propriedade máster, a Beko na manga e o UNICEF (parceiro institucional) na parte inferior nas costas. O que então os outros 29 parceiros têm direito a explorar, se a marca não tem exposição na camisa? Eles efetivamente executam um plano de  patrocínio, envolvendo ações de relacionamento, ativações junto aos torcedores, experiências nos dias de jogos, desenvolvimento de conteúdo nas redes sociais dos clubes, entre outros.

Um exemplo prático é o que a Audi desenvolve há alguns anos com os clubes que patrocina. A empresa entrega, a cada temporada, um novo modelo de carro para as estrelas do time e faz um trabalho de relações públicas muito forte para que essa notícia obtenha o máximo alcance. Junto com essa entrega, sempre criam alguma ativação única utilizando os atletas. Nessa temporada, os jogadores protagonizaram uma série de provas de habilidades ao volante, divididos em equipes. Em temporada anterior, criaram uma gincana, onde equipes de jogadores precisavam fazer embaixadinhas e pedalar uma bicicleta que gerava energia. Além de serem ativações muito criativas, mostram um lado diferente dos jogadores extra campo de forma descontraída e divertida, entregando valor direto para a marca.

Adaptar o modelo de patrocínio do futebol europeu para o nosso mercado não é algo fora da realidade, pois temos capacidade e criatividade para fazer, haja visto o reconhecimento e respeito mundial que nossos publicitários e produtores de evento adquiriram ao logo do tempo. Vejamos um caso de sucesso de patrocínio criado no Brasil que pode servir de referência ao futebol.

O Rock in Rio, um dos maiores festivais de música no mundo, arrecada cerca de R$ 120 milhões em patrocínio para um evento que ocorre durante 7 dias. Esse sucesso só acontece por haver um trabalho conceitual para a construção de um plano de comunicação de marcas, com um planejamento estruturado de mídia, propriedades de ativação e criação de experiências inesquecíveis. Os 7 dias de evento tornam-se parte de um plano muito mais robusto executado durante todo o ano.

Precisamos pensar fora da caixa para que, ao invés de haver uma marca patrocinadora dominante em todos os clubes, tenhamos inúmeros empresas buscando soluções em conjunto e alcançando os seus objetivos estratégicos de marca com o futebol sendo a plataforma escolhida.

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Emoções e decisões

Chegamos efetivamente aos momentos decisivos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro de Futebol. Estes, são sempre períodos recheados de intensas emoções e detalhes que impactam diretamente nos resultados de uma temporada inteira.

Claro que não estou direcionando o pensamento para uma reflexão simplista sobre o resultado de um ano inteiro de trabalho, pois sabemos que os resultados finais são consequência de muito planejamento, trabalho intenso e continuado rumo à excelência. Porém, é inegável reconhecermos que nos momentos decisivos, alguns detalhes podem ser o diferencial entre atingir ou não as metas estabelecidas.

Assim, quero colocar uma breve lupa na capacidade emocional dos atletas e demais envolvidos no futebol, justamente nestes momentos em que esta capacidade é posta a prova.

Relembro aqui o conceito da inteligência emocional, que é uma obra científica de Daniel Goleman, onde o autor defende a ideia de que as emoções são fundamentais para nos tornarmos capazes de melhorarmos habilidades ligadas à família e vida profissional.

Nesse sentido, acredito muito na importância de conhecermos melhor o funcionamento do cérebro humano, no que tange ao controle das emoções. E aqui, está a base da nossa reflexão de hoje. Conforme Goleman, nosso centro emocional localizado na região da amigdala, é o responsável direto pela nossa sobrevivência e nossas decisões. É nela que são gravadas nossas memórias emocionais, como felicidade, tristezas, através da conexão entre tálamo/amigdala, que nos faz lembrar de determinadas situações carregadas ou não desta memória emocional. Nesta região do cérebro nascem nossas emoções mais básicas como medo, raiva e amor.

Associado à essa região, conhecer uma situação que acontece muito no futebol, se faz muito importante para nós que atuamos nele: o sequestro da amigdala. É nesta região do cérebro, onde a conexão neuronal entre tálamo/amigdala nos informa sobre um perigo iminente ou a uma situação emocional carregada de emoções passadas que nos fazem agir, fazendo com que eventualmente tomemos decisões impróprias ou incoerentes com aquele momento. Ah, aqui então podemos começar a entender quando atletas tem um momento que chamamos “perder a cabeça” e realiza algo totalmente impensável para os que conhecem o comportamento desta pessoa, seja essa ação algo fora do padrão esportivo, como agressões por exemplo, ou até uma ação esportiva fora de contexto como bater um pênalti decisivo de maneira totalmente impensada ou irresponsável, por exemplo. Isso acontece na prática, quando perdemos o controle executivo realizado pela região pré-frontal do cérebro sobre a amigdala. Quando este controle neuronal falha é que acontece o sequestro de amigdala, que desencadeia um processo em que somos totalmente controlados pelas nossas emoções.

Portanto, promover ações junto aos atletas, que estimulem o desenvolvimento da capacidade de controle emocional, pode ser um grande diferencial para os momentos decisivos das equipes de futebol.

Então, amigo leitor, acho muito importante que os clubes possam estar atentos aos padrões emocionais dos seus atletas para que todos possam estar totalmente preparados para os momentos que podem definir os rumos de desempenho das equipes ao final da temporada.

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E qualidade, onde fica?

Com diferentes formas de jogar, distintas preferências de atletas, infinitas ideias de jogo, etc, onde está e o que representa a qualidade no futebol?

E de que qualidade se fala? São muitas e dependem do ponto de vista em relação ao futebol e também tem muito a ver com as culturas das regiões praticadas, modo de pensar do treinador e tipo de jogo em destaque no parâmetro nacional ou mundial. Porque a qualidade de um jogo é por exemplo apreciada de diferentes modos no Brasil, na Argentina, na Inglaterra e em Portugal? Apesar de existir um padrão globalizado de um modelo (quase) perfeito de um jogo, dado que geralmente este modelo é representado pelas equipes que se apresentam melhores (em melhor forma no momento).

Só verdadeiros marcos ou maravilhas como títulos importantes para mudar esta visão de admiração cultural por um estilo de jogo, dado que as mentalidades não são alteradas instantaneamente, são sim alteradas de formas lentas, com ideias claras e coerentes acerca do futebol praticado e com resultados.

A dimensão do reconhecimento do que o treinador deve ser, enfatiza o lado operacional/metodológico que é fundamental porque “nenhuma metodologia “leva” efeito sem estar ausente numa teoria, numa concepção ou num enquadramento racional teórico” (Frade).

Por isso, para poder querer colocar suas ideias, deve ser criada uma concepção, uma filosofia, que irá guiar toda a equipa a jogar num único sentido, visando objetivos em comum que irão colocar uma linha de trabalho no qual será possível o desenvolvimento de toda a equipa para um futebol desejado e com estratégias especificas de acordo com este modelo/filosofia de jogo.

Porém é importante enfatizar que o lado estratégico deste jogo não pode ser aplicado em excesso, pois valorizar o estratégico em excesso supera a importância do jogo e isso pode ser contraditório” (Frade).

A estratégia deve ser equacionada no jogo, mas nunca pode ser mais importante que a identidade (forma de jogar da equipe).

Esta identidade deve ser inserida pelas ideias do treinadores no qual deve ser compartilhada em uma diferente dimensão pelos jogadores que também são estrategistas, mas iem um plano do realizador. Estes devem pôr as suas capacidades em pró do modelo e dos princípios seguidos pelo treinador, sendo que este tem a filosofia acima de toda a sua maneira de gerir e de lidar com o jogo. E a identidade deve ser sempre apresentada nos treinos e jogos.

Mesmo que os jogadores não apresentem características que, de imediato possam atuar de forma satisfatória em relação ao jogo praticado, o treinador deve estar perceptível a perceber certos espaços que podem deflagrar todo o projeto. Por isso, para ser mantido o modelo, os jogadores que não estão enquadrados com este podem e devem ser adaptados para haver uma coesão no modelo trabalhado.

Todavia, todo esse referencial coletivo deve ser defendido sempre em prol dele mesmo e contra (metaforicamente) as individualidades, dado que estas devem ser respeitadas e incitadas a serem postas em prática mas em benefício do grupo. Pois sabe-se que no futebol é jogado coletivamente, mas as ações são individuais e, esta não pode ser decepada por completo, devem ser estimuladas a manifestar-se quase sempre em beneficio do grupo e em momentos em beneficio próprio para superar algo e servir o grupo. Somente assim, a qualidade do coletivo e individual, será manifestada no momento oportuno.

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A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!

Nessa coluna criada para tratar de assuntos relacionados ao marketing esportivo aplicado ao futebol, o primeiro texto é dedicado ao principal protagonista de toda essa história: o fã.

Sem o fã não existe torcida, não existe consumo, não existe ídolo, não existe estádio, não existe audiência, não existe patrocínio, não existe negócio. Portanto, tudo deve ser pensado com a visão desse que tem todo o poder de escolha.

E esse fã se tornou extremamente exigente em um mercado cada vez mais competitivo, cheio de opções de entretenimento e lazer. Hoje não adianta mais meu time ser campeão, meu ídolo marcar gols e eu conseguir comprar um ingresso disputado para um grande clássico. Meu time precisa jogar bem e limpo, meu ídolo tem que ser um exemplo como cidadão e exijo ter acesso fácil e serviços de qualidade dentro do estádio. Ao meu ver, exigências mais do que justas!

Com isso, o futebol buscou se modernizar e, em certo ponto, se industrializou. Vemos times jogando de forma organizada, com sistemas táticos em constante evolução. Ídolos muito bem preparados fisicamente e seguindo a cartilha de um bom media training. Estádios que se tornaram arenas e que, mesmo timidamente, oferecem um melhor serviço ao seu público.

Porém, assim como na vida, também não queremos viver de forma robotizada. Precisamos humanizar a nossa rotina, comer alimentos saudáveis e orgânicos, reciclar nosso lixo, adotar um modelo de vida sustentável.

Refletimos esse modelo também em nossa hora de lazer e diversão. Não queremos ver um futebol óbvio, queremos assistir a disciplina tática aliada a jogadas individuais e criativas. Queremos uma declaração irreverente durante uma entrevista do nosso craque, queremos que uma parte do estádio não tenha cadeiras para ver o jogo em pé e pulando.

Não há dúvidas que encontrar a solução para essa equação é algo bastante complexo e cabe aos profissionais de marketing buscar meios para satisfazer tantas questões. Como diz a música, atender os “desejos, necessidades e vontades” desse tão valioso fã.

Precisamos de estádios (ou arenas) modernos, confortáveis, que entreguem serviços e entretenimento além de um jogo de futebol, ao mesmo tempo que deixem com que a paixão de um torcedor se mantenha espontâneo, com o fervor que aquece qualquer alma.

Precisamos que os eventos (chamados campeonatos) sejam produtos geridos de forma profissional, fornecendo condições para que os times possam competir em alto nível e de forma equilibrada.

Precisamos de clubes que conheçam, fidelizem e satisfaçam seu público em todas as esferas. Criando atrativos por meio dos seus programas de sócio-torcedor, gerando conteúdo que engaje seus seguidores nas redes sociais, proporcionando experiências intangíveis que façam qualquer adulto voltar ao sentimento de ser criança.

Precisamos de ídolos que, além de craques, nos deem exemplos e, ao mesmo tempo, sejam originais e humanos.

Lidamos com o que há de mais puro no ser humano, a sua emoção. O marketing e suas ferramentas tem a missão de transformar os produtos do futebol em experiências únicas e inesquecíveis.

No final das contas, a gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade.

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A parte pelo todo

Sinédoque é uma figura de linguagem usada quando se toma a parte pelo todo. Essa é uma das bases do filme “Sinédoque: Nova York”, de Charlie Kaufman, lançado em 2008. Focada em um diretor de teatro que prepara uma nova peça, a obra aprofunda a simbologia utilizada anteriormente pelo cineasta para discutir a relação entre homem e meio e o quanto um influencia o outro.

A reta final do Campeonato Brasileiro de 2016 também é uma questão de sinédoque. Para o bem ou para o mal, as principais disputas do certame nacional serão influenciadas por uma ordem sistêmica e terão relação com fatores que nem sempre aparecem dentro das quatro linhas.

O Palmeiras, por exemplo: líder do Campeonato Brasileiro, dono de um elenco equilibrado e de uma campanha sem altos e baixos, o time paulista chegou ao trecho final da tabela como o time a ser batido. Não apenas pela pontuação acumulada, mas pelo ambiente que se criou. O grande desafio agora é a manutenção disso, a despeito da expectativa por um título que a equipe não conquista desde 1994.

Também pesam sobre o Palmeiras alguns fantasmas – o título perdido em 2009 ou a insegurança do técnico Cuca, por exemplo. O time até pode funcionar em campo, mas precisa lidar com toda essa bagagem para que o ambiente vencedor não seja debelado na reta final do Brasileiro.

Um bom exemplo nesse sentido é o Corinthians de 2015. O time alvinegro conviveu com salários atrasados e intensa crise política durante a maior parte do Campeonato Brasileiro. No fim do primeiro semestre, perdeu também algumas de suas referências técnicas e emocionais (Emerson, Fabio Santos e Paolo Guerrero, principalmente). No entanto, o técnico Tite conseguiu blindar o grupo e impedir que essas pequenas crises comprometessem o todo.

Tite também tem feito esse papel na atual seleção brasileira. A equipe nacional vivia uma crise de credibilidade causada por sucessivos escândalos na CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e convivia com críticas ferrenhas ao estilo do técnico Dunga, que comandou o grupo até meados deste ano.

Quando trocou a comissão técnica, a cúpula da CBF imaginou substituir Dunga por alguém que tivesse maior aprovação (ou menor rejeição) em âmbito nacional. Tite fez mais do que isso: construiu em torno do time uma redoma e moldou em poucos jogos um bom ambiente que havia sido descartado. Ainda que seja uma parte de uma engrenagem que nem sempre roda de forma correta, o treinador soube livrar seu trabalho da influência externa.

São muitos os exemplos similares no esporte. Times foram campeões a despeito de problemas de relacionamento entre seus atletas ou apesar de crises institucionais em suas diretorias. Em todos os casos, uma chave para que isso aconteça é um bom plano de comunicação.

O Campeonato Brasileiro disputado em sistema de pontos corridos aumenta a margem para esse tipo de interferência externa. São muitos meses de competição, com elementos como janela de transferências, crises financeiras, instabilidade política e similares.

O Flamengo poderia ter sentido mais a ausência do técnico Muricy Ramalho, que iniciou a campanha com o time e se afastou por problemas de saúde. O Atlético-MG poderia ser mais influenciado pelo mau momento do técnico Marcelo Oliveira, em baixa com a torcida. O Santos poderia sofrer mais com desfalques como a negociação de Gabigol ou a lesão de Gustavo Henrique. No fim, ainda que todos tenham sofrido percalços, esses times souberam manejar problemas internos e tiveram tempo para lidar com isso sem cair na tabela.

A questão é que esse enorme volume de fatores externos acaba prejudicando a competição como um todo. Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG, Santos e outros candidatos ao título durante o ano tiveram de superar suas próprias limitações. No fim, é um título de quem sofre por menos tempo.

Se tivesse um interesse no todo, a CBF trabalharia para diminuir a incidência de fatores externos em sua principal competição. Se houvesse um interesse coletivo, os clubes brigariam por isso.

Contudo, o que existe é apenas uma leva de times em busca de projetos. Clubes que procuram alguém com uma varinha mágica ou com um escudo intransponível. Equipes que tentam achar um técnico, um ídolo ou até um dirigente para fazer essa interface com as cobranças.

O futebol brasileiro não sabe lidar com a relação entre parte e todo. Faltam projetos institucionais e faltam visões de comunicação para isso. Com esse cenário, o principal título nacional será uma prova de resiliência. Faltam cinco rodadas para isso.

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Resgatando melhores desempenhos

Em momentos decisivos do Campeonato Brasileiro, todas as atenções estão voltadas para o resultado coletivo das equipes na busca por melhores colocações na tabela de classificação.

Mas como fazer atletas, que são indivíduos, desempenharem da melhor forma dentro de campo e situações em que seu time vai de mal a pior nas colocações da tabela de classificação ou se a equipe tem chances remotas de obter resultados positivos na temporada?

Penso que uma das formas de estímulo e engajamento do atleta em situações mais difíceis em busca de performance é o comprometimento! Isso mesmo, comprometimento.

Na prática, a intenção é contribuir para que o atleta possa descobrir ou definir um objetivo que lhe traga motivação para elevar sua performance, algo que lhe desafie e promova significado para seu momento de carreira. E o comprometimento é uma peça-chave para orientar a busca deste atleta rumo à excelência.

Por exemplo, quando um atleta define uma ou mais metas pessoais de desempenho para melhorar seus resultados atuais, sejam elas para buscar uma transferência ou uma renovação contratual, o simples fato dele se impor esta meta e traçar um plano de ações que lhe permitirão chegar até ela, fará com que ele tenha mais positividade, empenho e confiança em suas capacidades.

Nesta reflexão, muitos podem se questionar sobre o ponto de vista individualista desta abordagem, mas na prática isso pode ser justamente o contrário. Imagine comigo, dentro da coletividade do futebol, ninguém consegue elevada performance sozinho e, o simples fato de um atleta estipular uma meta pessoal que dependa do coletivo, muito pode se realizar através desta iniciativa. O atleta fica mais participativo, engajado e naturalmente acaba por permear essa confiança e entusiasmo por todo elenco.  Neste gancho, pode-se estimular outros atletas a definirem metas individuais que atendam seus desejos de carreira. Porém, cabe lembrar a importância da manutenção da compreensão elevada por parte dos atletas, que os resultados das metas individuais só se materializarão, como resultado do pensamento coletivo.

Para reforçar a importância do comprometimento, pode-se explorar as seguintes reflexões que podem colaborar para estimular o comprometimento junto aos atletas:

  • Seus objetivos são claros para você, desafiadores e têm por meta alcançar o seu melhor nível?
  • Você está fazendo algo, todos os dias, que o leve um passo mais próximo de suas metas?
  • O que fez hoje para chegar um passo mais perto do seu objetivo ou grande meta?
  • Tem comemorado pequenas vitórias cotidianas ou ainda se perde observando a distância que falta percorrer para atingir seu objetivo principal de longo prazo?
  • Seu comprometimento com a qualidade da concentração em treinos, aprendizados, práticas e atuações está forte o suficiente para levá-lo na direção dos seus sonhos? O seu comprometimento poderia ser melhor?

E aí amigo leitor, também acredita que até nos momentos difíceis é possível promover alto desempenho dos atletas de futebol?