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Reta final para 2010, olhos abertos para 2014

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Estamos chegando a um momento crucial para o futebol no Brasil. Estamos na reta final para os preparativos da Copa do Mundo da África do Sul, a primeira no continente africano e que antecede o mundial no nosso país. 

A grande oportunidade de receber uma Copa do Mundo reside nas heranças que ela pode deixar no país sede. E aqui, nos preocupamos com as heranças que ela pode deixar no nosso futebol local.

Para se aproveitar o “momentum” da Copa, todos aqueles envolvidos na organização do nosso futebol devem adotar uma postura pró-ativa/consciente, para não que não se perca nenhuma chance. Os olhos do futebol no mundo estarão voltados para nós, e temos que tirar o melhor proveito disso.

O futebol precisa ser sustentável. Precisa de solidariedade entre os clubes participantes, precisa tratar os jovens jogadores da melhor e mais adequada forma, precisa explorar ao máximo o seu potencial social, para promover uma maior integração social e cultural.

Quando temos a Copa organizada em nosso país, temos que procurar trazer parceiros interessantes para viabilizar esses propósitos. Temos que aprender com outros clubes, outras federações e ligas, como se pode canalizar a força do futebol para promover uma maior justiça social. 

Temos que procurar melhorar nossos estádios, dar mais conforto ao torcedor, mas também não esquecer da classe menos favorecida, que também movimenta o futebol e é apaixonada. Que precisa do futebol para sobreviver no seu duro dia-a-dia com felicidade e dignidade.

Quem observa o futebol como uma oportunidade pontual de lucrar não pode, e não deve prosperar. Porque o futebol precisa de pessoas que além de retirar coisas, tabmém acrescentem. 

Nesse prisma, vamos olhar para esse momento da Copa e não permitir que a corrupção, o desvio de verbas, tome lugar. A transparência e o acesso a informação são a chave para o sucesso. Só assim teremos uma herança garantida ao nosso futebol, assegurando a efetiva implementação de sua real função social.

A hora é agora. Quando piscarmos os olhos, a Copa da África já terá passado, e talvez já seja tarde demais. O futebol precisa do Brasil. Mas o brasileiro também precisa do futebol pra viver, assim como o ar que respira.

Vamos cuidar bem do nosso povo e, para tanto, do nosso esporte.

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Preparação Física vs “Periodização Tática”: os erros de um combate!

Entendamos de uma vez por todas senhores: a “preparação física” é importante para se jogar futebol!

Não seria eu “louco” de dizer o contrário. Estaria contra mim mesmo e contra o norte que escolhi (a Teoria da Complexidade) se desprezasse (ou menosprezasse) a “preparação física”.

E preciso hoje falar sobre isso porque tenho ouvido, visto e lido muitas coisas equivocadas a respeito do assunto.

Um sem número de estudiosos, pesquisadores e treinadores têm alardeado aos quatro cantos do mundo o que chamarei de “periodização tática” portuguesa. Não discutirei aqui dessa vez os conteúdos e nortes dessa proposta. É fato, porém, que antes dos portugueses; russos e franceses (e mais recente do que esses, os espanhóis) já apontavam outros rumos para a iniciação, especialização e treinamento de alto rendimento nos esportes coletivos (e aqui em especial, no futebol).

Os portugueses ganharam força na sustentação da sua teoria com a rápida ascensão do treinador José Mourinho. Não sei se Mourinho e pesquisadores portugueses estão falando a mesma língua, mas os ventos sopram que sim.

Infelizmente vejo muita distância entre o que se está propondo em Portugal (especialmente os “filhos” da Universidade do Porto) e o que realmente está acontecendo em Portugal; assim como vejo grande abismo entre os conceitos e construtos que nasceram de russos e franceses (e de alguns próprios portugueses que estudaram Jogo, Complexidade, Caos, Imprevisibilidade, etc) para a prática portuguesa.

Tenho a impressão, por vezes, que tem se buscado ser igual à Mourinho e não explorar a fundo no dia-a-dia dos campos as bases teóricas que são discutidas.

A ação de um treinador transcende o método (leiam a tese do Dr. Hermes Balbino: “Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos”), mas o método terá grande peso no alto nível competitivo quando as ações de diversos treinadores tiverem equivalência e fizerem com que suas equipes vençam.

Então, para avançar não se deveria buscar Mourinho, mas sim ir à frente com o método.

É ponto pacífico e muito claro que o treino técnico-tático tradicional não era, há décadas atrás, suficiente para garantir boa performance de jogo ao longo de 90 minutos (assim como nos moldes atuais também não é – e tenho muitas dúvidas se os “óculos portugueses” [e aqui excluo Mourinho] seriam; realmente creio que não!).

É ponto claro (e não tão pacífico) que dentre as decisões possíveis para se tentar compensar em “sobrecarga” a incapacidade do treino técnico-tático tradicional de gerar respostas “adaptativas” positivas e adequadas (me desculpem os biólogos), a escolhida não foi a melhor (criou-se em separado, o treino físico).

Há muito venho dizendo que não é possível separar o que é físico, do que é tático, do que é técnico, do que é mental no jogo de futebol. Sinto não saber como ser mais claro.

Tudo que vejo em um jogo carrega tudo (todas as variáveis, juntas e ao mesmo tempo).

Isso significa que o treinamento para preparação do jogador de futebol precisa sim contemplar a complexidade que é inerente ao jogo.

Com isso, não estou eu a defender a tal “Periodização Tática” portuguesa; não nos moldes que ela é proposta, porque vejo nela uma dificuldade dos seus “mentores” de levá-la a prática. E não é pela inconsistência da teoria, nada disso! Os construtos são em sua maioria muito fortes.

O fato é que não considero boa a “decodificação” que fazem do seu ótimo corpo teórico quando o levam para a prática. Então o problema não está na proposta em si (ainda que também tenha minhas considerações sobre isso), mas no como ela vem sendo construída na prática.

Não estou eu aqui também a defender o treinamento tradicional ou o treinamento físico fragmentado. Isso já deveria ter sido superado.

O fato de algumas frentes pelo mundo estarem tentando novas perspectivas para o treinamento do jogo de futebol, pautadas no mesmo pressuposto teórico, não quer dizer que tenham a mesma interpretação e formatação desse pressuposto.

Por enquanto, o que posso dizer é que estão enganados aqueles que entendem que um modelo de periodização, treinamento ou seja lá o que for, que estruture suas bases de forma a não separar o que é tático, técnico, físico e mental não pode sustentar o desempenho atlético de um jogador em jogo.

Estão enganados também os que vêm no “modelo português” (ou em um único português – Mourinho) a resposta pronta ou salvação do treino no futebol, assim como se enganam os que trazem como solução paralela o que é chamado de Modelo de Treinamento Integrado (que teve especialmente trabalhos e pesquisas russas, americanas e alemãs como fonte primeira de inspiração) através de uma falsa não-fragmentação do jogo de futebol.

O que proponho, senhores é outra coisa e posso desde já dizer que em breve publicarei resultados a respeito disso. Sem maniqueísmos lembro que os Modelos Tradicionais, de Blocos, Cargas Seletivas, Periodização Integrada, Periodização Tática, Periodização Composta, etc, precisam ser conhecidos para que suas idéias sejam discutidas e para que os porquês das coisas fiquem claros na opção por esta ou aquela conduta de trabalho.

O que precisamos buscar é uma “Periodização de Jogo®( Leitão 2009 no prelo)“que contemple realmente o jogo, em dinâmica e carga (cognitiva, fisiológica, física, etc) fractalmente.

Que fique claro: o mais importante não é o que é tático; o mais importante não é o que é físico, técnico ou mental.

O mais importante é o que é JOGO e ponto.

Se não entendermos a fundo o que é JOGO e não soubermos transferir aos campos aquilo que nossos construtos teóricos apontam, acabaremos acusando proposta, modelo e método de falhos, mas estaremos nos cegando para o problema real, que é a nossa incapacidade de levarmos à prática o nosso discurso.

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O “International Transfer Matching System” da Fifa

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Não só a Fifa, como também todas as partes envolvidas no mercado do futebol, estão preocupadas com a manutenção da credibilidade do futebol, perante torcedores, patrocinadores, mídia, etc.

Nesse âmbito, a Fifa tem demonstrado grande preocupação com a transparência das transferências internacionais de jogadores (em que ela tem competência para regular), bem como em garantir a traceabilidade dos recursos pagos em cada negócio realizado.  Como sabemos, são nessas transações onde residem as maiores suspeitas de atividades ilícias dentro dessa indústria.

Assim, durante o seu 57º congresso, realizado em maio de 2007, em Zurich, a Fifa decidiu introduzir dentro do escopo de sua Task Force “For the Good of the Game” a criação de um sistema de cruzamento de dados para transferências de jogadores, visando melhor monitorar as transferências internacionais de jogadores. Esse sistema deve alterar substancialmente o atual sistema em vigor, que determina que as diversas federações nacionais dos clubes vendedores e compradores devem simplesmente certificar as transferências via fac-símile.

A matéria foi inicialmente regulada no Ofício Circular da Fifa nº 1108, que apresenta o sistema denominado “International Transfer Matching System”, com o objetivo de “de um lado, garantir que as autoridades do futebol tenham maior detalhes disponíveis acerca de cada transferência, e, de outro lado, aumentar a transparência de cada transação, que por sua vez aumentará a credibilidade e todo o sistema de transferências de jogadores. Ao mesmo tempo o sistema deverá garantir que, de fato, um jogador está sendo transferido, e que não haja simplesmente uma transferência de valores com a transferência de um “jogador fictício” (i.e., lavagem de dinheiro). Finalmente, o sistema deverá garantir que todos os pagamentos relacionados com as transferências sejam feitos apenas de um clube para outro”.

Tão logo o sistema encontre-se totalmente em funcionamento, todas as transferências intenacionais deverão estar eletronicamente registradas, e devidamente checadas em um único sistema de base de dados.

O International Transfer Matching System encontra-se em fase experimental em algumas federações ao redor do mundo desde janeiro deste ano. Uma segunda fase deverá ser iniciada em breve, com o envolvimento de outras tantas federações.

De acordo com as deliberações tomadas na Fifa Exco de outubro de 2007, todas as atividades relacionadas com esse novo sistema deverá ser conduzido por uma empresa independente, chamada Fifa Transfer Matching System GmbH.

Entendemos positivas as alterações, em prol da credibilidade das transações, e também do afastamento em definitivo de pessoas que se utilizam do futebol para obter lucros a todo custo e para praticar atividades ilícitas.

Manteremos nossos leitores informados acerca do desenvolvimento dessa matéria.

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O experimento “quase científico” de uma vitória

Dia desses fiz um experimento “quase científico” em uma partida realizada pela equipe que dirijo. Era um jogo amistoso, parte dos preparativos para uma competição futura.

Sob a perspectiva organizacional do jogo, as duas equipes iniciaram a partida com a organização defensiva adequada para controlar as organizações ofensivas adversárias. A minha buscava a recuperação da posse da bola na “linha 1”; a adversária, impedir progressão a partir da “linha 3”.

Os princípios operacionais de ataque das duas equipes não eram os adequados para desequilibrar as organizações defensivas propostas.

Obviamente que com poucos minutos de jogo ficava evidente a necessidade de uma intervenção que mudasse o princípio operacional de ataque dominante (tanto da minha equipe, quanto do adversário).

Ficávamos com a bola, controlávamos o jogo, ocupávamos melhor os espaços e não corríamos risco algum de sofrer um gol (mas também não chegávamos nem perto de “assustar” o goleiro adversário).

Exceção feita aos princípios operacionais de ataque (e de transição ofensiva), todas as outras dimensões de controle estavam apropriadas ao jogo e sendo bem executadas (tarefas de ação, plataforma de jogo, princípios estruturais, norteadores da ação, etc) na direção do cumprimento da lógica do jogo.

Todas as evidências apontavam para a necessidade de alteração dos princípios operacionais de ataque; mas…

Resolvi mexer em todas as variáveis “alteráveis” menos nos princípios operacionais de ataque e observar mudanças que isso desencadearia.

Em tese, as “alterações desnecessárias” deveriam alterar um pouco (bem pouco!) a dinâmica do jogo, mas não “resolvê-la” (pois os problemas que estavam associados à dinâmica daquele jogo, naquele momento, não teriam correlação alta com as mudanças que eu estava realizando).

O tempo foi passando. Terminou o 1º tempo. O jogo continuava apresentando o “mesmo rosto”. Insisti no experimento. Não alterei o que precisava ser mudado e aguardei ansioso para saber quais seriam as “mexidas” do meu companheiro de profissão do “banco ao lado”.

Cinco minutos de algum desequilíbrio (mudei jogadores de posição e dei funções que normalmente não eram as deles) e lá voltou o mesmo jogo do 1º tempo.

A lógica do jogo pedia, para seu cumprimento, alterações nos princípios de ataque.

O jogo caminhava para o zero a zero. Quando faltavam 15 minutos para o término da partida, fim do “experimento”; veio então a grande substituição da minha equipe no jogo: saía o princípio operacional de ataque “manutenção da posse da bola” e entrava a “progressão ao alvo” (terminava o jogo em largura, com muitos passes horizontais, de circulação da bola sem intencionalidade clara de progressão, e começava o jogo de profundidade, vertical, mas sem bolas alongadas, com “desapego” a manutenção da posse da bola, e com chegada rápida ao alvo).

O jogo se mudou completamente.

Como o adversário manteve sua organização de ataque da mesma maneira, o jogo se transformou em um “ataque versus defesa”. Resultado: vencemos por um a zero.

Poderia ter terminado zero a zero (assim como, antes da grande alteração, a partida já pudesse estar com um ou dois gols para uma das equipes). O fato é que quando fora alterada pontualmente aquela variável que estava comprometendo a dinâmica ofensiva de minha equipe no jogo, ele (o jogo) se transformou por completo.

Nesse caso em especial, a alteração de um princípio operacional gerou uma grande alteração no jogo em direção ao cumprimento de sua lógica. Mas nem sempre é assim. Algumas vezes o problema para o cumprimento da lógica do jogo não está no cumprimento ou alteração deste e daquele princípio.

E é bom que isso fique bem claro, porque, equivocadamente, treinadores, pesquisadores e equipes dão maior valor ao cumprimento de um princípio operacional do jogo, em detrimento do cumprimento da lógica do jogo.

A lógica do jogo deve ser sempre a meta a ser cumprida. Princípios operacionais, estruturais, etc e tal, são meios para alcançá-la (a lógica do jogo).

Equipes de futebol devem ser preparadas para o cumprimento da lógica do jogo (e isso é o “jogar bem”).

Cumprir a organização defensiva, por exemplo, de acordo com um modelo de jogo, pautada em determinado princípio, só fará sentido se isso for feito para se alcançar o cumprimento da lógica do jogo.

Caso determinada variável do modelo de jogo não esteja adequada em uma partida (ou momento da partida), é ela, a variável, que deve ser alterada.

Porém, o que tenho notado, é que muitas decisões acabam sendo tomadas para mudar não as variáveis do modelo de jogo, e sim a lógica do jogo.

Como ela (a lógica do jogo) é imutável, decisões erradas fazem com que, na tentativa de se aproximar do jogo e da vitória no jogo, muitos treinadores, pesquisadores e equipes têm cada vez mais se distanciado do próprio jogo e da conquista da vitória.

E aí, o de sempre. Equipes continuarão ganhando e perdendo sem saber exatamente porque.

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A “autátic-tópsia” (tática+autópsia) de uma derrota

 

O futebol tem conteúdos “escondidos” entre as linhas que anunciam o resultado final de um jogo. Se ficarmos atentos, é possível que possamos aprender muito com esses conteúdos.

Olhando então aos arredores, entre linhas, conteúdos e esconderijos trago à tona questões de uma partida válida pelas quartas de final dos “Jogos Abertos do Interior 2008” (do estado de São Paulo – Brasil/ torneio sub-21).

Chamemos as equipes de equipe “A” e equipe “B”.

O modelo de jogo da equipe “A”, bem definido pelo seu treinador (típico em outras equipes que dirigira) apresentava as seguintes características básicas:

Organização Ofensiva:

·         Jogo direto, com lançamentos em progressão ao campo de ataque sem preocupação com a manutenção da posse da bola.
 
Organização Defensiva:
·         Marcação individual por setor e estratégias para impedir progressão ao alvo a partir da “linha 3”.
 
Organização das Transições Ofensivas:
·         Primeira ação após recuperação da posse da bola em progressão ao ataque (com velocidade) alternando 4 e 5 jogadores à frente da linha da bola.
 
Organização das Transições Defensivas:
·         Recomposição rápida dos jogadores atrás da “linha 3”, sem “ataque” a bola.
 
Plataforma de Jogo:
·         1-4-4-2 alternando com “falso” 1-3-5-2.
 
O campo de jogo tinha dimensões aproximadas de 100 metros de comprimento por 68 metros de largura.

A equipe “A” era tida como a favorita no confronto. Era mais velha, mais experiente e havia jogado dois jogos em dias consecutivos (contra três jogos em dias consecutivos da equipe “B”), portanto, deveria estar menos “cansada”.

A equipe “B”, conhecendo o modelo de jogo e princípios operacionais da equipe “A”, tendo versatilidade nas suas opções para cumprir diferentes estratégias de jogo, optou por um “contra-modelo” para o confronto:

Organização Ofensiva:

·         Progressão rápida ao alvo, com jogo vertical, mas não direto, sem preocupação com a manutenção da posse da bola (intenção: evitar a circulação de bola que a organização defensiva adversária tentaria induzir – em outras palavras evitar o jogo lento de ataque com que o adversário estava habituado).
 
Organização Defensiva:
·         Marcação Zonal, com estratégias para impedir progressão ao alvo a partir da “linha 3”, com pressing intenso em caso de penetração adversária após essa linha (intenção: fazer o adversário, que não estava acostumado a ficar com a bola, ficar com ela – buscando roubá-la em setores específicos para chegar rapidamente ao ataque).
Organização das Transições Ofensivas:
·         Primeira ação após recuperação da posse da bola em progressão ao ataque (com velocidade) alternando 5 e 6 jogadores à frente da linha da bola (intenção: desorganizar o sistema defensivo adversário, evitando seu “equilíbrio espacial”).
 
Organização das Transições Defensivas:
·         Recomposição rápida dos jogadores atrás da “linha 3”, sem “ataque” a bola (intenção: buscar rápida ocupação de espaços determinados do campo de jogo para não permitir o jogo direto e rápido do adversário, induzindo-o a circular a bola no campo de defesa).
 
Plataforma de Jogo:
·         1-4-1-4-1.
 
O contra-modelo de jogo da equipe “B”, tinha como principais intenções induzir a equipe “A” a jogar fora do seu “modus operandi” e aproveitar os desequilíbrios que essa indução poderia gerar.

Abaixo, algumas informações básicas sobre o scout do jogo:

A equipe “A” alternou momentos em que circulou a bola com momentos em que “queimo-a” ao ataque, forçando lançamentos em regiões equilibradas da equipe adversária. Teve dificuldades em chegar à área com a bola e teve também um número pequeno de finalizações. Foi eficaz. Em três chances no 1º tempo, um gol.

O gol merece comentários.

Na equipe “B” predominaram as ações verticais, com jogo rápido e curto (conforme planejado). Em alguns poucos momentos também circulou a bola (o que não fazia parte da sua estratégia dominante). Resultado; em um desses poucos momentos, errou, permitiu o contra-ataque e sofreu o gol.

A equipe “B”, apresentou um controle quase que total do jogo. Em boa parte do tempo teve também o domínio da partida. Começou vencendo (em uma jogada de contra-ataque). Executou suas estratégias em busca do cumprimento da “lógica do jogo”, mas acabou derrotada em uma jogada de bola parada no 2º tempo (quando já jogava no 1-4-3-3, marcava na linha 1 e acabava de perder uma grande chance de ampliar o marcador da partida).

Eliminada da competição, diversas reflexões e lições. Abaixo, algumas delas:

1) Uma equipe sub-17 (equipe “B”) disputou um torneio sub-21. Desacreditada até pelos seus torcedores e pares chegou as 4as de final (JOGAR bem – que é diferente de JOGAR bonito – na maior parte das vezes vai levar a vitória, mas não a garante!);

2)  Uma equipe sub-17 jogou contra equipes sub-21 e para aqueles que ainda fragmentam o futebol, não levou desvantagens “físicas” (como isso foi possível?);

3) Ganha uma partida, aquela equipe que cumpre de maneira mais eficiente e eficaz a LÓGICA DO JOGO (qualquer outra coisa que digam, é “balela”);

4) A equipe “B” não ficou satisfeita, porque independente da descrença externa e da posterior bajulação por ter “ido tão longe”, foi aos “Jogos Abertos” para ser campeã; 

5) O tamanho de um homem não está nem em sua estatura (“altura”) e nem no número de anos que viveu. O tamanho de um homem está “dentro do peito” na força que carrega no seu coração.

É isso…

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C’est la vie

Dependência excessiva dos direitos de televisão, pouca qualidade em campo, poucos jogadores de renome internacional e, acima de tudo, péssima estrutura comercial dos estádios.

E um relatório mostrando tudo isso e pedindo mudanças por longas cento e sessenta e algumas páginas.

Poderia parecer algo da Itália, mas não é. Poderia também parecer alguma coisa do Brasil. Também não é.

O relatório é um panorama geral do estado atual do futebol francês. É. Francês. O país que sediou a Copa do Mundo há dez anos atrás. O país que remodelou seus estádios para hospedar o maior evento futebolístico do planeta. Esse mesmo país clama hoje por reformas em seus estádios.

O documento, entitulado “Accroître la compétitivité des clubs de football professionnel français”, foi escrito por Éric Besson, Secretário do Estado de Prospecções e Avaliações de Políticas Públicas da França. Lá, ele fornece números para provar que o futebol francês precisa de mudanças urgentes. Além dos estádios, ele reclama dos patrocínios, do desequilíbrio do campeonato e da baixa qualidade de performance das equipes francesas nas competições européias.

Em determinado momento, ele disserta sobre o fato dos impostos afastarem jogadores mais qualificados do território francês, o que possui reflexo direto na performance das equipes nos campeonatos europeus. Mas chega à conclusão de que não tem como mudar isso.

No fim das contas, o relatório é muito semelhante a qualquer outro relatório produzido em qualquer outro lugar do mundo que não Inglaterra e Alemanha. Sinal de que não basta estar em um país rico para se ter um futebol aparentemente saudável, ainda que existam incontáveis reclamações da comunidade local.

Faça-se ressalva, porém, à importância do futebol na cultura francesa, que nem chega perto de países como a Espanha e as supracitadas Alemanha e Inglaterra. O fato de Paris ser uma cidade com pouca cultura futebolística também não ajuda em nada o desenvolvimento do futebol local.

De qualquer maneira, é uma leitura elucidativa. Para achar o documento, basta colocar o nome no Google. É tão bom quanto qualquer documento público sobre o futebol. Vários dados e inúmeras informações. Resta saber se servirá para alguma coisa.

Na Inglaterra, um documento público mudou o rumo do futebol local. No Brasil, nem tanto. 

É a vida. 

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O jogar fazendo “pressing” e o jogar fazendo “pressão”

Alguns pesquisadores (que escrevem sobre tática no futebol) habitualmente não diferenciam, na perspectiva da organização defensiva, o “fazer pressão” e o “fazer pressing”. O principal argumento é de que boa parte da literatura sobre o assunto atribui ao pressing e a pressão características similares, os diferenciando apenas através do fato de que um é uma ação coletiva e o outro uma ação individual.

Dessa forma faria mais sentido, subdividir um ou outro, em individual e coletivo (exemplo: pressing coletivo, pressing individual) e não dar nomes distintos.

Há porém de se lembrar que se buscarmos na língua inglesa a palavra pressure (pressão), ela nos remetera a um conceito da Física de uma força que comprime; aperta, opõe. Já pressing, a algo urgente, premente, de necessidade imediata.

Então, numa reflexão não necessariamente muito filosófica, ao olharmos a “pressão” e o “pressing” pelos óculos do futebol, poderíamos propor, supor e considerar que o fazer pressão tem relação com a ação individual e/ou coletiva de oposição ao adversário atacando a bola (“apertando” e “incomodando” o adversário de posse da bola na tentativa de tentar roubá-la).

Sob a mesma perspectiva, fazer pressing, seria então uma ação individual e/ou coletiva (na maior parte das vezes coletiva) que visa diminuir em tempo e espaço a ação adversária, limitando as opções do adversário com bola e induzindo-lhe à pressa, gerando erro ou recuperando diretamente a posse da bola.

Considerar e entender as reais diferenças entre “pressão” e “pressing” não é apenas uma questão de vocabulário (como muitos devem achar!); é principalmente uma questão de modelo de jogo, e portanto da forma de se “treinar-jogar”.

Então, pressão: apertar. Pressing: causar pressa.

Nas boas equipes brasileiras, o mais comum quando ocorre, é o jogar a fazer pressão. Na maioria das equipes (ainda do Brasil), das boas às não tão boas, o mais comum de se ver é a pressão individual. Na Europa, em especial nos países que têm equipes que se destacam no futebol mundial, cada vez mais o que se vê é a utilização e o aperfeiçoamento do pressing.

Se existem as diferenças conceituais, na prática dos treinamentos elas acabam por se amplificar, e aí surgem as dificuldades para se alcançar certas organizações defensivas atribuindo ao jogador (e não ao treino, como deveria ser) a responsabilidade-culpa, pelo fracasso no cumprimento de determinados princípios de jogo.

O errado entendimento conceitual a respeito do pressing por exemplo, pode acabar por gerar sérias diferenças entre o jogar e o como se pretende jogar.

Não é incomum no caso do pressing, em vários níveis de treinamento e formação do jogador de futebol, tratá-lo como pressão. Isso já sabemos. Mas tão comum quanto, é o equívoco de “exercitá-lo”, ou sem considerar a complexidade de sua totalidade, ou considerando seus pedaços como “partes” de um todo e não fractais de uma grande “imagem”.

Para conseguir causar “pressa” quando se marca, é preciso lembrar que isso deve ocorrer sob a perspectiva do tempo e do espaço.

Então os treinamentos para se conseguir um pressing eficaz deveriam contemplar, “fractalmente” (de fractal) atividades que:

a)    por vezes potencializassem a necessidade de recuperar a bola reduzindo o tempo do adversário para estruturar a ação;

b)    que por vezes potencializassem a recuperação da bola reduzindo o espaço (em largura, profundidade, altura e apoio), ou melhor, as opções espaciais do adversário para estruturar a ação;
c)    e que por vezes (volto a salientar, “fractalmente”) potencializassem em mesmo grau de importância e necessidade da recuperação da bola através da redução de tempo e espaço do adversário (causando-lhe “pressa”).
 
Certamente mais comprometedor e grave do que não saber a diferença entre o que é pressão e o que é pressing, é conhecê-la (a diferença), mas não saber na prática, estimular um e/ou outro (pressão e pressing).

Mas essa é uma outra discussão.

Por fim, como diria o pensador Tedtage Noarie, nem tudo que acho que vejo; vejo. Porque nem tudo aquilo que vejo é o que realmente vejo. Então as vezes escolho fechar os olhos; as vezes ser enganado por eles…

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Influência de “terceiros” nos direitos económicos dos jogadores

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Um dos grandes asuntos do momento é a preocupação com a interferência de terceiros no business do futebol profissional. Com “terceiros” queremos dizer investidores que não fazem parte historicamente do futebol e que, com uma série de evoluções desse mercado, resolveram investir de alguma forma “na bola”.

É claro que, antes de mais nada, é preciso dizer que novos investimentos são, e devem sempre ser, vistos com bons olhos. Como dissemos na coluna passada, “fresh money” faz a indústria crescer, gerar novos empregos, etc. Porém, atenção deve ser redobrada para que os princípios básicos do esporte sejam sempre mantidos.

Na coluna passada falamos sobre os novos investimentos na aquisição de clubes de futebol. Problemas da multi-ownership, conflito de interesses, etc. Hoje, vamos tratar de outra modalidade de interferência de terceiros: a aquisição dos direitos econômicos dos jogadores.

A essa modalidade de negócios (alienação de direitos econômicos pelos clubes a terceiros) é prática comum na América Latina. Mas ganhou dimensão internacional principalmente depois do caso Tevez na Premier League, quando o West Ham utilizou esse jogador, juntamente com Mascherano, que pertenciam, em parte, à MSI.

Por essa utilização irregular, o West Ham foi punido pela Liga. E esta semana, recebeu outra “pancada”. Deverá indenizar o Sheffield, que foi relegado para a segunda divisão daquela temporada por motivos diretamente relacionados com a atuações daqueles jogadores. O caso agora foi encaminhado ao Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, Suiça.

A Fifa reagiu ao tema, e neste ano alterou seus regulamentos para tratar da questão. Hoje, oficialmente, nenhum clube poderia celebrar acordo com terceiros que de alguma forma interferissem na no contrato de trabalho, independência ou transferência dos jogadores, sob pena ter ter contra si a imposição de uma pena disciplinar.

A legislações nacionais, incluindo a brasileira, não proibe o negócio. Nem poderia. Trata-se de um contrato que, em princípio, preenche todos os requisitos para ter sua validade no mundo jurídico.

Porém, entendemos que esse assundo deve recair dentro do escopo da especificidade do esporte e, por se potencialmente prejudicial, deve merecer um tratamento jurídico específico.

A questão ainda está se iniciando. Algumas ligas européias já tratam da questão em seus regulamentos, como a inglesa e francesa. Mas, na maioria dos casos, a questão ainda é omissa, recaindo apenas na proibição imposta pela Fifa. Mas como essa nova disposição dos regulamentos da Fifa ainda não foi aplicada na prática, resta saber se na prática vai “colar”.

No próximo mês, as ligas européias estarão reunidas em Londres para discutir diversos assuntos em sua assembléia geral. Este será certamente um deles.

Vamos acompanhar o andamento e manter nossos leitores informados, como sempre.

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TPJO (Tensão Pós Jogos Olímpicos): “Fecham-se as cortinas e termina o espetáculo”

Sempre que se encerram os Jogos Olímpicos nós, amantes do esporte, sentimos aquele vazio, aquela tristeza, o famoso TPJO (Tensão Pós Jogos Olímpicos), o que fazer até passarem-se quatro anos ?  Afinal para quem vive do, pelo e para o esporte e nas horas vagas se entretêm com ele sem dúvidas vive um momento mágico.

Torcer, como um povo sofrido pelo sentimento de união da nação, de força, de superação. Criticar, como observadores, o planejamento, a falta de investimento, o desvio de verbas, o descaso com a ciência. Misturar entre tantos outros sentimentos, orgulho, frustração, indignação, alegria e emoção com o hino nacional raramente tocado. É sem dúvida uma complexa relação que estabelecemos com os jogos, para alguns excessiva, para outros natural, enfim opiniões tão diversas como as possibilidades de reflexão que se abrem.

Modernidade, organização, precisão, imagens sensacionais, não dá para esquecer da famosa imagem em “câmera ultra-lenta”, nem tão pouco das falhas como o sumiço da vara, que transformou a atleta Fabiana Murer em verdadeira protagonista de uma tragédia Grega.

Faço minha reflexão, com muito receio, pois dei uma repassada nos textos anteriores, e gostaria de ser menos pessimista e ranzinza com as questões tecnológicas no esporte nacional, sobretudo no futebol, mas sou brasileiro e não desisto de trazer em textos futuros boas novas para a torcida brasileira eternizada na voz do saudoso Fiori Giglioti, (que fico aqui imaginando como ele teria narrado o ouro de Cesar Cielo), mas enquanto isso tento me ater nas condições sob aquilo que conduz meus olhares.

Sempre ouvimos ao término dos jogos, o discurso de reflexão, de aprendizado, de evolução do esporte nacional, e ficamos numa análise mais racional desapontados com a distância que nossa estrutura está em relação as demais. Ouvimos promessas, expectativas de evolução fenomenal para o próximo e tão orgulhosamente chamado ciclo olímpico, mas o fato é que parece um discurso gravado numa fita cassete e transposto para um CD ou DVD, e provavelmente na próxima, esse discurso já esteja gravado no BLU-RAY (para alguns, a evolução do DVD).

Mas o amigo da Cidade do Futebol pode se perguntar o que dizer do Cesar Cielo ? Com muito orgulho e emoção vibrei com a conquista desse fantástico nadador brasileiro que treinou ou treina nos Estados Unidos com um técnico australiano, e que por sorte nossa não desistiu de representar seu país natal, que acredito pouco ter contribuído com o desenvolvimento desse campeão olímpico.

As cortinas foram fechadas, e é mais do que necessário para aqueles que defendem e atuam no esporte de competição em alto nível , que mais do que os batidos discursos, de nossos dirigentes, pós jogos olímpicos temos que observar profundamente as razões de tais diferenças. E esse observar vai muito além de por um óculos para enxergar melhor.

Nos aspectos tecnológicos a frase Alan Kay em destaque no inicio dessa coluna, representa um ponto importante no qual precisamos refletir.

Enquanto para nós o show de imagens é o marco da invenção tecnologia que fica desses jogos, para outros países habituados a tecnologia, que nasceram ou fizeram nascer deles inúmeros recursos, o desempenho esportivo é fruto de nada mais nada menos que um cotidiano de planejamento , de investimento (e isso falta no nosso pais, e não só no aspecto financeiro, mas também no aspecto de prioridade dos profissionais e capacitação para lidar e exigir tais condições).

Um cotidiano que leva o treinamento de um Michael Phelps para túneis de água e recursos biomecânicos para aproveitar sua estrutura corporal aos melhores e mais adequados movimentos dentro da água, que leva aos atletas o treinamento numa Hydro Physio Lifestyle Water Resistance, equipamento de treino resistido na água, que estuda ação dos adversários em busca do melhor proveito como a técnica da seleção feminina de futebol dos Estados Unidos, enfim poderíamos aqui enumerar uma gama de recursos e possibilidades que pudemos observar no decorrer desses jogos, mas seriamos extremamente repetitivos.

E antes que nos conformemos que tudo isso é muito caro para a realidade brasileira, lembro que temos no Brasil, empresas e universidades que desenvolvem grandes trabalhos e pesquisas, que acabam achando mercado muito mais receptivo fora do nosso país, principalmente pela capacidade dos profissionais estrangeiros de priorizar tais recursos no planejamento e treinamento.

Fica a reflexão, fica o olhar, ficam os recordes e as medalhas, ficam as imagens, mas sinceramente espero que não fiquem os discursos. Espero que possamos nascer para o mundo tecnológico no esporte.

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“A tecnologia só é tecnologia para quem nasceu antes dela ter sido inventada.”
( Alan Kay )

 

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4-4-2 x 1-4-4-2 e o jogo de ‘chutões’

No futebol, é comum e normal representar a plataforma de jogo (leia-se esquema tático) através de uma seqüência de três números. Da defesa para o ataque são então representados o 4-4-2, o 3-5-2, o 4-3-3 dentre tantos outros.
 
O goleiro não aparece, sob o típico argumento de que não é preciso representá-lo (porque ele vai ser o “1” que sempre estará ali).
 
Pois bem. Faz muito tempo que a função típica do goleiro em uma partida de futebol é defender a meta com qualquer parte do corpo; evitar o gol. Não tão óbvio quanto parece, esse pensamento (de que a função do goleiro é “defender a bola”) acaba por desencadear avanços e retrocessos táticos importantes na forma de jogar das equipes de futebol.
 
Basta assistir a alguns jogos da Uefa Euro 2008 para notarmos diferentes propostas trazidas pelas equipes para “o jogar” e o quanto parte dessas propostas estão atreladas ao goleiro.
 
Para trazer mais clareza a minha explanação vou reproduzir parte de uma pergunta feita a mim por um correspondente holandês depois de assistir a um jogo do Campeonato Paulista juvenil (sub-17):
 
“Em muitos momentos o jogo ficou feio de assistir. Muitos chutões por parte das duas equipes. Daqui alguns anos esses jogadores estarão em uma equipe profissional. Não é preocupante que os jogadores que estão sendo formados na base não consigam um jogo de toques de bola e precisem usar o tempo todo chutões para se livrar do perigo”?
 
Claro!
 
Que bom ouvir uma pergunta dessas de alguém que se relaciona com a imprensa esportiva (porque aqui no Brasil na grande maioria das vezes o nível dos comentários e perguntas dos “especialistas esportivos” na TV, no jornal, no rádio ou na internet são… bom, deixa “pra lá”).
 
Grandes equipes européias de sucesso estão a utilizar, já há algum tempo, o goleiro como 11º jogador de linha da equipe. E aí seja para controlar o jogo, defender com bola ou tirá-la da pressão em uma jogada qualquer, as alternativas e possibilidades se enriquecem bastante.
 
Com as seleções nacionais da Europa, a mesma coisa. Na Uefa Euro 2008 temos equipes que incorporaram em suas estratégias para o jogar a ação efetiva do goleiro como um jogador que além de ser bom com as mãos para defender é eficiente com os pés para participar da construção do jogo.
 
Como nossos “grandes comentaristas esportivos” devem gostar do jogo de chutões e devem estar enraizados no conceito de que o goleiro está ali para defender o gol e ponto final, acabam por se “desesperar” quando a bola é recuada para o goleiro. Como são formadores de opinião, não é incomum perceber o “frisson” das grandes massas e torcidas quando ocorre o fato e se está a assistir ao jogo ao vivo.
 
É claro que o chutão às vezes pode ser necessário. Se a melhor (mais inteligente, efetiva e eficaz) solução para uma situação do jogo for um chutão, é claro que ele precisa ocorrer. Mas garanto que na maioria das vezes ele não é necessário (principalmente no Brasil, onde o “pressing” é um conceito distante, e a “pressão” em grande parte das vezes é desorganizada e não-coletiva).
 
Porém, muitas vezes a sensibilidade de quem assiste ao jogo não dá conta de perceber essas coisas. E aí, reproduz-se o que sempre se reproduziu, pensa-se o que sempre se pensou.
 
E o que vale para o goleiro, vale para os zagueiros, laterais, volantes ou qualquer outro jogador pressionado em seu campo de defesa.
 
O problema é que talvez no Brasil a dificuldade para construir essa idéia se solidifique no ciclo vicioso criado pela disseminação de uma leitura sobre o jogo que muitas vezes se distancia do próprio jogo. Então, jovens jogadores nas categorias de base, contaminados pelo ciclo e gerenciados por treinadores já “viciados”, não conseguem se desprender do doente processo.
 
Investir em bons trabalhos, com pessoas realmente competentes é possível.
A partida que o correspondente holandês assistiu, felizmente foi atípica, pelo menos para uma das equipes (porque o chutão não é uma solução padrão para ela).
 
Porém, talvez seja uma das poucas remando contra a maré; e remar contra a maré é para os fortes (e esses não são muitos)!
 
Que o processo mude, e rápido, porque pelo menos para nós brasileiros se isso não acontecer, não estará longe o tempo em que ficaremos fora de nossa primeira Copa do Mundo (e longe ficará o tempo que entenderemos porque a França nos venceu em 1988 e 2006).
 
Por fim, que um dia o 4-4-2 e o 1-4-4-2 (ou o 4-3-3 e o 1-4-3-3, ou o 3-5-2 e o 1-3-5-2, etc. e tal) tenham realmente significados práticos diferentes, e que os nossos formadores de opinião da imprensa especializada, em geral, possam ver o jogo mais próximo do que ele realmente é.
 
Au revoir…

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