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Relato de experiência: 2º festival de mini-futebol da Universidade Católica Dom Bosco – 2008

Hoje, o futebol é responsável pela maior competição individual do mundo, caracterizada como a copa do mundo de futebol, realizada a cada quatro anos em algum país: é uma grande festa do esporte mundial. No Brasil, a festa é linda, mas está longe ser um grande espetáculo onde todos possam assisti-lo sem medo de ser agredido, com segurança e tranqüilidade.

O futebol no Brasil atualmente movimenta cerca de 16 bilhões de reais por ano e tem aproximadamente 30 milhões de participantes. É uma paixão nacional. A cada canto que olhamos, observamos alguma coisa que nos lembra que somos brasileiros, como campinhos em lugares inimagináveis, garotos adaptando bolas com meias e garrafas pet etc.

Praticamente todos os dias, na frente da minha casa em Botucatu interior de São Paulo, eu e meus amigos jogávamos um futebol alegre e cheio de ingenuidade. Nosso campo era a rua, as traves eram feitas de pedaços de tijolos ou chinelo, e para melhorar, a rua era inclinada, era uma ladeira, mas tínhamos que jogar lá, pois na melhor rua de se jogar havia uma senhora que quando a bola caía em seu quintal adorava furá-la. Neste jogo de futebol a regra mais respeitada era a de que quando um dos times tivesse marcado cinco gols deveríamos trocar o lado do campo, a famosa frase “vira cinco termina a dez”. Coisa mais triste era buscar a bola na ladeira!

Porém, o futebol tem o poder de influenciar os brasileiros, tanto no cunho positivo quanto negativo. Não é difícil ver uma criança proferindo xingamentos ou gestos inadequados em um campo de futebol, isso pela simples repetição. Portanto, já que as pessoas são tão influenciadas pelo futebol em nosso país, devemos aproveitar essa modalidade da melhor maneira possível usando-a como um esporte educacional, pois entendo que a formação na infância reflete no atleta do futuro (FREIRE, 1998; KUNZ, 2005).

O grande problema para conseguir fazer do futebol um esporte educacional é a super-valorização dos jogos competitivos, enfatizando cada vez mais a vitória e deixando de lado aspectos importantes na formação integral dos praticantes, aspectos estes que os profissionais de educação física devem valorizar e priorizar (KUNZ, 2003).

O currículo do curso de educação física sempre contemplou a disciplina de esporte coletivo futebol. Atualmente, com a divisão das grades curriculares do curso de educação física em licenciatura e bacharelado nas universidades, essa disciplina é trabalhada não apenas tratando o futebol como esporte de rendimento, mas principalmente como prática pedagógica, desenvolvendo atividades que respeitam os estágios de crescimento e desenvolvimento das crianças.

Dessa forma, é fundamental para a formação integral dos alunos de graduação que eles tenham a vivência prática das modalidades esportivas. O festival de mini-futebol idealizado pelo professor Fabricio Ravagnani, do curso de Educação Física da UCDB, permite que os acadêmicos de Educação Física vivenciem os componentes que norteiam a modalidade, em cada estágio de desenvolvimento da criança, desenvolvendo os aspectos físicos, técnicos, táticos, clínicos, administrativos além dos aspectos educacionais como os éticos, sociais, cognitivos, motores, estéticos, e afetivos do esporte (Brasil, 1998).

O mini-futebol é um jogo adaptado do futebol, futsal e futebol de rua (FutRua), que tem como principal característica sua regra simples e de fácil compreensão, ou seja, traves pequenas e adaptadas e número reduzido de atletas. Tudo isso para fazer com que os praticantes toquem na bola com mais freqüência e, conseqüentemente, haja uma maior possibilidade de se fazer o gol, facilitando a dinâmica do jogo e contribuindo com aprendizado das crianças de forma integral.

Minha experiência mais marcante com o mini-futebol foi por volta de 1984, onde tive a feliz oportunidade de conhecer um senhor chamado Amauri Spana, pai de um grande amigo, Vinicius Spana. Sujeito divertido, bem humorado, ou seja, detentor de um dom para trabalhar com criança. O Sr. Amauri nos presenteava todo ano com um festival de mini-futebol. Este era realizado em sua casa, levando em consideração todas as características do Mini-Futebol citadas acima, lembrando muito o futebol de rua, porém, muito bem organizado. Até nossa premiação era confeccionada pelo Sr. Amauri, com restos de madeira da serraria que tinha perto de casa. Tenho a profunda convicção de que este senhor contribuiu com a minha formação como cidadão e poderia contribuir ainda mais se fosse formado em educação física.

Portanto, o objetivo do 2º Festival de Mini-Futebol da UCDB 2008 foi oferecer aos acadêmicos a oportunidade de vivenciar a construção de um evento de futebol desde a organização até o treinamento das equipes, possibilitando, assim, às crianças participantes, o convívio e integração social, além da iniciação esportiva com jogos adaptados.

O 2º Festival de Mini-Futebol da UCDB 2008 teve a participação de 15 equipes, totalizando 180 crianças, entre 10 e 12 anos que estudavam em escolas públicas municipais, estaduais, particulares ou eram participantes de projetos comunitários. O evento contou com abertura oficial coordenada pelos acadêmicos do 5º semestre de Educação Física, onde todas as equipes participaram, juntamente com seus técnicos (acadêmico).

Os jogos do Mini-futebol tiveram início logo após a abertura e foram feitos no campo de futebol da UCDB. As equipes participantes foram divididas em 04 campos adaptados. Na parte da manhã, foram realizados os jogos classificatórios e o almoço; na parte da tarde, os jogos da fase final.

Os acadêmicos do Curso de Educação Física do 6º Semestre diurno eram responsáveis pela organização geral do Mini-Futebol. Portanto, desenvolveram atividades, como treinamentos das equipes participantes, arbitragem dos jogos, construção das regras, limpeza do local, alimentação entre outras. O festival de Mini-Futebol da Universidade Católica Dom Bosco de 2008 era requisito básico para os acadêmicos da UCDB serem aprovados na disciplina de esporte coletivos futebol/futsal.

As seguintes regras foram criadas e utilizadas no 2º Festival de Mini-futebol da (UCDB) 2007/2008:

1 – Toda partida
Em todas as partidas, deve ser entregue ao árbitro de mesa, antes do início do jogo, uma relação com nomes dos jogadores que iriam atuar e seus respectivos documentos ( cópia da certidão de nascimento).

2 – Área de jogo
2.1 – Dimensões e marcações do campo de jogo

O campo de jogo pode ser marcado com linhas ou coisa semelhante. O campo deve ser retangular, o comprimento da linha lateral deve ser superior ao comprimento da meta. As duas linhas de marcação mais compridas denominam-se linhas laterais e as duas mais curtas chamam-se linhas de meta. As medidas podem ficar entre 38 a 42 metros de comprimento e 20 (vinte) a 24 (vinte quatro) metros de largura.

O campo de jogo também deve ser dividido em duas metades por uma linha média ou marcação semelhante. A área do gol deve ter 2 metros de comprimento por 2,5 metros de largura e o círculo central com 3 metros de raio.

2.2 – Distância do pênalti
Todas as cobranças de pênalti devem ser feitas da marca do meio campo, assim como o tiro livre direto.

2.3- Metas

As medidas das metas devem ser de 1 metro de altura por 1,5 metros de largura.

3 – Formação das equipes
A partida deve ser jogada por duas equipes, formadas por no máximo 6 jogadores cada uma, e o banco de espera não poderá exceder a 6 participantes. Perfazendo um total de 12 participantes para cada equipe. A idade dos participantes deve ser descrita na regra.

3.1 – Número mínimo de jogadores em campo A partida só pode ter início com o número mínimo de 4 jogadores para cada equipe. A equipe que estiver com menos de 4 jogadores em campo, para o início, ou reinício do jogo, será considerada perdedora.

3.2 – Obrigatoriedade de participação de todos os atletas
É obrigatório que todos os jogadores participem das partidas, por isso o professor de cada equipe deve colocar seis jogadores no 1º tempo de jogo e os outros seis no 2º tempo de jogo, em caso de equipe completa.

OBS: Caso a equipe tiver um número reduzido de atletas, o professor poderia manter a base da equipe que iniciou o 1º tempo de jogo, mas tendo a obrigatoriedade de colocar no 2º tempo de jogo, os jogadores que não participaram do 1º tempo de jogo.

4 – Substituições
É obrigatória a participação de todos os jogadores na partida, as substituições só poderão ocorrer quando um atleta sofrer alguma contusão e precisar ser substituído. Uma vez o jogador substituído, não mais poderá voltar ao jogo. Lembrando que o professor deverá colocar sempre equipes diferentes em cada tempo de jogo.

5 – Bola
A bola se possível deve ser leve e menor que as profissionais, tentando se adequar a idade da criança.

5.1 – Bola fora de jogo
Quando a bola sair completamente, quer pelo solo, quer pelo alto, pelas linhas laterais ou de fundo.

5.2 – Tempo para reposição da bola em jogo
O jogador, após o silvo do apito do árbitro terá 10 segundos para repor a bola em jogo.

5.3 – Situação de uma bola defeituosa
Se a bola estoura ou se danifica durante uma partida, o jogo será interrompido e se reiniciará por meio de bola ao chão, com uma nova bola no mesmo lugar onde a primeira se danificou.

5.4 – Gol
Será marcado (validado) o gol quando a bola ultrapassar por inteiro a linha da meta, pelo ar ou pelo solo.

6 – Equipe de arbitragem
6.1 – Número de árbitros

A equipe de arbitragem deve ser composta de dois árbitros, sendo classificado como arbitro principal e auxiliar e de um mesário sendo classificado como anotador. Cada nova partida poderá haver mudanças entre eles.
Obs: A partida poderá ser realizada sem o auxiliar, porém nunca sem o mesário (anotador) será impossível.

6.2 – Mesário (anotador)
Deverá fazer todas as devidas anotações, averiguar a entrada dos atletas em campo e poderá, quando solicitado, auxiliar o árbitro durante a partida.

6.3 – Encerramento do jogo
Será de total responsabilidade de um dos árbitros.

7 – Equipamento dos atletas
7.1 – Uniformes

Camisas padronizadas para os jogadores da mesma equipe com numeração em fita ou outros.

7.2 – Igualdade de uniformes
Caso haja igualdade de uniformes, haverá sorteio para definição da equipe que jogará com os coletes para a diferenciação entre as equipes.
Obs: Os coletes devem ser oferecidos pela organização do festival.

7.3 – Calçados e meias
É expressamente proibido o uso de chuteiras de travas altas, podendo ser usado as chuteiras do futebol Society ou qualquer outro tipo de tênis sem travas, até mesmo descalço. Podem ser usadas meias de cano curto ou meiões.

8 – Início, duração e maneira de vencer o jogo
8.1 – Escolha de campo e de bola

A escolha do campo e da bola será feita através de sorteio.
O pontapé inicial será dado no centro de campo, em direção ao campo adversário. A bola deverá ser passada para o companheiro em direção do campo adversário. Os jogadores adversários devem ficar a uma distância de no mínimo 3 metros para início e reinício da partida.
8.2 – O tempo de jogo
A duração de jogo deve ser de 20 minutos, divididos em dois períodos de 10 minutos corridos, com intervalos de 3 minutos para troca de campo, jogadores e alternância do pontapé de saída.

Obs.: O árbitro tem o poder de parar o cronômetro em casos especiais e o tempo de jogo na semifinal poderá ser aumentado, caso todos os semifinalistas concordem. Caso não haja um consenso permanece o mesmo tempo das partidas anteriores.

8.3 – Vencedor do jogo
Será vencedora a equipe que marcar o maior número de gols.

8.4 – Em caso de empate
Caso ocorra o empate no tempo normal de jogo, devem ser realizadas cobranças de pênaltis, onde todos que estão em campo devem cobrar o pênalti. (As cobranças da primeira série dos pênaltis devem ser alternadas). Havendo a persistência do empate, cada equipe terá direito a uma cobrança de pênalti até que se defina um vencedor, sendo obrigatório o rodízio de cobradores.

8.5- Fim de jogo
Para encerrar a partida, o árbitro terá que esperar a bola sair de jogo

9 – Tiro livre direto
A partir da 6º falta coletiva dentro de cada tempo será cobrado o tiro livre direto, da marca do meio campo.

10 – Tiro de canto
Acontecerá quando um atleta colocar a bola para fora da sua linha de fundo do seu campo. Será cobrado com o pé, dentro do campo e bola dentro do meio círculo, com o adversário no mínimo a 3 metros de distância da cobrança. Poderá haver gol através da cobrança do tiro de canto. O jogador terá de 5 a 10 segundos para a cobrança, se não o fizer será passivo de advertência.

11 – Lateral
Ocorrerá quando o atleta colocar a bola além da linha demarcatória do campo (lateral). A cobrança do lateral será com as mãos ou com os pés (opcional). Caso a cobrança seja realizada com o pé a bola terá que estar parada em cima da linha lateral e o pé de apoio para a cobrança não poderá estar dentro de campo. Neste caso, do lateral cobrado com o pé, deverá ser respeitada uma distancia mínima de 3 metros por parte do adversário. Quando optar pelo lateral cobrado com as mãos, não há necessidade de distância mínima por parte do adversário, lembrando que a regra do lateral feito com as mãos segue as regras da Fifa.

Só poderá ser validado um gol diretamente através da cobrança do lateral quando a bola tocar em outro atleta. O lateral será cobrado atrás da linha. Se infringir esta regra, a equipe poderá ser punida

12 – Faltas, infrações e punições
12.1 – Tiro livre.
Somente em caso de obstrução da bola dentro da área e em casos de empate durante a fase eliminatória.

12.2 – Cartão amarelo
Será dado cartão amarelo, quando o jogador: retardar a reposição da bola em jogo; infringir insistentemente as regras; cometer falta grave; manter conduta anti-desportiva.

12.3 – Cartão azul
O jogador ou membro da comissão técnica, quando punido com o cartão azul deverá ficar por 2 minutos fora do jogo ou do campo de jogo, quando a punição for para o técnico (acadêmico). Quando a equipe se recusar a continuar em uma partida será declarada perdedora, independente do placar.

Quando ofender com palavras qualquer participante do jogo, da sua organização ou do público o jogador será punido com o cartão azul e deverá ficar fora do jogo pelo período de 2 minutos, e se o jogo for paralisado por ofensa ao público ou corpo técnico, o jogo será reiniciado com bola ao chão.

13 – Paralisação da partida
13.1 – Se o árbitro paralisar a partida, sem haver infração, com a bola em jogo, a mesma será reiniciada com bola ao chão.

14 – Premiação
Todas as equipes e seus jogadores devem receber um prêmio pela participação.
As regras citadas anteriormente foram adaptadas às necessidades dos alunos da (UCDB) e para esse festival específico. Assim, estas regras são passíveis de novas adaptações para se adequarem às necessidades de outros eventos (DUART, 2005).

Concluo que o evento teve su
cesso e atingiu às expectativas dos acadêmicos e do professor. Além disso, todas as crianças e pais participantes tiveram um dia diferente do seu cotidiano. O comportamento das crianças e acadêmicos foi exemplar, reforçando a possibilidade de se trabalhar o futebol como esporte educacional. Sugerimos esse tipo de evento para todos que trabalham com modalidades esportivas, sejam nos bairros, clubes, escolas ou universidades.

Dessa forma, considero o Mini-Futebol uma boa proposta para desenvolver o processo ensino-aprendizagem do treinamento de futebol de forma simplificada, viável e educativa.

Bibliografia

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais (PCN): Educação Física / MEC / SEF, p. 114, 1998.
DUART, ORLANDO. Futebol regras e comentários. SENAC, São Paulo, 2005
FREIRE, JOÃO, BATISTA. Pedagogia do futebol. Ney Pereira, Londrina, 1998.
KUNZ, ELUNOR. Didática da educação física: Futebol. 2º ed. Unijui, 2005.
KUNZ, ELUNOR. Trasformação didática-pedagógica do esporte. 5ºed. 2003
SCAGLIA, ALCIDES, JOSÉ. Escolinha de futebol uma questão pedagógica. Rev. Motriz, V. 2, N.1, junho, 1996.