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Gurus

Pesquisando em um banco de dados pessoal, encontrei alguns ensinamentos do guru Randolf Brenan, que teceu alguns pensamentos relacionados a comportamento social, os quais procurarei analisar sob a ótica do futebol:

1. “Esperteza é sinônimo de desonestidade”

Já ouvi algumas vezes a frase no meio do futebol: “ah, aquele cara é bom, mas é muito sincero. O futebol é dos espertos!”. Isso cheira a desonestidade, na minha modesta opinião. Devemos ser astutos até o limite daquilo que a legislação permite e os códigos de ética pré-estabelecidos na nossa sociedade estipulam. O resto é desculpa para a transgressão, que nada tem a ver com os ideais propostos pela natureza do esporte.

2. “Confiar e conhecer as pessoas antes de julgá-las, sem adotar qualquer pré-conceito”

Vemos muito isso no ambiente do futebol: por vezes um determinado treinador não serve porque não foi jogador. Outros já o excluem por ter sido atleta profissional e não sentou em um banco escolar acadêmico. O conhecimento científico é fundamental no mundo do futebol, mas o conhecimento tácito por vezes é de extrema relevância também para um ambiente de gestão de um grupo de atletas e a participação em um contexto de comissão técnica.

José Mourinho explica em um de seus livros que não prescinde de um membro em sua comissão técnica que tenha sido ex-jogador por reconhecer sua habilidade de lidar de maneira distinta com os atletas. Por outro lado, a capacitação contínua e até acadêmica é importantíssima para ex-atletas que desejam ascender em uma carreira no esporte.

O fato é que, de ambos os lados, percebe-se um pré-julgamento desnecessário entre os pares que só prejudica a ampliação de conhecimento, saindo da prática para a área acadêmica.

3. “Paciência e análise, em muitos casos, dá mais resultado do que ações e execuções desesperadas”

Vamos bater novamente na tecla do planejamento: vi e continuo vendo muitos clubes com trabalhos mal sucedidos por total falta de critérios e processos em sua gestão global. Dizem alguns: “precisamos subir de divisão neste ano, do contrário o clube fecha!”. E passam a contratar e mandar embora treinadores; contratar e mandar embora jogadores, formando um ciclo vicioso que não contribui em nada para uma perspectiva de futuro e prejudicando a sustentabilidade da instituição no longo prazo.

As entidades com o mínimo de estratégia e visão de futuro têm se mostrado com as melhores estruturas para o alcance de resultados em um patamar regular no alto nível.

Explicação final:

Tomei a liberdade de utilizar o espaço por uma questão pessoal e agradeço antecipadamente a concessão do mesmo pela Universidade do Futebol nesta semana. Fiz uma brincadeira com o Randolf Brenan, que é na verdade um nome fictício criado pelo consultor Max Gehringer, quando quis passar uma mensagem diferente para o seu público sobre o mundo corporativo.

Copiei o modelo com a finalidade de fazer uma justa homenagem ao meu pai, Sr. Juvêncio Campestrini. As frases e ensinamentos do tal “guru” são, na realidade, dele. Meu pai, hoje com 55 anos, juntamente com minha mãe, Rosemarie, sempre foi e é um eterno incentivador da minha carreira e da minha irmã, hoje na Itália cursando Engenharia Ambiental.

Na última semana me dei conta que completei 10 anos de profissão, ou melhor, que pelo menos entrei na área de Educação Física e Esportes. Em 2001 comecei o curso de Ciência do Esporte na UEL e desde então tive o apoio e a força irrestrita deles ao longo de toda a caminhada que percorri e venho percorrendo, com a conclusão do curso da pós-graduação, do mestrado e das atividades profissionais que vim desempenhando no período.

O meu “guru” tem um significado todo especial para mim. Guardo e tento reproduzir seus ensinamentos no dia a dia e, se algo dá errado, percebo que por algum motivo não fui um bom aluno em alguma de suas lições.

Tenho certeza de que todos os leitores possuem algum “guru”, seja ele na figura paterna, materna, de avós, professores, líderes, treinadores, chefes, padrinhos, tios, amigos – enfim, pessoas que contribuíram para a formação do caráter e, por isso, são fundamentais em nosso crescimento.

Entendi mais do que justo fazer referências à pessoa que me ajudou, ajuda e continuará tendo uma importância fundamental em minha vida! Obrigado por tudo nestes últimos 10 anos (ou quase 30 de vida) e que venham os próximos…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Cobrar faltas tipo topspin, sidespin, knuckleball: isso é futebol?

Olá, amigos!

Li uma reportagem no portal G1 sobre um estudo das cobranças de faltas, tendo como tema central o jogador Juninho Pernambucano, do Vasco da Gama. A proposta foi realizada por Ken Bray, do departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Bath, na Inglaterra.

Não tive a oportunidade ainda de ler o estudo original, mas com base na matéria, podemos extrair um rico tema para debate e reflexão.

Em entrevista ao portal, o cientista relatou sobre os tipos de cobranças de faltas. E pelo que se percebe, a ciência identificou três variações de cobranças, assim classificadas:

Topspin: efeito que faz a bola realizar um movimento de subida e queda repentina; tal queda é responsável por fazer com que a gravidade ajude a bola a atingir uma mudança brusca de velocidade no movimento descendente.

Sidespin: efeito lateral na bola; a bola gira sobre um eixo vertical, movendo-se para um dos lados de forma incisiva.

Knuckleball: que praticamente não coloca efeito na bola (spin), o que chamaríamos no popular “futebolês” de chute “chapado”, reto; assim, a bola sofrerá apenas as forças aerodinâmicas, tendendo a se mover de forma imprevisível.

Nesse aspecto, as mudanças do material, de gomos e tecnologias aplicadas na construção da bola interferem bastante também.

Vimos que o estudo do futebol pode ser complexo e detalhado, mas para nós é imprescindível enxergar e visualizar como esse estudo pode ajudar no desenvolvimento do jogo. E talvez aí seja o ponto tão discutido por todos sobre a rixa “acadêmicos x profissionais”, a qual, pessoalmente, pode ser tanto para um como para outro uma vaidade exacerbada e prepotência, já que uma não é indissociável da outra.

Pois bem: se foram identificados esses três tipos de cobrança, podemos superficialmente lançar dois desafios para o desenvolvimento do jogo.

1. Como fazer para analisar tais variáveis e identificá-las nos perfis de cobradores de faltas adversários de forma a ajudar o goleiro de nossa equipe a ter uma intervenção mais precisa?

2. Como desenvolver formas de treinamento, respeitando as capacidades e habilidades de cada jogador, já que podem apresentar ou não competências para tais tipos de efeitos nas cobranças, para que nossos atletas sejam formados com possibilidades variadas de realizar as diferentes ações?

Desta forma, acredito que estaríamos fazendo o papel de integrar tecnologia, ciência e prática, e não ficarmos, como fazem alguns, criticando o estudo por não servir para nada; ou como fazem outros, que acham que essa é uma das maiores descobertas do futebol, sem sequer saber como isso de fato pode ser útil.

E mesmo assim não podemos encerrar a discussão (que não é breve nem simples) sobre esses dois desafios, porque como bem sabemos, não adianta ser um excelente executor desses três tipos de faltas sem o elemento tático primordial nesse momento, que é tomar a decisão de escolher a melhor solução.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Obrigado

Algum dia a hora chega. Já são quase seis anos aqui neste espaço. Tempo de muito aprendizado e de uma oportunidade tremenda de poder mostrar um pouco mais do que penso a respeito de futebol.

Infelizmente, a partir de hoje, deixo este nobre espaço. A agenda corrida já não estava permitindo que semanalmente eu conseguisse escrever meus textos para a Universidade do Futebol. Entre deixar o leitor na mão ou abrir mão de escrever, acredito que o mais correto é abrir o caminho para quem tem muito a compartilhar com você.

Toda despedida é dolorosa. Mas só tenho a deixar aqui o meu agradecimento para quem me ensinou muito ao longo desses seis anos.

O mestre Medina, os companheiros Tega e Afif, o amigo de toda hora Gheorge. Sem eles, nada do que você aprende diariamente nesta universidade virtual seria possível. Pode ter certeza que é da dedicação de grandes figuras como eles que foi possível termos essa evolução no futebol brasileiro nos últimos anos.

Não, ainda estamos muito longe de chegarmos ao mundo ideal. Mas é a troca de conhecimento que permite o crescimento. E é esse o maior legado da Universidade ao futebol brasileiro. Técnica, tática, treinamento, fisiologia, nutrição, administração, marketing, comunicação… Tudo está interligado e explicado nessa grande teia de conhecimento que é a Universidade do Futebol.

Por isso mesmo que é tão difícil dizer adeus. Muito mais com cara de um “até logo”. Agora é hora de reciclar, rever conceitos, relaxar um pouco a cabeça para poder aprender ainda mais. Enquanto isso, assumirei a condição de internauta, para conseguir rever conceitos e ampliar o conhecimento.

Obrigado a você, leitor. E, especialmente, a esses amigos tão especiais da Universidade. Sem vocês, podem ter certeza, nada tem sentido. Agora chegou a minha hora de vir para o lado de cá e “cornetar” um pouquinho.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Copa América de futebol 2011: primeiro raio-x da seleção brasileira de Mano Menezes e o jogo contra a Venezuela

A atuação da seleção brasileira de futebol não deve ter agradado a maioria dos torcedores, especialistas e pseudo-especialistas em sua estreia contra a seleção da Venezuela, na Copa América 2011.

Com três atacantes, com uma proposta de pressão constante sobre a bola já no campo de ataque, e com a tentativa de tornar velozes as construções e as transições ofensivas, a expectativa sobre o desempenho da equipe do Brasil antes da partida era muito grande.

Pois bem.

O jogo terminou empatado (0 a 0), e as críticas (inevitável) já começaram.

Dentro do Modelo de Jogo proposto pelo Brasil, talvez tenha sido, o início do jogo, o momento de sua melhor expressão.

Tentativas intensas para tentar recuperar a bola, progressões rápidas ao ataque, boa ocupação do espaço e boa mobilidade. Características, comportamentos e ações que foram se diluindo com o tempo e quase desapareceram durante o jogo.

Se compararmos, como exemplo, os mapas de calor do 1º e do 2º tempos de jogo, notaremos a grande diferença na ocupação do espaço entre as duas etapas, e quanto ela (a ocupação espacial) foi perdendo densidade pelas laterais e ficou “pesada” pelo corredor central do campo de jogo.


 

No mapa de calor, cores quentes representam maior concentração de ações e cores frias, menor concentração de ações.

Então, a cor vermelha representa maior concentração de ações do que a laranja, que representa maior concentração do que a amarela, que representa maior concentração do que a verde, que representa maior concentração do que a azul.

Notemos que no 1º tempo da partida, o Brasil conseguiu, de maneira geral, uma ocupação razoável das faixas laterais esquerda e direita na intermediária ofensiva.

A boa amplitude só não foi eficiente porque, além de não estar tão avançada quanto deveria (a ocupação lateral), também não encontrou concentração condizente no corredor central, em regiões mais próximas do gol.

Apesar das infiltrações constantes do jogador Ganso, em tentativas de aproximação do atacante Pato, o desenho tático do Brasil ao atacar (algo próximo de um 1-3-3-4, variando para um ofensivamente mais eficiente, porém com dificuldades na transição defensiva, 1-2-4-4) não conseguiu levar vantagens numéricas setoriais no confronto com o desenho tático venezuelano.


 

No 2º tempo da partida, as regras de ação e de ocupação do espaço do Modelo de Jogo da seleção brasileira se perderam.

Além da dificuldade para atacar a bola (uma dificuldade aparentemente, mais do comportamento individual não condicionado dos jogadores, do que somente da tática coletiva), podemos observar no mapa de calor, na 2ª etapa do jogo, que a estruturação do espaço perdeu em amplitude, volume e proximidade do gol de ataque.

A má ocupação espacial geral fez com que o Brasil tivesse no jogo 83% de aproveitamento nos seus passes (a Venezuela 71%) – e Ganso, que pouco costuma errar, 58% (26 passes/15 acertos).


 

Ao observarmos a posição média dos jogadores do Brasil no 1º tempo, podemos notar que boa parte da amplitude conseguida pela seleção brasileira deu-se principalmente pela participação dos laterais, e que de certa forma o “centro de gravidade da equipe” (leia sobre o assunto – Leitão, R.A.A. O centro de gravidade do jogo e o centro de gravidade das equipes que jogam: a influência dos atratores. Anais do Congreso Internacional de Fútbol de Valencia. 2009) esteve no seu campo de ataque.

O centro de gravidade da equipe no campo de ataque, associado às imagens do jogo, mostra que em boa parte da 1ª etapa o Brasil teve um grande número de jogadores ocupando o espaço ofensivo do campo, o que, além de possibilitar (em tese) manutenção da bola neste setor, poderia facilitar o ataque a bola logo após sua perda.

No entanto, a sincronização coletiva para pressionar a bola, e o hábito não condicionado de pelo menos cinco dos seis jogadores que iniciaram o jogo, propiciaram, sim, algumas vezes recuperação rápida da bola, mas muito distante da meta ofensiva.


 

No 2º tempo do jogo as coisas ficaram um pouco mais difíceis, especialmente porque a ocupação do espaço de ataque piorou, a mobilidade diminuiu, o centro de gravidade “baixou” e a pressão coletiva sobre a bola diminuiu muito em eficácia.

No geral do jogo, diria que ficou clara a proposta e o modelo idealizado por Mano Menezes – me parecem muito interessantes.

Condicionar o comportamento individual e coletivo para credenciar a seleção brasileira a cumpri-lo me parece um problema de tempo.

Da mesma forma, me parece um problema de tempo melhorar a “resistência de concentração” para jogar o jogo que se deseja, em seus 90 minutos.

O tempo, no entanto, é algo escasso no futebol, e especialmente na seleção brasileira, que terá pouquíssimos jogos oficias até a próxima Copa do Mundo (e cobranças estrondosas).

Mano Menezes já mostrou competência em um passado não muito distante para montar boas equipes, conquistar títulos e gerenciar grandes estrelas e torcidas do futebol.

O jogo que a seleção brasileira quer jogar me parece um bom jogo. Mas as únicas seis finalizações que conseguiu na partida contra a Venezuela mostraram que a distância entre o jogo que ela pode jogar hoje, e o jogo que ela quer jogar, ainda é grande.

Para mais informações específicas sobre o duelo em questão, leia o relatório completo da Scout Online. Clique aqui.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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A mesada do papai

Você sabia que um dos melhores jogadores do mundo – seguramente vai ser o melhor em breve – ainda ganha “mesada” do pai?

Sim, Neymar, o brilhante “Menino da Vila”, recebe R$ 10.000 todo mês, das mãos do seu pai.

Ok. R$ 10.000 é muita coisa.

OK, mas é muito menos do que os contratos assinados pelo jogador, com o Santos e com os patrocinadores, lhe asseguram.

Ok, mas isso não interessa aqui.

O que interessa é a educação financeira que o pai do prodígio lhe transmite, independentemente de múltiplos assessores que rodeiam o craque nas mais distintas áreas.

Com 13 anos, Neymar recebia do Santos um salário de R$ 30.000.

O pai, então, decidiu se dedicar integralmente ao filho nessa educação e gestão da carreira.

E tinha muita experiência, porque, em suas próprias palavras, “sabia muito o que fazer para uma carreira não dar certo”, uma vez que havia sido jogador medíocre e perambulado por vários clubes pequenos profissionalmente.

À experiência, somou-se a autoridade paterna, vinculando o aumento da “mesada” às metas atingidas.

O pai deixou o filho comprar o primeiro carro, com 18 anos… financiado em 48 vezes, em parcelas pagas que cabiam no bolso.

Queria um carro melhor e mais caro.

O pai disse que se fosse artilheiro do Sul-Americano sub-20 e fizesse gols na final, teria.

O filho conseguiu. O pai cumpriu o trato.

Neymar não foge muito do estereótipo dos craques do futebol brasileiro, ao nascer em berço humilde.

A diferença está no fato de que esse berço humilde sempre teve pai e mãe muito presentes na vida do filho.

Essa é a forja dos ídolos que se perpetuam.

E falando em educação financeira, dada a exuberância irracional do consumo no Brasil, pouca gente deve ter tido, em casa.

Até nas melhores famílias.

Taí uma oportunidade de negócio pro pai do Neymar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Você convocaria o Arouca para a seleção brasileira?

“Acho que o Mano (Menezes) tem que olhar com carinho para este jogador. Se não fossem as lesões ele já poderia pintar numa convocação”. Essa foi a opinião de um comentarista esportivo durante a transmissão da final da Copa Libertadores, oportunamente, alguns minutos depois da participação do volante santista na jogada em que terminou com a finalização de Neymar e o 1 a 0 no placar. Como sabem, a partida terminou 2 a 1 para a equipe brasileira, que conquistou o título diante do Peñarol.

Para iniciar a análise individual de Arouca, é válido mencionar que todas as informações e vídeos divulgados na sequência da coluna não têm como objetivo estabelecerem julgamentos de valor, definindo acertos ou erros para cada ação. Caberá ao leitor a partir da interpretação das informações relatadas e observação das imagens, formar/melhorar uma opinião a respeito do referido atleta.

A final da Copa Libertadores permite uma análise do jogador exercendo regras de ação semelhantes em regiões distintas do campo de jogo. No confronto de ida, ainda com a ausência de Paulo Henrique Ganso, Arouca fez a função de volante com razoável estruturação do espaço pelo lado direito do campo e, na volta, com a presença do camisa 10, Elano retornou à posição de origem e Arouca exerceu a função de volante pelo lado esquerdo, predominantemente.

Na primeira partida, a plataforma de jogo utilizada pelo técnico Muricy Ramalho foi a 1-4-1-3-2 e como mandante utilizou a plataforma 1-4-4-2 (losango) como podem ser vistas nas figuras abaixo:

As ações técnicas de passe realizadas pelo volante na partida disputada no Uruguai totalizaram 30. Dentre elas, 12 tiveram predomínio vertical no sentido do alvo adversário, 10 predomínio horizontal, dois cruzamentos, dois passes para trás e quatro passes errados. Além disso, Arouca realizou duas interceptações, cometeu duas faltas e perdeu uma vez a posse de bola. Neste jogo Arouca não finalizou e não executou nenhum desarme.

No Pacaembu, Arouca foi o maior passador da equipe santista somando 43 ações. Destas, 19 tiveram predomínio vertical, 16 predomínio horizontal, quatro passes para trás e quatro passes errados. Em outras ações, recuperou seis vezes a posse de bola em desarmes e realizou duas interceptações. Perdeu a posse de bola por quatro vezes. Arouca também não finalizou neste jogo.

Os dados dos fundamentos técnicos acima (sem demais contribuições visuais/espaciais dos locais e situações de jogo nas quais tais ações aconteceram), não possibilitam uma análise global de desempenho do jogador. Com esses dados é possível somente perceber quais ações técnicas do futebol o jogador analisado executa com predominância.

Posto isso, a observação do jogo em sua fase ofensiva, defensiva e de transições em situações com e sem bola precisam ser inseridas para permitir uma análise mais completa.

Abaixo, veja uma sequência de lances sobre o comportamento do jogador santista na organização defensiva de sua equipe diante do Peñarol:
 


 

Dando continuidade na observação, o vídeo seguinte compreende uma síntese do comportamento de Arouca nas transições ofensivas da equipe santista:
 


 

Nos dois trechos publicados, informações importantes a respeito do desempenho de jogo do atleta podem ser obtidas. Para a fase defensiva, é possível perceber qual a região do campo mais utilizada para realizar suas ações defensivas, sua referência predominante de marcação, sua velocidade de recomposição, seu posicionamento entre bola e alvo, sua ação de recuperação da posse, sua velocidade de flutuação, entre outras questões.

Já para a transição ofensiva, pode-se visualizar sua predominância de comportamento em relação à movimentação, pode-se diferenciá-lo quando ele está mais próximo ou mais distante do centro do jogo, e ainda, quando recebe a bola é possível identificar setores/jogadores mais procurados.

Na próxima semana, o encerramento da coluna com a síntese das ações de Arouca na organização ofensiva e de transição defensiva da sua equipe contra o mesmo adversário e as conclusões.

Enquanto isso, veja a estreia da seleção brasileira na Copa América, analise o desempenho dos volantes que participarem do jogo e comece a estabelecer as devidas comparações.

Arouca poderia estar no lugar de Ramires, Lucas, Elias ou Sandro?

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Especial: Mano Menezes, o treinador da seleção brasileira 
 


 

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol: conheça o curso online da Universidade do Futebol clicando aqui.

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Conflitos na equipe

Saudações a todos!

Após a coluna da semana passada, na qual abordei a importância de um líder nato, recebi e-mails de várias pessoas que lideram equipes com uma dúvida recorrente: “na minha equipe existem conflitos e tenho dificuldades em lidar com eles. O que devo fazer?”

Acreditem, seja no trabalho, na rotina social, no seu clube, na família, entre os amigos ou em qualquer lugar que exista convívio entre pessoas, sempre existirão conflitos, pois cada pessoa age de forma distinta e, portanto, tem opiniões diferentes sobre o mesmo tema.

Como lidar com essa miscelânea de opiniões e transformar esses conflitos em algo positivo para a equipe, em uma troca de opiniões saudável, de forma que todos adquiram conhecimentos e o que os conflitos não se transformem em brigas?

Tenho algumas dicas que ajudam a resolver essa questão:

1 – Seja transparente em relação às suas decisões e ações. Deixe clara a razão pela qual elas foram tomadas. Assim, descontentamentos serão evitados, uma vez que todos saberão o que aconteceu e os motivos pelos quais foi tomada a decisão, uma espécie de “ação e suas consequências”.

2 – Meritocracia: quem faz mais, ganha mais e quem faz menos, ganha menos. Todos são impactados positivamente ou negativamente de acordo com suas contribuições pessoais e todos devem conhecer bem essa “equação”.

3 – Educação e respeito pelo outro: troca de opiniões, divergência e conflitos são normais em ambientes onde existam pessoas. Educação e respeito são fundamentais para construção de relacionamentos saudáveis, devem existir sempre.

4 – Ouvir as pessoas: ouvir a opinião das pessoas envolvidas no conflito (de preferência todas juntas), olhando no olho e dando importância e atenção ao que estão narrando é fundamental para que as opiniões e os acontecimentos do dia a dia sejam conhecidos por você e consequentemente você possa agir.

5 – Críticas sempre construtivas: dicas e críticas devem ser expostas, mas sempre de maneira construtiva. Fale claramente sobre o problema, mas acima de tudo aponte o que pode ser melhorado. Desta maneira, as pessoas se sentem valorizadas e realmente refletem sobre o que podem melhorar.

6 – Todos devem ganhar: exija, solicite, cobre, mas valorize sempre, recompense, pois um ambiente só é bom quando todos sentem que saíram ganhando.

7 – Exemplo é tudo: transforme o discurso em prática, aja conforme fala.

8 – Reflita antes de agir: sempre que precisar fazer qualquer interferência, qualquer ação, pense, veja as consequências, planeje, só depois faça.

9 – Não deixe de resolver problemas: pode ser mais trabalhoso, mas não deixe de resolver nenhum problema imediatamente. Momentaneamente, deixar o problema no cantinho, quieto, pode parecer mais tranquilo, mas se transformará em algo maior e mais difícil de resolver no futuro. Às vezes, por um descuido ou por falta de ação, o conflito que era pequeno, fica intransponível e só é resolvido com ações radicais, o que na maioria das vezes não é bom para ninguém.

10 – Encerre o assunto: tenha certeza de que o assunto foi completamente resolvido, não deixe arestas.

Se na sua empresa ou no seu clube você está tendo a maioria das ações acima, tenha certeza de que está no caminho certo e transformará conflitos em conquistas, o que é fundamental para o sucesso do grupo, pois hoje, mais do que as competência técnicas e habilidade em jogar, as empresas e clubes valorizam muito os relacionamentos, a forma como as pessoas agem com as outras pessoas, com o grupo.

Portanto, saber lidar com as opiniões divergentes e com conflitos é fundamental para o desenvolvimento da carreira. Cabe ao bom líder evitar conflitos, antes mesmo de eles existirem e crescerem ao ponto de sair do controle.

No esporte, saber lidar com conflitos e aplicar as dicas que passei acima é ainda mais importante, pois a todo instante os profissionais estão competindo, seja em um treino, no jogo ou mesmo na concentração onde disputam partidas de videogame.

É isto pessoal. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana!

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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O papel da genética no processo de seleção, formação e detecção de talentos no futebol

Após o mapeamento do genoma humano, o interesse em saber a influência do genótipo (informações contidas em nosso DNA) sobre o fenótipo (característica manifestada) cresceu substancialmente não só na área da medicina para a cura de várias doenças, mas também no esporte como tentativa de predição de desempenho.

O primeiro estudo que relacionou o desempenho a algum tipo de gene foi realizado por Montgary et. al. (1998), que verificaram prevalência do alelo I (inserção) tanto homozigoto (II) quanto heterozigoto (ID) do gene da enzima conversora de angiotensina (ECA) em montanhistas que acendiam até 7000 m de altitude sem necessidade de suprimento extra de oxigênio.

Segundo Oliveira et. al. (2004) o gene da ECA localiza-se no cromossomo 17 e esse polimorfismo (responsável por cerca de 50% da ECA circulante) corresponde a Inserção (alelo I) ou Deleção (alelo D) de 287 pares de bases no intron 16 do gene. Os indivíduos homozigotos DD apresentam maior concentração de ECA circulante que os heterozigotos ID e homozigotos II e teriam maior vantagem em tarefas relacionadas com força, enquanto os homozigotos II teriam maior vantagem em tarefas aeróbias.

Com o avanço tecnológico e a evolução da Biologia Molecular, vários outros estudos foram conduzidos na tentativa de encontrar genes “alvo” como possíveis marcadores de desempenho esportivo.

Atualmente, além do gene da ECA, os que parecem ter mais relação com o rendimento são: BDKRB2 (-9/+9), ACTN3 e R577X, GDF-8K153R, E164K, P198A, I225T, CCL2 e CCR2, AMPD1 C34T, CKMM, BMP2, HIF1A P582S, MSTN e FST, CNTF e INSIG2.

Mais especificamente no futebol, alguns estudos interessantes já têm sido conduzidos com o intuito de verificar se há algum polimorfismo, alelo ou gene que explique de forma satisfatória o rendimento.

Juffer et. al., (2009), por exemplo, verificaram em 54 jogadores profissionais do gênero masculino maior frequência de alelos ID da ECA e de CT da AMPD1 e menor frequência do gene GDF-8 K153R. Esses dados indicam que jogadores de elite tendem a apresentar um genótipo favorável para o desenvolvimento de força e potência musculares ao invés de resistência aeróbica. Vale lembrar que o alelo II do gene da ECA causa uma troca de um aminoácido no angiotensinogênio atua

O mesmo foi verificado por Santiago et. al. (2008) que investigou a distribuição de frequência do genótipo R577X da ACTN3 em jogadores de futebol profissional da Europa. Ao comparar a expressão gênica de 52 jogadores, os autores verificaram que 85% deles possuíam o alelo R da ACTN3, sendo 48,3% homozigóticos RR, 36,7% heterozigóticos RX e apenas 15% homozigóticos XX. Estes dados também evidenciam que jogadores com relativo sucesso possuem genótipo favorável para o desenvolvimento da força e da potência musculares.

Apesar dos estudos apresentados nesta coluna darem indícios de que dentro de um período de tempo relativamente curto será possível mapear os genes de um recém nascido e saber quais modalidades ele teria mais chance de se desenvolver, vale ressaltar que aspectos pedagógicos, técnicos, táticos, motivacionais, nutricionais, além de vários outros fatores que interferem no máximo desempenho de um jogador de futebol jamais poderão ser desconsiderados.

Outro ponto importante que deve ser lembrado é que mesmo com o conhecimento advindo da Biologia Molecular auxiliando na investigação de diferentes genes que estejam associados ao desempenho de alto rendimento no futebol, esta forma de identificação jamais deverá ser utilizada de forma isolada para seleção, formação e detecção de talentos. Ela poderá, sim, dar melhores direções para o sucesso ou fracasso em determinada modalidade, mas jamais deverá tirar o poder de escolha do praticante ou desconsiderar os demais aspectos necessários para o sucesso.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Referências bibliográficas

Juffer P, Furrer R, González-Freire M, Santiago C, Verde Z, Serratosa L, Morate FJ, Rubio JC, Martin MA, Ruiz JR, Arenas J, Gómez-Gallego F, Lucia A. Genotype distributions in top-level soccer players: a role for ACE? Int J Sports Med. 2009 May;30(5):387-92.

Montgomery HE, Marshall R, Hemingway H, Myerson S, Clarkson P, Dolley C, Hayward M, Holliman DE, Jubb M, World M, Thomas EL, Brynes AE, Saeed N, Barnard M, Bell JD, Prasad K, Rayson M, Talmud PJ, Humphries SE, Human gene for physical performace. Nature 1998 393: 221-2.

Oliveira EM, Ramires PR, Lancha-Júnior, AH. Nutrição e Bioquímica do Exercício. Rev paul Educ Fís 2004 18: 7-19.

Santiago C, González-Freire M, Serratosa L, Morate FJ, Meyer T, Gómez-Gallego F, Lucia A. ACTN3 genotype in professional soccer players. Br J Sports Med. 2008 Jan;42(1):71-3.

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Investimentos sustentáveis: realidade ou apenas um sonho?

O mercado milionário do futebol está em alerta. Investimentos descontrolados e pouco planejados colocam em risco a sustentabilidade do negócio. Lendo, na manhã da última terça-feira, o artigo de Erich Beting, intitulado “O mercado do esporte em 2017”, comecei a refletir sobre como o esporte, mais especificamente o futebol, está sendo pensado para os próximos cinco anos, por exemplo.

O que se vê é uma gestão do futebol pensando nos “incêndios” do próximo dia, ações mal planejadas e sem visão sistêmica do futuro. Talvez, a aparente desorganização seja uma forma simples de sucumbir gestões pouco qualificadas e não profissionais. Um balanço social bem elaborado certamente vai apontar as falhas que lá existem.

Chiavenato (2004) é enfático quando explica que o “mundo dos negócios” está sendo alterado com uma rapidez incrível. Além disso, o autor continua dizendo que a velocidade e a profundidade são características marcantes neste processo de mudança, mas, apesar da profunda mudança, o processo está se tornando descontínuo. A descontinuidade causa uma grande ruptura com relação ao passado.

Aproximo o termo descontinuidade, utilizado por Chiavenato, à desconfiança que as empresas demonstram ao decidir pelo investimento no esporte. Como muito bem falado por Beting, o volume de investimentos tem aumentado, mas este crescimento está na mesma proporção em que os proveitos multiplicaram.

Para se ter uma ideia do mercado esportivo, vamos pegar dois exemplos a título de comparação: o primeiro nos remete ao Banco Itaú que, de acordo com a Época Negócios (10-jun-2011), é a marca mais valiosa do Brasil, tendo um crescimento de 18% em seu valor de 2009 para 2010; o segundo se refere ao Corinthians, que a mesma Época Negócios aponta para um crescimento sobre seu valor de marca na ordem de 24% no mesmo período.

Aproximadamente 749,8 milhões de reais foi o valor mensurado para a marca alvinegra, segundo números do estudo da Crowe Horwarth RCS, divulgado no jornal O Estado de S. Paulo em dezembro de 2010.

Caracterizado por KHAUAJA (2005, p.23-24), uma marca sólida e valiosa:

É lembrada pelos consumidores potenciais;
Possui benefício(s) forte(s) e diferenciador (es) para o consumidor-alvo;
É considerada relevante para atender às necessidades e aos desejos de um grupo;
Mantém-se relevante para o consumidor em longo prazo;
É considerada diferente das demais pelos consumidores-alvo;
Possui uma imagem condizente com a identidade transmitida pela empresa;
Seu portfólio ajuda a construir sua imagem;
Possui percepção de qualidade adequada às expectativas dos consumidores-alvo das ações de marketing da empresa;
Cria um vínculo de fidelidade com seus consumidores-alvo;
Garante a lucratividade da empresa ou pelos menos da unidade de negócios;
Possui valor patrimonial elevado.

Trabalhar para a construção de marcas sólidas e valiosas deve ser o objetivo de um clube que pretende conquistar, fidelizar e reter bons investidores. Por isso ainda digo que os investimentos sustentáveis no futebol ainda não passam de um sonho.

*A redação desta coluna é de autoria de Douglas Strelow, após um pedido especial do colunista Geraldo Campestrini.

Douglas está no último ano do curso de Educação Física na UNIVILLE (Universidade da Região de Joinville) e desde o primeiro ano de faculdade se dedica a estudos, pesquisas e experiências relacionadas à gestão e ao marketing esportivo.

Contato: douglas@agon.esp.br.

Referências

Chiavenato, Idalberto. Administração nos novos tempos. 2. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

KHAUAJA, D. M. R. Fatores de marketing na construção de marcas sólidas: estudo exploratório com marcas brasileiras. 2005. 239p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo.

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Desafios para o profissional do futebol: transformar dados em resultado

Na última segunda-feira, no portal Terra, uma notícia estava em destaque. Não era relacionada ao futebol, mas seu teor é de suma importância para aqueles que trabalham envolvidos com os centros de inteligência e informação desportiva.

Embora ainda seja um termo relativamente estranho ao futebol, tais centrais, às vezes, chamadas de “datacenter”, têm começado a brotar em alguns clubes brasileiros, conforme já comentamos na coluna do dia 14 de junho (Ao superar barreiras tecnológicas, é necessário definir rumos).

A notícia com o título “Volume de informação e disponibilidade são desafios de TI” trata da dificuldade que o universo tecnológico enfrenta com o excesso de dados que ele mesmo produz. É como se a tecnologia aplicada para gerar dados possa em pouco tempo entrar em colapso, tamanha a sua capacidade de captação de dados sem que seja acompanhada por uma eficaz utilização e conhecimento prático desses. Em síntese, a afirmação de Mark Beyer, vice-presidente da empresa de consultoria que faz o alerta, explica bem esse paradoxo:

“Os lideres de TI devem educar as empresas para ter certeza do grau de controle e de que o montante de dados não se tornem caos”.

Essa preocupação deve estar presente no futebol através dos profissionais que estão inserindo os recursos tecnológicos no seu cotidiano. Não basta coletar dados, não basta armazená-los. É preciso interpretá-los, mas também não podemos encerrar nisso, criando apenas um armazenamento de interpretações de dados. É imprescindível transformá-los em conhecimento.

Nesse aspecto é que um termo da frase dita por Beyer ganha notoriedade: “educar”. É preciso educar, isto é, capacitar e tornar aptos e hábeis os profissionais na arte de transformar dados em conhecimento e intervenção, evitando assim excesso de dados desnecessários e não compreendidos que serão perdidos.

Enquanto na TI a preocupação é o que fazer com os dados, deveríamos no futebol nos focar além do que fazer com os dados naqueles que darão vazão e naqueles que transformarão dados em resultados através de sua metodologia de trabalho e intervenção.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br