Categorias
Sem categoria

It's Showbol

O Showbol se populariza no Brasil há alguns anos, na esteira do apoio da TV paga.

Assim como o Beach Soccer – ou Futebol de Areia – na TV aberta também.

O casamento entre TV e futebol favoreceu a equação financeira que faltava para que a conta fosse paga pelos anunciantes e patrocinadores, grandes interessados em se associar aos eventos esportivos.

Assim, tal qual em outra atividade econômica, o dinheiro procura se acomodar onde encontra organização, segurança e retorno do investimento, após analisar e administrar os riscos envolvidos na operação.

E esses dois eventos já vêm cumprindo a lição de casa com muita competência, o que ratificou o interesse da TV em ser grande parceiro na promoção comercial de ambos.

Tanto é que, agora, já assistimos a uma aproximação junto aos grandes clubes de futebol, tanto do Brasil quanto da Europa, para que criem estas duas nova modalidades de forma oficial.

Um dos exemplos foi o Mundialito de Futebol de Areia, disputado, recentemente, em São Paulo, que contou com Flamengo, Vasco, Corinthians e Santos, além de Boca Juniors, Milan, Sporting e Barcelona.

Eventos como esse são muito bem organizados já há bastante tempo, e que contam com bastante entrosamento com a TV do Brasil e do exterior.

No outro, o Showbol, ainda pende a necessária transição para a oficialidade – e verdadeira legitimidade – do evento.

Isso porque os clubes ainda não outorgaram a licença de uso de sua marca para a exploração comercial dos direitos e propriedades inerentes às competições.

Algo bem simples de entender, mas nem tão simples de realizar: ou os clubes estão a favor ou contra o uso de sua marca.

Existe uma zona cinzenta na relação que, conforme for conduzida a coisa, pode significar algo bem atraente em receita para os clubes, os jogadores e ídolos do futebol envolvidos, ou sepultá-la como mais uma boa idéia executada de forma equivocada.

Tenho certeza que o caminho que o dinheiro seguirá para se acomodar será a melhor resposta a esta dúvida.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A ocupação transreferencial do espaço de jogo: minha coluna de despedida

Em oportunidades anteriores discuti conceitos referentes à ocupação do espaço no jogo de futebol.

Dediquei-me a explorar alguns aspectos básicos desta ocupação na perspectiva dos sistemas ofensivo, defensivo e de transições.

Em linhas gerais escrevi sobre a necessidade de que sejam construídas referências individuais e coletivas que orientem as ações dos jogadores de forma grupal, setorizada e/ou como equipe.

Pois bem.

As referências norteadoras da ação dos jogadores nada mais são do que conceitos balizadores que dão significado ao movimento de cada um dos membros da equipe.

Elas dão uma noção coletiva para as respostas circunstanciais aos problemas emergentes do jogo.

Tem se destacado, como referência central na construção de uma ocupação organizada do espaço, especialmente em países como a Espanha, Portugal, Itália, França, Inglaterra e Holanda (e nas categorias de base no Brasil), a zonal.

Chamo a atenção, no entanto, para o fato de que talvez sejam aquelas que contemplam uma ocupação híbrida do espaço de jogo (individual e zonal ao mesmo tempo, o tempo todo – o que é diferente de uma ocupação mista), as que podem garantir sustentação menos abalável da organização sistêmica de uma equipe (dentro das suas regras de ação).

A ocupação híbrida do espaço de jogo é, obviamente, mais elaborada, dentro do processo de construção do jogar.

Essa “elaboração” lhe dá maior nível de complexidade – o que a torna menos sensível e suscetível aos ruídos sistêmicos e aos atratores estranhos.

Há características daquelas individuais e também das zonais, ao mesmo tempo, na mesma circunstância, de maneira que emirjam e se expressem mais características da que resolverá melhor o problema que se apresenta no momento.

Ela tem como variáveis de controle e distribuição da atenção, ao mesmo tempo, a bola, o espaço, os adversários, os companheiros de time, setor, ou grupo, além é claro das metas (os alvos, os gols) de defesa e de ataque.

Esperemos para ver equipes com referências assim.

Não sei se no Brasil – porque a construção delas demanda tempo, e sabemos como as coisas são por aqui; ao menos nas equipes profissionais.

Quem sabe nas categorias de base. Quem sabe?!


Minha despedida

Gosto de números, de Matemática – e talvez por isso, goste muito de Física…

Gosto também de quantificar as coisas.

Esse gosto me fez descobrir que escrevi, como colunista da Universidade do Futebol, mais de quinhentas páginas em texto.

Minha 1ª coluna foi ao ar no dia 30 de junho de 2007.

Para cada uma das que escrevi, recebi em média 88 e-mails, com comentários, incentivos, sugestões, críticas ou tentando solucionar dúvidas.

Li quase todos, mas consegui responder a menor parte deles.

Não foi a falta de compromisso, nem desrespeito com os leitores.

Foi dificuldade com o tempo.

Ah tempo… Que passa, que presenteia, que castiga. Implacável tempo, que quem sabe, nem existe.

Aprendi muito escrevendo, muito mesmo, inclusive sobre o tempo.

Foi uma grande jornada, mas apenas para os passos iniciais, porque considero que dentro do caminho que tracei para me deliciar com a vida, essas mais de quinhentas páginas representam apenas parte dos passos iniciais.

Continuarei na, e com a Universidade do Futebol, mas agora escrevendo colunas táticas ou “especialmente temáticas”, quinzenalmente. Entrarei para o grupo de colunistas especiais, do qual faz parte o sábio professor Manuel Sérgio.

No meu lugar, assume o professor Eduardo Barros. Sei que vão gostar e aproveitar suas ideias e seu conteúdo.

Então, agradeço a todas as pessoas, que direta ou indiretamente, têm alguma ligação com minhas colunas ou com minha história na Universidade do Futebol.

E, especialmente:

Ao inteligente amigo Luis Gustavo (o “Sugar Free”, do Café dos Notáveis), mais uma vez meus sinceros agradecimentos por todas as contribuições.

Ao amigo e competente profissional Emerson Sereda (perdoe-me a ausência), obrigado pela lealdade e pelo apoio permanente.

Aos amigos do grupo de estudos, Leandro Zago (do qual com orgulho serei padrinho de casamento), Fernando Rossini e Bruno Baquete.

Ao professor Alcides Scaglia e ao professor João Paulo Medina pelas oportunidades e pelos saborosos debates.

Ao amigo Conde Tega, por compartilhar sua ímpar visão estratégica e pelo apoio de sempre.

Ao criativo e surpreendente Gheorge Randsford, por todo o contagiante entusiasmo.

À minha doce e amada Vanessa pelo incansável ouvido.

Por fim, agradeço a todos os leitores. Tudo nasce a partir de vocês. Muitíssimo obrigado!!!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A odisséia dos jogos de futebol no Brasil

No último domingo, estive no estádio João Havelange acompanhando o clássico Vasco e Fluminense e me deparei com a realidade descrita por muitos jornalistas e pessoas que anteriormente haviam frequentado o “novo-velho” estádio: a fantástica capacidade que temos de rasgarmos dinheiro público.

Esteticamente o espaço esportivo até tem seus predicados, não podemos negar. Mas ainda temos dificuldade em construir uma instalação que acompanhe o desenho do entorno em que está localizado, além de dar algum conforto para aqueles que o frequentam em dias de jogo.

Visitei alguns estádios na Europa, boa parte deles em Portugal – e aqui cabe um parênteses: vamos lembrar, em um primeiro momento, da fragilizada economia portuguesa, que há anos agoniza com manobras econômicas e agora deflagra uma crise que, se acompanhada por outros países como Espanha e Itália pode tomar de assalto todo o velho continente e, em um segundo aspecto, que temos uma cultura e identidade bastante estreita e parecida com a dos nossos colonizadores, motivo pelo qual qualquer comparação com as arenas construídas naquele país para a Eurocopa de 2004 não se tratará de um modelo longe da nossa realidade.

Nestes espaços que conheci, mesmo com a obsolescência de algumas obras em pequenas cidades lusitanas que foram sede de jogos na Euro 2004, todo o ambiente em volta comunicava com a praça esportiva.

O Estádio do Sporting, o Alvalade XXI (para sairmos de modelos mais famosos como o estádio da Luz, do Benfica, ou o estádio do Dragão, do Porto), é o ponto de referência para uma região que abriga uma área residencial importante e que oferece ali zonas comerciais para atender a localidade. Isso sem falar na estação de metrô e terminal urbano de ônibus anexo ao estádio, que contribui significativamente para a mobilidade urbana da região.

Na Amsterdam Arena, que é o estádio do AJAX, a praça que margeia a instalação está repleta de espaços comerciais, deixando o ambiente bastante agradável desde a chegada na estação de trens, passando pela caminhada de pouco mais de um quilômetro até as arquibancadas do estádio.

Por isso fico ainda espantado em chegar a uma arena dita moderna como o Engenhão e me deparar com vendedores ambulantes, com um prédio horrendo e que ocupa uma quadra inteira em volta do estádio (que me disseram ser tombado pelo patrimônio histórico por ter abrigado ali uma fábrica de trens anos atrás – inclusive pensei, ironicamente: “acho que nas próximas visitas ao Rio de Janeiro as pessoas devem deixar de visitar o Cristo Redentor para conhecer a tal antiga fábrica de trens.

Hão de encontrar coisas fantásticas e inesquecíveis por lá” – perde-se aí uma grande oportunidade de abrir espaço, valorizar a arquitetura do Engenhão e explorar comercialmente o local, deixando o ambiente mais agradável), estacionar o carro em um terreno baldio (por ninguém ter recomendado ir de transporte público até o local), ter péssimos serviços oferecidos dentro da arena e, para completar, com cadeiras desconfortáveis, inadequadas segundo o caderno de encargos da Fifa e discutíveis em termos segurança.

É bom dizer que os vendedores ambulantes só estão lá porque os serviços “oficialmente oferecidos” são, como citado, do mesmo nível ou pior que os clandestinos.

Vejam que nem quis entrar no mérito da segurança pública, por se tratar de um problema de Estado e não estar diretamente atrelado ao ambiente urbano-esportivo. Também preferi não fazer referências sobre a utilização da arena para outros fins que não somente o futebol, como forma de rentabilizar o espaço por meio de shows, eventos, congressos etc.

A reflexão serviu mais para ressaltar, novamente, mesmo com muita gente batendo nessa tecla (e não podemos aqui nos furtar de fazê-lo como cidadãos com algum senso crítico), como gastamos mal o dinheiro público. E de pensar que tudo o que se gastou e investiu na obra e na propaganda dele está longe de ser motivo de orgulho e satisfação para as pessoas que moram em volta, tendo uma aberração de estádio como aquele na sua porta… E de lembrar que essa discussão é velha, antiga, batida e os erros se repetem ano após ano… E de pensar que o Engenhão, com tudo que foi gasto, não estará na Copa de 2014… E de saber que será ainda reformado para as Olimpíadas 2016, com mais investimento de dinheiro público… E é melhor nem entrar no mérito da discussão para saber como atletas, imprensa e público em geral chegarão lá para as competições…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Cemsacional

Rogério Ceni, Rogério Cem, Rogério 100ni.

A história escrita na tarde de domingo na Arena Barueri foi digna daqueles grandes acontecimentos do futebol. Fim de tabu, centésimo gol marcado por um goleiro, defesas espetaculares, rivalidade à flor da pele, expulsões, discussões…

Tudo contribuiu para surgir uma grande história, daquelas que passam de geração para geração, que fará com que, no futuro, a Arena Barueri tenha tido mais de 500 mil espectadores naquele 27 de março de 2011.

E no centro de tudo isso estava o camisa 1. Goleiro que também é artilheiro, goleiro-artilheiro centenário, como nunca antes na história do futebol aconteceu e que, muito provavelmente, ele vai inspirar novas gerações a buscarem essa história.

Rogério que sabe se posicionar como poucos. Não só dentro da meta, mas especialmente nas entrelinhas, nas entrevistas, nas cutucadas a rivais e a mazelas contra o seu São Paulo.

Rogério que faz questão de ser diferente. Que vestia a 01, para provar que não era um simples camisa 1. E que agora passa a envergar o uniforme com o número 001 às costas, alusão direta ao centésimo tento anotado e ao marketing brilhante que a Reebok costuma fazer com o Tricolor paulista.

Rogério que faz valer o bordão “quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho”. Porque há 15 anos se especializa em fazer gols de falta, treinando à exaustão as cobranças e, mais do que isso, estudando comportamento de goleiros adversários para saber como fazer o gol.

Rogério que é obcecado pela perfeição, tanto que no jogo que consagrou sua artilharia fez uma defesa para Gordon Banks nenhum colocar defeito. Defeito que ele pode até ter visto na madrugada de domingo para segunda-feira, em sua casa, revendo onde acertou e onde errou no jogo que ficará para sempre na memória.

Foi Cemsacional.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Expresso da bola

Muitos de nós, que trabalhamos na indústria do futebol, em algum momento, tivemos o sonho – mais, ou menos, plausível – de se tornar jogador de futebol.

Naturalmente, neste sonho, nos víamos marcando gols, fazendo belas jogadas, levantando taças e troféus, por grandes clubes brasileiros e, altar-mor, jogando pela seleção brasileira numa Copa do Mundo.

A partir da década de 1990, esse sonho passou a incorporar a atuação por grandes clubes da Europa, para coroar o êxito de uma carreira iniciada no Brasil, bem como desfrutar da polpuda remuneração inerente a esta realidade.

Eis o resumo geral daquilo que move muitas famílias espalhadas pelo “país do futebol”. Na maioria dos casos, é também a redenção do sustento dos seus integrantes.

Entretanto, chama a atenção, há certo tempo, a qualidade da produção, da condução e da abordagem do programa Expresso da Bola, do canal pago Sportv.

Nas mãos de Decio Lopes, a quem tive o privilegio de conhecer em um evento em 2008, o programa fica saboroso.

Somos levados a ter contato com o dia-a-dia de nossos ídolos que jogam no exterior, além da história e da organização dos clubes que lhes acolheram.

Ficamos sabendo como é a vida da família do jogador, o convívio com os colegas, como foi a adaptação no clube e na cidade.

E o que mais chama a atenção é o fato de que todos os protagonistas dos programas transmitem grande maturidade pessoal, principalmente porque aprendem e apreendem aquilo que a Europa tem de melhor a oferecer.

Percebe-se uma verdadeira imersão cultural dos jogadores, pela gastronomia, arte, educação.

O exercício pleno da cidadania, que gostaríamos de ter – e oferecer – por aqui.

Vendo por esse lado, fica fácil saber por que Zé Roberto, hoje no Hamburgo e ídolo na Alemanha, desde os tempos de Bayer Leverkusen e Bayern de Munique, declarou ser muito difícil trocar o padrão de vida da família na Europa para um ambiente de insegurança e falta de respeito às pessoas que ainda vigora no Brasil.

E isso era uma coisa que, eu, quando menino, nos meus sonhos, apenas imaginava almejar algum dia.

O que jamais me movia era o dinheiro. Era a rica experiência de vida.

Enquanto uns amigos desejavam um intercâmbio estudantil nos Estados Unidos, eu queria um intercâmbio cultural na Europa, tendo como profissão o futebol.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Mudar o mundo – mais do que futebol

Antes do texto que segue, devo dizer que a motivação para escrevê-lo nasceu de uma boa conversa com Sir Gheorge Randsford, um notável do Café dos Notáveis. Um privilégio.

Vamos ao texto…

“(…) aquele garoto que ia mudar o mundo / mudar o mundo / agora assiste a tudo / em cima do muro / em cima do muro (…) ideologia, eu quero uma prá viver…”

Gosto muito de escutar músicas.

Tenho um gosto eclético.

Particularmente aprecio aquelas que por algum motivo (melodia, instrumentos utilizados, letra, etc.) fazem um tipo de “encantamento” com os meus ouvidos.

Claro que meus ouvidos, sob o efeito do “encantamento”, abrem as portas para que sentimentos e sensações tatuem em meu peito de forma ímpar cada uma das músicas, que seja lá por qual motivo for, tenha “chamado” minha atenção.

Muitos de nós temos até trilhas sonoras que nos remetem para épocas, momentos, pessoas, coisas.

E hoje, comecei meu texto com a letra de uma música, uma composição de Cazuza e Frejat (Ideologia), justamente porque de certa forma ela remete a reflexões que quero compartilhar neste texto.

Quando comecei a me dedicar “de corpo e alma” à Educação Física, como acadêmico, pesquisador, professor e treinador de futebol, vi (e tenho visto) as coisas acontecerem em grande velocidade.

A frenética necessidade de estar sempre à frente, a rápida transformação do conhecimento e a mudança permanente das “verdades” (além dos ambientes selvagens),vão transformando coisas e pessoas de tal forma, que um dia a gente para e nem percebe bem que o tempo passou.

Mas o pior mesmo é quando não reconhecemos mais, quem está ou esteve ao nosso lado, não lembramos mais de nossos ideais, dos porquês, de quem nós somos, do que sentimos, sentíamos, ou queríamos sentir.

Um escritor norte-americano escreveu em uma de suas obras que devemos de tempos em tempos reler aquilo que outrora escrevemos, para nos ajudar a lembrar o que pensamos e porque pensamos isso ou aquilo.

Bom seria se pudéssemos fazer uma releitura dos nossos pensamentos mais antigos, das nossas fotografias mentais, dos nossos discursos mais convictos, daquilo tudo que nos transformou em nós.

Eu queria mudar o mundo. Eu quero mudar o mundo!

Como ele é muito grande, nunca soube com precisão qual raio de ação eu poderia atingir, e nem como atingir.

E se em um primeiro momento a sede de transformação e a busca do bem eram muito maiores do que a “gestão estratégica” para me guiar na “aplicação da energia”; mais à frente esta relação se inverteu por completo (mais estratégia do que sede).

Por mais que me digam que o ideal (ideal?) é encontrar o equilíbrio, posso garantir que prefiro (preciso!) é ter a sede, bem mais do que a estratégia.

É a sede que nos rejuvenesce, é a sede que nos dá energia, é a sede que nos faz dar mais um passo quando nem nós mesmos acreditamos ser possível.

Em nome da estratégia, da contrapartida, do benefício próprio dissociado do todo, penso se não estamos perdendo a espontaneidade, se não estamos sendo menos sinceros, se não estamos fazendo prevalecer interesses sobre o bem-querer.

Os sistemas (político, econômico, de saúde, cardiovascular, de jogo, enfim, todo e qualquer sistema) parecem estar crescendo através de interações entre seus elementos, que estão gerando interdependências de auto-interesse, auto-recompensa e auto-vantagem para as partes, que em um primeiro momento parecem fortalecer o todo, mas em médio e longo prazo se mostrará frágil e/ou cancerígeno a outros sistemas.

Será que não aprendemos, quando mais jovens, a fazer o bem, porque fazer o bem é bom, e ponto? (ou será que nos esquecemos?)

Por que não agir com o coração? Por que não dizer eu te amo para nossos pais, esposa ou marido, irmão ou irmã, filhos, amigos?

Por que não jogar fora a crença de que é tarde demais, ou a de que nada podemos fazer?

Por que não sorrir, só por vontade de sorrir, e por nenhum outro motivo mais?

A velocidade das coisas, e mais ainda, a velocidade da necessidade das coisas, parecem estar movendo as pessoas para uma direção em que o desrespeito, a mentira, a deslealdade, a desonestidade são bem aceitas em prol de um vencer a qualquer custo.

Mas o mundo não está perdido, se você lembrar da sua sede.

Quando vemos, em momento de muita dor, japoneses se sentenciarem voluntariamente à morte, para consertar as usinas nucleares e salvar a vida de seus pares, não podemos ter dúvidas disso.

Então desçamos do muro. Basta saltar!

Post-scriptum (ou PS): desculpem-me a mudança temática da coluna de hoje (em que não abordei questões táticas do jogo). Falei, porém, muito mais de futebol do que possa parecer.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

Categorias
Sem categoria

Novo capítulo: agora, o Imperador.

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Novamente poderemos ter a oportunidade de ver um grande jogador do nosso futebol retornar aos gramados. Pelo noticiário na imprensa, o Imperador estaria com um pé no Parque São Jorge.

Já comentamos esse assunto por diversas oportunidades, mas sempre é bom destacar a cada novo episódio desse movimento de retorno. Os jogadores de futebol do Brasil já fizeram sua fama como os melhores do mundo. Agora precisamos nos esforçar para tornar o nosso campeonato local também atrativo aos olhos dos investidores, mídia, clubes, etc. vindos do exterior.

O retorno de craques aos nossos campeonatos é muito positivo, via de regra. O conceito é bom. O problema é o gerenciamento e o planejamento que envolve essa estratégia. Se todos estiverem em boa forma, é claro que seria mais fácil vender direitos de televisão para o exterior quando temos Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Rivaldo, entre outros jogadores conhecidos mundo a fora.

Esse movimento também é importante para lotar nossos estádios, aumentando a atmosfera eletrizante das torcidas, e valorizando ao final do dia o nosso produto para ser comercializado no exterior (e no Brasil também!).

Mas, tudo tem o seu lado não tão positivo. O retorno desses craques pode criar problemas para o nosso futebol.

Em primeiro lugar, é necessário saber se o jogador ainda está em condições de atuar com a costumeira excelência, ou se de fato ele já não tem mais condições de atuar como profissional e está forçando a barra para prolongar sua carreira. E, sendo a segunda opção, o tiro pode sair pela culatra.

Além disso, é preciso atentar para os salários desproporcionais que a eles são oferecidos. Isso pode causar um rombo financeiro no clube, além de provocar uma desunião no grupo se a contratação não for bem gerenciada.

Enfim, é um verdadeiro jogo de xadrez.

O importante é a valorização do futebol nacional que tanto precisamos. Mas não à qualquer custo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Responsabilidade social e gestão dos stakeholders

A íntima relação entre a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e a gestão dos stakeholders é discutida no artigo de Walters & Tacon (2010), que investiga essa relação com os olhos sobre a indústria do futebol no Reino Unido.

A proposta passou por identificar os processos em torno da gestão dos stakeholders em diferentes organismos a partir da aplicação de 15 entrevistas semi-estruturadas com representantes de diferentes grupos e organizações ligadas ao futebol, vindo desde entidades e associações de torcedores, passando pela liga de futebol até clubes de pequeno, médio e grande porte.

Assim, falando sinteticamente, a conclusão do estudo remeteu para a constatação célebre de que o grande motor da indústria do futebol são os torcedores, sendo que a grande maioria dos entrevistados apontou estes como sendo seus principais stakeholders.

É o conjunto de torcedores o grupo de pessoas com o qual mais possuem sinergias, e portanto, onde as organizações pesquisadas mais destinam preocupação e importância. A boa relação com essas pessoas é um imperativo que contribui para uma gestão sustentável no longo prazo. Conclui-se, por fim, que há uma forte correlação entre a gestão dos stakeholders e a RSC, além de afirmar que o futuro de ambas está em franca expansão.

Essas “brilhantes” constatações servem apenas para lembrar o dirigismo esportivo do país, os clubes, os patrocinadores e os veículos de mídia tupiniquins a quem devem se reportar.

No ambiente corporativo, a grande maioria das empresas adapta produtos e formas de venda em função das tendências e modo de vida de seus consumidores, motivo pelo qual conseguem expandir negócios e aferir maiores lucros. Entendem que o simples fato de não ouvir os anseios básicos dos consumidores é ruim para seus negócios e também passa a ser uma prática socialmente irresponsável, por não colocar no mercado os produtos e serviços que as pessoas necessitam.

Na “indústria do futebol”, seria como não entender, por exemplo, que fazer um torcedor chegar em casa às 02h00 da manhã porque o jogo começou às 22h00 do dia anterior e o mesmo precisará sair de casa às 06h00 novamente para ir trabalhar (sem entrar no mérito do conforto do transporte público ou dos estádios) é apenas o princípio de um processo que culminará na opção futura por melhores serviços oferecidos pelo concorrente.

Referência

Walters, Geoff; & Tacon, Richard. (2010). Corporate social responsibility in sport: Stakeholder management in the UK football industry. Journal of Management & Organization, Vol. 16, Issue 4, September 2010.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O técnico de futebol no processo de desenvolvimento tecnológico

Olá, amigos!

No texto da semana passada elencamos alguns pontos que devem ser investigados para traçar as necessidades tecnológicas de um técnico:

 

  • ferramentas de avaliação de desempenho coletivo
  • ferramentas de avaliação de desempenho individual
  • ferramentas de elaboração de planejamento da temporada
  • ferramentas de acompanhamento e controle do planejamento
  • ferramentas de tomadas de decisão e mudanças de rumos e metas.

Em comum, esses pontos levantam, computam e armazenam dados.

Nesse aspecto é importante que o profissional de futebol esteja tanto à frente como nos bastidores dessas ferramentas. Não adianta se colocar apenas como usuário dessas ferramentas, é necessário que se torne um usuário avançado, integrado e hábil para transformar os dados em informação e depois em intervenção.

Por outro lado, é importante também estar nos bastidores, ou seja, por trás do desenvolvimento dessas ferramentas, afinal, não adianta termos recursos tecnológicos de última geração se o que eles fazem não acrescenta ou não contribui em nada para o técnico de futebol. 

Assim, quando criticamos a resistência do futebol temos que entender esse segundo aspecto. Ao cobrar a participação dos profissionais na montagem dessas ferramentas entramos numa questão pessoal que é grande foco de resistência.

À medida que o profissional tem de dispor de seus conhecimentos para desenvolver uma ferramenta padrão ele pode criar uma resistência por dois caminhos diferentes.

O primeiro por realmente não conhecer de futebol de forma tão aprofundada que não quer se expor e deixar evidente sua superficialidade, e segundo por acreditar que ao fazer isso estaria revelando seus segredos e a chave de seu sucesso (embora muitos dos que fazem isso nunca tenham tido tal sucesso).

Tanto uma como outra postura de resistência adotada não justificam-se pela essência e pela real função do profissional nos bastidores e desenvolvimento dessas ferramentas. A falta de conhecimento pode, na medida em que tem de re-estruturar seus saberes para transmitir para a construção do software, auxiliar na atualização do profissional.

Enquanto isso o receio de ter seus segredos revelados se extingue, porque a grande diferença está não na lógica ou padrões que as ferramentas podem adquirir, mas sim no que o usuário final pode fazer com ela.

É nesse aspecto que o profissional moderno deve se diferenciar. Usando uma frase de Edgar Morin que diz “que toda e qualquer informação tem apenas um sentido em relação à uma situação, à um contexto” conseguimos ilustrar essa necessidade de termos a experiência dos profissionais nas montagens das ferramentas, pois eles estão no contexto. Ainda completando com Morin: “não podemos isolar uma palavra, uma informação; é necessário ligá-la a um contexto e mobilizar o nosso saber, a nossa cultura, para chegar a um conhecimento apropriado e oportuno da mesma.”

É possível entendermos porque esse compartilhamento não revela segredos, afinal é o uso que se faz da informação com base na atuação de cada um que teremos a diferenciação (ou os segredos) do profissional.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Meninos do Brasil

Pelé dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil há mais de 40 anos.

De lá pra cá, muitas crianças se tornaram jogadores profissionais de futebol.

Alguns deles, diz-se, atuaram na época errada, pois, se jogassem hoje em dia, seriam astros muito mais reluzentes do que na década de 1970 e 1980.

A verdadeira internacionalização do futebol foi catapultada pelo mercado de transferências de jogadores, que teve como pano de fundo o Caso Bosman.

Como peça essencial à existência do futebol por si só e, hoje, ao marketing que movimenta milhões de reais, busca-se sempre o próximo ídolo para ocupar as fileiras dos principais clubes da Europa e movimentar toda a engrenagem da indústria do futebol.

E uma consequência direta e natural deste processo é a assinatura de grandes contratos – não só nas cifras envolvidas, mas também nos direitos e obrigações tomados em caráter recíproco.

O problema é que, no Brasil, existe uma grave e triste tendência a se “socializar” a culpa de muita coisa.

Dentre as quais, a de que os jogadores de futebol são explorados por um sistema perverso de abuso, enganação e escravidão, que lhes impende a sujeição às piores condições de trabalho.

Estamos rumando para quase 15 anos de vigência da Lei Pelé que, somada aos Estatutos e Regulamentos da Fifa, ampara as melhores práticas na relação entre jogadores, clubes, agentes e demais autores.

Sem obrigar ao jogador contratos de trabalho ou de representação como se dava à época da Lei do Passe.

Adriano, o Imperador, que conta com Gilmar Rinaldi como seu agente licenciado pela Fifa desde o início da carreira, não vem cumprindo seus últimos contratos até o fim – e já vê, com isso, o fim da carreira se aproximando.

Rescindiu o contrato com a Roma, e logo desembarca mais uma vez no Brasil.

Robinho também sempre esteve envolvido em rescisões antecipadas de contrato.

A mais recente briga é com a Nike, empresa que o patrocina desde os primeiros anos de carreira. Alega que a empresa o enganou, ao vincular a renovação de contrato automática à incompreensão do texto do contrato em inglês, prevalente sobre o português.

Não queremos entrar nos detalhes da contenda judicial – e não devemos – uma vez que a abordagem, aqui, não é essencialmente judicial, é sobre a (in)capacidade de cumprimento de contratos no futebol brasileiro.

Costuma-se tratar tais assuntos com simplismo ou paixão.

Quando surgem com belas jogadas, os jogadores são chamados de “meninos”, e se corre para protegê-los dos zagueiros violentos, além de rasgar elogios pela “irresponsabilidade tática” e talento dentro de campo.

Quando não cumprem os contratos, a “irresponsabilidade contratual” não tem recebido a mesma atenção e cobrança.

Tá na hora de “puxar a orelha” dos meninos do Brasil.

Pois, como dito na frase atribuída a Adriano, o Imperador, quem tem alguns milhões na conta bancária, tem que se preocupar em sentir prazer de jogar futebol, e não com o dinheiro que lhe oferecem.

Também deveria se preocupar em investir na contratação de bons advogados para assessorar as negociações que envolvem milhões com clubes e patrocinadores.

E cumprir estes contratos também…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br