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Potencial construtivo

Potencial construtivo é possibilidade de comercialização, pelo proprietário de um imóvel, do direito de construção para além da metragem permitida pela legislação municipal de zoneamento e uso do solo urbano.

Na prática, o poder público municipal, por meio da legislação específica, determina zonas urbanas especiais, visando preservar o patrimônio histórico, o meio ambiente ou de interesse social relevante.

Quem tem direito de construir, mas cujo imóvel esteja gravado com essas características especiais, pode vender seu direito a um terceiro, e reverter a receita ao restauro, conservação e preservação.

Em Curitiba, a figura jurídica da “Transferência do Potencial Construtivo”, existente desde 1982, mas pouco explorada, visa à preservação de imóveis de interesse arquitetônico, paisagístico e ambiental, bem como para a implantação de equipamentos comunitários e programas de habitação social.

A partir de 2010, a TPC será estendida aos clubes esportivos e recreativos, dado o fato relevante da necessária obra de adequação do Estádio Joaquim Américo (Arena da Baixada) aos encargos da Fifa, para que a cidade possa sediar os jogos da Copa do Mundo em 2014.

Com efeito, o problema que causava a indefinição sobre essa obra era econômico: o Clube Atlético Paranaense não gostaria de assumir toda a responsabilidade pelo custeio, orçado em quase R$ 140 milhões. Sempre esteve disposto a arcar com um terço do valor. O restante deveria ser compartilhado pelo Município e pelo Estado.

Porém, em ano de eleição, o que é econômico vira político. Some-se a esse cenário a leniência, paixões clubísticas e falta de articulação (incompetência também) das lideranças envolvidas, e Curitiba corria perigo de exclusão da Copa.

Ninguém queria ver o Poder Público injetando dinheiro diretamente na obra. Nem eu, apesar de reconhecer que, politicamente, as obras prometidas pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal) para a cidade dependem de sediar a competição internacional.

O jogo de empurra acabou quando a abordagem da questão se tornou econômico-jurídica: a TPC, com os devidos ajustes legais, pela Camara Municipal, já despertou o interesse de grandes grupos empresariais locais, que irão concorrer na licitação para executar a obra e, em troca disso, farão uso do potencial em outras obras de seu interesse privado.

Simples.

Quase no fim de uma novela que dura um ano.

Mas, no país da Copa do Mundo 2014, nada é simples.

Menos ainda em ano de eleições majoritárias, que determinarão o Presidente, o Governador e os Senadores até lá.

E que o grande imóvel chamado Brasil não seja gravado, por sediar a Copa, com potencial destrutivo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Exemplo de uma sessão de treino

Depois de quase 20 dias ausente, estou eu aqui de volta às colunas táticas. Estive viajando a trabalho para as belas República da Irlanda, Irlanda do Norte e Inglaterra para aprender um pouco mais sobre o futebol europeu.

Estive com treinadores e preparadores físicos irlandeses, ingleses, portugueses, espanhóis e mexicanos. Uma magnífica experiência e oportunidade.

Bom, mas isso é assunto para outro momento.

Nesta semana, quero trazer aos leitores, atendendo a solicitações, um exemplo de uma sessão de treino da equipe sub-17 da qual sou treinador.

Então, apresentarei exercícios que correspondem a uma etapa da construção do modelo de jogo da equipe, coincidente com a 15ª semana de trabalho com os jogadores.

São quatro atividades, que foram monitoradas com GPS e cardiofrequencímetro, e que têm relação total, íntima e direta relação com os treinos que antecederam e com os treinos que sucederam esta sessão.

Confira clicando aqui.

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O poder do futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Tivemos essa semana a notícia dos episódios envolvendo a seleção da Coréia do Norte que chocou o mundo do futebol. Segundo as notícias veiculadas nos principais jornais do mundo, o governo ditatorial da Coréia do Norte teria punido, de forma desumana, a delegação que participou do último mundial da Fifa na África do Sul.

A Fifa pode suspender ou até desfiliar a Coréia do Norte dos seus quadros. A pergunta que se faz é a seguinte: na hipótese de os fatos terem mesmo acontecido, como dizem as notícias, e também na hipótese de a lei nacional da Coréia do Norte permitir tal conduta, estaria a Fifa correta em punir a Federação Nacional?

Em minha opinião, sem dúvida que sim.

Em regimes ditatoriais, a noção de justiça é de totalmente deturpada. Uma das formas de se ver a justiça é justamente olhar para o sistema legislativo e equiparar o justo ao lícito. Por exemplo, podemos com certa tranquilidade dizer que uma pessoa que tem um bem de sua propriedade subtraído sem sua concordância (eg, furtado), sem ter uma reparação à altura, é uma pessoa que sofreu uma injustiça. Ou seja, furtar é algo ilícito, e o seu ato gera uma injustiça.

Muito bem. No sistema ditatorial, como na Alemanha de Hitler, ou até na África do Sul do apartheid, a legislação é criada pelos representantes da ditadura de forma a legalizar condutas que são tidas no meio internacional como inaceitáveis. Isso gera a estranha sensação de que algo lícito pode não ser justo (ou mais do que isso, pode ser repugnável).

Dentro desse entendimento, a Fifa, na qualidade de representante e autoridade máxima do futebol perante todos os países, pode (e DEVE) atuar como um instrumento para que a democracia e o respeito aos direitos humanos sejam protegidos. Foi assim, por exemplo, com a exclusão da África do Sul dos quadros da Fifa.

O futebol sempre foi e sempre será um instrumento poderosíssimo para unir um povo em torno de seu governante. Uma verdadeira ferramenta de propaganda política, que inclusive foi muito utilizada por regimes antidemocráticos e segregacionistas. Mas, por outro lado, o futebol também pode ser usado como ferramenta igualmente poderosa para retirar a popularidade de um governo que faz mal à sua nação, e que vai de encontro aos direitos humanos e princípios democráticos.

Portanto, que sigam as investigações e, se forem comprovados os fatos que levaram os jogadores e treinadores à humilhação pública, que a Federação seja excluída. E que essa medida sirva como exemplo para outras organizações internacionais pressionarem a Coréia do Norte que qualquer forma de regime antidemocrático seja banido.

Ganhar é fundamental. Mas “o saber ser derrotado” deve fazer parte de todos os grande vitoriosos. A derrota não pode, nem deve, envergonhar nenhum atleta, nenhuma nação.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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A dança dos treinadores

Tem uma música “das antigas” de Gabriel o Pensador que começava assim…

Essa é a dança do desempregado
Quem ainda não dançou tá na hora de aprender
A nova dança do desempregado
Amanhã o dançarino pode ser você

É impressionante como essa música faz sentido para o futebol brasileiro. Apesar que, neste caso, poderíamos falar em dança das cadeiras ou algo do tipo, pois treinador, nestas terras de Cabral, pulam de galho em galho. O assunto já é batido, muita gente já teceu comentários (inclusive nesta semana) sobre tal fato que é recorrente para nós e evidente, mais uma vez, no Brasileirão 2010.

E o pior, a “mudança” dificilmente resolve ou modifica de forma drástica, em questão de meses, o panorama de insucesso que se desenhava anteriormente, salvo raríssimas exceções. Mas ser “genial” para nossos dirigentes perante o fracasso dentro de campo, que ele mesmo ajudou a construir, é trocar de comando técnico.

Vamos recorrer a um pouquinho de teoria para aguçar este debate. No livro AGÔN – Gestão do Desporto, o Prof. Dr. Gustavo Pires coloca: “nas organizações, a taxa de aprendizagem deve ser sempre superior a taxa de mudança”.

Isso quer dizer o que, caros leitores? Que as organizações são feitas de pessoas e, portanto, de inúmeros conhecimentos acumulados ao longo do tempo. Cada organização tem uma característica peculiar, uma cultura diferente. Nos clubes a lógica é exatamente a mesma, cada qual instalado em uma cidade, com um povo de diferentes visões, com torcedores, rivais, concorrente com múltiplos interesses distintos, com um elenco de jogadores distintos um do outro, com uma equipe operacional de trabalho (massagistas, roupeiros, serviços gerais, supervisores etc.) diferente uma da outra e por aí vai.

Cada elemento desses influencia, cada qual a sua maneira, diretamente no trabalho de uma equipe técnica e multidisciplinar de um departamento de futebol. Se trocamos pessoas, começa-se um novo ciclo de aprendizagem, de entendimento dos processos, de adaptação à estrutura de trabalho, conforme Pires nos quis revelar.

Como no futebol o tempo é curto para tudo, muitas vezes não é possível aferir resultados de imediato. Pior que isso, as mudanças ocorrem, em muitos casos, apenas na carteira de trabalho, pois a concepção e a percepção dos treinadores que estão no mercado parecem ser basicamente as mesmas: pedir para reforçar o elenco, colocar o “coração na ponta da chuteira” e amontoar 11 jogadores em campo para ver no que vai dar. E se perder, reclama-se da arbitragem, que pelo menos um lateral vai inverter ao longo de todo o jogo para o adversário.

Para finalizar, o que mais me intriga é o seguinte: “se o sujeito não deu certo nos últimos 4-5 clubes que passou; a falta de resultados expressivos é recorrente nos últimos anos; ele não estudou, não fez uma especialização, não participou de nenhuma capacitação no exterior, não se aperfeiçoou e continua com o mesmo discurso – que diabos os dirigentes pensam para acreditar que agora vai dar certo no seu amado clube???”

E segue a vida. Os dirigentes fingindo que tomam atitude e os treinadores fazendo de conta que vão mudar alguma coisa. E dá-lhe rescisão contratual para tudo que é lado – depois ninguém sabe explicar porque as dívidas dos clubes estão maiores que sua capacidade de pagamento, e a culpa acaba ficando com a tal “Lei Pelé”.

E vai levando um pé na bunda vai
Vai pro olho da rua e não volta nunca mais
E vai saindo vai saindo sai
Com uma mão na frente e a outra atrás…

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Análise de desempenho na seleção de Mano Menezes

Caros amigos,

na última semana falamos um pouco sobre os processos que Mano Menezes está implementando na seleção brasileira. Falamos sobre a delegação de funções e descentralização que o treinador propõe, o que sem dúvida lhe dá mais qualidade de comando.

Dentre as funções delegadas, o treinador anunciou Rafael Vieira como analista de desempenho. Hoje discutiremos um pouco sobre as possíveis e importantes funções que poderão ser exercidas por esse profissional.

No esporte coletivo, já de algum tempo, temos a figura do observador de jogo. Estudos do português Julio Garganta apontam relatos científicos e estruturados sobre a ciência da análise do jogo (também chamada de scout, análise notacional, dentre outras variações e especificidades) desde 1931, com os estudos de Messersmith & Corey.

O olheiro que anota as principais características do time adversário num pedaço de papel, o chamado espião, é uma das figuras já consolidadas no nosso futebol e passam agora por uma atualização. A questão está justamente no valor atribuído às pessoas, mais especificamente as capacidades e requisitos do profissional que ali estão, até então não tratado como um profissional.

Sim, coloco o anúncio de Mano Menezes sobre a existência e oficialização de um analista de desempenho como um marco para o futebol, muito também pela questão do valor que atribui acertadamente a essa função.

Ao oficializar a função, Mano Menezes dá início a uma nova possibilidade de atuação do profissional do futebol. Isso porque esperamos que, de agora em diante, essa função seja oficializada dentro dos clubes, e mais do que isso, que seja valorizada.

Assim, ao invés de pegar o cunhado para coletar informações, ou um ex-companheiro de equipe que está precisando trabalhar, ou ainda o que é muito comum, pegar atletas de categorias de base para coletar informações, a oficialização da função faz com que a pessoa ali colocada tenha alguns pré-requisitos, não simplesmente para anotar num pedaço de papel, mas muito mais do que isso, colocado ali para interpretar, lapidar as informações, construir relações entre os dados e possibilitar que o técnico possa tirar conclusões e intervir com precisão.

Já nos referenciamos nos estudos de Franks (1983) em outros momentos, na qual indicou que treinadores de nível internacional não conseguem memorizar mais do que 30% dos eventos chaves de um jogo. Ao delegar, (e na semana passada falamos um pouco de como deve ser uma delegação de função) Mano reconhece, não os seus limites, mas os limites de qualquer ser humano em processar e armazenar inúmeras informações, assim coloca uma pessoa voltada especificamente para isso, e faz com que essa função não se limite a anotar em pedaço de papel, mas sim recolher, interpretar e utilizar a capacidade intelectual para lidar com as informações.

Talvez agora os clubes tenham uma referência de como lidar com a questão da análise do jogo, que não adianta apenas colocar os meninos da base para fazer scout do time adulto, é necessário investir em processos e tecnologia para obter essas informações, mas muito mais do que isso é preciso alguém na comissão técnica que centralize essas informações e utilize de recursos intelectuais para transformar dados em informação.

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Planejamento e gestão de carreira

A trajetória de Mano Menezes e a entrevista dele apresentada na Universidade do Futebol evidencia o cuidado com a imagem e a gestão de carreira de um profissional que, se não realizou um plano formal, por escrito, anos atrás, construiu relações e solidificou uma postura diferenciada que lhe rendeu o cargo mais importante para os treinadores de futebol brasileiro.

Neste caso, a gestão e o planejamento de carreira podem ser traduzidos pela compreensão do momento vivenciado por um profissional e a sua preparação para novos e maiores desafios, graduais à sua capacidade de consolidação e estabelecimento dentro daquilo que o mercado exige.

O “pensar globalmente, agir localmente” funciona dessa maneira, se traçarmos um paralelo sobre a compreensão daquilo que fazemos em nossas atividades profissionais. Tal paradigma está vinculado à construção de uma imagem diferente e positiva perante todas as pessoas que fazem parte de nosso convívio diário.

“Napoleão, DaVinci, Mozart… sempre administraram a si próprios”, diz Peter Drucker¹ , quando fala sobre gestão de carreiras. “Destarte o excepcional talento destas personalidades, nós também devemos gerir a nós próprios. Precisamos aprender a nos desenvolver. Precisamos observar os locais onde podemos oferecer melhores contribuições. E precisamos estar mentalmente em alerta e engajados durante 50 anos de nossas vidas a serviço das pessoas, o que significa saber como e quando devemos inovar aquilo que fazemos”.

Pelo discurso de Mano Menezes percebemos sua incansável busca por conhecimento. E os chamados “knowledge workers” não podem parar nunca se quiserem evoluir e construir uma carreira sólida em um mercado tão competitivo, exigente e ainda cético a processos de mudanças.

Para finalizar, destaco outra citação de Peter Drucker² quando pontua oito das características comuns em um líder empresarial, e que deve fazer parte de uma reflexão no momento de construir um planejamento e gestão de carreira sólido:

Eles perguntam: “o que precisa ser feito?”
Eles perguntam: “o que é correto para a organização?”
Eles desenvolvem planos de ação.
Eles tomam responsabilidades sobre suas decisões.
Eles tomam responsabilidades sobre a comunicação.
Eles focam as oportunidades ao invés dos problemas.
Eles promovem reuniões produtivas.
Eles pensam e falam “NÓS” ao invés de “EU”.

“As duas primeiras práticas deu-lhes os conhecimentos necessários. As quatro subsequentes os ajudaram a converter este conhecimento em ações efetivas. Os dois últimos garantiram que toda a organização se sentisse responsável e inspirada em agir”.

Mano parece possuir tais características. Tratou toda a sua trajetória e conquistas a partir de uma visão de grupo, do reconhecimento do trabalho em equipe e não somente direcionado a suas próprias competências. São esses alguns dos alicerces de reflexão que necessitamos na ocasião de definir nossos rumos, plano de carreira e de como queremos ser vistos pelo mercado como um todo.

¹Tradução livre de DRUCKER, Peter. Managing Oneself. Harvard Business Review, march-april 1999. “A Napoleon, a daVinci, a Mozart – have always managed themselves (…) We will have to learn to manage ourselves. We will have to learn to develop ourselves. We wilt have to place ourselves where we can make the greatest contribution. And we will have to stay mentally alert and engaged during a 50-year working life, which means knowing how and when to change the work we do”.

² Tradução livre de DRUCKER, Peter. What Makes an Effective Executive. Harvard Business Review, june 2004.

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A descentralização de Mano Menezes

Olá, amigos!

Com a apresentação de Mano Menezes, muitas coisas ficaram no ar, com aquela sensação de tentarmos entender o que virá pela frente.

Na entrevista que Mano concedeu à Universidade do Futebol, um trecho mostra bem uma boa perspectiva de mudança. Não que seja algo que o treinador já não fazia, mas que agora como técnico da seleção, consegue transformar em referencia nacional.

Mano disse:

“O nosso dirigente tem a ideia muito clara que quer mandar. E delegar poderes é complicado”.

Ao colocar esse aspecto, Mano Menezes indica claramente duas grandes características que o destacam no cenário do futebol.

Primeiro, ele entende que o dirigente tem essa mentalidade e essa necessidade, e consegue, ou pelo menos aparenta saber lidar com isso, “deixando” o dirigente “mandar” até onde lhe é possível, sem se incomodar por ter o brilho de técnico ofuscado (o que para alguns pode ser um grande pesadelo).

E por fim consegue delinear um perfil de comando, na qual delegar funções é imprescindível. Isso fica claro no esboço do organograma que Mano tem construído como seu staff na seleção brasileira.

A presença de Rafael Vieira, apresentado como analista de desempenho, é um grande avanço.

Alguns podem chamá-lo de estatístico, como seria no basquete. Outros ainda falarem que é o nome moderno para olheiro. Mas a mudança de nome permite a valorização do profissional com alto nível de conhecimento do futebol e com alto grau de relacionamento e importância na comissão técnica.

Defendemos em outros textos a presença do que chamamos central de inteligência do jogo, na figura de alguém da comissão técnica com capacidade de interpretar as informações oriundas de diferentes fontes, sobretudo com os recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia, a qual chamamos de analista de scout. A nomenclatura atribuída por Mano me parece também muito inteligente.

A escolha de um profissional e a atribuição para uma função específica e destacada logo na primeira entrevista de Mano reforça o que o próprio treinador diz sobre a importância de delegar funções. E discuto um pouco mais a importância da delegação de funções a seguir.

Buscando alguns elementos nos estudos de gestão de pessoas, observamos que a delegação é compreendida como o ato de designar a uma pessoa ou grupo de pessoas responsabilidades e/ou tarefas. É necessário que a pessoa que será designada para desempenhar os papéis e exercer determinadas responsabilidades apresente capacidades e competências para tal, o que implica em dizer que a escolha da pessoa passa por um rigoroso crivo do gestor (treinador).

Por outro lado, cabe também ao gestor garantir a autoridade necessária para a tomada de decisões por parte do seu subordinado, caso contrário não se estabelece um processo de confiança o que pode implicar em retrabalho de ambas as partes.

Outro ponto no qual se sustenta a eficiência da delegação é a confiança. Ao delegar algo para alguém você demonstra confiança em sua responsabilidade e comprometimento. E neste aspecto é imprescindível que o gestor se “afaste” de alguns pontos das tarefas designadas para que seu subordinado sinta que realmente existe essa confiança, embora a responsabilidade final do processo recaia ainda sobre o gestor.

A delegação é fruto essencialmente de duas situações vividas pelo gestor: ou pela limitação de conhecimento que possuem para determinadas tarefas, ou por questão de tempo e acumulo de tarefas. O que muitos técnicos fazem é se prevenir de que a primeira hipótese não se confirme.

No caso de Mano Menezes, a consciência do acumulo de funções e da necessidade de uma gestão interdisciplinar demonstram muita clareza e segurança na delegação das funções.

Alguns podem dizer que muitos clubes e treinadores já delegam funções, porém, devemos atentar que existem algumas armadilhas. Entendendo aqui o treinador como o gestor desse processo, temos os seguintes riscos:

o acumulo funções em si resultando numa delegação insuficiente

sentir-se confortável com a delegação de funções que perde o controle sobre as mesmas, delegando em excesso.

Sobre a função do analista de desempenho, discorreremos um pouco mais em próximas contribuições.

Que a boa receptividade da mídia e a esperança positiva dos torcedores possam continuar a partir de quando começarem os jogos. Porque, afinal de contas, sabemos como é o futebol…

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Mano do Mano

Estádio dos Aflitos, ano de 2005. O Grêmio joga contra o Náutico pela classificação à Série A do Campeonato Brasileiro. O trabalho de ressurreição gremista está por um fio. O clube pernambucano tem um pênalti a seu favor. O gaúcho, está com três jogadores expulsos, num bate-boca interminável com o árbitro, ameaçando tirar o time de campo após a marcação da falta.

Em meio a esse cenário de caos, repórteres de televisão e rádio entram em campo para conseguir captar as frases de atletas e árbitro, tumultuando ainda mais o ambiente. Numa dessas “furadas” de bloqueio da mídia, Mano Menezes, então jovem treinador do Grêmio, é interpelado pelo repórter do Sportv. Calmamente, ele afirma:

“O jogo ainda não acabou. Estou tentando tirar meus jogadores para que o pênalti seja batido. E aí veremos o que acontece”.

O pênalti é defendido e, no lance seguinte, o Grêmio faz um gol, vence o jogo e assegura a volta à elite do futebol brasileiro, naquela partida que ficou epicamente conhecida como “A Batalha dos Aflitos”.

Batalha que só não existiu, de fato, por causa de Mano Menezes.

Naquele dia, Mano mostrou um equilíbrio raríssimo de se ver em treinador de futebol brasileiro. Sua calma aparentemente contagiou o time do Grêmio. Sem levantar a voz, sem jogar para a torcida, sem deixar se perturbar pela presença de jornalistas em meio a um momento terrivelmente decisivo para o seu próprio trabalho. Naquele momento em que respondeu ao repórter do Sportv que o time precisava de calma (e, indiretamente, deixou claro que reprovava a presença do repórter dentro de campo), Mano começou a selar o destino mais brilhante de sua carreira.

Talvez ali, naquele instante, estivesse surgindo um treinador preparado para aguentar todo tipo de pressão. A ascenção de Mano foi rápida depois que passou a dirigir equipes de grande porte. Do Grêmio para o Corinthians e, daí, para a seleção brasileira, com 48 anos de idade. Esse episódio da “Batalha dos Aflitos” é o momento emblemático na carreira de Mano. Esteve próximo de ser um fracasso retumbante, mas consagrou-se exatamente por mostrar maturidade para o cargo que ocupava.

No especial que esta Universidade do Futebol trouxe nesta última semana, conseguimos compreender um pouco mais dessa característica de Mano. Ficou claro, pelo menos para mim, que ele tem uma visão bem além das quatro linhas. Futebol não se decide só em campo. São vários os elementos que formam o ambiente de uma equipe, de um clube.

Nunca um treinador chegou à seleção brasileira tão bem preparado para lidar com a delicada relação com a mídia. Tudo bem que, depois de Dunga, nunca foi tão fácil ser minimamente simpático com a mídia. É só questão de dar bom dia…

Mas Mano, diferentemente da maioria dos treinadores recentes da seleção brasileira, sabe que a imprensa faz parte desse ambiente. Apesar de todos os males que ela pode proporcionar, a mídia está incrustada no cotidiano do futebol, dependente e fundamental para a sua existência como grande força do mercado esportivo.

Dunga caiu por achar que futebol se faz como na várzea, ou nos rincões do país. Quem entende é quem joga bola, e o resto deve aceitar isso. Mano é o oposto de Dunga nesse pensamento. Tanto que foi o primeiro treinador a aderir ao Twitter, sabendo-o usar como ferramenta de comunicação com o público. Mostra de alguém antenado e preparado para lidar com as diferentes plataformas de contato com as pessoas.

É com esse perfil que, de fato, uma renovação no time nacional pode começar.  

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Futebol, eleições e democracia

Estamos no meio de um processo eleitoral no Brasil.

As chamadas eleições majoritárias vão indicar quem serão o Presidente da República, os governadores e senadores dos Estados e os deputados federais e estaduais.

Vivemos num país que, apesar de todas as dificuldades sociais e econômicas, tem consolidado a democracia como regime político.

A democracia, cabe resgatar, diz respeito ao governo que emana do povo e que por ele será exercido, por meio de representantes diretos ou indiretos.

O futebol, por sua vez, é tido como o esporte mais democrático do mundo, dada sua difusão e facilidade de prática, por inúmeras razões. Não se exige dinheiro, status privilegiado, grande infraestrutura esportiva para desfrutar desse esporte em qualquer canto do planeta.

Quando remetemos a discussão e aproximação entre futebol, eleições e democracia, talvez a primeira lembrança diga respeito à Democracia Corintiana.

Democracia Corintiana foi o histórico movimento ocorrido em 1982 no Corinthians liderado por jogadores politizados como Sócrates, Zenon, Vladimir e Casagrande.

Em meio a uma transição de mandato, os novos diretores primavam por ouvir os jogadores e o que pleiteavam sobre a gestão do clube para se tornar mais eficiente.

Com isso, quase todos os temas do dia-a-dia do elenco eram deliberados e decididos pelo voto – jogadores, comissão técnica e diretoria. Concentração, contratações, bichos e salários.

Não havia peso diferente nos votos. Todos eram iguais. Democracia direta e pura, ao contrário do pano de fundo histórico do Brasil, que passava pela chamada Redemocratização e o primeiro movimento era a luta pelas Diretas-Já (substituir a indicação de políticos, por militares, por eleições diretas).

O resultado prático no clube paulista foi o bicampeonato paulista e a chegada às semi-finais do Brasileirão, além de sanear dívidas do caixa.

Em outra coluna, já havia mencionado sobre minha experiência para acompanhar de perto as eleições do Real Madrid em 2006. Mas isso se refere à parte da democracia de ser votado.

Quero destacar a aqui a importância e o direito de votar nas eleições de um clube de futebol.

Temos acompanhado um processo muito contundente de conquista e transformação dos torcedores em sócios-torcedores, uma vez que isso gera receita frequente e previsível aos cofres dos clubes.

Em muitos casos, depois de cumpridos requisitos estatutários, adquire-se o direito de votar e ser votado. E dependendo do clube, as eleições são diretas – vota-se no candidato – ou indiretas – vota-se num colegiado que elege os mandatários.

Independentemente destas nuances, uma vez que o torcedor adquira este status de sócio, é salutar para a evolução da instituição sua participação ativa no processo eleitoral.

Diga-se isso por, em alguns casos, não só no Brasil, como sei de casos na Argentina, nem todos os que têm direito a voto o fazem efetivamente. Ou por preguiça, alienação ou por que o processo eleitoral não facilita.

Nesse ponto, os clubes brasileiros podem aperfeiçoar o processo eleitoral, estruturando e estimulando os sócios para votações em consulados e filiais; pelo correio e até pela internet (com a devida certificação de segurança exigida).

O Partido Democrata dos EUA já o faz em suas eleições prévias para indicação dos candidatos. Os filiados das Ilhas Virgens Americanas podem votar por internet. Existe até o site Democrats Abroad.

E mais: podem doar pela internet. Porque, quanto mais me sinto parte desse ambiente, mais quero contribuir com seu crescimento. Com voto e, why not?, com doações. Vide o fenômeno que elegeu Barack Obama.

No caso dos clubes de futebol, isso se daria com voto e com mais sócios na base, pagando mensalidade, ainda que longe fisicamente, pois o sentido de pertencer à instituição não tem limite geográfico.

Como cidadãos brasileiros, estamos (mal) acostumados a reclamar dos políticos. Mas somos preguiçosos para entender de política. Devemos votar, mas também ser votados, participando da política, e também fiscalizando as gestões.

O resultado prático, se não há envolvimento popular, é o déficit de cidadania que ainda vigora por todo Brasil.

Como diz um grande amigo meu, quem não gosta de política, será governado, do mesmo jeito, por quem gosta.

Ah, e como tem gente que gosta. Já demonstrava o ilustre deputado Justo Veríssimo:
 


 

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A Fórmula 1 e o futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Os esportes de alto rendimento dividem-se, basicamente, em dois grupos. Os individuais e os coletivos.

O futebol, por exemplo, é um esporte coletivo. Não existe um jogador campeão, mas sim uma equipe. O tênis, por outro lado, é um esporte individual (ressalvada a exceção da Copa Davis e, de certa forma, os torneios de duplas). Nesse último esporte, o atleta é considerado individualmente o campeão.

Nesta coluna, gostaria de usar um exemplo do futebol para fazer uma crítica à Formula 1.

A modalidade do automobilismo da Formula 1 possui atualmente um problema gravíssimo, que é o conflito entre ser um esporte individual ou um esporte de equipe, o que compromete, de forma inaceitável, o espírito fundamental do esporte da busca pela vitória.

Diversos males hoje reconhecidos e combatidos também afetam esse espírito da vitória. A má utilização das apostas desportivas, por exemplo, pode fazer com que um time entregue um jogo de propósito, o que é inaceitável. O doping, de outro lado, maximiza o espírito da vitória de forma desleal e prejudicial à saúde dos atletas: igualmente reprovável.

Pois bem. O conflito entre esporte coletivo e individual, presente hoje na Fórmula 1, também em nossa opinião deveria ser combatido. Quem paga ingresso para assistir ao evento, sai evidentemente decepcionado ao ver um piloto deixar o outro passar por questões estratégicas da equipe. E em um cenário pessimista, mas possível, essa atitude pode levar ao afastamento de torcedores, mídia e patrocinadores, minando a viabilidade financeira do esporte.

Pelos regulamentos da competição, a Formula 1 é um esporte individual, tanto que a atitude da escuderia em questão provocou a sua punição. Entretanto, o erro reside em premiar e reconhecer, de forma muito ostensiva, a melhor escuderia da competição, por pontos de seus pilotos.

É como se o prêmio de artilheiro do Brasileirão fosse algo muito relevante (principalmente em termos financeiros). Esse fato não tiraria o aspecto da coletividade do jogo, porém poderia provocar distorções. Ou então, em outra perspectiva, se premiassem ostensivamente o melhor país em termos de rendimento dos seus clubes nos torneios continentais.

Um exemplo bacana para o caso (mas triste por outro lado) é o que aconteceu em certa temporada no campeonato de futebol do Nepal (!!). Naquele país, em que o futebol é muito pobre, o artilheiro da competição leva um cobiçadíssimo carro do patrocinador do torneio.

Em um certo jogo de última rodada, em que um time “A” precisava vencer para não cair e o outro time “B” estava no meio da tabela e não dependia de resultado algum, o time A acabou vencendo por 9×8, tendo o artilheiro do time B feito os 8 gols e sagrando-se o artilheiro da competição.

Em outras palavras, os esportes coletivos devem premiar as equipes, e os individuais premiar os atletas, apenas menções a outros destaques marginais. De forma que o esporte impeça que o verdadeiro espírito do esporte mantenha-se intacto.

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