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Proteção de propriedades intelectuais

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Ontem tivemos a cerimônia de lançamento do emblema oficial da Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

A partir de então, começa uma das grandes preocupações da Fifa em Copas do Mundo: a proteção desse símbolo e a tentativa de impedir o seu uso indevido por terceiros. O registro e a proteção de propriedades intelectuais, aliás, são dois grandes desafios de organizadores de mega eventos internacionais.

É preciso, de início, atentar para que os registros sejam feitos de forma a garantir a proteção no território desejado, e também a abrangência necessária.

Dessa forma, diversas são as marcas registradas pela FIFA em uma Copa do Mundo, incluindo aquelas nominativas (palavras), figurativas (desenhos ou figuras) e mistas (palavras estilizadas, misturadas com figuras).

No Brasil as marcas são registradas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI, e gozam de proteção pelo período de dez anos, renováveis por iguais períodos. O registro é ato formal necessário para que se garanta a propriedade e proteção daquelas marcas.

Mas não é apenas esse o esforço da Fifa (e também do Comitê Organizador Local – COL). Passada a fase preventiva (registro), os organizadores passam para a fase de fiscalização e tomada de medidas extra-judiciais e judiciais para coibir o uso indevido de suas marcas.

Assim, é necessário que os agentes designados pela Fifa e COL façam uma fiscalização exaustiva e adotem uma estratégia de reação legal contra a má utilização dessas marcas.

Mas também a matéria não é tão clara quanto parece. Aqueles que procuram auferir lucro com o uso do “momento” da Copa do Mundo sem negociarem com os organizadores acerca do uso de suas marcas são muito criativos, e tentam, de toda forma, encontrar meios de contornar uma eventual ilegalidade.

É assim que produtos com os dizeres “Brasil 2014”, “Futebol 2014”, “Seleção”, “Hexa”, “Copa de Futebol”, entre outros, com a utilização simultânea das cores da bandeira brasileira, são produzidos e vendidos nos mais diversos pontos de distribuição do país.

Nos casos mais óbvios, em que o símbolo da Fifa, ou da CBF, ou os emblemas oficiais da Copa são utilizados sem autorização, fica mais fácil a reação legal. Por outro lado, para os casos menos diretos, como aqueles exemplificados acima, a confirmação das ilegalidades ocorrerá mediante a análise dos registros anteriormente efetuados no INPI ou outros órgãos internacionais competentes.

E, somente então, será possível verificar se os organizadores da Copa, através de seus representantes legais, conduziram os registros de marcas de forma apropriada.

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Mais que uma Copa

Apesar da Copa do Mundo dominar o noticiário geral por cerca de um ou dois meses, ela possui um impacto relativamente pequeno no contexto geral da indústria. Pouca coisa que acontece em uma Copa do Mundo causa um efeito mais significativo no comportamento do negócio do futebol cotidiano. Nessa, por exemplo, a coisa mais impactante foi a decisão leviana da federação italiana em reduzir a cota de jogadores estrangeiros no país por conta da eliminação precoce da seleção no torneio. De acordo com a federação, isso se deu pela escassez de talento italiano no país decorrente do alto número de estrangeiros disputando o campeonato nacional. Obviamente, ela não leva em conta que dois dos quatro maiores provedores de jogadores do futebol europeu, França e Sérvia, também foram eliminados na primeira fase. E que a Alemanha, semifinalista, possui uma das ligas mais abertas ao mercado externo de toda Europa. De qualquer maneira, com a restrição de vagas a estrangeiros na Itália, o mercado de jogadores tem que se ajustar, e isso causa um pequeno efeito na indústria.

Mas nada tão grande quanto dois fatos que aconteceram com um só clube nesse último mês, o Barcelona. Esses sim têm potencial de causar alguns estardalhaços no mundo do futebol e têm sido meio que ignorados por conta de toda demanda de informação da Copa, que gera ícones da superficialidade como o Polvo Paul.

O primeiro deles é que, logo que a Copa começou, o Barcelona realizou eleições para presidente. E o clube, que ganhou tudo o que disputou nesses últimos anos, com um estilo de jogo que causa inveja por todo o planeta e que conta com os jogadores mais requisitados pelo mercado, se viu envolvido em uma disputa política que culminou com a eleição de Sandro Rossel, que fazia oposição ao Laporta. Ou seja, para um clube de futebol que é constituído no formato associativo, não basta encantar a todos e ganhar tudo se você não encanta seus sócios e ganha a eleição. Assim como você pode eventualmente perder tudo e desagradar a todos e ser re-eleito, caso você se contente em agradar quem vota na eleição.

A treta no Barcelona parece ser feia. Primeiro porque a eleição teve contornos de filme de ação, envolvendo espionagem, grampos telefônicos e tudo mais. Ao que parece, a situação era forma por alguns grupos independentes que se uniram para eleger Laporta. Na hora da sucessão, cada grupo tentou emplacar seu próprio candidato, o que diluiu os votos entre os eleitores da situação. Como a oposição só tinha um candidato, ela acabou levando de forma mais tranquila. Mesmo assim, Rossel foi eleito com 61,4%, o que corresponde a um pouco mais de 35.000 votos. Isso quer dizer que mesmo que a situação tivesse só um candidato, Rossel levaria o caneco mesmo assim.

A plataforma eleitoral de Rossel foi baseada na idéia de dar o Barcelona de volta aos seus sócios, uma vez que Laporta era visto como um presidente autoritário e exibicionista. Tamanho egocentrismo talvez seja o responsável por ter levado o Barcelona ao status que desfruta hoje. Mas, como todo caso de sucesso, sempre há um preço a ser pago. E o preço nesse caso foi caro por dois motivos. Primeiro porque custou à situação a perda do controle do clube. E o segundo motivo é tão ou mais importante do que a mudança de poder no clube e, tal qual, também foi ignorado pela imprensa em geral por conta da Copa do Mundo: ao que tudo indica, o Barcelona está na beira da falência.

O maior sinal de complicação financeira em um clube de futebol é o atraso de salário de jogadores, uma vez que esse é o custo mais básico do clube. Outras contas podem atrasar. Salário não. Quando atrasa, é porque todo o resto já está atrasado e não há mais de onde tirar dinheiro. E na terça-feira veio a informação de que o Barcelona teve que pegar 150 milhões de euros emprestados pra pagar salários atrasados. O clube que ganhou tudo e encantou a todos não conseguiu arcar com os altos salários de seus atletas e, principalmente, com os prêmios de conquista de campeonatos e não gerou dinheiro suficiente para arcar com suas despesas. No ano passado, quando o clube realmente ganhou tudo o que podia ganhar, o lucro ficou só em 8 milhões de euros, muito pouco para poder sustentar uma segunda temporada com manutenção de contratos e perda certa de performance.

Mas até aí tudo bem. Poderia ser só um problema de fluxo de caixa, coisa que faz parte do discurso oficial do clube sobre o atraso. Mas o risco do Barcelona está no contrato de transmissão que tem com a Mediapro, que subsidia boa parte da operação do clube. Há duas semanas, a Mediapro abriu um processo de falência e, diferente do Real Madri, o contrato do Barcelona com a empresa não tem proteção bancária. Ou seja, se a Mediapro afundar, o que ainda é incerto, ela leva o Barcelona junto. E se o Barcelona afundar, ele leva um monte de paradigmas de excelência de gestão de clubes de futebol com ele. Inclusive aqueles que norteiam a gestão da maioria dos clubes do Brasil. No fim, o futebol espanhol pode ter muito mais influência na dinâmica da indústria do futebol do que uma eventual conquista da Copa do Mundo.

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Brasil de luto, Brasil revoltado! Uma aula tática holandesa

O luto pela derrota brasileira para a Holanda foi grande, comentado por todos, um misto de tristeza e revolta. Muito provavelmente o amigo deve pensar: “mais um comentando o fracasso, não agüento mais, é como se alguém que vem no velório de um ente querido e ao chegar fala ‘olá, tudo bem?’ Como se a própria situação já não deixasse claro que não está tudo bem”.

Mas vamos lá, o que gostaria de mostrar para o amigo é que mais do que achar vilões e culpados, precisamos aprender a reconhecer a superioridade do adversário, seja em situações de jogo, ou na análise do mesmo. O Brasil sempre culpa a si, pela arrogância de não se achar inferior aos outros.

Assim faço uma análise sobre os dados do jogo. E que não fiquemos na discussão de que analisar depois é fácil porque esses dados puderam ser acompanhados durante o próprio jogo, portanto, possível de serem prontamente interpretados.

O Brasil começou o jogo marcando bem a principal jogada holandesa, que eram os lançamentos de Sneijder para Robben.

Vejam como do primeiro tempo para os primeiros 20 minutos do 2º período, o técnico holandês, Bert Van Marwijk, percebe a marcação brasileira e muda a forma de jogar da equipe, o que surpreendeu a seleção brasileira.

Vejam que Sneidjer, o camisa 10 holandês, que atuou numa posição centralizada mais a esquerda no primeiro tempo, onde costuma realizar seus lançamentos para Robben durante a Copa, aproximou-se do setor direito para jogar mais próximo do camisa 11.

E não apenas isso, o técnico holandês posicionou Van Persie (9) por aquele setor. Criando uma triangulação para anular o forte trio de marcação que estava “treinadinho” para anular os lançamentos longos de Sneidjer para Robben, e também a penetração deste último trazendo a bola pelo meio.

Entre Felipe Melo, Michel Bastos e Juan, dois jogadores sempre marcavam o corte para dentro do Robben, um tentava o “bote” logo quando a bola chegava e outro ficava na cobertura do drible. Porém, quando Sneidjer e Van Persie se aproximam e o jogo fica curto e rápido, o Brasil se perde, chega atrasado nas jogadas e começa a cometer mais faltas, levando à substituição de Michel Bastos e expulsão de Felipe Melo.

Outro jogador ganha importância no jogo, embora tenha passado desapercebido, muito também pela sua fama de agressivo. Esse jogador foi o camisa 6, Van Bommel.

Confesso que sou fã desde jogador desde o PSV e também na época do Barcelona, quando fazia parte do meio-de-campo da equipe. Um jogador forte e viril, sem dúvidas, mas muito mal analisado por muitos como um jogador sem recursos. É um jogador com bom passe e cadência, um jogador tático. Nos primeiros minutos do 2º tempo vejam como ele recua para dar liberdade para Sneidjer.

Outro ator importante é a participação de Van Bommel no próprio jogo. Vejam, em termos de passes, ele assume importante papel na distribuição de bola da equipe no momento da virada holandesa.

Enfim, poderíamos alongar nossas discussões, mas creio que o texto já ficou longo. Porém, espero ter ilustrado para os colegas leitores o quanto um recurso de análise pode mostrar situações que podem ter sido determinantes no jogo.

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Não existe ideal

Em 2006, a “culpa” da derrota brasileira na Copa do Mundo foi a falta de vontade dos jogadores, o excesso de estrelismo e a falta de patriotismo. Quatro anos depois, o Brasil fez tudo diferente. Rigor a toda prova, reclusão, jogadores distantes do holofote, da badalação ou de qualquer coisa que o valha. E o resultado foi, simplesmente, o mesmo: derrota nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

O que fica de lição depois de quatro anos e mais um fracasso acumulado em Mundiais? O mais evidente deles, para mim, é de que não existe um modelo ideal, fechado, para ser o campeão do mundo. Como bem disse Johann Cruyjff, após a dolorida derrota holandesa de 1974, a Copa do Mundo é uma competição que premia o melhor time após sete partidas.

Não é nada além disso. Não existe fórmula a ser seguida.

O maior problema com a seleção de Dunga foi não ter contado com os 23 melhores jogadores do país na atualidade. O treinador, agora ex, foi fiel a quem lhe foi imprescindível durante a escalada rumo à Copa do Mundo. Só que ele se esqueceu do básico: levar um time que fosse capaz não de ser fiel a qualquer princípio, mas que soubesse ganhar quando fosse necessário.

A Holanda, que derrotou o Brasil nas quartas, comportou-se até agora de forma muito distinta daquela exigida por Dunga. Os jogadores holandeses, volta e meia, passeiam pela cidade de Joanesburgo, tiram fotos com fãs, pensam em outra coisa além de Copa do Mundo e futebol.

Todo trabalho precisa de um descanso. Do contrário, a cabeça não aguenta tanta pressão e tanta exigência pela conquista de algumas metas. É assim no dia-a-dia de trabalho, tem de ser assim também numa equipe que almeja ser a campeã do mundo.

Se, em agosto de 2006, o maior debate era a falta de patriotismo da equipe brasileira, agora o problema parece ter sido o excesso de vontade e a falta de controle que minaram a atuação brasileira no clássico contra a Holanda.

O bode expiatório foi Felipe Mello, símbolo de resistência de Dunga contra a opinião pública. Poderia ser qualquer outro, que não resolveria o problema.

Enquanto o Brasil insistir em encontrar culpados no lugar de resolver o problema, será mais difícil evoluir. A CBF tem, por característica, radicalizar o comando técnico da seleção brasileira depois de um pífio resultado dentro de campo sem parar e pensar os motivos que levaram a um desempenho abaixo do que se esperava.

Não existe uma fórmula ideal. O que precisa existir é a formação de um grupo coeso, que represente o melhor do país dentro de campo. O resto é conversa mole para tentar tirar o foco de um dos maiores problemas do brasileiro: a falta de planejamento.

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A soma de todos os medos

Dizem que a ignorância é o que provoca o medo nas pessoas.

Portanto, muita ignorância pode proporcionar muito medo em muitas pessoas.

No filme A soma de todos os medos (2002), baseado em obra homônima do escritor Tom Clancy, Jack Ryan interpreta um analista de relações internacionais da CIA, a famosa central de inteligência dos EUA.

O protagonista é especialista na biografia e trajetória política do novo presidente da Rússia.

Nesse sentido, conhece todos os detalhes do político, que lhe permitem aconselhar o presidente americano e o Departamento de Defesa na condução do relacionamento bilateral.

Entretanto, uma conspiração política, provocada por espionagem e interesses de terceiros, ameaça essa estabilidade no pós-Guerra Fria.

Logo, essa intervenção, alheia ao conhecimento recíproco de cada um dos lados, dá lugar a uma escalada de ignorância, que só faz aumentar o medo de que retaliações já iniciadas se transformem numa guerra nuclear.

A certa altura, o medo é tão grande que já não importa mais racionalizar quem fez o que – ou quem começou o quê…

Afinal, o terror já se instalou nos tomadores de decisão dos dois países.


 

O medo da Fifa em que a África do Sul, país-sede da Copa do Mundo 2010, fosse cenário de carnificina, estupros, assaltos, sequestros, fez com que exigisse a instauração dos Fifa Court – tribunais especiais para julgar crimes ocorridos durante e vinculados ao evento.

Nas nove sedes, foram criados 54 tribunais especiais, em que os ritos processuais são sumários (cinco dias).

Poderia parecer um grande avanço diante de um sistema judiciário moroso, como costuma se afirmar no caso do próprio Brasil.

Entretanto, muitos direitos internacionalmente assegurados pela evolução do processo penal são turbados, como a ampla defesa, o contraditório e o devido processo legal, produção de provas, grau de recurso.

Obviamente que são julgados delitos menores. Mas há que se proteger os conceitos do devido processo legal e que não se jogue fora o conjunto de leis e direitos do país-sede – acima dos interesses da Fifa.

Em um dos tribunais, dois homens do Zimbábue, estavam sendo julgados por roubo. Mas o caso seguiria mais tarde pela falta de intérprete na instrução do processo.

Em 2014, o Brasil estará na pele da África do Sul.

O modelo do Fifa Court deverá se adaptar ao nosso sistema constitucional. Não o contrário.

Não se deve deixar prevalecer um ambiente kafkiano de perseguição e acusação baseado no desconhecimento, tanto de quem julga quanto de quem é julgado.

Porque a ignorância leva ao medo. E o medo leva ao terror.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Das faltas violentas no futebol

Caros amigos da Universidade do Futebol,

O que fazer com jogadores como Cheick Tiote, da Costa do Marfim, relativamente ao lance em que o brasileiro Elano sofreu a lesão que o afastou da Copa? É possível promover algum tipo de ação judicial para reparar o dano causado ao nosso meio-campista?

Essa discussão já é antiga, e não se limita apenas ao futebol. Para abordarmos esse assunto, temos que trazer mais uma vez à discussão o conceito da especificidade do esporte, o que reforça, mais uma vez, a sua grande importância.

Para ilustrar a discussão, vamos levantar outro exemplo. Poderia um lutador de boxe ingressar com uma ação de reparação de danos contra um adversário por despesas médicas decorrentes dos socos desferidos durante um combate?

Parece-nos evidente que, no caso hipotético, uma eventual ação de reparação de danos seria julgada improcedente. Da mesma forma, não haveria qualquer crime de lesão corporal. Eis a especificidade do esporte.

Por outro lado, caso o lutador tivesse mordido a orelha do oponente (qualquer semelhança a fatos pretéritos efetivamente ocorridos é mera coincidência…), entendemos que a ação teria admissibilidade.

Em princípio, deduzimos do exemplo acima, e das alternativas levantadas, que caso o atleta atue conforme as regras do jogo, não há qualquer irregularidade e, portanto, não haveria que se falar em reparação de eventuais danos causados nessas circunstâncias. Caso, entretanto, o atleta desrespeite as regras do jogo causando o dano, este poderia ser objeto de ação de reparação de danos.


 

Voltando ao caso do Elano, temos que estimular o debate de acordo com as regras do jogo do futebol. Prima face, como o juiz apontou a entrada como faltosa, teríamos de imediata a ocorrência de uma violação à regra do jogo.

Mas entendemos, nesse exemplo, tendo em vista que “carrinhos” são muito comuns no futebol, teríamos que analisar mais profundamente a conduta do agressor, para verificar se houve grave desproporcionalidade na conduta (o que neste caso específico nos parece que houve).

Isto para dizer que uma simples falta no futebol não ensejaria, a meu ver, uma ação de reparação de danos à “vítima”. Mais do que isso, é preciso analisar se a falta foi cometida mediante um comportamento repugnante e indesejado ao jogo. Vale dizer assim que faltas tidas como normais já fazem parte do jogo, e, portanto, não deveriam ser sempre vistas como a mordida na orelha do caso hipotético acima mencionado.

É assim que devemos (e nosso poder judiciário deveria) olhar para o futebol à luz da especificidade do esporte.

De todas as maneiras, é bom deixar claro que, a meu ver, a lesão sofrida pelo Elano foi causada por uma dessas condutas passíveis de reparação de danos (nesse caso, inclusive morais, por tirá-lo da Copa do Mundo). Assim como a entrada do Pepe no Felipe Melo.

Para nós brasileiros, seria melhor que o Elano tivesse sofrido a mordida na orelha, pois isso não o tiraria da Copa…

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A Jabulani e o marketing acidental

Apesar dos diversos exemplos de marketing de emboscada, da música da Coca-Cola, dos anúncios customizados da Inbev nas placas de LED, da Larissa Riquelme e o seu porta-telefone e dos sanduíches temáticos do McDonald’s, eu sinceramente acredito que o grande case de marketing dessa Copa do Mundo é a Jabulani.

A princípio, pode-se imaginar que tudo o que cercou a Jabulani nesta Copa criou um enorme desastre para a Adidas. Afinal, muitos jogadores, inclusive seus próprios patrocinados, reclamaram da qualidade da bola e, de certa forma, ficou a impressão que a Adidas fez um péssimo trabalho de concepção de produto.

Porém, logo que essas reclamações se tornaram públicas e alguns lances estranhos começaram a acontecer nos jogos da Copa, muita gente começou a procurar e a discutir detalhes sobre a bola. O fenômeno tomou tal proporção que matérias começaram a ser feitas sobre a Jabulani, levando a diversos programas esportivos nos mais variados canais a explorar o assunto. Chegou a um ponto tal de popularidade que a Globo não se importou em fazer aquela bizarrice com o Cid Moreira. Justo a Globo, mestre em coibir mensagens e imagens comerciais, colocou um de seus mais renomados apresentadores falando o nome de um produto durante uma transmissão ao vivo da Copa, sem que ninguém tivesse pago por isso. E, ao mesmo tempo que ela fazia isso, seus comentaristas tratavam de dizer que nem tudo que acontecia em campo era por culpa da bola, que ela não era tão ruim assim. Em paralelo, a Folha divulgava uma matéria dizendo que apesar dos jogadores reclamarem, os peladeiros aprovam a bola, afirmando que “maior polêmica do Mundial, ela abandonou seu lado patricinha –como foi definida pelo volante Felipe Melo– e foi aprovada pelos peladeiros da zona leste paulistana”. Quer propaganda melhor que essa, um atestado de qualidade do público que de fato vai se preocupar em comprar réplicas da bola?

Obviamente, tudo isso aconteceu por acaso. A Adidas certamente não esperava que a bola fosse causar tanta polêmica e é certo que ela não imaginava que a repercussão seria tão grande. Os resultados de venda é que vão dizer, ultimamente, se isso é positivo ou não. Mas é inegável que a marca ficou incrustada na cabeça do público que acompanha a Copa, e assim deve permanecer por anos a fio. E essa repercussão toda certamente não teria alcançado o mesmo tamanho se tudo isso tivesse sido planejado. Coisas programadas com tamanha complexidade raramente dão certo, uma vez que as variáveis que incidem no cenário são muito grandes. É muito, muito difícil criar um fenômeno de massa de acordo com aquilo que você quer. Basta ver o tcha-tcha da Hyundai.

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Arbitragem não pratica Fair Play na Copa: erros e mais erros

Caros amigos,

mais uma vez! E como não falar, como não tocar no assunto novamente?

Será que a grande maioria das pessoas está equivocada em reivindicar a tecnologia no auxílio da arbitragem?

A Inglaterra, vítima de agora, foi beneficiada em 66. A Argentina tem o talismã Maradona (mas agora como técnico) também nesse segundo episódio que a beneficia, assim como o tão famoso gol com “La mano de Dios”, por curiosidade contra a mesma Inglaterra.

É curioso mesmo. O país que moldou (inventou) o futebol moderno, foi quem fundou a International Football Association Board (IAFB) que rege as regras do futebol. Fundada antes mesmo da própria Fifa, que surgiu 22 anos depois, a IFAB nasceu em 1882 por iniciativa dos países britânico. E não que é que ironicamente os grandes erros em Copa têm acontecido com a Inglaterra.

Perdi a conta de quantas vezes escrevemos a respeito desse tema; fizemos até um mini fórum com os colegas leitores abordando vantagens e desvantagens de se adotar a tecnologia no futebol, e eis que sempre surgem as polêmicas.

O que me incomoda, caro amigo, particularmente, é uma inconsistência da Fifa com seus próprios valores (ao menos aqueles que ela diz possuir). O tão famoso slogan do Fair Play, talvez para eles o jogo limpo, é sinônimo de ausência de tecnologia, limpo de qualquer recurso que interfira no jogo (ou nesses casos, nas decisões equivocadas dos árbitros).

Mas é Fair Play ganhar um jogo com um gol que não existiu, ou perder o jogo com outro que foi erroneamente não marcado? Isso é jogo limpo?

Se o Fair Play tão divulgado por essa entidade escorresse de verdade nas veias da instituição, eles tomariam atitudes, mesmo que pós-jogo, de cavalheiros, como os nobres cavalheiros que fundaram a IFAB poderiam imaginar. Viriam a público, na hipótese mais simples de se imaginar, e diriam que foi lamentável e que eles reconhecem o erro, mas que não podem alterar a decisão de um árbitro de campo, porém iriam estudar alternativas para que isso não voltasse a ocorrer.

Porém, cadê o Fair Play? Aliás, cadê o cavalheirismo? O porta-voz da Fifa, Nicolas Maingot, em entrevista coletiva*, reconheceu o erro. No entanto, para ele, o erro foi o lance ter sido exibido no replay do telão no estádio, uma falha humana de quem controlava o replay!

Sem comentários! Deixo o minuto de reflexão para o amigo que me acompanha.

Apenas para constar.

No lance da Inglaterra (veja o lance no vídeo a seguir) se estivéssemos um chip na bola ou uma indicação entre as traves, tal como o hóquei, o gol seria validado na hora sem reclamação de nenhuma das partes, dada a veracidade da tecnologia.

 

http://www.youtube.com/watch?v=2exC91gkh30

Caso o vídeo apareça com a mensagem: “este vídeo apresenta conteúdo de Fifa, que o bloqueou com base nos direitos autorais”, peço desculpas ao amigo, mas faz parte do ” Fair Play” da Fifa.

 

No lance do gol de Tevez, impedido, não precisaríamos de nada novo em termos de recursos, mas talvez de processos. O lance do momento em que ocorreu o gol até o reinicio da partida parou o jogo, se não errei em contas, por cerca de 2 minutos e 30 segundos, devido a reclamações. Se o quarto árbitro ou o próprio árbitro principal pudessem utilizar as imagens para validar o lance (assim como é feito no tênis hoje), o jogo teria sido reiniciado antes, com a certeza de um jogo limpo.

P.S. O árbitro deu apenas 2 minutos de acréscimos no 1º tempo

Fair Play, Fifa! Fair Play!

* Para acessar a matéria completa da Globo.com sobre a entrevista de Nicolas Maingot clique aqui.

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Só muda o endereço

Entrevista coletiva para a imprensa em Johanesburgo, no estádio Soccer City. Danny Jordaan, presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, e Jérôme Valcke, secretário geral da Fifa, eram as grandes estrelas do encontro.

Em pauta, um balanço do que foi a primeira fase da Copa. Nas perguntas dos jornalistas, porém, tudo muito diferente. Escândalo na seleção francesa, segurança para o jogo Alemanha x Inglaterra, Morumbi fora do Mundial de 2014, contratação do irmão de Jordaan para cuidar dos camarotes da cidade de Port Elizabeth, por “módicos” R$ 50 mil por mês…

Depois da entrevista, um enxame de repórteres fechou o cerco sobre Jordaan e Valcke, para massacrá-los ainda mais com as mesmas perguntas feitas anteriormente, mas na tentativa de se conseguir uma frase mais bombástica, um detalhe a mais, algo diferente.

Não adianta. Em qualquer lugar do mundo, jornalista é jornalista na essência. Por mais que a pauta seja uma, o interesse pela notícia é outro. Isso é algo que demorou, e muito, para que o técnico Dunga entendesse. Não é ele quem determina o assunto que será debatido, mas sim o jornalista que chega e faz a pergunta que melhor lhe cabe.

No final das contas, pouco ou quase nada do balanço apresentado pela Fifa foi debatido naquela coletiva para a imprensa. O que mostra, também, o quanto o expediente está ficando desgastado no dia-a-dia da produção de conteúdo.

O jornalismo vigiado e controlado pelos assessores tem dificultado ainda mais o acesso do jornalista à fonte da informação. Há um controle exacerbado sobre quem fala, o que fala, quando fala e como fala. E isso gera um atrito considerável entre as partes.

O estouro de Dunga na coletiva após o jogo contra Costa do Marfim, ou a maneira ríspida como Jordaan respondeu sobre os questionamentos a respeito de seu irmão mostram a que ponto chegou o relacionamento da fonte com o jornalista na era moderna.

E, para variar, as respostas passam a ser sempre as mesmas. Não há mais paciência na relação. Só muda o endereço de onde o atrito ocorre. Mas, no esporte, fonte e jornalista definitivamente não falam a mesma língua…

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Bafana Bafana

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Como estávamos prevendo, a África do Sul foi mesmo eliminada na primeira fase da Copa do Mundo em que são anfitriões. Temíamos (e continuando a temer) um possível enfraquecimento dos efeitos positivos que a Copa pode trazer ao país sul africano no pós-evento.

Em interessante entrevista concedida à revista oficial da Fifa, edição junho/julho de 2010, Alexander Koch, conselheiro das Nações Unidas, divisão de Sport for Development and Peace, comenta sobre os impactos da Copa na África do Sul, e em especial no caráter de união do país (nation-building). Comenta que esse efeito tem especial relevância para a África do Sul por conta de seu recente passado histórico e dos diversos grupos étnicos que hoje co-habitam o país.

Temos agora que observar não só o desenrolar da Copa, como também, e principalmente, o período do pós-Copa, para termos uma noção mais concreta de como a Copa influenciará o pais, mesmo tendo a seleção nacional sido eliminada logo na primeira fase.

O efeito psicológico dessa eliminação torna-se mais relevante quando a imprensa internacional noticia que esta foi a primeira vez que um país anfitrião abandona a festa logo na primeira fase.

De igual importância será observar esse impacto e trazê-lo para a percepção das autoridades do futebol no Brasil. Evidente está que dificilmente o Brasil seria eliminado na primeira fase em uma Copa disputada no nosso próprio país.

Alguns podem então pensar que essa questão não é relevante para a organização da Copa no Brasil. Porém, entendemos de forma diversa. Pressão similar que a África do Sul sofreu para ser classificada para a segunda fase sofrerá o Brasil caso não seja campeão.

Portanto, os conceitos de “fracasso” em um e outro caso são claramente distintos. Porém, o impacto desse fracasso no pós-Copa podem ser similares.

No nosso caso, esperamos que a forma de torcer no Brasil seja alterada. Que jogos de futebol sejam menos violentos. Que as torcidas sejam mais solidárias e que o futebol tenha um caráter maior de inclusão social.

Essas são as expectativas no plano psicológico dentro do futebol.

Essa é então a grande função social que nossa seleção canarinho terá: conseguir o caneco. E, para nós, mais um motivo para torcer pelo Brasil.

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