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O valor do patrocínio (parte 01 de 03)

Vou iniciar uma sessão com três colunas complementares para tratar da temática “patrocínio” e o amplo debate em torno da sua aplicabilidade no esporte. A proposta não é polemizar, tal e qual está sendo o assunto do momento relacionado aos patrocínios da Crefisa para o Palmeiras e os árbitros do Campeonato Paulista. A ideia é gerar reflexões visando melhores práticas.

Vamos começar, então, com a apresentação de dois vídeos, que convido os leitores a assistir antes de continuar:

Se fizéssemos a pergunta: o que vocês viram em cada um dos vídeos? Talvez os mais viciados em marketing esportivo diriam que viram no primeiro vídeo a “Vivo”, a “Brahma”, a “Nike”, a “Batavo” ou a “Caninha 51”. O fato é que, o público em geral, olha várias vezes para o feito e enxerga “tão somente” o golaço de Ronaldo contra o Santos, com uma parcela residual de lembrança das marcas apenas se for estimulado a esta memória. Para o segundo vídeo, muito provavelmente, será consenso que as pessoas virão apenas mais uma propaganda criativa da Coca-Cola.

E qual a mensagem desta reflexão inicial em relação a patrocínio esportivo? Que um patrocínio por si só não emite efetivamente toda a mensagem comercial desejada por uma marca. É necessário, fundamentalmente, atrelar o patrocínio a um processo de comunicação amplo, que se convencionou chamar “ativação”.

Por "n" razões, seja por ausência de visão do lado esportivo ou mesmo por falta de interesse em desenvolver uma estratégia da parte das marcas é que vemos um cenário ainda inerte a grandes inovações e transformações neste meio, salvo raras exceções.

No Brasil, o único termômetro para medir a efetividade de um patrocínio continua a ser a visibilidade, motivo pelo qual as propriedades esportivas são pouco lastreadas em diferentes plataformas de modo a atingir uma maior quantidade de pessoas.

Não à toa que, no berço do marketing esportivo, o mercado americano, as marcas se associam ao cenário esportivo de uma maneira muito discreta ou de um modo que possa contribuir com o enriquecimento visual do jogo em si. Eis aí o grande valor, tanto para as marcas do esporte quanto para aquelas que se vinculam a este, construindo um verdadeiro conjunto de valores e troca de atributos intangíveis.

Nesta primeira abordagem reforçamos, portanto, um conceito muito vivo nas mesas de debates e comentários de especialistas em marketing esportivo, mas ainda pouco usual na prática. Na próxima coluna vamos abordar a relação do patrocínio com a quantidade de pessoas que uma propriedade é capaz de atingir. 

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O novo caso Jobson e o papel social do futebol

O Botafogo disputou no último domingo (26) o primeiro jogo da decisão do Estadual do Rio de Janeiro (derrota por 1 a 0 para o Vasco no Maracanã). Jobson, não. Suspenso pela Fifa por ter se recusado a fazer exame antidoping em 2014, quando defendia o Al-Ittihad (Arábia Saudita), o atacante terá de ficar afastado dos gramados por quatro anos. Mas será que essa pena condiz com o papel social do futebol?

Em primeiro lugar, existe uma discussão em torno do caso. Jobson alega que o time árabe tinha uma dívida com ele, que já havia reclamado publicamente. O antidoping surpresa foi um pedido do próprio Al-Ittihad, e o profissional mandado ao hotel em que o atacante estava não falava português. Segundo o jogador, a recusa a se submeter àquela análise foi uma defesa para evitar qualquer tipo de armação.

No atual momento, contudo, discutir o episódio específico é apenas parte da história. Ainda que estivesse dopado e que tivesse rechaçado o exame para não ser flagrado, Jobson não podia ter sido submetido ao protocolo atual.

“Não sei [onde ele está]. Passei duas mensagens, mas até agora não tivemos resposta. Ele ficou de ir ao hotel [em que a equipe estava concentrada], mas não foi”, disse o técnico do Botafogo, René Simões, depois do jogo de domingo.

Anteriormente, o treinador já havia dito que colocaria profissionais para monitorar Jobson nesse período pós-notícia. Os advogados do atacante entrarão com um recurso na Fifa e pedirão efeito suspensivo para que ele volte a atuar – o atacante vinha sendo titular do Botafogo –, mas o medo agora não esportivo. Trata-se de um jogador reincidente no consumo de drogas, que foi alijado da profissão e que recebeu uma série de rótulos difíceis de não pespegar (“doente”, “viciado”, “indisciplinado” e “insolente”, por exemplo).

Nenhuma outra seara submete pessoas a provações públicas sobre drogas sociais. Quando esse tipo de substância foi incluído no antidoping do esporte, a alegação era criar exemplos para as pessoas que acompanham o segmento. A questão aqui é: será que o melhor exemplo é afastar Jobson da única coisa que ele sabe fazer, impor uma desilusão a ele, criar um ambiente hostil e fazer dele um pária? Talvez esse seja exatamente o roteiro para aproximá-lo novamente do vício.

Não discuti em momento algum se é correto o uso de drogas sociais. Não discuti em momento algum se esse consumo combina com o esporte, com figuras públicas ou com pessoas que são exemplos para gerações mais novas. Meu ponto é apenas um: suspender preventivamente, divulgar o fato, afastar um atleta por quatro anos e submetê-lo a um tribunal como um doping “comum” pode ser uma boa lição para outros, mas e para ele?

O tratamento destinado a Jobson pode ser exemplar, mas não tem sido exatamente a melhor abordagem do ponto de vista humano. Quem vai se responsabilizar se o atacante voltar a usar drogas ou se decidir se afastar das pessoas que estão tentando ajudá-lo?

Desde que os problemas de Jobson foram deflagrados, a única instituição que tem sido cuidadosa e tratado bem o jogador tem sido o Botafogo. O clube sempre esteve à disposição – ofereceu tratamentos e profissionais, por exemplo –, deu oportunidades e não fez publicidade sobre um drama que é extremamente pessoal. A Fifa não teve essa sensibilidade em momento algum.

Doping é um assunto relevante, obviamente, e por relevante deve ser acompanhado com minúcia pela imprensa. Agora cabe um questionamento sobre comunicação: em casos de drogas sociais, o posicionamento adotado pela Fifa é realmente o mais prudente?

Drogas sociais não adicionam ganho de performance. As substâncias flagradas em exames anteriores de Jobson não foram ingeridas porque ele queria ser um atacante melhor, mas por questões fora de campo. Para a Fifa, porém, isso sempre foi tratado como um desvio de conduta de um atleta, e não de uma pessoa.

Em primeiro lugar: é irresponsabilidade jogar doping social no mesmo balaio de outros casos. Se um atleta usou esse tipo de droga, não pode ser julgado como os que tentaram obter vantagem competitiva.

Além disso, o esporte tem uma função social. Trata-se de um agente formador (qualquer pessoa que tenha praticado uma modalidade na vida, ainda que de forma amadora, pode relatar o quanto isso influenciou no desenvolvimento de aspectos como dedicação, controle, concentração, trabalho coletivo, relação com a derrota e etc.). Estamos sendo corretos com Jobson?

Considero absolutamente absurda a divulgação de qualquer caso nesse sentido. De que serve as pessoas saberem qual droga ele ingeriu, quando foi e por que foi? De que adianta as pessoas revirarem a vida pessoal dele como se fosse um criminoso? É, não adianta.

Como agente formador e como ente social, o esporte tem um dever de dar exemplos e contribuir com as pessoas que o seguem. Mas também tem um dever de cuidar dos próprios atletas e de quem serve como pilar para a modalidade.

Agora leve o exemplo de Jobson a outros casos. Quais são as iniciativas do futebol mundial para ensinar jogadores a administrar dinheiro, por exemplo? Atletas que ganharam muito e gastaram ainda mais também são péssimas influências. O que é feito para evitá-las?

E os atletas que simulam agressões ou que tentam enganar árbitros e torcida? O que é feito para que eles não sejam exemplos para a sociedade?

O caso Jobson é um exemplo extremo do quanto o futebol (e a Fifa, de uma forma bem específica) negligencia a formação. Os bons exemplos são forças naturais amparadas por aspectos que a modalidade desenvolve, mas não por um trabalho consistente.

Enquanto tratarmos os atletas apenas como entidades a serem observadas e avaliadas, esse problema seguirá em diferentes áreas. Passou da hora de entendermos que lidamos com humanos e que humanos são sujeitos a dramas humanos. No esporte ou fora dele. 

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Feedback gera aprendizado?

Por muitas vezes um treinador de futebol necessita ser eficaz na orientação de seus atletas, seja para reforçar comportamentos positivos e ações bem executadas, quanto para contribuir no desenvolvimento destes através da melhoria e ajustes dos comportamentos percebidos de seus atletas na busca por melhores desempenhos.

Mas para se realizar esta ação muitas vezes se recorre de maneira isolada ao famoso feedback, muito difundido entre os profissionais atualmente em qualquer nicho de atuação. Porém dúvida em relação a eficácia do feedback como única forma de contribuir para a melhoria do desempenho dos atletas.

Na verdade para conseguirmos contribuir efetivamente para o desenvolvimento do outro, precisamos compreender que o aprendizado de algo novo é um processo que muitas vezes pode passar despercebido pela mente do atleta. Muitas vezes quando estamos tentando aprender algo novo, não percebemos como nós aprendemos a aprender estas coisas novas.

Na verdade, é muito importante conhecermos o processo de aprendizagem humana para podermos contribuir com o desenvolvimento de alguém. Ou seja, conhecer a forma que nos levará do não saber ao saber.

Para desenvolvermos algo novo, passamos por quatro estágios neste caminho que nos levará ao desenvolvimento daquilo que buscamos. São eles:

1. Incompetência inconsciente – Quando o indivíduo não sabe que lhe falta alguma competência para fazer algo, ou seja, ele não sabe que não sabe alguma coisa.

2. Incompetência consciente – Neste estágio você provavelmente passa a ter consciência de que não sabe o que precisa para executar algo novo. Ou seja, sua incompetência sobre alguma coisa está clara e sua consciência está elevada quanto a isso.

3. Competência consciente – Aqui você aprendeu o precisava e não haverá mais um grande esforço consciente para acertar e conseguir fazer bem o que se necessita.

4. Competência inconsciente – Nesta fase a pessoa de fato aprendeu o que precisava! A habilidade em fazer algo passa a ser natural e não é necessário esforço algum para atingir um ótimo desempenho.

Desta forma, pode ser valioso para todo treinador de futebol que procura ser mais assertivo em suas orientações e no incentivo ao desenvolvimento de seus atletas, que ele consiga levar o atleta do estado de incompetência inconsciente para o de incompetência consciente, pois neste momento o atleta vai compreender claramente que lhe falta algo a aprender e com isso a consciência de sua incompetência poderá leva-lo a buscar os aprendizados necessários para tornar-se competente no que necessita e com isso melhorar seu desempenho na busca pela melhor performance esportiva. 

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Patrocínio da arbitragem

Na reta final do campeonato paulista, o patrocínio da Crefisa e da FAM estampado na camisa dos árbitros chamou atenção, eis que se tratam dos mesmos patrocinadores do Palmeiras, um dos semifinalistas da competição.

O Estatuto do Torcedor determina que é direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões. Além disso, é assegurado ao torcedor a transparência nas competições.

Outrossim, em se tratando de imparcialidade e da relevância do futebol no cenário sociocultural do Brasil, ser honesto não basta, deve-se parecer honesto.

Neste esteio, a FIFA, em seu Regulamento de Organização de Arbitragem estabelece que o patrocínio da arbitragem é permitido, desde que não exista conflito de interesses.

Destarte, se há um clube na competição com os mesmo patrocinadores, resta claro o conflito de interesses e violação ao princípio da independência da arbitragem.

Vale dizer que apesar da polêmica ter se instaurado no campeonato paulistas, em outros Estados os árbitros também são patrocinados.

Inclusive, em Minas Gerais, a CEMIL, empresa de bebidas lácteas patrocina Cruzeiro, Atlético e a arbitragem mineira.

Outrora inexistente, o patrocínio da arbitragem carrega consigo um importante papel de fortalecimento de uma marca, eis que o juiz de futebol, responsável pela tomada de decisões durante a partida, transmite a imagem de ética e imparcialidade.

Urge destacar que não a FIFA não proíbe o patrocínio dos árbitros, o que a instituição veda é a coexistência de patrocínios comuns com os clubes, e também de cassinos, casas de apostas, bebidas e cigarros.

Por fim, importante uma reflexão, se é proibido o patrocínio de árbitros e clubes pela mesma empresa sob pena de se levantar questionamentos éticos, não se abre precedente para conflitos entre clubes com mesmos patrocinadores? 

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Quando o futebol deixa de ser interessante

A derrota da seleção brasileira por 7 a 1 para a Alemanha, em pleno Mineirão, nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, virou um símbolo. Jogadores vivem má fase? Gol da Alemanha. Os campeonatos nacionais e regionais têm média baixa de ocupação nos estádios? Gol da Alemanha. Existe uma crise de interesse em torno da modalidade mais popular do país? Gol da Alemanha. Os principais clubes estão endividados e gastam dinheiro que não têm? Gol da Alemanha. Dirigentes se recusam a adotar práticas austeras de gestão, com controle e transparência? Gol da Alemanha. São muitos gols de um revés que ainda ressoa na memória e no cotidiano do futebol brasileiro. Entretanto, em poucos momentos a rede local balanço tanto quanto aconteceu nos últimos dias.

Um golpe duro foi o que aconteceu em São Paulo. A Federação Paulista de Futebol (FPF) decidiu flexibilizar o regulamento do Estadual e marcar três jogos de times grandes para a capital num mesmo fim de semana – um mecanismo contra isso havia sido criado por questão de segurança, a pedido da Polícia Militar (PM). Como a tarde de domingo (12) teve mais uma manifestação política na cidade, Santos e XV de Piracicaba se enfrentaram na Vila Belmiro, em Santos, às 16h (Corinthians x Ponte Preta e São Paulo x Red Bull aconteceram no sábado, e Palmeiras x Botafogo-SP foi às 11h). E a TV Globo, principal parceira de mídia do futebol brasileiro, preferiu transmitir um filme a exibir o duelo realizado no litoral.

Segundo medição do Ibope, o filme rendeu média de 7,5 pontos de audiência à Globo no horário em que Santos e XV de Piracicaba faziam uma das quartas de final do Campeonato Paulista. O Domingo Legal (SBT) marcou sete pontos, e Domingo Show (Record) obteve 6,2 – cada ponto corresponde a 67.112 domicílios sintonizados na Grande São Paulo.

O resultado de audiência é muito pior do que a média do futebol no horário. Por questões contratuais, a Globo só tinha direito a exibir uma partida das quartas de final. A emissora preferiu mostrar Corinthians x Ponte Preta, no sábado (11), e registrou 15,2 pontos no Ibope.

Em 2014, a Globo havia obtido 22 pontos com São Paulo x Penapolense, jogo que a emissora mostrou nas quartas de final do Campeonato Paulista. Um ano antes, Ponte Preta x Corinthians tinham rendido 18 pontos ao canal. E em 2013, também com Corinthians x Ponte Preta, o Ibope registrara 25 pontos.

Ainda que a mudança de dia seja um fator considerável – sobretudo porque o Caldeirão do Huck marcou apenas 10,7 pontos no sábado, pior audiência do ano – é inegável que o futebol tem perdido interesse. Também é inegável que a reação dos dirigentes a isso é praticamente nula, e que a reação da Globo a isso é aumentar ainda mais a exposição do Corinthians, time que tem maior torcida e (por consequência) melhores resultados no Estado.

As quartas de final do Campeonato Paulista são um guia completo da visão deturpada que algumas pessoas têm sobre o futebol brasileiro e do quanto isso afeta a gestão da modalidade. Regulamento bizarro (mas assinado por todos), regras ignoradas, criação de novos horários sem planejamento para isso, interesse da TV acima de qualquer pensamento coletivo para o campeonato.

Do jeito que foi posta, a sequência de acontecimentos em São Paulo cria um ciclo problemático. A Globo só mostra jogos do Corinthians, e isso afasta torcedores de outros clubes. Torcedores de outros clubes não têm como consumir informação em TV aberta, e apenas uma parcela busca outros caminhos. Com isso e sem uma ação complementar, perde-se um grupo com potencial para acompanhar a modalidade. Mais do que isso: perde-se uma oportunidade de atrair neófitos.

A consequência clara disso é que o grupo que se interessa pelo esporte, ainda que se renove, mantém enorme percentual de seus atributos. O consumidor da Globo seguirá sendo o corintiano das próximas gerações, mas os grupos futuros que seguem outros times já crescerão ignorando o canal. Isso vai fazer com que a emissora tenha um interesse cada vez maior nas partidas de uma mesma equipe, e aí está configurado o ciclo.

Para a Globo, os riscos desse ciclo estão diretamente relacionados ao desempenho dos times que a emissora mais mostra. Quando essas equipes vão mal e atraem menos olhares, a consequência é que o produto perca atratividade. Não é por acaso que executivos do canal já começaram a debater a viabilidade de ter tantas janelas para o futebol (a atração é cara, a operação é cara, e o resultado não é assim tão garantido).

Existem dois caminhos para evitar que esse ciclo se consolide: a promoção exaustiva de todos os eventos de um campeonato (o que não acontece) e uma discussão coletiva de mídia, que pense no bem comum e no fortalecimento de todas as equipes (o que não está nem perto de acontecer). Os clubes precisam entender o cenário em que estão postos.

O futebol tem perdido interesse, e um dos principais motivos para isso é a distribuição errônea dos produtos. E a responsabilidade, nesse caso, é toda dos clubes que não direcionam corretamente o processo.

Em vez disso, alguns clubes parecem preferir discussões inócuas. É o que aconteceu nos últimos dias com Eurico Miranda, presidente do Vasco, por exemplo. O mandatário da equipe carioca emitiu nota oficial irônica para questionar o Bom Senso FC, coletivo formado por atletas em 2013 para debater questões concernentes ao futuro da modalidade.

A nota de Eurico foi uma reação ao posicionamento do Bom Senso FC, que apoiou Flamengo e Fluminense em discussões com a Ferj (Federação Estadual do Rio de Janeiro). Botafogo e (principalmente) o Vasco são os principais partidários da entidade regional na atual cizânia.

Temor sobre o poder de Eurico fez com que jogadores do Vasco adotassem silêncio sobre o Bom Senso FC. Segundo reportagem do UOL Esporte, atletas simpatizantes do coletivo e das causas que ele defende têm mantido isso em sigilo por causa do posicionamento do presidente.

Eurico também discutiu publicamente com Fred, capitão do Fluminense, por causa de críticas à arbitragem do Estadual. O Rio de Janeiro tem um processo de debate que podia ser benéfico para o futebol local, mas que tem virado apenas mote para altercações.

A perda de interesse do futebol brasileiro também tem relação com isso. Enquanto não enxergarmos o quadro completo nas questões de relação com a mídia ou nas discussões sobre gestão, vamos seguir procurando desculpas. Para voltar à analogia com o campo e o 7 a 1, vamos seguir buscando “apagões”. 

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As forças econômicas do futebol brasileiro

Quem tem dinheiro tem o poder

Os clubes são os principais responsáveis pelos recursos gerados com futebol no Brasil. As Federações Estaduais representam muito pouco, em termos econômicos.

Mesmo a CBF, com seu faturamento de mais de R$ 452 milhões, o maior do esporte nacional, na comparação com os clubes têm pequena representatividade.

Se quem detém o poderio econômico tem a força para mudar um ambiente de negócios, os clubes podem alterar muitos aspectos do futebol no Brasil. 

Para ler a coluna na íntegra, basta clicar aqui.

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Galeano nos deixa. Carsughi nos leva

– Não há nada mais vazio do que um estádio vazio. Não há nada mais mudo que as arquibancadas sem ninguém.

O futebol uruguaio e mundial ficam mais vazios e mudos sem o escriba Eduardo Galeano nas tribunas e nas arquibancadas. Amigo de Obdulio Varela, ele tem uma análise mais crítica que apaixonada do 16 de julho de 1950. Para o Uruguai e para os uruguaios:

– Nós ficamos ali, naquele jogo, no Maracanazo. Às vezes, a memória atua como âncora, não como catapulta. Desde 1950 nós vivemos prisioneiros da nostalgia.

Galeano tinha a capacidade de enxergar com poesia e rebeldia. Contra o futebol moderno. Muitas vezes contra a modernidade. Mas sempre a favor do futebol, do jogo de bola, da paixão acima de tudo e de todos, com aquele saudável e incurável romantismo:

– O futebol profissional, o futebol como negócio, esse parece cada vez mais uma piada de mau gosto. Ricardo Teixeira, elevado à cúpula da Fifa, ocupando-se da justiça e do jogo limpo no futebol mundial?

Era Galeano brigando com quem não gostava do jogo, no máximo das jogadas. Era o uruguaio enfrentando até ideologicamente quem não gostava do futebol – ou do soccer.

– Os americanos chamam de “futebol” a um enfrentamento militar que se disputa com as mãos. Do outro futebol, o que se joga com os pés e não exige violência, dizem que é o esporte do futuro… Tenho pena deles. Ele é que perdem.

Nós perdemos muito sem Galeano. Tenho pena de nós. Até pelos exageros próprios de quem se emociona:

– Por sorte ainda aparece nos gramados algum descarado cara-de-pau que sai não se sabe de onde e comete o disparate de desmoralizar toda a equipe rival, e ao juiz, e ao público das arquibancadas, pelo puro prazer do corpo que se lança à aventura proibida da liberdade.

Como ele se derretia por Don Diego Armando:

– Maradona é incontrolável quando fala, mas é muito mais quando joga. Ele não se repete. Ele adora driblar os computadores que não podem processar o seu gênio. Ele tem olhos em todo o corpo.

Galeano amava o jogo e a personagem de Digo, como escreveu em 2004:

– Maradona é um mito. Porque foi um jogador excepcional e, isso, é sinal de identidade do nosso tempo; Porque foi um rebelde que desafiou os poderosos; E porque muita gente se identifica com esse santo bandido, que faz gols com a mão e se dopa com cocaína; É sujo, incoerente, louco; Ou seja: este santo é popular porque é humano; Mais parece pertencer ao Olimpo grego que ao paraíso cristão. No frígido futebol do fim de século, que exige ganhar e proíbe divertir-se, este homem é um dos poucos que demonstra que a fantasia também pode ser eficaz.

Hedonista, Galeano não dava a menor pelota às táticas e estratégias que normalmente aqui falamos:

– A história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever.

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Assim ficamos ao perder Galeano.

No mesmo dia em que ganhei-perdi um mestre como Claudio Carsughi, que deixou o meu novo local de trabalho, a Rádio Jovem Pan.

Carsughi ainda nos ensina só por estar mais jovem que muitos. Galeano não deixa sombras. Só a luz.

Mas a saída do imperador hertziano Claudio do local onde brilhou por 58 anos pela inteligência, sabedoria, ética, tranquilidade, correção, descrição e discrição é daquelas sensações que não temos palavras.

Só Carsughi poderia dizer quanto é clamorosa a sua despedida.

Mas, elegante como é, ele responde pelo silêncio que tantas vezes disse tudo com ele.

Ou pelas poucas palavras dele que sempre venceram a minha e a nossa verborragia.

Carsughi é um precursor no uso (inteligente) de estatísticas no esporte. Não chutava. Amortecia as melancias e jacas a ele atiradas e fazia um sumo de qualidade e força e luz.

Também não tinha sombra no jornalismo de Carsughi. Apenas o sol iluminada da Toscana onde ele nasceu há 82 anos. Na Arezzo das notas musicais de Guido de Arezzo. Tinha de ser.

Fica de lembrança inesquecível de Carsughi no rádio as tantas horas coladas no ouvido e as minhas imitações do rigor jornalístico do mais inglês dos italianos. A alegria de ele ter colaborado em um dos meus livros palmeirenses, escalando os 10 maiores ídolos palestrinos. Como eu também o escalaria fácil entre os 10 mais de tudo que se refere à notícia. Ele e outro imenso Claudio – Zaidan.

Se fosse ainda mais louco e quisesse ter um filho jornalista, talvez eu escolhesse o nome de Claudio. Não é, Zaidan e Carsughi?

O exemplo deles é eterno.

Como pra sempre vai ficar na minha memória a hora que passei com ele no Esporte em Discussão desta segunda-feira. Das 13 até 14 do dia 13 de abril de 2015. A hora que trabalhei com Carsughi.

Não sabíamos que seria a última na rádio.

Mas saberemos sempre que um microfone tão importante não se aposenta e não se desliga.

Carsughi estará sempre ON. Jamais OFF. No máximo standy. Nunca goodbye.

Clamorosa honra trabalhar uma hora com o mestre.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

 

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O Modelo de Jogo e a Dallas Cup – parte I

Estudar o que diferentes escolas têm pensado, treinado e aplicado deve ser um exercício permanente para quem trabalha com futebol.

Como forma de observação específica, nada melhor do que assistir aos jogos de uma equipe e registrar todas as variáveis que são passíveis de análise, por exemplo: regras de ação, comportamentos coletivos nos quatro momentos do jogo, manifestação dos princípios de jogo, referências espaciais, plataforma de jogo, características dos jogadores, scouts quali e quantitativos, etc.

Recentemente, na disputa de uma competição internacional sub-19, a Dallas Cup, foi possível analisar o Modelo de Jogo de equipes de oito países distintos. Tal procedimento permite, ao menos, uma comparação de como temos jogado aqui e como se tem jogado lá fora, seja em países emergentes, tradicionais, ou até sem expressão na modalidade.

Nesta coluna (e na próxima) serão abordados alguns elementos do Modelo de Jogo das seguintes equipes: Real Salt Lake-USA, Valencia-ESP, Everton-ING, River Plate-ARG e Monterrey-MEX. Após a apresentação sintetizada dos Modelos, será feita uma breve reflexão sobre similaridades, diferenças e qualidade do jogo.

A seguir, uma síntese de elementos do Modelo de Jogo do Real Salt Lake-USA:

Princípio Operacional Defensivo Dominante: Recuperação da Posse
Forma de Marcação: Zonal
Linha de Marcação: Linha 2 – Intermediária Ofensiva

Princípio Operacional de Transição Ofensiva Dominante: Retirar a bola do setor de recuperação horizontalmente
Número de Jogadores no Balanço Ofensivo: 2

Princípio Operacional Ofensivo Dominante: Manutenção da Posse de Bola
Forma de Ataque: Ataque em Zona com estruturas fixas e móveis
Tipo de Ataque: Ataque posicionado
Variação de Tipo de Ataque: Contra ataque
Forma de repor a bola em jogo com o goleiro: Curtas predominantemente

Princípio Operacional de Transição Defensiva Dominante: Recuperação imediata
Número de Jogadores no Balanço Defensivo: 5 + Gr recuado

Abaixo, elementos do Modelo de Jogo do Valencia-ESP:

Princípio Operacional Defensivo Dominante: Impedir Progressão
Forma de Marcação: Zonal
Linha de Marcação: Linha 3 – Meio Campo

Princípio Operacional de Transição Ofensiva Dominante: Retirar a bola do setor de recuperação horizontalmente
Número de Jogadores no Balanço Ofensivo: 1

Princípio Operacional Ofensivo Dominante: Manutenção da Posse de Bola
Forma de Ataque: Ataque em Zona com estruturas fixas
Tipo de Ataque: Ataque posicionado
Forma de repor a bola em jogo com o goleiro: Curtas predominantemente

Princípio Operacional de Transição Defensiva Dominante: Reorganizar linhas da equipe
Número de Jogadores no Balanço Defensivo: 5 + Gr recuado

Na sequencia, algumas informações do Modelo de Jogo do Everton-ENG:

Princípio Operacional Defensivo Dominante: Impedir Progressão
Forma de Marcação: Zonal
Linha de Marcação: Linha 3 – Meio Campo

Princípio Operacional de Transição Ofensiva Dominante: Retirar a bola do setor de recuperação verticalmente
Número de Jogadores no Balanço Ofensivo: 1

Princípio Operacional Ofensivo Dominante: Progressão ao Alvo
Forma de Ataque: Ataque em Zona com estruturas fixas
Tipo de Ataque: Ataque rápido
Variação de tipo de ataque: Ataque direto
Forma de repor a bola em jogo com o goleiro: Curtas e longas

Princípio Operacional de Transição Defensiva Dominante: Reorganizar linhas da equipe
Número de Jogadores no Balanço Defensivo: 5/6 + Gr recuado

Até a próxima semana!
 

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Meia entrada no futebol

A legislação brasileira concede o direito à meia-entrada para determinadas classes de consumidores. A competência constitucional para estabelecer quais categorias terão direito ao benefício é dos Estados e Municípios, mas pode ser concedido de maneira concorrente também pela União.

Assim, o benefício da meia entrada está regulamentado por lei federal, leis municipais e estaduais, que possuem o condão de incentivar atividades culturais e esportivas, entre outras.

Em âmbito federal, a Lei 12.933/2013 estabelece o benefício do pagamento de meia-entrada assegurada a 40% do total dos ingressos disponíveis em espetáculos artístico-culturais e esportivos, para estudantes, idosos (previsto também no Estatuto do Idoso), pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes.

A lei exige, ainda, que sejam afixados com as condições para a meia entrada, bem como com a indicação dos telefones dos órgãos de fiscalização, em local visível da bilheteria e da portaria.

Vale dizer que os Estados e Municípios também podem legislar sobre tema e criar novas classes de consumidores beneficiados com a meia-entrada.

As violações ao direito à meia entrada devem ser encaminhadas ao Procon e podem gerar danos morais e/ou materiais.

Nos jogos de futebol as classes de consumidores legalmente previstas possuem o direito à meia entrada, ou seja, pegar 50% do valor pago pelas outras classes.

Portanto, eventuais descontos concedidos para todos os consumidores devem ser acumulados para fins de concessão da meia entrada, o que vale dizer que, na hipótese de um clube estender o benefício a todos os torcedores, aqueles beneficiados pela Lei 12.933/2013, terão direito a desconto de mais 50%.

Neste sentido, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por intermédio do PROCON/MG, multou o Atlético em R$ 292.375,00 eis que o clube, na final da Copa do Brasil 2014, disponibilizou ingressos de meia entrada para todos os torcedores indiscriminadamente. Ou seja, não houve a concessão do benefício às classes de consumidores previstas na Lei 12.933/2013.

Portanto, o torcedor/consumidor deve ficar atento e denunciar eventuais violações aos seus direitos.

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E os Estaduais?

O debate sobre a real utilidade dos Campeonatos Estaduais no meio dos Campeonatos Estaduais promovido em larga escala pelos meios de comunicação, alardeada em entrevistas coletivas ou de campo de treinadores, dirigentes e jogadores ou pelas aberturas de diálogo em fóruns de discussão de especialistas em gestão do esporte é a prova clara de como os problemas no país são tratados de forma reativa e não proativa.

Aproveitando que está aberta a “temporada de caça aos Campeonatos Estaduais”, seguirei o senso comum para dar algumas pinceladas sobre o assunto. Primeiro, que não sou a favor de acabar totalmente. E não estou dizendo isso em nome dos “coitadinhos dos clubes pequenos. O que farão da vida?”. Isso, aliás, é uma das coisas que tem que parar no Brasil. Não dá para querer resolver o problema de todo mundo sempre.

A remodelação é, de fato, fundamental. Nenhuma novidade! É inconcebível um modelo de competição em que o salário do principal atacante de uma equipe grande é maior do que a folha de salário de uma equipe de pequeno ou médio porte. Trata-se de um formato insustentável para ambas as partes. Mas, e a solução?

É ilusão pensar em diminuir a força das federações estaduais, pelo sistema político já consolidado. Também que os clubes irão se organizar enquanto ligas – o que seria o ideal – não parece algo palpável no curto prazo. Basta ver que alguns clubes não se entendem sobre o lugar de ficar das torcidas organizadas dentro do estádio, quem dera debater seriamente sobre um projeto efetivo de evento estruturado.

Se quisermos falar realmente em negócios, pelo menos no curto prazo, é necessário chegar a um equilíbrio, em que a sequência dos campeonatos estaduais leve a algo palpável a cada temporada, em que se fecha um ciclo. Ainda longe do ideal, mas exequível no curto prazo: que o Campeonato Brasileiro (Séries A, B e C) seja disputado somente aos finais de semana ao longo de todo o ano e todo o resto (Estaduais, Regionais, Copa do Brasil, Copa Libertadores e Copa Sulamericana) ocorram no meio de semana, em formato de torneios. Deixei de lado o Campeonato Brasileiro da Série D por merecer um outro termo de debate.

Lógico que o enredo é maior. Ainda nem mencionei o potencial e o grande valor que um Campeonato Regional pode ter, a exemplo da Copa do Nordeste, permitindo uma sustentabilidade mais consistente dos clubes ao longo do ano. O fato é que a composição deve respeitar as capacidades econômicas das equipes e o potencial de desenvolvimento por um determinado período de tempo. Mas de forma sintética, a lógica, para início de conversa, é esta!