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Conclusões

Existem duas conclusões possíveis de extrair da final da Champions League entre Manchester United e Barcelona.

A primeira é que clubes de ponta que trabalham com a base começam a apresentar resultados mais concretos. Os dois clubes finalistas são, possivelmente, as principais forças do mundo a aliar formação com aquisição. Boa parte do time dos dois clubes é proveniente das suas respectivas academias, o que mostra a consolidação de um modelo de formação que pode atrapalhar o principal canal de receita dos clubes brasileiros. 

A partir do momento em que clubes acreditam que podem formar bons atletas internamente, eles passam a (1) evitar comprar jogadores já formados e, portanto, encarecidos e (2) comprar jogadores mais jovens, logo, mais baratos. 

Esse tipo de manifestação restringe parte do mercado de maneira geral, mas certamente abre outras frentes. É uma tendência que está um pouco longe ainda de criar maiores efeitos no mercado de forma geral, porém pode ser o início de alguma coisa.

A segunda conclusão é que o juiz foi grosseiro, o que sugere que (1) o nível da arbitragem européia também não é dos melhores ou que (2) há uma preocupação da Uefa em evitar uma segunda final seguida com os mesmos clubes do mesmo país, em especial da Inglaterra, que é o único país com uma liga em condições de rivalizar mercadologicamente com a confederação continental.

As duas conclusões, o fortalecimento do trabalho de base e a grosseria do juiz norueguês, são fatos. O que as motiva e os seus efeitos são especulações que podem gerar algum efeito posterior.

O que exatamente, eu não sei. Não cheguei a nenhuma conclusão sobre isso.

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Bastidores do poder

O São Paulo FC é o “top of mind” entre os clubes do futebol brasileiro quando se fala de gestão profissional.

O clube, em seu histórico de administração, em especial a partir da construção do estádio do Morumbi, primou pela formação de seus quadros administrativos com profissionais gabaritados para conduzir o seu dia-a-dia.

Entretanto, nem só de profissionalismo vive um clube. Ele também vive de política, ao longo dos mandatos exercidos por seus associados eleitos e, principalmente, às vésperas dos pleitos que renovam ou mantém o poder.

Sabiamente, ao que tudo indica, o clube sempre blindou esse tema e não deixou que as discussões internas atingissem as notícias. Até 2004.

Numa discussão já em âmbito jurídico, situação e oposição debatem a validade do estatuto do clube em vigor. 

A situação se baseia no artigo 217 da Constituição Federal, que prevê autonomia administrativa para as associações em sua organização e funcionamento e respalda mudanças em seu teor sem a necessidade da concordância da Assembléia Geral dos sócios. 

A oposição invoca o Código Civil, cujo teor dispõe de soberania à Assembléia Geral dos associados do clube em casos de alterações no estatuto, inclusive no que tange a duração do mandato – núcleo central da briga.

Enquanto a briga não se resolve no STJ e STF, situação e oposição articulam compor os interesses, ainda que momentaneamente, para evitar prejuízos à instituição.

Esperneios jurídicos à parte, vê-se que a política e os processos eleitorais sempre são assuntos delicados para os clubes de futebol, e no mais das vezes, condicionam ou são condicionados pela gestão profissional. Dependerá do clube e de suas circunstâncias…  

Fatos como esse costumam ser positivos para a evolução das instituições. Ainda que por vias traumáticas, a política e a gestão podem sofrer processos de depuração rumo à maturidade.

Pude vivenciar de perto um grande exemplo dessa maturidade. Em 2006, em viagem de negócios a Madrid, bem no meio da corrida eleitoral do Real Madrid. Havia quatro chapas, com quatro comitês com infra-estrutura e localização de dar inveja aos maiores partidos políticos brasileiros, disputando a eleição num período que durou três meses. Não houve negociatas, acordos ou coligações de bastidores. Ao final, venceu a chapa de Ramón Calderón por uma diferença de 268 votos para um dos concorrentes.

Informação importante: todo candidato a presidente do Real Madrid deve apresentar, dentre outros requisitos, idade mínima de 40 anos e um aval bancário de 15% sobre o orçamento anual do clube. Nas eleições recentes de 2009, isso correspondia a 52 milhões de euros. Prova irrefutável que demonstra que o sócio do clube não está interessado em ganhar dinheiro da instituição, mas dedicar sua experiência profissional e política para a sua administração.

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Teoria da Tecnologia Esportiva III: processo digestivo do impacto tecnológico

Dissemos, em outra ocasião, que tecnologia deve ser compreendida não como sinônimo de perfeição, e sim, de otimização, de aperfeiçoamento e melhoria para atingir os objetivos de forma mais eficaz. E requer uma “intimidade” com os recursos até a transição necessária para a intervenção prática.

Essa familiarização é parte do investimento pessoal que o profissional pode fazer no desenvolvimento de suas habilidades e competências nesse setor. Aliás é imprescindível que seja investido tempo nesse processo. Afinal, a chegada de novas perspectivas interfere nos valores e paradigmas que estamos habituados e quase sempre gera incomodo.

Lima (2000, pág. 12) traz algumas frases famosas sobre a chegada de novos recursos ou ainda de momentos nos quais se fazia uma leitura inicial sobre um novo impacto tecnológico. Eis algumas:

“Pessoas bem informadas sabem que é totalmente impossível transmitir vozes através de um fio, e mesmo que isso fosse possível, esse tipo de ação não teria nenhum valor prático”.
Editorial do Boston Post (1895)

“Eu penso que o mercado mundial só tenha condições de absorver cinco computadores”.
Thomas Watson, presidente da IBM (1943)

“Computadores, no futuro, talvez cheguem a pesar não mais do que uma tonelada e não menos do que meia”.
Popular Mechanics – Forecasting the Relentless March of Sciencie (1949)

“Não existe nenhuma razão prática para que as pessoas desejem ter um computador em suas casas”.
Ken Olson, presidente fundador da Digital Equipment Corporation (1977)

O autor comenta a seguir que dadas situações não devem ser encaradas como falta de competência ou visão por parte dessas pessoas, apenas uma percepção baseada nos paradigmas daquele momento.

“Estas pessoas, que tinham experiência e conhecimento em seus segmentos de atuação. Faziam afirmações como estas, não porque estivessem desinformadas ou porque tivesse algum tipo de preconceito relativo à tecnologia. Muito provavelmente suas afirmações fossem fruto do que denomino ‘processo digestivo do impacto tecnológico'”. (LIMA, 2000, pág. 13)

Esse processo digestivo do impacto tecnológico proposto pelo autor é, sem dúvida, um dos fatores preponderantes para que o profissional desenvolva a sua atualização profissional, pois, sem o planejamento prévio para absorver e compreender as novas relações de produção e interação com o mundo tecnológico, seria muito complicado para desenvolver, a partir disso, a sua intervenção.

Ainda existem outros elementos pertinentes à atualização profissional, os quais configuram-se como pré requisitos para  o desenvolvimento  das capacidades e habilidades. Afinal, assim como em outras disciplinas deve-se compreender e aprender a lidar com os recursos tecnológicos, suas contribuições e limitações na prática do futebol.

Daremos seqüência no próximo texto com mais algumas competências tecnológicas do profissional do futebol tendo como “pano de fundo”, a idéia que já havíamos apresentado no texto do dia 9 de dezembro de 2008, intitulado “Atualização tecnológica: mão dupla”.

“A atualização tecnológica depende muito do profissional, deve ser uma busca constante daquele que pretende se diferenciar no mercado, mas também, devemos cobrar e alertar as entidades envolvidas de que elas precisam criar mecanismos de capacitação dos profissionais para lidar com os avanços que hoje a ciência e a tecnologia trazem para o esporte”.

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Sol entre nuvens

O Brasil ainda não se acostumou à disputa por pontos corridos. 

Não vai dar nem tempo de respirar e, no próximo final de semana, em meio à ressaca de jogos decisivos pelos Estaduais, pela Copa do Brasil e pela Copa Libertadores, vamos entrar na disputa do Campeonato Brasileiro.

E, até agora, ninguém falou nada sobre o principal torneio do ano. Ou, se não for tão importante quanto uma Libertadores, pelo menos é o mais longo.

Sim, eu sei, é muito chato, no meio de uma grande festa, você ficar olhando para o que ainda nem começou. Mas o fato é que o Brasileirão é uma espécie de sol entre nuvens para o torcedor e, especialmente, para a imprensa no país todo.

No Rio e em São Paulo, os dois principais mercados do país, ganharam as duas maiores torcidas do Brasil, as de Flamengo e Corinthians. Títulos que reforçam a hegemonia estadual de ambos, mas que também mascaram muito a realidade que os dois terão pela frente.

Ambos têm elencos reduzidos, com poucos jogadores em condição de serem titulares. E isso, num campeonato que dura oito meses, é fatal. São muitos jogos, muitas viagens e, também, muitas lesões que se aproximam no torneio por pontos corridos. Se um time não estiver com jogadores à altura no banco de reservas, não conseguirá chegar tão longe.

Já se vão seis anos de Brasileirão em pontos corridos. Em 2009, entraremos na sétima edição de repetição da fórmula. E, no país todo, só podemos apontar São Paulo, Inter e Cruzeiro como times que poderão ver o torneio de maneira ensolarada.

Os três sabem que é importante disputar a competição em alto nível desde o começo. E que, para manter o nível, é preciso ter mais do que 11 jogadores e outros 15 reservas. É preciso ter cerca de 15 a 20 atletas em condições de ser titulares. E, ao longo da temporada, mesclar esses jogadores para não “estourar” o time. 

Desses três, Cruzeiro e Inter ganharam seus estaduais de maneira invicta. Mesmo jogando Libertadores e Copa do Brasil simultaneamente. Sinal de que seus rivais diretos não estão no mesmo nível. 

Nesta semana virão as sempre prováveis escolhas de favoritos ao título. Não duvide que muitos dos campeões estaduais entrarão nessa lista. Mas também não pense que os jornalistas estarão de olho na capacidade aeróbica desses times para um torneio que começa em maio e vai até dezembro…

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Barcelona vs Chelsea: covardia, retranca ou estratégia?

Ainda que muita gente acredite no contrário do que vou dizer, vou “contradizer o contrário”.

Em jogo válido pelas semifinais da Uefa Champions League 08/09, as equipes do FC Barcelona e do Chelsea FC se enfrentaram na Espanha, em uma partida que despertou uma série de comentários e teorias.

No “papo de arquibancada”, o de sempre: “o Barcelona dominou o jogo e merecia a vitória; o Chelsea foi uma equipe covarde que só quis se defender“; e ainda: “também se o Chelsea fosse tentar sair para o jogo não teria a menor chance“.

Antes de qualquer coisa, vou me expor à primeira polêmica. Se o Barcelona tivesse dominado o jogo não teria ele vencido a partida?

Vou esclarecer.

Há alguns anos (talvez muitos!) antes das tão midiáticas lutas de MMA (Mixed Martial Arts) lembro-me dos primeiros “combates” internacionais entre faixas-pretas que tive oportunidade de assistir (o que na época era chamado de “vale-tudo”).

Recordo-me de uma luta do brasileiro Rickson Gracie contra um “gigante” que realmente não consigo lembrar o nome. Já com algum tempo de “combate”, quando o brasileiro aparentemente dominado pelo seu oponente (apesar de uma duvidosa expressão de tranquilidade) estava, segundo o “narrador”, prestes a ser derrotado; o inesperado: seu adversário “bateu” pedindo para o árbitro interromper a luta antes que Rickson Gracie quebrasse o seu braço.

O aparentemente dominado brasileiro vencia a luta; sem precipitação, sem desequilíbrio, com um controle e um domínio sabido somente por ele.

Pois bem, voltemos ao FC Barcelona vs Chelsea FC.

O FC Barcelona é a equipe com maior número de gols feitos, menor número de gols sofridos e melhor aproveitamento em pontos de toda a Espanha até o momento em que escrevo esse texto (e dificilmente terá deixado de ser até sua publicação).

Além de rápida circulação da bola, com valorização de sua posse e constantes progressões ao gol (especialmente nas transições ofensivas), a equipe espanhola tem se destacado por uma transição defensiva extremamente intensa com referências bem definidas para imediata recuperação da posse da bola.

Como enfrentar essa aparente máquina, no seu terreno de jogo habitual? Como evitar a rápida circulação da bola e as constantes progressões ao gol nas transições ofensivas? Como evitar perder a bola depois de sua recuperação e minimizar tanto a eficiência da transição defensiva espanhola como a posterior transição ofensiva a partir de regiões perigosas do campo de jogo?

Com referências de ação bem definidas, a equipe do Chelsea conseguiu manter boa intensidade de concentração quase que em todo o jogo e fez aquilo que não parecia ser possível.

Para evitar a rápida circulação de bola do FC Barcelona, a equipe do Chelsea FC povoou, por vezes com 10 e por vezes com 11 jogadores seu campo de defesa. Com grande número de jogadores concentrados nessa região, a equipe espanhola não conseguiu realizar passes rápidos em direção ao gol – tendo então que circular a bola horizontalmente bem longe da meta defensiva da equipe inglesa.

Para evitar perder a bola próxima ao seu gol defensivo, a equipe do Chelsea FC fez a opção por um jogo de passes longos com imediata progressão ao campo de ataque quando da recuperação da posse da bola, primando mais por não tornar a perdê-la em regiões próximas a sua meta de defesa do que por “evitar perdê-la”.

Vejamos alguns dados do jogo:

É notório o fato de que o Chelsea FC abdicou de ficar com a bola. Com isso, trocou poucos passes. Como optou por um jogo de rápida progressão a sua meta ofensiva, teve mais passes longos em profundidade do que seu advsersário; com isso também errou mais.

O fato de o FC Barcelona ter ficado mais tempo com a bola – levando a equipe inglesa a “correr atrás dela” (coma fora anunciado por um “especialista”) – não teve reflexos na distância total percorrida pelas equipes no jogo.

Quando analisamos as finalizações, podemos observar que o volume da equipe espanhola foi aproximadamente seis vezes maior do que o da equipe inglesa (com boa parte delas dentro da “grande área”).

Vejamos:

Podemos extraopolar conclusões a partir desses dados e das observações do jogo na direção que nossos argumentos permitir – entendendo inclusive que o FC Barcelona levou mais perigo do que o Chelsea FC (é só olhar para as finalizações).

Eu prefiro, honestamente, dizer que quem cumpriu melhor parte dos seus objetivos foi a equipe inglesa e não a espanhola; afinal, olhando para as finalizações, eu diria que proporcionalmente ao número delas, foi o Chelsea que teve mais eficiência em chegar dentro da área, e que dado o grande número obtido pelo FC Barcelona foi essa equipe a menos competente em traduzir suas ações em gols.

Obviamente que a partir desses dados não posso convencer ninguém que o FC Barcelona não teve nem controle, nem domínio do jogo. Tão pouco que o Chelsea FC controlou a equipe espanhola. Mesmo assim, me arrisco: o jogo foi zero a zero, e apesar de ninguém ter “batido” pedindo o final do combate, o que vale mesmo é o placar final; e nesse caso para mim, foi o Chelsea que se aproximou mais dos seus objetvos…

Esperemos pelo próximo jogo.

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Soberania continental

A classificação dos cinco clubes brasileiros para a fase final da Copa Libertadores é a prova da soberania do futebol brasileiro no continente. O Brasil está para a América do Sul assim como a Inglaterra está para a Europa.

Pudera. As duas nações não apenas são aquelas que têm a moeda nacional mais forte, mas também são aquelas que possuem, de maneira mais territorialmente disseminada, mais apego ao futebol. Se na América do Sul a Argentina aparece como grande concorrente do Brasil, na Europa quem faz frente à Inglaterra é a Espanha. Mas Argentina e Espanha possuem suas forças extremamente concentradas. Na Espanha, o dueto Barcelona e Real Madrid impera. Ora um, ora outro. Na Argentina, é tudo concentrado, em Buenos Aires. Mais especificamente, pelo menos nos últimos tempos, no Boca Juniors. Nem o River faz mais tanta frente aos clubes brasileiros.

A questão é que não tem muito o que fazer. Em geral, a Inglaterra compra os melhores talentos da Europa e, consequentemente, forma as melhores equipes. No Brasil, isso não é tão evidente, mas acontece. A concentração de jogadores sul-americanos nas equipes brasileiras cresce a cada dia. Tem espaço pra crescer ainda mais.

Enquanto Brasil e Inglaterra continuarem sendo potências clubísticas e econômicas, o cenário dificilmente irá mudar.

A Inglaterra sofreu um baque feio com a crise. A libra esterlina perdeu um valor considerável em relação ao Euro. Uma eventual aceleração da decadência econômica inglesa pode dar início à perda de poder dos seus clubes de futebol. O Brasil até está sofrendo com a crise, mas nada que vá fazer o cenário mudar, uma vez que os outros países sul-americanos estão sofrendo muito mais.

Mas convenhamos, se for para depender do avanço econômico dos outros países da América do Sul, o futebol brasileiro vai reinar por muito tempo ainda.

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Sobre futebol e, sobretudo, sobre vida!

Eduardo Galeano, se não bastasse ter nos brindado há tempos com o imperdível “As Veias Abertas da América Latina“, leitura obrigatória de todos nós latinoamericanos, também nos presenteou com vários escritos sobre uma outra sua paixão, o futebol. Tenho em mãos, neste momento, a 2ª edição (2002) do seu “El Fútbol a sol y sombra“, por aqui editado pela gaúcha L&PM Editores, onde ele logo de início se diz um mendigo do bom futebol, andando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplicando por uma linda jogada…
 
Recorri a ele por conta dos recentes acontecimentos em torno do Adriano, “O Imperador“, os quais fizeram circular na internet um belo texto atribuído ao sociólogo Emir Sader intitulado “Quem está doente: Adriano ou os outros?”.

Se alguém ainda tivesse dúvidas de ser o futebol uma prática social ao mesmo tempo produtora e tradutora dos valores inerentes à sociedade no qual se encontra inserido, certamente as deixaria para trás, convencido pela sua leitura do quanto o futebol reflete a cultura de seu tempo…

 
Em seu livro, Galeano, tendo Maradona como mote, afirma que “o prazer de derrubar ídolos é diretamente proporcional à necessidade de tê-los”. Sader, por outras vias, ratifica o entendimento de seu companheiro de luta ao perguntar, para depois responder:
 
“Que sociedade é esta que – quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, comprar cerveja e hambúrguer para todo mundo, ficar empinando pipa – considera que essa pessoa está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem?“.
        
Para não deixar dúvidas de que o conceito de normal/normalidade é construção sócio-histórica, continua Sader a tecer consideração sobre o modo de vida da sociedade do ter, que se afirma em detrimento da sociedade do ser:
 
“O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem ‘normais’. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um time italiano, primeiro colocado no campeonato de lá (…) para viver de bermuda, camiseta e sandália havaiana (…) falar como ser humano que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que vai ‘dar um tempo’, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família…” 
        

Pois é… Mudando de personagem, mas não de assunto, por isso tudo é gratificante ver um Ronaldo Fenômeno ressurgir das cinzas, estampando um sorriso que não deixa dúvidas sobre a felicidade que o embala e que ele faz questão de brindar com gols e… com uma Brahma!

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Casa cheia – parte 2

Dando seguimento à última coluna, ousaremos encaminhar a discussão para um conjunto de argumentos que permitam ao leitor vislumbrar possibilidades de construir as respostas mais apropriadas à realidade de seu clube, e reproduzimos as perguntas de então por dever de cortesia e praticidade.

“Em outras palavras: o que acontece quando se aumenta o preço de um produto esportivo? Como isso afeta margem de lucro, receitas e vendas? E se os preços forem reduzidos? Mais ou menos consumidores comprarão os produtos? Mudar o preço garante mudança no padrão de consumo? O desempenho do clube em campo é termômetro absoluto da associação de torcedores, ou é o preço o fator essencial nessa realidade? E a inadimplência dos associados, ocorrerá por critérios meramente econômicos ou se sujeita ao sabor de vitórias e derrotas?”

Tais respostas podem ser obtidas pelo marketing dos clubes por estimativas racionalizadas ou pela experimentação da estratégia comercial implantada, com base na tentativa e erro.

Falando apenas da componente financeira, se a procura dos torcedores pela vinculação aos planos de sócios dos clubes continuar alta, mesmo após sucessivos aumentos anuais de preços, a demanda é considerada relativamente inelástica – em outras palavras, a mudança no impulso de consumo dor torcedores é pouco sensível à mudanças nos preços e a receita global percebida pelo clube será mantida.

Resta saber qual é a variação de preços praticados que será suportada pelos torcedores sem que isso se traduza em queda de interessados em se associar aos clubes. Se isso ocorrer, tem-se a demanda relativamente elástica – mudar o preço acarreta mudança oposta na receita obtida pelo clube.  

Abordada a principal vertente conceitual de elasticidade da demanda, devem-se apontar quais os fatores de influência sobre esta variação provocada no resultado entre preços x demanda por planos de associação.

 

1. produto de necessidade ou de luxo: associar-se ao seu clube de futebol e pagar uma mensalidade para assistir aos jogos é obrigatório ou opcional? Se for obrigatório, mudar os preços pode causar mudança na demanda. Se for tido como opcional, não será muito sensível.

2. substitutabilidade do produto: os torcedores consideram como experiência equivalente participar de um campeonato de futebol amador, muito bem organizado, e pago, como algo que pode substituir a experiência de acompanhar seu clube no estádio?

3. freqüência de compra: este aspecto é diretamente proporcional à necessidade. Quanto mais o torcedor entende como necessária a associação, mais sensível à mudança de preços.

4. renda: quanto mais dinheiro o torcedor economicamente ativo recebe, mais dinheiro, em tese, sobrará para gastos supérfluos como lazer e recreação (futebol). No Brasil, pesquisas do IBGE apontam uma margem muito pequena dos orçamentos familiares disponíveis e dirigidos a esta rubrica.

5. economia: a conjuntura econômica, seja ela nacional ou internacional afeta em muito a realidade e a percepção do consumidor. Quem tem emprego e dinheiro, economiza em tempos difíceis. Quem não tem, não pode gastar.

6. fidelidade à marca: ponto pacífico em favor dos clubes. Resta empreender esforços para ampliar e, depois, manter a base de consumidores fidelizados.

7. concorrência: planos de sócios que dão direito a acompanhar os jogos no próprio estádio sofrem com muita concorrência. Ir ao cinema (no shopping); assistir pela TV ao futebol; campeonatos internacionais das principais ligas; shows musicais; peças de teatro; ficar em casa por razões de (in) segurança.

8. qualidade do produto: aqui, futebol e marketing se encontram. A equipe montada pelo meu clube para a temporada desse ano é competitiva? Tem estrelas no elenco? Vale a associação para a temporada toda ou seria melhor escolher os melhores jogos? Ainda, vale pagar mais nesse ano para o mesmo time sofrível da temporada anterior?

9. variação da demanda com o tempo: é necessário apressar-se para se tornar associado do clube, sob pena de ficar de fora do contingente de pessoas com direito a ir aos jogos? O universo de interessados é maior que a oferta de cadeiras?

 

Devemos tomar cuidado com o conteúdo acima. Ele pode ser explosivo e libertário, caso os torcedores tenham acesso a ele por meios panfletários e se reconheçam nos questionamentos sobre se vale a pena gastar seu suado dinheiro e se associar aos seus clubes do coração.

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Zezinho do Scout: o inexplicável fator Ronaldo. Será?

Olá, amigos!

Muitos falam sobre ele, e nesta “Ronaldomania” fica cada vez mais evidente e batido nos assuntos futebolísticos pelo mundo afora a genialidade de Ronaldo. Vagner Mancini disse, quando o Corinthians marcou seu segundo gol (o primeiro de Ronaldo no jogo), que não dava para deixar ele livre nem por um segundo sequer. Pelé, torcedores, jornalistas, especialistas e tantos outros, inclusive esse que vos escreve, se rendem e se encantam de ver tal genialidade de perto, afinal é cada vez mais difícil termos isso nos campos brasileiros.

Mas e o scout? Será que não nos ajudaria a ter alguma informação das características tanto do jogador, quanto das equipes envolvidas?

Lembro para os amigos que criticam exacerbadamente o uso dos scouts por dizer que o futebol não é passível de estudo, assim como aqueles que o defendem como salvador da pátria, como se fosse o scout o verdadeiro “Fenômeno” – é “apenas” uma ferramenta de análise que pode e muito contribuir com a leitura e intervenção em jogo.
 
Cabe ao profissional fazer o melhor uso possível (veremos mais sobre isso no terceiro capitulo da série “teoria da tecnologia esportiva”).

Assim, vamos observar algumas informações. A seguir, o quadro de posicionamento efetivo dos jogadores a cada 15 minutos de jogo (para maiores elucidações sobre o que é posicionamento efetivo, ver coluna do dia 27/01/2009, intitulada Zezinho do Scout: Fluminense toma virada na estreia)

0-15 minutos

15-30 minutos

30-45 minutos

45-60 minutos

60-75 minutos

75-90 minutos

Corinthians – de contorno preto, ataca para a esquerda
Santos – inteiramente branco, ataca para a direita

Vejam que Ronaldo (9) em grande parte do jogo não aparece com um jogador adversário contrapondo suas ações próximo a ele. E quando isso acontece, ele cai mais pelas laterais do campo, afastando seu marcador do centro da área, como no período de 30-45 minutos, quando o jogador mais próximo que contrapõe as ações é Fabiano Eller (6), pelo setor esquerdo da defesa, e no período de 60-75 minutos, com Fabão (2), pelo setor direito da defesa santista.

O Santos

Nesta ótica, o Santos apresentou uma certa liberdade de ações, que permite ao jogador pensar e agir.

Do ponto de vista geral, qualquer atacante não pode receber tal espaço: é necessário que se diminua, ou ainda que evite que a bola chegue aos seus pés (o que no caso é muito mais sensato), ainda que a bola chegue fruto de uma bola quebrada na defesa (chutão do Chicão).

E talvez pela falta de humildade, e não digo isso do Santos especificamente, nem tampouco do técnico Vagner Mancini, que, como já disse anteriormente e reforço, é um treinador promissor em minha opinião, mas me refiro a todos os técnicos e jogadores: falta reconhecer que Ronaldo de fato é diferenciado.

Reconhecer não apenas no discurso de torcedor e fã, mas no campo. Às vezes, técnicos e jogadores embalam no discurso apaixonado pelo mito Ronaldo e esquecem de que não podem dar espaço para ele e, mais do que isso, tem de ser feita uma estratégia para minimizar os riscos de ele tocar na bola. 

No livro Cestas Sagradas, do técnico de basquete americano Phill Jackson, ele conta a magia que Michael Jordan exercia nas quadras inclusive para seus companheiros de equipe. Vale a comparação com o momento vivido por Ronaldo, no Corinthians.

Como fazer? Aí que entra a capacidade de o profissional utilizar a informação e o recurso tecnológico. A informação esta aí: Ronaldo estava atuando com certa liberdade, cabe a compreensão e filosofia de jogo de cada um achar a melhor alternativa, seja marcação individual, marcação mista, marcação com cobertura, enfim… o que não dá é deixá-lo da forma que foi em grande parte do jogo.

O Corinthians

No começo, a preocupação com a chegada de Ronaldo era a dependência, em alguns jogos, e a equipe mostrou-se resistente a isso, tendo inclusive Douglas adquirido uma certa birra com o torcedor por não passar a bola para o atacante em lances-chave (caso mais expressivo contra o Itumbiara).

Com o passar do tempo, o técnico Mano Menezes relembra a postura de Parreira com Romário na seleção campeã do mundo de 1994, na qual foi assumida claramente a importância do jogador e do esquema planejado para aproveitar ao máximo as características do Baixinho.

O Corinthians assimilou isso e tem cada vez mais incorporado ao seu estilo uma forma de jogar que encaixa Ronaldo como peça primordial, e o que pode ser uma desvantagem quando se analisa pelo fator dependência do atacante, pode ser encarado como um fator benéfico quando desenvolve outras características em outros atletas que modificam sua forma de atuar e aperfeiçoam seus estilo e variáveis de jogo, atuando com um atlet
a de referência técnica e genial.

Ronaldo

Genialidade? Com certeza sim, pois Kléber Pereira, um exímio finalizador, teve em alguns momentos uma boa liberdade de ação, mas não a eficiência de Ronaldo.

No quadro a seguir, mostramos a área de atuação dos dois camisas 9.

Área de atuação de Ronaldo

Área de atuação de Kléber Pereira

Ambos atacando para a direita

Observem como Ronaldo apresenta uma atuação mais distribuída no campo. Convido-os a acompanhar algum jogo dele observando seu deslocamento sem bola, momentos antes de receber um passe. É nítida a percepção e compreensão das linhas de passes que o jogador tem, facilitando o passador a encontrá-lo, e ainda desequilibrando o balanço defensivo do adversário através de seu deslocamento em campo.

Ronaldo quebra uma visão de que o deslocamento é fruto de condição física, única e exclusivamente. Mostra que a percepção do que ocorre em torno ajuda a construir um posicionamento adequado no momento propício (é nesse ponto que os jogadores corintianos estão aprendendo a jogar com Ronaldo)

Mais alguns números do Fenômeno:

·         Ronaldo foi responsável por 9% dos passes da equipe

·         Ronaldo teve 24% das bolas perdidas do Corinthians (ao lado de Morais, que teve outros 24%). Bolas perdidas indicam a ação direta do adversário em desarmá-lo, o que mostra que ainda que tenha na maior parte do tempo recebido espaço da defesa santista, teve duelos com alguns adversários, muitas vezes abrindo espaço para outros companheiros e destacando ainda mais o volume de jogo da equipe em sua função

·         Ronaldo recebeu 25 passes de seus companheiros no decorrer do jogo

·         Foi responsável por recuperação da posse de bola em três ocasiões, sendo duas no campo ofensivo (pode parecer pouco, mas relembremos o primeiro gol do Brasil na Copa do Mundo de 2002, quando ele desarma, passa para Rivaldo e depois aproveita o rebote do goleiro). 

Ronaldo é, sim, inexplicável, imprevisível, mas é possível observar que algumas características têm se repetido nesses poucos jogos e muitos gols pelo Corinthians.

No discurso, exaltamos o Ronaldo dos bons e velhos tempos. Na prática, esquecemos que ele é genial, e como todo gênio sabe se adaptar às novas condições que lhe são impostas (como as condições físicas atuais), e assim continuar fenomenal.

Ficamos com a mente e análise comprometidas, por não entender (nem sequer tentamos) sua forma de jogar hoje, e pensando que temos de marcá-lo como se ele fosse o mesmo de 2002 – as características são outras, a forma de jogar se adaptou, mas a genialidade é a mesma.

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O profeta

“É só eu voltar a jogar, fazer um gol e todo mundo esquece o que passou. Eu volto a ser o Ronaldo Fenômeno”.

Em junho do ano passado, talvez nem mesmo Ronaldo acreditasse nas palavras ditas ao Fantástico logo após o escândalo em que se envolveu com travestis.

De melhor do mundo em 2002, numa inacreditável recuperação após dois anos parado, Ronaldo havia se transformado praticamente num ex-atleta. Como sempre impiedosa, a imprensa sentenciou naquela época um futuro para Ronaldo parecido ao de Garrincha, que morreu na miséria, corroído pelo alcoolismo.

Nesta segunda-feira, Ronaldo está muito mais próximo do Fenômeno de 2002 do que do “Fantasma” de 2008. E qual o motivo para isso? Ele mesmo já disse. É o gol.

Para a imprensa, o Fenômeno voltou. E mostrou que está realmente de volta no espetáculo de domingo na Vila Belmiro, quando fez dois dos três gols que praticamente dão o título do Campeonato Paulista para o Corinthians.

O mesmo Paulista que há dois meses era chamado de “Paulistinha”. E que agora, por ter tido os quatro grandes nas semifinais, voltou ao status de “Paulistão”.

E Ronaldo voltou a ser o gênio da bola. Sim, porque o “profeta” Ronaldo disse muito bem há cerca de um ano, quando era considerado uma pessoa acabada não só para o futebol, mas até para a vida.

“É só fazer um gol que tudo isso acaba”.

O julgamento desprovido de razão da imprensa mostra bem que Ronaldo é, de fato, um fenômeno. A ponto de profetizar o comportamento dos jornalistas. Tão manjado quanto mais um capítulo do retorno de um dos maiores centroavantes do futebol mundial. 

Se bobear, agora Ronaldo será endeusado até por se encontrar com travestis…

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