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Gestão do espaço: por que 1-4-2-3-1?

Nas partidas de futebol, o confronto emergente das propostas de jogo das equipes que se enfrentam põe em disputa, primariamente, os espaços do campo e as vantagens nas ações dos jogadores dentro deles.

Bola e gol (meta) de ataque devem se aproximar. Bola e gol de defesa devem se distanciar.

Em um jogo de futebol, as equipes funcionam, coletivamente, como um organismo vivo, atento e operante na gestão dos espaços do campo, e em todo movimento produzido dentro dele – tentando controlar as relações entre a bola, a sua meta e a meta adversária.

Muitas vezes nas partidas, dificuldades na gestão dos espaços podem ser resolvidas a partir de intervenções que correspondem as ações realizadas dentro dele. Outras vezes somente a mudança da geometria desenhada pela equipe é que traz soluções efetivas.

Ainda que muitos especialistas digam que esquemas táticos são apenas a representação numérica de algo que nunca está em jogo, foi ele (o esquema tático) o primeiro grande e duradouro paradigma da gestão do espaço para utilização das equipes nas partidas de futebol.

Ao longo da história foi se “modernizando”, ganhando novos enlaces e dinâmicas – sazonalmente alguns viraram moda, outros ficaram na nuvem esquecimento.

No Brasil atualmente, o 1-4-2-3-1 e suas variações têm ganhado certo espaço – o que já mereceu um ótimo texto e debate do amigo Leandro Zago na revista Futbol Tactico (e com link aberto em seu blog).

Sem me aprofundar hoje na questão, entendo as mudanças na disposição dos jogadores nas linhas de jogo (goleiro – linha de defesa – linha de meio-campo – linha de ataque) ao longo da história, como soluções emergentes de problemas comuns enfrentados pelas equipes sistematicamente em seus jogos.

Muitas e muitas vezes, foi na mudança da ideia geral de uma geometria concebida a partir de um esquema tático, que dificuldades de gestão do espaço foram sanadas – e ainda, que problemas novos surgissem aos adversários.

É muito mais comum que as decisões de treinadores se voltem a resolver desvantagens ou para levar vantagens em um jogo, à geometria, do que às regras de ação inseridas nela.

O 1-4-2-3-1, suas variações e distorções surgem daí – porque esse esquema tático foi dando conta de resolver hoje (faz alguns anos) a maior parte das “circunstancialidades desequilibrantes” a que uma equipe pode ser submetida sob o ponto de vista da estruturação do espaço (sem que necessariamente ela se dê conta disso!).

Com pouca sofisticação organizacional, ele tem permitido a treinadores e equipes a produzir mais, com aparentemente menos – e com muita sofisticação – resultados muito interessantes.

Não, não penso que o 1-4-2-3-1 seja aquilo que se possa produzir de melhor em termos de ideias para a ocupação organizada do espaço – vislumbro outra coisa/ideia/conceito (e aqui não estou nem entrando no debate sobre as características dos jogadores para maximizar as potencialidades que o 1-4-2-3-1 pode apresentar).

Mas, sim, ele pode trazer vantagens; porém, mais pelo tipo de problema que hoje as equipes vivenciam e propõem nos jogos, do que por todas as possibilidades que esse esquema tático propicia.

Pensemos nisso.

Se coletivamente o jogo de futebol é um jogo de gestão de espaços, ações, bola e metas, individualmente, toda a ação de todo jogador, a qualquer instante, influencia e recebe influência da massa coletiva dos jogadores da própria equipe e da equipe adversária. O esquema tático é um paradigma voltado para que essas influências tragam o máximo de vantagens e benefícios.

Se ao longo da evolução do jogar futebol eles surgiram como soluções, é melhor pensarmos rápido quais são os novos problemas que queremos propor, porque senão ficaremos sempre à mercê de uma solução padronizada e pouco discutida.

Por hoje é isso…

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Futebol: 150 anos de uma paixão

E não é que o futebol completou 150 anos de idade no mês de outubro?

Na verdade, esportes com bola existem desde os primórdios, como na China há quatro milênios (a bola era um crânio), ou nas civilizações antigas da América Central, pelos idos do ano 500. A Fifa reconhece o milenar tsu chu, praticado na China por volta de 2000 a.C., como uma das primeiras práticas do que viria a ser o futebol.

A comemoração conta da data de unificação das regras do esporte, que se deu em uma noite de segunda-feira, 26 de outubro de 1863, em uma mesa na Freemason’s Tavern, no Centro de Londres, quando Ebenezer Morley, presidente do Barnes Club, convocou 11 representantes de outros grupos para unificar as regras do esporte que era praticado na Inglaterra havia quase mil anos e havia se popularizado no século 19, mas cada qual com seus próprios códigos. Na mesma reunião, os dirigentes fundaram a Football Association (FA), versão da atual Federação Inglesa.

Não foi a primeira tentativa de se unificar as regras, já que desde 1823 diversas escolas públicas britânicas tornou o esporte atividade obrigatória. Ocorre que em Oxford e Westminster, usava-se somente os pés para tocar a bola (o football). Em Cheltenham e Shrewsbury, eram permitidos mãos e pés (chamado de rugby). E havia, ainda, um terceiro esporte, o football rugby, também jogado por os estudantes.

Para se tornar o esporte mais popular do mundo, o futebol foi se adaptando. A implementação do árbitro se deu em 1874, quando passou a existir um árbitro para cada lado do campo. O pênalti surgiu depois de 1891 e aplicar cartões amarelos e vermelhos bem mais tarde, na Copa do Mundo de 1970.

Outros elementos fundamentais do jogo também foram admitidos com o passar dos anos, como a função do goleiro (1871), as linhas das áreas (1902), o impedimento (1925), as substituições (a partir de 1958), a vitória valorada com 3 pontos (1994) até a última mudança autorizada pela Fifa: a tecnologia na linha do gol.

A competição mais antiga do mundo é a Copa da Inglaterra, cujo a primeira edição se deu em 1871. Onze anos depois, em 1882, foi criada a International Football Association Board, órgão que até os dias atuais regulamenta as regras do futebol, mesmo depois da criação da Fifa (1904), à qual é hoje ligada.

Atualmente, o futebol é um grande negócio que movimenta a economia mundial. Desde 1930, a Fifa organiza a Copa do Mundo, maior evento desportivo do mundo, que teve 3,2 bilhões de telespectadores na decisão da última edição (Espanha 1 x 0 Holanda), em 2010, na África do Sul.

No Brasil, as primeiras bolas chegaram oficialmente em 1894, trazidas pelo paulistano Charles Miller, filho de escocês, depois de estudos na Inglaterra.

Não obstante isso, há quem defenda que o futebol chegou ao Brasil, nos colégios jesuítas do interior de São Paulo por volta de 1881. Há ainda outros estudos que indicam a chegada do futebol ao Rio de Janeiro, introduzido por tripulantes de navios, e até o Bangu, por meio de um técnico inglês da fábrica têxtil do subúrbio carioca.

O fato é que o primeiro país da América do Sul a receber o futebol foi a Argentinam em 1867 por meio de operários ingleses que construíam rodovias na Argentina e criaram o Buenos Aires F.C., o primeiro clube do continente. A Argentina foi também o primeiro país a organizar um campeonato local depois da Inglaterra, em 1891.

Atualmente, o futebol é o esporte mais amado e rentável do mundo, capaz de ter mais seleções nacionais filiadas à entidade que a rege, a Fifa, do que de países reconhecidos pela ONU (204 a 193).

Tudo isso graças à emoção e a paixão despertada por este esporte no qual o mais fraco pode vencer o mais fraco e onde um segundo pode mudar tudo como na fatídica defesa do goleiro Victor do Atlético em pênalti marcado marcado aos 48 minutos do segundo tampo em uma partida decisiva válida pelas quartas de final da Taça Libertadores da América.

Neste esteio, imprescindível terminar este texto parabenizando o nosso esporte bretão citando-se o saudoso escocês e ex-técnico do Liverpool Bill Shankly:

“Algumas pessoas acreditam que futebol é questão de vida ou morte. Fico muito decepcionado com essa atitude. Eu posso assegurar que futebol é muito, muito mais importante ..”

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Como o humor pode contribuir em situações adversas

O final do campeonato brasileiro da série A se aproxima e chega a hora da verdade para a maioria dos clubes, principalmente aqueles que tentam escapar de qualquer maneira do descenso para a série B.

É raro perceber, num clube que se encontra numa situação adversa de alto risco em relação ao rebaixamento, os atletas e membros da comissão técnica sorrindo e demonstrando alegria em suas atividades. Muitas vezes o que vemos são semblantes fechados, cabeças baixa, desconforto em relacionar-se com a imprensa e toda e qualquer reação de tristeza pelo abatimento com a situação desconfortável.

Mas, sabiam que o controle do humor pode ser fundamental em situações como está?

Sim, isso mesmo, o controle do humor direciona o foco para as coisas positivas e não contribui para não gerar aborrecimentos desnecessários com as coisas que não possuem enorme importância ou circunstâncias com as quais não se está familiarizado ou aquelas que não se pode controlar. Pensar de maneira adequada antes mesmo de levantar-se, pela manhã, já representa uma ótima maneira de começar bem o dia.

Se o atleta tem pensamentos negativos, devemos ajudá-lo a ter condições de modificar esse foco para coisas positivas. Estimular emoções negativas pode ascender a chama de sua própria destruição e todo atleta deve conhecer esse fato. Ao contrário, uma atitude positiva pode ser vital para a retomada do sucesso, pois elas inspiram o atleta, aumentam sua energia para realização dos trabalhos diários em busca da recuperação do clube na tabela da competição.

Mas, essa teoria realmente pode fazer a diferença? A resposta é sim! E na prática, (pois vamos hoje direto ao ponto já que os clubes não tem tempo a perder, certo?) temos três pontos nos quais todos os envolvidos devem se concentrar.

1 – Preparar-se para ser mais positivo

• Descansar mais, quando se está excessivamente cansado é provável que o atleta apresente uma tendência em se deixar levar pelo foco negativo; então uma boa estratégia pode ser realizar pequenos repousos durante o dia sempre que possível.

• Aproveitar os sucessos, sejam eles pequenos ou grandes; as emoções positivas do sucesso podem manter o atleta concentrado nos aspectos positivos quando retornam à essas emoções.

• Fazer pelo menos uma coisa boa para você mesmo, o atleta precisa realizar uma vez por dia algo que realmente goste, isso contribuirá para levantar o ânimo e elevar a concentração.

2 – Proteger-se das coisas negativas

• Para de remoer pensamentos negativos, isso só aumenta sua negatividade e consome sua energia desnecessariamente;

• Em vez de concentrar-se no ponto negativo das coisas boas que aconteceram, tente se concentrar nos pontos positivos das coisas negativas. Boas lições podem ser aprendidas com essa atitude!

• Se um pensamento ou emoção negativa se instalar, procure mudar o foco para outra emoção ou pensamento positivo; seja ele uma lembrança de conquista, uma vitória num grande jogo ou uma emoção positiva do lado pessoal.

3 – Planejar ações positivas

• Existem duas opções para criar uma mudança positiva: ou muda-se o foco ou o ambiente. Então a dica é: mude sua perspectiva e o seu foco.

• Desenvolver um plano pessoal para manter-se positivo com frequência, isso contribui para aumentar sua capacidade de retornar ao foco positivo.

• Pratique concentrar-se nas coisas positivas e mudar seu foco de coisas negativas para positivas, sempre que houver oportunidade. Abuse de músicas ou filmes que promovam uma sensação positiva para você.

Com o tempo relativamente curto para o final da competição, deve-se dedicar um esforço adicional para promover a recuperação da equipe, resgatar a confiança e a esperança de ser capaz de retomar o caminho das vitórias.

Imagine-se nessa situação e responda, você realmente acredita que uma postura negativa e depressiva é capaz de contribuir com a melhora de desempenho em sua visa profissional? Pensou? Acho que não, não é mesmo?

Ou seja, se a situação é realmente difícil, promover um ambiente bem humorado aliado a um trabalho intenso e dedicado, pode se tornar um grande diferencial para qualquer equipe reverter um quadro de desanimo e resultados ruins, com certeza irá ajudar a equipe alavancar seu desempenho.

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Os ingressos e a sua dinâmica

Não existe mágica. Existem problemas e soluções. A grande questão é como estamos dispostos a buscar efetivamente as soluções. E assim seguimos com mais um exemplo de como se administra preços e produtos que estimulam a participação de torcedores em dias de jogos, retirado de Howard & Crompton (2004)[1].

Há mais de uma década, o artigo relata as ações protagonizadas pelas ligas americanas no sentido de trazer as pessoas para os estádios/ginásios/arenas. São 4 táticas, conforme breve descritivo:

1) Diferenciação de Preços: existem jogos e jogos. Cada qual com seu valor. É neste sentido que algumas ligas adotam a tática de diferenciação de preço por jogo conforme os seguintes critérios:

(a) Qualidade do adversário – no nosso caso, os “clássicos” teriam valores diferentes;

(b) Horário do jogo – variação conforme o dia da semana, o horário, o período do ano (levando em conta também a temperatura), se primeiras rodadas ou rodadas decisivas e finais;

(c) Local do assento na arquibancada, tendo valor mais elevado nos melhores locais do estádio.

2) Flexibilidade na Precificação do “Season Ticket”: o valor do “Season Ticket”, em muitos casos, é caro para o consumidor comum nos EUA. Em algumas franquias, mais de 60% dos “Season Tickets” são adquiridos por empresas e não por pessoas físicas.

Além disso, algumas franquias colocam como opção a compra de ingressos para toda a temporada, para a 1ª ou 2ª metade da temporada, ou o fazem por pacotes temáticos – como, por exemplo, somente para jogos contra os principais rivais (os nossos clássicos), ou somente os jogos de verão, ou somente os jogos de domingo (este com foco na atração de famílias), e por aí vai.

A chave é oferecer diferentes oportunidades de consumo, de acordo com o perfil de cada tipo de torcedor em relação a sua capacidade de pagamento.

3) Garantias de Devolução de Dinheiro: que nada mais é do que deixar a possibilidade de devolver parte do investimento para o consumidor caso este não fique satisfeito com os serviços do clube. Serve, principalmente, para não deixar margem de dúvidas sobre a obrigatoriedade em ir a todos os jogos, assumindo um compromisso fixo ao longo de toda uma temporada. Permite, portanto, resgatar um valor proporcional na temporada seguinte.

4) Compras pela Internet: no registro histórico, as compras de bilhetes pela internet são mais efetivas e deixam maior margem de lucro para as equipes, facilitando também a vida dos torcedores.

Somado a estas quatro táticas, existe o estímulo constante para que aqueles torcedores que adquiriram ingresso acompanhem de fato os jogos de sua equipe.

Os autores calcularam que, em jogos da NBA ou NHL, o registro de “NO SHOW” na base de 10% a 15% das pessoas que compraram bilhetes significa um prejuízo na ordem de US$ 1 milhão ao término de uma temporada por deixar de comercializar bebidas, comidas, estacionamento, produtos licenciados e outros.

Enfim, o debate é amplo e precisa evoluir em muito ainda no Brasil. O fato é que as soluções são pensadas estrategicamente. Não podemos sentar em berço esplêndido, justificar com inúmeras desculpas e não agir.

No fim das contas, o que incomoda não é a conhecida baixa média de público e a baixa taxa de ocupação dos estádios de futebol no Brasil. É sim a inércia e as atitudes pouco criativas e efetivas para se trazer o torcedor para acompanhar os jogos de perto, ampliando sua proximidade com o clube e deixando melhores recursos para o mesmo…

1 – Howard, Dennis R.; Crompton, John L. Tactics used by sports organizations in the United States to increase ticket sales. Managing Leisure 9, 87-95, April 2004.

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Entre a verdade e o mito

Flávio Renato de Queiroz Segundo tem 20 anos e cursa o segundo ano de ciências contábeis na Universidade de São Paulo. No último domingo, ele resolveu pregar uma peça em jornalistas e foi à Uninove. Escalou um portão, gritou e lamentou ter perdido o horário para entrar no Enem (Exame nacional do ensino médio).

“Eu disse que queria fazer ciências econômicas na Universidade Federal de São Carlos. Só que nem existe esse curso”, declarou o estudante ao jornal “Folha de S.Paulo”. “A imprensa é muito ingênua”, completou.

O curso citado por Queiroz Segundo não existe em São Carlos, mas no campus da UFSCar em Sorocaba. E o garoto, por vontade de aparecer ou apenas por querer ilustrar a tal ingenuidade da imprensa, acabou dando uma série de lições involuntárias sobre comunicação.

A primeira e mais importante reflexão que o caso suscita: uma versão, por mais que seja plausível, não é necessariamente a verdade. Dar a qualquer história o peso de ser real é antes de tudo um ato de presunção.

É com isso que determinados profissionais flertam em vários momentos. Advogados e jornalistas, por exemplo, ouvem histórias diferentes, muitas vezes dicotômicas, e têm de lidar com um axioma: eles não podem ter certeza de qual é a versão verdadeira.

Nas últimas semanas, jornalistas que trabalham com esporte anunciaram a saída do técnico Tite, que atualmente trabalha no Corinthians, e a demissão de Vanderlei Luxemburgo, que está no Fluminense. Nenhuma das histórias se confirmou.

Aí entra uma segunda ideia referente ao episódio do garoto fingidor: era realmente importante entrevistá-lo? Um adolescente que chega atrasado e perde uma prova decisiva para o futuro dele é relevante de alguma forma? Por quê?

Ao contrário de outros segmentos, o esporte tem muitas fontes de informação. Se você quiser saber o que acontece em um clube ou federação, por exemplo, há sempre um enorme número de caminhos possíveis.

Em alguns casos, profissionais do departamento de comunicação tentam blindar as instituições ou os clientes e proteger informações. Aí, sempre é possível conversar com quem rodeia essas figuras.

Em outras palavras: foram raras as manifestações de Neymar sobre a transferência quando o jogador discutia a saída do Santos, no meio deste ano. Ainda assim, diferentes veículos encontraram informações sobre acertos do atacante com o Barcelona e até versões diferentes sobre o futuro do atleta.

As informações de acerto com o Barcelona, contrato assinado com o Real Madrid, valores assombrosos envolvidos no negócio e detalhes similares não partiram de Neymar. Elas saíram de pessoas que gravitam em torno do jogador, que podem ser dos clubes, do estafe, da família ou do convívio dele.

Da mesma forma, Tite e Vanderlei Luxemburgo não falaram sobre saídas dos clubes. Não fizeram nenhum anúncio e tampouco decidiram que deixariam os cargos – o corintiano chegou a pedir demissão depois de um revés para a Portuguesa, mas foi demovido.

No esporte, é possível encontrar gente para falar sobre praticamente todos os assuntos. É uma seara muito presente no cotidiano das pessoas, com incidência no dia a dia e muitas possibilidades de abordagens simples. A questão é: essas opiniões valem a pena?

Um profissional que trabalha com comunicação precisa ponderar tudo isso. É fundamental entender que haverá contradições e que muitas delas podem partir de pessoas que não têm qualquer relevância.

Essa discussão sempre me faz lembrar o filme “12 homens e uma sentença”. A obra relata a história de um réu acusado de ter matado o pai. No júri, 11 pessoas querem a condenação imediata e estão convencidas de que os argumentos são irrefutáveis. O outro mostra, de forma didática, que a verdade pode não ser assim.

O jurado dissonante não desmente a versão da maioria. Ele apenas mostra que há outras interpretações possíveis para fatos que são dados como certos por quem não os vivenciou.

A certeza de qual versão é verdadeira é algo praticamente impossível na vida de um profissional de comunicação. Um jornalista não pode asseverar isso sem ter dúvidas, por melhor que seja a apuração, a não ser que tenha presenciado a cena. Ainda assim, corre riscos de fazer interpretações erradas.

Ora, não é isso que fazem os comentaristas que tentam julgar intenção de jogadores? É impossível ter certeza, ao ver um jogo, se um atleta realmente quis colocar a mão na bola ou agredir um adversário. Por mais que as imagens esclareçam, a verdadeira intenção é certeza apenas para quem cometeu o ato.

A comunicação não trabalha com fatos, mas com versões sobre fatos. “Na dúvida entre a verdade e o mito, publica-se o mito”, disse alguém.

O esporte vive de mitos. Em todos os âmbitos, a comunicação precisa ter isso sempre em mente. Os ângulos das câmeras de TV na NBA são padronizados a fim de dar aos jogadores um ar de superioridade – as imagens são sempre de baixo para cima, valorizando o tamanho dos atletas.

As transmissões de um jogo, as entrevistas e até o comportamento dos atletas fazem parte de um plano de comunicação – ou deveriam fazer, pelo menos. Tudo comunica, afinal. Mesmo que a comunicação seja apenas uma versão dos fatos.

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Bastilha

François Hollande, o Presidente francês, já fez fugir de seu país o ator Gérard Depardieu.

É possível que, em breve, jogadores de futebol pensem que o melhor lugar da França seja o aeroporto Charles de Gaulle.

O governo do partido socialista havia prometido, em campanha, tributar em 75% os salários de todos os que ganhassem acima de EUR 1 milhão ao ano.

Isso, naturalmente, não só impacta no bolso do “empregado”, como também onera a política de remuneração que o “patrão” deve adotar nas negociações dos salários, encarecendo seu caixa.

Eis que os clubes de futebol, na França, estão acenando com o “lockout”, a greve dos empregadores que, seguramente, terá o apoio dos seus milionários jogadores-celebridade.

A reação ocorre diante da afirmação do governo de que não isentará o futebol da taxação de suas fortunas.

O futebol mundial tem vivenciado um presente de “exuberância irracional”.

A noção foi cunhada pelo ex-Presidente do FED, o Banco Central Americano, Alan Greenspan, chamando a atenção para a supervalorização do mercado de ações na bolsa e do sistema financeiro dos EUA em meados dos anos 1990.

Muito dinheiro vem sendo carreado para o futebol, dada a diversificação de fontes de receita global, incluindo investimento de grupos empresariais que compram clubes de futebol e passam a administrá-los.

O paradoxo, aqui, é que, em vez de se racionalizarem investimentos, acaba-se por “abrir a torneira” até a bacia transbordar, fazendo com que toda a indústria sofra com essa gestão irracional.

Por outro lado, os esforços ao chamado “fair play” financeiro do futebol tentam encontrar mecanismos para regulamentar, na esfera esportiva, o equilíbrio na gestão como princípio norteador. Michel Platini, francês, Presidente da Uefa, é o maior defensor dessa regulamentação.

Nos EUA, as grandes fortunas sempre foram taxadas com alíquotas bem altas, pois isso tem a seguinte origem e validação sociocultural e histórica: pagar mais impostos significa que uma empresa ou uma pessoa são bem-sucedidas e, como conseqüência natural, deve se sentir orgulhosa e “devolver” à sociedade ou “compartilhar” seu êxito com a comunidade.

É o conceito de “give back” que permeia toda a sociedade americana e a torna a nação que mais destina recursos à filantropia.

Filantropia essa que também se desenvolve na indústria esportiva, por meio das fundações e iniciativas administradas pelas ligas, pelos clubes e pelos grandes atletas.

Portanto, chama a atenção o movimento arquitetado na França, país notadamente conhecido pelo Estado de Bem-Estar Social, que orgulha o povo francês como sendo uma grande conquista que remonta à Revolução Francesa.

Ou não seria justo o pagamento de altos impostos por quem já ganha muito dinheiro?

Justo seria anistiar dívidas dos clubes de futebol, no Brasil, uma vez que o tamanho dessas dívidas é tão grande que não se pode pagar?

Ou justo é ter folhas salariais inflacionadas, desde o mais recente profissional egresso do sub-20, passando pela comissão técnica e chegando aos executivos de futebol?

Entre atores, jogadores de futebol e donos de clubes de futebol, parece que, na Europa Latina e na América Latina, o único ideal que se pode afirmar vigente é o da liberdade.

Porque igualdade e fraternidade custam caro demais aos seus bolsos.

E bem são ideais ultrapassados… Estão lá em 1789.
 

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Direito Desportivo agitará o mês de novembro

Nos dias 07 e 08 de novembro o Instituto Brasileiro de Direito em parceria com a Associação dos Advogados de São Paulo realizará a 9ª edição do tradicional Forum de Direito Desportivo.

O evento será em São Paulo, na sede da AASP, certificará com 8 horas e será composto por 6 painéis.

O primeiro tratará da "Profissionalização no Desporto e a busca por resultados". Destarte, o esporte movimenta bilhões e para alcançar resultados positivos em um clube ou federação desportiva, o caminho é a gestão profissional.

O debate, mediado pelo editor da Universidade do Futebol, o jornalista Bruno Camarão, será protagonizado por Mizael Conrado (bicampeão paraolímpico de futebol de 5 para cegos e Vice Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro), Montanaro ( gerente de vôlei – Sesi-SP – medalhista de prata nas Olimpíadas de Los Angeles/84) e Alexandre Pássaro Filho (Advogado e Vice presidente do Desportivo Brasil) e, dentre outras indagações avaliará como construir entidades vencedoras sem o especialista em cada área da entidade.

Na sequência o tema será a Copa do Mundo e seus impactos no Brasil avaliando-se as contribuições para o esporte brasileiro e as reinvidicações do Bom Senso Futebol Clube. Para tanto foram convocados o Deputado Federal Romário (a confirmar), o advogado e ex-presidente do São Paulo e do Clube dos Treze, Carlos Miguel Aidar, João Henrique Cren Chiminazzo (Advogado do Bom Senso FC) e Claiton Fernandez (Especialista em Gestão Estratégica de Esportes da FIFA/CIES/FGV). Este debate será mediado pelo comentarista do Sportv, Rivelino Teixeir.

O segundo dia do evento iniciar-se-á com o painel sobre o Futuro dos Direitos Econômicos abordando, dentre outros temas, o impacto e como o mercado irá reagir com eventual proibição de compra de parte ou totalidade dos direitos econômicos dos atletas. Este painel será mediado pelo Presidente do Instituto Iberoamericano de Direito Desportivo, Luiz Marcondes e contará com a presença do técnico Jorginho, do advogado Marcelo Amoretty e do gerente de contratos e registros do Coritiba FC, Lucas Pedrozo.

O quarto painel 4 abordará o doping e suas novas Perspectivas e terá como debatedores Thomaz Mattos de Paiva ( Advogado e Presidente Nacional do Comitê Antidopagem Cbat), Francisco Radler (Coordenador do Laboratório Ladetec) e Marco Aurelio Klein (diretor executivo da ABCD – Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem)

O penultimo painel trará um tema extremamente polêmico, a Homofobia no Esporte. Mediado pelo jornalista Ivan Bruno (Conexão FM), o debate contará com o Deputado federal e ex-BBB Jean Willys, o atleta Michael ( São Bernardo), Felipeh Campos (Criador da Gaivotas Fiéis) e por este articulista que escreveu artigo sobre o tema na última edição da Revista Brasileira de Direito Desportivo.

Para fechar com chave de ouro, o sexto painel tratará da limitação dos mandatos nas entidades desportivas e terá a participação do ilustrissimo advogado e vice-presidente da CBFs, Álvaro Melo e de Patricia Medrado, Diretora da Ong Atletas pelo Brasil. A mediação ficará por conta de Mauro Beting, jornalista esportivo da TV e Rádio Bandeirantes e do Lance.

As inscrições podem ser feitas pelo site do IBDD, www.ibdd.com.br.

Sem fôlego?

Os eventos não acabam aí, entre os dias 11 e 13 de novembro, a Universidade Federal de Santa Catarina promoverá o1º Congresso de Direito Desportivo com a participação de grandes nomes nacionais e internacionais como os drs. Lucas Ottoni, advogado do Clube Atlético Mineiro, Leonardo Andreotti, professor do IESDE Madrid, Leonardo de Bem, Professor da UFSC e doutor pela Universidade de Milão, Rodrigo Bayer, Professor da UFSC, dentre outros. Terei a honra de palestrar neste grande evento.

As inscrições podem ser feitas pelo site http://congressodireitodesportivo.ufsc.br/

Coladinho ao evento de Santa Catarina, o Instituto de Direito Desportivo da Bahia (IDDBA) organizará a quinta edição do já tradicional “Esporte e Justiça”. Idealizado pelo Presidente do IDDBA e Procurador do STJD, o Seminário também contará com grandes nomes do Direito Desportivo como os Drs. Gustavo Delbin, Presidente do IBDD, André Sica, advogado do Palmeiras, Cristiano Possídio, auditor do TJD, Hudson Mancilha, Presidnete do Instituto Sergipano de Direito Desportivo, Marcelo Jucá, Presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB/RJ, Paulo Schimdt, Procurador Geral do STJD, dentre outros. Este evento contará, ainda, com o lançamento do meu livro “Comentários ao Estatuto do Torcedor” na Bahia.

As inscrições podem ser feitas pelo site www.esporteejustiça.com.br.

Finalmente, nos dias 21 e 22 de novembro, a Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP, seccional de Ribeirão Preto, juntamente com a UNISEB, organizará o I Simósio de Direito Desportivo de Ribeirão Preto. A programação ainda é provisória, mas já estão confirmados os Drs. Luis Marcondes, Presidente do IIDD, Gustavo Delbin, Presidente do IBDD, Leonardo Andreotti, Professor do IESDE Madrid, Eduardo Berol, Procurador do STJD da Cbat, Lívio Enescu, Coordenador da Comissão de Direitos e Prerrogativas da OAB/SP. Com muita honra e alegria, participarei deste evento. As inscrições ainda não se iniciaram.

Portanto, o mês de novembro promete, e muito, aos amantes do Direito Desportivo. Nos vemos!!

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Perdeu? Demite o técnico!

A nossa gestão do futebol, por mais que estejamos com enormes boas intenções de elevar o nível da nossa capacidade de gerir esse negócio sensacional, não resiste a algumas derrotas e uma ameaça real de descenso à Série B.

Bastam alguns momentos de instabilidade e insucessos repetidos que tudo aquilo que já tenha sido realizado seja passado remoto e, assim sendo, permaneça esquecido na memória dos executivos do futebol.

Em momentos como este, talvez, a solução mágica que todos estão acostumados no futebol brasileiro, a troca de técnico, não esteja mais fazendo o efeito e muitos executivos perguntam-se o que fazer.

Torna-se muito claro que muitas equipes, mesmo com bons elencos, não conseguem os resultados desejados por falta de confiança e ansiedade elevada durante as partidas. São falhas antes não cometidas, uma infinidade de gols incrivelmente perdidos que levam a equipe a derrota inesperada e a destruição da autoconfiança dos atletas.

Hoje, já é mais do que uma realidade os benefícios do trabalho de coaching no mundo corporativo e o esporte também tem colhido resultados com esse trabalho. Sendo assim, o que me parece faltar para apoiar na busca por objetivos comuns, desenvolvimento de equipes colaborativas, correções de rumo ou mudanças de rota de uma equipe de futebol é um trabalho de coaching sério e sustentável que proporcione alguns dos benefícios abaixo citados.

– Para os atletas e as equipes

• Aumento de performance
• Controle emocional
• Concentração
• Aprendizado e melhoria contínua
• Capacidade de recuperação

– Para técnicos e executivos

• Melhora o relacionamento interpessoal
• Aumenta relação de confiança
• Agrega novas competências de liderança
• Autoconsciência
• Autodisciplina
• Motivação
• Empatia

Um trabalho adequado de coaching pode contribuir como mais uma disciplina no universo do futebol, complemento este que pode potencializar, em conjunto com as demais disciplinas, o desempenho esportivo das equipes de futebol.

Novos caminhos são construídos com avaliação de novas disciplinas e novas alternativas na busca do desempenho de alta performance através da promoção de um comportamento diferenciado de todos os envolvidos no futebol, como os atletas, técnicos e os próprios executivos do futebol.

Infelizmente o futebol só recorre a novas iniciativas em momentos de desespero por uma situação de risco do descenso ou na iminência de alguma possível grande perda para o clube.

Mesmo sabendo que um trabalho de coaching para sustentar uma verdadeira transformação precisa ser feito de maneira evolutiva e construtiva, se faz necessário atender a esse chamado velado do futebol por novas disciplinas que possam contribuir com as já existentes, para promover um ambiente de performance elevada e maturidade de gestão nos clubes; e o com certeza o coaching é uma dessas novas disciplinas para o futebol.

E você, amigo leitor, também acredita que o trabalho de coaching pode contribuir com a melhoria de performance e a consequente redução no troca-troca precipitado e desenfreado de treinadores nos clubes de futebol?!

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Soluções paliativas

Final de ano e começam a aparecer as "soluções salvadoras" e, naturalmente, paliativas para os problemas das organizações ou do futebol como um todo. Surgem, por assim dizer, as ideias que prometem resolver, mas que no fundo só diminuem o incêndio que não se apaga efetivamente.

Duas destas "soluções" chamam atenção, por combinarem com fatos recentes: (1) a troca de técnicos no final do ano para tentar livrar algumas equipes do rebaixamento; (2) os debates sobre o calendário do futebol brasileiro.

Na primeira, das atitudes mais comuns em clubes brasileiros. Mostra a total falta de planejamento e de análise sobre prós e contras ao tomar tal decisão. Na realidade, os dirigentes não percebem que ao fazer esta mudança na reta final da competição apenas chamam para si a responsabilidade de eventual fracasso, ao invés de compartilhar com todas as pessoas envolvidas – principalmente com o próprio treinador e jogadores, que poderão resolver de fato a manutenção.

No fim das contas, os treinadores, tanto o anterior quanto o novo (este último que poderá sacramentar o rebaixamento), acabam "lavando as mãos". O antigo acaba justificando que não teve tempo para contornar a situação. O novo dirá a mesma coisa, respaldado na famigerada "herança maldita".

Ao invés de endossar o comprometimento de um grupo (que começa pelo seu treinador e vai até seus comandados, incluindo todo o staff da equipe) que tem trabalhado o ano todo em prol de um resultado e que poderia assumir para si o intento de mudança, acabam por deixar no ar as responsabilidades sobre o descenso.

Quanto ao calendário, apesar do amplo e positivo debate que o grupo "Bom Senso Futebol Clube" tem procurado gerar nas últimas semanas com vistas a melhoria do futebol brasileiro como um todo e, impactando, necessariamente, no calendário – mas tendo outros anseios em voga – surge uma notícia nesta terça-feira que assusta: http://www.espn.com.br/noticia/365751_decisao-da-cbf-por-limite-de-jogos-pode-fazer-clubes-esvaziarem-os-estaduais-entenda.

A reportagem mostra que se reduziu o contexto do problema do calendário simplesmente ao número de jogos, quando a questão que se está levantando é muito mais ampla. Limitar a quantidade de jogos por atleta não resolve o problema dos jogos pouco atraentes mercadologicamente.

Pelo contrário: continua afastando o torcedor pela excessiva oferta de partidas ao longo do ano, assim como da cobertura da mídia, que se torna enfadonha e desgastante. Também não protege de forma eficiente o atleta.

E pior, imputa mais uma conta aos clubes, que, conforme a reportagem citada, sugere que estes assumam a responsabilidade por mais uma conta, que é a contratação de mais jogadores para seus elencos – nunca é demais lembrar a antiga discussão sobre o elevado (e crescente) endividamento dos clubes e sua capacidade real de solução deste problema. Quer-se, com isto, aumentar ainda mais seus custos, sem que isto represente um retorno proporcional em receitas.

Enfim, resta torcer para que soluções paliativas diminuam em intensidade e escala. E que o movimento do "Bom Senso Futebol Clube" (e análogos) continue avançando e ganhando força para que, no futuro, tenhamos melhores soluções para os dois problemas levantados nesta coluna.

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O técnico que eu quero

José Carlos Brunoro, que voltou neste ano à direção do Palmeiras, costuma contar uma história que ele vivenciou na primeira passagem pelo clube.

O executivo era o homem forte da Parmalat, co-gestora do futebol alviverde, e a cúpula da equipe divergia sobre o nome do novo treinador. Ele sugeriu, então, a realização de entrevistas com os dois principais candidatos.

O primeiro postulante ao cargo chegou à reunião no Palmeiras vestindo um agasalho do clube em que ele trabalhava. Falou pouco sobre planejamento e demonstrou interesse especial sobre a data da apresentação no ano seguinte. O técnico estava preocupado com uma reforma que pretendia iniciar no telhado de casa.

Depois foi a vez de Vanderlei Luxemburgo. Egresso do Bragantino, o treinador ainda era um desconhecido quando foi entrevistado pelo Palmeiras. Chegou ao clube de terno, foi pontual e baseou a conversa em uma meta clara: ele queria ser contratado porque queria amealhar títulos e chegar ao comando da seleção brasileira.

O Palmeiras, é claro, escolheu Luxemburgo. Assim começou a montagem do time que fez enorme sucesso no início da Era Parmalat – o time alviverde ganhou dois Estaduais e dois Campeonatos Brasileiros entre 1993 e 1994.

A história de Brunoro costuma ser usada pelo executivo para explicar a importância de decisões racionais. No caso da escolha do técnico, o Palmeiras buscou mais elementos para saber qual dos dois era o melhor candidato.

Assim como fazem muitas empresas, o clube optou pelo profissional que se apresentou melhor, teve um discurso mais alinhado com a proposta da instituição e mostrou mais ambição.

Até o último fim de semana, eu costumava concordar com Brunoro. No caso de um técnico, porém, a contratação não pode ter o roteiro de uma entrevista de emprego comum. O treinador é o líder de um grupo e de um projeto do clube. Mais do que visual, metas e ambições, é fundamental que a instituição entenda se a proposta dele é alinhada com o futebol que a equipe quer.

E aqui não se trata de supervalorizar a importância dos técnicos. Treinadores têm um papel fundamental, sim, mas as decisões em campo são tomadas pelos atletas.

O problema é: os atletas tomam decisões com base no cenário que eles encontram e no repertório que carregam. As duas coisas (cenário e repertório) são consequências de uma proposta de jogo. É aí que entra o treinador.

Mais do que conhecer o profissional, o currículo e as metas dele, o que um clube deve se perguntar ao escolher um treinador é o tipo de proposta jogo que essa contratação vai oferecer à equipe.

Foi esse o meu principal pensamento após assistir ao clássico entre Barcelona e Real Madrid, disputado no último sábado, válido pelo Campeonato Espanhol. Jogando no Camp Nou, o time catalão venceu por 2 a 1 – Neymar fez o primeiro gol e deu um passe para Alexis Sánchez marcar o segundo.

A vitória ratificou o bom momento do Barcelona, que ainda não foi derrotado na temporada 2013/2014. A pergunta é: ainda que vença tudo, é esse Barcelona que os torcedores querem ver?

O time desta temporada é comandado por Gerardo “Tata” Martino, argentino que foi escolhido para substituir Tito Vilanova – o ex-treinador precisou se afastar para cuidar da saúde. Em poucos meses, o novo comandante mudou de forma radical a proposta de jogo do Barcelona.

O estilo do Barcelona ainda é baseado em controle da bola e marcação pressão, é verdade, mas há diferenças sensíveis entre os times de Vilanova (e do antecessor dele, Pep Guardiola) e a equipe de Martino. O novo formato é mais incisivo, usa mais passes longos e trabalha com linhas de marcação menos compactadas.

Com Guardiola e com Vilanova, o Barcelona dava a impressão de concentrar todos os jogadores em pequenos espaços do campo. O time trabalhava com associações, curtos deslocamentos e movimentação constante. Era um estilo claro e que se tornou uma marca.

Ainda que tenha preservado quase toda a formação titular, Martino criou um time que não pensa assim. O Barcelona que venceu o Real Madrid é muito mais competitivo do que o time de temporadas anteriores, mas encanta bem menos.

Hoje, para falar apenas da Espanha, o Celta tem uma proposta de jogo que lembra mais o Barcelona de anos atrás do que o próprio Barcelona atual. É impossível comparar a qualidade ou a eficiência, mas a equipe de Vigo tem conceitos similares aos dos catalães: obsessão por passes curtos, movimentação constante e defesa alta, por exemplo. O comandante é Luis Enrique, ex-jogador do próprio Barcelona.

O Barcelona de Martino pode vencer tudo que disputar na atual temporada, mas nunca vai ter o perfil que o time se acostumou a apresentar em anos anteriores. Será que a diretoria considerou tudo isso quando escolheu o novo treinador?

É claro, o estilo do Barcelona não foi moldado apenas por Guardiola e Vilanova. É o resultado de um projeto extenso, que envolve categorias de base e o perfil dos atletas do time profissional. Mas nada disso seria possível sem um catalizador adequado.

O exemplo do Barcelona faz pensar no futebol brasileiro. O que leva um time do país a contratar um treinador? Quais são os atributos que uma diretoria considera na hora de escolher um profissional?

Em 2013, o Grêmio contratou Renato Gaúcho pela identificação que ele tinha com a torcida por ter feito sucesso como atleta. O Internacional fez aposta semelhante com Dunga, e o São Paulo, com Paulo Autuori e Muricy Ramalho, escolheu técnicos que já haviam sido vencedores no clube.

Sem querer ser simplista ou reduzir as contratações a apenas um fator, é nítido que os históricos pesaram nessas apostas. E esses são apenas exemplos de algo comum no Brasil: nenhum dos técnicos foi escolhido pelo que defende como proposta de jogo.

O São Paulo é o mais claro exemplo disso. Quando Muricy Ramalho encerrou a passagem anterior pelo clube, a diretoria decidiu buscar alguém que tivesse mais abertura para a transição de garotos entre a base e o profissional. A ideia era reduzir a distância entre as duas realidades e criar um projeto integrado.

Muricy saiu do São Paulo, e o time não conseguiu ter estabilidade com nenhum outro treinador. Em 2013, a equipe fazia campanha ruim no Campeonato Brasileiro com Ney Franco, que havia sido contratado justamente pelo talento demonstrado na seleção brasileira sub-20. A diretoria escolheu Paulo Autuori. Depois de um período ruim com ele, resgatou o técnico tricampeão nacional. Difícil imaginar dois profissionais com leituras tão diferentes sobre o comportamento de um time.

A simples troca de um treinador carrega uma série de aspectos, mas uma pergunta é fundamental quando uma equipe decide fazer isso: qual profissional tem uma proposta de jogo que se ajusta mais ao que eu pretendo realizar?

O futebol brasileiro talvez não tenha profissionais com postura tão marcante quanto Guardiola, mas escolher um treinador também é definir uma forma de o time se comportar. E isso, é claro, tem relaç&at
ilde;o direta com comunicação.

Todo técnico é contratado para vencer, é claro, mas há vários caminhos para isso. Antes de escolher um profissional, é fundamental que a diretoria pense em qual imagem ela quer passar aos torcedores. Que tipo de time será mais agradável e condizente com o que os adeptos esperam?

No fim de 2013, o futebol brasileiro pode ter uma mudança de grandes proporções no comando de equipes da primeira divisão. Corinthians, Flamengo, Internacional, Santos e até o promovido Palmeiras são exemplos de times que ainda não definiram o comando para a próxima temporada.

Antes de pensar em qual técnico é mais vitorioso ou pode se dar melhor com o elenco, a pergunta é: que tipo de jogo esses times querem apresentar em 2014? A escolha do comandante do grupo vai influenciar diretamente nisso. O Barcelona está aí para mostrar o quanto.

O papel da comunicação é pensar na construção de uma marca e na relação dela com os consumidores. No caso de um time de futebol, essa relação é alicerçada no orgulho e na ligação emocional. Para isso, é fundamental que a equipe reproduza o que as pessoas esperam ver em campo. Escolher um treinador que não entregue isso é criar enormes empecilhos para o trabalho.