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José Silvério, 50 anos do primeiro gol

Estreia é algo tão importante e difícil que deveria ser a última coisa que a gente faz na vida. Como, por definição, não é possível, que ao menos a gente tivesse noção do que iria acontecer depois.

Mas a antevisão é para poucos. É coisa de craque.

Vi, vivi e convivi com alguns craques em vários ofícios. Sou filho de uma mãe que é craque em família. De um pai que foi craque na minha matéria. Tenho um irmão craque em aviação. Tenho filhos que são craques – e não só por que todo o filho é craque. Minha mulher é craque no amor.

Não são muitos craques na vida. No ofício, também. Trabalhei com alguns. Ainda trabalho. E todos eles têm a antevisão dos fatos, dos feitos, dos jeitos, das coisas. Eles enxergam antes. Eles veem além. Eles sentem antes. Eles sacam primeiro. Eles entendem no ato. Eles fazem antes da obra feita.

Alguns pensam, agem, executam, opinam. Poucos falam. Raros narram.

Um antecipa. Ninguém no rádio como ele.

Poucos craques de microfones são como ele. Raros do mesmo nível com a bola rolando, e até um pouco depois de ela rolar.

Mas antes de a pelota ultrapassar a linha de meta, ele já gritou gol. Já sentiu gol. Já cheirou gol. Já narrou gol. O gol é meta dele. É objetivo como meta. Como ele é objetivo no trabalho.

Tem craque que nasceu para fazer gol. Tem um craque que nasceu para narrar gol. E tudo que antecede ao gol. E tudo que nasce depois do gol.

Por que ele é o gol. Ou como bem definiu outro craque mineiro lá de Muzambinho: ele é o pai do gol. De todos eles que só ele viu nascendo antes de eles existirem.

Sei disso como ouvinte há 38 anos. Conheço cada vez mais há dez anos ao meu lado, em estádios e estúdios. Já vi narrando gols que não tinham acontecido antes de eles serem gols. Por que, como craque, sabe que serão.

Ele erra? Não. O gol é que é errado. O gol é que não sai. O atacante é que perde gol feito. Ele não. Ele canta o gol feito. Ele enfeita o gol marcado. Ele solta a voz, como um dia soltou para desentalar o grito do palmeirense em jejum, em 1993. Como já havia feito com o corintiano, em 1977. Como fez com o Brasil tetra, com o Brasil penta. Com outras grandes conquistas, com algumas pequenas derrotas.

Ele cobra muito de todos. Dentro e fora de campo. Por que se exige demais. Como Pelé, e ele é Pelé para narrar em rádio, ele se concentra antes de cada partida. Ele sonha com os gols. E os gols se transformarm em realidade. Ainda mais real no relato preciso, conciso, direto. Objetivo. Ele narra o que é belo e o que é feio. O que é fato e o que é feito. Não floreia – narra.

Ele é concreto como um gol que é ou não é. Ele é. Ele é o Zé.

Pai do gol que em 20 de julho de 1963, menino de tudo, foi até um canto do estádio da rua Desenbargador Alberto Luz narrar Dalton marcar o único gol para o time da casa de Lavras, ainda hoje seu lar. Olímpica venceu o Bragantino com aquele gol isolado.

Um jogo que poucos lembram, se é que alguém se recorda. Um gol que ele não lembra como foi, que estreia muitas vezes é assim. Mas um gol que o rádio, o jornalismo e o futebol brasileiro não podem esquecer. Podemos até florear, inventar, extrapolar, dizer que foi isso, que foi aquilo o lance, o gol, tudo.

Mas em homenagem ao jovem locutor que estreava em Minas, para depois ganhar o rádio do Rio, de Brasília e de São Paulo, para não falar em todo o Brasil, o futebol ganhava alguém capaz para narrar o que é um drible de Mané, um passe de Rivellino, uma ginga de Neymar, um gol de Pelé. Um gol narrado pelo Zé.

Lances de craques e de gênios de várias gerações. Todos eles com a mesma categoria para narrar antes – GOL! Dele. Do Zé. E QUE GOLAÇO!

Drummond falava de um mineiro como ele que fez mais de mil gols. “Difícil não é fazer 1000 gols como Pelé. Difícil é fazer um gol como Pelé”. O poeta falaria fácil de outro mineiro de Itumirim que deixa tudo menos complicado: “Difícil não é narrar milhares de gols pela vida. Impossível é relatar um gol como faz o José Silvério”.

Em nome dos ouvintes do Brasil que você saúda com sua saúde de ferro há 50 anos, em nome dos colegas com que você multiplica as jornadas nesse período todo, eu só posso dizer que, assim como você fala para os seus filhos e netos, seus amores, tudo que você os ama, nós que temos o privilégio de trabalhar ao lado do Pelé do gol no rádio só podemos agradecer.

Obrigado por nos dar a emoção de um grito de gol do nosso time. Obrigado por me dar a honra de ouvir você gritar gol ao meu lado. Obrigado por tantas vezes narrar gol do nosso time no meu telefone celular para os meus filhos ouvirem de casa em vez de ouvir pelo rádio. Obrigado por algumas vezes ter feito o mesmo para o meu pai que morria de medo de alguns jogos do nosso time. Obrigado por em Dortmund narrar Brasil 3 x 0 Gana na Copa de 2006 com a precisão e emoção de sempre e, ao desligar o microfone, desabar no choro pela Tianinha que adoecera em São Paulo antes de a bola rolar. Obrigado por narrar em Barueri um jogo nada apaixonante como se você fosse um adolescente apaixonado quando conheceu a Rose.

Amigos, isso eu posso soltar a minha voz: se ouvir um gol do nosso time narrado pelo Zé é maravilhoso, posso dizer, depois de 10 anos de trabalho na cadeira do lado, que ouvir até os gols que tomamos pelo nosso time são menos feios. Por que são narrados por um craque.

Parabéns pelos próximos 50 anos de rádio, Zé.

 

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Oportunismo

Antes da Copa das Confederações, a seleção brasileira não estava pronta. Luiz Felipe Scolari, quando contratado para substituir Mano Menezes no comando da equipe nacional, era ultrapassado e pouco eficaz na estruturação tática de seus times. Poucos dias e muitos resultados positivos depois, tudo mudou radicalmente. É muito difícil analisar esporte sem ser oportunista.

Em outros segmentos, é clara a ideia de que não se pode analisar uma obra antes que ela esteja pronta. Falar sobre as partes sem ter uma noção exata do todo pode comprometer absurdamente a avaliação. Seria como julgar um filme por cenas isoladas.

No esporte, contudo, como definir em que ponto um trabalho está realmente concluído? Em uma seleção, pode-se eleger a Copa do Mundo como um norte nesse aspecto. No entanto, trabalhos recentes de Alemanha e Espanha, unidos pelo longo prazo e pela proposta de incutir no país uma filosofia diferente de jogo, não foram voltados apenas a um torneio ou a um quadriênio.

Julgar o trabalho do técnico Vicente del Bosque à frente da Espanha apenas pelo que ele fez na Copa do Mundo de 2010 seria um reducionismo. A despeito de ter sido campeão na África do Sul, ele realizou muito mais do que aquela campanha: montou um time e instituiu parâmetros para cada setor e para o todo.

Da mesma forma, julgar o atual estágio do futebol espanhol pelo trabalho de Del Bosque seria raso. O treinador definiu um perfil para a equipe nacional, mas foi beneficiado por uma cultura disseminada desde as categorias de base. A seleção eliminada nas quartas de final do Mundial sub-20 deste ano é um exemplo disso. Apesar de não ter vencido o campeonato, mostrou características que são caras aos profissionais da Espanha, como o toque de bola e a marcação pressão.

Na semana passada, elogiei Scolari por ser um comunicador extremamente eficiente. Mas creditar apenas à comunicação a evolução que ele promoveu na seleção brasileira seria cometer com ele uma enorme injustiça. Como escreveu o mestre Tostão na coluna dominical da "Folha de S.Paulo", ele criou um time compactado, com transição rápida e marcação sobre a saída de bola do adversário. São conceitos modernos, que mostram que o técnico não parou no tempo.

Ainda assim, Scolari comanda uma seleção em que as maiores referências técnicas são Neymar, nascido em 1992, e Oscar, que é de 1991. Mesmo entre os mais experientes, poucos têm vivência do que é uma Copa do Mundo.

E nada disso teria sido considerado se a seleção de Scolari tivesse decepcionado na Copa das Confederações deste ano. O time foi campeão, e isso valorizou a montagem e o amadurecimento do time.

O oportunismo é o maior risco em qualquer análise sobre esporte. Mais até do que a seleção brasileira, um exemplo claro disso foi dado no último sábado, em uma luta do UFC, maior circuito de artes marciais mistas (MMA) do planeta. O brasileiro Anderson Silva, que defendia o cinturão, dançou na frente do norte-americano Chris Weidman. Provocou, gesticulou e fez de tudo para desrespeitar o rival no octógono, e acabou nocauteado no segundo assalto.

A derrota de Silva abriu espaço para uma saraivada de críticas. Em análises publicadas em redes sociais, foram incontáveis os adjetivos como "arrogante" "prepotente".

O brasileiro não criou no sábado esse estilo de lutar. Ele pode ter exacerbado a prática do deboche, mas fez isso em nome da repercussão que o transformou em um fenômeno do MMA.

A análise aqui não é técnica, motivacional ou algo do tipo. Não considerei sequer as notícias sobre possíveis armações na luta. Meu ponto é apenas de postura: se tivesse vencido, a despeito do comportamento, Silva não teria sido classificado como um monstro desprovido de humildade.

O que debelou a imagem do brasileiro não foi a postura, mas o revés. Esse é o problema das análises oportunistas.

É o que acontece também em alguns times da elite do futebol brasileiro. O São Paulo, por exemplo, tem um elenco muito superior aos resultados obtidos na atual temporada. A dúvida é: como avaliar isso na perspectiva correta?

Procurar culpados e fazer avaliações individuais de jogadores, estafe técnico ou diretoria é ver apenas as partes. Nesse momento, é fundamental uma abordagem sistêmica do problema. Também é importante que os fatos sejam colocados no contexto correto.

Nesse caso, o esporte segue exatamente o que acontece no mundo corporativo. Uma empresa não pode avaliar apenas os números de uma fase do processo. Saber como estão as engrenagens é essencial para o sucesso, mas o mais relevante aqui é analisar a interação entre as peças.

Isso vale, no esporte, para dirigentes, treinadores e comunicadores. Em todas as pontas do processo, sempre há pessoas que se contentam em medir resultados e números. O grande desafio é colocar esses dados no contexto correto.

É admitir que a seleção brasileira de Scolari evoluiu e que se apresentou bem na Copa das Confederações. É reconhecer que jogadores melhoraram individualmente e que isso tem relação direta com o desempenho do time. É não ceder à tentação de inferir que o elenco e a equipe estão prontos para a Copa do Mundo de 2014.

Também é reconhecer que Anderson Silva foi derrotado e que exagerou nas provocações. Mas é ver os méritos de Weidman, que se aproveitou disso, e entender que o brasileiro não forjou a condição de ídolo usando exatamente esse padrão de comportamento.

E por fim, só o correto distanciamento pode mostrar quais são os motivos de uma crise técnica de um time. Sobretudo porque isso pode ser apenas reflexo do jogo.

Ferran Soriano, ex-dirigente do Barcelona, escreveu um livro chamado "A bola não entra por acaso". A obra transformou-se em símbolo de inovação e mudanças de procedimento na gestão do futebol mundial.

Em todos os setores, o desafio é entender, então, por que entra a bola. Soriano conta que uma das medidas que a diretoria do Barcelona tomou na época em que ele trabalhava no clube foi proibir que qualquer decisão fosse tomada aos domingos.

A ideia era pensar apenas na segunda-feira, horas depois do jogo do fim de semana. Só assim o resultado poderia ser colocado na perspectiva correta.

Outro ponto relevante para a mudança de paradigma de gestão do Barcelona foi a definição de objetivos. Sem saber quais são os fins é impossível produzir qualquer análise – afinal, volto ao início do texto: como saber quando o trabalho está concluído?

Aí entra o maior risco do oportunista. Análises desconectadas da linha do tempo podem ser eficientes no momento, mas são mais frágeis. Um sábio amigo meu costuma dizer que o futebol, assim como a vida, é exatamente como uma roda gigante…

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Organização sistêmica de jogo: existem equipes que jogam futebol de maneira desorganizada?

Em uma partida de futebol, as duas equipes que se enfrentam sempre apresentarão algum nível de organização.

Diferente do que já citaram alguns autores portugueses das Ciências do Desporto, no início dos anos 2000 – contestados pelos estudiosos da Teoria Geral dos Sistemas – o jogo de futebol, construído pelo ato de jogar dos jogadores, é um “sistema dinâmico caótico”, que para ser sistema independe da expressão declarada ou constituída conscientemente (com referências), de um Modelo de Jogo.

Então, por mais que alguns de nós possamos não concordar com o fato, a existência viva de um “sistema” pressupõe, necessariamente, organização.

Isso quer dizer, em outras palavras, que todas as ações dos jogadores dentro de um jogo respeitarão uma lógica operacional, compartilhada, intuitivamente ou não, com companheiros e adversários.

E quer dizer também que, uma aparente “bagunça” de uma equipe quando joga, não representa desorganização!

Quando olhamos para um jogo de futebol, e buscamos entendê-lo sob o ponto de vista da organização de jogo das equipes, fazemos sempre com os óculos dos parâmetros que conhecemos – e que portanto tentamos reconhecer no jogo.

O fato de não conseguirmos identificar esse ou aquele parâmetro organizacional não quer dizer que esteja ausente qualquer tipo de organização.

É óbvio que não quero dizer com isso que está então justificada toda e qualquer má elaboração organizacional que uma equipe possa vir apresentar em seu jogo.

Claro que não!

O fato número um é que jogadores reunidos para formar uma equipe, mesmo que não treinem na direção do jogar que apresentam, expressarão algum tipo de jogo – mais, ou menos elaborado (provavelmente menos) – porque o ato de jogar coletivamente é a emersão de identidades individuais e de vínculos coletivos que vão se estabelecendo conforme a relação de jogo dos jogadores vai se fortalecendo.

O fato número dois é que treinar o jogo que se quer jogar levará jogadores e equipes a uma consistência organizacional maior – ou seja, elevará seu nível de organização, e sistemicamente permitirá a ela tornar-se menos instável no confronto com outras equipes/sistemas complexos.

Mas independente dos fatos “número um” e “número dois”, há um incontestável terceiro: ao analisarmos uma equipe em um jogo, vamos sempre buscar identificar no jogo o tipo de lógica organizacional que conhecemos.

Quando não encontramos nele a lógica que buscamos, tendemos, ao invés de olharmos mais a fundo para ela (para a lógica organizacional), a considerá-la como quase “inexistente”.

O peixe não sabe menos sobre a água à sua volta do que um humano que o observa dentro dela em um aquário. Nem o humano sabe mais ou menos que o peixe. Eles sabem coisas diferentes, e é uma pena que não possam compartilhar seus conhecimentos um com o outro.

Felizmente no futebol podemos aprender mais sobre o jogo, porque além de ser possível observá-lo, podemos interagir com aqueles que jogam.

Então, se soubermos e pudermos fazer as perguntas certas, é possível que ao invés de o considerarmos desorganizado, aprendamos uma nova lógica naquilo que em princípio parecia ser ausência de organização.

Quem olha para Modelos de Jogo, só conseguirá descobrir Modelos de Jogo. Quem olha para Lógica do Jogo só poderá detectar a maneira que as equipes tentam cumpri-la. Quem olha para a ação técnica individual do jogador com bola, só será capaz de perceber organização de jogo através das ações técnicas individuais do jogador…

O que você busca no jogo? Já pensou em fazer a ele outras perguntas?

Por hoje é isso…
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

 

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Entrevista Tática: Niander, lateral direito do Penapolense-SP

Antes de iniciar a entrevista com o referido atleta, gostaria de deixar uma breve opinião de Tostão, publicada na Folha de São Paulo, que expressa a visão do colunista sobre o desempenho da seleção brasileira na final da Copa das Confederações.

“Por causa de um excepcional jogo não se pode tirar conclusões, mudar conceitos, nem dizer que as críticas anteriores à seleção e ao futebol brasileiro eram incorretas e/ou severas. O que vimos contra a Espanha não tem nada a ver com o que a seleção jogava nem com a qualidade e a maneira de atuar da maioria das equipes brasileiras. Mas o fato mostra que, se o futebol brasileiro, a médio prazo, trabalhar com eficiência e seriedade, dentro e fora de campo, estará, de rotina, e não apenas em um momento, entre os melhores do mundo.”

Parabéns, Tostão, por mais uma valiosa opinião sobre o nosso futebol.

Obrigado, Renato Buscariolli, pelo contato para a entrevista.

1-Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.

Jockey Clube-SP (12 aos 14 anos); Ituano-SP (15 anos ); Atlético Sorocaba-SP (16 aos 22 anos ); Mineiros-GO (23 anos ); Noroeste (23 anos ); Bragantino-SP (23 e 24 anos ); Operário-MS (24 anos), São Bernardo-SP (24 aos 26 anos) e Penapolense-SP (27 aos 29 ).

2-Para você, o que é um atleta inteligente?

Um atleta inteligente tem que valorizar suas características, tentar assimilar o mais rápido possível o que o treinador pedir e ter uma conduta exemplar fora de campo.

3-O quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?

O futebol de rua me fez amadurecer mais cedo, aprendendo a malícia e a experiência de jogar com pessoas mais velhas.

4-Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?

Fator indispensável para uma equipe vencer seu adversário é a parte física, pois bem fisicamente o atleta supera suas limitações técnicas e táticas.

5-Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?

O atleta necessita de muito trabalho técnico e muita força física.

6-Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?

Sou lateral e preciso apoiar muito durante os 90 minutos. Chegar sempre com qualidade na linha de fundo e ter uma ótima recuperação na marcação.

7-Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.

Sou um atleta muito determinado na formação tática e procuro entender e fazer tudo que o treinador nos orienta durante a semana . Tenho um bom passe e hoje em dia uma boa equipe tem que valorizar ao máximo sua posse de bola. Como tenho muita força física, procuro sempre explorar minha explosão. Procuro também sempre manter o foco nas partidas.

8-Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?

Luciano Dias. Pessoa muito inteligente taticamente e tem uma conduta exemplar.

9-Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.

(…) Ele me pediu para atuar na lateral esquerda em um treinamento coletivo. Sou destro e acabei tendo muita dificuldade.

10-Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?

Relembrar todo o trabalho feito na semana, pontos fortes do adversário e o principal que é a motivação.

11-Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo? Qual você prefere e por quê?

No 4-4-2, os laterais acabam tendo uma função muito importante na marcação, já no 3-5-2, os laterais tem uma liberdade de ataque muito maior. Prefiro o 4-4-2 porque exige do lateral um bom posicionamento tático, fechando na linha dos zagueiros e sabendo apoiar no momento certo.

12-Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
•Com a posse de bola;
•Assim que perde a posse de bola;
•Sem a posse de bola;
•Assim que recupera a posse de bola;
•Bolas paradas ofensivas e defensivas.

Minha equipe valoriza muito a posse de bola, mas sem perder a agressividade. Assim que perdemos a bola o jogador mais próximo já começa a fazer a marcação pressão. Sem a posse, procuramos diminuir
o campo em 40m e sempre pressionar o atleta que está com a bola.

Quando recuperamos tentamos valorizar a posse da bola e envolver o adversário!

Nas bolas paradas defensivas marcação por setor e nas ofensivas atacar a bola.

13-O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?

Procuramos manter a calma e o posicionamento pedido pelo treinador. Mas nós atletas precisamos ter a iniciativa de fazer algo diferente para se organizar o mais rápido possível.

14-Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?

Tenho minha autocrítica e sempre procuro analisar o que poderia ter feito de diferente para evitar os erros. A comissão técnica nos apresenta um trabalho de vídeo para observarmos onde foi que erramos e acertamos na partida.

15-Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?

A diferença do futebol europeu com o brasileiro é a condição financeira e a obediência tática. Existem estas diferenças porque o Brasil é um país muito corrupto e o atleta brasileiro se destaca na individualidade.

16-Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma Comissão Técnica, qual seria?

Seja coerente com todos os atletas, independente da situação.

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

 

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Lei Estadual contra a violência nos estádios de futebol?

Tramita na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais o projeto de lei 1.985/2011, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão aos fenômenos de violência nas competições esportivas.

A referida lei autorizará a criação do Juizado Especial de Defesa do Torcedor do Estado de Minas Gerais de modo permanente, como anexo aos Juizados Especiais Cível e Criminal da Comarca da Capital e, em caráter itinerante, em todo o Estado de Minas Gerais, nos locais destinados à realização de eventos esportivos, como anexo aos Juizados Especiais Cível e Criminal da respectiva comarca.

O Juizado Especial de Defesa do Torcedor será competente para processar, julgar e executar os feitos criminais relativos a infrações de menor potencial ofensivo e aos crimes previstos nos artigos 41-C, 41-D, 41-E e 41-G, do Estatuto do Torcedor, bem como as causas cíveis de menor complexidade, assim definidas na Lei nº 9.099, de 1995, decorrentes da aplicação do Estatuto do Torcedor.

Ao Juizado Juizado Especial de Defesa do Torcedor funcionará no esquema de plantão judiciário e caberá, também, a apreciação de pedidos de natureza cautelar ou antecipatória em matéria cível, criminal e de defesa da criança, do adolescente e do idoso, desde que compreendidos no âmbito de sua competência e jurisdição.

O Juizado Especial de Defesa do Torcedor contará, ainda, com equipe multidisciplinar de atendimento à vítima, ao agressor e ao torcedor, nos termos da legislação pertinente.

Ademais, o poder público promoverá a defesa do torcedor através do órgão de defesa do consumidor estadual, ou seja, pelo Procon.

No que tange às torcidas organizadas, o projeto prevê a criação ou indicação de um órgão próprio para registro das torcidas organizadas que deverão criar um cadastro de todos os torcedores e associados na forma prevista no Estatuto do Torcedor.

Será observado o princípio da transparência e os estatutos e o quadro de associados das torcidas organizadas será divulgado na internet em sítio próprio do órgão registrador.

Na ocorrência de atos violentos nos eventos esportivos ou fora deles, sendo constatada sua participação, ficará a torcida organizada proibida de participar do evento esportivo subsequente.

O torcedor, agindo isoladamente ou em conjunto, que promover tumulto, praticar ou incitar a violência ou depredar as instalações esportivas, sejam elas do poder público ou privadas, além das sanções previstas no Estatuto do Torcedor e no Código Penal, poderá ser suspenso da participação em eventos subsequentes de mesma natureza e ao pagamento de multa.

De iniciativa do deputado Gustavo Valadares, a proposição da lei tem por justificativa prevenir e reprimir os fenômenos de violência nas competições esportivas, regulamentar o sistema de controle, monitoramento e identificação nos eventos esportivos e disciplinar as torcidas organizadas.

Segundo o parlamentar, trata-se de matéria que não oferece óbices à iniciativa parlamentar, e está motivada por constantes episódios de violência e vandalismo, envolvendo torcedores, em atividades esportivas. Este projeto busca evitar tais ocorrências com medidas rígidas e específicas de segurança e ainda possibilitar a identificação de eventuais infratores.

A justificativa se completa ao dispor que o Juizado Especial de Defesa do Torcedor objetiva-se facilitar e aproximar os meios de defesa e auxílio público imediato em episódios decorrentes dos eventos. Essa infraestrutura gerará maior segurança nos estádios e aumento na frequência das famílias e crianças em um ambiente de lazer e diversão.

Não obstante a louvável iniciativa, o referido projeto possui um vício (defeito) de inconstitucionalidade, eis que a Constituição Brasileira determina que constitui competência provativa do Tribunal de Justiça propor à Assembleia Legislativa projeto de lei que altere a organização e a divisão judiciária, como a sugerida criação do Juizado Especial do Torcedor. Inclusive, a Comissão de Constituição e Justiça concedeu parecer neste sentido.

Atualmente, o projeto de lei está aguardando inclusão de pauta para votação no plenário e o seu andamento pode ser acompanhando no sítio da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, por meio do link http://www.almg.gov.br/atividade_parlamentar/tramitacao_projetos/interna.html?a=2011&n=1985&t=PL.

Vale destacar que tramita, ainda, na Assembleia, o Projeto de lei nº 3.095/2012 que pretende autorizar o Poder Executivo a aplicar multa às entidades de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade em razão de ilícitos praticados por seus torcedores, que será objeto da coluna da próxima semana.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Existe algo a aprender após uma conquista?

Hoje, quero refletir com você amigo leitor sobre o que realmente podemos levar em consideração após uma conquista, que não seja apenas comemorar e parabenizar a todos após mais uma conquista.

Se quando perdemos, a sensação de fracasso tende a impactar diretamente em nossa autoestima, quando vencemos também flertamos com os perigos que a euforia nos coloca à prova. São inúmeras armadilhas da soberba e do orgulho que podem nos fazer mergulhar em nossa própria vaidade humana e criar uma falsa percepção de alta performance.

Todas as nossas experiências são merecedoras de análise em busca de lições aprendidas que possam ser utilizadas futuramente em novos projetos ou novos ciclos de competições.

Pensando na seleção brasileira de futebol, podemos compreender que este momento logo após a conquista da Copa das Confederações deve ser dedicado a elaboração desta lista de lições aprendidas, que possibilitará uma reflexão valiosa sobre o que deu certo e pode ser mantido, quanto ao que não foi tão bem e que deve ser repensado ou ajustado.

Mas, na posse de uma importante relação de lições aprendidas como se pode aproveitá-las da melhor forma em busca da melhoria e da alta performance?!

Um coach capacitado pode promover uma contribuição valiosa neste momento, aplicando o conceito de um dos modelos de coaching mais conhecidos e desenvolvido por John Whitmore, intitulado GROW (Goals-Reality-Options-Will/Wrap-Up). Podemos compreender este modelo facilmente através da metáfora de uma viagem, na qual o Coach pretende conduzir o coachee (cliente) numa viagem em direção a sua grande meta.

Na prática da aplicação deste modelo numa equipe esportiva, o Coach conduz o processo pelos passos do GROW, conforme descrição abaixo.

GOAL (META) – Momento para acordar o objetivo, ou seja, aonde se pretende chegar. Aqui vale lembrar que uma boa formulação de objetivo deve ter como princípio ser SMART. Este acrônimo é a designação dos fatores considerados mais importantes no estabelecimento de objetivos de qualidade e corresponde a Specific (Específica), Mensurable (Mensurável), Attainable (Alcançável), Relevant (Relevante) e Time-Based (Temporal).

REALITY (REALIDADE) – Nesta etapa se define o estado atual em relação ao ponto que se deseja alcançar. É necessário avaliar as principais barreiras para o alcance das metas e verificar os recursos necessários (não apenas financeiros) para obter os resultados estabelecidos.

OPTIONS (OPÇÕES) – Aqui procura-se levantar todas as possibilidades de se alcançar o objetivo desejado e estabelecer as vantagens e desvantagens de cada uma. Logo após, verifica-se a opção que traria maior retorno e satisfação em relação às demais.

WILL / WRAP-UP (O QUE DEVE SER FEITO, QUANDO, POR QUEM, E A VONTADE DE FAZER!) – Esta última etapa é dedicada ao estabelecimento claro do que deve ser feito e o prazo de realização de cada atividade, com definição de papéis e responsabilidades. É muito importante que exista uma validação de comprometimento dos envolvidos na execução das atividades que irão contribuir com a evolução em busca da performance ideal ou desejada.

E aonde se relacionam as lições aprendidas elaboradas com o modelo citado? A resposta é: em todo processo! Pois, a utilização desta lista de lições aprendidas contribui efetivamente para enriquecer o trabalho de estabelecimento das metas, reconhecimento genuíno do estado atual, avaliação sincera das opções disponíveis e elaboração de um ótimo plano de ação.

Cabe para a nossa seleção, para outras equipes e para nossas vidas também, não acham?!

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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O alemão e o bigode

O Brasil conquistou no último domingo o quarto título na Copa das Confederações (o terceiro consecutivo). Jogando em um Maracanã lotado, a seleção sul-americana teve um desempenho irrepreensível e fez 3 a 0 na Espanha, atual campeã mundial e bicampeã da Europa.

Eram muitas as razões para que o clima pós-jogo fosse afável e festivo nos vestiários dos anfitriões. Ainda assim, o técnico Luiz Felipe Scolari teve um momento menos tranquilo.

Felipão não gostou de uma pergunta feita por Tariq Panja, da Bloomberg. O repórter tentou estabelecer um paralelo entre a alegria do Maracanã e os protestos nas ruas, que foram fortemente reprimidos pela polícia.

O técnico chegou a dizer que não responderia, mas mudou de ideia. "Eu também gostaria de perguntar aos ingleses o que aconteceu no país durante os Jogos Olímpicos de 2012".

A resposta-ataque de Felipão remete a manifestações populares realizadas nas ruas de Londres antes e durante os Jogos Olímpicos de 2012, que foram realizados na cidade. O paralelo com o cenário do Brasil neste ano é extremamente pertinente.

A questão, contudo, não é o que foi dito pelo treinador da seleção brasileira. A questão é como. Ao tergiversar sobre o assunto proposto pelo repórter inglês e responder de forma ofensiva, Scolari deu uma demonstração de um de seus maiores trunfos: a comunicação.

A comissão técnica tem muitos méritos no título que a seleção brasileira conquistou na Copa das Confederações. Scolari acertou muito na construção do time, mas pouco funcionou tão bem quanto a comunicação. E isso vale para o grupo e para fora.

Para fora, Scolari representou muito. Pediu união nacional em torno do time e adotou um discurso nacionalista exacerbado antes mesmo de o torneio começar. Isso acrescentou à seleção um diferencial competitivo, que foi a simbiose com o público presente nos estádios.

Até a forma de jogar tem relação direta com isso. Ao propor uma marcação pressão nos minutos iniciais, Scolari criou um cenário direcionado a angariar rapidamente o apoio popular. Claramente, uma das ideias era mostrar aos espectadores o interesse da equipe nacional.

"A nossa equipe representa os anseios do povo", disse Scolari, em uma das respostas na entrevista coletiva do último domingo. Se tivesse tentado tocar mais a bola e cadenciar mais o jogo, o treinador talvez não tivesse despertado no público essa centelha de orgulho.

Nas declarações, Scolari também priorizou sempre o orgulho. Uma prova clara disso foi a reação do treinador à pergunta do repórter da Bloomberg. Foi algo como uma defesa nacional. O Brasil acima de tudo.

Depois da vitória por 2 a 1 sobre o Uruguai nas semifinais, Scolari chegou a dizer que o triunfo havia sido conquistado pelo torcedor brasileiro. Ele citou como exemplo disso a reação do público ao hino nacional – os espectadores ignoraram a interrupção da música no sistema de som oficial e entoaram o trecho final da primeira parte à capela.

O hino cantado pelos torcedores virou um hit na Copa das Confederações. A cena aconteceu em praticamente todos os jogos do Brasil no torneio, e vários atletas creditaram a isso a obstinação da equipe nacional nos primeiros minutos das partidas.

Mais uma vez, mérito de Scolari. Ele soube usar uma cena bonita para fomentar o orgulho nacional no público e nos atletas. Soube criar uma história motivacional e colocá-la no contexto da proposta de jogo da equipe.

Nesse aspecto, poucos treinadores são tão eficientes quanto Scolari. O que ele construiu em termos de comunicação na Copa das Confederações de 2013 é extremamente próximo do que ele havia feito na Copa do Mundo de 2002.

Naquela época, Scolari não tinha o apoio popular tão latente. A Copa do Mundo foi realizada na Coreia do Sul e no Japão, do outro lado do planeta. Mas ele também buscou elementos de orgulho nacional, como a música e as festas que estavam sendo realizadas no país.

Quando voltou à seleção brasileira, Scolari convivia com análises de que estava ultrapassado. Isso pode até ser verdade do ponto de vista tático, mas o discurso do treinador não envelhece. E quando o ambiente inteiro é positivo, fica muito mais fácil superar problemas em algumas áreas.

Aí entra outro mérito de Scolari: a união do grupo. Não houve "família" em 2013, mas o grupo se comprometeu absurdamente com a proposta do treinador. E novamente, a causa disso é a comunicação.

Há o exemplo claro do centroavante Fred. Ele passou em branco nos dois primeiros jogos e foi substituído por Jô, que balançou as redes em ambos. Antes do início do duelo com a Itália, Scolari chamou o camisa 9 e disse, entre outras coisas, que ele ficaria o tempo todo em campo.

Fred renasceu contra a Itália. Terminou a Copa das Confederações com cinco gols, mesmo número do espanhol Fernando Torres. Marcou duas vezes na decisão do torneio. E acima de tudo isso: transformou-se em peça fundamental para as movimentações da seleção brasileira com e sem a bola.

O comprometimento de Fred é um exemplo do quanto Scolari funcionou bem com a seleção brasileira. Planejar bem e pensar em estratégias eficientes são ações importantes para um técnico, mas nada disso funciona se os atletas não "comprarem a ideia".

É isso que chamou atenção na apresentação de Pep Guardiola como técnico do Bayern de Munique, realizada neste mês. Depois de marcar época como comandante do Barcelona, o espanhol passou um período sabático antes de acertar com os bávaros. Quando iniciou o novo trabalho, chegou falando alemão.

José Mourinho, que trocou recentemente o Real Madrid pelo Chelsea, foi questionado certa vez sobre a possibilidade de trabalhar na Alemanha. O técnico português respondeu que não tinha isso como meta, sobretudo porque o idioma seria uma barreira intransponível para ele.

Ao chegar falando alemão, Guardiola deu uma demonstração de comprometimento. E isso tem um papel fundamental na primeira impressão que ele vai provocar entre os novos comandados.

Na semana passada, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi relatou uma história que reforça isso. Contratado por um time japonês depois da Copa do Mundo de 1994, ele pediu ao intérprete que ficasse atrás da meta no primeiro treino. Além disso, solicitou que o profissional anotasse as traduções para todos os comandos que ele dava em português.

No dia seguinte, o segundo de Rinaldi no Japão, ele já conseguiu usar comandos básicos no idioma local. Isso surpreendeu os atletas locais e ajudou, segundo o ex-goleiro, na afirmação dele no país.

Guardiola e Rinaldi podiam ter usado intérpretes. Isso não seria demérito nenhum, mas o que eles fizeram demonstrou comprometimento e vontade. Tudo comunica.< /p>

Além disso, os dois criaram ambientes favoráveis. Como o caso de Scolari ensina, isso é um passo enorme para o sucesso.

Há vários fatores a serem analisados no trabalho de Scolari. Ele não é perfeito porque ganhou – nem a seleção é. No entanto, o título conquistado no último domingo mostra um caminho fundamental: é impossível liderar grupos de pessoas sem a comunicação adequada.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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A final que pode mudar o nosso final

Brasil e Espanha: em 2011, representados por Santos e Barcelona respectivamente, a final do Mundial de clubes foi vexatória para o futebol brasileiro e ponto de partida para muitos veículos de imprensa, dirigentes, treinadores e outros profissionais do futebol apontarem o abismo entre o jogo brasileiro e o europeu.

Menos de dois anos depois, a escola brasileira e espanhola se reencontram, agora representadas pelas suas seleções, na final da Copa das Confederações disputada no Brasil.

Como a grande maioria dos atletas da escola brasileira atua no futebol do Velho Continente e estão habituados aos comportamentos de jogo por lá praticados (no onze inicial, 3 jogam na Inglaterra, 2 na Espanha, 1 na França, 1 na Alemanha e 1 na Rússia), descarta-se a hipótese de vexame semelhante ao sofrido pela equipe santista. Porém, os princípios de jogo apresentados por cada seleção podem, novamente, expor a distância entre o futebol brasileiro e o europeu.

Uma vez que o placar é a única variável considerada na análise de um trabalho e o futebol é, por característica, imprevisível, a vitória da equipe de Felipão pode mascarar diversos elementos das ideias de jogo do treinador brasileiro que, ocupando o mais alto cargo de técnico de futebol no país, representa como temos pensado a modalidade.

Para a análise do que pode ser a final, além de exercer o papel social de treinador (ainda que num cargo de pequena expressão), exerço também o papel de torcedor.

E enquanto o torcedor quer o título para o nosso país e a confiança para a Copa do Mundo que se aproxima, o treinador quer mais uma aula espanhola, de ideias para um bom e belo futebol.

O torcedor vislumbra que em pouco tempo de comando, Scolari conseguiu transformar uma equipe desacreditada em favorita. Imagina o quanto não poderá ser feito num trabalho em longo prazo? Já o treinador questiona se, mesmo com mais tempo para treinar, os princípios de jogo serão mantidos.

O torcedor vê David Luiz extremamente raçudo e marcador. O treinador o vê muitas vezes mal posicionado em um ataque à bola desordenado.

O torcedor vê Luiz Gustavo com uma precisão impecável no passe. O técnico vê um volante que escolhe preferencialmente o passe cadenciado e praticamente não pisa no campo de ataque.

O torcedor vê Neymar decisivo, exímio finalizador. O técnico, lamentavelmente, o vê como "boleirão", reclamão e pouco coletivo.

O torcedor concorda com a opinião da imprensa, que classifica o Oscar como exausto neste final de temporada. O técnico o vê isolado, com volantes distantes, num setor em que todos os adversários têm conseguido, com boa organização defensiva, neutralizar o Brasil.

O torcedor não se importa com o futuro da modalidade, com a evolução do jogo, do treino e com aquilo que é tendência no futebol mundial. O treinador sonha que o futebol praticado pelos espanhóis sirva de exemplo para nossos treinadores e dirigentes, grandes responsáveis pelo futebol do futuro (e por falar em futuro, lembram-se que nossa seleção não está no Mundial sub-20?).

Por fim, o torcedor quer gritar "É Campeão!” e o treinador bater palmas para a seleção que joga o melhor futebol da atualidade e que precisa vencer para, quem sabe, permanecer acesa a chama que em 2011 se acendeu e que alguns profissionais lutam arduamente para que assim permaneça. Uma vitória do Brasil pode atrasar este processo e apagar a chama!

Até domingo, às 19h, decido em qual papel assisto ao jogo…

Você já se decidiu? Escreva a sua opinião!

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Copa das Confederações e o seu legado

Desde 2007, quando o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014 e da Copa das Confederações de 2013, um assunto, sempre recorrente nas pautas jornalísticas, políticas e conversas de boteco, foi o legado destes eventos, ou seja, o que eles deixariam para o país e seus habitantes.

Inicialmente há de se destacar o empenho do Poder Público em melhorar a mobilidade urbana e a estrutura dos estádios (agora denominados arena). Vale destacar que o país passou por anos de estagnação em investimentos em infra-estrutura e é possível que esta inércia permanecesse, caso não tivéssemos a Copa do Mundo.

Se houve ou não houve superfaturamento e corrupção, isto deve ser objeto de análise, investigação e punição dos órgãos competentes, mas, destaque-se que está havendo um esforço para melhora de vias públicas, aeroportos e estádios e isto ficará para sempre.

Outro legado importante diz respeito ao turismo. Barcelona de cidade portuária "abandonada" passou a ser o quinto destino turístico do Mundo. A Alemanha aqueceu o seu turismo pós Copa. Atualmente vemos cada vez mais menções de passeios à África do Sul.

Enfim, o Brasil pode triplicar o número de visitantes em seus mais diversos centros turísticos como Rio, São Paulo, Serras Gaúchas, Foz do Iguaçu, Pantanal, Amazônia, Nordeste, Cidades históricas de Minas, dentre uma infinidade de outros.

Ademais, estes eventos podem auxiliar o crescimento do PIB com a geração de milhares de empregos diretos e indiretos, bem como aumentar a arrecadação fiscal, afinal de contas, em cada partida movimenta-se milhões de reais.

O Brasil ainda pôde contar com um legado inesperado que foi o renascimento de movimentos populares que, com todos seus erros e atos exacerbados (e até criminosos) serviu para mostrar aos governantes que aqui há uma nação cujo sangue pulsa nas veias.

De tudo isso, imprescindível destacar o legado do aprendizado que estamos tendo na organização dos grandes eventos e no respeito aos seus torcedores.

A Fifa traz uma série de recomendações de segurança e conforto já utilizados na Europa e em outros grandes eventos como o s Jogos Olímpicos e que podem mudar definitivamente o paradigma do torcedor brasileiro. Tais recomendações são fruto de anos de estudo e experiência em grandes eventos.

Estive em alguns jogos da Copa das Confederações e, apesar de haver, ainda, muito o que ser feito, foi engrandecedor notar o respeito dos torcedores ao local de assento indicado nos bilhetes, adquirir produtos nos bares com cartão de crédito, circular nas imediações do estádio sentindo-se seguro, dentre outros.

A Copa das Confederações aproxima-se de seu fim, mas o que ganhamos com a sua realização ficará para sempre na prática e no coração de todo brasileiro.

Que venha a Copa do Mundo de 2014.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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De volta ao basicão

Seja no âmbito pessoal ou profissional, observo as pessoas quebrando a cabeça em busca de soluções "inovadoras" para resolver seus problemas. Depois de muito tempo e esforço, em geral, chegam a soluções por vezes complexas e difíceis de serem implementadas. E pode ser pior, como nas vezes em que encontram a solução, mas, já se passou tanto tempo que um pequeno problema se transformou em um desastre, com sérias consequências para as pessoas ou organizações.

Ao ser consultado sobre algum problema, recomendo soluções simples, rápidas e práticas. Isso não quer dizer soluções simplistas. Percebo que durante a explanação da solução pessoas fazem anotações e no final olham como se estivessem diante de um gênio. Tenho certeza que minha vó ficaria feliz se isso fosse verdade, mas sou apenas um sujeito atento, experiente e uso a técnica de relembrar o passado, vendo se problemas semelhantes já existiram, como foram solucionados e como posso dentro de novas "combinações" propor soluções simples e de fácil realização. Enfim, faço o "basicão".

O que seria fazer o "basicão"? É buscar e aplicar soluções simples, diretas e sem rodeios. Eu pratico e estimulo minha equipe a olhar o basicão sempre, pois além de economizar tempo desmistifica a ideia de que soluções complicadas são as mais valorizadas! O termo tomei emprestado do amigo Marcos Nascimento, executivo da ManStrategy Consulting Ltda, após assistir sua palestra para um grupo de executivos sobre execução de estratégias bem sucedidas tendo como premissa "voltar a fazer o basicão".

Exemplos de situações e soluções no estilo "basicão" existem na vida pessoal e profissional, em todas as áreas e segmentos. Vejamos alguns deles:

A maioria dos adultos já teve uma DR – discutir a relação. Já imaginou ter uma DR em plena rede social? Hoje não acontece apenas com os jovens, tem muitos quarentões que, de um pequeno problema em casa, reclamam do cônjuge em pleno Facebook. Eles contam suas histórias e pedem ajuda para toda a rede de amigos.

Além de todos ficarem sabendo da intimidade do casal, os palpites vêm de todos os lados e as consequências são em alguns casos desastrosas. Como isso era resolvido fazendo o basicão?

A pessoa até pedia conselho para amigos, os mais próximos, não para os 2.807 do seu Facebook. Refletia, conversava em casa e tudo se resolvia aos poucos de maneira íntima e menos traumática.

No esporte, pequenos problemas se transformam em problemões, mesmo aqueles que seriam resolvidos aplicando a técnica do "basicão". Hoje, na maioria dos clubes de futebol, existe pouca conversa direta e reta entre o presidente e treinador, entre o treinador e atletas e entre os próprios atletas. Quando precisam falar algo, mandam recados pela imprensa ou pelos seus Twitters, entre outros. Muitos treinadores descobrem que estão desempregados pelo rádio ou nas mídias sociais. Como isso era resolvido fazendo o "basicão"?

Com uma boa conversa, olho no olho, em um local neutro e descontraído, por vezes em uma boa churrascaria, restaurante ou bar, seria mais fácil e prático discutir os conflitos e evitar as desinteligências.

Outro bom exemplo é a discussão em todo país a respeito do "apagão profissional". A falta de mão de obra e a dificuldade de reter talentos nas empresas geram reclamações do tipo:

1) Temos muitas vagas que demoram a fechar por falta de candidatos
Eu pergunto: suas vagas são bem descritas e estão bem "embaladas". Nelas, fala-se sobre oportunidades de crescimento e diferenciais da empresa. Você tem um vídeo institucional mostrando como é a cultura da empresa? A resposta é NÃO.

2) Na minha região é complicado contratar
Eu pergunto: sua empresa tem estratégias de atração nas proximidades da empresa? Tem um profissional recrutando ou pensando em estratégias de captação regional? Faz atração em agências governamentais, igrejas, templos, universidades, escolas, sindicatos regionais, feiras e eventos? A resposta é NÃO.

3) Faltam profissionais experientes e prontos
Eu pergunto: sua empresa tem um programa para contratar e formar profissionais menos experientes? Estão treinando e preparando jovens potenciais para assumir mais responsabilidades no futuro?
A resposta é NÃO.

4) O turn over está alto e custando caro. Não consigo reter meus funcionários
Eu pergunto: as vagas são oferecidas aos funcionários antes do selecionador buscar profissionais no mercado? Seus funcionários são estimulados a desenvolver-se, pois podem ser aproveitados internamente e serem promovidos ? Os líderes estão "motivados" com a causa de atração e seleção? A resposta é NÃO.

De fato, existem alguns setores com mais dificuldades em contratar funcionários, mas, após ouvir os NÃOs, os lembro de como tais problemas eram resolvidos no passado e que contratar bem e formar para o futuro sempre foram fatores cruciais de sucesso para os negócios. Por esta razão, no princípio os próprios donos de empresas eram responsáveis por contratar. Falo de estatísticas que mostram que as empresas de maior longevidade são as que contratam melhor, ou seja, novamente a solução está em olhar o passado, pensar em novas combinações e fazer o "basicão".

Arrisco uma explicação para a dificuldade em fazer o "basicão", atualmente. Em primeiro lugar, somos ensinados nas instituições educacionais a decorar coisas e seguir modelos prontos, ao invés de pensar no sentido e no porquê das coisas. Em segundo lugar, hoje se emprega pouco tempo na atividade de pensar sobre como as coisas funcionam.

As diversas distrações e facilidades tecnológicas acostumaram as pessoas a chegarem às respostas. Isso as tem levado a não usarem seu tempo para estudar e entenderem o princípio das coisas, enfim, como são feitas as coisas e quais os conceitos que dão sustentação à sua existência. Posso dar vários exemplos, o meu preferido é o da luz elétrica, então vejamos: A pessoa aperta um botão e a luz acende, e ao perguntar se a pessoa sabe porque a luz acende, a resposta é simples, porque apertei o botão.

Pois bem, de maneira simplista, posso dizer que para a luz acender é necessária uma estrutura sincronizada e organizada, que começa com a armazenagem de água, turbinas poderosas em hidroelétricas, torres de transmissão, postes de distribuição, transformadores de energia, fiação interna no estabelecimento e, por fim, o botão.

Este é um caso típico do que vemos hoje em muitas situações, a perda do contato com o básico, a origem. Graças aos avanços tecnológicos, é verdade que um toque
no botão acende a luz. No entanto, saber como as coisas acontecem e seus princípios básicos nos faz entender as diferentes variáveis que podem, quando necessário, nos levar a pensar em soluções criativas para contornar restrições, assim como imaginar novas combinações que tragam soluções inovadoras.

Reflitam sobre os problemas em seu dia a dia e pensem se fazer novas combinações do que já viram, vivenciaram ou observaram no passado é o melhor caminho para vocês solucionarem problemas e evitarem perda de tempo. Na dúvida optem por fazer o simples, o "basicão".

*Cezar Antonio Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É presidente da Elancers e sócio-diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br