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A complicada linguagem que atrasa o futebol

O jogo de futebol é um confronto entre sistemas caóticos determinísticos com organização fractal. Esta frase, que bem caracteriza a modalidade, é inadequada para ser utilizada em muitos ambientes em que se discute o futebol!

Apesar de ser uma expressão equivocada para determinadas ocasiões, muitos fazem questão de pronunciá-la (ou então outras frases com semelhante grau de dificuldade) para evidenciarem seus conhecimentos acerca do jogo e também para se sentirem superiores.

No cenário atual, milhares de profissionais que atuam neste esporte não têm acesso ao conhecimento científico. Se nem os princípios básicos do treinamento, mais especificamente, do futebol estão sistematizados para estes profissionais, o que dirá da compreensão das tendências, como as leituras da teoria da complexidade, que são pouco discutidas inclusive em ambientes acadêmicos representativos?

Sabemos que os motivos que fazem com que dirigentes (ex-jogadores ou não) e ex-jogadores (que ingressam no corpo técnico) não adquiram conhecimento científico atualizado são diversos, mas não é tema da coluna discuti-los. O fato é que, mesmo sem o referido conhecimento, estes profissionais possuem algumas competências que os credenciam para trabalhar com futebol.

Compreendido este cenário, as pessoas que detêm o conhecimento atualizado sobre o futebol têm a missão de conseguirem transmitir as informações aprendidas de maneira simplificada, mas não menos complexa e, citando o colunista especial Cézar Tegon, se fazerem entender.

Hoje, não faltam oportunidades para a aproximação das pessoas. Seja num relacionamento real ou num virtual, inúmeras são as situações que podem aproximar os diferentes perfis de profissionais do futebol.

Se um dia, leitor (que, se está lendo este portal, tem grande possibilidade de estar interessado em adquirir conhecimento científico atualizado), você tiver oportunidade de discutir a modalidade e todos os seus desdobramentos (treinamento, jogo, análise de jogo, jogadores, planejamento, categorias de base, negociações, contratações, etc.) com algum profissional sem a competência do conhecimento científico recente, não tente querer mostrar que sabe mais do que ele sobre o tema através de uma linguagem rebuscada e, de certa forma, difícil.

Esforce-se para acessá-lo e fazer com que fique instigado em entender mais sobre o jogo (e seus desdobramentos), nem que para isso seja necessário facilitar a comunicação.

E não confunda a facilitação da comunicação com a “boleiragem”. Tentar ser ouvido com uma linguagem simples e eficiente que represente bem a importância do assunto é bem diferente de exercer um comportamento marrento, com os trejeitos característicos de muitos que trabalham com este esporte.

Numa conversa, é perfeitamente possível falar de complexidade, sistemas, modelo de jogo, fractais, lógica do jogo, princípios, referências e momentos do jogo sem utilizar estas palavras e expressões.

Já pensou o quanto o nosso futebol pode ganhar se, pouco a pouco, os ex-jogadores (que treinaram de maneira fragmentada ao longo de toda a carreira) forem convencidos de que ao invés de treinar o físico, depois o técnico e por último o tático, é possível treinar todas as vertentes ao mesmo tempo?

O quanto conseguiremos equipes mais organizadas se todos compreenderem que para tentar manter a ordem no grande ambiente de desordem que é o jogo de futebol, orientações coletivas precisam ser estabelecidas e previamente treinadas?

Quantos atletas mais criativos e autônomos teremos, uma vez que no ambiente de treino predominará situações imprevisíveis semelhantes ao jogo?

Se os dirigentes ampliarem sua visão sobre o treinamento em futebol, será que permitirão treinos ultrapassados realizados pela sua comissão técnica?

Enfim, a aproximação entre os profissionais que dominam a teoria e os que têm maior espaço no mercado de trabalho do futebol de alto rendimento pode ser uma das maneiras de acelerar o processo de mudança do futebol brasileiro. Para isso é certo que os dirigentes e ex-jogadores devem perder o medo do novo e estarem abertos às novas aprendizagens.

Para que o novo não gere espanto, é fundamental que a teoria seja facilitada. Deixem as expressões difíceis para os ambientes em que forem convenientes (e eles são muitos).

Se as ações estiverem direcionadas para a lamentação da falta de espaço para pessoas que dominam o conhecimento teórico, mas têm pouca experiência prática, dificilmente observaremos mudanças. Portanto, não se queixe diante do cenário e aproveite sua oportunidade!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

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O crescimento do Direito Desportivo

Nos últimos quinze dias pulularam pelo Brasil uma série de eventos sobre direito desportivo.

O primeiro se deu no dia 10 de maio, quando se realizou em Ipatinga o I Congresso de Direito Desportivo de Ipatinga.

O evento foi promovido pelos estudantes de direito do 7º período da Faculdade de Direito de Ipatinga, Cíntia Garcia Silva e Herbert Cota Corrêa Neto, em parceria com Faculdade de Direito de Ipatinga-FADIPA, o Diretório Acadêmico da mesma-CHAPA MAIS, LDI – Liga de Desportos de Ipatinga IMDD – Instituto Mineiro de Direito Desportivo, IBDD – Instituto Brasileiro de Direito Desportivo e OAB Seccional de Ipatinga-MG.

Ademais, o evento contou com o apoio de IFC – Ipatinga Futebol Clube, Repros, Patty Publicidade, Academia Olímpius, Márcio Contabilidade, DGM Áudio Visual.

Além da minha participação falando sobre a Lei Geral da Copa, o evento contou como Felipe Tobar (Estatuto do Torcedor), Lucas Ottoni, advogado do Clube Atlético Mineiro (Novos Rumos do Direito Desportivo) e culminou com a palestra do técnico da seleção brasileira sub-20 e coordenador das categorias de base da CBF, o treinador Ney Franco.

Com a presença de cerca de quatrocentas pessoas, o evento foi um sucesso e teve como destaque o primor na organização.

Na mesma semana, nos dias 9 e 10, foi realizado em Goiânia o II Encontro de Direito Desportivo. O evento, organizado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-18) e pelo Grupo de Estudo do Direito Desportivo Trabalhista (GEDDT), contou com o apoio da OAB-GO, por meio da Comissão de Direito Desportivo.

O tema central do encontro foi o Direito Desportivo Trabalhista e teve como palestrantes, entre outros, ministros e desembargadores da Justiça do Trabalho, o consultor jurídico do Ministério dos Esportes, Wladimyr Vinycius de Moraes Camargos, e o advogado Gustavo Normaton Delbin, sócio da AidarSBZ Advogados.

Na semana seguinte, precisamente no dia 18 de maio, com o apoio da OAB/Jundiaí e com organização dos advogados Édio Hentz Leitão e Eduardo Berol, foi realizado o I Encontro de Direito Desportivo da OAB/Jundiaí.

Também apoiaram o evento, o IBDD (Instituto Brasileiro de Direito Desportivo), o IIDD (Instituto Iberoamericano de Derecho Desportivo), a Panificadora Keli e a Frutiquello Sorvetes.

O encontro contou com quatro painéis. O primeiro, apresentado pelo advogado Eduardo Berol, tratou do assédio moral na relação trabalhista desportiva; na sequência, Gustavo Normaton Delbin tratou da Lei de Incentivo ao Esporte; eu falei sobre a Lei Geral da Copa e seus reflexos no Estatuto do Torcedor e, ao final, José Edgard Galvão Machado, gerente jurídico do São Paulo Futebol Clube, debateu a Gestão Jurídica e a prática da advocacia nos grandes clubes de futebol.

Além dos palestrantes, a OAB/Jundiaí recebeu como presidentes de mesa e debatedores, entre outros, o advogado do Clube Atlético Mineiro, Lucas Ottoni, o advogado e articulista do IBDD, Edio Hentz Leitão, e o assessor jurídico do Joinville Esporte Clube , Roberto Pugliese Júnior.

Ao final, os presentes manifestaram satisfação com os temas e debates ressaltando a necessidade de maior difusão do Direito Desportivo.

Promovido pela Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo 2014, em parceria com a OAB/Canoas, aconteceu nesta quinta-feira, 24 de maio, o “Painel: Lei Geral da Copa – Questões sobre a Liberação de Bebidas Alcoólicas nos Estádios”, com a participação do advogado especialista em Direito Desportivo, Daniel Cravo, do Comandante do 15º Batalhão da Polícia Militar de Canoas, Mário Iukio Ikeda e de representantes das Faculdades de Direito de Canoas e da UniRitter.

O mês de maio “jurídico-desportivo” terminará nos dias 30 e 31 de maio com ciclo de palestras realizado na UNI-BH, em Belo Horizonte. Além de mim e de Lucas Ottoni, que trataremos respectivamente da Lei Geral da Copa e dos Novos Rumos do Direito Desportivo, haverá palestras do Auditor do STJD, Paulo Bracks, sobre Justiça Desportiva e do advogado e agente de atletas Luciano Brustolini falará sobre “Direito Internacional Desportivo: Soberania do Estado e Hierarquia”.

Tais eventos demonstram o crescimento do interesse pelo Direito Desportivo, bem como a sua relevância no seio da comunidade jurídico-desportiva, especialmente no momento que o país se prepara para organizar os maiores eventos esportivos do planeta.

Espera-se que em breve contemos com maior número de cursos acadêmicos na área, especialmente mestrados e doutorados, bem como que o Direito Desportivo se torne uma cadeira na graduação do Direito e de áreas afins como Administração, Economia e Educação Física.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Cidade-sede: Fortaleza

De patinho feio a um dos estádios mais organizados e bem elaborados da Copa 2014. O Castelão, desde sua divulgação inicial, desenvolveu-se muito em qualidade, mostrando grande evolução arquitetônica.

Com torres de energia eólica, potencial do litoral nordestino, o projeto tem intuito de minimizar os gastos energéticos com o “Green Goal”, conforme pede o manual de recomendações da Fifa. Além disso, tem propostas básicas de reuso de água da chuva e escolha de materiais de baixo impacto ambiental e reaproveitamento, conforme diz o arquiteto Hector Vigliecca, grande profissional uruguaio com atuação há muitos anos no país.

O projeto original, que antes tinha uma cobertura mais bruta, provocava sombra irregular no gramado. Hoje a cobertura é mais leve e, embora na imagem mostre bastante sombra (talvez por uma simulação de fim de tarde), acredito que tenha uma interferência menor no gramado, maior transparência e uma estrutura mais esbelta. O material usado pretende refletir os raios solares amenizando a temperatura interna.

Felizmente, por ser mais próxima ao Equador comparada a outras cidades-sedes, a necessidade de diferentes graus de transparência na cobertura é menor e o gramado pode ter condições de manter-se em boa qualidade para jogo, desde que com os cuidados básicos.

Os ventos em Fortaleza provocariam diferentes situações/forças na cobertura, portanto o projeto garante segurança com ventos de até 110km/h.

O projeto é uma reforma, demolindo somente parte da arquibancada superior para colocação dos camarotes Vips e a arquibancada inferior, para o rebaixamento do campo em 4m, o que pode aproximar o público da partida. No entanto, passa a exigir alguns equipamentos de segurança e profissionais para garantir que ninguém invada o campo.

Há uma necessidade de se preocupar com a interferência das placas de publicidade à beira do campo, que, se não for colocado já no estudo de visibilidade com a altura real dos padrões da Fifa, interfere nos limites do campo, perdendo fileiras de arquibancada como aconteceu na Copa de 2010, na África do Sul.

Da mesma forma deve ser estudado o banco de reservas, que raramente está nos projetos de visibilidade, mas que neste já consta. Felizmente a Fifa prevê materiais adequados para minimizar alguns problemas. Geralmente eles devem ser rebaixados, que é a forma como aparece nas imagens deste projeto.

A plataforma de acesso criada para o estádio separa os torcedores comuns, acima dela, dos Vips, abaixo da mesma. Também sob a esplanada, estará a Secretaria de Esportes do Ceará, acesso da imprensa e estacionamento.

A reforma é característica interessante para adequação de um estádio em más condições ou desatualizados. Mantém-se o necessário, principalmente a estrutura das arquibancadas, e cria-se uma fachada e cobertura com estrutura independente. No caso do Castelão, a estrutura de aço carbono tubular da fachada é formada por 60 pilares treliçados, como podemos ver abaixo.

A combinação da estrutura metálica, que se encaixa às arquibancadas de concreto antigas, complementa sua função a partir do momento em que amortece as oscilações estruturais, ajudando, assim, a minimizar as vibrações causadas pelas torcidas. Essa suavização acontece pela ligação com a arquibancada e com o solo.

A fachada mostra revestimentos diferentes para orientações diferentes do estádio. Isso garante maior aproveitamento de ventilação e iluminação natural para que haja economia energética conforme a orientação solar e fachadas mais ou menos ensolaradas.

O acesso às arquibancadas é feito de forma radial, portanto, o público se espalha melhor em momentos de aglomeração, como na saída de partidas, por exemplo. Outra questão importante neste projeto é que desde a plataforma externa de acesso, o torcedor pode alcançar através das rampas intercaladas, uma subindo e outra descendo, o anel superior ou inferior, conforme o ingresso indica, facilitando a acessibilidade ao lugar numerado.

Para atingir o anel superior, no entanto, há uma escadaria até as aberturas das arquibancadas. A acessibilidade a portadores de deficiência, portanto, fica limitada ao anel inferior, o que é, de certa forma, comum. Tais características podem ser observadas pelas imagens abaixo.

Com a praticidade do projeto e tecnologias atuais, a obra se mantém como a mais avançada para a Copa e sediará uma das semifinais da Copa das Confederações 2013, evento teste e classificatório para a Copa do Mundo 2014.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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Interatividade

Não é novidade a interatividade dos meios digitais de comunicação atualmente. A internet junto com as redes sociais permitem uma liberdade enorme para criar e se relacionar com o público-alvo.

A Nike lançou a campanha “My Time is Now” com grandes craques da marca em um projeto que trabalha o canal de vídeos Youtube em sinergia com o Facebook, permitindo um nível de interação ímpar com os jogadores e a marca.
 


 

No ano passado, o Bayern de Munique fez uma campanha pelas redes sociais para escolher o cruzamento de um daqueles torneios de verão de pré-temporada europeia, envolvendo inclusive o Internacional-RS. O público poderia escolher o primeiro chaveamento da competição, que classificaria para a final na Allianz Arena os times vencedores.

Enfim, exemplos e modelos não faltam. É bem verdade que algumas reportagem têm dado conta que as empresas estão, na verdade, ainda “pisando em ovos” quando o assunto tem relação com ações de marketing nas redes sociais. Como tudo é muito novo e a repercussão pode ser “n” vezes multiplicada, os cuidados em fazer campanhas a este nível devem ser relevados.

E este parece ser um ótimo canal de comunicação com os milhões de torcedores que alguns clubes possuem. O Corinthians fez muito bem isso na campanha do centenário e da República Popular do Corinthians que, aliás, foi premiado em alguns festivais de publicidade.

Abrir os horizontes, inclusive em parceria com as marcas que patrocinam o clube, deve trazer resultados positivos para a entidade.

Com base em tudo que foi falado e nas inúmeras publicações que saem diuturnamente sobre o assunto, finalizo com algumas perguntas no ar: estaríamos em um momento de ter no departamento de marketing dos clubes uma equipe especializada em mídia digital e comunicação pela internet? Demorou? Estamos preparados para absorver esta inovação?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Inovação tecnológica nos esportes: XXVI Prêmio Jovem Cientista

Olá, amigos!

Há algum tempo escrevi sobre a necessidade de os clubes estruturarem um departamento que respondesse por busca de fomentos e desenvolvimento de inovações tecnológicas a fim de contribuir com as inúmeras necessidades que existem neles, desde aspectos administrativos até a aspectos práticos e do jogo propriamente dito.

Assim, aproveito a sugestão dada pelo colega Bruno Camarão sobre o XXVI Prêmio Jovem Cientista, que conta com a organização e apoio do CNPq, Fundação Roberto Marinho, Gerdau e GE e tem como tema neste ano justamente o assunto em questão: “Inovação Tecnológica nos Esportes”.

Pois bem, um incentivo que busca identificar inovações no setor e ajuda a dar vazão nas pesquisas acadêmicas que muitas vezes ficam restritas a esse meio e circulam em revistas e congressos científicos, mas que acabam se perdendo na transição ao mercado justamente por falta incentivo e recursos, mas muito também pela falta de visão que se atribui ao que a tecnologia pode contribuir com o futebol.

Um exemplo sobre essa resistência fica bem evidente no filme Moneyball – O homem que mudou o jogo, que estava no cinema até bem pouco tempo atrás. Através de estudos e algoritmos, buscava-se identificar perfis de atletas que se encaixassem nas carências da equipe, isto é, tanto financeiramente como analisando a eficiência do atleta.


 

Acredito que a grande maioria dos projetos que devam ser enviados ao Prêmio Jovem Cientista sejam quase que totalmente vinculados a instituições de ensino e pesquisa. Seria interessante que algum clube tivesse esse olhar e fizesse essa aproximação. Não pretendo entrar no mérito da antiga e batida discussão do distanciamento acadêmico e prático, mesmo porque não acredito que possamos ver isso acontecendo ainda, seja a única razão pela dificuldade dos usos da tecnologia pelo futebol.

Imagine, amigo leitor, que um departamento de um clube ajudando a incentivar e desenvolver projetos nessa linha poderia atuar nas duas frentes quando citamos um prêmio desta natureza.

Uma ideia que seria desenvolver prêmios similares incentivando a aproximação e desenvolvimento de inovações, trazendo as suas necessidades ao desafio de tantos pesquisadores que poderiam contribuir.

Por outro lado, poderia dentro do seu departamento desenvolver projetos para captar recursos com o objetivo de desenvolver sua própria tecnologia. Lembrando que nesse ponto é importante ressaltar que se deve superar a captação de recurso simplesmente pelo recurso, ainda que possamos estar um pouco desiludido com tanta corrupção no nosso país.

Ainda, é importante também que o clube não aja independentemente, em segredo e isolado das demais equipes. Pois, agindo em conjunto, estaria contribuindo com o futebol como um todo, e ainda que ache que estaria beneficiando seus rivais, a medida que consegue o pioneirismo e compartilha, ocorre a redução de custos para todos e sobra recursos para desenvolver e investir em profissionais capacitados que operem tais tecnologias, afinal, são esses que farão toda diferença, sem contar os possíveis royalties.

Prêmios, incentivos e fomentos à tecnologia têm surgido. O que nos deixa de certa forma preocupados é que por trás destas inciativas não encontramos os clubes envolvidos.

Será que acham que não vale o esforço? Será que pararam para pensar que através de um projeto bem estruturado ele poderá reduzir custos e aumentar eficiência em seus distintos segmentos com a utilização de tecnologia especialmente desenvolvida para ele?

Fica a dúvida.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br
 

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O Corvo

Conhece alguém que sente azarado, ou que é tido pelos outros como tal?

Aquela pessoa para quem tudo acontece de errado?

Ou nunca, nada, acontece?

Ainda, naquilo que se envolve também costuma não “vingar”?

Como existem muito mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia pode imaginar, assim como “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, sim, tem gente que anda com o corvo sobre os ombros.

O corvo é tido como símbolo de clarividência, em especial do mau agouro, dos maus presságios – embora estudos recentes apontem que o animal dispõe de traços de instintos apurados de sobrevivência e adaptação.

Apelar para o inexplicável, ou para a sucessão de coisas inexplicáveis na vida pessoal e profissional, como justificativa para que as expectativas se confirmem em verdadeiras frustrações é o que muita gente adota.

“Só acontece comigo”, “nada vai dar certo”, “não tenho sorte”…

Muito daquilo que o folclore do futebol vinculava ao Botafogo, ao cravar que as coisas pesadas, negativas, sofridas, só aconteciam com o clube.

São frases que traduzem pensamento e, principalmente, atitude de derrotado na véspera dos acontecimentos.

Bastou o Botafogo, já há alguns anos, implantar gestão profissional, ter o estádio João Havelange como casa, passar por grande revolução no marketing e comunicação, disputar títulos regionais e nacionais, que os comentários que invocavam o sobrenatural para os infortúnios do clube cessassem.

Muito daquilo que fazemos de nossa vida pessoal e da atividade profissional depende de nossas escolhas, de nosso preparo, de nossa atitude.

Obviamente, o talento também tem sua parte inata, que vem de berço.

“Nasceu pra isso” é a frase que se houve nesse caso.

Nascer pra isso e esperar que todo o restante, também, venha, aleatoriamente, é arriscado demais.

A dedicação, o preparo, o treinamento, a qualificação e o aperfeiçoamento técnico-funcional são imperiosos para que o resultado venha para uma pessoa, ou para um grupo de pessoas, reunidos em torno de uma instituição.

Picasso, uma vez perguntado como ele fazia para produzir suas obras maravilhosas, respondeu: “São 24 horas trabalhando”.

E, na máxima do futebol, que afirma que “o craque tem sorte; o perna-de-pau tem azar”, percebemos que o corvo não costuma pairar sobre os ombros errados, mesmo.

Aliás, conheço um cara que sim, esse sim, não só carrega o corvo consigo, mas também faz a ave negra e reluzente passear pelo ombro de quem estiver por perto de qualquer coisa em que esteja envolvido.

“Craque” no que faz, ele não é.

Isso deve ser o começo de alguma explicação. Deste mundo, não do além.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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A análise de desempenho no futebol – parte II: informações de jogo

Na parte I da trilogia da análise de desempenho, vimos algumas das funções do analista e a interação entre vários tipos de dados.

Na segunda parte da série, gostaria de discutir com vocês a respeito das informações de jogo.

No jogo, por ele ser imprevisível, caótico, complexo, etc., muitos dados podem ser coletados e se transformar em informações para os jogadores, técnicos, preparadores físicos, árbitros, público e assim por diante.

É possível, por exemplo, coletarmos os dados de scout e apresentar para a comissão técnica um relatório com informações técnicas da equipe, como passe.

Vamos utilizar o exemplo do passe e ver como o mesmo pode nos trazer algumas informações do jogo.

Em um relatório X, vejo que a equipe A teve um aproveitamento de passe de 85%.

O que isso me mostra?

Quase nada!

Apenas com essas informações tenho poucos recursos para avaliar o jogo e fazer algum tipo de intervenção na prática, justamente por mostrar apenas uma parte descontextualizada do jogo (!).

Vamos tentar transformar esse dado em uma informação um pouco mais valiosa, se é que podemos dizer isso.

Então, tenho um dado que mostra que a equipe A tem 85% de aproveitamento de passes, contudo vejo que 70% dos mesmos são para trás ou para o lado e mais da metade deles (dos 70%) ocorrem no campo de defesa.

O que esse dado começa a me mostrar?

Que a equipe A tem um bom aproveitamento de passes, mas os mesmos ocorrem para trás e para o lado e no setor defensivo.

Continuo tentando dar sentido aos dados…

Olhando para o jogo vejo que o adversário, equipe B, tem como princípio de defesa impedir progressão atrás da linha 3 (meio-campo) e na transição defensiva os jogadores mais próximos à bola retardam a jogada, enquanto os demais voltar para trás da linha do meio-campo.

A equipe A, por sua vez, na transição ofensiva buscar tirar a bola da zona de pressão e logo inicia um jogo de manutenção da posse em seu campo defensivo e só progride em momentos em que cria superioridade numérica nos setores laterais do campo.

Olhando ainda para os dados vejo que nas regiões laterais do campo próximas à intermediária ofensiva há dois dados distintos em relação ao aproveitamento de passes. Enquanto no lado direito o aproveitamento passa dos 65% em passes para frente, do lado esquerdo esse valor não chega aos 30%.

Indo mais a fundo, vejo que do lado direto há um adversário na linha do meio que não está integrado ao processo e não estrutura bem o espaço em sua região. Por esse fato, a linha defensiva se posiciona a fim de compensar essa falha do jogador.

Por sua vez, essa compensação leva a uma perda do equilíbrio horizontal e os dados mostram que os lançamentos do lado direito para o lado esquerdo da defesa no campo ofensivo tiveram um aproveitamento de 50%.

Quando a equipe virava o jogo corretamente (da direita para a esquerda) e o jogador que recebia a bola buscava a progressão (45% das vezes), a equipe conseguiu criar três jogadas que acabaram em finalizações; em uma delas inclusive o gol aconteceu…

Vejam: de um dado de aproveitamento de passes conseguimos chegar ao gol!

O grande segredo é transformar os dados em informações valiosas.

O analista de desempenho precisa mostrar o jogo e dar informações reais, pontuais e que ajudarão a equipe a ganhar jogos ou a formar atletas melhores!

Dar apenas um pedaço do todo não é o suficiente!

Por isso volto a afirmar que isso é só o começo…

Espero que continuemos com bons mestres para que a cada dia aprendermos mais sobre a essência do jogo e para além disso!

A informação se encaixa?

Até a próxima!

Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
A análise de desempenho no futebol – parte I: dados gerais

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Onde estão os nossos craques?

Uma afirmação recorrente tem sido observada por todos profissionais que de alguma forma estão relacionados com o futebol: nossos craques estão em extinção!

Não se observa mais jogadores com a qualidade técnica para lançamentos de longa distância como faziam alguns jogadores nas décadas de 70 e 80. O futebol mágico apresentado pelo Brasil em 1982 não tem a menor condição de ser repetido, pois os jogadores de hoje possuem um nível inferior aos daquele tempo. Salvo Neymar e Ganso, é claro.

Atributos de um craque como visão de jogo, passes precisos e a capacidade de driblar e/ou fazer gols espetaculares são competências dos atletas do passado. Hoje existem, no máximo, bons jogadores.

Treinadores das categorias de base e empresários procuram incessantemente as “moscas brancas” em cada canto possível que se joga futebol no país. Estes espaços, que são os campos de várzea, as ruas e as quadras são cada vez mais escassos, o que colabora com o sumiço de craques.

A evolução da preparação física é outro fator que contribui para o desaparecimento das pedras preciosas. Com o jogo mais disputado, jogadores mais fortes e com excessivos contatos físicos, não sobra espaço para o craque demonstrar seu valioso futebol.

A mídia, que precisa criar ou inventar craques, também tem sofrido com este problema. Supervalorizam jogadores medianos que obtêm destaque pontual, que após um curto período de tempo decepcionam a todos. Por não serem craques, não conseguem manter a performance digna de um jogador acima da média.

E não é só a preparação física a responsável pela falta de craques. Antigamente era dedicado muito mais tempo à repetição de fundamentos do futebol. Os atletas de hoje estão chegando à categoria profissional com uma série de deficiências oriundas do pouco treinamento técnico. Além disso, a robotização originada pelos treinamentos táticos, que limitam a criatividade do atleta brasileiro, é outro fator que impede o surgimento de verdadeiros craques.

Alguns sugerem até que Deus deixou de ser brasileiro e tem resolvido privilegiar com o dom somente o argentino Messi e a turma de Xavi, Iniesta e Cia.

Declarada por jornalistas, ex-jogadores (craques ou não), comentaristas, dirigentes e por treinadores, cada expressão mencionada torna-se verdade absoluta, portanto, inquestionável.

Como a opinião geralmente vem carregada de crenças, qualquer mudança de interpretação da realidade dificilmente será observada. Mas não custa tentar!

Se todos afirmam que faltam craques, assumem que o nível do nosso futebol está baixo. E diante do baixo nível do nosso futebol, facilmente observado na bagunça defensiva das equipes ao tentarem parar o Neymar individualmente (e por isso o Mano quer que ele vá logo para a Europa), repito a pergunta do título da coluna: “Onde estão os nossos craques?”.

Nossos craques, hoje, estão nas disseminadas escolinhas de futebol, sonhando em serem “Messi”, “Cristiano Ronaldo”, “Xavi”, “Neymar”, “Ganso”; estão nos campos de várzea que, mesmo em escala decrescente, ainda existem em quantia assustadora neste imenso país; estão nas categorias de base dos clubes brasileiros que, em muitos casos, não conseguem lapidar as joias que tem.

Temos material humano para ter mais craques que qualquer nação do mundo. O que ainda não temos consciência é de que o craque não está pronto nas escolinhas de futebol, nos campos de várzea ou nas categorias de base. Craque não se nasce, se cria! O craque de ontem jogou o futebol do passado: mais lento, mais espaçado, com mais tempo pra agir e com menor nível de organização coletiva das equipes. O mesmo jogo com outra dinâmica!

Infelizmente, na cadeia produtiva da formação de craques, que deveria se iniciar no processo de transição esportiva da iniciação para a especialização, as lacunas são imensas. É certo que alguns movimentos isolados surgem na tentativa de reverter o atual cenário do futebol brasileiro. É certo, também, que se estes movimentos falharem em pontos capitais da cadeia produtiva poderão desperdiçar milhões de reais.

Cerca de 10 anos é tempo suficiente para a produção de craques. Como estaremos em 2022?

Dependeremos do surgimento aleatório e seguiremos a caminhada em passos largos para a extinção ou conseguiremos formar jogadores inteligentes, completos, adaptáveis à dinâmica do futebol atual e que poderão ser protagonistas da retomada do Brasil ao topo do mundo na modalidade?

Aguardo sua opinião, leitor.

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Alteração de horários pela Justiça do Trabalho viola Estatuto do Torcedor

Um debate recorrente é a alterabilidade dos horários das partidas de futebol pela Justiça do Trabalho, inclusive com decisões da Justiça do Trabalho dos Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul que chegaram a proibir a realização de partidas de futebol em determinados horários, em razão da elevada temperatura, sob o fundamento de que haveria lesão à dignidade e à integridade dos trabalhadores.

Ocorre que para atividades insalubres, incluindo-se exposição a altas temperaturas, a Constituição Brasileira em seu art. 7º, a CLT e a NR 15 preveem o pagamento do adicional de insalubridade. Não há qualquer previsão de alteração de horário de trabalho.

Fosse assim, os demais profissionais que laboram sob altas temperaturas, sob o sol, como carteiros e trabalhadores da construção civil deveriam ter seus horários alterados.

Não bastasse a inexistência de previsão legal para alteração de horário das partidas, tal decisão afronta visceralmente os direitos do torcedor, uma vez que o Estatuto do Torcedor, em seu art. 9º, determina que as tabelas serão divulgadas sessenta dias antes do início das competições e somente podem ser alteradas em casos extremos, cabendo aos interessados, apresentar reclamações e sugestões ao Ouvidor da competição no prazo de dez dias.

Assim, novamente o grande protagonista do evento esportivo foi relegado à coadjuvante e teve seu direito respeitado.

Portanto, caso se constate a condição insalubre, a medida legal cabível é a obrigação dos clubes (empregadores) pagarem aos jogadores (empregados) o adicional de insalubridade e não a restrição das partidas, sob pena de violar, além dos direitos do torcedor, o Princípio da Legalidade previsto no inciso II, do art. 5º, pois determina que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Cidade-sede: Natal

Eis a cidade-sede com um dos estádios mais atrasados da Copa. Um estádio incoerente e sem quase nada a acrescentar – a não ser se, de repente, trouxer investimentos privados para a proximidade do “complexo” dos quais eles se gabam, mas não é o que o povo tem visto dos políticos devida tanta falta de gestão de verba e de capacidade.

Sempre valorizo que se alguém decide por construir um estádio, ele deva ser um marco, algo inusitado, referencial para a arquitetura, para que seja capaz de se tornar um ícone digno de turismo, ou seja, verba entrando para a sua manutenção. Mas pode, a Arena das Dunas, atual, ser parecida com o estádio do Arizona Cardinals, nos Estados Unidos desta forma?

É o mesmo estádio visualmente falando, mas o modelo para o Brasil parece desandar ao sair do forno, como um bolo.

Ambos os projetos de arquitetura são do Populous, escritório internacional, com vasta experiência em equipamentos esportivos e, digamos, com vários de extrema qualidade, como o Incheon Stadium, o Soccer City, o Aviva Stadium, entre tantos outros.

No entanto, isso não os isenta da extrema semelhança. A única diferença que vejo é que o brasileiro foi um pouco mais mal feito e salientarei alguns dos motivos até o fim desta coluna.

Como podemos ver acima, o projeto é um complexo: estádio, anfiteatro, arena de eventos (fora do estádio), hotel, centro comercial, centro administrativo municipal e federal – como se fosse uma “Brasília Potiguar”. Ou seja, nada fica dentro do estádio, praticamente se resumindo aos jogos. É bom para o gramado, mas não é nada bom financeiramente.

E digo isso não só por questão de lógica, mas porque, observando o projeto, vemos gastos imensos que, claro, vão para os cofres públicos; ainda mais que nenhum time tem grande interesse em jogar em um estádio que não é seu.

Pelo leque de projetos do Populous, vemos que eles foram contratados somente para o estádio – ao menos espero que seja – , pois o entorno parece bastante discrepante do padrão do escritório, que geralmente é muito bem elaborado.

Natal tem cerca de 320 dias de sol por ano e tem, no verão, uma média de 31°C e, no inverno, 28°C, ou seja, sempre quente. É, portanto, incompreensível o uso de tantos vidros espelhados.

O vidro espelhado barra o sol, mas exige um uso intenso de ar-condicionado e iluminação artificial, indo completamente contra a sustentabilidade que a “Copa Verde” focava. Então por qual motivo pode ter sido escolhido nos prédios do complexo? Provavelmente por ter dado certo em alguma experiência fora do Brasil. Mas nem tudo pode ser importado na arquitetura: o que pode funcionar muito bem em Londres, jamais funciona bem em Natal, que é o caso.

Nem me aprofundarei na influência dos reflexos de tantos espelhos para o entorno e nos malefícios para os pássaros; isso só complementa a justificativa.

Uma solução possível seria o uso de brises (aletas devidamente orientadas para barrar a insolação, mas também para permitir entrada de luz) ou de elementos vazados, como cobogós ou até mesmo muxarabis, que permitiriam a ventilação natural e luz natural entrando, reduzindo a necessidade de gastos energéticos desnecessários.

São elementos bem conhecidos na arquitetura e seriam muito úteis para a região de Natal, tanto para o estádio, quanto para os edifícios ao redor.

Sobre o estádio, como podemos ver pelas fotos noturnas, há aberturas em toda a fachada, que permite os raios de luz à noite. O que antes fora apresentado com um elemento leve pelo material escolhido, tornou-se, pelo desenho, um elemento pesado e com desenho questionável.

Acima, apresentação original do projeto.

Atualmente, o projeto já apresenta uma solução mais elegante e mais bem trabalhada, como podemos ver abaixo – embora não seja um material muito bem feito e muito bem definido, já mostra uma evolução do projeto.

O interessante do estádio é, felizmente, a circulação, um dos pontos mais importantes na elaboração de um projeto que abriga grandes multidões. Cada bloco de arquibancadas tem escadas logo abaixo às frestas da cobertura, permitindo melhor evacuação e sinalização para momentos de pânico e emergência. Isso pode ser visto tanto nas aberturas na perspectiva interna, quando na externa, onde as escadas podem ser visualizadas saindo do limite do revestimento.

Segundo o escritório, as aberturas transparentes (em ETFE, excelente material com potencial autolimpeza) também servem para captar a brisa e fazê-la circular pelas arquibancadas. A forma ondulada de sua cobertura seria devido à referência às dunas de Natal, por isso o nome do estádio.

Como o andamento das obras neste local é um dos piores, felizmente ainda temos tempo para definir melhor as coisas. Só espero que sejam alertados os governantes e, aí sim, modificado algo no projeto. Além disso, planejado melhor o uso do estádio. Ou será, este sim, o mais promissor elefante branco do país.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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