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Parabéns, Aceesp!

Sinceramente não sei quando seria o aniversário da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo. Mas os parabéns contidos no título desta coluna remete a um feito inédito acontecido na última sexta-feira em São Paulo e que tem na associação o seu maior “culpado”.

Uma reunião entre alguns membros da imprensa e o técnico do Palmeiras, Luiz Felipe Scolari, colocou um ponto final na queda de braço entre treinador e jornalistas. O encontro foi promovido pela Aceesp, que intermediou em favor de uma reconciliação entre as partes.

Infelizmente não consegui comparecer ao evento em virtude de outros compromissos profissionais. Mas alguns relatos de amigos jornalistas e a própria nota oficial que a Aceesp divulgou ao fim do encontro dão conta de que houve a tradicional “conversa de vestiário” entre as partes.

E era exatamente isso que precisava acontecer. Antes de mais pressão da própria torcida palmeirense aos jornalistas, ou mesmo de uma agressão por meio da mídia a Felipão.

Concluiram, todos, que assim fica inviável trabalhar. Num convívio diário, é inadmissível que o conflito dite a tônica desse relacionamento.

Felipão extrapolou no mau humor e na indelicadeza em alguns casos. Da sua parte, a imprensa como de costume exagerou ao ser criticada, ampliando a discussão e tornando tudo ainda mais conflituoso. Os jornalistas fizeram o divertido protesto de ir com o nariz de palhaço ao jogo do Palmeiras, o que provavelmente motivou ainda mais a necessidade de que se fizesse uma reunião para decidir como parar com essa briga.

Não sou filiado à Aceesp. Sempre achei uma inutilidade a associação. Afinal, sua única função, desde que comecei a exercer a profissão, era conceder a carteira de acesso do jornalista aos estádios para trabalhar. Para isso, porém, não é preciso ser filiado à entidade. Ou seja, não havia o menor sentido pertencer à associação se ela não tivesse qualquer atuação em meu benefício e na melhoria do trabalho da imprensa esportiva.

Depois desse episódio, a coisa começa a mudar de figura. E o modelo poderia ser ampliado para outros estados. A função da Aceesp (e de qualquer entidade de classe com o seu ramo de atuação) é debater soluções e melhorias para que o trabalho da imprensa esportiva seja melhorado.

Parabéns à Aceesp. Ela finalmente começa a entender a sua função.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Posse de bola e relatório técnico da Uefa Champions League: é preciso ensinar o futebol que se quer jogar

Há algum tempo tonou-se público o relatório técnico da Uefa Champions League 09/10. Esse documento trata especialmente (e oficialmente) de aspectos associados às equipes participantes da competição na temporada referente, suas características de jogo, as de seus jogadores e de seus treinadores.

Ainda que não se aprofunde especificamente em detalhes técnicos mais ligados à organização e aos padrões de jogo dessas equipes, dá indícios sobre algumas coisas ligadas a eles (padrões e organização), e é sem dúvida uma “saborosa” leitura.

Aproveitando-me da matéria publicada recentemente na Universidade do Futebol, com o título “Relatório técnico da UCL indica campeão com menos posse de bola e mortal nos contra-ataques”, que traz, em síntese, alguns apontamentos presentes no relatório, resolvi explorar uma questão que está dentro dele (do relatório) e que é destacada pela matéria.

 

Relatório técnico da UCL indica campeão com menos posse de bola e mortal nos contra-ataques

 

Vejamos o trecho em que os apontamentos levam ao surgimento da questão e em seguida a questão propriamente dita:

“Outro ponto levantado pelos peritos é uma comparação entre o Barcelona, vencedor do torneio em 2008/09, e a Internazionale, última campeã. Os italianos conquistaram o troféu com uma média de 45 por cento de posse de bola, comparada com 62 por cento dos catalães na temporada anterior. Na grande decisão, realizada no estádio Santiago Bernabéu, em Madri, o Bayern de Munique, adversário da Inter, passou a bola 643 vezes, contra 289 passes do rival – o resultado do jogo foi 2 a 0 para os nerazzurri.

“O contraste marcante entre o vencedor de 2009 e o de 2010 levanta a questão: será que jogadores e equipas precisam ser educados na arte de se sentirem confortáveis sem terem a bola em sua posse?”

Na essência de suas intenções, a questão, mais do que despertar a necessidade de uma resposta direta, propõe na verdade uma reflexão a respeito de como o jogar é mais fruto de como enxergamos o jogo de futebol, do que como ele se apresenta realmente – e a distância entre o que vemos e o que ele realmente é pode nos prender no tempo.

Jogadores e equipes de futebol precisam, independentemente do nível ou da categoria, aprender a jogar futebol melhor. Para aprenderem, devem treinar. O treino, por sua vez, precisa propiciar a chance de aprendizado (de evolução).

E é esse aprendizado, que ainda mal entendido por quem normalmente gere e deve estimular a evolução do desempenho da equipe, que acaba esquecido nas tortuosas estradas do caminho.

Jogadores de futebol não devem se sentir mais ou menos confortáveis estando com ou sem a posse da bola. A questão aqui deve ser outra.

Jogadores de futebol devem estar preparados para responder circunstancialmente aos desafios do jogo, estando ou não com ela (com a bola).

A posse de bola, em estudos que vêm se repetindo desde a década de 1980, não é variável determinante para o êxito ou não das equipes. Isso já foi sistematicamente estudado e apontado.

É sim determinante o que se faz com ela, e como a equipe se organiza coletivamente para conseguir fazer.

Isso quer dizer que se a equipe do FC Barcelona quer ficar com a bola e chegar ao campo de ataque através de um jogo apoiado, precisa construir sistemas organizacionais (sistemas de ação, de ocupação do espaço, de apoios, etc.) que propiciem da maneira mais satisfatória possível o cumprimento daquilo que o seu jogar propõe.

Isso quer dizer também que se a Internazionale de Milão prefere (ou preferia) investir em um jogo de progressão rápida, com passes verticais de curta, média e longa distância, sem se importar por não ficar muito tempo com a bola; da mesma forma precisará se organizar da melhor maneira possível para isso.

Então, de novo: ficar ou não com a bola não é problema: o problema está em conseguir criar uma cultura de jogo em que ele (o jogo) seja visto através de novas possibilidades, novos conceitos, novas verdades (verdades?).

Na Uefa Champions League 2009/2010, a equipe de José Mourinho cumpriu melhor aquilo que se propunha a fazer do que a equipe do FC Barcelona (tão bem, que mesmo ficando pouco com a bola e errando muitos passes, em todos os seus jogos percorreu uma distância menor do que aquela percorrida pelos seus adversários na ocasião dos jogos).

Então, o melhor é fazer muito bem aquilo que se tem como modelo de jogo a cumprir. E vai fazer melhor quem treinar melhor para fazer.

Ao treinador, é claro, nenhuma alternativa, a não ser a de como ensinar melhor o futebol que se quer jogar.

E aí? Bom, aí é outra questão…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A razão

Dentre as grandes sacadas que permitiram a evolução humana, a adoção da razão como parâmetro para tomada de decisões foi certamente uma das mais acertadas. Deu objetividade aos fatos e permitiu a minimização da escala de erros.

Não que a subjetividade seja ruim. Muito pelo contrário. É bom achar algumas coisas. É melhor ainda acreditar em outras, sem lá muita preocupação do porque de tudo. Isso permite a superficialidade que, na sua devida medida, é algo extremamente necessário para a manutenção do bem-estar do ser humano. Não dá pra saber de tudo o tempo todo. É fundamental ser superficial. Ou isso, ou a insanidade emerge. Que diga Sheldon Cooper.

O problema é que a subjetividade precisa estar necessariamente atrelada à superficialidade, que por sua vez precisa estar restrita a aplicações do mesmo nível. Decisões profundas precisam ser objetivas. Pensadas. Racionalizadas. Quantificadas. Do contrário, a decisão é baseada na mente humana. E a mente humana prega peças a todo o momento.

Como o futebol é muitas vezes visto como algo superficial, já que sua profundidade é barrada pelo desconhecimento da matéria, ele obrigatoriamente se torna objeto de inúmeras decisões subjetivas, baseadas em pouco ou quase nada. Daí, surge a imprevisibilidade dos resultados e a impossibilidade de análise de sucesso de qualquer tipo de projeto.

Pouco, muito pouco separa, por exemplo, a aposta na formação de um time de jogadores de qualquer outro tipo de aposta, inclusive no mercado financeiro. A diferença é que este último tende a se cercar da maior quantidade de dados possível para dar pouca margem para ações emocionais e subjetivas. Com isso, diminui-se o risco e se potencializa o retorno de qualquer investimento.

No futebol, a carência de conhecimento e a incapacidade interpretativa dão margem para decisões motivadas por emoção e por falta de conhecimento. De tal modo que a imprevisibilidade reina e o fator sorte torna projetos comuns em grandes sucessos e projetos mais complexos em retumbantes fracassos. Mais conhecimento é preciso ser gerado e mais capacidade interpretativa das informações precisa ser desenvolvida. Sem esses, o desenvolvimento do futebol estará sempre sendo guiado pelo puro e simples acaso. Para a sorte de uns, para o azar de outros, e para a razão de poucos.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br   

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Marketing no tapetão

O tema desta coluna tem embasamento direto em um caso particular que está por ser definido nesta semana (sexta-feira) no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) relacionado ao América-AM, equipe classificada no campo para a final da Série D do Campeonato Brasileiro e que, por conseguinte, conquistou a vaga na Série C de 2011. Em causa, a possibilidade de perda de pontos da equipe de Manaus no jogo diante do Joinville-SC ainda nas quartas-de-final da competição por escalar um jogador irregular nas duas partidas do confronto – confronto esse vencido nas quatro linhas, com vitória no Amazonas e empate em Santa Catarina.

Por ser de Joinville e ter acompanhado o trágico desfecho de perto da equipe que brigava por uma vaga na Série C do próximo ano diante de uma equipe com investimento 5 vezes menor, há na cidade um clima de expectativa em torno da possibilidade de retornar à competição mesmo após a eliminação em campo. Essa expectativa está meio que mesclada com um sentimento de “felicidade comedida”, uma vez que os torcedores, caso a punição ao América-AM se concretize, não sabem ainda se irão comemorar com fogos e festa pela cidade ou sozinhos, sem que ninguém perceba.

Conversando com amigos, nos colocamos a refletir como deveria ser o posicionamento de comunicação e marketing do clube no caso de conquistar um lugar superior no cenário nacional pelos meios dos tribunais. Como resgatar a estima dos torcedores e da cidade após um fracasso dentro de campo, em que agora o principal atacante é o advogado do clube?

Lembro da famigerada virada de mesa protagonizada pelo Fluminense em 1996-97, quando recuperou uma vaga na 1ª divisão utilizando de subterfúgios políticos via CBF, com aquela clássica imagem de estouro de Champagne nas Laranjeiras. O caso trouxe péssimos resultados para a imagem do clube e é rememorado com alguma frequência.

É verdade que o caso que deu voga a esse texto está longe de ser parecido com o caso do Fluminense. Há, na situação de Joinville-SC diante do América-AM apenas a intenção de fazer valer as regras do campeonato e de registro de atletas estipuladas pela entidade máxima do futebol, que foram claramente feridas. Mas a memória é pertinente para compreendermos o sentimento geral daquela época, tanto de torcedores do Fluminense quanto dos seus principais rivais e da opinião pública de um modo geral.

Procurei na literatura algo que pudesse dar um norte a respeito da conquista de um espaço pelas empresas por meios não exatamente convencionais, mas não encontrei (aliás, se os leitores desta coluna souberem de algo, ficaria grato que contribuíssem para o nosso conhecimento). O mais próximo foi a ideia de gestão de crises, que já comentei outrora em uma destas colunas no “Universidade do Futebol” (publicada em 06 de outubro de 2010).

A analogia mais próxima que consegui perceber foi a da conquista de uma vaga na Seleção Brasileira por um jogador quando outro, anteriormente convocado, fora cortado por lesão ou outro motivo do gênero.

Com isso em mente, percebe-se a necessidade de um planejamento eficiente de comunicação que blinde de alguma maneira o passado, buscando um olhar de futuro sobre as oportunidades a serem alcançadas.

O departamento de marketing deve trabalhar o resgate da auto-estima dos torcedores e do clube como um todo, mostrando que a estrutura administrativa sempre trabalhou para o melhor da equipe. Tais medidas devem gerar uma confiança mútua para o alcance de objetivos a partir do fortalecimento da sua marca e que, olhando para frente, precisará revalidar a escolha dos clientes pelo sentimento às cores do clube a partir da conquista de resultados esportivos.

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Cara de palhaço…

Felipão está de volta. Em menos de meio ano à frente do Palmeiras, o treinador conseguiu reviver um ambiente tenebroso que circundou boa parte dos clubes que dirigiu. A cena dos jornalistas com narizes de palhaço em frente ao treinador após o jogo contra o Goiás revela muito mais do que uma mágoa entre Scolari e a imprensa.

Durante o tempo em que foi treinador do Grêmio e do Palmeiras, principalmente, Felipão colecionou inimigos e polêmicas na mesma velocidade com que ganhava títulos. Enquanto o time ia bem dentro de campo, desafetos na imprensa eram construídos. Muitas vezes essas rusgas faziam parte de estratégias do treinador de blindar seus atletas e centrar em si o fogo do batalhão de jornalistas ávidos por polêmicas.

Agora, o treinador tenta reconstruir esse ambiente. Prejudicado por um time apenas mediano dentro de campo e por uma hostilidade maior dos jornalistas, provavelmente cansados dos limites cada vez maiores que lhes são impostos no dia-a-dia, o fato é que essa queda de braço começa a ser prejudicial.

Com a bagagem de campeão mundial pelo Brasil, semifinalista de Copa por Portugal e campeoníssimo em torneios na América do Sul, Felipão precisa agora voltar a buscar uma harmonia com os jornalistas que diariamente cobrem a rotina do Palmeiras. Não bastam mais os títulos que o consagraram no passado. É preciso ir além, contornar a situação, deixar de lado as armas e pensar na calmaria.

O mundo mudou bastante desde que Felipão deixou o Brasil, há quase dez anos. Hoje, a imprensa é muito mais corporativista do que era antes. Ainda mais quando, dentro do clube, apenas Felipão pode dar entrevistas. Agora, o golpe pode ser muito maior do que apenas os narizes de palhaço.

 

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Vale Tudo

A novela Vale Tudo, da Rede Globo, marcou época na vida do povo brasileiro.

Foi ao ar em 1988, período que antecedeu as primeiras eleições diretas para Presidente da República, depois de longos anos de chumbo na Ditadura Militar.

O país ainda aprendia a lidar com esta liberdade recente. Não só o povo, como também os políticos, que não mais iam ser escolhidos por um colegiado de seus pares, mas enfrentariam a sentença das urnas.

Muitos temas de importante relevância social foram abordados nas micro-histórias dos personagens: corrupção; crime de colarinho-branco, ambição das pessoas para ascender na vida em detrimento da vida dos outros, sexualidade e homossexualismo, “jeitinho” brasileiro, desemprego, hiperinflação.

Com o perdão do trocadilho, vale a pena ver de novo a novela, agora no Canal Viva, desde o começo de outubro em reprise. Para mim, tem sido excelente como aula de história de quem somos os brasileiros.

Passados 22 anos, o filme Tropa de Elite 2 expõe, criticamente, as entranhas do sistema e do jogo de poder que figura por trás da criminalidade endêmica – muito bem organizada, diga-se – no Rio de Janeiro, mas que, em certas nuances, replica-se pelo Brasil.

O protagonista, Capitão Nascimento, foi promovido à cúpula administrativa da Secretaria de Segurança Pública. Acreditava que seria mais fácil combater o crime. O problema é que ele percebeu que ele estava exatamente no coração do sistema criminoso, onde todas as relações eram perigosas e todos atuavam num script de corrupção magistralmente desenhado.

A certa altura, o personagem ressalta que a coisa mais valiosa que os corruptos do “sistema” podem desejar das pessoas de uma “comunidade” é o voto.

Mais recentemente, a Fifa sofreu com denúncias de que países-candidatos a sede das Copas de 2018 e 2022 estariam negociando compra e venda de votos, em que figuravam no processo o presidente da Confederação Asiática e o Presidente da Federação Nigeriana de Futebol.

Vivemos num sistema social onde impera a democracia. Entretanto, não se pode esquecer que o sistema também pressupõe a existência de forças antagônicas, complementares e nem sempre equilibradas, cujo fiel da balança pode ser o voto – não só votar como ser votado.

Isso serve para chamar à consciência todos nós a importância das eleições. Não de forma isolada devemos participar, mas entendendo a complexa rede social em que vivemos.

Se servia às vésperas das eleições de 1989, deve servir para 2010. Eleições em que os candidatos usaram de todas as artimanhas para desqualificar o processo, presumindo que o povo é um bando de idiotas desinteressados e desimportantes.

No Brasil, no clube de futebol da esquina, no condomínio ou na sede da Fifa.

E a genial letra da música “Brasil”, cantada por Gal Costa, ecoa ao longo destes anos todos e nos faz perguntar se há algo de novo no Brasil, sede da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016:

Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito é uma navalha
Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Não me convidaram
Pra essa festa pobre
Que os homens armaram pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer
Não me sortearam
A garota do Fantástico
Não me subornaram
Será que é o meu fim?
Ver TV a cores
Na taba de um índio
Programada pra só dizer “sim, sim”
Brasil
Mostra a tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?
Confia em mim
Grande pátria desimportante
Em nenhum instante
Eu vou te trair
(Não vou te trair)

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Marketing social

Um de meus principais objetos de estudo na área de gestão e marketing esportivo está voltado para a sinergia existente entre as ações sociais conjugadas com a linguagem inerente ao esporte, dentro da sua perspectiva de comunicação e de penetração de seus ideais sobre as pessoas de uma maneira geral.

O marketing olímpico tem boa parte de suas estratégias de comunicação canalizadas sobre a relação social com o esporte. Os dois últimos livros de Philip Kotler (“Marketing 3.0” e “Marketing contra a pobreza”) tratam da importância de as empresas assumirem práticas justas de mercado como forma de se aproximarem de seus consumidores. Apenas para referir dois exemplos daquilo que se pensa em termos de marketing social.

No esporte, e no futebol em particular, é enorme a quantidade de ações diárias divulgada pelos meios de comunicação especializados, tendo em vista o aproveitamento de espaços proporcionados pelo esporte com trabalhos sociais realizados por entidades e empresas ligadas a esse setor da economia.

Quando me deparo com este tipo de informação, fico me perguntando qual a real validade de algumas ações, uma vez que muitas delas me parecem oportunistas e sem qualquer efetividade para sensibilizar de fato as pessoas ou mesmo ser um agente importante de transformação social.

Poucos estudos me convenceram sobre o impacto positivo em relação às marcas, justamente em razão de apenas ver um sinal de mero aproveitamento de oportunidades e não efetivamente fazendo parte de uma estratégia empresarial com vínculo consistente com o esporte.

Acredito mais em ações perenes e não simplesmente pontuais. Ações que tenham a ver com o negócio da empresa que promove a questão social, passando por uma lógica de que todos (inclusive o patrocinador social) devem ganhar com o trabalho desenvolvido. Remeto a um estudo de caso sobre o patrocínio da Chevrolet à Major League Baseball (de John Fortunato – “Using sponsorship as a form of public relations: a case study of Chevrolet and major league baseball”. Fordham University, New York, 2009).

Nele, dentro de seu escopo de análise, aparece, dentre outras coisas que não vou pontuar aqui, a promoção por parte da empresa, através de ações sociais, para o incentivo ao uso eficiente de energia e combustíveis, uma vez que a Chevrolet é mentora de alguns estudos sobre o tema, passando pela transformação de seus veículos a fim de conceber veículos que utilizem menos combustíveis fósseis ou que emitam menos gases que denigrem o meio-ambiente.

Uma atitude que é aparentemente simples, mas que utiliza a força de consumo das pessoas que acompanham as ligas americanas de esportes, contribuindo para as questões sociais e para a troca de ideias com os consumidores dentro da perspectiva de negócios da empresa. Trata-se de uma estratégia de comunicação que tende a evoluir ao longo do tempo ou das temporadas, a partir de contribuições de ambas as partes para que tal discussão chegue de fato ao consumo consciente das pessoas.

Minha linha de reflexão nesse texto passa por não banalizarmos aquilo que foi construído em relação à responsabilidade social corporativa. O esporte possui elementos riquíssimos de associação com causas sociais, mas, para isso, deve fazer parte de uma estratégia conjugada, sólida, duradoura e que todos os envolvidos possam ganhar efetivamente.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Até tu, Platini?

Meus cabelos não são brancos o suficiente que me permitam falar com a sabedoria e fazer uma análise crítica sobre um certo jogador francês que encantou o mundo. Mas também não são tão jovens e abundantes capazes de afirmar que esse jogador é Zidane, que foi um dos gênios do futebol, sem dúvidas. Mas me refiro à graça e técnica de Michel Platini.

Numa idade de vislumbramento, de novidades e descoberta do mundo, ainda criança, tive o privilégio de guardar em minhas memórias alguns lances maravilhosos deste jogador (embora seja uma heresia considerá-lo igual aos outros), afinal Platini deveria estar numa categoria à parte de atletas, mas por falta de outro termo vamos chamá-lo de jogador mesmo.

Não sei por que, mas dentre tantas jogadas geniais e gols maravilhosos gravei em minha memória o gol do melhor jogador do time branco (assim eu me recordo do jogo em questão) contra o tradicionalíssimo time azul na Copa de 1986. O jogo em questão era válido pelas oitavas de finais da Copa, entre Itália x França, que depois seria o adversário e algoz do Brasil nas quartas de finais.

Lembro-me de ficar tentando reproduzir a sutileza e elegância do toque na bola capaz de desacelerar a rápida saída do goleiro e fazer com que a bola entrasse de forma simples no gol. Como disse, não sei por que, mas essa é uma das recordações que tenho de Michel Platini.

Por sorte e para reviver minhas emoções, consegui achar o gol graças às tecnologias de hoje. Eis o gol ao qual me refiro, talvez nada muito complexo perto do que o próprio Platini já havia feito, mas talvez tenha me marcado pela dificuldade que encontrei em fazer igual, na ingênua esperança de que nossas habilidades fossem iguais.

Pois bem, o tempo passa e hoje estou aqui, escrevendo e refletindo semanalmente com você meu amigo leitor, e o ídolo Platini lá como dirigente da Uefa.

E eis que nossos caminhos se cruzam novamente, mas agora acerca da discussão do uso da tecnologia no futebol. Já tratamos em outros textos algumas opiniões do Platini a respeito. O tema é recorrente, minha posição a respeito, o amigo leitor já conhece. Espaço para todos os lados opinarem já utilizamos, porém não me canso de me surpreender com os argumentos de dirigentes a cerca do uso da tecnologia.

E para minha tristeza é como se Michel Platini ao dizer:

“As câmeras podem ver tudo, mas o árbitro tem apenas um par de olhos”.

E argumentar como defesa que é injusto, pois a câmera vê mais que o árbitro e por isso não pode ser considerada:

“Um juiz não é suficiente, não na era moderna quando você tem 20 câmeras acompanhando o jogo. É injusto, as câmeras podem ver tudo, mas o árbitro tem apenas um par de olhos. Toda vez que um erro é cometido, as câmeras estão lá para mostrar. O artifício pode tornar o jogo um futebol de Playstation”.

É como se eu tivesse descoberto que no momento do gol, do toque genial ele fosse capaz de deixar a bola escapar, e mais, retomá-la aos seus pés, mudar a direção, e percorrer todo o campo para, frente a frente com o goleiro de sua própria equipe, dar um toque idêntico por cima dele e fazer o gol, um gol contra, que embora seja do mesmo ídolo e com o mesmo gesto, provoca agora uma outra sensação, que não a de admiração…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

* http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2010/10/platini-ratifica-oposicao-tecnologia-e-teme-que-futebol-vire-video-game.html

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Ora, bolas!

A política virou, cada vez mais, futebol. Deixamos de ter ideologias políticas para termos convicções partidárias. Cada vez menos se pensa e mais se torce quando o assunto é o futuro do país nas urnas.

Na última semana, mais uma vez tivemos a mostra de quanto as pessoas estão obcecadas pelo fanatismo politico. O quebra-pau entre defensores de Dilma e Serra, em meio a uma aparição do candidato do PSDB, foi digna de torcedores organizados, que não possuem a mínima noção de coletividade para conviver com aquele que pensa de maneira diferente da sua.

O resultado do conflito entre as pessoas foi algo ainda maior e mais absurdo. Passou-se a debater uma possível agressão a Serra, que foi ao hospital fazer uma tomografia para se certificar de que não teria sequelas por ter tomado em sua cabeça o que parecia ser um rolo de fita crepe.

Aí entra a grande questão que permeia o trabalho jornalístico, que é a apuração de fatos.

No dia seguinte ao episódio, amplamente noticiado em todos os veículos e tipos de mídia, o SBT fez uma reportagem mostrando que Serra teria simulado algo mais grave do que de fato teria acontecido. O repórter cinematográfico da emissora havia filmado Serra atingido por uma bola de papel. De acordo com o relato, 20 minutos depois o candidato recebe uma ligação telefônica e leva as mãos à cabeça.

Pronto!

Bastou termos essa versão da história para a torcida voltar a rugir. Até o presidente Lula caiu de pau em cima do rival político, equiparando-o ao chileno Roberto Rojas, que simulou ter sido atingido por um foguete no Maracanã em meio à disputa das eliminatórias para a Copa de 1990.

Até que, no dia seguinte, a Globo foi mostrar outras imagens, além daquelas exibidas pelo SBT, captadas pelo fotógrafo da “Folha de São Paulo”. Com a junção das duas imagens, é possível construir a história inteira, mostrando que Serra foi atingido por uma bola de papel e pelo que parece ser um rolo de fita crepe.

Deixemos de lado as torcidas. O exercício da profissão de jornalista requer bom senso, especialmente no momento em que se está no campo de trabalho e ainda mais no meio de uma grande confusão (fatos que são recorrentes para quem atua no esporte). Nesse momento, o repórter não é só quem escreve ou aparece no vídeo, mas fundamentalmente aquele que está no local com a função de captar imagens. Cinegrafistas e fotógrafos são grandes aliados nesse trabalho, já que a captação de uma imagem exclusiva pode ser fundamental para que se construa uma grande história.

No episódio da bola de papel, isso foi ainda mais claro. Com apenas um câmera, foi impossível construir um relato preciso daquilo que aconteceu. Estamos acostumados hoje a acompanhar um jogo de futebol com pelo menos cinco câmeras simultâneas realizando a transmissão de imagens.

Isso dificultou, e muito, o trabalho para o trio de arbitragem e também para jogadores desleais que tentam agredir o adversário num momento em que teoricamente “ninguém está vendo”.

A bolinha em Serra é a prova de que não se pode ter apenas uma fonte de informação. Para tentar contar uma história da forma mais completa possível, não se pode ter apenas um ângulo da visão. É preciso tentar ampliar o espectro e enxergar mais longe.

Isso vale também para comentaristas da televisão, que muitas vezes se esquecem de que o árbitro não tem o mesmo campo de visão que ele sentado na cabine ou assistindo a imagem por diferentes ângulos e velocidade.

Ora, bolas! Parece tão mais fácil quando se está do lado de cá. Mas, para isso, é preciso lembrar que para se formar uma história tem de buscar suas mais diferentes miniversões.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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O método global integrado e o método analítico no futebol

Ao longo de décadas, e virando o século, muitos pesquisadores vêm estudando o ensino e desenvolvimento das habilidades técnicas nos esportes coletivos.

O objetivo impulsionador da maior parte dos estudos sempre foi o de entender como alcançar com os treinamentos a maestria desportiva e como maximizar o desenvolvimento técnico específico de jogadores e equipes.

A percepção de que a repetição sistemática de gestos nos treinamentos, para melhorar as habilidades técnicas de jogo nos esportes coletivos, não correspondia necessariamente, sob o ponto de vista cognitivo e neuromotor, à repetição do real gesto solicitado durante uma situação de jogo, trouxe à tona, a necessidade de se entender como tratar do desenvolvimento das habilidades técnicas, de maneira a atender a manifestação motora específica exigida no jogo.

Em outras palavras, além do habitual treino de repetição de gestos técnicos (de passes, cabeceios, chutes, etc.), tornou-se necessário o desenvolvimento de treinos que dessem conta, de não mais repetir apenas gestos, mas sim repetir sistematicamente ações (ações de passes, ações de cabeceio, ações de finalizações).

Desta maneira, métodos de ensino e treinamento da técnica nos esportes coletivos tornaram-se objeto de estudos e de aplicação.

No futebol, dentre os métodos amplamente estudados e utilizados, destacaram-se principalmente os métodos “analítico” e “global”.
 

O método analítico, herdeiro especialmente das práticas empíricas, foi nos primórdios do treinamento técnico, o principal método empregado por equipes de futebol; das escolinhas, passando pelas categorias de base, até o profissional. No Brasil é o método de raízes mais profundas.

O método global, oriundo do redirecionamento dos olhares da ciência, à prática esportiva dos jogos coletivos, foi ganhando um grande corpo de conteúdos e de interessados, e passou a ser estudado e empregado em centros onde “construir o talento” passou a ser uma necessidade e uma resposta as dificuldades de se “encontrar o talento”. Na Espanha encontrou seu principal porto de desenvolvimento (não só no futebol, mas também no futsal, basquetebol, voleibol e handebol).

Hoje, na prática do futebol, o método analítico se caracteriza pela realização de exercícios técnicos, com repetição sistemática de gestos, que são fragmentados e retirados do contexto circunstancial-situacional de jogo.

O método global por sua vez, se caracteriza pela repetição sistemática das ações (balizada pela aleatoriedade e imprevisibilidade do jogo) em contexto de jogo, integrando ao desenvolvimento técnico, o desenvolvimento tático individual e coletivo, bem como o desenvolvimento físico (enfim, o desenvolvimento do jogar).

A Ciência não nega os feitos e benefícios do método analítico, afinal, especialmente no futebol, muitos problemas ao longo da história, foram sendo resolvidos através dele.

Há, porém, que se destacar que as soluções dadas pelo método analítico deixaram lacunas, que até certo ponto, frearam o desenvolvimento dos jogadores. Isso gerou novas perguntas (novos problemas), que não poderiam ser respondidas com as mesmas respostas.

Infelizmente, muitos dos “gestores maiores” nos clubes de futebol (nas categorias menores ou no profissional), aqueles que tem poder de decisão para mudar o rumo das coisas, viveram uma época de aprendizagem em que a lição formal era dada pelo método analítico (sem se dar conta, muitas vezes, de que a lição que realmente lhe valeu frutos foi ensinada nas ruas, nas peladas das periferias, de um “jeito global”, que não era método).

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br