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Amadurecimento

Robinho tinha 21 anos em 2005, quando trocou o Santos pelo Real Madrid. Àquela altura, já havia sido protagonista em dois títulos de Campeonato Brasileiro e frequentava listas de convocados da seleção. Uma história ilustra bem a expectativa que o circundava: na caixa postal de seu celular, o atacante pedia que as pessoas deixassem recados para “o melhor do mundo do ano que vem”. O “ano que vem”, como se sabe, nunca veio para ele.
É curioso acompanhar o que acontece com quem vivencia uma trajetória tão irregular quanto a de um jogador de futebol. Em poucos anos, alguns deles saltam das privações para a vida de luxo; do descaso advindo da pobreza para a fama e o desenvolvimento de um séquito de aduladores. Muitas vezes são cobrados para que mantenham em campo a leveza de quando eram meninos praticando o esporte, mas ao mesmo tempo viram esteios precoces para familiares, amigos e profissionais que os acompanham.
Esse entourage contribui sobremaneira para que algumas pessoas se descolem um pouco da realidade. Vi uma vez um caso de um menino que havia sido aprovado em uma peneira para defender o time sub-11 de um clube do interior de São Paulo. Ele não tinha garantia sequer de alcançar o profissionalismo, mas o pai deixou de trabalhar porque precisava “administrar a carreira do filho”. Aquele garoto, que podia não querer nem um futuro como jogador, de repente tinha virado a única aposta de futuro para a família toda.
Jogadores convivem desde muito cedo com um paradoxo extremamente cruel para o ego: são bajulados e possuem ao redor um enorme grupo de pessoas que inflam suas qualidades e fecham os olhos para defeito ou contexto; paralelamente, são cobrados desde muito cedo como se fossem adultos prontos, infalíveis e totalmente maduros.
Foi assim com Vinicius Junior, 17, atacante do Flamengo. Após ter feito o gol que selou vitória rubro-negra por 3 a 1 sobre o Botafogo em semifinal da Taça Guanabara, ele celebrou com um gestual que imitava um choro, provocação recorrente aos torcedores da equipe da estrela solitária. A comemoração fomentou polêmica a ponto de abalar um acordo que havia entre os clubes para uso do estádio Nilton Santos. E é claro, o ápice do “pode ou não pode” aconteceu em redes sociais.
Juninho Pernambucano, ex-jogador e atual comentarista da Globo, criticou a atitude de Vinicius. Enxergou na comemoração um tom provocativo e desnecessário para aquele momento. Novamente em redes sociais, recebeu respostas nada afáveis, foi ofendido e lembrado de uma imagem de quando defendia o Vasco e mostrou os dedos do meio para a torcida do Flamengo. Acabou levando o caso à delegacia de crimes virtuais e pediu para não trabalhar no fim de semana.
Todos esses casos mostram que o amadurecimento de jogadores de futebol nem sempre é simples ou acompanha o relógio biológico. Existe um ambiente de pressão em torno desses atletas, que têm atitudes vigiadas durante todo o tempo e precisam dar respostas não apenas para o público, mas para os que são sustentados por seu talento.
Em poucos atletas, contudo, a discussão sobre amadurecimento foi tão necessária quanto o que acontece atualmente com Neymar, 26. O atacante do Paris Saint-Germain  não é mais um garoto: vive fora do país há cinco anos, tem um salário astronômico, convive com patrocinadores de ponta e protagonizou a maior transferência da história do futebol quando trocou o Barcelona pela Cidade Luz.
Neymar também ocupa há pelo menos cinco anos o posto de grande (ou talvez único) protagonista da seleção brasileira. É a esperança de quem ainda torce pelo uniforme canarinho ou pelos petrodólares despejados no PSG.
Entretanto, as atitudes de Neymar não condizem com esse status. O atacante vive, dentro e fora de campo, entre arroubos de molecagem. A picardia contida no drible virou uma marca que ele tenta sustentar em todos os momentos.
Só que falta autenticidade nesse processo. Ele não consegue transmitir, em campo ou fora, a felicidade e a vivacidade que Ronaldinho Gaúcho mostrava, por exemplo. O ex-melhor do mundo também era “irresponsável”, mas fazia isso de um jeito cativante – e esse é apenas um bom exemplo de atleta que soube fazer da brincadeira uma marca positiva.
Neymar também não se encaixa entre os “marrentos”. Não tem a autossuficiência de um Romário ou a autoconfiança de um Eric Cantona, para citar dois outros exemplos.
A impressão que Neymar passa é a de alguém em busca de autoafirmação. Alguém que vive o tempo todo tentando mostrar que aprova os caminhos que escolheu. Mesmo se os caminhos não tiverem sido escolhidos por ele.
O estafe de Neymar tem pessoas extremamente capacitadas para planejar todas as interações do jogador. Existe um trabalho em diferentes níveis, e disso eu não duvido. A questão é que o subproduto dessas ações tem sido um garoto sem confiança no que está fazendo, em busca de aprovação sabe-se lá de quem, com uma dificuldade enorme de evoluir – e evolução aqui não tem nada a ver com o jogo ou com o status profissional.
Neymar não é mais um menino. Tem 26 anos, passou por muita coisa e já suportou a pressão de ser o camisa 10 e principal líder da seleção brasileira em uma Copa do Mundo disputada no país. Não é uma questão de vivencias ou do que ele representa. Neymar precisa é deixar a casca e ser mais verdadeiro consigo. Mesmo que isso signifique mostrar lados que não façam tão bem assim para seus planos comerciais.

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Talento: propriedade inata ou aprendida?

Quando nos deparamos com jogadores refinados tecnicamente e tomando decisões certeiras durante os jogos, ouvimos logo que ali se encontra um talento, um craque, um gênio… coisas do gênero. Alguns ousam dizer que tal jogador realiza tudo com muita facilidade. Mas o que poucos percebem é o quanto este jogador procurou se aprimorar continuamente; ou seja, não basta ser melhor uma vez, é preciso fazê-lo constantemente, procurando sempre algo a ser aprimorado e jamais conformando-se com o nível em que está.
Então, a pergunta que fica é: existe talento sem esforço? Penso que o maior talento de um indivíduo é justamente a capacidade de se esforçar. Mas a conta não fecha aqui, pois a aplicação deste esforço em um milhão de horas de experiência pode não produzir melhoras significativas, mas com os estímulos adequados, sim.
Significa, então, que qualquer um pode ser um talento? Não! Principalmente no futebol, alguns fatores, como as capacidades motoras e perceptivo-cinéticas, além da execução correta dos fundamentos técnicos, interferem fundamentalmente o processo de desenvolvimento do talento.
Algumas visões sobre o tema abordam estas questões de maneira muito interessante. Uma delas é que os talentosos nascem com a habilidade “em potencial”; que o treinamento é necessário para atingir um alto nível de desempenho, mas que a habilidade inata estabelecerá os limites do nível que o indivíduo pode alcançar. A outra visão, é que os talentos são criados pelo treinamento e o que distingue os talentosos dos “comuns” é que após anos de prática, o treino serviu para modificar seus circuitos neurais para produzir representações mentais altamente especializadas que tornam possível um reconhecimento de padrão incrível, além de soluções de problemas e outras classes de habilidades especiais que os permitem sobressair em suas atividades.
Por mais que exista uma diferença de semântica entre as abordagens acima, o que realmente me chama a atenção é que ambas concordam que para gerar o talento é necessário treinar para melhorar.
Assim, sabemos que o talento, a excelência, se demonstra nas ações. Desta forma, a prática precisa ser reflexiva, ter objetivos concretos e bem definidos, implica feedback preciso para identificar exatamente onde e em que estamos falhando e talvez a parte mais importante, sair da zona de conforto. Ou seja, fazer algo que não éramos capazes de fazer.

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Entre o Direito e a Torcida Organizada

Bem-vindos à nossa terceira coluna de fevereiro aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Esse mês a gente tem conversado sobre o que a gente vê entre o direito e a torcida, e nessa semana a gente vai trocar ideias sobre as Torcidas Organizadas. Assim, a gente vai ver o que achamos entre o direito e aqueles que fazem parte do espetáculo só que cada vez mais ficam isoladas do esporte pelo Direito.
Para deixar mais organizado, hoje dividi a coluna em três partes: como são criadas as Torcidas Organizadas para o mundo jurídico; depois como “as organizadas” ficaram marcadas por episódios de violência e como o direito brasileiro respondeu a isso – afetando o seu clube; e, por último, vamos falar do papel dessas torcidas no dia a dia do torcedor brasileiro. Já avisando, hoje vou focar (e muito) no meu estado pelo “excesso” de material que temos por aqui nesse tema.
Bora lá?
As Torcidas Organizadas (TOs) não aparecem para o Direito do nada. E assim como o torcedor começa em algum lugar para o mundo jurídico, as “TOs” também tem uma data de nascimento. E aqui a regra geral é até que simples: registro. Imagina que você é criança de novo. Você criança não conseguia fazer muita coisa sozinho. Você criança tinha que ir para a escola. Você criança para ir para a escola, tinha que ser matriculada pelos seus pais. Com as Torcidas Organizadas é a mesma coisa!
Aqui em São Paulo a Federação Paulista de Futebol (FPF) cuida do registro das TOs que nem uma escola cuida do registro dos seus alunos. Cada Torcida Organizada tem que se registrar na FPF para que seus membros possam ir em uma partida como “torcedores organizados” – ou seja, mostrando o amor que sentem pelo clube e pela torcida. E cada torcedor tem que se registar em sua Torcida Organizada para ter direito ao Cartão da Paz – que é um documento obrigatório para os torcedores organizados daqui de São Paulo.
Isso tudo serve para garantir o que a gente viu semana passada aqui, quando o Estatuto de Defesa do Torcedor fala sobre as torcidas organizadas. É uma maneira de deixar o acesso ao estádio mais organizado e mais fácil para todo mundo. É uma maneira de deixar os membros das TOs irem ao estádio. É uma maneira de incluir todos no espetáculo do futebol.
Só que como a gente sabe, não é sempre assim. E as “organizadas” ainda convivem com a crítica de alguns sempre que surge uma notícia sobre a violência no futebol brasileiro. Para esses, as Torcidas Organizadas são “problemas organizados” e não parte do espetáculo. E, nesse caminho, todos pagam pelo que alguns fazem dentro e fora dos estádios – como se ser membro de uma “organizada” fosse uma “vala comum”, te deixando como todos e não como um. É o Direito simplificando até demais o que esses não querem tentar entender.
Em São Paulo são várias as regras criadas para Torcidas Organizadas nos estádios. Essas regras foram criadas com a participação dessas torcidas e também sem – sempre com o Poder Público atuante. Como exemplo, por aqui a venda de ingressos para membros de uma TO só pode ser feito pela internet e com cadastro do torcedor. Esses dados são repassados à Federação Paulista de Futebol e disponibilizados ao Poder Público, como é o caso do Ministério Público Estadual que atua bastante entre o direito e a torcida.
E com essa ideia de prevenir a violência no estádio, mais de 115 Torcidas Organizadas e seus membros foram cadastrados na FPF. Aliás, o “torcedor comum” e o sócio-torcedor também passam por cadastros. E todos passam por checagem de documento, de ingresso, e revista policial. Isso sem falar na vigilância por câmeras, a divisão dos torcedores em setores dentro do estádio por tipo de ingresso, e o dever de não fazer “nada de errado”. Assim, todos fazem parte do espetáculo e podem ser punidos – o que é bom.
Só que as TOs também podem ser suspensas como se fossem uma pessoa. E isso pode acontecer mesmo quando só uma parte dessa torcida faz o que ninguém deveria fazer ou causa no estádio. Aliás, quem segue o site da FPF sabe disso. Isso acontece porque as “organizadas” ainda são vistas como a grande causa da violência no futebol brasileiro. E é verdade que alguns de seus membros realmente são. Só que como é muito mais fácil fechar os olhos, todos das TOs são isolados e tratados como o único mal do nosso futebol. Isso traz uma mancha que deixa de lado todo o papel dessas torcidas no espetáculo do futebol e na sociedade.
É entre o espetáculo e a sociedade que o papel dessas torcidas no Brasil fica claro. Imagina que você pertence a uma TO, isso quer dizer que você é automaticamente uma pessoa violenta? Provavelmente não. É normal a gente fazer parte de um grupo. Fazer parte de um grupo faz parte da nossa vida social. Fazer parte de um grupo é se sentir aceito dentro de uma sociedade. Por aqui é comum a gente ver a Torcida Organizada ser tratada de uma maneira simplista. É comum a gente ouvir dizer que as TOs são responsáveis pela violência nos estádios. É comum que todos sejam tratados como um único indivíduo. E nisso, todas as ações dessas entidades são tratadas como um “problema”. E não é sempre assim.
As Torcidas Organizadas hoje em dia fazem parte até do Carnaval. Por exemplo, aqui em São Paulo desfilaram a Dragões da Real, a Torcida Independente, a Gaviões da Fiel, e a Mancha Verde. Cada vez mais as TOs fazem parte da nossa cultura, e não só do nosso esporte. Hoje os seus membros são consumidores também. E fazem parte de clubes de benefício, contam com espaços para festas e churrascos, além de poderem expressar o seu amor pelo clube e pela torcida em lojas oficiais. Esses mesmos membros de TOs também fazem ações beneficentes, como o Natal solidário e as campanhas de doação de sangue na sede e subsedes pelo Brasil da Dragões da Real.
As Torcidas Organizadas podem ser parte do problema de violência que temos em todo o Brasil, talvez. Agora, com certeza elas também são parte da solução. E tratar as TOs apenas como problema é uma falta de bom senso. Afinal, é só com diálogo que o Direito pode aprender e ajudar a deixar todos serem parte do espetáculo nos estádios com segurança.
Como a gente sabe, falar sobre Torcida Organizada nunca é fácil. Ainda mais que a gente costuma simplificar em vez de tentar entender mesmo o que acontece lá fora, né? Espero ter conseguido ajudar um pouco a mudar o tom do que a gente vê sendo discutido por aí hoje em dia. Ainda mais porque as Torcidas Organizadas fazem parte do espetáculo que é o nosso futebol e por isso é importante trazer todos para esse diálogo.
É isso, fico por aqui essa semana. E vejo vocês na próxima “Entre o Direito e o Esporte” quando vamos conversar sobre os programas de sócio-torcedor para fechar o nosso mês de fevereiro aqui no especial sobre o que a gente acha entre o direito e a torcida. Desejo a todos um ótimo final de semana – e até logo, pessoal!

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Coerência na gestão – treinadores

Qual a lógica de o Botafogo demitir com um mês de trabalho um técnico que tinha três anos de contrato? Ou o Atlético-MG ter mandado embora um profissional que virou o ano no cargo e participou decisivamente na montagem do elenco?
Não defendo aqui a continuidade do trabalho pura e simplesmente. Concordo que é possível em um curto espaço de tempo avaliar se um trabalho é bom ou ruim. Quando se está antenado com metodologias de treinamento e padrões de resposta nas quatro fases do jogo, não é necessário uma temporada inteira para diagnosticar se a falta de evolução de uma equipe é em decorrência da competência, ou ausência dela, do técnico.
O ponto chave aqui é a habilidade dos dirigentes em avaliar os cenários envolvendo a comissão técnica: quando se contrata avalia o perfil do treinador? Esse perfil, após ser avaliado, está de acordo com a tradição e história de clube e alinhado com a filosofia de jogo que se pretende seguir? Na maioria das vezes não.
Oswaldo de Oliveira não faz um trabalho consistente há muito tempo. Suas equipes não demonstram a intensidade necessária para triunfar no futebol de hoje. O descontrole emocional naquela fatídica entrevista é uma pequena gota perto do oceano da falta de ideias que apresentava o treinador do Galo.
Felipe Conceição foi alçado à condição de treinador do Botafogo seguindo talvez um chavão generalista que avalia de maneira assertiva nada e nem ninguém: ‘profissional bom nós fazemos em casa’. Empolgados pelo ‘furacão’ Jair Ventura, os dirigentes quiseram repetir um padrão acreditando em uma mística. Ou se havia convicção que deixassem Felipe trabalhar mesmo caindo na Copa do Brasil e na Taça Guanabara.
Não gosto de ser repetitivo e ficar falando toda hora que dirigente tem que acreditar e principalmente saber avaliar o trabalho dos treinadores na parte de campo e de liderança. Errar para contratar e se apressar em demitir só alimenta um nefasto ciclo vicioso. Repetitivo ou não dois treinadores de série A serem demitidos com um mês de jogos oficiais mostra que algo não está indo bem.

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História é Marketing Esportivo

Dentro desta coluna já foi falado que marketing esportivo tecnicamente trata-se de conceber um produto do esporte para ser disponibilizado no mercado (“market”), pronto para ser consumido. E são vários os que podem ser vendidos e comprados. Entre eles, aqueles que trabalham com história do futebol, seus clubes, federações, ligas…e até mesmo cidades e países! Nessa linha de pensamento estão os museus temáticos, pôsteres e passeios.
Entretanto, como que uma cidade ou um país possui um produto esportivo relacionado à história?
Uma ideia bacana teve a prefeitura de Montevidéu, capital do Uruguai. O país recebeu em 1930 a primeira Copa do Mundo. Logo, lá aconteceu o primeiro jogo e o primeiro gol. Por que não lembrar-se deste primeiro gol e “materializá-lo” de alguma forma? Claro que sim! Entretanto, um problema: o estádio já não mais existe, o antigo campo de Pocitos, onde hoje é uma zona residencial.

O marco do centro do campo (Imagem: Arquivo Pessoal)

 
No entanto, em um trabalho de pesquisa, as autoridades locais conseguiram localizar as ruas, exatamente onde ficava o campo de jogo. No local construíram um marco para o centro do campo e outro para a baliza onde saiu o primeiro zero do placar nos mundiais, com placas em alusão ao feito, ocasião com data e hora.
Placa em referência ao primeiro gol das Copas do Mundo (Imagem: Arquivo Pessoal)

 
Para quem gosta de futebol, lembranças como estas possuem imenso valor. Não surpreendeu quando os moradores da rua disseram que os marcos lá instalados recebem turistas do mundo todo. De longe parecem simples referências, mas de perto percebe-se a grandeza desta lembrança e a importância que teve aquele fato para toda a história do futebol.
Totem em referência à baliza onde aconteceu o primeiro gol da história dos Mundiais (Imagem: Arquivo Pessoal)

 
Lembrar o passado de uma instituição é, acima de tudo, respeito a um patrimônio (material ou imaterial, como no caso). O resgate da história gera cultura, cultura é intrínseca aos valores, que levam à tradição, que geram dedicação e empenho, fatores fundamentais para a vitória. Ou então para uma filosofia vencedora. Orgulho. E uma cidade, através do esporte, tem dado esse exemplo. Se eu fosse de lá, sentiria – bastante – orgulho disso.
Em tempo: o lugar do primeiro gol da história das Copas do Mundo é na rua Coronel Alegre, entre Silvestre Blanco e Charrua, no bairro de Pocitos, em Montevidéu.
 

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Analítico e Situacional – serve como treinamos?

Olá a todos, neste artigo iremos refletir sobre uma questão que está na base de qualquer microciclo do treinamento de futebol. Que são os treinos de técnica analítica e situacional. Utilizaremos a condução como exemplo de gesto técnico para analisar o modo e o porque treinamos (ou não) nestes dois modos.
Para se treinar o futebol se pensa que descompor o jogo possa enfatizar um determinado princípio, conceito ou gesto técnico podendo chegar até o máximo da previsibilidade de um exercício que é o de técnica analítica.
Dentre os modelos de aprendizagem do futebol é muito comum dividir por faixa etária os gestos técnicos, que devem ser “ensinados” aos garotos até sua fase adulta com a crença que realizando o gesto técnico isso “automaticamente” possa ser reconhecido e realizado em uma situação de jogo.
Tendo como exemplo a condução como gesto técnico, vamos analisar o treinamento analítico como instrumento para apreendê-lo ou aperfeiçoa-lo. A ideia é que se possa isolar as demais variáveis do jogo como: companheiro, adversário, posição no campo, fase de jogo, gestão emotiva, capacidade de escolha, entre outros, para se ter o foco quantitativo nos componentes técnicos para realizar uma boa condução; com diferentes partes do pé, em diferentes velocidades, número de toques, mudanças de direção, etc.
A reflexão que devemos fazer é se estamos seguros que isolando qualquer tipo de gesto técnico no futebol, o próprio jogador conseguirá transferi-lo em partida. Um jogador que sabe realizar a condução com boa técnica, saberá reconhecer quando e o porque realmente serve durante a partida?! Exemplos: para conquistar espaço, para atrair adversários ou para realizar um dribbling. Como diz Julio Velasco: “Nós devemos partir do jogo com a ideia de ensinar a jogar. Muitas vezes não ensinamos a jogar, mas ensinamos a fazer um exercício. Não se usam exercícios como instrumento para jogar, senão treinamos jogadores a fazerem bem um exercício, pensando que o “tranfert” ao jogo seja algo simples e não é, por nada! (Julio Velasco – ex treinador de vôlei da seleção italiana).
Quando realizamos o treinamento situacional esperamos rever os gestos técnicos treinados de forma analítica sendo aplicada. Ao analisarmos os gestos técnicos estamos observando na perspectiva de tempo e espaço?! Quando se faz treinamentos de jogos reduzidos serve ter regras de número máximo de toques? Como o jogador pode reconhecer a importância da condução como resolução de problemas? Quantas vezes um jogador tem espaço para conduzir a bola e quase que automaticamente procura um companheiro a quem passar?! Como a questão é sobre quando conduzir, não podemos limitar os toques em exercícios situacionais e sim corrigi-los durante sobre o porque e quando realiza-los.
Podemos ver neste vídeo o jogador Frenkie de Jong (20 anos) do Ajax, da Holanda, que parece ter bem claro os princípios e a importância da condução.


Estes pontos de reflexão têm como base entender que o jogador, assim como o jogo, é uma unidade. Tudo o que o jogador precisa para melhorar em qualquer aspecto (também físico) já está dentro do jogo.
Temos a ideia de se treinar tudo aquilo que é necessário para jogar futebol tirando do próprio jogo para depois “recoloca-lo” dentro. Quando se realiza a condução (como qualquer outro gesto técnico) em um determinado momento da partida, temos de compreender mais o “porque” que o “como”. Esta perspectiva pode mudar o modo na qual analisamos o todo e, principalmente, o modo que pensamos à um exercício seja analítico que situacional. O exercício não deve ser simplificador, mas facilitador da compreensão do jogo. Como diz Oscar Cano: “O primeiro erro é chamar treinamento no momento que pressupõe que devemos jogar. Treinar é reproduzir e o futebol não se presta, pela sua natureza, a ser reproduzido as ações específicas. Se deve ir a jogar, não a treinar”. (Oscar Cano – Treinador de futebol; especialista em jogos posicionais).
Abraço a todos!

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Entre o Direito e o Torcedor

Sexta-feira e o Carnaval quase aí. É nesse clima de festa que dou as boas-vindas para vocês essa semana, aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos conversar um pouco sobre você. Sim, o você torcedor. Torcedor de todo dia, torcedor de todo jogo, torcedor de todo estádio.
Na conversa de hoje vamos falar um pouco sobre o que é o “torcedor no estádio” para o Direito, em especial o torcedor como consumidor (a gente conversa sobre isso logo mais!). Então vamos ver alguns detalhes interessantes sobre o direito do torcedor no estádio. E a gente fecha essa semana lembrando um pouco de como isso afeta o seu clube. Afinal, hoje estamos entre o direito e o torcedor!
Bora lá?
Semana com Copa do Brasil e os campeonatos estaduais ainda rolando, e você vendo o jogo na televisão. Você é um torcedor, assim como eu. Só que hoje a gente vai falar daquele que vai no estádio. Desde aquele torcedor raiz que ainda compra seu ingresso na hora até aquele que é sócio torcedor. Hoje a gente vai conversar sobre aquele torcedor que vai ao estádio para assistir ao jogo ou comer aquele sanduíche de pernil – ou feijão tropeiro se você tiver sorte e estiver em Minas Gerais. Hoje a gente vai falar do torcedor como consumidor e essa palavra importa!
Aquele que tem aquela simpatia pelo seu clube. Aquele que vai ao estádio assistir uma partida. Aquele que é a base do esporte. A base do futebol como produto. A base do jogo como entretenimento. O torcedor é um consumidor do esporte. E, por isso, é visto (com carinho) também pelo direito. Afinal, o torcedor é quem sustenta o nosso futebol já que sem ele… não teria jogo.
Pensando nisso, foi criado lá em 2003 o Estatuto do Torcedor. Essa lei traz um monte de palavras que no fundo dizem o óbvio: a gente (torcedor) compra um produto ou um serviço que é o futebol de hoje, e por isso a gente consome o esporte. E se a gente consome o esporte torcendo, bom, a gente é um… sim, meu jovem Padawan, um consumidor. E como consumidor-torcedor a gente é um pouco mais protegido (e às vezes até demais – mas aí é história para outro dia).
É por isso que quando a gente vai ao estádio, a gente pode exigir algumas coisas que o torcedor de antigamente nem sonhava. São três as ideias (ou direitos) principais nesse ponto: a gente tem que saber das coisas antes, a gente tem que poder reclamar se alguma coisa não der certo (claro, desde que não seja o resultado do jogo – mal para quem torce para o meu time!), e a gente tem que entrar e sair inteiros do estádio.
Eu sei, isso parece meio básico e até senso comum. Mas, acredite, não é sempre assim! Vamos aos exemplos? Imagina que você é um torcedor que foi ao estádio porque tinha jogo naquele dia. Imagina que você ia comprar o ingresso na hora já que não tinha internet em casa. Imagina que o jogo estava marcado de manhã. Surpresa! Quando você chegou lá não tinha fila. Só que não tinha fila porque não tinha ingresso. E não tinha ingresso porque não tinha jogo.
Teve uma época que isso acontecia. Hoje é mais difícil. E se acontecer, o clube vai sofrer com reclamações no que a gente chama de “ouvidoria” (ou SAC do torcedor). E, na nossa história, o torcedor vai lá, conta o que aconteceu, e recebe uma explicação do clube. Se tudo foi seguido da maneira correta, o clube avisou com antecedência que a partida foi remarcada por alguma razão e fica tudo bem – como a Federação do seu Estado marcar um jogo no mesmo dia que uma partida da Copa do Brasil, coisa que nunca acontece.
Só que agora a gente muda um pouco a nossa história e imagina que o torcedor foi ao estádio, conseguiu comprar o ingresso, e foi assistir à partida. O estádio é grande, cabem mais de dez mil pessoas, e o torcedor se sente seguro quando vê algumas câmeras por lá. Ainda mais que ele teve que passar por uma revista pessoal, pelos seguranças do estádio, e ainda contou com a ajuda dos orientadores para achar o seu lugar. Até aí lindo, né?
Agora imagina que o capitão do time foi expulso. Imagina que o time perdeu. E imagina que a torcida não gostou e começou uma briga que quase explodia o estádio! Bom, mesmo com tudo isso, o clube não evitou o pior e o nosso torcedor apanhou. O dono do estádio tem que deixar lá para atender quem precisa: ambulância, médicos e enfermeiros.
O pior não aconteceu e o nosso torcedor está melhor agora e com fome. O nosso torcedor vê que tem comida no estádio. O nosso torcedor vai lá e come. E passa mal. Muito mal. E é internado no hospital com intoxicação alimentar porque a comida estava vencida. Bom, era dever do clube do nosso torcedor que jogava em casa garantir que o alimento estivesse “em ordem” para ser vendido. Nosso torcedor vai fazer o que? Sim, vai de novo na ouvidoria.
Agora imagina que o nosso torcedor está passando mal. Imagina que o nosso torcedor está indo embora. E imagina que o nosso torcedor tropeçou em uma barra de ferro no chão e também quebrou o pé. Bom, nesse caso é melhor esse se benzer, né? E, além disso, o clube do nosso torcedor deveria ter um seguro de acidente pessoal que daria o dinheiro de volta para nosso amigo e ajudaria ele nesses tempos difíceis.
Nosso amigo já sofreu bastante hoje só que a saga dele ainda não terminou. E o que acontece quando o nosso torcedor conversa com a ouvidoria e não dá em nada? Ele vai no Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) reclamar. E se mesmo assim não der em nada, muito provavelmente vai dar uma canseira no clube na Justiça.
E infelizmente, como a gente (torcedor) sabe, muitas vezes as histórias acabam assim. E mesmo com toda essa proteção na lei, a gente tem que ir atrás “na marra” dos nossos direitos. E é por isso que é importante saber um pouco sobre o Estatuto de Defesa do Torcedor – pelo menos até os clubes terem um plano de ação concreto nas ouvidorias.
É, meu amigo, torcer é um negócio sério. E esse futebol que a gente consome é um produto hoje em dia. Parafraseando um amigo da bola “Futebol é entretenimento, esporte é a sua pelada de domingo com os amigos”. E é bem por isso que é importante a gente saber um pouco mais sobre o que a gente vê entre o Direito e o Torcedor.
Espero que tenham gostado de mais uma semana aqui comigo no “Entre o Direito e o Esporte”. Como de costume, deixo o convite para me acharem por aqui ou no LinkedIn. Vejo vocês depois do carnaval para conversar sobre um tema bem sério: a torcida organizada. Aproveitem o feriado e cuidado com as estradas, até a nossa próxima coluna aqui!

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A evolução de um modelo de jogo

É no início da temporada que um treinador define como sua equipe vai jogar durante o ano. Independentemente de ser um técnico que já esteja no clube ou um que acabe de chegar. É possível um treinador remanescente tentar novas ideias. É o caso de Fábio Carille, no Corinthians, que para 2018 fez uma mudança sutil na formatação do time deslocando Jadson do lado para o meio do campo. E aqui não é uma mudança só de ocupação de espaço. A função e as atribuições de Jadson mudaram quase que por completo, e agora pelos lados do campo Carille tem Clayson e Romero, dois jogadores mais agudos e verticais.
O modelo de jogo é um ideal que se busca durante todos os jogos. É como uma missão de vida. Você nunca atinge. Mas vive por ela a todo momento.
E a especificidade do futebol mostra que não é só o comandante que determina como será o jogar da equipe. Tudo começa com ele, é verdade. As ideias, os conceitos e o padrão de resposta coletivo para cada fase do jogo (ataque, defesa, transição defensiva e transição ofensiva). Porém, os jogadores têm papel determinante na execução dessas ideias e na evolução delas.
Cada atleta traz uma história, uma escola, uma filosofia e um jeito próprio de jogar. Ao colocar onze jogadores com experiências diferentes em campo, vemos surgirem relações e respostas novas, que ninguém, nem mesmo o treinador, poderia prever.
Só que isso demanda tempo. Essas relações não surgem em três jogos ou em três semanas de treinos.
Por isso, prevejo a evolução de todos os times. Não posso tirar conclusões do São Paulo, por exemplo, com Nenê sendo titular em sua estreia sem ter feito um treino sequer com a equipe. Ou o Palmeiras ainda sem Gustavo Scarpa. Um futebol de qualidade se joga com ideias. Um futebol ruim se joga com ideias fracas ou até mesmo sem ideias.
Mas a dinâmica entre os jogadores tem um papel determinante na evolução da equipe. E não falo aqui de qualidades técnicas individuais. O melhor time não é o que tem os melhores jogadores. O melhor time é aquele que parece que tem quatorze e não onze jogadores em campo, tamanha a sinergia e complementaridade entre eles.

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O futebol e sua gestão…

É notória a intensa rivalidade que permeia o futebol sul-americano. Há anos a Copa Libertadores da América aumenta ainda mais a tensão futebolística entre brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos, equatorianos e etc. São muitos os épicos embates entre os clubes e, nos últimos anos, outra competição organizada pela CONMEBOL vem alimentando ainda mais a disputa, a Copa Sul-Americana.
E muito mais que a rivalidade entre as 4 linhas, os torneios da CONMEBOL vêm expondo a diferença dos modelos de gestão do futebol dos clubes latinos. Recentemente, num intervalo de não mais que cinco anos, duas equipes (de dois diferentes países) expõem nitidamente este contraste, ambas chegaram a ser finalistas de competições Sul-Americanas, mas, no atual momento, vivem realidades totalmente distintas.
Hoje, um destes clubes acumula excelentes campanhas no campeonato nacional de seu país, figurando entre os primeiros colocados, além de seguir disputando títulos sul-americanos, enquanto o outro, amarga maus resultados dentro de seu país (incluindo rebaixamentos) e não tem mais figurado as finais das competições da CONMEBOL. Por que uma diferença tão grande de realidades?
Como em praticamente tudo que envolve as relações humanas (ao menos na visão de mundo deste que vos escreve), é quase que impossível isolar um único fato ou razão para explicar o momento atual de cada clube (ou qualquer outra situação), são inúmeras as variáveis e distintas análises que poderiam ser realizadas, porém, nesta coluna, proponho um olhar que vai além das linhas de marcação, corredor de ataque ou zona de finalização. Convido a um olhar que observe a gestão extracampo. Podemos assim, citar alguns dados que nos permitem entender um pouco os diferentes momentos de cada equipe.
Para diferenciá-las e facilitar o entendimento, nomearei as equipes em “A” e “B”:

  • Nos últimos cinco anos, a equipe B teve três diferentes treinadores. Já a equipe A, contou com os serviços de nove diferentes treinadores.
  • Somados os balanços financeiros das temporadas de 2013 a 2017, a equipe A apresenta um resultado positivo entre 15 a 20 milhões de euros. Já a equipe B apresenta um saldo positivo entre 30 e 35 milhões de euros.
  • A equipe A já acumula dois rebaixamentos em 5 anos. Com a equipe B não houve rebaixamentos, e o clube ainda chegou também a ser vice-campeão nacional.
  • Entre 2013 e 2018 a equipe B contratou 64 jogadores. A equipe A contratou 193 diferentes jogadores no mesmo intervalo de tempo.
  • A equipe B busca ter uma forma própria de jogar futebol, desde as categorias de base até o profissional, e busca seguir uma política de formação, promoção e contratação dos treinadores da base e profissional. Não há uma política muito clara quanto a isso na equipe A.
  • Em média, no país da equipe A, os clubes recebem anualmente cerca de o dobro do valor que os clubes recebem no país da equipe B pelos direitos de transmissão das competições nacionais.
  • Além do futebol profissional e amador, a equipe B oferece e administra vários outros esportes (profissionais), um clube social e tem uma atuação marcante dentro da comunidade (chegando a contribuir com hospitais e instituições de caridade). A equipe A também possui outros esportes (não profissionais), um clube social, e busca ter uma atuação mais tímida na comunidade.
  • No país da equipe B, não há tantos subsídios do governo, ou providentes patrocínios de empresas estatais. No país da equipe A, isso é procedimento recorrente.

Trouxe aqui alguns aspectos que caracterizam a postura de cada clube frente a situações semelhantes. Certamente que outros pontos poderiam ser levantados, assim como alguns deles sofrerem uma análise mais profunda, entretanto, fazendo uma rápida apuração dos dados e fatos relacionados às características de gestão de cada clube e cruzando-os com vários cases de sucesso e insucesso dentro do universo do futebol profissional, não é tão difícil constatar que a probabilidade de que a equipe B consiga colher frutos melhores do que os da equipe A é maior. Duas equipes de médio porte em seu país, que possuem uma tradicional e fanática torcida local e que, no competitivo meio que buscam viver, precisam minimizar ao máximo os erros e potencializar seus recursos. Frente a isso, uma equipe que constantemente muda seu comando técnico e que, a cada temporada, reformula praticamente todo o elenco de jogadores, terá um maior dispêndio de recursos, aumentará as probabilidades dos erros e ficará cada vez mais distante de um futuro de crescimento sustentável.
Sendo assim, qual destas duas equipes se mostra mais propensa ao sucesso?
A intenção não é julgar, mas levar à reflexão. Não é por acaso que estas equipes conquistaram resultados tão distintos! O futebol tem um potencial gigantesco! Precisamos e podemos explorar mais este potencial! E essa constatação não é somente deste que vos escreve, em conversas com um amigo e profissional do futebol latino-americano, com experiência e abertura em grandes clubes do nosso continente, ele expressa a mesma opinião e ainda complementa dizendo que um dos grandes problemas do futebol na América do Sul é que existe mais amor ao poder, ao capital, do que aos clubes, ao esporte.
Eu ainda acredito que temos condição de continuar evoluindo, continuar progredindo, de fazer cada vez melhor! E você?

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Futebol é marca

Há alguns anos, o Corinthians ostentava várias estrelas em seu escudo. No Cruzeiro, sua constelação era envolvida em um círculo com uma coroa no topo, que sugeria a conquista da “tríplice coroa” (título estadual, mais o do nacional e o da Copa do Brasil). No exterior, o símbolo da Roma tinha uma sigla – não tão fácil de identificá-la – “ASR” (Associazione Sportiva Roma). O PSG tinha, em seu distintivo, a inscrição “Paris Saint-Germain” no mesmo tamanho da fonte. O do Manchester City era cheio de detalhes e com um lema quase ilegível.
Tudo isso que aqui foi falado constituem-se marcas. Para todas elas concedemos atributos. Em outras palavras, o que vem a mente quando se fala o nome delas, ou vê-se seu símbolo. Quanto mais fácil identificá-lo, melhor, independente da distância ou até mesmo do que está escrito. Nesse sentido, a “Estrela Solitária” do Botafogo, em alusão à estrela d’alva, é grande exemplo de fácil identificação e associação a todo um significado que ela sugere.
E é esta a função de um símbolo: representar uma instituição, seus valores, sua história e legado. Ele deve ser de fácil lembrança e identificação. Quanto mais limpo (menos visualmente poluído), melhor. Um critério bastante utilizado é o de uma criança conseguir desenhá-lo.
Nesse sentido, Everton, Roma e Paris St-Germain (PSG) repensaram seus escudos ao passo que suas marcas tornavam-se globais. Notem que o nome e o que dá identidade ao clube estão valorizados nas novas versões. No Everton, o nome, a torre e o lema (agora legível). ‘Roma’ ocupou o lugar do “ASR”. Quem olhava para o símbolo antigo do clube e não soubesse da história da loba e dos irmãos, sequer fazia ideia da sigla abaixo do desenho, também não saberia identificá-lo enquanto instituição esportiva.

A evolução do símbolo do Everton (ING) ao logo dos anos. O da direita é o atual Imagem: divulgação.

 
À esquerda, o símbolo antigo da Roma. À direita, o novo (divulgação)

 
À esquerda, o símbolo antigo do PSG. À direita, o novo (divulgação)

 
Para o PSG, a mesma coisa. A cidade de Paris, como marca, é maior que o clube. Vincular-se mais ao nome desse município-alfa é projetar o clube em nível mundial, o que conecta com os investimentos que têm sido feitos dentro de campo.
No Brasil, o Cruzeiro consultou a sua torcida, que prefere as estrelas da constelação valorizadas – e não limitadas dentro de uma forma geométrica – em um universo que é simbolizado pela camisa azul do clube. Simples e significativo. O Corinthians optou por excluir as estrelas do símbolo e valorizar o escudo. O título na história sempre existirá. Não depende de uma estrela.
Mural no estacionamento da Arena Corinthians retrata a evolução dos distintivos do clube (divulgação).

 
A marca, quer seja no futebol ou fora dele precisa se comunicar com seu torcedor, que é consumidor. Já dizia Chacrinha: “quem não se comunica, se trumbica”!
Em tempo: completo, com este texto, 6 meses como colunista na Universidade do Futebol. Quero agradecê-los por seguirem este espaço, ao refletir naquilo que pode ser feito pela gestão do futebol nacional gerador de renda e emprego, dentro e fora de campo.