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Futebol, nacionalismo e política

Sinceramente não sei avaliar qual deva ser o grau de nacionalismo que todos nós, cidadãos do mundo, devemos ter em relação aos países em que vivemos.

 

Às vezes me surpreendo concordando com o pensamento poético de John Lennon que nos faz imaginar a possibilidade de não existir nenhum país e que todas as pessoas deveriam compartilhar tudo com todos.

 

Mas por outro lado, em determinadas circunstâncias, me vejo defendendo nossa cultura, nossas conquistas, nosso jeito, nossos costumes, nosso povo.

 

Às vezes este sentimento de simpatia e aproximação com a nação chega a confundir-se com o patriotismo, manifestação que nos remete à defesa de certos símbolos como hino, bandeira e instituições de forma apaixonada.

 

Sabemos também que o nacionalismo, como movimento político-ideológico, já provocou radicalismos em diferentes países e levaram nações ao fascismo e ao nazismo, por exemplo.

 

Acompanhando esta Copa do Mundo, dentro e fora do campo, tenho uma oportunidade rara de observar a reação de diferentes povos e culturas reunidos na Alemanha. Afinal foram 32 países participantes desta Copa, cada um com suas peculiaridades e particularidades.

 

Mas, sem dúvida, a reação que mais tem chamado minha atenção é a dos próprios alemães.

 

Não tenho dúvidas em afirmar que a continuar com suas boas atuações nesta Copa do Mundo, a seleção alemã desempenhará um papel fundamental no sentimento de orgulho, auto-estima e renovação na Alemanha, neste seu novo período de unificação.

 

Já em 1954, no chamado ?milagre de Berna?, quando os alemães, ainda traumatizados pela Segunda Grande Guerra Mundial, bateram a poderosíssima seleção da Hungria, conquistando de forma espetacular a Copa do Mundo, o futebol teve um impacto muito grande no inconsciente coletivo da população. Mas nesta época a Alemanha já estava dividida.

 

O mesmo ocorreu nas conquistas de 1974 e de 1990. A Alemanha não era a Alemanha, mas sim duas repúblicas: a República Federal da Alemanha e a República Democrática da Alemanha. Em outras palavras: Alemanha Ocidental e Alemanha Oriental. A reunificação só se deu em outubro de 1990, após o campeonato mundial.

 

Portanto, caso a seleção germânica venha conquistar este campeonato mundial, será num momento muito especial, diferente dos outros. Pela primeira vez a Alemanha poderá comemorar um título mundial como uma nação forte e, de fato, unificada e integrada. Alegria para eles, tristeza para nós e todos os outros países candidatos ao título.

 

Pelo menos para a Alemanha, o futebol terá um papel altamente terapêutico tanto no aspecto social como político.

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Colonizado com mentalidade de colonizador

Todos nós intuímos que o futebol reflete os valores do mundo. Tudo de bom, de ruim, de bonito, de feio que vemos no futebol podemos observar na vida em geral.

 

Analisemos, por exemplo, as diferentes culturas que compõem o espectro dos 32 países que participam da Copa do Mundo e façamos a relação com o tipo de futebol praticado por suas seleções.

 

Muitas teses podem ser desenvolvidas a partir de certas identidades e conexões entre o futebol e a cultura desses países, tais como organização política, espírito crítico, criatividade, autoritarismo, grau de desenvolvimento, entre outros.

 

Salta aos olhos, entretanto, algumas contradições.

 

Uma delas é o fato de países considerados subdesenvolvidos no aspecto social e econômico, conseguirem ser desenvolvidos no futebol.

 

Mas salta ainda mais aos olhos, observar que algumas pessoas que vivem em países subdesenvolvidos como o Brasil, mas que praticam futebol de alto nível técnico, menosprezar e até ridicularizar o futebol de países ainda em fase de desenvolvimento nesta modalidade esportiva.

 

O interessante é que muitas dessas pessoas são as mesmas que criticam a soberba e prepotência dos países poderosos, colonizadores e dominadores.

 

Uma contradição intrigante.

 

Seria necessário conhecer melhor a mente humana para decifrar estas contradições.

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Futebol para além da sorte ou do azar

Poucas palavras são capazes de expressar a fragilidade da condição humana como a palavra sorte.

 

Ingrediente fundamental quando o assunto é o nosso destino, vemos a sorte, e por conseqüência o azar, quase que como uma predestinação.

 

E neste sentido pouco importa se os fatos ocorridos em nossas vidas são explicados através da fatalidade, da programação, do próprio destino ou do desígnio imposto por forças maiores, sejam elas de caráter cosmológico, metafísico, filosófico ou teológico.

 

A verdade é que as pitadas de sorte e azar quase sempre estão presentes nas explicações que fazemos sobre tudo que acontece conosco.

 

Será porque ainda não conseguimos entender nossas subjetividades? Ou será porque a nossa compreensão sobre a vida é ainda algo muito incipiente?

 

O futebol, jogo que por mais que os especialistas tentam torná-lo objetivo, só é referenciado como o esporte mais popular do mundo por suas subjetividades. Entender esta relação entre suas subjetividades e objetividades talvez seja o caminho para entender a própria complexidade do futebol e, quem sabe, das nossas vidas.

 

Que objetividade, por exemplo, poderá demonstrar que nesta Copa do Mundo realizada na Alemanha, a seleção de Trinidad e Tobago pode bater a poderosa Inglaterra, ou que o pentacampeão Brasil vai perder para o Japão ou Austrália?

 

Para os resultados inusitados sempre aparecerão as explicações lógicas, objetivas, quase com o ?status? de científicas. Mas, sem dúvida, teremos também explicações de outra natureza, algumas simplificadas pelas lacônicas palavras: sorte ou azar.

 

Quantas vezes duas bolas na trave determinam a sorte da partida. E se este número for maior, haverá os que dirão que foi muito azar para um jogo só. Se houver, então, um pênalti no finalzinho do jogo, a favor ou contra, a sorte estará lançada novamente.

 

É, enfim, a sorte e o azar nos rondando o tempo todo.

 

Mas sem querer negar esses elementos subjetivos e ainda inexplicáveis que rondam uma partida de futebol, prefiro concordar com a idéia de que quanto mais uma equipe trabalha de maneira competente e integrada em busca de resultados, mais sorte terá.

 

Parece-me melhor e mais adequado encarar as dificuldades e obstáculos como desafios que nos fazem crescer como seres humanos e que necessitam de nossa intervenção, do que tomar tudo simplesmente como benção ou castigo dos céus.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Freud, sexo e futebol

Sempre que nos aproximamos de uma Copa do Mundo aparece nos meios de comunicação o assunto sobre se os jogadores devem ou não ter relacionamentos sexuais no período de preparação e, principalmente, durante o período desta curta, árdua e consagradora competição.

 

Apesar da comemoração, há cerca de um mês, dos 150 anos do nascimento de Sigmund Freud, o médico que introduziu a questão do sexo como assunto científico, parece que ainda vivemos na mais plena ignorância quando o relacionamos com o desempenho esportivo.

 

Conheço clubes no Brasil que chegam ao exagero de concentrar seus jogadores durante dois dias antes de cada jogo para evitar, entre outras razões, que eles tenham contato com o sexo feminino.

 

Numa Copa do Mundo há comissões técnicas e dirigentes que, implicitamente, gostariam que seus atletas permanecessem na mais total abstinência durante toda a competição.

 

Levando-se em conta que um futebolista profissional não é apenas um feixe de músculos, mas como todos nós um ser essencialmente humano, precisaríamos entendê-lo dentro de toda a sua complexidade e não apenas através de poucos parâmetros fisiológicos ou biológicos, de validade muito relativa.

 

Por mais que Freud possa ser questionado neste século 21 por vários de seus conceitos psicanalíticos, não se pode negar o papel de muitas de suas idéias quando o tema é sexo. Uma delas é sobre a importância de nossas tendências sexuais na regulação de nossos processos psíquicos inconscientes.

 

Concordando ainda com o psicanalista austríaco, quando pondera que esses nossos processos psíquicos inconscientes são muito mais relevantes em nossas atitudes e comportamentos do que tudo aquilo que fazemos conscientemente, não é difícil concluir que precisaríamos entender melhor tudo isso, antes de proibirmos ou consentirmos que os atletas mantenham atividades sexuais durante determinados períodos.

 

Sexo, futebol, arte, religião e tantas outras manifestações humanas têm intimas relações entre si, mas que infelizmente ainda escapam daquelas ciências que conseguem entrar nos campos de treinamento, concentrações e estádios.

 

Quem sabe nas próximas Copas tenhamos respostas mais seguras sobre este polêmico e instigante assunto.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br