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Manifesto pelas olas nos estádios brasileiros

Uma das poucas, pouquíssimas coisas que diferem um jogo de Copa do Mundo de um jogo do Campeonato Brasileiro da série A é a ola.
 
A ola, ou la ola, ou ainda the mexican wave, é um fenômeno próprio de grandes eventos de massa em estádios, que surge no momento em que uma determinada coluna de torcedores nas arquibancadas simultaneamente se levanta com os braços pra cima, muitas vezes gritando algo parecido com “ôôôôôôêêêêêê” e em seguida se senta, no mesmo momento em que a coluna de torcedores ao lado se levanta e repete todo o ritual, e assim por diante até o processo rodar o estádio inteiro, simulando o efeito de uma onda que passa por todos os presentes no evento em questão.
 
A ola, porém, aceita algumas variações. Quando o movimento é de frente para trás, ao invés de ir para a direita ou para a esquerda, a ola é denominada transversa. Caso ela volte ao lugar de origem pelo sentido de partida, chama-se reflexiva. E se ela for para duas direções opostas ao mesmo tempo, ela é conhecida como bidirecional ou oposta. A maior ola já registrada aconteceu nas Olimpíadas de Sydney, em 2000, quando 110 mil pessoas realizaram uma ola duplo-reflexiva.
 
Em 2002, dois pesquisadores húngaros e um alemão estudaram a fundo o fenômeno da ola para tentar tirar conclusões a respeito de controle de movimentos de massa. Depois de analisar diversos vídeos, chegaram à conclusão que uma ola em geral é iniciada pelo movimento conjunto de não muito mais do que uma dúzia de pessoas e que a partir daí, dependendo das variáveis de excitação e de pessoas envolvidas no processo inicial, ela pode tomar o estádio inteiro em um movimento estável e de forma quase linear.
 
Ainda de acordo com eles, uma ola geralmente roda no sentido horário – provavelmente devido ao fato da maioria das pessoas serem destras -, a uma velocidade estável de 12 metros por segundo, ou 43,2 km/h, o que dá mais ou menos uns 20 assentos por segundo, e possui uma largura entre 6 e 12 metros, mais ou menos uns 15 banquinhos.
 
Há atualmente uma intensa discussão a respeito do surgimento da ola. A idéia mais aceita é que ela apareceu no começo da década de 80 nos estádios de hóquei sobre o gelo do Canadá, mas que logo migrou para os estádios de beisebol dos Estados Unidos. Fato é que ela ganhou notoriedade mundial em 1986 durante a Copa do Mundo do México, daí a homenagem ao país em um de seus nomes de batismo.
 
Aliás, Copa do Mundo e ola são duas coisas que combinam bastante. Em geral, as olas surgem em estádios lotados, quando ou o jogo está muito chato, ou as pessoas que foram ao estádio não estão lá muito interessadas na partida. Em jogo de Copa do Mundo, é bastante comum acontecer os dois ao mesmo tempo. Aí como a torcida tende a fazer o que for preciso para aparecer na televisão, mesmo aqueles que não vão fantasiados ou pelados, ela vai lá e começa uma ola. É batata que a montoeira de braços levantados será transmitida para os bilhões de espectadores ligados no jogo da Copa. A manha é começar a ola quando alguém precisar de atendimento médico em campo.
 
No Campeonato Brasileiro, porém, é raro uma ola aparecer. Existem suas razões para isso. Primeiro porque não dá. Dos vinte clubes jogando a primeira divisão, cinco possuem estádios em que é impossível acontecer uma ola normal, uma vez que vai aparecer um buraco no meio do caminho, já que os estádios não possuem arquibancadas cercando os quatro lados do campo. Ainda assim, mesmo nos estádios que possuem a volta completa, falta gente. Na maioria dos jogos, uma ola estaria fadada ao desaparecimento uns três segundos depois que for iniciada. Ou, no caso, 36 metros. 60 colunas de cadeiras. Talvez nem isso.
 
Ainda assim, o ambiente é propício. O jogo, na maioria das vezes, é de pouquíssima qualidade, e alguns dos torcedores nunca vão ao estádio muito interessados em ver o jogo. O problema é que ao invés de esses torcedores se concentrarem em criar olas, o desinteresse é convertido em pancadaria pra tudo que é lado. Ao invés de se levantar e jogar os braços pra cima, o torcedor se levanta e dá um soco no outro.
 
Os órgãos públicos responsáveis vêm se empenhando em resolver o problema da violência dentro dos estádios. Talvez eles devessem começar a incentivar as olas durante os jogos do Campeonato Brasileiro. Aí sim ficaria tudo igual à Copa do Mundo.
 
Tim-tim por tim-tim.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Descanso de Ronaldinho evidencia diferenças entre Brasil e Europa

Ronaldinho Gaúcho pediu, a diretoria e a comissão técnica do Barcelona aceitaram, e o jogador iniciou nesta semana um trabalho de recondicionamento físico. Sentindo uma queda de rendimento físico, Ronaldinho fez algo que raramente um jogador de futebol pede publicamente, que é ficar sem atuar para trabalhar a parte física.
 
Mas, dentro da comissão técnica da seleção brasileira, a atitude tomada pelo camisa 10 do Barcelona não é uma surpresa. Ronaldinho apenas fez algo comum aos atletas brasileiros que atuam na Europa, mesmo que informalmente.
 
“Muitas vezes os jogadores conversam pela gente por e-mail e pedem para passarmos um exercício que geralmente damos na seleção, para fazer algum trabalho de fortalecimento”, afirma Odir de Souza, fisioterapeuta da seleção brasileira na última Copa do Mundo.
 
Segundo o preparador físico do time sub-20 brasileiro, Paulo Camello, quando o atleta é convocado para a seleção, o primeiro trabalho feito em conjunto com a comissão técnica é o de readequação do jogador para a realidade de treinamento implantada no Brasil.
 
“Na Europa os times treinam em apenas um período, geralmente pela manhã, e depois os jogadores são liberados, só voltando a fazer algum trabalho de condicionamento no dia seguinte”, diz.
 
Durante apresentação no Congresso Carioca de Educação Física, organizado pelo Fiep-RJ, Camello afirmou que tão logo o atleta se junta ao grupo, a primeira providência é fazer uma avaliação geral de todos os jogadores. Na seqüência, os convocados são divididos em alguns subgrupos, com o objetivo de condicioná-los conforme o nível que estão.
 
“Além disso, fazemos um trabalho de reforço muscular. Os jogadores intercalam os treinos com exercícios de musculação. Eles não gostam muito, mas depois entendem que é importante”, afirma Odir de Souza.
 
Segundo os dois profissionais envolvidos no trabalho da seleção brasileira, outro grande problema que existe na Europa é a falta de investimento na formação de uma comissão técnica com profissionais das mais diversas áreas.
 
“Muitas vezes é o treinador ou o seu auxiliar que executa o treinamento físico, sem saber se o atleta pode ser submetido àquela carga de exercícios”, diz Camello.
 
Além da falta de profissionais de outras áreas nas comissões técnicas européias, os especialistas afirmam haver uma falta de cultura dos dirigentes e jogadores europeus para entender a importância de se investir num novo estilo de treinamento físico.
 
“O Vanderlei [Luxemburgo, ex-técnico do Real Madrid e atualmente no Santos] tentou fazer isso na Espanha, fazer o time treinar em dois períodos, dar mais exercícios físicos, mas acabou, em pouco tempo, sendo boicotado”, afirmaram os dois em suas palestras.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br