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O fator sorte no esporte

Diversas vezes abordamos aqui na Universidade do Futebol discussões sobre a profissionalização da gestão dos clubes. Quase sempre a conclusão é de que é preciso, quando se fala no trabalho dentro do esporte, que se tome atitudes racionais, mesmo num ambiente dominado pela emoção.
 
Exemplos que comprovem essa tese não faltam. Vão desde o mais óbvio, que é a questão de manter um trabalho com a manutenção de um treinador dentro do clube o maior tempo possível, até mesmo coisas mais detalhistas, como a necessidade de se fazer um trabalho integrado dentro e fora de campo para que uma equipe tenha um desempenho esportivo acima da média.
 
E, racionalmente, quanto mais os clubes investem nesse estilo de conduta fora de campo, mais resultados aparecem. Hoje, São Paulo, Inter e Santos são os clubes com as maiores receitas do Brasil. Será que isso acontece por eles serem os clubes que mantêm há mais tempo os seus treinadores, que investem na formação e contratação de atletas e, ainda, dão boas condições de treinamento a seus astros?
 
Bom, sem dúvida que tudo isso influencia. Mas, mesmo com essas evidências que os clubes no topo da tabela do Brasileirão nos trazem, muitas vezes o investimento no esporte não é norteado pela lógica do mercado. Se uma empresa é rentável, apresenta bons resultados e domina o mercado em que atua, eu vou querer investir nela. Se, ao contrário, ela só me traz prejuízo, não consegue bater a concorrência e tem apenas uma história de marca forte, não valeria tanto a pena investir meu dinheiro nela.
 
Se é assim na vida real da economia brasileira, por que não conseguimos que seja assim na realidade do patrocínio no futebol de nosso país? Aí é que entra o tal do fator sorte que envolve a competição esportiva.
 
São Paulo e Inter foram apostas feitas pela Reebok no começo de 2006. A empresa ia voltar ao mercado e decidiu investir pesado em alguns clubes. Encontrou o atual campeão do mundo à época, o São Paulo, em busca de um novo parceiro. Já no Colorado gaúcho viu a chance de colocar a marca num time que tinha potencial para ir longe na temporada.
 
No fim do ano, a empresa contabilizará só lucros com o investimento inicial de R$ 11 milhões que fez nos dois clubes. Afinal, a disputa do título da Copa Libertadores, torneio televisionado para todo o mundo, envolveu São Paulo e Inter. Agora, o Brasileirão tem as duas equipes como únicas candidatas à conquista do campeonato. A boa fase dentro de campo reflete nas vendas da empresa fora das quatro linhas.
 
Na outra ponta da tabela, a Adidas, marca há mais tempo ligada ao futebol em todo o mundo, assiste os seus dois patrocinados, Palmeiras e Fluminense, lutarem desesperadamente contra o rebaixamento. E tão mal quanto os clubes ficam as vendas de camisas pela empresa.
 

Mas, antes de o ano começar, Palmeiras e Flu tinham, potencialmente, as mesmas chances de conquistas de São Paulo e Inter. Mas, ao longo da temporada, o Palmeiras foi eliminado na Libertadores pelo rival da capital paulista num jogo decidido pelo árbitro, que interrompeu um toque de bola e armou o contra-ataque fatal são-paulino. A partir daí, o time alviverde degringolou. E a sorte sorriu para São Paulo e Reebok.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br