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A profissionalização da imprensa

 

Na semana passada abordamos aqui neste espaço sobre a necessidade de os dirigentes de futebol tornarem-se cada vez mais profissionais. Mas a crítica à atitude dos pseudo-profissionais da bola passa, também, por um processo de autocrítica do trabalho da imprensa brasileira.
 
Na última semana Emerson Leão finalmente deixou o comando do Corinthians. Finalmente porque a relação já estava desgastada, como aquele namoro de infância que todos já sabem que não terá outro destino a não ser o melancólico fim.
 
Na sede pela notícia, jornalistas dos mais diversos meios saíram em desabalada carreira atrás do nome do novo treinador corintiano. Abel Braga, Paulo Autuori, Carlos Alberto Parreira. Esses foram os três alvos prediletos da imprensa paulista. E, invariavelmente, os três treinadores deram praticamente a mesma declaração nos mais diferentes meios: “não fui procurado, fico lisonjeado com o possível interesse, o Corinthians é um grande clube, mas quero continuar meu projeto de trabalho”.
 
Essa vontade de descobrir o novo treinador corintiano comprova que, para a esmagadora maioria da imprensa, expressões como planejamento, racionalidade e trabalho de longo prazo são apenas parte de um discurso bonito quando se quer fazer uma crítica.
 
Durante os pouco mais de dois anos da turbulenta parceria Corinthians-MSI, as maiores críticas da imprensa são de que o clube não tem comando, planejamento, projeto. Tudo parece que seria resolvido em questão de segundos com a injeção do dinheiro que não sairá mais dos suspeitos cofres da parceira. E nada mais.
 
Quando o resultado não chega, a imprensa cobra contratações, troca de treinador, promoção dos atletas da categoria de base, etc. E não pára para discutir se existe, de fato, todo um projeto por trás dessa história.
 
A certeza que dá é que a imprensa não está preparada para a profissionalização do futebol. Afinal, ela é a primeira a exigir resultados dentro de campo antes mesmo de o time ter sido formado, antes de o treinador começar a implantar seu sistema de jogo, a recuperar-se da perda de parte do time, a planejar o semestre seguinte.
 
E, nessa miopia geral da cobertura, o dirigente que não é profissional paga o pato, sendo obrigado a querer os resultados que não cairão dos céus. Desesperado com o “péssimo trabalho” de seu treinador, ele acaba sentindo a pressão de fora e muda tudo. Para ter um recomeço ainda mais complicado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br