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O Lemão e o Futebol

O Lemão e o Futebol
 
Como você bem deve saber, e eu sei que você sabe, o Big Brother Brasil acabou nesta terça-feira, com a vitória do Diego, vulgo Alemão.
 
Eu assisti, e é bem provável que você também tenha assistido.
Não precisa ficar com vergonha, pode admitir.
 
Você também não era o único.
 
Afinal de contas, de acordo com o Ibope, aproximadamente 70% dos televisores estavam ligados no programa pra ver quem iria enfim levar o montante pra casa.
 
O Big Brother Brasil é um formato de entretenimento que caiu nas graças do gosto brasileiro.
Também pudera.
 
A cultura latina, de um modo geral, é muito influenciada pela dramaturgia, e o Big Brother possui todos os elementos básicos de uma boa novela, adicionado ainda mais pela falta de um roteiro definido e pela possibilidade dos espectadores definirem o caminho a ser tomado pelo programa.
 
Tudo isso, é claro, sem ter que sair do conforto da sua casa.
 
O futebol também possui sua estrutura dramatúrgica, quase que nos mesmos moldes do Big Brother. Heróis, vilões, crimes, pecados, castigos, falsidades, redenções e tudo mais.
 
No Big Brother, entretanto, a possibilidade de você achar que está interferindo no resultado final está a um telefonema ou a um clique de mouse de distância. É lá que você dá o seu voto, que cria a idéia de que você está ajudando a interferir no resultado. Na verdade não está. Afinal, o seu um voto dificilmente vai fazer alguma diferença quando somado a tantos outros milhões. Mas dá o conforto de que você ajudou a definir o resultado do jogo.
 
No futebol, a possibilidade de interferência no resultado da partida dificilmente pode ser realizada dentro de casa. É preciso ir ao estádio e torcer para ajudar seu time. De nada adianta ficar em casa assistindo. Se você quer mesmo ter a ilusão de que está ajudando a construir o resultado do jogo, é preciso ir ao estádio, pra gritar, cantar e empurrar o time pra frente. Oferecer aos jogadores aquela energia a mais que falta para alcançar os objetivos.
 
Só que tem que sair de casa.
 
E sair do conforto de casa, no Brasil, é uma atividade de risco.
 
Sair do conforto de casa pra ir a um estádio de futebol, então, nem se fala.
 
Trânsito, violência, roubos e outros tantos problemas.
 
Pra quê?
 
O jogo é ruim, o estádio é ruim e é difícil conhecer os jogadores.
 
Melhor ficar em casa, vendo Big Brother, que é muito mais tranqüilo.
 
E essa comparação entre futebol e Big Brother é extremamente benéfica.
 
Basta imaginar como seria o Big Brother caso ele sofresse dos mesmos problemas do futebol nacional.
 
Acabaria a novela, e começaria o programa.
 
No cenário fora da casa, não teria quase ninguém nas arquibancadas das torcidas, que não alguns poucos vestidos com uma camiseta com uma caricatura demoníaca do candidato que eles conhecem, além de estarem carregando faixas, bandeiras e sinalizadores.
 
Haveria uma bateria no meio de cada torcida.
 
Entre a arquibancada e o palco do apresentador, um fosso, policiais e cachorros.
Aí o apresentador começaria a falar ao vivo.
 
As torcidas começariam a ofendê-lo em coro.
 
Alguém tacaria um copo.
 
Alguns policiais passariam a proteger o apresentador com um escudo.
 
Depois, as torcidas passariam a se ofender mutuamente, com coros recheados de palavrões e palavras de morte.
 
Alguém eventualmente arremessaria uma bomba caseira.
 
Dentro da casa, faltaria água no banheiro.
 
Eventualmente, as transmissões teriam de ser interrompidas por falta de luz.
 
E seguranças teriam que estar de prontidão para conter possíveis invasões de pessoas de fora, que tentariam ou abraçar o jogador mais popular, ou bater no mais impopular.
 
Além disso, na hora de anunciar o resultado da eliminação, o apresentador seria intimidado pelos torcedores.
 
Assim que o resultado saísse, a torcida do eliminado o ameaçaria de morte e alguém tentaria invadir o palco.
 
Quando o eliminado saísse, o próprio partiria pra cima do apresentador.
 
Seria engraçado, não fosse triste.
 
Se bem que se o Big Brother fosse mesmo igual ao futebol, Diego, Íris, Alberto, Fani e Bruna estariam participando de algum Big Brother europeu.
 
Por aqui, ficariam todos aqueles que eu não lembro do nome.
 
Aí a graça cairia pela metade.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Leão, um modelo de liderança

Liderança costuma ser entendida como a capacidade que certas pessoas possuem de conduzir um grupo, estimulando-o a conseguir seus objetivos ou metas.
 
No futebol podemos notar destacadamente duas formas distintas de liderança: uma autocrática e outra democrática. Na prática observamos que muitas vezes estas duas tendências se confundem na complexidade e dinâmica das ações necessárias para se conduzir um grupo ou equipe na direção de suas metas, ou seja, na direção das vitórias e das conquistas.
 
Emerson Leão, o conhecido treinador que acaba de deixar o Corinthians, é um dos bons exemplos de líder autocrático. Suas habilidades e competências são sempre no sentido de chamar toda a atenção e poder para si, cobrando obediência irrestrita de seus comandados e com pouca margem para diálogo e questionamentos por parte dos atletas ou quem quer que trabalhe ao seu redor.
 
Suas intervenções, quase sempre autoritárias, costumam funcionar bem em ambientes de crise, mas sempre por períodos muito curtos de tempo. O que facilita este modelo de liderança no futebol é que os clubes, de forma geral, através de seus dirigentes, são também bastante autoritários. Portanto, enquanto os interesses não são conflitantes o caminho para este tipo de treinador é bastante facilitado.
 
Outro aspecto facilitador, que abre espaços ao líder autocrático, é que, muitas vezes, os próprios jogadores aceitam e até cobram de seus comandantes estas atitudes autoritárias.
 
Por outro lado os treinadores mais abertos e que adotam uma linha mais democrática de comando, não raramente, encontram muita dificuldade para administrar suas equipes neste ambiente. É preciso muita habilidade e competência para conseguir a cooperação, o envolvimento e compromisso de todos, através do convencimento e do diálogo.
 
É por isso que, apesar das enormes vantagens que a liderança democrática possui, permitindo um maior desenvolvimento, liberdade, autonomia e espaços à improvisação e criatividade dos atletas, o modelo autocrático ainda prevalece na maioria dos clubes de futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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A profissionalização do dirigente

O time do São Paulo desembarcou às 15h12 no estádio do Morumbi para o clássico contra o Palmeiras, pelo Campeonato Paulista. Nas ondas da rádio Bandeirantes, logo após a chegada e confirmação da escalação da equipe são-paulina, o superintendente de futebol do clube do Morumbi, Marco Aurélio Cunha, passou a dar uma entrevista para justificar o uso de muitos jogadores considerados reservas.
 
“Não são reservas. São coadjuvantes”, brincou o bem-humorado dirigente. Com essa frase, Cunha conseguiu desarmar qualquer crítica e, ainda, mostrou o sentimento de orgulho pelo fato de o São Paulo ter um grupo formado por bons jogadores, com capacidade de defender a seleção brasileira. Numa atitude inteligente ele, ao mesmo tempo, deu mais moral aos seus atletas e ajudou a mostrar que o clube trabalha de forma profissional, priorizando competições e trabalhando no longo prazo.
 
Mas Cunha poderia ter parado por aí. Na seqüência, o dirigente quis deixar sua posição e usar o cargo que tem para se mostrar um torcedor são-paulino. O momento ocorreu minutos depois da genial afirmação do time coadjuvante, quando Cunha foi instigado a comentar o reconhecimento dado pela Fifa à conquista da Copa Rio de 1951 pelo Palmeiras como o primeiro título mundial de clubes. Torneio que, à época, foi comemorado por são-paulinos, corintianos e palmeirenses como uma vitória do Brasil, maltratado e mastigado pelo Maracanazzo do ano anterior.
 
“A comemoração será na Consolação, onde os italianos gostam de enterrar seus familiares. Mas não haverá festa. Será um silêncio completo”, ironizou o dirigente. A referência clara à região dos cemitérios São Paulo e Araçá, onde se concentra a maioria dos jazigos de italianos da capital paulista, soou como uma brincadeira de mau gosto.
 
Como superintendente de futebol do São Paulo, Cunha deveria ter deixado tal afirmação para o torcedor da cadeira cativa, das sociais, das gerais do Morumbi. Nunca poderia partir de um dirigente de futebol tamanha provocação e desrespeito à história de um outro clube, por maior que seja a rivalidade entre eles.
 
Ainda mais sendo Marco Aurélio Cunha um diretor de futebol que prega, nos lugares por que passa, a profissionalização do futebol e, especialmente, do dirigente esportivo. Cunha que se orgulha de ter dirigido Avaí e Figueirense em épocas distintas, mas com a mesma seriedade em que trabalha no São Paulo.
 
Mas o show ainda não estava completo. Durante a partida, o dirigente se viu novamente envolvido numa polêmica. Nas cadeiras cativas do Morumbi, espaço dividido por palmeirenses e são-paulinos num acordo com a Federação Paulista de Futebol, Cunha teve de se envolver numa briga entre torcedores, iniciada segundo alguns por seu filho, que começou a provocar os rivais com a iminente derrota por 3 a 1.
 
E, por volta das 18h45, o mesmo Marco Aurélio Cunha deu a seguinte declaração à mesma rádio Bandeirantes:
 
“Eu, como dirigente do São Paulo e pessoa pública, nunca me envolvo nessas brigas de torcida. Eu tento sempre apartar”, afirmou após negar a participação de qualquer parente seu na discussão que deixou alguns palmeirenses feridos.
 
Quer dizer que, quando ocorre uma briga, Marco Aurélio Cunha deixa de ser torcedor e se transforma em dirigente. Esse mesmo Cunha que gosta de menosprezar a história dos clubes rivais, instigando o ódio e semeando a mesma violência?
 
A profissionalização do futebol passa, necessariamente, pela profissionalização dos gestores do esporte. Não é possível que, ainda hoje, pessoas que se dizem profissionais do esporte alimentem a rivalidade que existe entre os clubes. A época do dirigente folclórico, de pouca ação e muita história para contar tem de fazer parte do passado do futebol. O profissionalismo não pode ser apenas da boca para fora. Ou, o que é pior, não pode ser defendido apenas quando o dirigente amador se sente acuado. E a primeira atitude a ser tomada é aprender a falar. Para, depois, não ter de se explicar.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br