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Psicologia do esporte, Garrincha e interdisciplinaridade

A psicologia é uma área das ciências do esporte ainda bastante polêmica e questionada por muitos, até mesmo entre atletas, treinadores e dirigentes.
 
No Brasil, e particularmente no futebol, esses conhecimentos científicos começaram a ser aplicados em meados da década de 50 do século passado. Tem, portanto, uma história de pouco mais de 50 anos.
 
O pioneiro em sua aplicação no futebol brasileiro foi o Prof. João Carvalhaes. Este profissional, que tive a honra de conhecer, prestou seus serviços no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol, no São Paulo Futebol Clube e também na Seleção Brasileira quando participou da primeira conquista mundial na Copa da Suécia em 1958.
 
Sua atuação, entretanto, apesar da conquista brasileira, foi muito questionada. O fato marcante deste trabalho inovador não foram as inúmeras contribuições para buscar-se um entendimento mais profundo da mente do atleta ou dos aspectos psicológicos que influem no rendimento de uma equipe. O que se destacou na verdade foi o fato do psicólogo, dentro do modelo limitado de avaliação que dispunha naquela época, ter considerado o genial Garrincha inapto para a prática de um esporte de alto rendimento como o futebol.
 
Este, talvez, tenha sido um aspecto determinante para a grande resistência que a psicologia do esporte ainda encontra para se estabelecer de vez no futebol e no esporte de uma forma geral.
 
Alguns especialistas que estudam o fenômeno esportivo consideram que os preconceitos, a falta de conhecimento dos esportistas em geral, bem como o desconhecimento das questões mais práticas do esporte por parte dos próprios psicólogos, são as causas principais da distância que ainda existe entre a psicologia e o esporte.
 
Eu diria que outro elemento poderia melhorar a atuação dos psicólogos e outros especialistas que atuam no esporte de rendimento. Trata-se de entender o fenômeno esportivo de forma global e integrada. A abordagem interdisciplinar que substitua a visão parcial e quase sempre fragmentada proporcionada pela diferentes áreas é hoje fundamental para se conseguir melhores resultados.
 
Uma visão mais global e integrada talvez tenha sido o ingrediente que faltou ao querido professor João Carvalhaes em 1958 para entender a genialidade do Garrincha, apesar de algumas características psicológicas aparentemente desfavoráveis. Os psicólogos do esporte no século XXI, entretanto, não têm o direito de cometer o mesmo erro.
 
 
 

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br
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O esporte e a televisão

 

No último domingo, o jornal Folha de S. Paulo revelou que uma empresa que presta serviços para os Jogos Pan-Americanos tem, em seu quadro de funcionários, uma das filhas de Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê organizador do Pan (Co-Rio).
 
Até aí, nada de errado, a não ser que a mesma empresa foi escolhida para ser a loja oficial dos produtos do Pan sem passar por um processo de licitação. A notícia saiu na Folha e repercutiu em outros veículos de imprensa nesta segunda-feira.
 
Nada disso, porém, foi visto na televisão. Nenhum registro foi feito no mesmo domingo. Esporte Espetacular, Fantástico, mesas redondas. Em nenhum momento qualquer emissora de TV falou sobre a notícia da Folha.
 
Band e Record pagaram, cada uma, cerca de R$ 11 milhões pelos direitos de transmitir os Jogos Pan-Americanos. Já a Globo não desembolsou um centavo. A venda de patrocínio do Pan envolvia o apoio também ao plano de mídia da Globo de transmissão do evento. Cada cota do evento custou R$ 67 milhões ao patrocinador, sendo que apenas R$ 11 milhões chegou ao esporte. O restante ficou para pagar a conta de anunciar na emissora durante quase dois anos. Além disso, a Globo Marcas é responsável por todo o licenciamento de produtos do Co-Rio.
 
O Pan, para a Globo, deixou de ser um produto jornalístico. Ele é, mais do que qualquer coisa, um evento, um produto financeiro para a emissora. Assim também é o futebol. Um produto comercial muito mais do que jornalístico. E o que isso muda?
 
Considerando que a televisão fala com 96% do país, vem dela a maior influência na formação do pensamento coletivo. É a partir do que a TV nos transmite que as pessoas formam opinião, que decidem lutar pelos seus interesses, que pressionam por mudanças no desenvolvimento do país.
 
Quando a TV passa a ter o esporte como produto comercial, e não jornalístico, as atuações suspeitas dos nossos dirigentes e atletas são relegadas a um segundo plano. Em nome do negócio, a sujeira é colocada embaixo do tapete, para não ficar à vista de todos.
 
Para o organizador do evento, é absolutamente conveniente uma relação umbilical com as emissoras de TV. Mas como fica o jornalista nessa história? E o público? Talvez seja a hora de discutir a relação entre esporte e televisão.

Para interagir com o colunista: erich@universidadedofutebol.com.br

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Tática: uma questão de biologia?

Felice Accame em seu livro La zona nel calcio de 1994, conta que nas vésperas de um jogo contra a Fiorentina (pelo Campeonato Italiano 87-88), estava Arrigo Sacchi, então técnico do Milan, com sua família almoçando em um restaurante quando fora abordado por um torcedor que por ocasião de uma aposta com outros amigos tentava saber se seria Mussi, Filipo Galli ou Tassotti o responsável por marcar Baggio (naquela época, jovem promessa da equipe da Fiorentina). “Os três e nenhum dos três”; respondeu Sachi; “em nosso futebol não existe um homem encarregado de somente marcar. Porém cada um dos jogadores devem saber defender e atacar”.
Há dois séculos o futebol vem sofrendo de um grande fenômeno, que apropriando-se das idéias de Charles Darwin (Charles Darwin, não Charles Miller), eu chamaria de “Teoria Evolucionista do Futebol”.
Vejamos; existem registros que mostram que por volta de 1863 o sistema de jogo utilizado para se jogar futebol se assemelhava a um 1-1-8. Em 1870 já tínhamos algo parecido com o 2-1-7 que depois se tranformou em um 2-2-6. Veio o “WM”, o 4-2-4, o 4-3-3, o 4-4-2, o 3-5-2, o 3-6-1, chegando-se ao 4-5-1 (vedete da Copa do Mundo de 2006). Observemos que o futebol “evoluiu” do ataque para a defesa. Primeiro, uma grande preocupação com o fazer gols (muitos atacantes). Depois uma grande preocupação com o não sofrer gols (jogadores migrando para a defesa e meio campo).
O fato é que temos hoje, independente das representações numéricas para se explicar como se posiciona ou joga uma equipe, um grande número de jogadores que “compõem” o meio-campo.
Se no começo havia um jogador específico para essa região, hoje temos quatro, cinco, seis. E o que isso significa nos nortes da “Teoria Evolucionista do Futebol”? Significa que temos cada vez menos jogadores altamente especializados em atacar ou defender (construir,finalizar, fazer gols ou destruir,desarmar, evitar gols) e cada vez mais jogadores especialistas em atacar e defender (construir e destruir, finalizar e desarmar, fazer gols e evitar gols).
 


 

Se para o mundo de Dawin sobrevivem os mais fortes, no mundo do futebol “sobrevivem” aqueles jogadores com maior capacidade de se apropriar do “e” em detrimento do “ou“; que marcam e armam, que desarmam e finalizam, que defendem e atacam.
Ainda que se pesem os prós, contras e possíveis implicações da “Teoria Evolucionista do Futebol”, é fato, que têm tido cada vez mais importância para as equipes jogadores “especialistas-gerais”.
Isso deveria se refletir o mais rápido possível nas estratégias e postura tática das equipes dentro de campo. Não se trata de ressuscitar o “Carrossel Holandês”; bem distante disso. Trata-se de não mais conceber jogadores de defesa e jogadores de ataque (excessão feita a uma fotografia circunstancial de algum momento do jogo).
Uma equipe quando ataca também se defende, porque dentro da lógica do jogo não podemos mais acreditar que é a posse da bola que determina quem está atacando ou defendendo.
Podemos, por exemplo, entender a manutenção da posse de bola (o jogo horizontal, para os lados) como uma estratégia de defesa. Podemos, numa situação qualquer termos jogadores construindo ações para se chegar ao gol adversário enquanto outros da mesma equipe se reorganizam a cada passe para impedir que o adversário contra-ataque (em caso de perda da bola). A estratégia então deixaria de ser o como não sofrer gols, ou o como fazer gols, e passaria a ser o não sofrer e fazer gols ao mesmo tempo.
Então vejamos; nem é a posse da bola que determinará se uma equipe está se defendendo ou atacando, nem é a posição atribuída ao jogador que determinará se ele deve atacar ou defender.
Ataque e defesa são sistemas dentro do jogo que não se separam. Essa compreensão, muitas vezes, com pequenos ajustes e muita simplicidade pode trazer bons frutos. A seleção da França na Copa de 2006, por exemplo, conseguiu fazer com que a seleção brasileira desse diversos “chutões” da defesa para o ataque, sem permitir que a bola passasse pelos jogadores “armadores” de meio-campo. Como? Com jogadores franceses “armadores” e de “ataque” marcando pressão as reposições e saídas de bola.
É possível então ir na contra-mão dos especialistas, que têm buscado explicar sistemas de jogo através de representações numéricas cada vez mais desmembradas. O 3-5-2, que pode ser um 3-4-1-2, ou o 4-5-1 que pode ser o 4-4-1-1. Porque não o sistema de jogo “11”, onde todos participam em momentos diferentes do sistema defensivo e do sistema ofensivo ao mesmo tempo, em que se pode defender com quatro (e aí incluo o goleiro) enquanto se ataca com sete, em que se pode atacar com três enquanto se defende com oito, num mesmo jogo, em situações diversas.
E depois disso tudo, eu pergunto: ter três ou quatro volantes dentro de campo em uma seleção, em um jogo de Copa América, significa ter uma equipe defensiva? É a posição ou a função do atleta que determina a estratégia, os princípios e a dinâmica do jogo? (se a resposta for errada, corremos o risco de cobrar a solução errada!)
Infelizmente o termo “posição” tornou-se uma tatuagem gravada no atleta que o acompanha por toda a carreira. Volante é volante, meia é meia, ala é ala, lateral é lateral, zagueiro é zagueiro, atacante é atacante… O que será que Darwin diria?

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sobre o Engenhão

Lembra que eu disse que o Macri iria ganhar a eleição pra prefeito de Buenos Aires? Pois é, ganhou. Um pouco mais de 60%. Barbada pura.
 
Lembra que eu disse que o Sheffield United iria por fogo na Premier League por achar que era o West Ham quem devia ser rebaixado no seu lugar? Não lembra? Pois é, eu disse. Aparentemente, porém, isso não vai acontecer. Quer dizer, os caras lá já definiram que o Sheffield tem que jogar a segundona, apesar de concordarem que o West Ham devia ter perdido pontos, mas agora a coisa pode ser levada para a Justiça Civil. Tapetão no melhor estilo brasileiro. O que não faz um punhado de milhões de libras esterlinas, não? Não está com cara de que vai acabar bem. Que nem o Engenhão.
 
Aliás, o Engenhão é um caso interessantíssimo de análise para prever como será o processo de reestruturação dos estádios brasileiros. É o mais moderno estádio do Brasil, visto que foi inaugurado semana passada, mas nem por isso, porém, ele tem cara de que foi uma coisa bem feita.
 
Um estádio de futebol, hoje, precisa seguir obrigatoriamente dois lemas: conforto e conveniência. O Engenhão pode até ser confortável, confesso que não sei, mas certamente não é conveniente. Não moro no Rio de Janeiro, tampouco sou um profundo conhecedor da geografia da cidade, mas sei que o estádio tem pouquíssimo estacionamento, que a estrutura viária dos arredores é precária e que o trajeto de trem é um tanto quanto espremido. Nada conveniente, portanto, principalmente se você levar em conta que esses percalços são somados a um certo sentimento de insegurança que toma conta de qualquer cidade brasileira. Muito menos conveniente.
 
Sem atender a esses dois requisitos básicos, não tem como um estádio se desenvolver comercialmente. Nesse cenário, outras questões mais pontuais como distância do público do gramado, pista de atletismo no contorno e eventuais dificuldades para captação de um patrocínio baseado nos naming rights devido ao estádio já ter um nome bastante popular acabam tendo pouca influência.

Caso um estádio não cumpra com essas premissas básicas, é certo que a maior parte do seu público em potencial vai achar melhor ficar em casa, assistindo ao jogo no sofá, comendo amendoim com procedência assegurada, tomando alguma coisa identificável e podendo estar na cama 15 minutos depois do apito final.

 
É muito mais confortável. É muito mais conveniente.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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As competências de um treinador de futebol

A profissão de treinador de futebol, pelo seu destaque e importância não só no cenário esportivo, como também social, deveria exigir mais do que a maioria de seus representantes é capaz de demonstrar na prática.
 
Um bom profissional, para poder comandar competentemente um grupo de atletas e levá-los às vitórias e conquistas precisaria reunir algumas competências básicas.
 
Um treinador necessita, antes de qualquer coisa, conhecer mais do que todos os outros, as táticas de jogo a serem adotadas para a sua equipe, bem como saber como neutralizar as equipes adversárias. Para isso precisa estar antenado com tudo que ocorre a este respeito ao seu redor e no mundo do futebol de forma geral.
 
Ele tem que ter visão estratégica para além daquilo que acontece dentro de campo e saber planejar cuidadosamente seu trabalho, organizar palestras, atividades e observar tudo que possa interferir direta ou indiretamente na performance de seus atletas, de sua equipe e de seus adversários.
 
O treinador precisa conhecer não apenas as técnicas que favoreçam a aplicação de metodologias modernas e avançadas, como também necessita uma sólida visão de conjunto que permita através de diferentes ciências, e em especial as ciências humanas, interagir adequadamente com o ser humano que está por trás de cada atleta.
 
Um bom profissional, para ser completo, não pode prescindir de princípios éticos que balizem suas ações e coloquem limites na busca de resultados.
 
Mas a mais básica das competências de um treinador parece ser a liderança. Seja ela mais autocrática ou mais democrática, o fato é que sem comando para alimentar permanentemente uma visão de futuro que leve os atletas a buscarem metas cada vez mais exigentes, todas as outras qualidades correm o risco de serem anuladas ou ficarem em um segundo plano.
 
Treinador, portanto, deveria ser sinônimo de liderança.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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O media trainning no futebol

Uma das mais efetivas ferramentas de trabalho das assessorias de imprensa é o media trainning. Ou, traduzindo para o bom português, o treinamento de mídia. Invariavelmente as grandes empresas de assessoria fazem, com seus clientes, trabalhos para treinar o porta-voz da empresa a dar entrevista.
 
Seja para TV, rádio, jornal, internet ou revista, o executivo de uma grande empresa deve sempre estar preparado num dos momentos mais importantes da divulgação de seu trabalho, que é aquele em que vai se relacionar com a imprensa.
 
No futebol, o conceito de media trainning parece não combinar com o trabalho dos assessores de imprensa dos clubes. Quase sempre vemos atletas e dirigentes totalmente abandonados quando têm de se relacionar com a imprensa.
 
Um caso emblemático dessa situação foi a “gafe” cometida por José Cyrillo Jr., vice-presidente do Palmeiras, que simplesmente deixou escapar uma frase dando a entender que o jogador Richarlyson, do São Paulo, seja homossexual.
 
Por mais que o dirigente brincasse com isso fora do ar (como mais da metade do meio do futebol o faz), nunca ele poderia, como representante de um dos cinco clubes com maior torcida do país, dar tal declaração. Ainda mais num programa de televisão.
 
A falha de Cyrillo é da mesma linha de inúmeras que permeiam o meio do futebol desde que Charles Miller aportou da Inglaterra rumo ao Brasil com as bolas de couro na bagagem. Por mais que o futebol tenha se profissionalizado, os profissionais da bola, invariavelmente, tornam-se folclóricos personagens quando existe um microfone ligado.
 
Não tenho conhecimento de nenhum clube de futebol que tenha convidado um jornalista para dar uma palestra a atletas, dirigentes e comissão técnica para expor como é o dia-a-dia da imprensa. Mais do que isso, nunca soube de um jornalista que vá ensinar aos futebolistas como se comportar no sempre duro relacionamento com a imprensa.
 
Em compensação, no meio empresarial, a adoção de um treinamento na relação com os jornalistas é parte do cotidiano dos executivos de uma corporação. E olha que nenhuma empresa, no mundo, consegue ter tantos consumidores fiéis como um único time de futebol.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br