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Viagem peculiar

Fui a Manaus por uns dias, e acabei me deparando com algumas coisas muito curiosas, em especial no dia que fui fazer um pequeno city tour pela cidade.

Vale a visita. Manaus é uma cidade peculiar. Primeiramente porque é quase uma metrópole e fica no meio da floresta amazônica, o que por si só já dá diversos subsídios para a compreensão dessa peculiaridade. Um segundo fato é que o único jeito de chegar de carro por lá é indo até Belém, pegar uma balsa e subir o rio com ela por cerca de cinco dias. Isso também torna Manaus uma capital bastante peculiar.

Mais interessante, porém – pelo menos para aquilo que interessa essa coluna, é a relação entre a cidade e o futebol. Não há dúvidas de que o esporte desempenha um importante papel na cidade. O como que ele faz isso é que é passível de discussão.

Eu tenho o estranho costume de, sempre que possível, comprar, ou pedir, camisas de clubes de menor expressão nacional. Foi assim que minha coleção pôde contar com réplicas do uniforme do Francisco Beltrão – PR, Juventus-SP, Jabaquara-SP, ABC-RN, entre outras. Uma das minhas missões em Manaus era conseguir uma camisa de algum time de lá, embora eu já tivesse a do Nacional, eu acho. Talvez seja a do São Raimundo, não lembro bem. A minha preferência era por uma camisa do Fast, mas qualquer outra tava valendo.

Parei em uma loja de esportes grande e fui pesquisar. O vendedor falou ‘Time daqui? Tem nada não. ‘ E não tinha mesmo. Nada. Aliás, em Manaus quase não há resquício do futebol local. Futebol lá é com os times do RJ, em especial o Flamengo. Chega a impressionar. Tudo bem que a fase do Flamengo ajuda, mas o número de pessoas vestindo a camisa do clube e as bandeiras espalhadas por toda a cidade poderiam fazer um turista geograficamente mais desorientado acreditar que o Rio de Janeiro estava logo ali, assim como a África do Sul, que também é logo ali.

As razões para esse fenômeno são variadas, mas principalmente pela disseminação do clube nos anos 70 e 80 como força nacional e também pelo fato de lá o futebol ser essencialmente um produto televisivo. O futebol local, fora o Peladão que é outra história, quase inexiste.

Assim como inexistia a camisa do time de lá. O vendedor acabou me indicando uma outra loja, algumas quadras além, em que pude encontrar uma bela réplica da camisa do digníssimo Atlético Rio Negro Clube. O interessante é que a loja vendia um monte de camisas do mundo inteiro, tudo pirata, e colocava a marca de um patrocinador, o mesmo que no modelo adquirido estampava a camisa do Rio Negro. O patrocinador do Rio Negro era o mesmo que o patrocinador do Milan, do Flamengo, do Olympique e até da Seleção Italiana.

Basicamente, o cara aproveitou que era tudo pirata mesmo e estampou a marca de uma determinada empresa. Imagino que essa empresa tenha pago pra isso. E isso configura uma nova forma de patrocínio/marketing de emboscada jamais vista antes. Pelo menos eu não tinha visto. E, diga-se, é uma forma bastante peculiar. Assim como Manaus. Nada mais justo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br