Há alguns meses, havia escrito minha coluna defendendo a dedicação dos clubes do futebol brasileiro a programas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços, tal qual é feito no mercado corporativo.
Dizia também, que a pesquisa vem antes do desenvolvimento, não só na própria expressão consagrada, mas na prática dos negócios.
Na semana passada, o Flamengo lançou um projeto vanguardista, chamado “Cidadão Rubro-Negro” (www.cidadaorubronegro.com.br) que visa atrair toda a massa de torcedores do clube para uma plataforma da internet, criando um ambiente de relacionamento social interativo e a partir do qual uma série de promoções e benefícios serão oferecidos pelo clube.
O “cidadão” virtual deve fornecer vários dados e preferências pessoais para criar seu perfil no site e isso, por si só, já lhe outorga pontos para acumular e trocar pelos benefícios e interagir em comunidades, compartilhando experiências e contatos com os membros da “nação”.
Não é um simples programa de sócio-torcedor. Existem categorias pagas e uma delas não-paga.
E, por que não-paga? Porque o maior valor do programa não está nessa receita direta de associações, mas sim, nas informações do perfil dos cidadãos, como o próprio site explicita.
“No Cidadão Rubro-Negro a torcida não financia o clube. Ao contrário, o grande valor para o Flamengo transcende um plano de mensalidade. Conhecer a torcida e construir uma imensa base de dados produzirá inteligência de mercado e trará mais receitas para o clube do que qualquer contribuição financeira individualizada dos torcedores”.
A informação é a grande sacada. Principalmente a informação filtrada, depurada, qualificada e vinculada a uma paixão que lhe adiciona muito mais valor.
Os torcedores querem usufruir de um senso de pertinência à realidade do clube e se relacionar com tudo aquilo que lhe diz respeito no dia-a-dia da instituição. Por isso, essa iniciativa possui grande potencial para ser reproduzida por outros clubes, independentemente do tamanho de sua nação – pois a paixão e o interesse, no futebol, não se medem, essencialmente, por isso.
Ademais, os clubes terão acesso a um meio de não só quantificar sua torcida – uma vez que as principais pesquisas realizadas até hoje careciam de maior precisão metodológica e amostragem – mas qualificar: cada torcedor terá um RG completo e detalhado sobre o seu envolvimento com o clube.
Com isso, a própria informação e o seu consequente uso adquirem mais valor de maneira a potencializar receitas de patrocínios e promoções.
Se informação não valesse tanto num mercado cuja conectividade e interatividade digitais imperam, o Google não seria uma das marcas mais valiosas, atualmente, em todo o mundo. E o que ele vende são serviços variados de informação.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br