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Informação é o nosso esporte

Há alguns meses, havia escrito minha coluna defendendo a dedicação dos clubes do futebol brasileiro a programas de pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços, tal qual é feito no mercado corporativo.

Dizia também, que a pesquisa vem antes do desenvolvimento, não só na própria expressão consagrada, mas na prática dos negócios.

Na semana passada, o Flamengo lançou um projeto vanguardista, chamado “Cidadão Rubro-Negro” (www.cidadaorubronegro.com.br) que visa atrair toda a massa de torcedores do clube para uma plataforma da internet, criando um ambiente de relacionamento social interativo e a partir do qual uma série de promoções e benefícios serão oferecidos pelo clube.

O “cidadão” virtual deve fornecer vários dados e preferências pessoais para criar seu perfil no site e isso, por si só, já lhe outorga pontos para acumular e trocar pelos benefícios e interagir em comunidades, compartilhando experiências e contatos com os membros da “nação”.

Não é um simples programa de sócio-torcedor. Existem categorias pagas e uma delas não-paga.

E, por que não-paga? Porque o maior valor do programa não está nessa receita direta de associações, mas sim, nas informações do perfil dos cidadãos, como o próprio site explicita.

“No Cidadão Rubro-Negro a torcida não financia o clube. Ao contrário, o grande valor para o Flamengo transcende um plano de mensalidade. Conhecer a torcida e construir uma imensa base de dados produzirá inteligência de mercado e trará mais receitas para o clube do que qualquer contribuição financeira individualizada dos torcedores”.

A informação é a grande sacada. Principalmente a informação filtrada, depurada, qualificada e vinculada a uma paixão que lhe adiciona muito mais valor.

Os torcedores querem usufruir de um senso de pertinência à realidade do clube e se relacionar com tudo aquilo que lhe diz respeito no dia-a-dia da instituição. Por isso, essa iniciativa possui grande potencial para ser reproduzida por outros clubes, independentemente do tamanho de sua nação – pois a paixão e o interesse, no futebol, não se medem, essencialmente, por isso.

Ademais, os clubes terão acesso a um meio de não só quantificar sua torcida – uma vez que as principais pesquisas realizadas até hoje careciam de maior precisão metodológica e amostragem – mas qualificar: cada torcedor terá um RG completo e detalhado sobre o seu envolvimento com o clube.

Com isso, a própria informação e o seu consequente uso adquirem mais valor de maneira a potencializar receitas de patrocínios e promoções.

Se informação não valesse tanto num mercado cuja conectividade e interatividade digitais imperam, o Google não seria uma das marcas mais valiosas, atualmente, em todo o mundo. E o que ele vende são serviços variados de informação.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Marcos e o penalty do Youtube: avanço ou falta dele

Olá amigos,

Na última semana, o goleiro Marcos, do Palmeiras, voltou a ser notícia de destaque, após pegar um pênalti contra o Atlético-MG, e, principalmente, pelo que disse após defender a cobrança.

Marcos disse: “Estudamos o que cada um faz. Quando a paradinha era novidade, tudo bem. Era bom para os atacantes, mas hoje em dia não é. Hoje existe internet, YouTube e nós podemos observar os batedores”.

Pode-se dizer que não é um fato extremamente novo no futebol. É curioso e, talvez, inédito no Brasil, mas existem outros exemplos de goleiros que se utilizam de recursos tecnológicos para mapear os estilos e cobranças de seus adversários.

No fim do ano passado, o goleiro Marco Amelia, do Palermo, da Itália, após defender uma penalidade de Ronaldinho Gaucho, afirmou que, no momento da cobrança, o atleta brasileiro executou movimentos muitos similares aos de um jogo de videogame.

“Foi como se estivesse jogando contra Ronaldinho no Playstation. Ele fez o mesmo movimento, a mesma corrida para a bola, muito estranho. No último instante, vi que ele havia mudado o canto e, então, mudei também o movimento, indo na bola e fazendo a defesa. Olhei nos olhos dele e pensei que ele iria bater no outro canto, mas quando o vi mudando a posição do pé, percebi que ele decidira mudar a batida”. Amelia quase defendeu outro pênalti, no mesmo jogo, também cobrado por Ronaldinho.

No começo deste ano, na final da Copa da Liga Inglesa, o goleiro Foster, do Manchester United, disse ter utilizado vídeos, desta vez por meio de um Ipod, para identificar o estilo dos batedores.

“Tentamos descobrir tudo sobre o adversário. E pouco antes do início das penalidades, eu olhei vídeos em um iPod com Eric Steele, treinador de goleiros. Acompanhei algumas cobranças de jogadores do Tottenham, inclusive, de O’Hara”.

Devemos espetacularizar a iniciativa de Marcos, e desses outros goleiros?

Por um lado podemos dizer que sim, que mostra o quão envolvidos os atletas estão com o jogo, estudando os adversários, se preparando com vídeos, colhendo informações e o que for possível sobre determinado jogador. Isso ressalta a qualidade e justifica o porque de um goleiro como Marcos ter o sucesso que tem, para além do carisma, sustentado por resultados.

E, porque eu acredito que, por outro lado não deva ser encarado como um aspecto positivo? Única e exclusivamente por se restringir a profissionais e craques de futebol que fazem de sua dedicação o diferencial.

Seria riquíssimo se todos os atletas agissem como Marcos, mas muito mais do que isso, que os clubes tivessem uma estrutura e os profissionais que gerenciam, planejam e desenvolvem os trabalhos nas equipes dessem valor a questões como essa que, conforme defendemos em outros textos, fazem parta de uma Central de Inteligência de Jogo (CIJ).

A CIJ deveria ser uma estrutura do clube, assim como os aparelhos de musculação. Uma estrutura que permitisse coletar, armazenar e interpretar as informações de jogo, sejam elas vídeos, estatísticas, scout, relatórios, depoimentos, ou o que quer que possa ser transformado em estratégia. Talvez seja a falta de um profissional com a qualidade de observar fatos e transformá-los em informações, mas enfim, investir em capacitação profissional é também investir na estrutura do clube.

Algumas agremiações, que justiça seja feita, já possuem um Data Center, ou uma central de vídeos. Mas, mais do que isso, é importante que essa estrutura seja realmente aplicada, que faça parte da “filosofia de jogo” das comissões técnicas.

Ouvi, certa vez, o professor João Batista Freire (não me recordo os atores referenciados à época), falando sobre pedagogia do movimento, explicar que uma empresa ou um adulto podem construir um belo e dinâmico brinquedo, mas que esse só vai se tornar realmente um se a criança utilizá-lo e transformá-lo em objeto de sua brincadeira. É ela que vai fazer o uso, que quase sempre difere daquela ideia bruta e inicial de quem o desenvolveu.

É imprescindível que os técnicos queiram brincar. Um dado, um fato, só se transforma em informação quando é utilizado por quem interfere no jogo, por quem brinca.

E para não assustar aqueles que ainda acham que o futebol corre o risco de ficar extremamente tecnológico e sem graça, lembramos que o papel que o Youtube ou o Ipod desempenharam para Marcos e Foster era muito bem desempenhado pelo preparador ou goleiro reserva que ficava atrás do gol com um papel com as anotações sobre os batedores. Só que hoje, além da informação, é mais fácil memorizar o estilo com a facilidade de armazenamento da imagem.

Sobre o Youtube existem ainda outras possibilidades já em uso, abordaremos num próximo texto.

[i]
Marcos revela que Youtube é sua arma para estudar cobranças de pênaltis

[ii]
 
https://seguro.lancenet.com.br/noticias/09-03-02/498406.stm

[iii]
http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/italiano/0,,MUL884541-9848,00-GOLEIRO+QUE+PAROU+RONALDINHO+USOU+VIDEOGAME+PARA+DEFENDER+O+PENALTI.html

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O reflexo do Brasil

Nesta manhã de segunda-feira, em São Paulo, o Grupo Pão de Açúcar celebra a assinatura do contrato de patrocínio com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O acordo vai até a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no país, e renderá cerca de US$ 5 milhões ao ano para os cofres da CBF.

Para quem esteve, há menos de dez anos, ameaçado de perder o cargo e ir para a cadeia, a assinatura de mais um contrato de patrocínio deveria ser motivo de orgulho. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, conseguiu uma das mais vitoriosas histórias no cenário empresarial brasileiro. Saiu do inferno para comandar o céu.

A Copa do Mundo de 2014 é hoje o pretexto para que a CBF e, consequentemente, Teixeira, tornem-se objeto do desejo de políticos e empresários. Decisões de quem pode ou não se beneficiar com a verba e o prestígio do Mundial tupiniquim cabem exclusivamente ao manda-chuva do futebol nacional.

E a celebração de mais um contrato de patrocínio para a CBF é um reflexo do que é o Brasil. Uma terra de absurdos contrastes, em que os mais ricos ficam ainda mais ricos e não se preocupam em dividir parte de sua riqueza com os mais necessitados.

Só em 2008, a CBF tinha quebrado o recorde de arrecadação na sua história. Com a Copa do Mundo confirmada no país, a entidade viu saltar o número de patrocínios e, também, aumentarem os valores pagos pelos patrocinadores que já estavam com ela. A consequência disso: a entidade teve um lucro recorde de R$ 32 milhões.

Com a sobra do dinheiro, o que fazer? Uma das medidas tomadas foi comprar um jato de US$ 10 milhões para a entidade. A justificativa é de que o avião facilitaria as viagens dos membros da Fifa que estarão por aqui para visitas das sedes da Copa. Só que as escolhas já estão feitas e, ao mesmo tempo, as viagens são cada vez mais raras.

Enquanto isso, os clubes que disputam as séries C e D do Campeonato Brasileiro sofrem para conseguir realizar suas viagens e disputar um campeonato que não seja deficitário. Isso sem falar no futebol feminino, que mal tem um torneio para disputar.

A CBF se comporta como um novo rico. Com muito dinheiro, em vez de ajudar o próximo, se preocupa em ostentar a riqueza. E a imprensa, quando denuncia a farra que é feita com esse dinheiro, é chamada de patrulheira.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A “consciência tática” do jogador de futebol e a ação do treinador

(…) como diria um dos nossos bons treinadores, “treinador que tem que ficar gritando na beira do gramado durante o jogo é porque não trabalhou direito durante a semana”

Dia desses no Café dos Notáveis, um deles (dos notáveis) me chamou a atenção, apontando que, mais uma vez, em letras garrafais, um jornal fazia referência ao fato de que muitos treinadores brasileiros continuam a defender a tese de que os jogadores europeus e os argentinos têm “mais consciência tática” do que os brasileiros.

Sem entrar no mérito conceitual sobre o que seja a tal “consciência tática”, o fato é que essa “fala” de alguns treinadores é recorrente. Até alguns dos mais renomados, quando colocados na parede para justificar uma ou outra decisão tática, ou um ou outro comportamento da equipe, profere a frase pronta, comparando a consciência tática do jogador brasileiro com a do europeu.

Chamo a atenção, então, para duas coisas.

Primeiro, ainda que meu objetivo não seja discutir conceitualmente o que é consciência tática, vejo ser necessário, sem dizer o que ela é (ou deveria ser), dizer ao menos, o que ela não é. Alguns treinadores (e não só eles) a confundem com os seus próprios desejos equivocados e precipitados de que os jogadores se comportem em campo como “robôs”, programados para receber ordens e realizar ações pré-determinadas, sem pensar, obedientes.

Nesse caso, a consciência tática acaba sendo tomada erroneamente como “obediência tática”. E aí já não poderíamos dizer que os jogadores europeus são mais obedientes, porque, na verdade, pelo contrário, são estimulados a pensar, interagir, tomar decisões e participar ativamente da construção da equipe. Então, não! Nem a consciência tática deve ser confundida com obediência tática, nem nessa perspectiva poderíamos dizer que os europeus ou argentinos são mais (obedientes), porque o que costumam mostrar é autonomia.

Em segundo, diria que se não tomarmos, então, a consciência tática como obediência (porque ela não é!), mas a aproximarmos da ideia de uma percepção e entendimento do jogo em suas circunstâncias, por parte dos jogadores, teremos que atestar que a falta dela (da” consciência tática”) é incompetência de quem gere, tanto o processo de formação de jogadores, quanto a construção e treinamento de uma equipe profissional.

Se os jogadores são estimulados, mecanicamente, a cumprir tarefas, aprenderão “roboticamente” a agir assim – “controlados remotamente”. A melhor percepção e entendimento do jogo é algo que se constroi, com a ação do treinador. Então, dizer que o jogador brasileiro tem “menos consciência tática” do que o europeu ou o argentino é o mesmo que concordar que a ação do gestor de campo no Brasil é pior do que a do gestor de campo na Europa ou Argentina.

Recentemente, como já escrevi nesse espaço, renomados jogadores brasileiros (campeões mundiais, inclusive), que por muito tempo estiveram jogando na Europa, afirmaram que nossos jogadores aprendem mesmo sobre tática quando vão jogar no Velho Continente.

Não vou entrar na essência dessa discussão. O fato é que, enquanto tratarmos nossos jogadores como inaptos, menos inteligentes ou “burros”, seremos incapazes de perceber e resolver o problema real – que está na maneira com que são estimulados na preparação para o jogar.

E para isso não há saída: ou mudamos a abordagem, ou continuaremos reforçando os mesmos jargões de sempre.

E aí, não tem jeito, porque enquanto treinadores (claro, que existem inúmeras exceções!) continuarem achando que os jogadores europeus têm “mais consciência tática” do que os jogadores brasileiros, continuarão também acreditando que os gritos (berros!) na beira do gramado sempre serão o melhor controle remoto – e que ter controle remoto é essencial.

Mas sempre há salvação. E como diria um dos nossos bons treinadores, “treinador que tem que ficar gritando na beira do gramado durante o jogo é porque não trabalhou direito durante a semana”.

É isso…

E viva a autonomia!

Para interagir com o autor: rodrigo@149.28.100.147

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A "consciência tática" do jogador de futebol e a ação do treinador

(…) como diria um dos nossos bons treinadores, “treinador que tem que ficar gritando na beira do gramado durante o jogo é porque não trabalhou direito durante a semana”

Dia desses no Café dos Notáveis, um deles (dos notáveis) me chamou a atenção, apontando que, mais uma vez, em letras garrafais, um jornal fazia referência ao fato de que muitos treinadores brasileiros continuam a defender a tese de que os jogadores europeus e os argentinos têm “mais consciência tática” do que os brasileiros.

Sem entrar no mérito conceitual sobre o que seja a tal “consciência tática”, o fato é que essa “fala” de alguns treinadores é recorrente. Até alguns dos mais renomados, quando colocados na parede para justificar uma ou outra decisão tática, ou um ou outro comportamento da equipe, profere a frase pronta, comparando a consciência tática do jogador brasileiro com a do europeu.

Chamo a atenção, então, para duas coisas.

Primeiro, ainda que meu objetivo não seja discutir conceitualmente o que é consciência tática, vejo ser necessário, sem dizer o que ela é (ou deveria ser), dizer ao menos, o que ela não é. Alguns treinadores (e não só eles) a confundem com os seus próprios desejos equivocados e precipitados de que os jogadores se comportem em campo como “robôs”, programados para receber ordens e realizar ações pré-determinadas, sem pensar, obedientes.

Nesse caso, a consciência tática acaba sendo tomada erroneamente como “obediência tática”. E aí já não poderíamos dizer que os jogadores europeus são mais obedientes, porque, na verdade, pelo contrário, são estimulados a pensar, interagir, tomar decisões e participar ativamente da construção da equipe. Então, não! Nem a consciência tática deve ser confundida com obediência tática, nem nessa perspectiva poderíamos dizer que os europeus ou argentinos são mais (obedientes), porque o que costumam mostrar é autonomia.

Em segundo, diria que se não tomarmos, então, a consciência tática como obediência (porque ela não é!), mas a aproximarmos da ideia de uma percepção e entendimento do jogo em suas circunstâncias, por parte dos jogadores, teremos que atestar que a falta dela (da” consciência tática”) é incompetência de quem gere, tanto o processo de formação de jogadores, quanto a construção e treinamento de uma equipe profissional.

Se os jogadores são estimulados, mecanicamente, a cumprir tarefas, aprenderão “roboticamente” a agir assim – “controlados remotamente”. A melhor percepção e entendimento do jogo é algo que se constroi, com a ação do treinador. Então, dizer que o jogador brasileiro tem “menos consciência tática” do que o europeu ou o argentino é o mesmo que concordar que a ação do gestor de campo no Brasil é pior do que a do gestor de campo na Europa ou Argentina.

Recentemente, como já escrevi nesse espaço, renomados jogadores brasileiros (campeões mundiais, inclusive), que por muito tempo estiveram jogando na Europa, afirmaram que nossos jogadores aprendem mesmo sobre tática quando vão jogar no Velho Continente.

Não vou entrar na essência dessa discussão. O fato é que, enquanto tratarmos nossos jogadores como inaptos, menos inteligentes ou “burros”, seremos incapazes de perceber e resolver o problema real – que está na maneira com que são estimulados na preparação para o jogar.

E para isso não há saída: ou mudamos a abordagem, ou continuaremos reforçando os mesmos jargões de sempre.

E aí, não tem jeito, porque enquanto treinadores (claro, que existem inúmeras exceções!) continuarem achando que os jogadores europeus têm “mais consciência tática” do que os jogadores brasileiros, continuarão também acreditando que os gritos (berros!) na beira do gramado sempre serão o melhor controle remoto – e que ter controle remoto é essencial.

Mas sempre há salvação. E como diria um dos nossos bons treinadores, “treinador que tem que ficar gritando na beira do gramado durante o jogo é porque não trabalhou direito durante a semana”.

É isso…

E viva a autonomia!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Vai mudar?

Existem dois motivos que dão suporte à transição do calendário do Campeonato Brasileiro para o formato Europeu. O primeiro, e mais óbvio, é a adequação às janelas de transferências. Jogadores que hoje saem no meio do Brasileirão poderão sair no começo ou no fim, sem afetar a montagem do time. O segundo motivo é a possibilidade de clubes brasileiros começarem a disputar amistosos e torneios de pré-temporada, coisa que vem crescendo, apesar de tudo indicar que não deve durar muito, dada a ligeira insipidez dessas competições.

O primeiro movimento para essa mudança foi dado. A CBF acenou com a possibilidade. A imprensa comemorou.

Mas há motivo para preocupações.

Se dois motivos dão suporte à mudança, pelo menos, outros cinco sugerem que essa alteração do calendário pode gerar alguns efeitos negativos. Vamos a eles:

1) Motivação: ao que tudo indica, a ideia já existente da adequação do calendário só veio a acontecer mesmo por causa do pedido que o presidente Lula fez a Ricardo Teixeira, que prometeu estudar a sugestão. E Lula pediu isso porque viu seu time do coração, campeão da Copa do Brasil, e, até poucas semanas atrás, também candidato ao título brasileiro, vender alguns titulares e começar a jogar mal. Se isso tivesse acontecido com outro time, é possível que Lula não fizesse o pedido.

Além do que, Lula pode até ser um grande torcedor e acompanhar bastante os jogos, mas está longe de ser um profundo conhecedor sobre a dinâmica da matéria.

A motivação, portanto, é fraca. O pensamento é extremamente superficial. E quando uma transformação com essa profundidade tem esse tipo de motivação, a tendência de dar problemas é grande.

2) Geografia: existe uma razão clara para que a temporada européia comece em agosto e termine em maio, e ela se chama verão. Não há futebol no mundo que possa competir com o verão e com as férias escolares. No verão, o público não sustenta o jogo. A praia ganha mais força, o sol fica até mais tarde e as pessoas tendem a assistir menos televisão. Muita gente faz viagens longas. Nessa época, o futebol perde valor tanto como evento físico, dentro do estádio, como produto de entretenimento, como a televisão. Em suma, no verão existe muito mais coisa pra fazer do que assistir uma partida de futebol. E no inverno, que não tem nada pra se fazer, também não vai ter futebol.

3) Público: com mais opções de lazer, viagens e afins, o futebol tende a perder o público casual, ficando relegado ao público mais ligado ao clube, ou seja, àqueles mesmos torcedores de sempre que já não têm mais produtos pra consumir. Isso é ruim. Pior é que nas férias de final de ano, ninguém quer gastar mais dinheiro que não seja em presentes e coisas do tipo.

Algumas empresas, possivelmente, perderão interesse em ter camarotes entre dezembro e o carnaval. A classe média vai para a praia, e para lá também vão os anunciantes e aqueles interessados em fazer ações promocionais. O futebol certamente perde valor corporativo.

4) Transferências: Jogadores continuarão a ir embora. Com a adequação do calendário de jogos à Europa, também ocorrerá a adequação do calendário de preparação física, o que pode incentivar clubes de fora a contratarem brasileiros no meio do campeonato sem ter receio em relação ao esgotamento físico dos jogadores.

Além do que, eles também podem focar na contratação do meio da temporada para poder haver tempo suficiente de adaptação ao país e à cultura antes do ano seguinte. Isso já aconteceu com o Pato e com o Thiago Silva. Pode vir a acontecer ainda mais.

5) Eleições: Não sei exatamente qual é a dificuldade em se mudar datas de eleições no estatuto de um clube, mas certamente que alguns clubes terão que alterá-las para não correrem o risco de trocar de presidente no meio do campeonato.

Existe, obviamente, muita coisa a mais. E os pontos aqui também merecem um debate mais aprofundado, com mais tempo e pontos-de-vista. Com exceção, é claro, do primeiro, que não é especulação, é fato. E esse é justamente o que mais preocupa, porque enquanto o futebol brasileiro continuar obedecendo a eventuais leviandades dos tomadores de decisão, nada vai melhorar. Nem se mudar o calendário.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A melhor coisa que não aconteceu

Você já parou para se perguntar qual foi a melhor coisa que não lhe aconteceu?

Fomos educados e estamos acostumados a esperar positivamente pelas coisas.

Positivamente, entenda-se aqui, como algo que acontece em contraposição ao que deixa de acontecer.

Mas, será que os não-acontecimentos também não seriam valiosos para a evolução das pessoas e, na mesma esteira, de nossas instituições?

No Estado do Paraná, um episódio marcante pode ilustrar como esses não-acontecimentos podem provocar reações positivas.

Em 1995, o Atlético-PR sofreu uma humilhante goleada de 5 x 1 para o seu maior rival, o Coritiba, e ficou fora da disputa do título estadual.

Dirigentes do clube, liderados pelo já mítico Mario Celso Petraglia, reuniram-se para lançar as bases de uma revolução administrativa no clube, impulsionando-o para a organização, a infraestrutura e os títulos.

À parte dos resultados alcançados ao longo dos quase 10 anos seguintes, o que realmente interessa, é a postura transformadora adotada por esses dirigentes a partir de uma situação esportiva isolada, porém, representativa de uma gestão anterior que não funcionava ao longo dos anos.

Até hoje, os torcedores do Atlético-PR “agradecem” pela goleada sofrida frente ao maior rival.

Nem só com processos administrativos absolutamente planejados como nós queremos é que se move o mundo. Às vezes, são necessários saltos evolutivos e não-acontecimentos daquilo que esperávamos acontecer automaticamente.

O aleatório também está presente em nosso cotidiano – muito mais do que supomos, e também provoca e influencia reações em nossas atitudes ou omissões – queiramos ou não.

Na linguagem “boleira”, quando se está numa situação muito difícil, sem vitórias, sem títulos, costuma-se dizer que “se o time perder hoje, até a cozinheira e o roupeiro vão cair…”.

Nesse sentido, quem sabe, realmente exista um lado muito positivo de não-acontecimentos para o seu clube.

Portanto, na próxima vez em que for “secar” o treinador para não acontecer de ganhar determinada partida e ser demitido, pode valer a pena que você inclua nesses pensamentos os seus dirigentes.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Processo digestivo do impacto tecnológico: os receios não são exclusivos do futebol

Olá amigos.

Em janeiro deste ano, foi publicada uma lei (nº 11.900) que permite aos juízes (juízes mesmo, não os árbitros de futebol) optar por ouvir os depoimentos dos presos por meio de videoconferências.

A medida prevê uma análise dos riscos de segurança que o réu oferece, das condições de saúde do mesmo entre outros aspectos.

A adoção desta tecnologia vem causando grandes polêmicas e focos de discussão. Apesar de não tratar especificamente do futebol, ainda que desejemos que alguns envolvidos com o esporte bretão estivessem na condição de usuários dessa tecnologia enquanto presos (mas isso é outra história), o ambiente criado em torno dessas polêmicas nos mostra que não é exclusividade da modalidade gerar crises com a adoção ou não de recursos tecnológicos.

Retomamos a ideia do processo digestivo do impacto tecnológico, e das dificuldades de nós, seres humanos, em lidar com o novo, ou ainda, em aceitar que precisaremos nos atualizar profissionalmente para fazer algo que sempre fizemos.

Vejamos mais um pouco da repercussão sobre a lei em questão. Seus defensores apresentam números  sobre a liberação de 900 policiais que retornariam às ruas, mais as viaturas que estariam livres para ajudar no policiamento, a diminuição dos gastos com os deslocamentos para a realização das audiências entre presos, advogados e juízes, sem contar a diminuição do risco das eventuais tentativas de resgates por parte de grupos criminosos.

Seus críticos argumentam que isso tira a possibilidade do contato “olho no olho” entre juiz e preso, o que pode ajudar o juiz a interpretar a sinceridade do depoimento. Outro argumento levantado é sobre os prejuízos causados pelo o fato do advogado estar ao lado do juiz e não do preso durante a sessão, restringindo sua atuação mais próxima ao seu cliente. Em síntese, a restrição de uma análise “humana” como dizem alguns críticos.

Analisando o contexto em si, é possível identificar elementos comuns com a prática do futebol e, novamente, destacar que, cada vez mais, fica evidente e repetitivo que o profissional que se atentar a essas questões e antecipar-se ao movimento estará em destaque quando ficar inevitável a necessidade de pessoas que saibam lidar com os novos recursos. Esse saber lidar significa utilizar suas habilidades e competências tirando o máximo de proveito dos recursos, porque como já disse Dirk Wolter “nada funciona se não fizermos realmente funcionar”.

A adoção da tecnologia, dos processos de gestão, dos estudos aprofundados, da compreensão do que as ciências humanas podem dar ao futebol, enfim, a compreensão de que o futebol deve ser entendido como um todo e não apenas como fatores isolados, contribui para uma série de aspectos:

– diminuição de custos de viagem com análise de adversários e prospecção de jogadores;

– diminuição dos custos operacionais e administrativos por meio de instrumentos mais precisos e eficazes de gestão, controle e comunicação;

– diminuição do tempo gasto pelos profissionais para coletar informações de âmbito físico, técnico e tático, conseguintemente, aumentando o tempo do profissional para usar suas competências na analise em si dos dados e na elaboração de intervenção e estratégias, isto é, aumento do tempo destinado a intelectualidade da função, deixando o trabalho “braçal” de coleta de dados para recursos muito mais precisos e detalhistas que nós, seres humanos (lembrando que somos nós que dizemos o que o computador deve fazer).

Muitos outros aspectos podem ser citados, o que precisamos é não nos tornarmos presos de nossas próprias limitações, pois, se assim for, nem as videoconferências nos ajudariam.

¹ (fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3438467-EI5030,00.html)

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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A pessoa certa para um lugar incerto

Na Cimeira (1) Européia de Estocolmo (já lá vão oito anos!), concluiu-se pela necessidade de estabelecer, na União Européia (UE), rigorosos padrões de competência, que respondam aos prementes desafios da Sociedade da Informação. É que, assinalou-se também naquela Cimeira, a UE registra crescente consciência de uma economia dolorosamente fruste (2), por escassez de competência, que se manifesta na aversão e temor pela inovação. Os países com mais favoráveis indicadores, neste campo da inovação, são a Finlândia, a Suécia e a Dinamarca. Portugal ocupa, na Europa, o 17º lugar – uma baixa “performance” e que decorre, entre muitos outros motivos, de um ensino centrado na memorização e na repetição.

No século XVIII, um corregedor de Viseu dizia para o sábio Linck, em digressão pelo nosso País: “Portugal é pequenino, mas é um torrão de açúcar”. No entanto, porque a inovação supõe estudo e trabalho, não nos podemos contentar unicamente com o que é doce, com o que é blandífluo(3) ao paladar. Assim como “assistimos a uma mudança socioeconômica radical, materializada na formação da nova Sociedade da Informação cujo cerne é uma economia baseada no conhecimento”, assim também o futebol há de fundamentar a sua prática num conhecimento atualizado.

Não sei se alguns treinadores se consideravam profundamente lisonjeados quando alguns atrevidos chamavam ao futebol uma “ciência oculta”. É que, na realidade, ele era mesmo uma “ciência oculta” para os que tentavam praticá-lo, quer como atletas, quer como treinadores. Perguntas há que ninguém no futebol fazia. Como esta: o desporto tem, predominantemente, a ver com as ciências da natureza, ou as com as ciências lógico-formais, ou com as ciências humanas?

E porque a questão não se levantava a metodologia, usada nos treinos, estava profundamente errada. Comecei então a lecionar nas minhas aulas e a escrever nos meus livros que o desporto, só à luz das ciências humanas, poder-se-ia estudar e entender.

Não fazia sentido que, no desporto, o atleta fosse um singelo títere, nas mãos do treinador onipotente que o pretendia transformar numa simples máquina. E dizia (e escrevia) mesmo: o desporto não é uma “atividade física”, mas uma “atividade humana”. E tornava mais explícita a minha prosa, acrescentando: e também não há “educação física”, mas “educação de pessoas em movimento intencional”.

Com isso, discordava abertamente do chamado “treino analítico”, que separava o treino físico do treino técnico e tático e psicológico. E aconselhava os alunos à criação de exercícios onde a complexidade humana estivesse presente. Tudo isso se passou, há trinta anos!

No livro de Luís Lourenço e Fernando Ilharco, Liderança: as lições de Mourinho (p. 88) dá-se a conhecer o que eu ensinava (há trinta anos, repete-se) aos meus alunos:

–     A unidade prática-teoria
 
–     A complexidade presente em todos os momentos da prática desportiva;
 
–     O desporto como movimento em busca permanente da superação e como subsistema de uma ciência humana;
 
–     A denúncia de uma preparação física desinserida da globalidade do treino;
 
–     O diálogo aprofundado e constante entre o desporto e as outras ciências humanas;
 
–     A expressão hegeliana “a verdade é o todo”;
 
–     A necessidade de uma “revolução” nos currículos dos cursos de treinadores e das licenciaturas em desporto;
 
–     O respeito pela pluralidade dos modos de conhecimento, devendo respeitar-se e estudar-se o saber de treinadores de grande prática e de sucesso inquestionável.

E repisava, para os alunos, o seguinte: o fato da vossa licenciatura em Desporto não vos garante que podereis ser um dia treinadores de mais sucesso do que alguns treinadores, sem habilitações universitárias. Quando assim lhes falava, eu recordava-me do que tinha aprendido com José Maria Pedroto, Mário Wilson, Telê Santana, e outros que, não possuindo licenciatura em Desporto, eram autênticos “profissionais do êxito”. E por quê? Porque dotados de coragem, de perspicácia, de capacidade de liderança, qualidades indispensáveis à alta competição.

Não basta estudar para ser a pessoa certa para um lugar incerto (o lugar de treinador de futebol): precisas são outras “virtudes” que não se aprendem nos bancos da Universidade.

Eu tenho autoridade para escrever o que escrevi, porque me considero um universitário que muito aprendeu com alguns homens do futebol.

(1 ) Cimeira – reunião de cúpula
(2 ) Fruste – ordinário, de qualidade inferior
(3) Blandífluo – que corre branda e suavemente


*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Cam
pus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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Organização tática: em busca da desordem e do equilíbrio

Uma “velha máxima” do futebol, muito comum e que atravessa os tempos, diz que uma equipe para jogar bem, e conquistar vitórias, precisa ser “equilibrada”.

E não importa se a frase é dita por comentaristas especializados ou treinadores de futebol, o fato é que, há um aparente consenso e uma aparente obviedade nessa máxima.

Quando dizem que uma equipe precisa ser equilibrada, nada mais querem dizer que, ataque e defesa precisam se completar, pois não adiantaria ataque envolvente com defesa vulnerável, ou defesa intransponível com ataque que não faz gols.

Aparentemente, esses sucintos argumentos até fazem sentido.

Mas façamos algumas reflexões.

O objetivo máximo do jogo é fazer gols. E por mais que, o que vou escrever agora pareça pouco profundo, inadequado ou decepcionante, garanto que não é.

Muitas equipes de futebol, treinam orientadas para não sofrer gols, e fazer gols. Isso parece óbvio. Se não sofrer gols, e fazer gols, a equipe vence o jogo.

Mas será que é isso mesmo, e ponto?

Antes de continuar com minha reflexão quero lembrar a fala de uma grande empresária brasileira, em entrevista a uma revista de grande circulação no território nacional. Em algum momento, tentando explicar o sucesso de sua maneira de administrar, ela disse que quando criança, sempre que queria comprar alguma coisa tida como “cara” e não tendo dinheiro, nunca ouvia de sua mãe que a tal coisa era “cara”, mas sim que, se ela queria a tal coisa, precisava ganhar mais dinheiro para poder comprá-la.

Claro, não quero discutir aqui o Capitalismo. Não, por favor! O que quero mostrar é que aquilo que a mãe da empresária dizia a ela, quando criança, de certa forma influenciou seu comportamento diante de alguns desafios, e logo também, suas decisões. Ao invés de dizer “deixe isso pra lá, filha, é muito caro”, ela dizia “quer comprar? – então precisa ganhar mais dinheiro”.

Ok. Mas o que isso tem a ver com o futebol?

Voltemos então às reflexões.

Quando uma equipe de futebol se propõe a não sofrer gols, e a fazer gols, está ela se aproximando daquilo que orienta a lógica do jogo, que é “fazer gols”? Se o objetivo do jogo é o gol, não faria mais sentido pensar em “fazer mais gols do que o adversário”, e não em “fazer gols e não sofrer”?

A diferença parece sutil e para algumas pessoas, até imperceptível, mas quando o comportamento de uma equipe de futebol está orientado para fazer gols, as decisões individuais dos seus jogadores e a da própria equipe serão influenciadas por isso.

Tentarei ser mais claro.

Quantas vezes uma equipe acaba conseguindo o gol, em momentos específicos do jogo, quando ela precisa muito marcá-lo, ou quando perder por um ou nove gols de diferença não muda nada? Quantas vezes, em um comportamento aparentemente desesperado de tudo ou nada, um time, depois de tanto tentar alcançar a meta adversária, consegue fazer um gol?

O fato, é que equipes de futebol, em sua maioria, quando precisam muito fazer um gol, e têm suas decisões orientadas por isso, acabam apresentando um comportamento técnico, tático, físico, psicológico distinto do que normalmente apresentam.

Esse comportamento, deixa de ser, o de grande preocupação em não sofrer gols e tentar marcá-los, para o de fazer gols, mais do que o adversário.

Não, não estou louco; mas essa sutil (ou aparentemente sutil) alteração muda totalmente o significado coletivo da ação.

Tratar a vitória como o objeto caro (analogamente a fala da empresária que mencionei), faz com que as equipes, mesmo “economizando”, se distanciem dela.

E aí volta a velha máxima do futebol, de que as equipes precisam ser “equilibradas”. Não discordo que isso possa fazer algum sentido (e faz!), mesmo a partir de teorias sistêmicas (o que não vou discutir hoje) – ou somente por elas. Mas, sob o ponto de vista em que o tal “equilíbrio” é discutido, não tenho dúvidas, há problemas.

Não devemos entender o equilíbrio como uma complementação de tarefas entre o ataque e a defesa de uma equipe – afinal o objetivo máximo do jogo é fazer gols!

O que precisamos compreender é que uma equipe, é uma unidade complexa, que possui uma identidade coletiva. Durante um jogo de futebol, essa identidade é posta a prova. Para mantê-la intacta, é necessária uma constante busca pela manutenção do equilíbrio dessa unidade.

Esse equilíbrio sofre abalos permanentes, de maneira que, para manter sua identidade, uma equipe atinge a cada instabilidade, um novo estado de ordem; e a cada novo estado de ordem, mais “robusto” fica o seu equilíbrio.

Isso quer dizer, em outras palavras, que em um sistema, como é uma unidade complexa (a equipe de futebol), a desordem é que leva ao progresso!

Bom, mas isso é uma outra discussão…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br