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A sobrecarga no treinamento através de jogos

Recentemente, apresentei em um evento alguns treinos pautados nas teorias da complexidade, com exercícios de treino subordinados ao jogar pretendido pelas equipes (integrando questões táticas, físicas, técnicas e psicológicas)

Foi muito interessante a repercussão da minha explanação. Para cada exercício, diversos detalhes, algumas filmagens e ?scouts? em diversas dimensões do jogo.

Como estavam presentes muitos preparadores físicos, o que mais chamou a atenção do público foi a quantificação ?física? das atividades de treino.

Trago então para nossa coluna deste sábado um dos exercícios de uma sessão de treino da quarta semana, do mês número quatro da programação de treinos, já em um nível de complexidade maior, com regras mais elaboradas e exigentes.

Dentro do jogar da equipe, uma das propostas estava na realização de ?pressing? em profundidade, com jogo zonal e recuperação da bola em linhas mais adiantadas.

Esse exercício foi realizado respeitando uma sequência lógica definida, tanto na sessão de treino, quanto na semana, mês e ano de trabalho.


Durante a atividade, conforme podemos observar, cada jogador percorreu em média 2010 metros (com quase 100 mudanças de direção e oscilações abruptas de velocidade), sendo que um percentual considerável dessa distância foi percorrido em altíssima intensidade.

Não caberão nesse espaço, as curvas de frequência cardíaca e de velocidades a cada metro percorrido.

O fato é que projetando a movimentação dos jogadores dentro do campo de jogo, e comparando tal movimentação com a do jogo formal, notaremos que esse ?exercício? (jogo) proporcionou sobrecarga ?física? para o treinamento dos jogadores ? e não ?só? física, porque propiciou maior número de ações com bola, e exposição a conflitos do jogo de acordo com uma das características do modelo de jogo da equipe que treinava (e acima de tudo, levou o jogador ao estado de jogo).

Existem muitas outras informações e dados a respeito dessa atividade, da sessão de treino e de todo o ano de trabalho. Todas elas mostram que é possível, pautando-se nas teorias da complexidade, e subordinando a preparação do jogador de futebol ao jogo, não só construir atividades mais específicas à realidade competitiva, como também alcançar mais rapidamente melhores resultados na performance do jogador em jogo.

Obviamente, não adianta expor jogadores e equipes a atividades como a descrita, fora de um processo. Toda atividade, toda sessão de treino, devem estar pautadas em um processo definido, em que se sabe o tempo todo onde se está e onde se quer chegar, respeitando uma lógica didático-pedagógica que interaja o tempo todo com o calendário competitivo e as ambições da equipe.

Caso isso não fique claro, a mesma atividade para um grupo de jogadores pode se configurar em sobrecarga em demasia, ou mesmo de extrema insignificância ? o que acabaria por reforçar os desentendidos que confundem isso que estou apresentando, com o clássico treinamento em ?jogo-reduzido?.

Acho que é isso…

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Pontos corridos x Mata-mata

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Um dos pontos polêmicos do modelo de organização das competições nacionais (i.e., campeonato brasileiro) é a formatação do torneio, atualmente realizado em pontos corridos.

O nosso país teve grande tradição e história em campeonatos na forma de mata-mata, isto é, após uma (ou mais) fase(s) classificatória(s), as equipes melhores colocadas passavam a disputar jogos eliminatórios, até a tão esperada disputa final.

Esse modelo de mata-mata, entretanto, do ponto de vista estritamente legal e regulatório, propicia distorções na verificação da justiça dentro das quatro linhas, principalmente, se comparado com a forma de pontos corridos (em que todas as equipes jogam entre si, vencendo aquela que obtiver a melhor campanha).

Assim, de uns anos para cá, a forma de mata-mata do campeonato brasileiro deu lugar aos pontos corridos, à semelhança do que acontece, por exemplo, nas ligas europeias de futebol profissional.

A forma de pontos corridos, de fato, premia a equipe mais regular durante toda a temporada. Vence aquela que mais pontos obtiver. No mata-mata, por vezes, é campeão o time que está em melhor momento na fase eliminatória, podendo vencer tendo somado um número menor de pontos em comparação a outras equipes.

É interessante apontar que a regularidade premiada na disputa de pontos corridos sugere maior segurança jurídica de todos os envolvidos. Em outras palavras, uma equipe regular tende a manter em vigor o contrato de seus jogadores, de sua equipe técnica, etc, ao longo da temporada. Ou seja, a regularidade dentro de campo pode estar diretamente relacionada com a estabilidade contratual dos profissionais do clube.

Assim, entendemos que, do ponto de vista legal, a disputa por pontos corridos é mais coerente e mais justa do que a disputa pelo sistema do mata-mata.

Sob outro prisma, temos a questão comercial. É comum que decisões dessa natureza (escolha da forma da competição) estejam atreladas a uma maior capacidade de geração de receitas.

Esse, entretanto, é um aspecto que foge do escopo da discussão jurídica. Números já foram levantados, existem defensores de uma e de outra forma de disputa. Uns dizem que o mata-mata torna o campeonato mais interessante, com maior arrecadação, principalmente, nas fases eliminatórias. Outros defendem que a disputa por pontos corridos propicia maior número de jogos importantes, com a possibilidade de clubes de baixo da tabela participarem de partidas decisivas no final do campeonato.

A discussão, digamos, mais comercial possui um aspecto jurídico importante a ser ressaltado. Até que ponto a maior geração de receitas pode ser buscada, deixando-se de lado o aspecto da justiça desportiva? Até que ponto pode-se abrir mão de uma forma mais justa de disputa para se obter mais receita?

Acima de tudo, e ainda que se adote uma ou outra forma de disputa no futuro, é preciso ficar atento a discussões dessa natureza para não deixar que os princípios básicos do esporte se percam entre uma e outra cifra.

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Sinestesia esportiva

Muitas pessoas acreditam que a sinestesia é uma doença, mas não é. É um fenômeno sensorial que ocorre por meio da memória e pelo excesso da criatividade.

É o que acontece conosco quando vamos a um evento esportivo efervescente, como uma partida de futebol com estádio lotado.

Sentimos coisas que nos confundem a racionalidade, a lógica entre causa e conseqüência.

Passamos por diversas situações emocionais, aspiracionais, cujo espectro vai do mais positivo ao mais negativo.

As crianças imaginam-se no lugar dos craques dentro de campo. Os adultos imaginam o que fariam, fora do campo, se fossem os craques.

Vitória, derrota, empate, cantos e coreografias da torcida. Tudo tem seu significado particular e provocativo no torcedor que freqüenta os estádios.

Percepções sensoriais que reforçam a tendência do marketing de experiência. Nada mais impactante que o esporte como catalisador para esta vertente de negócios.

Os clubes brasileiros ainda exploram pouco este segmento, mormente na gestão da hospitalidade corporativa, onde as empresas utilizam camarotes e áreas VIP, como relacionamento com sua cadeia de negócios.

Seguramente, o leque de possibilidades é maior, com programas de viagens, competições desportivas que envolvam ídolos do passado e do presente, promoções de acesso às instalações desportivas, jantares, leilões, sessões de autógrafos.

De forma descontrolada, a sinestesia se manifesta a qualquer momento, como, por exemplo, ler uma determinada palavra e sentir o gosto de um doce, ou escrever uma letra e relacioná-la com a cor verde.

A maioria dos sinestésicos é canhota e tem problemas em distinguir o lado direito do lado esquerdo.

O maior desafio dos gestores esportivos é, justamente, desenvolver essa capacidade de distinção, organização e viabilidade de execução de idéias, quando o valor intangível extrapola o planejamento racional.

E tem muita coisa nessa mistura cerebral com poder de geração de receitas para os clubes.

Agora, não confundir sinestesia esportiva com sinestesia administrativa é fundamental.

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Mais do mesmo

O fim de semana com uma série de relatos de violência por todo país ofereceu, mais uma vez, evidências de um problema que o governo, em conjunto com outros órgãos do futebol, se recusa a enxergar: a violência no futebol, hoje, não é dentro dos estádios. A briga acontece fora dele, disseminada por toda área urbana das grandes cidades.

O confronto entre torcedores do São Paulo e Corinthians foi um exemplo. Não havia jogo entre as duas equipes e a briga foi longe de qualquer estádio. Em Porto Alegre, um ônibus com torcedores do Internacional foi baleado na Serra Gaúcha.

Em Curitiba, o jornal Gazeta do Povo fez um levantamento que demonstrou pelo menos quinze diferentes pontos de brigas relacionadas ao clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no último domingo. Nenhum desses pontos foi minimamente perto do estádio Couto Pereira, palco do jogo. Um torcedor atleticano está em coma profundo depois de ter sido atropelado por um torcedor do Coritiba, próximo ao estádio do Atlético-PR. Outros torcedores chegaram a invadir um ônibus na periferia e ordenar que todos os passageiros descessem para que o motorista os levassem até o estádio.

Ainda assim, o governo tenta emplacar o inaplicável cadastro nacional de torcedores como solução mágica para a violência relacionada ao futebol no país.

Pode-se dizer, também, que houve briga dentro de estádio sim, no clássico Botafogo e Flamengo, no Engenhão, entre a própria torcida do Flamengo. De fato, houve. E a polícia interveio. E tudo foi filmado. E nem por isso você viu algum policial pedir qualquer identificação para qualquer um dos envolvidos no problema. Não pediu a carteira de identidade, não pedirá também a carteira de torcedor.

Ademais, como um cadastro nacional de torcedor pode impedir que duas torcidas rivais briguem em um determinado ponto da cidade, a quilômetros do estádio? Não vai. E é aí que está a questão. Não tem como. O problema é maior que o futebol. O problema é social. O problema é cultural. Tudo indica que gastar dinheiro com carteirinha e leitores biométricos seja populista e arbitrário.

O confronto entre as torcidas do Flamengo é também mais uma evidência de como o problema não é a violência do futebol em si, mas sim de um aparato maior que encontra no futebol um canal de expressão, mas não de mobilização, tampouco de sobrevivência.

O futebol serve apenas para que indivíduos propensos a brigar arranjem um motivo. Que poderia ser qualquer outro. Se a educação no Brasil fosse melhor, talvez essas brigas tivessem cunho político e ideológico. Se fosse pior, talvez tivessem cunho religioso.

Infelizmente, não há nada que um clube sozinho possa fazer para solucionar o problema. Ele precisa da colaboração dos outros clubes e das autoridades públicas para cruzarem informações, dados e inteligência. Para que seja possível prevenir ao máximo e punir de maneira efetiva quando for preciso.

Mas, para isso, é preciso ter uma unidade mais forte entre os clubes, coisa que quase não existe. Também é necessário ter uma polícia específica para esse tipo de problema, coisa que também é rara. E, acima de tudo, é importante ter um governo que consiga enxergar e reconhecer o problema de maneira efetiva, consistente e racional, o que existe menos ainda.

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A tática – o Código Da Vinci (!?)

O futebol tem regras que o caracterizam como jogo. Jogado em qualquer lugar do mundo, respeitando-se oficialmente estas regras, ele traz à tona problemas para serem resolvidos.

Ainda que muitos desses problemas (que vou chamar de problemas primários) tenham em seus cernes as mesmas origens, as soluções para eles, em culturas de jogo diferentes, têm sido também diferentes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que, em “centros futebolísticos” específicos (por exemplo, América Central, América do Sul, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África, etc. e também alguns “países polarizadores” dentro desses “centros”) as dinâmicas do jogo de futebol evoluíram de maneiras distintas.

Essa evolução trouxe à tona o que vou chamar de “problemas secundários” do jogo. Não são secundários porque são menos importantes; são secundários, porque surgiram das diferentes dinâmicas que foram nascendo e se desenvolvendo (com suas particularidades) nos diferentes “centros futebolísticos”, a partir dos problemas primários.

Então, enquanto os “problemas primários” surgiram das regras formais do jogo, os “problemas secundários” surgiram das dinâmicas de jogo das equipes para solucionar os problemas primários.

Os “problemas secundários” deveriam servir ao jogo (e sua lógica!), assim como servem os “problemas primários”.

Isso quer dizer, que quando uma solução a um problema secundário, não consegue dar conta de resolvê-lo, dever-se-ia buscar uma resposta associada ao problema primário, e não a ajustes que solucionem o problema secundário.

Em outras palavras, em “centros futebolísticos” distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas. Porém, quando se busca a solução para problemas que não estão sendo resolvidos nas próprias dinâmicas do jogo das equipes, é possível que mesmo encontrando as respostas,  estas sirvam mais para a manutenção de uma forma de jogar das equipes, do que para resolver questões do jogo – apesar de muitas vezes resolvê-las (?!).

Isso se torna um problema muito grave e evidente, quando equipes de culturas de jogo diferentes entram em confronto.

Infelizmente, com tantos jogadores “selecionáveis”, de distintas nacionalidades concentrados especialmente no futebol europeu, as Copas do Mundo de Futebol não têm mais evidenciado esses problemas. Em competições como a Champions League, Copa da Uefa (que mudou de nome), Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes isso é mais aflorado – e talvez explique porque alguns treinadores tem mais sucesso do que outros nessas competições.

O fato, é que os problemas secundários, tendo como “pais” as dinâmicas das equipes e não o jogo, acabam por gerar, quase que espontaneamente, respostas que muitas vezes distanciam a solução da essência do jogo.

E aí, o de sempre: equipes ganham e perdem sem saber por quê.

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O conceito de clube-empresa pelo mundo

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Devido ao grande interesse por parte dos nossos leitores no tema do Clube-empresa no futebol, voltamos a escrever a respeito.

O clube-empresa é uma forma de organização das entidades de prática desportiva (clubes) na forma de sociedades empresárias com finalidade lucrativa. Historicamente, os clubes se organizaram em associações ou sociedades civis sem fins lucrativos. Isto porque o esporte era, no passado, amador, em que, de fato, não se almejava lucro.

Na verdade, isso aconteceu na maioria dos países. Na Inglaterra, não. Desde o início do século passado, os clubes já eram organizados como empresas, ou as chamadas limited companies.

Atualmente, com a realidade do futebol moderno, surgiu a possibilidade de converterem-se clubes associativos em empresas. Esse modelo é bem visto pelos órgãos públicos, já que uma empresa é mais fácil de ser fiscalizada do que uma associação. O modelo também favorece clubes que pretendem trazer investidores para o seu capital social (nenhum investidor consegue comprar participação em associações. Mas conseguem comprar quotas de clube-empresas, que, via de regra, se organizam no Brasil na forma de sociedade limitada).

Porém, é importante mencionar que o sucesso do clube não está relacionado, necessariamente, com a sua conversão em empresa. Na Espanha, por exemplo, o modelo associativo é muito utilizado pelos grandes clubes (Barcelona e Real Madrid, por exemplo), e, mesmo assim, tais clubes conseguem ter sucesso (financeiro e desportivo), além de terem administrações muito modernas.

Na Inglaterra, por outro lado, os clubes adotam a forma de empresas, já que é bastante comum (e até parte da sua cultura), a aquisição de clubes por investidores nacionais ou estrangeiros, e também a abertura de capital de alguns clubes. Nesse ambiente, somente cabe a forma de empresa.

Existem ainda sistemas híbridos de clube-empresa. Em Portugal, por exemplo, foi criado o conceito de SADs (sociedades anônimas desportivas). Nesse modelo, os clubes permanecem como associações, mas cria-se uma nova empresa que administra o futebol profissional e essa nova empresa é detida, em parte, pelo antigo clube, e, em parte, por investidores (eventualmente levando-se ações à bolsa de valores).

No Brasil, apesar de a Lei Pelé tentar regular a matéria, por conta das diversas alterações desordenadas que foram nela promovidas, não temos um ambiente seguro para os clubes se transformarem em empresas. A redação da lei acabou por ficar confusa, a as entidades que governam o futebol ficam igualmente confusas, com toda a razão, quando recebem uma solicitação de conversão de clubes associativos em empresas.

O mais importante de tudo é ratificar que a modernidade da administração e o sucesso do clube não estão atrelados à conversão do clube em empresa. Na verdade, o sucesso está no comprometimento de seus administradores, e da transparência e acesso nas suas gestões, e também no sucesso dentro de campo. E isso se pode conseguir com ou sem a forma de clube-empresa.

A opção pela conversão em clube-empresa deve ocorrer quando, dependendo da situação de cada clube, e de suas pretensões futuras, a forma de clube-empresa seja a maneira viável (por exemplo, quando se pretende trazer investidores para o seu quadro).

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Jogos de poder

Tem alguma coisa estranha acontecendo. Muito estranha.

O futebol brasileiro, nos últimos tempos, tem se configurado pela divisão de poder entre três principais agentes: a CBF, o Governo Federal e a Rede Globo. A convivência entre eles é sensivelmente estável e tem lá seus benefícios para aqueles indiretamente envolvidos. Ora um se rebela, ora outro, mas nada que crie maiores rupturas.

No final dos anos 90 e começo do século XXI, quem se rebelou foi o governo. CPIs foram realizadas, a CBF foi investigada e pessoas foram indiciadas. Abriu-se espaço para a criação de novos marcos legislativos e se imaginou um novo amanhecer, mas aí, veio uma missão pacificadora da ONU no Haiti e tudo voltou ao que era antes.

Nesse meio tempo, aconteceu também um pequeno incidente. Livros e reportagens dão conta de um pagamento de US$ 60 milhões feito pela Globo à Fifa, em 2001, pelos direitos da Copa de 2002, que acabou nunca chegando ao seu destinatário final, uma vez que o pagamento havia sido feito à ISL, que comercializava os direitos da Copa na época, e a empresa faliu, o que fez com que o dinheiro sumisse. Com a empresa falida e sem o dinheiro em mãos, a Fifa não reconheceu o pagamento e exigiu que a Globo efetuasse outro pagamento, coisa que a empresa, aparentemente, se recusou a fazer. A Fifa insistiu. E a Globo, conforme sugerem reportagens veiculadas pela imprensa na época, aparentemente contra-atacou com o famoso Globo Repórter sobre o Ricardo Teixeira, que, por sua vez, ameaçou e de fato adiantou o horário de um jogo de meio de semana da seleção brasileira contra a seleção argentina para as 20h, o que fez com que a Globo tivesse que alterar o horário dos seus dois principais programas diários, atrasando a exibição do Jornal Nacional e da posterior novela. Pouco tempo depois, a Fifa reconheceu o pagamento e todo mundo se acertou.

Naquela época, a CBF estava fragilizada pela derrota da seleção na França, pela derrota da seleção na Austrália e por duas CPIs. Além disso, a cúpula do futebol brasileiro não desfrutava de boas relações com o governo. Ainda assim, tudo se acertou, mas a relação, assim como a grande maioria das relações humanas, senão todas – dependendo do ponto de vista, baseava-se essencialmente na busca por interesses individuais dos três principais agentes envolvidos no sistema. Teoria do jogo, pura e simples. Era um triângulo do eu-faço-o-meu-até-o-limite-que-incomode-o-seu, e vice-versa.

Mas eis que agora as coisas parecem caminhar de uma maneira diferente. A CBF nunca, jamais, foi tão poderosa quanto é hoje. E ela mesma deve saber disso. E também nunca desfrutou de um caminho tão aberto ao Governo Federal desde os tempos do Brasil pós-Real. CBF e Governo Federal, hoje, são carne e unha, uma vez que há um evento com uma série de complicações que precisa ser realizado, e qualquer coisa que dê errado, certamente, afetará enormemente a atual boa reputação de ambos e seus respectivos planos para o futuro.

Sobra a Globo que, aparentemente, goza de menos prestígio e poder do que anteriormente. Seus executivos propõem mudanças no sistema de disputa do campeonato, possivelmente por conta da demanda de seus superiores no aumento imediato de audiência. A empresa quase que dobrou o valor pago pela transmissão do campeonato brasileiro, e imagino que se espere que o aumento no gasto também signifique um aumento minimamente proporcional na receita e na audiência com a transmissão do futebol, o que, por sua vez, não aparenta estar acontecendo.

Tudo isso pode motivar a Globo a anunciar publicamente propostas de mudanças no formato da competição. Em outro momento, a CBF também possivelmente daria ouvidos. Hoje não. Ao que tudo indica, atualmente, a CBF precisa muito menos da Globo do que a Globo precisa da CBF.

E isso é muito, muito estranho mesmo.

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Futebol é bola na rede

Biz Stone, um dos criadores do Twitter, em entrevista à Revista Veja desta semana, afirma que o que desperta maior interesse em sua criação são assuntos relacionados às comunidades em que se encontram inseridas as pessoas. Em especial sobre seu microcosmo.

Como um clube de futebol, no qual a paixão é imensa, mas que podemos considerar como algo que provoca interesses específicos ao redor de uma causa, o Brasil tem demonstrado que dispõe de um caldo cultural ávido pelo relacionamento via redes sociais na internet.

O Twitter, no Brasil, é a quarta rede social em número de pessoas que a utilizam. E um dos principais aspectos positivos é a sua utilização como meio oficial de divulgação das informações das empresas: notícias sobre produtos lançados, eventos, promoções.

E o que não falta entre um clube e seus torcedores-seguidores é história pra contar. Alguns deles têm anunciado contratações e até demissões pelo Twitter. Mano Menezes que o diga, pois é uma das pessoas que tem mais seguidores entre todos.

Biz Stone vai além ao fazer uma comparação entre a internet e o telefone celular. Em outras palavras, a evolução ou depuração daquilo que entendemos como comunicação eficiente entre pessoas e empresas sobre o que elas fazem e a quem devem prestar informações sobre isso.

O futuro das redes sociais, preconiza, será de muito mais mobilidade, pelo uso ampliado do celular. Hoje, apenas 1,5 bilhão de pessoas têm acesso à internet no mundo, ante quatro bilhões com celulares nos bolsos. Qualquer pessoa fará parte de uma rede social no futuro, não apenas pela tecnologia de alcance, mas pela própria vontade.

Eu já sou protagonista dessa realidade. Fui ao banco resolver um problema trivial e saí da agência com o DDA autorizado. Débito Direto Autorizado. Todas as contas centralizadas no internet banking e e-mail, mas que também são comunicadas via celular.

E para meu espanto, o tempo que levou entre o clique do gerente no site para liberar o serviço e o recebimento da mensagem de boas-vindas em meu celular foi de dois segundos.

OK, você deve imaginar que futebol, redes sociais, internet e telefone celular são coisas que somente acontecerão daqui a 10 anos, a começar pelos clubes japoneses e coreanos.

Grande engano. O River Plate, no primeiro semestre, lançou o programa denominado Sócios Virtuais, que já prevê a interação entre marketing e tecnologia, entre os torcedores e o clube, numa base dupla de internet e telefonia móvel, com muita inteligência de marketing temperando o meio campo. Já atingiu a marca de 200 mil sócios e o novo museu terá interatividade com os telefones celulares dos visitantes.

No Brasil, temos 180 milhões de habitantes e 162 milhões de aparelhos celulares. Em cada 100 pessoas, tem-se, em média, 85 celulares.

Se considerarmos que de cada 100 brasileiros, 50 gostam e acompanham o futebol, os clubes têm muitos torcedores com celular no bolso, esperando por serviços inteligentes de relacionamento com suas paixões.

Meu caro, se não sabe do que estou falando – eu mesmo sei bem pouco disso tudo – é melhor conversar com alguém de uns 15 anos pra explicar melhor.

Vou ver se acho um sobrinho ou um primo pra me ajudar.

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Computação voluntária, um dia, quem sabe: open-football

Olá amigos. Antes que os mais exaltados se preparem, o termo futebol cooperativo não está conotando o aspecto da individualidade, da competição ou dos jogos cooperativos aplicados ao jogo, mas é muito mais no sentido de desenvolvimento de tecnologia e gestão.

Na última semana, durante uma discussão com colegas (naquela já velha e conhecida conversa de bar), surgiu o assunto computação voluntária. Os mais engraçadinhos falaram imediatamente de computadores que se dedicavam a ONGs e projetos voluntários. E apesar das brincadeiras não é que o assunto ganhou corpo?

Resolvi, então, verificar o que seria essa tal computação voluntária e trazer suas reflexões e possibilidades de aplicação para o nosso tão querido futebol.

No site G1*, existe uma série de artigos com definições sobre alguns termos do meio tecnológico. Não é uma fonte cientifica que possa nos dar uma real condição de avaliar e compreender a questão, mas serve de ponto de partida para o contato com o tema. Para quem se interessar vai a dica do portal mais famoso com projetos de computação voluntária: www.worldcommunitygrid.org.

Conceitualmente e conhecido internacionalmente como grid computing e entendido como um “… tipo de sistema de computação distribuída, geralmente associado a grandes projetos científicos, utiliza a capacidade de máquinas ociosas espalhadas pelo mundo para processar grandes quantidades de informação”*.

O funcionamento, como toda inovação, traz dúvidas e receios, mas, em suma, sua idéia permite com que grandes projetos, dentre eles os destaques sobre cura do câncer, Aids, dengue, etc, possam ser viabilizados.

“Esses projetos de grid computing rodam em máquinas que estejam ociosas, bastando que elas estejam ligadas. Normalmente, exigem a instalação de um pequeno programa (que se encontra no site da organização da pesquisa) que verifica se o computador não está sendo usado (esse é o momento em que você estará ajudando justamente quando não fizer nada). Aí, entra em cena um processo que baixa arquivos com dados a serem processados, processa os mesmos e envia os resultados para os organizadores da pesquisa. Caso você precise utilizar a máquina, o programa sai de cena liberando praticamente todo o poder de processamento do equipamento. Muitos deles proveem uma forma de visualizar a evolução do processamento”**.

Por alto, segue-se a tendência já discutida por nós sobre open-source, de criar comunidades abertas, colaborando para o desenvolvimento de tecnologias e soluções de utilização da capacidade intelectual ou estrutural/instrumental de diversas fontes.

Observando essas tendências, reflito e discuto suas possibilidades de desenvolvimento no futebol. Para que uma rede compartilhada de informação, desenvolvimento e estruturação funcione é preciso que os dirigentes do meio esportivo abram as mentes para a inovação, superando a tão chamada resistência à tecnologia, ou o que já discutimos sobre o processo digestivo do impacto tecnológico.

O próximo passo é definir os elementos comuns aos clubes e gestores que podem ser úteis a todos sem que seja estrategicamente inviável.

Alguns poderiam pensar se esse não seria o primeiro passo, pois desta forma seria mais fácil abrir a mente dos dirigentes. Mas temos que extrapolar o que é enraizado como estratégico para os clubes.

Muitos profissionais confundem informação estratégica com informação. O acesso à informação já deixou de ser um tabu no meio tecnológico, o grande segredo é o que fazer com essas informações, que envolvem uma pergunta estratégica: como ler tal informação? Esse o é limiar que deve estabelecer a construção de projetos compartilhados de futebol.

A informação básica é necessária para todos, por exemplo, dados sobre jogadores, desempenhos de equipes, se cada clube ou profissional desenvolver seus mecanismos, todos arcarão com o custo de desenvolvimento, o que é uma das etapas mais caras de qualquer tecnologia.

A partir do momento que consigo extrapolar a visão do que é estratégico, é possível pensar em compartilhamento do desenvolvimento tecnológico, gerando, desta forma, uma diminuição dos custos, “sobrando” dinheiro para investir no que é realmente estratégico: informações aprofundadas e a leitura dessas (seja por meio de componentes tecnológicos ou pela formação e capacitação de profissionais diferenciados que consigam transformar dados em informação).

Quem sabe, em breve, não surjam projetos de um futebol voluntário, ou um open-football ?

*http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL787321-15524,00-O+QUE+E+COMPUTACAO+VOLUNTARIA.html

**http://blog.brasilacademico.com/2009/09/computacao-voluntaria-cure-o-cancer-sem.html

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Ponto corrido ou mata-mata?

A discussão voltou um pouco às manchetes nesta última semana, quando a Folha de S. Paulo e o colega Juca Kfouri levantaram a lebre de que a Globo voltou a mexer os seus pauzinhos para que o Campeonato Brasileiro deixe de ser em pontos corridos, retornando o mata-mata.

Bom, para começar, é preciso ver o que fazer com o Estatuto do Torcedor se isso vier a acontecer. A lei diz que ao longo do ano, ao menos um torneio nacional deve ter seu campeão decidido numa competição que seja em turno e returno. Não, isso não abre brecha para que se façam os dois turnos e, depois, as finais em mata-mata como deseja a Globo e uma parte da opinião pública.

Mas ignoremos a lei e sigamos com o debate. Afinal, pontos corridos ou mata-mata, o que é melhor?

A lenga-lenga de que “brasileiro adora final” é batida. Nos últimos anos, com economia estabilizada, times reforçados e promoção correta do torneio por pontos corridos, a média de público nos estádios só tem crescido. E olha que mesmo com o campeonato tendo o mesmo campeão nas últimas três edições houve esse interesse maior por parte do torcedor.

Não gosto de me ater à questão do mérito esportivo para defender os pontos corridos. Afinal, se um time quiser ser campeão, tem de estar preparado para bater todos os adversários, independentemente do formato da competição. E, além disso, regras são regras. Se estão combinadas desde o início, que o time se prepare a elas e vença.

O que discuto, realmente, é a questão financeira entre as diferentes fórmulas. Para um patrocinador, qual fórmula é mais interessante?

Nesse caso, a balança pende mais para o lado dos pontos corridos. Diferentemente do mata-mata, o torneio em turno e returno garante ao patrocinador a realização de 19 jogos do clube em seus domínios. Isso facilita o planejamento de ações por parte de clube e empresa. Se eu quiser criar uma promoção válida apenas para as rodadas 10 e 36, eu posso planejar com antecedência. E meu time com certeza estará na disputa.

O torneio mata-mata, pela imprevisibilidade maior que tem, não permite um planejamento de longo prazo do patrocinador. Nao dá a ele a certeza de que o time estará em exposição até o término do campeonato. Nos pontos corridos, mesmo sem a chance de conquista de título, um time pode fazer uma partida decisiva, que dê boa visibilidade ao seu patrocinador, por exemplo.

Da mesma maneira, para o clube, uma das piores coisas que podem acontecer é ficar sem atividade, mas precisando investir em atletas. Antigamente, um time corria o risco de em setembro ficar fora da disputa do Brasileirão e, mesmo assim, ter de pagar todos os atletas até o final do ano, sem ao menos ter uma fonte de receita para isso. No torneio por pontos corridos, mesmo que o time esteja cambaleante, ele continua a jogar, a levar torcedor para o estádio, a faturar com a venda de ingressos, etc. É uma forma mais racional de a “empresa” não ter de dar férias forçadas para todo mundo durante três ou até quatro meses!!!!

E, por fim, até mesmo para a TV essa discussão não é tão primordial assim. Jogar na fórmula de competição a queda de audiência dos últimos anos é uma tremenda bobagem. Em média, a TV aberta perdeu parte do alto índice que tinha pelo aumento da concorrência. Internet, TV a cabo, telefone celular, cinema, eventos… Tudo isso contribuiu para que as emissoras tivessem uma queda no número absoluto da medição do Ibope. Só que o share, que é o índice que mostra a audiência a partir do número de aparelhos ligados, continua a ser extremamente favorável, especialmente quando o assunto é futebol.

O torcedor se acostumou aos pontos corridos. E já sabe que, nessa disputa, todo jogo vale. A mídia também já sabe promover muito mais o campeonato com essa fórmula. Afinal, são várias “mini-decisões” apresentadas em jornais, internet e TV espalhadas pelo país. O jogo de domingo entre Palmeiras e Flamengo, por exemplo, foi um deles.

No final das contas, os pontos corridos trazem mais planejamento e menos imprevisibilidade para o futebol. São dois fatores essenciais para gerar mais receita a um clube. E, se bem administrado, esse time consegue trazer jogadores de maior qualidade para defender suas cores. E, consequentemente, isso empolga o torcedor, que passa a consumir mais o produto futebol, aumentando os índices de audiência e, também, a média de público nos estádios…

O resultado disso tudo, porém, nunca aparece de um dia para o outro. Mas, num ciclo de dez anos, será visível essa melhoria na economia da bola. Se tudo não cair por terra numa canetada que envolve muito mais a questão política do que técnica. Para variar. E atrapalhar!

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