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O primeiro turno do Brasileirão-09: um pouco além de números…

Ao apresentarmos os números do Brasileirão-09 na última semana, era esperado que viessem críticas e elogios. A previsão se concretizou. E isso só nos instiga a continuar o debate como forma de mostrar pontos de vistas e possibilidades que decorrem da análise do jogo, e neste caso mais especificamente sobre os números das ocorrências, de forma quantitativa.

Pelo lado daqueles que elogiaram, tivemos os argumentos de que:

 A comparação com outros anos pode indicar algumas possibilidades e tendências de análises;
 A comparação (tão rechaçada pelos profissionais do meio) com o uso do scout em outras modalidades demonstra certo atraso da mentalidade do futebol quanto ao seu uso.

Pelo lado dos críticos tivemos o seguinte ponto focal:

 O número não significa nada fora do contexto do jogo;
 O número pode mascarar o que de fato aconteceu.

Vale relembrarmos o último parágrafo da coluna passada:

“Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana, definiremos o que é esse tal mecanismo”.

Sem o menor receio de ser tachado de um bom e velho “em cima do muro” concordo com as duas visões.

Conceitualmente a análise do jogo, seja ela denominada, scout, seja chamada de estatística, ou de análise notacional, enfim, com as características e diferenciações que cada um destes termos possuem,  tem como princípio estar orientada sob algumas dimensões de observação:

1. Histórica: baseada no histórico de ocorrências, padrões apresentados ao longo das partidas, da temporada, ou da carreira.

2. Espacial: vinculada com regiões do campo, caracterizando as ações em função da localização como, por exemplo, a discriminação entre um passe errado na área defensiva ou ofensiva.

3. Temporal: avaliada com base no desenvolvimento do jogo, na relação com o período, na qual podem ser consideradas, variáveis físicas, influência dos minutos em jogo na capacidade de organização das jogadas e ações.

4. Situacional: considera momentos específicos do jogo, seja ela uma superioridade numérica ou uma triangulação. Situações que caracterizam a combinação de fatos, ou ainda, de duas ou mais dimensões de observação.

5. Sequencial: analisa a construção da ação em virtude de sua origem, desenvolvimento e conclusão. Foco na estruturação da ordem dos fatos que contribuem para determinada ocorrência.

Seja em forma quantitativa ou qualitativa, a análise do jogo deve basear-se em alguns pontos:

 Experiência e conhecimento de futebol por parte daquele que interpreta;
 Conhecimento dos conceitos e definições da metodologia utilizada nas observações (o que é um passe, o que é uma triangulação, etc;
 Especulação baseada nos dados e informações.

Dentre outros itens, gostaria de parar nesse para, num próximo texto, continuarmos a aprofundar o tema. Isso porque entendo esse último ponto levantado como um dos primordiais para quem pretende fazer um bom uso do scout no futebol.

Sem, ele podemos cair no “senso quase comum” de que os números não dizem nada sobre o jogo.

Seja analisando números, sequência de jogo, perfis de atletas ou padrões de jogo, o scoutista (termos que particularmente utilizamos para quem faz a análise do jogo) deve especular sobre o que os dados podem dizer.

Ao observar o número de ocorrência de faltas, por exemplo, deve-se, sem receio de coibir nesse momento um possível equívoco, levantar o máximo de interpretações.

Se o time que mais faz falta é líder do campeonato, deve-se atentar o que isso pode trazer de especulação: fazer falta é o caminho? Onde são cometidas essas faltas? O que as faltas dessa equipe têm de diferente? A quantidade de faltas é determinante? Quem faz essas faltas, o atacante ou o volante?

E nessa linha, prossegue-se com especulações, geram-se questionamentos. Com essas e outras formas de análises somadas ao conhecimento e à experiência do scoutista, se consegue aperfeiçoar e aprofundar a análise.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Obrigado, seo Rui!

Quem gosta de tênis é obrigado a conhecê-lo. Em 1976, o Brasil assistiu à primeira final de Wimbledon. Numa época em que nem se pensava em TV a cabo, uma emissora abrir espaço para exibir um jogo ao vivo de tênis era algo de outro mundo. Mas ele sempre foi de outro planeta.

Hoje, infelizmente, acordamos com a notícia de que, aos 79 anos, Rui Viotti nos deixou.

Ele não era apenas o dono de uma das vozes mais deliciosas da televisão nacional. Para quem não lembra, Rui Viotti foi quem narrou – com uma emoção desproporcional, mas sem deixar de lado a técnica e a lucidez na transmissão – aquele que até hoje foi o momento máximo do tênis do Brasil, a vitória de Guga sobre Brugera em 1997. Sim, jogo transmitido na TV aberta, para todo o país, com picos de audiência que chegaram aos 16 pontos naquela manhã de domingo na TV Manchete.

Foi a partir daquele dia que me tornei fã do seu estilo de narrar tênis. Sabendo respeitar os limites da transmissão equilibrada, mostrando conhecimento da técnica do esporte e, principalmente, dos talentos e falsos talentos que apareciam nas quadras. De fã, tive o privilégio de me tornar colega de trabalho, nos últimos anos, dentro do BandSports. Oportunidade mais do que única, que revelou o quanto Rui Viotti, mais do que um brilhante narrador, foi um cara espetacular em todos os sentidos.

Inclusive foi um gênio para algo que pouco se fala, mas que felizmente conseguimos resgatar recentemente na Revista Máquina do Esporte. Poucos sabem a importância que Viotti teve para massificar o tênis no Brasil. Sim, Guga foi fundamental para fazer com que o esporte deixasse de ser um mito restrito à elite. Mas muito desse trabalho também se deve a “seo” Rui.

Nas emissoras por onde passou, Viotti sempre fez questão de tentar levar a transmissão do tênis. Mesmo numa época de vacas magras como a de hoje, em que o Brasil não vinha tão bem, ele acreditava que a TV aberta só tinha a ganhar exibindo partidas ao vivo, mesmo que não se soubesse quanto tempo aquele jogo iria durar. Tanto que, sempre por onde passou, seo Rui fez com que a emissora comprasse os direitos para exibir os grandes torneios de tênis do mundo.

Viotti também foi o criador do “Esporte Espetacular”, na TV Globo, programa que está há mais de 30 anos no ar e que é importante para ajudar a promover o esporte em todas as esferas.

O Brasil perdeu, hoje, um dos maiores incentivadores do esporte e especialmente do tênis. Fica sempre aquela sensação de vazio, mas sem dúvida fica o exemplo para nós de continuar trabalhando em busca do sonho de poder ver o Brasil ser, de fato, um país do esporte.

Obrigado, seo Rui!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Menos finalizações, mais gols: a intenção na ação e a lógica do jogo

Em uma partida de futebol, uma equipe tem em média 90 sequências ofensivas a seu favor. Somando as sequências ofensivas de duas equipes, em um jogo, em média, existirão 180 sequências ofensivas (em algumas divisões e países a média é de 160 sequências).

Se levarmos em conta que historicamente em campeonatos brasileiros (e tantos outros pelo mundo), a média de gols por partida está abaixo de três gols (muitas vezes bem abaixo), poderemos inferir que, no jogo, em menos de 1,67% das vezes o sistema ofensivo de uma equipe sobressai efetivamente sobre o sistema defensivo da outra (que é o “gol”).

O êxito ou fracasso final de uma seqüência ofensiva concentra-se integralmente na ação da finalização. Podemos dizer que sendo a finalização dependente de inúmeros fatores (e que qualquer alteração em um desses fatores pode comprometer por completo a sequência ofensiva), ela apresenta padrões caóticos.

Muitos estudos têm mostrado em quê faixas de tempo há maior incidência de gols em jogos de diversos campeonatos pelo mundo. Apesar de algumas pequenas diferenças é comum a todos eles a constatação de que a maior parte dos gols em uma partida tem ocorrido no segundo tempo.

No entanto, estudos Brasil a fora, incluindo alguns desse que vos escreve, têm constatado na grande maioria das vezes que a maior parte das finalizações em um jogo ocorre no primeiro tempo da partida – apesar de grande parte dos gols ocorrer no 2º tempo (abaixo podemos ver a incidência de finalizações ao longo de jogos, nacionais e internacionais, escolhidos aleatoriamente – mais informações a esse respeito estão disponíveis também na dissertação de mestrado que defendi em 2004).

Muitas hipóteses e muitos palpites podem ser levantados a partir dessa constatação (de que o aproveitamento no 2º tempo do jogo é melhor do que no 1º). O fato é que o futebol é transdimensional e apontar esse ou aquele fator para explicar esse ou aquele acontecimento simplifica demais em relações de causa e efeito algo que não se estabelece assim – o jogo de futebol é complexo!

A questão é que, independentemente dos gols acontecerem mais no 1º ou no 2º tempo do jogo, eles são escassos no futebol. A defesa sobressai ao ataque, e muito!

Como já escrevi em outras oportunidades, quase todas as equipes de futebol vão para o jogo para não sofrer gols, e depois, também, para fazer gols. O pensamento, ou melhor, a intenção, devia ser sempre a de fazer gols, e ponto.

O objetivo máximo do jogo é fazer gols, e não, não sofrê-los; e isso é mais difícil de se entender e de se aceitar do que parece.

Como a intenção das equipes se choca com o objetivo máximo do jogo, o que temos é “o que temos”… pouquíssimos gols! Mas quando as equipes precisam se arriscar mais, por motivos diversos (necessidade de se arriscar que se expressa e se consolida muitas vezes no 2º tempo dos jogos, quando se está perdendo, quando se necessita de algum resultado específico, etc.), os gols também acontecem mais.

Isso quer dizer, em outras palavras, que a intenção coletiva da equipe faz com que ela se comporte de maneira diferente no jogo. Infelizmente, muitas vezes a intenção de treinadores e das equipes bate de frente com aquilo que o jogo necessita, e o pior, se dá pouca importância a isso.

A lógica do jogo (aquela que leva para a vitória) está aí e pode ser vista por quem quiser enxergá-la! Para uma equipe dominá-la, poucas coisas precisam mudar no nosso atual cenário paradigmático, mas essas poucas precisam mudar muito!!!

(…) “A inteligência segue o caminho inverso da ação. E é somente isso que a torna inteligência. Começando do ponto ao qual se deseja chegar, evita-se o comportamento errático e desordenado a que se dá o nome de tentativa e erro“. (RUBEM ALVES, “Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e a suas regras”. São Paulo: Edições Loyola. 2008. p.36)

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O necessário equilíbrio entre os clubes

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Apesar de falarmos exaustivamente neste espaço que o futebol já deve ser considerado como um verdadeiro ramo de atividade econômica, sempre esclarecemos que a competição entre clubes no futebol não pode ser comparada à competição existente entre empresas concorrentes em outros segmentos.

O futebol tem sua especificidade e isso deve ser sempre ressaltado por legisladores e também por pessoas ou organizações que dirimem litígios na área desportiva. Os clubes rivais dependem um do outro. Quanto mais competitivos forem os jogos, maior será o potencial sucesso dos clubes conjuntamente considerados.

Tendo isso em vista, é preciso que as autoridades competentes (com o apoio de todos os clubes, especialmente os grandes), passem a adotar medidas que visem diminuir o “gap” existente entre os principais clubes, que são poucos, e os demais clubes pequenos que são, em última análise, aqueles que formam os nossos melhores jogadores.

Os primeiros têm grande responsabilidade no mercado do futebol, já que reúnem as maiores torcidas e viabilizam as grandes transferências internacionais. Mas os últimos também têm sua função de promover a competição interna e de descobrir e formar bons jogadores. Todos eles, assim, devem ter sua importância reconhecida e, principalmente, recompensada.

Nesse sentido, é preciso que mecanismos sejam criados para que haja algum equilíbrio, principalmente entre as receitas desses times dentro de uma mesma divisão. Com isto não queremos sugerir que haja uma distribuição equivalente entre todos os clubes. Mas, ao menos, que haja um mínimo de proteção e cuidado com clubes pequenos (principalmente com aqueles que fazem bem as suas lições de casa), propiciando uma distribuição de receitas que, proporcionalmente, seja mais justa.

Essa aliás, é uma preocupação manifestada pela Fifa explicitamente há, pelo menos, um par de décadas. Uma série de medidas vem sendo adotadas, tais como a criação das indenizações por formação, e o desenvolvimento do conceito de estabilidade contratual. Essas medidas acabam por proteger, em última análise, os clubes pequenos e formadores, que, por vezes, perdem seus jogadores antes do término de seus contratos por propostas financeiras irrecusáveis.

A decisão proferida pelo Dispute Resolution Chamber da Fifa, no recente caso envolvendo o clube inglês Chelsea, o clube francês Lens, e o atleta francês Gael Kakuta, vem ao encontro dessa tendência protecionista. Por suposta rescisão antecipada de contrato, sem justa causa, entre as duas partes francesas, levaram a uma série de punições tanto para o atleta como para o Chelsea. Dentre tais punições, a que chamou maior atenção foi a do Chelsea, que deverá ficar duas temporadas sem poder registrar novos jogadores nacionais ou internacionais (contra essa decisão, cabe ainda recurso ao CAS).

Esperamos, assim, que os grandes possam ver os pequenos como aliados dentro de uma disputa desportiva (dentro e fora de campo) sadia, o que trará um benefício coletivo a todos aqueles que atuam no meio do futebol.

Muito progresso já pode ser notado no comportamento de dirigentes de alguns clubes grandes. Porém, muito ainda temos que avançar para alcançarmos uma situação ideal.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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Roleta I

A janela de transferências fechou. Uma das janelas mais sem-graça dos últimos anos, como já tinha sido adiantado a você aqui nesse espaço. Também tinha sido dito que quem movimentaria a janela seria o Real Madrid e o Manchester City, que foi o que acabou acontecendo. Não tinha previsto o Barça nem a Inter de Milão, que se mexeram um pouco, assim como a Juventus. O Lyon também fez uma ou outra coisa, mas nada de muito espetacular. Nada de última hora. Nada muito revolucionário.

Sobra, é claro, pro Brasil. A saída de jogadores no meio da temporada foi minguada, tirando o Cruzeiro, que já é tradicionalmente um dos clubes que mais vende jogador no país. Outro clube que tradicionalmente vende é o Atlético-PR, que, nesse ano, ficou a ver navios. O São Paulo, a mesma coisa.

O Brasil é um mercado exportador nos mais diversos setores. Ele produz muito, mas não há atratividade no consumo interno. Portanto, ele exporta. No futebol é igual, como você já bem sabe. O mercado interno é fraco e a produção de jogadores é alta, daí a naturalidade da exportação. Não exportar pode ser um risco. As consequências podem ser graves.

Vamos antes, porém, às possíveis causas da baixa movimentação da janela.

A primeira, e mais óbvia, é a grave crise financeira européia, que impede que bancos emprestem dinheiro para operações tão arriscadas como a aquisição de um jogador de futebol. Isso não se aplica, é claro, em casos que ou o dono tem muito patrimônio pessoal para dar de garantia ou o clube é intimamente ligado ao poder público e futebolístico. Os dois casos se aplicam ao Real Madrid, daí a razão pela qual o clube conseguiu pagar tão caro nas contratações. Mas a maioria dos clubes não possui esse poder, portanto, o mercado esfria. O efeito cascata das contratações do Real Madrid e o Manchester City também não foi muito forte porque alguns clubes preferiram fazer planos de contingência com a receita, que é o evidente caso do Arsenal, que ganhou uma bolada com o Adebayor e o Touré, mas achou melhor segurar o dinheiro. Uma atitude sábia de um clube que tem como técnico um cara que tem mestrado em economia.

A segunda razão pela qual poucos jogadores saíram do Brasil no meio desse ano pode ser a melhora da situação do país. O fortalecimento do Real em relação às moedas estrangeiras diminui a atratividade de clubes de fora, principalmente, porque o grosso das transferências é feito para times médios ou pequenos, que não podem arcar com salários líquidos mais altos. Os altos impostos aplicados em países como Bélgica e França reduzem significativamente a receita do atleta e diminuem o incentivo de mudar de clube.

A terceira razão pode ser uma descrença no modelo de negociação envolvendo jogadores de ponta no Brasil. Pelo menos quatro jogadores saíram daqui com valores europeus, digamos assim. Foram eles: Denílson, Robinho, Pato e Breno. Tirando o Pato, que pelo menos é titular, nenhum dos outros três justificou, por enquanto, o valor da contratação. O Denílson não tem mais chance. O Robinho tem alguma. O Breno ainda tem tempo. Mas mostra o risco. Além do mais, os grandes jogadores brasileiros em destaque hoje na Europa surgiram pela porta de trás. O melhor brasileiro na Inglaterra é o Denílson, não o supracitado, que já foi inclusive chamado de ‘o meio-campista perfeito’ pelo jornal The Guardian. Denílson chegou ao Arsenal novo e quase de graça. Na França, o destaque é o Michel Bastos, que saiu do Figueira sem que ninguém desse muita bola e passou um bom tempo no Lille até chegar ao Lyon. Situação semelhante ao Grafite, na Alemanha. Na Espanha, o destaque é o Kaká, que você conhece muito bem. Assim como conhece o Diego, grande destaque brasileiro na Itália, que demorou certo tempo até conseguir encaixar no futebol europeu. Tirando o Kaká, que já era destaque antes, todos os outros jogadores precisaram fazer pelo menos uma ponte para conseguir destaque. O que certamente implica em grandes clubes europeus ficando avessos ao risco e evitando fazer compras direto da fábrica, o que joga os valores das negociações para um patamar inferior.

A quarta razão: pode ser que o mercado brasileiro sentiu o impacto da entrada dos grupos de investidores como Traffic e Dis. Com esses grupos, a negociação sai da mão do clube e passa para a mão do investidor, que tende a estabelecer patamares maiores de valor, uma vez que ele já fez uma aplicação anterior. Digamos que um jogador X valesse, para o clube formador, cinco milhões de euros. O investidor Y chega no clube e adquire 60% do jogador X por 2,5 milhões de euros. O clube concorda, porque além de receber o dinheiro imediatamente, consegue manter o jogador no clube por mais um tempo, apesar do preço ser um pouco desvalorizado. Só que o clube também imagina que o jogador X que antes valia cinco milhões, na mão do investidor passa a valer pelo menos oito milhões, uma vez que o investidor tem maior poder de barganha financeira na hora da negociação com o clube de fora. E com 40% de oito milhões, o clube ganhará 3,2 milhões de euros, que somados aos 2,5 milhões de euros já recebidos, totalizam 14% a mais do que o clube estimava pelo jogador. E o investidor Y, nessa mesma brincadeira, ganha 2,3 milhões de euros, quase 100% do valor que tinha sido investido inicialmente. Seria uma matemática perfeita em que o clube e o investidor ganham, mas apenas aplicável se o mercado de fora realmente estivesse disposto a pagar os oito milhões de euros pelo jogador. O que não parece ser o caso.

A inflação do preço por conta da entrada de investidores e da melhora da situação financeira do país, aliadas à possível diminuição da demanda por conta da crise econômica e da perda de atratividade de jogadores brasileiros provenientes diretamente do país de origem, acabam travando as negociações.

Essas razões são, pelo menos, algumas das causas para o enfraquecimento da janela. E as consequências desse enfraquecimento são graves. Por isso que essa coluna terá duas partes. Semana que vem eu tentarei analisar essas consequências. A princípio, a análise não é nada otimista.

Até lá, sinta-se livre para enviar a sua análise sobre as causas, caso ela seja diferente daquelas aqui expostas. E pode enviar também a sua análise sobre as consequências da janela para o futebol brasileiro. Eu certamente não sei sobre todas elas.

E espero que a próxima coluna consiga dar pelo menos um sentido ao título escolhido.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Janela de transferências

Você já ouviu falar em Peter Kenyon?

Durante muitos anos, ele foi CEO do Manchester United. Roman Abramovich, o magnata russo que bancou o posicionamento do Chelsea no mercado da bola, o contratou a peso de ouro para comandar os rumos estratégicos do clube.

Rodrigo Caetano foi o responsável pelas categorias de base do Grêmio por um largo período, antes de se tornar diretor de futebol do clube. Realizou um excelente trabalho em ambas as áreas, até que se transferiu para o Vasco.

Professor Marquinhos, treinador do sub-20 do Atlético-PR, vice-campeão da Copa São Paulo de Juniores 2009 vinha desempenhando elogiado trabalho no clube e, adivinhe, agora trabalha para o maior rival, o Coritiba.

Felipe Ximenes foi o coordenador das categorias de base do Fluminense no CT de Xerém. O trabalho conduzido por ele revelou talentos do quilate de Arouca (São Paulo) e Thiago Silva (Milan), além dos gêmeos Fábio e Rafael (Manchester United). Hoje em dia, Felipe é gerente de futebol do Coritiba.

Ricardo Drubscky ocupou o posto de diretor de base do Cruzeiro, além de exercer funções semelhantes nos rivais Atlético-MG e América. Foi contratado pelo Atlético-PR, em 2008, para ser o coordenador da formação dos jovens jogadores.

Muito provavelmente, você não ouviu falar em nenhum desses profissionais – exceto se você for torcedor de algum dos clubes citados. Talvez o PVC saiba. Mas acho difícil que acompanhe esta coluna.

Os exemplos citados servem para evidenciar que existe um mercado de “transferências” de profissionais de um clube para outro, não exclusivo aos jogadores.

Entretanto, ainda é um fenômeno muito tímido e, praticamente, limitado aos departamentos de futebol dos clubes. Não se vê o mesmo acontecer com departamentos de marketing, medicina, financeiro, ou executivo, pois esse nicho ainda não está preparado para abrigar e, conseqüentemente, proporcionar a movimentação dos profissionais de um clube a outro.

E por que isso ocorre? Porque os clubes, em sua maioria, não abrem espaço para novos profissionais em sua hierarquia, capacitados para exercer funções executivas. Essas posições, normalmente, são políticas, não técnicas.

Isso dificulta o aperfeiçoamento e desenvolvimento do mercado de trabalho no futebol, pois não se abrem oportunidades como se deveria. De nada adiantará a proliferação de cursos de graduação e pós-graduação esportiva se o mercado não absorver, minimamente, as pessoas que se dedicam a fazer do esporte sua profissão.

Triste realidade. Mas, se o futebol seguir copiando os exemplos do Senado – e/ou o Senado copiar os exemplos do futebol – ao se contratar o namorado da neta do presidente para acomodar interesses pessoais, ambos (o Brasil e o futebol brasileiro), farão referência a um futuro distante, que jamais chegará, pois o presente já está comprometido na raiz.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O primeiro turno do Brasileirão-09: por enquanto só números…

Olá pessoal.

Hoje, aproveito para deixar algumas informações no ar e, conforme venho dizendo, o dado só transforma-se  em informação depois de alguém interpretá-lo.

Para tanto vou apresentar alguns dados hoje e por questões de espaço e tempo de reflexão debateremos na próxima semana. Aguardo seus comentários, combinado?

As tabelas são baseadas nos dados da ScoutOnline, apresentados aqui apenas em sua dimensão numérica. Com certeza a inserção das dimensões espacial, temporal, sequencial e situacional do scout, acrescentariam muitas possibilidades, mas vamos por partes, ok?

Os dados referem-se ao primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2009 da série A, e estão apresentados em média por jogo, daquilo que cada equipe realizou nesse período analisado.

Vamos lá:

Em azul, as equipes que se situam acima da média geral do campeonato, em vermelho as equipes que estão abaixo dessa média. No inicio de cada tabela, em fundo verde apresenta-se a média da competição.

Dados sobre distribuição e circulação de bola

Dados sobre finalização

Dados sobre desarmes, reposição, e faltas

E aí, o que é possível e impossível dizer?

Importante extrapolarmos o discurso comum de que números simplesmente não trazem informações. Mas sim, que possamos, a partir deles, criarmos mecanismos de especulação. Na próxima semana definiremos o que é esse tal mecanismo.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Futebol e cerveja… Ou seria cerveja e futebol?

Tudo começou quando me deparei com uma matéria cujo título me chamou a atenção: “Atletas deveriam beber cerveja todo dia, diz estudo“. Seu subtítulo afastava possíveis desconfianças dos mais incrédulos: “Além de matar a sede e relaxar, a cerveja ajuda na recuperação após a prática esportiva”, dizia.
 
Não havia dúvidas. O Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC), da Espanha, avalizava o estudo “Idoneidade da cerveja na recuperação do metabolismo dos desportistas” que, baseado em relatórios e pesquisas de especialistas em medicina, fisiologia e nutrição da Universidade de Granada, defendia o consumo moderado da cerveja para os atletas como fonte de hidratação diária.
 
A tese, de autoria do cardiologista e ex-jogador de basquete da seleção espanhola, Juan Antonio Corbolãn – medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles (1984) -, afirmava que o consumo diário de três tulipas de 200ml de cerveja para os homens e de duas para as mulheres, favorecia a recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da prática esportiva de alto rendimento, além de também prevenir dores musculares.    
 
Tomei conhecimento dessa matéria no sábado ao final da manhã, em casa, quando já começava a pensar o que iria bebericar antes do almoço, já que o joguinho de futebol da tarde estava irremediavelmente prejudicado pela chuva que insistia em não parar desde a noite anterior.
 
Mais do que depressa quis levar ao conhecimento de meus colegas da Unicamp o “grande achado” e, no espírito recomendado (não só) para um fim de semana, fiz saber a todos que eu estava fazendo a minha parte! O que não sabia e, portanto, não esperava, era que tão ingênua mensagem fosse gerar tamanha – e distinta – repercussão…
 
A primeira delas veio reforçar minha euforia pela “descoberta”:
 
“Ah! Mas eu também considero da maior relevância social isso, afinal, a minha bebida preferida agora torna-se, definitivamente, também meu remédio e, além de tudo, uma poderosa arma para a melhoria do desempenho fisico ! eh eh eh. Isso é o máximo!”.
 
A segunda veio enaltecendo uma modalidade esportiva que, em nosso país, vive à sombra do futebol, para desespero do missivista:
 
“Vi esse cardiologista jogar algumas vezes. O Corbolãn foi um dos melhores que já vi jogar. Ele jogou dois campeonatos mundiais pelo Real Madrid e era espetacular, daqueles armadores clássicos. Só podia ser mesmo um armador basqueteiro para fazer uma pesquisa de tamanha relevância social”.
 
Já a terceira, me pegou no contrapé…

Surpreendi-me com o conteúdo de seu e-mail. Pertinente a matéria tratada, a OMS difunde os benefí­cios da alcoolemia relativa à ingestão moderada do vinho às pessoas já dependentes da bebida, mas esclarece que não recomenda aos não usuários. Sabendo que os libares chamados “sociais”, como o álcool e cerveja, são porta aberta para ingestões massivas, e inclusive de drogas pesadas, e, modéstia a parte, da relevância dos impactos de nossas posições de médico e educadores fí­sicos, e, portanto, intelectuais formadores de opinião, estou tomando a iniciativa de, frente ao material acima mencionado, solicitar manifestação a respeito da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas – www.abead.com.br.
 
Ademais, considerando os vultuosos lucros do grande capital cervejeiro, fico curioso em ver as declarações de ausência de conflitos de interesses dessa divulgação internacional de polí­tica pública fundamentada em 16 observações”.
 
Senti-me na obrigação de, antes de abrir a garrafa de vinho (a chuva e o frio me convenceram de sua pertinência naquele momento, em detrimento da cerveja), a dar sequência à conversa, o que fiz da forma retratada abaixo:
 
Confesso pra você que meu “‘espí­rito”, ao encaminhar a mensagem em questão, estava todo comprometido com a idéia do feriado, disposto a não ficar chateado pelo fato de que a maioria de nossos colegas não fizesse a menor idéia do que estamos, nós, paulistas, homenageando nesse fim de semana prolongado por conta do dia “9 de Julho”. Levando a sério a notí­cia, você está coberto de razão em chamar a  atenção para a possibilidade da mensagem/pesquisa aludida conter o “dedo” da máfia das indústrias cervejeiras. Não descarto essa possibilidade, até porque a tese da neutralidade da pesquisa cientí­fica nunca fez parte daquelas por mim defendidas.

Por outro lado, procuro também não ignorar a “máfia” da indústria farmacêutica, a qual o filme “o jardineiro fiel” tão bem retratou, “produzindo” doenças e testando medicamentos em pessoas, delas fazendo os “ratinhos” de plantão.
 
Também busco estar atento à  miopia do conceito de saúde que orienta – sem medo de errar – mais de 90% da formação em educação física nos  cursos superiores de nosso país, totalmente alheia e distante do conceito de saúde ampliada defendida por nossa política pública de saúde…

Fato concreto é que o Esporte – nos termos que a sociedade moderna a ele atribuí ­-, além de se fazer de simulacro do rendimento fí­sico necessário ao processo produtivo no modo de produção que pauta nossa organização societária, e à revelia dos que observam no  ócio, tempo e espaço nocivos aos interesses dessa lógica organizativa de sociedade, também se associa àquilo que “Baco” representa: festa,  alegria, prazer, regado a vinho e, por que não… À cerveja”.
 
E encerro a mensagem dando vazão a um sentimento que muito aflige aos que, pela ótica das ciências humanas e sociais, desenvolvem estudos e pesquisas no campo da área da Educação Física:
 
“Continuemos essa sadia reflexão, distante do campo acadêmico tão preocupado em produzir seus “papers” e, lógico… Publicá-los em periódicos “A” internacional”.
           
Pois não é que o assunto ainda trouxe a participação na conversa de outros colegas! Um deles, nos dando uma verdadeira aula sobre a origem da cerveja (vocês sabiam que ela teria nascido, ao acaso, há mais de 10.000 anos?), não sem antes nos alertar para o fato de estarmos “mergulhados em uma pobreza afetiva, marcada pelo higienismo e eugenismo do mundo contemporâneo, essa onda hiper conservadora e moralista, especialmente nos paises periféricos e com baixa densidade intelectual como o Brasil”.
 
E não deixa por menos:
 
“É evidente que sou totalmente a favor das interdições legais de publicidade de bebidas alcoólicas, de fumo e também de comida, desse estimulo estúpido em assoc
iá-las a ser bem sucedido/sucedida, bonito/bonita e sedutor/sedutora e é evidente que já assinei mil listas e me comprometi e me comprometo todos os dias contra o aviltamento da mulher, do corpo feminino na publicidade da cerveja no Brasil e de outros produtos… Mas, é preciso atenção, delicadeza e cuidado para não nos transformarmos em pequenos fascistas, policiais de uns e de outros, com atitudes completamente avessas à vida pública que é sempre política, à vida democrática”.

Já o outro, para não deixar dúvidas sobre o que me motivou a escrever, colocando a conversa de volta ao espírito de um sábado regado à cerveja e a futebol, e nos brindando com a lembrança de um outro componente inseparável dos dois acima, qual seja, a amizade que permeia a enxurrada de jogos e jogadores de final de semana dos clubes e várzeas dispersos por este país afora:
 
“Depois desta saudável chuva de e-mails, que acompanha este úmido final de semana, aproveitei a dica para deliciar-me com uma maravilhosa cerveja escura (negra, bock, malzebier, cafeinada, ou como queiram denominar).
 
Não poderia deixar de contribuir nesta ocasião com um estudo quase-científico realizado recentemente por um coletivo de amigos que se reúne numa chácara em Americana-SP para celebrar a amizade. Fizemos uma pesquisa a cegas com 12 marcas de cerveja, buscando identificá-las, junto a 14 especialistas (daqueles que possuem calos no cotovelo devido às inúmeras horas no balcão dos bares). Resultado: o que mais acertou conseguiu identificar 3 marcas.
 
Conclusão: A quantidade não necessariamente leva ao conhecimento profundo do assunto. Perspectivas: continuaremos nos aprimorando na arte de degustar desta bebida, moderadamente sempre”.

Não sei por que me lembrei de um filme (ou seria livro?) chamado Samba, suor, futebol e cerveja... Pois é… Para muitos, incompatíveis; para outros tantos, inseparáveis… E para você?
 
 
Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br
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Treinar jogando: a Zona de Desenvolvimento Proximal como mais um argumento!

O maior motivo de reclamação das equipes de futebol (o excesso de jogos) acaba sendo o principal meio para a evolução do jogar que elas acabam tendo

Em um jogo de futebol, durante o confronto das duas equipes que o disputam, há um sem número de situações-problema, que ocorrem o tempo todo, aleatoriamente, de maneira imprevisível, em cada milímetro dos 7000 metros quadrados que correspondem ao campo de jogo.

Vencer o jogo significa resolver melhor essas situações. Resolver melhor essas situações significa tomar as melhores decisões a cada ação, sob o ponto de vista individual e coletivo.

Na tomada de decisão, a intenção na ação e as estruturas criadas a partir de experiências anteriores podem colaborar para melhores decisões em uma situação-problema qualquer. Para tanto, a experimentação de situações desafiadoras, diversificadas e ricas, específicas do jogo, aumentará cada vez mais as chances de quem joga de tomar decisões acertadas.

A inteligência humana é um mecanismo móvel, imprevisível, versátil e circunstancial, que, diante dos problemas dispõe ao sujeito um leque de possibilidades, que, se for amplo (o leque), diversificado e rico, contribuirá para que sejam escolhidas as melhores opções disponíveis para cada circunstância.

Então, o treino de futebol deve levar em conta que, para se estar habilitado para jogar, deve-se treinar, jogando.

Nessa perspectiva, vale ressaltar que a possibilidade de aprender a partir de estímulos que desencadeiam processos de assimilação e acomodação – e de, portanto, formar novos esquemas cognitivos – deve estar adequada à fase de desenvolvimento do sujeito que recebe o estímulo (e isso inclui o seu nível de compreensão e ação no jogo). Em outras palavras, só é possível interagir com problemas se esses forem adequadamente superiores ao conhecimento prévio necessário para tal (não pode ser excessivamente superior, nem inferior!).

Sobre isso, Vygotsky descreveu a existência de uma área potencial de desenvolvimento cognitivo definida como uma “área” que rodeia o desenvolvimento real atual do indivíduo (que é determinado pelo seu nível atual para resolver problemas sem auxílio de outras pessoas) e pelo nível de desenvolvimento potencial (que é determinado através da resolução de problemas que precisa ser “guiada”).

Então, o nível de desenvolvimento consolidado, que permite a utilização do conhecimento de forma autônoma, é o desenvolvimento real do sujeito. Ele não é estático e vai se alterando no processo de aprendizagem. A consolidação do desenvolvimento real gera também possibilidades menos elaboradas e não consolidadas que potencialmente podem ser construídas; esse é o desenvolvimento potencial. O desenvolvimento potencial tende a ser, com o processo permanente de aprendizagem, o futuro desenvolvimento real (FIGURA). 

Segundo Vygotsky, o processo de desenvolvimento não coincide com o processo de aprendizagem, porque há uma falta de sintonia (“assintonia“) entre os dois (o processo de desenvolvimento e o processo de aprendizagem que o precede). Dessa assintonia, que corresponde à área da “dissonância cognitiva” do potencial do aprendiz, surge a Zona de Desenvolvimento Proximal.

A Zona de Desenvolvimento Proximal é, então, em outras palavras, o campo intermediário do processo que liga o estágio atual de desenvolvimento com o próximo em potencial. Porém, o próximo em potencial a ser buscado, no caso do jogo de futebol, é o próprio jogar (melhor, mais elaborado, etc.).

Então, que sentido faz, no futebol, sessões de treinos, onde o cerne são os sprints, os saltos ou as longas corridas a que são submetidos os jogadores? Que próximo estágio de desenvolvimento potencial se conseguirá alcançar com isso?

O tempo para desenvolvimento do jogar no futebol é escasso. Muitos compromissos, jogos, competições viagens… E, mesmo assim, perde-se muito dele (oh, precioso tempo!), treinando justamente algo que não vai contribuir para que se alcance os novos níveis do jogar.

E aí, sabe quando é que a equipe acaba evoluindo seu jogar (ou no “futebolês”, adquirindo ritmo e consistência)? Jogando no meio ou fim de semana suas partidas oficiais.

Então, em outras palavras, o que se configura no maior motivo de reclamação das equipes de futebol (o excesso de jogos), acaba sendo o principal meio para a evolução do jogar que elas acabam tendo.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Números inventados

Esta provavelmente será a coluna de minha autoria mais lida na história. Uma estimativa minha, baseada no número de emails recebidos por conta da última coluna e na repercussão da publicação no digníssimo blogdojuca, indica que o número deverá septuplicar, chegando, superestimando, a 14 leitores, fora a equipe da redação da Universidade do Futebol.

O que, pro meu nível, já gera certa ansiedade. Ainda mais devido à infeliz ideia de deixar para escrever após o “Placar da Rodada”.

Nada sensato. Assim como não foi sensato mencionar o nome da empresa Itaiquara na última coluna. Não apenas pelo número de pessoas que me mandaram emails com receitas de bolo por email, fomentadas talvez por certa nostalgia em relação ao fermento, mas também pela infelicidade temporal.

Você viu a coletiva do René Simões, reclamando da empreitada ao vestiário da Portuguesa, não viu? Você notou a logomarca da Itaiquara logo acima da cabeça dele, indo um pouco pra direita, não notou? Talvez não. Mas eu notei. E só notei por causa da minha maldita última coluna. Não tivesse eu pesquisado a empresa, possivelmente não teria prestado atenção. Não tivesse você lido, também não. Citação errada, na hora errada, com publicidade errada.

A escolta armada lusitana não acabou só com as perspectivas da carreira do Edno no time. Acabou também com qualquer perspectiva minha de receber uma cesta de produtos da Itaiquara. Se o fermento for tão bom assim quanto as pessoas que me mandaram email disseram, eu vou ficar realmente frustrado.

Assim como ficaram frustradas algumas pessoas em se deparar com a pequenez relativa do futebol. Mas não se engane. Ser pequeno em termos financeiro não quer dizer necessariamente ser menos importante. Veja o Dado Dolabella, por exemplo. Ele é rico. E não é importante.

Um questionamento foi levantado por diversas pessoas astutas: afinal de contas, pode ser dito que o negócio do futebol é pequeno porque os clubes faturam pouco em relação ao que outras empresas arrecadam? O fato é que não, não pode. É um questionamento válido e que merece maior análise. Peguemos as quatro fontes de receitas relativas a clubes de futebol: mídia, patrocínio, licenciamento e estádio. Todas elas oferecem receitas para terceiros, ou seja, grana que não passa no caixa do clube. Mas que é do futebol.

A Globo arrecadou, com publicidade aberta e fechada, e mais o pay-per-view, uns 550 milhões de reais com o futebol em 2008. Cálculo grosseiro baseado em uma série de dados não confirmados, mas que indicam, pelo menos, um patamar. Somando a Band, totaliza uns 600 milhões. Acho. Não sei mesmo. Tô chutando, sem nenhuma vergonha.

É muito complicado atribuir um valor de receita gerada por patrocínio, por isso eu também vou inventar um número: 100 milhões de reais. Esse foi o dinheiro que patrocinadores geraram com o futebol. Número inventado com base na soma, também grosseira, dos valores de patrocínio dos clubes adicionados a um pequeno percentual de retorno sobre o investimento. E fazer soma com 100 é sempre muito mais fácil. Adicionemos mais uns 500 milhões de receita de patrocinadores de televisão e chegamos a 600 milhões. Sem fundamento algum, é claro.

O grosso da receita de licenciamento vem da venda de camisas. Uma camisa custa uns R$ 180,00, por aí. Dependendo da marca. Suponhamos que, no ano passado, um em cada 50 brasileiros tenha comprado uma camisa oficial de um clube brasileiro, o que eu acho uma estimativa otimista. Isso dá uma venda de 3,8 milhões de camisas oficiais, que gera uns 680 milhões de reais.

De acordo com a CBF, cerca de nove milhões de pessoas assistiram as séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2008. Suponhamos que cada uma dessas pessoas tenha gasto uns R$ 10,00 nos estádios, já que não tem mais cerveja, e cincão pro tiozinho não riscar o carro, já que tem outros ocupantes do carro pra rachar. Isso dá uns R$ 135 milhões, com estádio. Dos quais, nesse meu cenário deturpado, R$ 45 milhões foram pra mão de flanelinhas. Se for verdade, já saiba o que fazer da vida.

Totalizando, as quatro principais fontes de grana do futebol geram um total de R$ 2 bilhões para terceiros. Vamos supor que os clubes brasileiros, mais as federações e a CBF, tenham gerado uns R$ 3,5 bilhões, o que é também superestimado. Tudo isso somado, e superestimado, dá R$ 5,5 bilhões. Se eu não estiver superestimando o suficiente, esse valor sobe para R$ 6 bilhões, o equivalente a 0,2% do PIB do Brasil em 2008. Se eu estiver meio certo, a fatia real chega a 0,4%. Se eu estiver um pouco certo, talvez chegue a 0,6 ou 0,7% do PIB. Mas não dá pra imaginar que seja mais do que isso. Nada que seja significativo para a economia nacional. Nada que se possa comparar com outros setores produtivos do Brasil. É isso. Puro e simples.

Talvez você esteja decepcionado. Eu certamente estou. Perdi a chance de receber uma cesta da Itaiquara.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br