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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Todos sabemos que o futebol já representa um verdadeiro ramo de atividade (jogadores são empregados, clubes são empresas, torcedores são consumidores, etc.). Porém, o que gostaria de comentar nesta coluna é um outro reflexo que a evolução do futebol também trouxe: a abertura de diversas frentes acadêmicas de estudo e desenvolvimento teórico. E, nesse âmbito, a importância que uma iniciativa tão inovadora e pioneira como a Universidade do Futebol representa para o mercado futebolístico no Brasil.
 
Tempos atrás, se um estudante pretendesse seguir a carreira no futebol, certamente optaria pelo jornalismo. O jornalismo desportivo é uma atividade bastante consolidada pelo mundo. E no Brasil ganhou grande relevância principalmente depois que Mário Filho lançou a onda dos jornais especializados em esporte (com a criação, nos idos da década de 30, do jornal Mundo Sportivo).
 
Em linhas gerais, foi durante esta última década que novos cursos foram criados ao redor do mundo, e, com eles, novas cadeiras acadêmicas. Desde marketing desportivo, passando pelo direito desportivo, administração, até chegar em matérias menos óbvias, como História – temos importantes historiadores brasileiros contribuindo, com bastante felicidade, para a formação e consolidação da história do desporte.
 
O que vemos também é um crescente número de estudantes interessados nessas áreas, o que fez com que o número de novos cursos continuasse a crescer.
 
Somando tudo isso, temos uma excelente receita para um futuro promissor no futebol. Sabemos que as novas idéias, renovadoras ou até revolucionárias, vêm, via de regra, do ambiente acadêmico. Certamente teremos em um futuro próximo, uma maior pressão vinda da nova geração de profissionais para que a excelência seja alcançada (ou ao menos seriamente almejada) pelos dirigentes dos clubes, federações, ligas e outras partes ligadas ao futebol.
 
Nesse contexto, há de se ressaltar a iniciativa do projeto da Universidade do Futebol. Todo o brevemente exposto acima foi visualizado há tempos pelos idealizadores desse projeto. E hoje temos, todos nós, a oportunidade de poder colher os seus frutos.
 
Além de abraçar toda a onda acadêmica, a Universidade do Futebol aproveita-se da nova era das comunicações para desmistificar o uso da internet para fins acadêmicos. Ela mostra que, pelo contrário, se esse meio tecnológico for utilizado de forma consciente e responsável, não só pode contribuir de forma única para a formação do conhecimento, como também ligar pensamentos elaborados nos quatro cantos do mundo com velocidade imprecedente.
 
Termino essa coluna para apenas manifestar minha honra e gratidão de poder fazer parte desse todo, e de poder contribuir, ainda que com uma parcela tão pequena, para o sucesso da empreitada.
 
Desejo ainda mais sucesso à Universidade do Futebol!

Para interagir com o colunista: megale@universidadedofutebol.com.br

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Para estudar o futebol

A primeira regra para quem quer estudar o futebol é deixar de gostar de futebol. Ou, pelo menos, deixar de gostar de futebol da maneira que sempre gostou.

O estudo sério de um fenômeno social como o futebol precisa ser objetivo, sóbrio e científico. Sem falsas interpretações, sem suposições, sem análises superdimensionadas. Não, nada disso. Muito pelo contrário.

O indivíduo da arquibancada, que possui uma grande ligação com o esporte e que sempre viveu dentro de sua atmosfera, tem sérios problemas para ingressar na área da ciência do futebol. Não é fácil. É preciso jogar um monte de verdades no lixo, engolir outras centenas de informações que vão de encontro com aquilo que você sempre tomou como realidade, mas que é apoiado em dados, em experimentos, e não em meras suposições.

Eu, acredito, tenho uma vantagem dentro desse processo. Minha família nunca gostou de futebol. Eu nunca gostei de futebol. Meus esportes sempre foram outros. Handebol, basquete, corrida, essas coisas. Futebol, no máximo, só quando fosse jogar Malha para poder liberar gratuitamente um pouco da violência contida nos hormônios adolescentes. De resto, nada.

Vim a me aproximar mais do futebol apenas na faculdade. E tive que buscar informações em fontes confiáveis. Na minha família ninguém entende de futebol. Meus amigos não são nem um pouco confiáveis. Sobraram os livros. E foi assim que eu comecei a me interessar mais pelo assunto, e a perceber o imenso vazio que existe no conhecimento real do futebol no Brasil, pelo menos do ponto de vista administrativo, que foi a minha área de estudo na faculdade.

Muito dos problemas alardeados pelo público e pela população brasileira passa por essa falta de informação da área. Não existe como produzir políticas adequadas para um determinado assunto sem que se conheça esse mesmo assunto a fundo. E são poucos os que conhecem o fenômeno que compreende a indústria do futebol no Brasil. Isso torna nossas políticas um mero reflexo daquilo que vemos aplicado em outras regiões. Se uma determinada iniciativa dá certo lá, por que não vai dar certo aqui? Mas ninguém se preocupa em saber se essa iniciativa está realmente dando certo ou quais são as variáveis determinantes para a construção da mesma. Aí acaba dando tudo errado.

É notório que o futebol, no Brasil, só vai evoluir na medida em que mais conhecimento for gerado para que se possa, de fato, entender o papel que o esporte desempenha no país. Sem ensaios românticos, sem filosofias, sem achismos e sem retóricas emocionadas. É necessária a construção do conhecimento puro, pleno, dissociado de qualquer fator que não seja o próprio objeto em si.

E é esse o papel que a Universidade do Futebol tem a cumprir. Não há, até onde eu sei, um núcleo no país que se preze a desenvolver a ciência do esporte de maneira tão ampla e multidisciplinar como o projeto que aqui é apresentado. O desafio, agora, é conseguir explorar todo o potencial da plataforma para gerar conhecimentos que de fato colaborem com a evolução do esporte no país e também, por que não, com a evolução do próprio país em si.

Gerar esse conhecimento é uma tarefa que deve ser assumida por todos. Você, eu, clubes, atletas, federações, associações, entidades de classe, governos e quem mais estiver pela frente. Para que não tenhamos que confiar a construção da nossa compreensão da realidade em assunções levianas e irresponsáveis, muito menos em nossos amigos de faculdade.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A relevância da Universidade do Futebol para a modalidade no Brasil

Primeiramente, sinto-me lisonjeado em ocupar, a partir de hoje e semanalmente, o posto do colega Antonio Afif, um dos mentores e condutores do projeto da Universidade do Futebol.

Projeto que pretendeu, desde sua fase embrionária, contribuir com a evolução do futebol no Brasil, nos mais variados aspectos que, somando-se em suas especialidades, são reunidos sob o guarda-chuva da gestão.

Evidenciaremos, portanto, a pertinência da Universidade do Futebol no contexto evolutivo da gestão do futebol no Brasil.

Talvez, uma das características ainda marcantes no contexto do futebol no Brasil seja a nostalgia provocada pelas conquistas desportivas e os diferentes estilos de jogo, ocorridos no país a partir da década de 1950.

Com efeito, ao passo em que essa noção contribuiu, na prática, para a inserção desportiva do futebol nacional em âmbito internacional e, na teoria, para a construção de sua mítica imagem, por outro lado, serviu de acomodação administrativa e intelectual, ao longo das décadas seguintes, provocando, até mesmo, a negação de que esse esporte seja um “produto” com valor de mercado.

“Realmente, há um saudosismo pelos tempos românticos, mas, a despeito da comercialização do futebol, a mística não acabou. Helal defende essa tese: ‘No que diz respeito à comercialização do futebol, (…) minha suposição era a de que o advento da propaganda nos estádios e nas camisas dos times, assim como a transmissão de jogos pela TV, tiravam muito da aura mística e sagrada do futebol, fazendo com que este universo se transformasse em um mero meio comercial, desencantando os torcedores e contribuindo para a queda do público. Essa hipótese não foi confirmada pela pesquisa. Apesar de haver uma certa nostalgia pelo tempo ‘não comercial’, mais ‘romântico’ e ‘amador’ do futebol, os torcedores acostumaram-se à mudança e parecem ter entendido que a comercialização foi o meio encontrado para que os clubes equilibrassem seus orçamentos” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 92).

Outra opção passa a existir após o reconhecimento de tal característica. Em outras palavras, o que fazer com a gestão do futebol enquanto produto de um mercado consumidor – agora, afetado internacionalmente, pela globalização, mas que também dela pode fazer uso?

“Saldanha já falava em seu trabalho clássico, ‘Subterrâneos do futebol’, de 1963, que ‘qualquer time de primeira divisão, onde haja profissionalismo na Europa, tem um treinamento de alta categoria. Alguém poderia argumentar que ‘nós estamos certos e eles errados’. Que nosso espontaneísmo e nossa anarquia é que são bons. A prova é que ‘ganhamos copas do mundo pra cima deles’. Isto é absolutamente falso. A anarquia não é forma de desenvolvimento em nenhum setor de atividade humana. Se um matuto que conhece segredos da agricultura, por exemplo, obtém êxito apenas com sua enxada e com seus palpites se vai chover ou não, é lógico que o seu talento para o plantio obteria muito melhores resultados se utilizasse um trator em vez de uma enxada e os métodos modernos de agronomia'” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.48).

De forma geral, o sistema em que se desenvolve todo o futebol brasileiro, ainda sofre para romper com velhas e, hoje, inadequadas formas de gestão de seus negócios. O anteriormente mencionado saudosismo ainda ecoa nas instituições e nas pessoas, fazendo com que o passado determine o presente e, consequentemente, limite as perspectivas de futuro.

“O consultor de organização de empresas Michael Hammer certa vez observou: ‘Um indício de que a empresa tem problemas é quando me dizem que já foram muito competentes no passado. O mesmo ocorre com os países. Não se deve esquecer a própria identidade. É muito bom que tenham sido extraordinários no século XIV, mas isso foi antes, e agora é agora. Quando as recordações têm mais peso do que os sonhos, o fim está próximo. A marca distintiva de uma organização verdadeiramente bem-sucedida é a disposição de abandonar o que lhe trouxe o êxito e começar de novo” (FRIEDMAN, 2005, p.434).

Portanto, a visão purista e idílica do futebol, no Brasil, deve perdurar, apenas no sentido de revigorar-lhe na essência – porém, como combustível de uma grande indústria que necessita, constantemente, de gestão profissional em busca da manutenção e expansão de suas atividades.

“O futebol brasileiro passou por grandes mudanças, mas muito pouco realmente se transformou. Houve mudanças na legislação e uma grande expansão na estrutura física. A gestão melhorou, principalmente, dentro de campo. No âmbito estritamente administrativo houve avanços, mas a profissionalização ainda é um processo em andamento. A primeira e, talvez, única transformação real ocorreu quando da sua popularização (ou democratização) e profissionalização dos jogadores, processo que revolucionou as relações de trabalho, ocorrido entre as décadas de 1920 e 1930″ (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 21).

As palavras acima atestam que o desenvolvimento do futebol brasileiro esteve condicionado a fatores alheios à capacidade de gestão profissional das instituições, salvo rara exceção do trabalho realizado dentro do campo, na área técnica.

Esse privilégio, indolente, permaneceu inabalável, ao longo de décadas do século XX, porque assim foi o posicionamento dos tomadores de decisão na gestão do futebol nacional. Porém, esse posicionamento comodista vê a globalização do futebol cobrar o atraso, com crescente grau de exigência. 

“No entanto, a gestão desse grande negócio ainda está muito aquém do que se esperaria de uma indústria tão importante. A diferença é notável, se compararmos com outros países, principalmente os da Europa, Estados Unidos e Japão, com outros ramos da indústria do entretenimento (do qual a indústria dos esportes em geral e do futebol, especificamente, faz parte) e maior ainda se comparada com outros setores, como o financeiro. Portanto, partimos do princípio que a transformação do futebol em negócio é um movimento já existente e irrefreável e, sendo assim, além de estabelecer regras claras para a atuação dos agentes, é necessário, pelo bem do futebol, gerir essas transações de maneira mais profissional possível” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 05).

Indústria, entretenimento, negócio. São termos, frequentemente, aplicados ao profissionalismo do moderno futebol mundial, cujos reflexos dentro do país já são, indubitavelmente, sentidos.

O desafio aos tradicionais modelos de gestão do futebol nacional são amplificados pela globalização. Todavia, a tomada de decisão profissional rumo a sua evolução, inerente ao controle administrativo, pende da resolução das diferenças entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno. 

“No Brasil, os avanços na gestão, sejam dentro do campo, sejam na esfera administrativa, têm sido cercados por suspeitas e resistências, principalmente das lideranças ligadas a antigas oligarquias regionais, que ainda mantém sob seu poder as federações estaduais. Donos do melhor futebol do planeta, nós teríamos o que aprender? Esse misto de arrogância, atraso estrutural e, talvez, excesso de purismo ou cuidado com a cultura, acaba dificultando a implementação de hábitos e culturas mais profissionais dentro do futebol. A identidade, fortemente arraigada, dificulta grande parte das mudanças e transformações, embora estas estejam ocorrendo de qualquer maneira, forçadas por variáveis independentes e externas” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 40).

Assim, a definição sobre o que vem a ser gestão moderna do futebol brasileiro, é contundente, porém precisa: “No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.13).

Reconhece-se, pois, a dificuldade de adaptação na fase de transição entre as duas linhas da gestão do futebol nacional.

Entretanto, justamente nessa dificuldade transitória que é possível, aos clubes, resignar-se em favor do planejamento, em sintonia com o que deve ser feito em âmbito administrativo interno, bem como pautados pelas tendências oriundas de um mercado do futebol globalizado e profissional.

Com efeito, “a mercantilização do futebol já é um fato. Resta-nos agora decidir que tipo de comercialização queremos: uma amadora, oligárquica, retrógrada e corrupta ou uma profissional, organizada, com regras claras, onde as pessoas sejam tratadas como consumidores e sejam respeitadas por isso” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.91).

Em resumo: deixar de transferir a responsabilidade pela condução dos rumos da gestão do futebol brasileiro e passar a, pelo menos, tentar controlar e influenciar a administração dos clubes, a partir de fatores endógenos, minimizando os riscos causados pelas variáveis externas.

Nesse sentido, ratifica-se como um excelente fórum de discussões e busca por informações de qualidade o portal da Universidade do Futebol, cuja contribuição de inúmeros especialistas nas mais diferentes áreas do conhecimento contribuirá para o desenvolvimento evolutivo deste esporte.  

O futebol brasileiro necessitava de conteúdo. Não necessariamente mais, mas melhor. E, a partir de agora, isso está ao alcance de todos, como resultado de anos de envolvimento dos seus idealizadores e colaboradores, que não merecem outra palavra senão “parabéns”.

Bibliografia:

FRIEDMAN, Thomas. O mundo é plano: Uma breve história do século XXI. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

SANTOS, Luiz Marcelo Videro Vieira. A evolução da gestão no futebol brasileiro. Dissertação de Mestrado. FGV/EAE. São Paulo, 2002.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A importância de um veículo como a Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Primeiramente, sinto-me lisonjeado em ocupar, a partir de hoje e semanalmente, o posto do colega Antonio Afif, um dos mentores e condutores do projeto da Universidade do Futebol.

Projeto que pretendeu, desde sua fase embrionária, contribuir com a evolução do futebol no Brasil, nos mais variados aspectos que, somando-se em suas especialidades, são reunidos sob o guarda-chuva da gestão.

Evidenciaremos, portanto, a pertinência da Universidade do Futebol no contexto evolutivo da gestão do futebol no Brasil.

Talvez uma das características ainda marcantes no contexto do futebol no Brasil seja a nostalgia provocada pelas conquistas desportivas e os diferentes estilos de jogo, ocorridos no país a partir da década de 1950.

Com efeito, ao passo em que essa noção contribuiu, na prática, para a inserção desportiva do futebol nacional em âmbito internacional e, na teoria, para a construção de sua mítica imagem, por outro lado, serviu de acomodação administrativa e intelectual, ao longo das décadas seguintes, provocando, até mesmo, a negação de que esse esporte seja um “produto” com valor de mercado.

“Realmente, há um saudosismo pelos tempos românticos, mas, a despeito da comercialização do futebol, a mística não acabou. Helal defende essa tese: ‘No que diz respeito à comercialização do futebol, (…) minha suposição era a de que o advento da propaganda nos estádios e nas camisas dos times, assim como a transmissão de jogos pela TV, tiravam muito da aura mística e sagrada do futebol, fazendo com que este universo se transformasse em um mero meio comercial, desencantando os torcedores e contribuindo para a queda do público. Essa hipótese não foi confirmada pela pesquisa. Apesar de haver uma certa nostalgia pelo tempo ‘não comercial’, mais ‘romântico’ e ‘amador’ do futebol, os torcedores acostumaram-se à mudança e parecem ter entendido que a comercialização foi o meio encontrado para que os clubes equilibrassem seus orçamentos.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 92).

Outra opção passa a existir após o reconhecimento de tal característica. Em outras palavras, o que fazer com a gestão do futebol enquanto produto de um mercado consumidor – agora, afetado internacionalmente, pela globalização, mas que também dela pode fazer uso?

“Saldanha já falava em seu trabalho clássico, ‘Subterrâneos do futebol’, de 1963, que ‘qualquer time de primeira divisão, onde haja profissionalismo na Europa, tem um treinamento de alta categoria. Alguém poderia argumentar que ‘nós estamos certos e eles errados’. Que nosso espontaneísmo e nossa anarquia é que são bons. A prova é que ‘ganhamos copas do mundo pra cima deles’. Isto é absolutamente falso. A anarquia não é forma de desenvolvimento em nenhum setor de atividade humana. Se um matuto que conhece segredos da agricultura, por exemplo, obtém êxito apenas com sua enxada e com seus palpites se vai chover ou não, é lógico que o seu talento para o plantio obteria muito melhores resultados se utilizasse um trator em vez de uma enxada e os métodos modernos de agronomia’.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.48).

De forma geral, o sistema em que se desenvolve todo o futebol brasileiro, ainda sofre para romper com velhas e, hoje, inadequadas formas de gestão de seus negócios. O anteriormente mencionado saudosismo ainda ecoa nas instituições e nas pessoas, fazendo com que o passado determine o presente e, consequentemente, limite as perspectivas de futuro.

“O consultor de organização de empresas Michael Hammer certa vez observou: ‘Um indício de que a empresa tem problemas é quando me dizem que já foram muito competentes no passado. O mesmo ocorre com os países. Não se deve esquecer a própria identidade. É muito bom que tenham sido extraordinários no século XIV, mas isso foi antes, e agora é agora. Quando as recordações têm mais peso do que os sonhos, o fim está próximo. A marca distintiva de uma organização verdadeiramente bem-sucedida é a disposição de abandonar o que lhe trouxe o êxito e começar de novo.” (FRIEDMAN, 2005, p.434).

Portanto, a visão purista e idílica do futebol, no Brasil, deve perdurar, apenas no sentido de revigorar-lhe na essência – porém, como combustível de uma grande indústria que necessita, constantemente, de gestão profissional em busca da manutenção e expansão de suas atividades.

“O futebol brasileiro passou por grandes mudanças, mas muito pouco realmente se transformou. Houve mudanças na legislação e uma grande expansão na estrutura física. A gestão melhorou, principalmente, dentro de campo. No âmbito estritamente administrativo houve avanços, mas a profissionalização ainda é um processo em andamento. A primeira e, talvez, única transformação real ocorreu quando da sua popularização (ou democratização) e profissionalização dos jogadores, processo que revolucionou as relações de trabalho, ocorrido entre as décadas de 1920 e 1930.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 21).

As palavras acima atestam que o desenvolvimento do futebol brasileiro esteve condicionado a fatores alheios à capacidade de gestão profissional das instituições, salvo rara exceção do trabalho realizado dentro do campo, na área técnica.

Esse privilégio, indolente, permaneceu inabalável, ao longo de décadas do século XX, porque assim foi o posicionamento dos tomadores de decisão na gestão do futebol nacional. Porém, esse posicionamento comodista vê a globalização do futebol cobrar o atraso, com crescente grau de exigência. 

“No entanto, a gestão desse grande negócio ainda está muito aquém do que se esperaria de uma indústria tão importante. A diferença é notável, se compararmos com outros países, principalmente os da Europa, Estados Unidos e Japão, com outros ramos da indústria do entretenimento (do qual a indústria dos esportes em geral e do futebol, especificamente, faz parte) e maior ainda se comparada com outros setores, como o financeiro. Portanto, partimos do princípio que a transformação do futebol em negócio é um movimento já existente e irrefreável e, sendo assim, além de estabelecer regras claras para a atuação dos agentes, é necessário, pelo bem do futebol, gerir essas transações de maneira mais profissional possível.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 05).

Indústria, entretenimento, negócio. São termos, freqüentemente, aplicados ao profissionalismo do moderno futebol mundial, cujos reflexos dentro do país já são, indubitavelmente, sentidos.

O desafio aos tradicionais modelos de gestão do futebol nacional são amplificados pela globalização. Todavia, a tomada de decisão profissional rumo a sua evolução, inerente ao controle administrativo, pende da resolução das diferenças entre o antigo e o novo, o arcaico e o moderno. 

“No Brasil, os avanços na gestão, sejam dentro do campo, sejam na esfera administrativa, têm sido cercados por suspeitas e resistências, principalmente das lideranças ligadas a antigas oligarquias regionais, que ainda mantém sob seu poder as federações estaduais. Donos do melhor futebol do planeta, nós teríamos o que aprender? Esse misto de arrogância, atraso estrutural e, talvez, excesso de purismo ou cuidado com a cultura, acaba dificultando a implementação de hábitos e culturas mais profissionais dentro do futebol. A identidade, fortemente arraigada, dificulta grande parte das mudanças e transformações, embora estas estejam ocorrendo de qualquer maneira, forçadas por variáveis independentes e externas.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p. 40).

As

sim, a definição sobre o que vem a ser gestão moderna do futebol brasileiro, é contundente, porém precisa: “No caso do futebol, devido à resistência em adotar inovações, a gestão moderna é, simplesmente, a que utiliza os métodos comuns de gestão, praticados por qualquer organização profissional.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.13).

Reconhece-se, pois, a dificuldade de adaptação na fase de transição entre as duas linhas da gestão do futebol nacional.

 

Entretanto, justamente nessa dificuldade transitória que é possível, aos clubes, resignar-se em favor do planejamento, em sintonia com o que deve ser feito em âmbito administrativo interno, bem como pautados pelas tendências oriundas de um mercado do futebol globalizado e profissional.

 

Com efeito, “a mercantilização do futebol já é um fato. Resta-nos agora decidir que tipo de comercialização queremos: uma amadora, oligárquica, retrógrada e corrupta ou uma profissional, organizada, com regras claras, onde as pessoas sejam tratadas como consumidores e sejam respeitadas por isso.” (VIEIRA SANTOS, 2002, p.91)

 

Em resumo: deixar de transferir a responsabilidade pela condução dos rumos da gestão do futebol brasileiro e passar a, pelo menos, tentar controlar e influenciar a administração dos clubes, a partir de fatores endógenos, minimizando os riscos causados pelas variáveis externas.

 

Nesse sentido, ratifica-se como um excelente fórum de discussões e busca por informações de qualidade o portal da Universidade do Futebol, cuja contribuição de inúmeros especialistas nas mais diferentes áreas do conhecimento contribuirá para o desenvolvimento evolutivo deste esporte. 

 

O futebol brasileiro necessitava de conteúdo. Não necessariamente mais, mas melhor. E, a partir de agora, isso está ao alcance de todos, como resultado de anos de envolvimento dos seus idealizadores e colaboradores, que não merecem outra palavra senão “parabéns”.

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O nome da rosa

Li, como toda a gente, O nome da rosa de Umberto Eco. A história passa-se na Idade Média e o autor conta-nos como um monge de nome Guilherme de Baskerville, acompanhado do jovem Adso (que só depois de velho narra o que viu) quer descobrir uma morte estranha, numa abadia do norte da Itália. – morte que é a primeira de uma série de sete, que Baskerville interrompe ao desmascarar o culpado. No centro da abadia, levanta-se uma enorme biblioteca, considerada a mais importante e completa de toda a cristandade. Durante a investigação, Guilherme de Baskerville encontra-se em concorrência com a Inquisição e com o seu incontornável representante Bernard Gui, o qual defende que os hereges são os homicidas que Guilherme procura, designadamente os seguidores de Dolcino, o criador de uma seita hostil ao papado. Consegue, através de horrendas torturas, arrancar confissões, favoráveis à sua tese, a vários monges. Mas não convence Baskerville. Este a conclusão a que chega é bem diversa: conclui que as mortes não são obra de hereges e que os monges morrem, ao tentarem ler um livro misterioso, ciosamente guardado na biblioteca. A cena final do livro põe frente a frente Baskerville e o assassino, um cego que era um dos monges mais velhos da abadia. Desmascarado, o assassino faculta ao investigador o livro que já havia provocado sete mortes. Tratava-se do segundo volume da Poética de Aristóteles (384-322 a. C.), uma obra desconhecida até então e na qual o Estagirita faz uma profunda reflexão, chegando mesmo a abordar a questão do riso. Acusado por Baskerville, Jorge, o assassino, tem um comportamento estranho e, em vez de esconder o livro, aconselha ao investigador a sua leitura.

 

Baskerville começa a leitura do livro, mas muniu-se de um par de luvas, pois que descobriu que as páginas do livro se encontravam envenenadas, com um líquido que nelas deitara o monge criminoso. E não escondeu a questão seguinte: por que pretendia ele matar os monges que lessem a Poética de Aristóteles? Porque o livro falava do riso e o riso é o contrário da fé. Pergunta-lhe Guilherme: Mas quais são os efeitos perniciosos do riso?… Responde Jorge: “O riso é a fraqueza, a corrupção, o amolecimento da nossa carne. É a diversão para o camponês, a licença para o alcoólico e até a Igreja instituiu o Carnaval, espaço de muitos crimes e vícios. Portanto, o riso não passa de uma coisa vil (…)”.  Mas Baskerville queria saber mais: “Se há tantos livros que falam do riso, da alegria. Por que só este lhe inspirava tamanho terror? Declara o criminoso: “Porque era do Filósofo (Aristóteles). Cada um dos livros desse homem destruiu uma parte da ciência que a cristandade tinha acumulado, ao longo de séculos. Os primeiros Padres transmitiram-nos o que era preciso saber sobre o poder do Verbo e bastou que Boécio comentasse o Filósofo para que o mistério do Verbo divino pudesse ser questionado e parodiado. O livro do Génesis diz-nos o que é preciso saber sobre a composição do cosmos e bastou a Física do Filósofo para tudo o que nos foi ensinado fosse repensado. Cada palavra do Filósofo, em que (pasma bem!) há bispos e papas que acreditam, é um perigo para a cristandade”. Jorge faz do livro de Aristóteles o pretexto das suas angústias, diante dos problemas da Igreja. Baskerville, ao invés, não teme o riso, nem a crítica, pois que chega mesmo a pensar num cristianismo sem igreja.

 

Como se vê, o riso, o anedotário, a mordacidade intencional dos dissidentes, dos críticos, dos resistentes, que se opõem a qualquer cartilha ortodoxa, é considerado um perigo, pelos instalados, pelos carreiristas, pelos conservadores. Há muitos séculos, como hoje.

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A importância da Universidade do Futebol para o desenvolvimento da modalidade no país

Olá amigos. Nesta semana temos um marco para o futebol brasileiro. Não! Não é uma final de Copa do Mundo, nem tampouco a definição das cidades que serão sedes.

Trata-se da solidificação de um projeto que teve suas sementes plantadas há algum tempo e que agora se apresenta de forma imponente.

Nasceu a Universidade do Futebol!

Para o amigo mais assíduo, o contato já havia se estabelecido com os primeiros esboços do que seria essa Universidade, para os mais novos, sejam bem vindos. Para ambos, convido à reflexão sobre a importância e o significado desse marco para o desenvolvimento do futebol no Brasil. (Sim! Apesar das cinco estrelas, temos muito a desenvolver).

O primeiro ponto que deve ser destacado é o conceito de Universidade. Em geral idealizada como uma instituição na qual o conhecimento é elaborado, desenvolvido e difundido, e retornado à sociedade. Processo esse no qual é imprescindível a participação de pessoas das mais diferentes frentes, seja no ensino, seja no aprendizado.

Enfim, uma Universidade do Futebol! Que não se melindrem os profissionais que se julgam tão aptos e sabedores de tudo sobre futebol. Numa Universidade, o espaço é aberto para todos. Tal compartilhamento e convívio de diferentes saberes, tanto em formas como em profundidade, consiste na pedra fundamental para o sucesso de um projeto universitário.

Um projeto que deve abrir nossas mentes sobre a necessidade de aprendermos e ensinar constantemente, de reconhecer que o agrupamento e a transmissão de conhecimento enriquece a modalidade, e que o saber de cada um não deve ficar guardado a sete chaves, mas sim, compartilhado e posto a uma constante evolução em prol de cada um e do futebol enquanto ciência.

Futebol, Ciência? Sim, a multidisciplinaridade do futebol pode levar alguns a fazer referências a algumas ciências aplicadas à modalidade e outros a simplesmente considerarem o futebol enquanto uma ciência, mas deixemos essa rusga de lado. O fato é que a ciência encontra diferentes segmentos no futebol.

Apenas para elencar algumas que surgem rapidamente à cabeça (o amigo com certeza lembrará de outros tantos). Eis algumas áreas de conhecimento que formam a grande teia de saber do futebol:

Fisiologia – Medicina – Fisioterapia –  Nutrição – Bioquímica – Biomecânica – Psicologia -Preparação Física – Sociologia – Antropologia – História – Técnica- Tática – Pedagogia – Ludicidade – Treinamento – Gestão – Marketing – Jornalismo – Construção – Tecnologia – …

Uma rede de saber que exige profissionais especializados nas mais diferentes especialidades. A Universidade do Futebol vem suprir uma carência, ocupando um espaço, que é de fato ilimitado, possibilitada pelas atuais tecnologias do mundo virtual, no qual o conhecimento pode se propagar em lugares e velocidades incomensuráveis.

Para o sucesso da Universidade, é preciso que todos nós reconheçamos nossa importância, através de nosso envolvimento e participação, seja enquanto receptores ou transmissores de conhecimento, tendo em mente que o compartilhamento é a base para a evolução da modalidade.

Na ânsia de pesquisa, ensino e extensão, os pilares tradicionais de uma Universidade, destacam-se a inovação e modernidade das idéias e recursos disponibilizados, focando cursos, conteúdo e troca de experiências em torno do universo chamado futebol.

Desejo sucesso para todos nós, calouros desta Universidade, que possamos aprender, compartilhar e tornar este espaço mais do que um espaço de discussão, um espaço de consolidação e desenvolvimento da ciência futebol.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Por um futuro melhor

Final de semana de clássicos pelo Brasil. Corinthians x São Paulo na capital paulista, Cruzeiro x Atlético-MG em BH, no Rio, Botafogo x Flamengo e por aí vai. Sinônimo de semana cheia antes, durante e depois dos jogos para a imprensa. E, para o torcedor, certeza de muita polêmica.

A morte de um atleticano em Minas Gerais (sem contar diversos outros problemas de confrontos entre cruzeirenses e atleticanos em BH e arredores) ou o clima de guerra transferido para o campo de jogo entre Corinthians e São Paulo nos deixa, porém, com um grande ponto de interrogação quando o assunto é o papel da mídia no crescimento do esporte.

Em São Paulo, a busca desenfreada pela polêmica por parte dos colegas de imprensa contribuiu decisivamente para os ânimos de corintianos e são-paulinos ficarem exaltados nos 90 minutos de futebol no Morumbi. Tudo por conta da carga de ingressos a ser destinada para a torcida alvinegra, visitante no domingo, naquele que será o estádio paulista da Copa de 2014. 

Estádio que, diga-se de passagem, está com mais da metade de seus assentos comprometidos comercialmente. Seja com torcedores ou com empresas que ajudam a pagar a conta cada vez mais cara do futebol profissional de hoje. Comprometidos como apregoa a imprensa na maior parte do tempo, em busca da antecipação de receita e de um caixa em dia para o clube. 

Só que qual é a notícia disso? Não é mais fácil criticar a elitização, a “arrogância” de só dar 10% dos 60 mil e poucos ingressos colocados à venda, ou qualquer outro motivo que faça vender mais jornal, sintonizar mais o rádio, ligar mais a TV ou clicar mais o site?

Infelizmente o bom senso do jornalista é turvado quando o assunto é a audiência. Em busca da fama, do reconhecimento, da venda do produto ou do raio que o parta, não dá para saber. O fato é que, em vez de agir com a razão, o “coleguinha” quase sempre olha o impacto do que escreverá ou falará apenas do ponto de vista da “notícia”, esquecendo-se de fato da real causa ou da própria realidade daquilo que se escreve, fala, noticia.

Por isso mesmo que hoje, segunda-feira, dia 16 de fevereiro de 2009, o esporte no Brasil encontra uma nova chance de tentar levar o bom senso para as pessoas da mídia. 

O lançamento da Universidade do Futebol® pode ser mais um marco no lento processo de criação de uma nova era para o esporte mais popular do mundo. Era em que a informação é baseada no conhecimento, na troca de ideias, na inteligência, e não na mera busca incessante pelo que é notícia, pelo sensacionalismo puro das notícias popularescas.

Trabalho árduo, que leva tempo para ser construído e, principalmente, para mostrar os seus reflexos. Porque, ao longo dos anos, o futebol profissionalizou-se, ou tentou se tornar mais capacitado para a complexidade que assumiu em pouco mais de um século de existência. 

Hoje, conhecimento e estudo são tão ou mais importantes que a bola na rede, a defesa espetacular ou o grito de campeão da torcida. O futebol é uma ciência tão complexa quanto a química, a física, a matemática, as ciências humanas, as relações sociais. É muito mais que um jogo, é um integrado sistema de forças que atuam e movimentam os mais diferentes setores da economia. Desde o cardiologista que deve cuidar da saúde do torcedor aflito até a mulher que compra a lingerie do time para agradar o marido fanático. 

Por isso mesmo que é preciso ensinar e estudar futebol a cada dia que passa. Nos últimos dois anos e meio pude acompanhar mais de perto o caminho que levou à construção da Universidade do Futebol®. Projeto que talvez seja, atualmente, o mais completo conceito de transformação do futebol de mera paixão a mercado importante de trabalho.

Que a nova era do futebol comece. E leve um futuro melhor para todos nós, apaixonados pelo esporte e que vivemos dele. Sim, porque se hoje é possível viver do esporte (às vezes até em melhores condições do que em muitas profissões), quem sabe não será possível, em breve, viver do ensino do futebol, nas suas mais variadas formas? É por esse futuro que começa hoje a Universidade do Futebol®.

Vida longa ao conhecimento. E que ele leve o bom senso para os jornalistas, formadores de opinião que, atualmente, são cada vez mais meros causadores de casos para quem tenta ser profissional na maior paixão mundial.

PS: Apesar do caráter totalmente voltado à integração e à troca de conhecimento, é impossível não deixar de mencionar aqueles que tornaram possível começar a existir, de fato, a primeira universidade para estudo de futebol no país.

Meus sinceros agradecimentos e, especialmente, cumprimentos para a turma toda. Ao Medina, o homem à frente da idéia, e a seus fiéis escudeiros, Gheorge (que definitivamente não é apenas um Zé), Seo Afif, Tega, Alcides e companhia bela. Sem eles, esse dia provavelmente nunca teria chegado.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.vom.br

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Quotas para jogadores ‘domesticamente treinados’

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

A Football League inglesa, liga que controla o que seria a segunda divisão de clubes da Inglaterra (chamada the Championships), além das Ligas 1, 2 e 3 (correspondentes a terceira à quinta divisões), acaba de anunciar a implementação de quotas para jogadores domesticamente treinados em seus campeontatos locais.

Como já havíamos mencionado em outras colunas, a UEFA, a nível continental, tem atualmente em vigor um sistema semelhante, denominado “home-grown players rule”. Esse sistema, em linhas gerais, visa promover a inclusão de jogadores formados na Europa nos campeonatos de clubes europeus, independentemente de suas nacionalidades (entendendo-se por formação a participação em três temporadas durante o período entre 15 a 21 anos).

Essa decisão tomada pela Football League é inédita por dizer respeito, pela primeira vez, a quotas para jogadores formados na Inglaterra em campeonatos nacionais.

Segundo a nova regra, toda equipe de 16 jogadores selecionada para um determinado jogo da liga deverá conter ao menos 4 jogadores treinados domesticamente (sendo que o conceito de trenado domesticamente é basicamente igual àquele utilizado pela UEFA).

Todos nós sabemos que já existem quotas para estrangeiros provenientes de países de fora da União Européia, o que atualmente é lícito e exequível. No entanto, é interessante notar que o mesmo não pode ser aplicado para jogadores estrangeiros provenientes de países integrantes da União Européia. Neste último caso, a restrição com base na nacionalidade do jogador é considerada como discriminatória com base no Tratado da União Européia e nas diversas decisões da European Court of Justice e, porntanto, ilícita.

Desta forma, a solução que parece ter “caído nas graças” das autoridades da bola, e também nas autoridades públicas, é a restrição por base na formação do jogador, independentemente da sua nacionalidade.

Em outras palavras, se um jogador francês atuou em um clube da Football League durante 3 anos ou mais no seu período de 15 a 21 anos, ele será beneficiado pela nova regra e terá mais facilidade para atuar na Inglaterra.

A tendência (e também a expectativa das autoridades européias de futebol) é que a regra evolua até o ponto em que apenas uma minoria não cumpra o requisito dos 3 anos de formação local para para poder lá atuar.

É certo que essa seria uma grande utopia, tendo em vista, por outro lado, a grande abertura que as recentes decisões propiciaram para a livre movimentação de jogadores, não só na Europa, mas ao redor do mundo.

Temos que acompanhar essa tendência, de suma importância, uma vez que são inúmeros os brasileiros que são transferidos para a Europa. E agora essas transferências terão mais essa relevante restrição.

Para interagir com o autor: megale@149.28.100.147

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Quotas para jogadores 'domesticamente treinados'

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

A Football League inglesa, liga que controla o que seria a segunda divisão de clubes da Inglaterra (chamada the Championships), além das Ligas 1, 2 e 3 (correspondentes a terceira à quinta divisões), acaba de anunciar a implementação de quotas para jogadores domesticamente treinados em seus campeontatos locais.

Como já havíamos mencionado em outras colunas, a UEFA, a nível continental, tem atualmente em vigor um sistema semelhante, denominado “home-grown players rule”. Esse sistema, em linhas gerais, visa promover a inclusão de jogadores formados na Europa nos campeonatos de clubes europeus, independentemente de suas nacionalidades (entendendo-se por formação a participação em três temporadas durante o período entre 15 a 21 anos).

Essa decisão tomada pela Football League é inédita por dizer respeito, pela primeira vez, a quotas para jogadores formados na Inglaterra em campeonatos nacionais.

Segundo a nova regra, toda equipe de 16 jogadores selecionada para um determinado jogo da liga deverá conter ao menos 4 jogadores treinados domesticamente (sendo que o conceito de trenado domesticamente é basicamente igual àquele utilizado pela UEFA).

Todos nós sabemos que já existem quotas para estrangeiros provenientes de países de fora da União Européia, o que atualmente é lícito e exequível. No entanto, é interessante notar que o mesmo não pode ser aplicado para jogadores estrangeiros provenientes de países integrantes da União Européia. Neste último caso, a restrição com base na nacionalidade do jogador é considerada como discriminatória com base no Tratado da União Européia e nas diversas decisões da European Court of Justice e, porntanto, ilícita.

Desta forma, a solução que parece ter “caído nas graças” das autoridades da bola, e também nas autoridades públicas, é a restrição por base na formação do jogador, independentemente da sua nacionalidade.

Em outras palavras, se um jogador francês atuou em um clube da Football League durante 3 anos ou mais no seu período de 15 a 21 anos, ele será beneficiado pela nova regra e terá mais facilidade para atuar na Inglaterra.

A tendência (e também a expectativa das autoridades européias de futebol) é que a regra evolua até o ponto em que apenas uma minoria não cumpra o requisito dos 3 anos de formação local para para poder lá atuar.

É certo que essa seria uma grande utopia, tendo em vista, por outro lado, a grande abertura que as recentes decisões propiciaram para a livre movimentação de jogadores, não só na Europa, mas ao redor do mundo.

Temos que acompanhar essa tendência, de suma importância, uma vez que são inúmeros os brasileiros que são transferidos para a Europa. E agora essas transferências terão mais essa relevante restrição.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Está escrito

Você já sabe o que vai acontecer. Eu já sei o que vai acontecer. Todo mundo sabe o que vai acontecer.
 
Quando o fuzuê da Copa do Mundo no Brasil acabar, o que deve acontecer mais ou menos em 2015 (depois da Copa e das eleições presidenciais e governamentais), irão pipocar inúmeras denúncias sobre o quanto foi desviado, sobre o legado e sobre o que foi prometido e o que não foi cumprido.
 
Normal. Se tiver Olimpíadas no Brasil, vai ser igualzinho.
 
A questão é: se sabemos de tudo isso, por que nos preocupamos tanto?
 
Ficou claro que o governo federal se vacinou um pouco depois do Pan. Pelas declarações, a responsabilidade pelo financiamento da Copa está mais na mão dos governos estaduais do que de qualquer outro agente público ou privado. O governo federal apenas liberará verbas pontuais para projetos que estejam integrados ao PAC.
 
O que parece bom, uma vez que apenas os estados que arcarem com a responsabilidade da Copa terão que se preocupar em pagá-la, dá margem a um sem número de possibilidades de má-utilização do dinheiro público. Com a fonte do financiamento sendo disseminada em núcleos separados, as dificuldades de fiscalização e controle dos gastos ficam significativamente maiores. Em estados menos desenvolvidos da nação, onde ainda imperam práticas de governança de dois séculos atrás, essa situação ficará ainda mais complicada.
 
Os efeitos dessa eventual má-utilização do dinheiro público, portanto, também ficarão disseminados, o que pode impedir a construção de um sentimento único de preocupação a respeito das possíveis similaridades que a Copa possa ter com o Pan.
 
Acredite. Vai ser similar. E não adianta se preocupar.

 
Isso vai acontecer.

 
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br