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Descontrole

O futebol brasileiro, em 2010, está mais rico do que provavelmente já esteve em toda a sua história. Contratos melhores de patrocínio, aumento do interesse das empresas em investir no futebol e uma melhor noção por parte dos clubes de que eles são marcas valiosas contribuem para esse cenário de aparente crescimento na geração de receitas.

Só que, neste mesmo ano de 2010, os clubes brasileiros estão sendo tão irresponsáveis em sua gestão quanto há muito tempo não se via. Pode ser que seja por ter mais dinheiro em caixa, investir mais e, por conta disso, aumentar a exigência pelo resultado. É apenas uma teoria, mas que infelizmente mostra cada vez mais seu lado cruel de ter mais dinheiro só que não ter conhecimento suficiente para como gerenciá-lo.

Neste Campeonato Brasileiro, apenas Fluminense, Botafogo e Guarani não trocaram de treinador, enquanto o Corinthians foi forçado a procurar um novo técnico com a ida de Mano Menezes para a seleção brasileira. Além do Timão, o Santos pode ser colocado como outro ponto fora da curva com a polêmica Dorival Jr.

Mas o fato é que há uma pressão enorme hoje para que o clube mostre resultados imediatos dentro de campo. E um dos motivos é o investimento cada vez maior em equipes caras, que custam alguns milhões por mês para o clube. Dinheiro que existe e pode ser gasto, é verdade, mas que mostra aos poucos ser um produto que pode entrar em escassez novamente.

No início da década de 2000, os times do Brasil tiveram de aprender, na marra, a reduzir os seus custos num período em que o dinheiro rareou. Agora, alguns clubes começam a ter mais dinheiro para gastar, e geram um descontrole em outros num estágio não tão avançado financeiramente.

O maior problema de ter mais dinheiro circulando no futebol é não termos gestores preparados para momentos de abundância financeira. Em vez de segurar a onda de gastos e se preocupar em investir em outras áreas além do time de futebol (infraestrutura é uma delas, por exemplo), os clubes injetam tudo o que têm (e, com isso, também o que ainda não têm) na contratação de jogadores capazes de resolver os problemas.

O reflexo mais imediato disso é esse vai-e-vém de treinadores. No longo prazo, o buraco é mais profundo, podendo gerar um sério problema administrativo no clube, com tantas contas a pagar de pessoas que já não estão mais trabalhando para ele.

Claramente, a pessoa que trabalha na gestão dos clubes, tal qual um jovem que acaba de ficar milionário, ainda não está preparada para trabalhar com tanto dinheiro assim.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br 

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Wall Street

“Ganância é bom”, dizia Gordon Gekko, o personagem de Michael Douglas no filme Wall Street – Poder e Cobiça, dirigido por Oliver Stone na década de 1980.

“Ela clarifica e captura a essência do espírito evolutivo”, dizia o megainvestidor para o pupilo interpretado por Charlie Sheen.

O enredo do filme, que se tornou cult entre os que orbitavam nas bolsas de valores, corretoras e afins pelo mundo todo, tornava evidente a avidez por dinheiro rápido e um estilo de vida agressivo – na linha de sexo, drogas, rock and roll e pregões.

Nesta semana, pude acompanhar duas coisas muito interessantes ligadas à gestão e às finanças de clubes de futebol.

Na primeira, o programa Arena Sportv debatia, entre jornalistas e alguns dirigentes, os números do balanço dos principais clubes a partir do estudo da Crowe Horwath Auditores.

Sem entrar nos detalhes, percebe-se que o faturamento global aumentou bastante nos últimos anos, assim como as dívidas permaneceram estabilizadas e ou aumentaram em alguns casos.

Patrocínios, licenciamentos, venda de jogadores, até bilheteria, puxam o cenário favorável. Resta deixar o balanço no verde. Aliás, apenas três dos clubes abordados apresentaram superávit.

Na segunda, li a interessante reportagem da Fut Lance, sobre o Lyon, clube francês que, em 10 anos, foi alçado ao patamar dos principais clubes da Europa.

Um clube que nunca havia faturado nenhum título e passou a enfileirar sete ligas nacionais e figurar nas fases finais da Uefa Champions League.

A reviravolta se deu a partir de 1987, quando Jean Michel Aulas assumiu o clube, que dispunha de um orçamento de três milhões de dólares anuais.

E o presidente reconheceu que o sucesso havia sido alavancado pelo fato de o clube se tornar especialista no mercado de transferências de jogadores, tal qual na bolsa: comprar na baixa, vender na alta e, se possível, antes dos competidores, amparado em muita informação. E quanto mais dinheiro, mais títulos o Lyon ganharia, segundo ele.

Gekko, numa das cenas, fala a seu pupilo coisas pessoais sobre o jovem que o surpreendem na hora. E Gekko emenda: “Para mim, informação é a commodity mais valiosa”.

São estas as principais leis de Aulas na sua receita de sucesso:

1. Novos técnicos desperdiçam dinheiro com transferências. Corte as asinhas deles.
2. Astros de Copa do Mundo ou da Libertadores estão sobrevalorizados. Ignore-os.
3. Jogadores mais velhos são mais caros. Peça descontos ou, melhor, evite-os.
4. O melhor momento para comprar um jogador é quando ele tem 20 e poucos anos.
5. Venda qualquer jogador quando outro clube oferecer mais que ele vale.
6. Substitua seus melhores jogadores antes mesmo de vendê-los.
7. Ajude seus jogadores a se adaptarem.

A revista ainda tece o comentário que “costumamos achar um time lucrativo meio sem graça”, como torcedores, associando futebol e dinheiro a um tabu.

Jean Michel Aulas é o Gordon Gekko do futebol mundial.

E olha que ele nunca foi o típico cartola de futebol, tido no Brasil como alguém que se diz apaixonado pelo clube e faz tudo por amor e voluntarismo, como se a irracionalidade fosse determinar o êxito ou o fracasso na gestão.

Na juventude, ele jogava handebol.

E ainda não vi o novo filme Wall Street, cujo subtítulo é bem provocante: O dinheiro nunca dorme.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Compensações táticas

Depois de uma recente palestra sobre “dinâmicas táticas de ataque”, em que falei de estruturas táticas “móveis” e “fixas”, recebi algumas mensagens pedindo para que escrevesse algo sobre o que são as “compensações táticas” do jogo de futebol.

Pois bem. Como na última semana esse conceito esteve à tona em um encontro de treinadores promovido pela Uefa, creio que valha a pena aproveitar o ensejo e falar um pouco sobre o tema.

Ainda que possa não parecer muito óbvio, o conceito de “compensação tática” é, até certo ponto, bem fácil de entender.

Imaginemos uma mesa com quatro apoios (quatro “pernas”), que carrega sobre ela 20 livros de mesmo tamanho e massa. Aceitemos que essa mesa é retangular, e que os livros estão distribuídos em sua superfície em quatro montes iguais, em cada um dos seus cantos.

Se retiramos da mesa uma das suas “pernas”, e mantivermos os livros distribuídos em montes iguais por seus quatro cantos, é possível que a partir de um desequilíbrio momentâneo a mesa venha ao chão com todos os livros.

Então, para evitar que isso aconteça, antes de retiramos um dos seus apoios, é preciso que remanejemos os livros pela superfície da mesa, de maneira a conseguirmos encontra uma posição de equilíbrio, que permita que a mesa, mesmo com apenas três “pernas”, permaneça “em pé”.

Esse remanejamento de livros na busca pelo equilíbrio é o que podemos chamar de compensação (eu compenso a falta de uma perna na mesa com uma realocação dos livros sobre ela, de maneira a equilibrar as massas e manter a mesa “em pé”).

A ideia sobre compensação tática cabe bem na analogia da mesa. Ela quer dizer, no futebol, uma readequação posicional e/ou de operação, que permita, sob o ponto de vista organizacional, manter o equilíbrio da equipe (seja para estruturar o espaço de jogo, seja para fazer valer uma regra de ação).

Então, se uma equipe quer atacar com boa amplitude e manter, por exemplo, cinco jogadores, mais o goleiro atrás da linha da bola, desenhando um balanço defensivo, precisará fazer compensações específicas, que podem ser iguais ou diferentes quando estiver jogando em um 1-3-5-2 ou em um 1-4-3-3.

Isso quer dizer que se em um 1-3-5-2 uma equipe mantém boa amplitude, utilizando-se dos alas bem abertos, e para seu balanço defensivo com cinco jogadores mais o goleiro, posiciona os três zagueiros mais os seus dois volantes (ou um volante e um meia) atrás da linha da bola, deverá, jogando em um 1-4-3-3, ter outros jogadores mantendo os mesmos posicionamentos.

Por exemplo, no 1-4-3-3, pode manter a amplitude com um dos laterais e um atacante, e desenhar o balanço defensivo com o goleiro, dois zagueiros, um lateral e dois volantes (ou um volante e um meia).

Vejamos as figuras:


 

Dentro de um mesmo esquema tático, por exemplo, o 1-4-3-3, se a equipe utilizar-se de uma ocupação espacial com estruturas móveis, também poderá fazer múltiplas compensações, de acordo com as necessidades das situações do jogo.

Então, da mesma forma que em esquemas táticos diferentes é necessário que haja compensações para manter a boa estruturação do espaço, para um mesmo esquema tático, em circunstâncias diferentes, também é necessário que elas (as compensações) aconteçam, para que uma equipe possa fazer valer sua geometria de ocupação (de acordo com as premissas de seu modelo de jogo).


 

Por hoje é isso!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

*As figuras utilizadas nesta coluna foram desenhadas no Tactical Pad, da Clan Soft

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Instinto falho

Aos 15 anos de idade, Neymar da Silva Santos Júnior já era apontado como uma grande promessa do futebol brasileiro. Destaque das categorias de base do Santos, recebia salário, comida em roupa lavada em sua cobertura, que – ao que tudo indica – ganhou com treze anos.

Durante seu período na base do Santos, Neymar foi convocado diversas vezes para a seleção brasileira de base e com 17 anos estreou no time profissional do Santos. Demorou pouco para Neymar começar a se destacar. No seu primeiro ano como profissional, ainda aos 17, foi eleito o melhor jogador do campeonato paulista.

No ano seguinte, em julho de 2010, aos 18 anos, foi convocado para a seleção brasileira adulta. Apontado, e apontando-se, como a grande revelação do futebol brasileiro nos últimos anos, recebeu uma proposta de 35 milhões de Euros do Chelsea em agosto de 2010 e recusou.

Em setembro do mesmo ano, envolveu-se em uma série de polêmicas que culminou com ofensas públicas ao seu técnico durante uma partida, que acabou gerando a demissão do mesmo técnico. Na convocação seguinte para a seleção brasileira adulta, seu nome não apareceu.

Aos 15 de idade, Tiago Manuel Dias Correia perambulava livremente pelos becos de Lisboa, sem lá grandes perspectivas para vida. Abandonado pelos pais desde muito cedo, havia sido inicialmente cuidado pela vó, mas uma ordem judicial o obrigou a se mudar para um abrigo administrado por uma igreja na periferia lisbonense aos doze anos de idade. Logo depois da mudança, começou a treinar em um clube amador das redondezas, mas sem despertar maiores atenções.

Aos 19 anos, foi convidado, junto com outros sete colegas de abrigo, a integrar o time da CAIS, uma ONG portuguesa que trabalha na melhoria das condições de vida de pessoas sem-teto, que viajaria para a Bósnia para participar do campeonato mundial de futebol de rua. Em seis jogos, Tiago marcou 40 gols. Logo em seguida, quase foi convocado para participar do campeonato mundial dos sem-teto, mas, no mesmo ano, acabou indo parar no Estrela da Amadora, clube da segunda divisão portuguesa.

Depois de uma temporada em que marcou quatro gols em 26 jogos, Tiago assinou de graça com o Vitória Guimarães, uma vez que o Estrela não pagou seus salários. No Vitória Guimarães, Tiago não jogou nem uma partida oficial sequer. Depois de uma impressionante pré-temporada em que marcou cinco gols em seis partidas, Tiago mudou de time.

Ontem, Tiago, o Bebé, fez sua estréia oficial com a camisa do Manchester United, que pagou mais de sete milhões de libras para contratar um jogador que a pouco mais de um ano estava disputando um torneio de futebol de rua no time de uma ONG que cuida de sem-teto.

Neymar pode se tornar o maior jogador brasileiro de todos os tempos. Bebé pode se tornar uma aposta romântica, mas fracassada de Alex Ferguson. Mas Neymar pode se tornar mais uma promessa brasileira que não vingou e Bebé pode vir a ser o maior jogador português da história. Ninguém sabe dizer ao certo. A complexidade humana impede qualquer prognóstico razoável sobre o que torna um jogador bom ou ruim. É tudo baseado em percepções intuitivas que nos levam a determinar fatos e ações. Mas a nossa intuição é bastante falha. Um ano e meio atrás, Neymar morava em uma cobertura e Bebé morava em um abrigo para sem-teto. Quem consegue prever qual será a situação um ano e meio pra frente?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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O que explica o rebaixamento?

É difícil arriscar palpites sobre o rebaixamento ou o fato de clubes tradicionais do futebol brasileiro estarem em divisões que não honram suas glórias do passado. Colocar a culpa somente na gestão também pode parecer leviano, mas explica muita coisa. O caso em evidência agora é o do Juventude-RS, que desde o título da Copa do Brasil em 1999 desceu ladeira, culminando com o seu rebaixamento para a Série D do Campeonato Brasileiro em 2010.

Traçando um paralelo com o mercado corporativo, de inúmeros que poderíamos adotar, vamos falar rapidamente na empresa Olivetti, que foi comprada recentemente pela Telecom Itália para um processo de revitalização da marca. Antes, porém, a empresa, que era líder, e praticamente soberana, na comercialização de máquinas de escrever e calculadoras há 20-30 anos, ignorou completamente a inovação e foi praticamente atropelada pela concorrência ávida por novas tecnologias em respeito aos anseios dos consumidores.

Esse simples caso nos ensina aquilo que muitos especialistas falam e publicam: sem inovação e acompanhamento de tendências, a organização está fadada ao insucesso. É verdade que o mercado do futebol é um pouco diferente, uma vez que os consumidores da marca dos clubes são fiéis às mesmas e, por tal razão, conseguem sustentar por algum período a grandeza de seus amados clubes – o que acaba por ser o sustentáculo importante de inúmeros trabalhos mal-sucedidos em termos de gestão.

Casos como os de Juventude, Santa Cruz, Fortaleza, Remo, Paysandu e tantos outros Brasil afora fazem parte de um conjunto de clubes que não conseguiram acompanhar as mudanças face à modernização em seus processos de gestão. Permanecem em uma gangorra que os leva a resultados esportivos incríveis e que, por falta de planejamento e estruturação administrativa, caem vertiginosamente rumo ao ostracismo.

Esses clubes não compreendem que o que deu certo no passado pode não funcionar em questão de anos ou até meses, dada a velocidade nas mudanças que vivenciamos dia após dia.

O acúmulo de conhecimentos multidisciplinares são peças-chave para as organizações bem sucedidas, incluindo-se aí o capital humano de alta qualidade gerencial e operacional que sejam capazes de determinar rotinas eficazes de trabalho afim de utilizar e adotar novas ideias dentro da organização.

Sem o investimento adequado em pessoas não se é possível inovar. Sem inovação, não há sobrevivência organizacional no médio-longo prazo. A inovação acaba por ser o resultado de interações complexas entre conhecimento, produção, marketing e pessoas a partir de uma rede complexa de aprendizagem, seja internamente ou mesmo externamente.

É possível fazer uma repaginação do futuro destes clubes a partir de agora? Sim, desde que invistam em pessoas e se procure alternativas para inovar, antecipando-se às novas e desconhecidas perspectivas do mercado esportivo que hão de vir.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Centro de Informação no Futebol: isso ganha jogo?

Olá amigos,

Por algumas vezes discutimos a formação do Centro de Informação de Jogo, (CIJ) no futebol. Alguns clubes já estão começando a montar uma central. Alguns chamam de Infocenter, outros de DataCenter, enfim, alguns nomes para as tentativas de se construir uma CIJ, mesmo que ainda tímidos.

Quando comentávamos sobre esse ponto numa palestra recentemente sobre a tecnologia a serviço do futebol, um aluno levantou a seguinte questão: que tipo de informação pode ser produzida por esses Infocenters. Isso ganha jogo?

Pergunta interessante, mas não é a resposta para ela que chama a atenção. Mas sim a simplicidade do fim da pergunta. “Isso ganha jogo?”

Sim, o ganhar o jogo é primordial para o futebol. Já dissemos anteriormente que é esse o resultado que vai determinar se o planejamento estava ou não certo, ainda que seja superficial a análise com base apenas no resultado.

Então refaço as questões que levantei durante a palestra para refletirmos, fixados pelo eixo final da pergunta, “Isso ganha jogo?”

1.Treino de velocidade ganha jogo?
2.Treino de resistência ganha jogo?
3.Musculação ganha jogo?
4.Testes Físicos ganham jogo?
5.Salário em dia ganha jogo?
6.Centro de treinamento ganha jogo?
7.Fisioterapia ganha jogo?
8.Nutrição ganha jogo?
9.Psicólogo ganha jogo?
10.Assessor de Imprensa ganha jogo?
11.Gestão ganha jogo?
12.Tecnologia ganha jogo?

Poderíamos elencar uma centena de questões envolvendo aspectos que compõem o campus (utilizando do conceito de Pierre Bourdieu) prático do futebol. Enfim, o que ganha o jogo?

Daí alguns poderiam vir e dizer: “o que ganha o jogo é gol, se você tiver feito mais gols que seu adversário você ganha o jogo.”

Daí faríamos novas perguntas:

1.Treino de velocidade faz gol?
2.Treino de resistência faz gol?
3.Musculação faz gol…

Novamente, uma centena de perguntas, até alguém mudar o argumento central da pergunta inicial, para a partir daí começarmos um novo ciclo de perguntas.

Desta forma gostaria de fazer uma reflexão. Não podemos simplesmente julgar o uso das informações no futebol pelo fato do resultado propriamente dito. Porque o que está em jogo é o uso que se faz das informações.

Daí partiríamos para um novo escopo de perguntas: competência ganha jogo?

Opa! Nessa pergunta surgiu um desconforto, mas talvez com questões que façam um pouco mais de sentido:

1.Treinar com competência a velocidade pode ajudar a ganhar o jogo?
2.Utilizar as informações tecnológicas com competência ajudam a ganhar o jogo…

Pronto, diriam alguns, ou de novo…

Afinal como avaliar a competência? Talvez na simplicidade da complexa filosofia de vida de um gênio da humanidade:

“O verdadeiro significado das coisas é encontrado ao se dizer as mesmas coisas com outras palavras”. (Charles Chaplin)

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O mundo está ao contrário?

Em 2010, o Campeonato Brasileiro disputado na fórmula por pontos corridos chega a sua sétima edição. Depois de 32 disputas em que o formato do torneio nunca se repetiu, o futebol brasileiro exibiu sopros de modernização ao adotar o modelo de decisão de um campeão que é mais simples e fácil de se planejar.

Na essência, é isso o que significa o Brasileirão por pontos corridos. Um torneio que é absolutamente previsível em sua disputa, o que torna mais fácil de você planejar um time para ser o campeão ao longo de 38 rodadas. Não há muita margem para o imprevisível nessa fórmula de disputa da competição. Aquele que se preparar para ter um time forte durante 38 rodadas, fatalmente será o vencedor ao término dessa “batalha”.

Parece simples. E é! Só que, em sua sétima edição “previsível”, o Brasileirão continua a dar mostras de que a palavra planejamento passa ao largo da maioria das equipes. Para se dar bem nos pontos corridos, é preciso planejar. Olhar ali por volta de janeiro e saber como você estará em dezembro. Calcular, projetar e trabalhar para isso.

Mas, passadas 23 rodadas do atual Brasileirão, fica claro que são pouquíssimos os clubes que de fato fizeram um trabalho de planejamento para a disputa da competição. O líder Corinthians, por exemplo, foi o único até agora forçado a mudar de treinador no decorrer da competição. Mas a chegada de Adílson Baptista apenas modificou a forma como o time joga, sem mudar o plano traçado no início da temporada por Mano Menezes.

Será tão estranho assim que o clube lidera a competição?

As campanhas medíocres e/ou medianas de Palmeiras, Flamengo, São Paulo, Atlético-MG e Grêmio são uma clara amostra de como a falta de planos pode destruir um clube durante a disputa por pontos corridos.

Esses cinco times desfizeram-se de atletas e treinadores (à exceção do Galo) no decorrer do campeonato. Apostaram em atletas mais velhos e outros identificados com a torcida. Esqueceram-se do básico. Sem planejar, o clube não terá sucesso.

Não é à toa que o europeu está acostumado a jogar nos pontos corridos. Essa falta de insegurança que uma fase mata-mata causa é de arrepiar o pensamento de alemães, ingleses e franceses, por exemplo. A racionalidade européia é sintetizada na fórmula de disputa da maior competição dos países.

A chave do sucesso de grandes empresas é ter dinheiro em caixa e grande capacidade de planejar as ações no mercado de atuação. O restante vem junto com isso. No futebol, essa lógica permanece. Quem souber mais como planejar o ano e também tiver dinheiro suficiente para conseguir executar esse plano, será mais bem sucedido.

Mas, na realidade do futebol brasileiro, o mundo continua andando ao contrário. Apenas alguns poucos repararam. Não é coincidência que esses disputarão o título nacional até dezembro…

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Respeito

Respeito tem sido algo raríssimo na sociedade (civilizada?) atualmente.

Poderíamos desfilar uma série de valores e virtudes ausentes nessa mesma linha: cordialidade, gentileza, solidariedade.

Um dos grandes vetores de transformação social poderia e deveria ser o esporte. E tanto melhor o esporte mais praticado e incensado em todo o mundo, o futebol.

Entretanto, já vem de tempos que presenciamos quase que o reverso da medalha, em que os jogos e competições remontam à sanha ancestral do homem em expiar seus pecados e frustrações.
As arenas do futebol, hoje, se parecem mais com aquelas dos romanos, cujo deleite era vivido por combates sanguinários entre homens e feras.

Para escrever sobre o respeito e lhe dar a sensação mais precisa de como nos faz falta, invocamos alguns (maus) exemplos recentes.

Domenech e Parreira; Dunga e Escobar; Anelka e Domenech; Neymar e Dorival Junior.

O caso Neymar, o mais fresco na memória coletiva, denota que o futebol e as pessoas que o compõem devem se olhar no espelho e se questionar se de fato se está diante do Médico ou do Monstro.

Puritanismos à parte, Neymar, o pós-adolescente de 18 anos, deve ser orientado a se responsabilizar por todos os atos não só dentro como fora do campo, no mesmo grau em que se lhe outorga a liberdade para escolher se vai ao Chelsea, se fica no Santos, se compra um Fusca ou uma Ferrari.

Como acontece com todos nós. Respeito é uma atitude, mais do que um sentimento, e deve ser expressado, manifestado.

Os que acompanham os jogos-espetáculo da Uefa Champions League devem ter notado as mensagens nos intervalos e chamadas de TV sobre a campanha “Respeito”.

 

 

Alguns excertos de releases no site oficial da entidade dão conta da importância e envolvimento da Uefa com esta discussão:

O fair-play e o respeito têm um papel fundamental no desporto, qualquer que seja a modalidade desportiva, especialmente nas que envolvem crianças.

“As crianças precisam de valores fortes para crescer. O futebol, como desporto colectivo, permite que elas percebam a importância da disciplina, do respeito, do espírito de equipa e do fair play, tanto no desporto, como na vida em geral. A campanha de fair-play da Fifa vai muito além da promoção do fair play em campo durante uma competição”, explicou Joseph Blatter, o presidente da Fifa.

“O respeito é um princípio fundamental do futebol”, afirmou o presidente da Uefa, Michel Platini. “Respeito pelo jogo, jogadores, árbitros, adversários e adeptos. A Uefa não vai tolerar o racismo ou qualquer outra forma de discriminação, em campo, nas bancadas ou nas cidades.”

A campanha Respeito da Uefa é promovida em importantes jogos e eventos organizados pela Uefa, tendo sido lançada antes do Uefa EURO 2008 que decorreu na Áustria e na Suíça. Esta iniciativa está ligada a programas que visam combater a violência, o racismo, a xenofobia e a homofobia, isto para além de incentivar o apoio dos adeptos, o diálogo intercultural, a proteção do meio ambiente e a ajuda humanitária.

A mensagem visa fomentar o respeito para com os adversários, os adeptos das outras equipas e os árbitros em particular, isto para além do próprio jogo. “O futebol é um terreno fértil para fomentar a fraternidade e a diversidade”, continuou Platini. “Somos todos iguais com a bola nos pés e a Uefa vai continuar a promover a participação cívica, a defender grandes causas humanitárias e a combater os problemas sociais. Vamos unir-nos e mostrar respeito”.

Ronaldinho Gaúcho foi ovacionado e homenageado em Barcelona, pelo seu ex-clube, na final da Copa Joan Gamper. Puyol lhe deu o troféu de campeão de presente, como justa retribuição ao que o ídolo proporcionara em cinco anos na Catalunha.

No Brasil, o que temos feito? Quais são as iniciativas planejadas de federações, clubes, sindicatos, mídia e da CBF?

Considerar pouco grave o episódio que envolveu Neymar no Santos significa perpetuar a dicotomia entre a sociedade brasileira e o futebol aqui praticado, permitindo com que um se aproveite do outro, de costas viradas, impunemente.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A cultura da vitória: os campeões se constroem

Muitas pessoas me perguntam quais características comuns entre si, têm os treinadores de futebol vencedores.

A curiosidade ansiosa para tentar entender por que alguns poucos vencem tanto, e outros tantos vencem tão pouco, faz com que muitas vezes, uma busca incessante de relações causa-efeito se inicie, e tente explicar com argumentos simplistas, o que diferencia um treinador campeão, de outro que não seja.

Eu não tenho uma resposta pronta para isso – tenho sim alguns palpites e alguns apontamentos.

De qualquer forma, o que me parece muito importante, é entender que obviamente, vencer ou perder não é uma questão do acaso.

Os campeões se constroem, e por mais que isso doa para o ouvido de alguns, a conquista da vitória, nada mais é, do que a conquista do controle das variáveis que interferem direta e indiretamente no desempenho de jogadores e equipes.

Por mais abstrato que isso pareça, o “vencer”, é resultado da busca constante e permanente de um ambiente de excelência, em que as “engrenagens” do processo geram um tipo de conspiração, que se torna espontânea, de rotinas de vitória.

Em outras palavras, da mesma maneira que criamos rotinas para coisas diversas, e somos capazes de desenvolver hábitos que algumas vezes até condicionam nosso comportamento, para alcançar a vitória e “transformar suor em ouro”, é necessário que sejamos capazes de gerar uma “cultura de vitória”.

Dentro de um sistema tão elaborado e complexo quanto o futebol (com tudo que o envolve, em todos os seus níveis e categorias), gerar uma cultura de vitória não é algo tão simples.

São muitas as interações e interdependências nesse sistema. São muitos e longínquos os elementos que interferem diretamente na maneira com que ele (o sistema) se organiza.

Quando o professor e filósofo Manuel Sérgio disse, que para saber de futebol é preciso saber muito mais do que futebol, talvez tenham sido poucos, os que lhe deram ouvido. E dos que o ouviram, talvez, muito menos ainda foram aqueles capazes de entendê-lo.

A construção de uma cultura de vitória segue caminhos diversos para se estabelecer, e esses caminhos são particulares ao meio que se está inserido. Depois de instalada, ela tende com o passar do tempo e se bem administrada, a ficar cada vez mais forte.

Um treinador que seja parte fractal dessa cultura amplifica seu capital simbólico, e a partir daí está pronto para influenciar novos ambientes, com maiores chances de sucesso.

A construção da vitória, parte então do entendimento de que ela está no jogo, mas não apenas dentro do campo de 100 por 70 metros, de grama verde; ela está num jogo muito maior, que está muito além das quatro linhas.

Por isso, termino hoje com um trecho de um texto que li faz tempo, e que me parecia estranho, sem nexo; mas que hoje dia faz todo o sentido…

Trecho de “A menina que virou vento” (Tedtage Noarie)

Ela soprava enquanto o vento tocava seu rosto.
Ela soprava, soprava, soprava, enquanto o vento tocava seu rosto.
E ela soprava, soprava, soprava, soprava; e então, também virou vento…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O BIRG, o CORF e a explicação da indústria do futebol brasileiro

Quando você vai a um estádio de futebol, você provavelmente sabe dizer por que você está indo. Agora, você sabe dizer por que os outros milhares de torcedores também estão lá?

Cada um tem lá sua razão específica pra torcer para um clube. Pode ser por influência familiar, por aversão ao time do vizinho, por causa de um atleta específico, por morar do lado do estádio e por outras tantas coisas mais. E todas essas coisas foram estudadas e identificadas.

Existem inúmeras razões pela quais uma pessoa escolhe torcer por um time. E existem outras mais que fortalecem ou enfraquecem o laço entre o torcedor e o seu clube. A mais comum delas foi denominada por alguns pesquisadores de Basking In Reflected Glory (BIRG), que significa algo como “orgulhar-se com a glória refletida”, que é o fenômeno que ocorre quando um time ganha um jogo e o torcedor diz (e sente) que “nós ganhamos a partida”. Com o BIRG, quanto mais um time ganha, mais orgulho ele gera e mais pessoas se apropriam do status de vencedor gerado pelas vitórias.

O BIRG é, evidentemente, o principal laço da relação entre clubes e torcida no Brasil. Isso acontece muito por conta da impossibilidade ambiental de desenvolver outras relações, principalmente dos laços mais profundos com a comunidade local de cada torcedor, já que as comunidades locais do Brasil são ainda muito recentes e carecem de maiores vínculos com os seus habitantes. Com isso, há pouco vínculo social entre clube e torcida, deixando que o BIRG se apodere da intermediação do processo.

Por conta do BIRG, quando o time está ganhando, a torcida se torna fanática, lota estádios e compra produtos. O grande problema é que o BIRG traz em sua essência outro processo psicológico oposto, que foi denominado de Cutting Off Reflected Failure (CORF), que significa algo como “romper com o fracasso refletido”, que ocorre quando o time perde e o torcedor diz (e sente) que “eles perderam a partida”. Com o CORF, quanto mais um time perde, mais torcedores se afastam do time para evitar absorver o status de fracasso. Ou seja, quando um time perde uma partida ou um campeonato, os torcedores param de consumir produtos e de ir aos estádios como forma de evitar parecer que eles também são perdedores. Com o BIRG, “nós ganhamos”. Com o CORF, “eles perderam”.

Como esses dois fenômenos são predominantes na relação entre times e torcedores no Brasil, os clubes ficam excessivamente reagentes ao sucesso em campo. Afinal, a derrota significa não apenas o fato esportivo em si, mas cria também um grande impacto nas receitas e na administração do ambiente político do clube. Com isso, exerce-se uma enorme pressão por sucessos imediatos e constantes, onde vitórias devem ser obtidas a qualquer custo e derrotas são suficientes para motivar mudanças completas na estrutura do clube. Isso acaba gerando uma situação em que é impossível desenvolver o mínimo controle financeiro e torna o fluxo de receitas e despesas algo absurdamente instável, impossibilitando qualquer manutenção de parâmetros de gestão de longo prazo.

O BIRG e o CORF explicam muito sobre como funciona a indústria do futebol brasileiro e por que o buraco financeiro vai ficando cada vez maior. A boa notícia é que existem métodos para tentar minimizar o impacto que esses fenômenos causam nos clubes. A má notícia é que aqueles que tem poder para aplicar esses métodos de controle são justamente aqueles que mais se deixam influenciar por eles.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br