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A ação do treinador: dos gritos à descoberta guiada

“Para mim liderar não é mandar, para mim liderar é guiar”
José Mourinho

 

“Ser treinador de futebol não é nada fácil…”: essa frase muitas vezes remete à instabilidade do cargo, mas nesta coluna tal afirmação serve muito bem para ilustrar a complexidade da ação desse profissional dentro do processo de treino.

Em um processo de treino pautado na complexidade, a ação do treinador interfere diretamente na dinâmica de toda a atividade, modificando os objetivos e as ações dos jogadores dentro do treino.

No estudo de Rampinini e outros autores (Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games), podemos observar como a intervenção do treinador modifica diretamente os parâmetros físicos das atividades.

Nesse estudo, os autores submetem os jogadores a jogos reduzidos com e sem a intervenção verbal dos treinadores. A frequência cardíaca, concentração de lactato sanguíneo e na percepção subjetiva de esforço foram mesurados e analisados em cada atividade.

Os dados mostram que quando há a intervenção ativa com estímulo verbal do treinador, há um incremento em todos os parâmetros observados; já quando não há a intervenção do treinador, esses dados sofrem uma queda significativa. Sendo assim, podemos concluir que a ação do treinador interfere diretamente no estímulo físico dentro dos jogos reduzidos.

Contudo, não basta incentivar verbalmente os jogadores para que eles corram mais, ou gritar se eles cometerem algum erro dentro da atividade: é preciso saber guiar todo o processo!

Guiar todo o processo significa orientar os jogadores para aquilo que se espera dentro do jogo. Na base, essa orientação vai além do jogo e se foca (pelo menos deveria) no desenvolvimento de jogadores inteligentes e como visão crítica sobre o jogo, e não simplesmente obedientes taticamente.

O treinador precisa traçar os objetivos e guiar os jogadores ao longo do caminho. Nesse âmbito, a dura ou a repreensão pode e deve ser utilizada em momentos pertinentes, pois formar muitas vezes requer esse tipo de intervenção (claro que com toda a ação pedagógica embutida).

Para José Mourinho, os jogadores precisam ser estimulados a discutir, questionar, experimentar. Tudo com a supervisão e orientação de toda a comissão, que não deve deixar que isso se torne em uma grande discussão, na qual qualquer raciocino é permitido.

A discussão precisa ter um norte, que evolui a cada treino e não deixa que os jogadores se acomodem em questões antigas. Nesse processo, denominado de “descoberta guiada” pelo treinador português, não há estagnação e as discussões evoluem a cada treino e a cada jogo.

Sabemos que cada atividade tem seu objetivo e nosso papel como professor em sua essência deve ser de levar os atletas a entender e avaliar a eficiência de suas ações jogo a jogo, treino a treino.

Em suma, precisamos guiar o processo e não trazer respostas prontas com conteúdo vazio de significado para os atletas.

Lembre-se que esse guiar passa pelos aspectos físicos, técnicos e mentais do jogo, e não apenas pela tática.

Até a próxima.

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 


Referências
:

Rampinini E, Impellizzeri FM, Castagna C, Abt G, Chamari K, Sassi A, Marcora SM. Factors influencing physiological responses to small-sided soccer games. J Sports Sci. 2007;25(6):659-66.

Lourenço, L, Mourinho: a descoberta guiada. São Paulo: Almedina, 2010

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O treinamento em futebol e os níveis neurológicos

Aproxima-se o fim de inúmeras competições pelo Brasil. Tanto nos campeonatos das categorias de base como nas competições profissionais, as próximas semanas serão de jogos decisivos. E estes jogos, físicos-técnicos-táticos-emocionais ao mesmo tempo, para todos os jogadores, durante os minutos que correspondem a cada partida, pedem treinamentos que contemplem as mesmas características do jogo, certo? Pelo que temos visto, errado!

Declarações, observações, leituras, imagens e reportagens variadas ilustram um cenário que precisa ser alterado mais rapidamente.

Trações, circuito com saltos e acelerações, corridas com mudanças de direção, finalizações descontextualizadas, saltos com pneu, táticos-sombra ou quaisquer outros treinamentos que privilegiem fragmentos do jogo (e não fractais), podem significar perdas de minutos preciosos em momentos, conforme mencionados, tão decisivos. Para estes momentos, leia-se a luta contra o rebaixamento, o acesso, o título, as vagas em competições importantes e, inclusive, a manutenção do emprego.

O dinamismo do mundo atual permite o acesso à informação, ao que é novo ou tendência, num intervalo de tempo consideravelmente pequeno. No futebol, o novo é treinar conforme se quer jogar. Barcelona, José Mourinho, Júlio Garganta, Porto, Claude Bayer, Rodrigo Leitão, Universidade do Porto, Vítor Frade, Ajax, Alcides Scaglia, André Villas-Boas são exemplos de pessoas e instituições que têm privilegiado e divulgado o que é atual.

Porém, por que mesmo com tanta informação disponível, a transformação está aquém da ideal?
Cada indivíduo interpreta a realidade de forma distinta. Diferentes experiências, aprendizagens, vivências e reflexões formam a visão de mundo de cada ser humano, que pode ter maior ou menor capacidade de mudança.

Alguns estudiosos do comportamento humano afirmam que gerimos a mudança (e todos os nossos pensamentos) a partir de seis níveis neurológicos: ambiente, comportamento, competências, crenças/ valores, identidade e espiritualidade.

A interpretação da realidade considerada neste texto será a do treinamento em futebol que, de acordo com todo o material científico que se tem conhecimento, pode ser desenvolvido a partir de um viés tecnicista, integrado ou atual (sistêmico).

O ambiente significa o local em que cada indivíduo atua. Traduzindo para o treinamento em futebol, corresponde a cada clube, formado por um determinado grupo de pessoas.

O comportamento compreende as atitudes efetivas de cada pessoa em um determinado ambiente. Em relação ao treinamento, tais atitudes se referem à maneira que é operacionalizado o processo de desenvolvimento de uma equipe.

Já as competências significam o conjunto de habilidades que cada indivíduo possui e que refletem o modo como o mesmo aplica seus conhecimentos. Para o exemplo deste texto, traduz o que o indivíduo sabe e o quanto se capacita.

E, por último (afinal não será abordada a identidade e espiritualidade para não parecer demasiadamente utópico), o treinamento em futebol segundo as crenças e valores. Neste nível neurológico, a interpretação da realidade se dá de acordo com o que a pessoa acredita, com seus princípios e com suas verdades.

Posto isso, é possível afirmar que a transformação está aquém da ideal, porque pouquíssimos indivíduos que atuam com o futebol conseguem gerar mudanças efetivas no nível neurológico das crenças e valores.

Toda informação disponível tardará para ser, de fato, uma transformação do futebol brasileiro, enquanto as intervenções ocorrerem somente nos três primeiros níveis neurológicos.

Diversos ambientes não permitem uma troca harmoniosa de conhecimento entre os seus integrantes e enquanto treinadores acreditarem que vencerão seus jogos simplesmente porque estão há muito tempo na bola e conhecem o meio, a transformação será atrasada.

O comportamento predominante do treino em futebol não converge para todas as sessões diretamente relacionadas com a ideia de jogo do treinador e assim permanecerá enquanto os preparadores físicos crerem que são necessárias sessões exclusivas para o desenvolvimento de potência, capacidade aeróbia ou resistência específica.

Leituras sobre periodização tática, complexidade, teoria dos jogos, ensino dos JDC e princípios táticos do futebol não irão para a prática, ou irão menos do que poderiam, enquanto forem verdades absolutas para as comissões técnicas, as experiências adquiridas tanto de caráter empírico ou científico.

Mas, se cada indivíduo, não só para o treinamento em futebol, mas para a vida, decidir ampliar sua reflexão, discussão e busca de conhecimento (e autoconhecimento), as mudanças emergenciais serão mais rápidas.

Transformar crenças e valores não é fácil! Os mesmos estudiosos do comportamento humano afirmam que quanto mais alto o nível neurológico, mais difícil é a mudança. O certo é que não há mudança de crença sem tentativa, sem risco, sem acertos, sem erros, sem novas experiências e disponibilidade para novas oportunidades.

Caso haja mudança de crenças e valores em cada indivíduo, consequentemente serão re-significados os três níveis neurológicos inferiores.

Quando a interpretação da realidade para o treino de futebol estiver fundamentada numa perspectiva sistêmica, a sede pela aquisição constante de novas habilidades transferirá todo o conhecimento teórico já existente para a realidade prática.

Com novas competências, derivadas de crenças e valores transformados, novos comportamentos serão observados, pois os anteriores perderão o sentido.

Finalmente, novos comportamentos refletem em mudanças de ambiente, ou seja, do grupo de pessoas que formam cada um dos clubes do futebol brasileiro.

Existem diferentes maneiras de cada ser humano modificar suas crenças: pode ser procurando ajuda, se conhecendo, estudando, conversando, ou de qualquer outra forma que permita um exercício frequente de reflexão.

Para você que já crê no que é atual em relação ao treinamento em futebol, faça sua parte com as competências e comportamentos adequados nos ambientes em que você atua. Já para aqueles que não crêem, não esperem o ambiente e o comportamento dos outros mudarem para você fazer o mesmo, pois isto pode não resolver se suas crenças permanecerem imutáveis.

Enfim, para todos os casos, a mudança só depende de você! Em que nível neurológico você está em relação ao treinamento em futebol?

Às vezes, para falar de futebol é preciso falar de pessoas…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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A culpa é de quem?

Saudações a todos!

Essa pergunta sempre surge quando um clube de futebol não vai bem, quando um casal se separa, quando uma empresa não alcança os resultados planejados ou quando o filho não vai bem na escola.

A pergunta é necessária, pois as pessoas precisam encontrar um “culpado” e puni-lo. Parece que assim o problema está resolvido. E fazem isso da maneira mais fácil para elas: olham apenas um lado dos fatos, normalmente o que lhes convém, e determinam quem é o culpado e a punição a ser aplicada.

No futebol, em 99% das vezes, o culpado é o treinador; então, é só demiti-lo e tudo volta às mil maravilhas.

No casamento, o culpado para a esposa e seus familiares e amigos é o marido, e para o marido e seus familiares e amigos, a culpada é a esposa.

Nas empresas, não pensem que é diferente: sempre acham um ou uns culpados para os insucessos e mandam embora, e novamente fica tudo certo.

Quando um filho vai mal na escola a culpa é… claro, da professora, do ambiente, das más companhias, etc., então é só trocar de escola, ou pedir a demissão da professora ou mudar de sala e está tudo resolvido.

Se vocês fizerem uma rápida reflexão e pegarem fatos do seu cotidiano, e se questionarem, verão que em nenhuma das situações apenas encontrar o culpado foi a melhor forma de resolver um problema.

Por exemplo, no fim de um casamento, se é que existe culpa, não existe um culpado, com certeza houve um desgaste, um descontentamento mútuo. E como é uma relação bilateral, as duas partes poderiam ter feito algo para o bem da união. Se você já passou por isso e se casou de novo, tenho certeza de que aproveitou as lições, fez uma reflexão de suas ações e está mais equilibrado. Se não passou, aproveite as experiências dos mais próximos e seja mais feliz agora mesmo.

Nas empresas, se a meta não foi atingida, com certeza houve uma conjunção de acontecimentos – planejamento inadequado, falta de gestão, falta de acompanhamento, mudanças de cenários, etc., que culminaram com os resultados abaixo do esperado. Portanto, culpar e demitir Paulo, Carlos ou Carolina de longe não irá solucionar nada. Mais do que isso, o fundamental é que a gestão da empresa se reúna, veja onde foram as falhas, quais as correções necessárias e em seguida se apliquem as medidas cabíveis.

Se um filho não vai bem na escola, antes de culpar a professora, o ambiente, as más companhias ou o método de ensino, os pais precisam verificar se o filho de fato é dedicado, se estuda no dia a dia, se presta atenção nas aulas, se estuda mais focado na época de provas, etc.. Tenho certeza de que se esta reflexão for feita, e os pontos fora de conformidade forem corrigidos, a troca de escola acontecerá somente em casos extremos.

No futebol, apesar do o treinador ser taxado como o maior culpado e consequentemente ser demitido, na maioria dos casos o problema não se resolve aí. Com certeza porque o “culpado” não é o treinador, ou não é somente o treinador.

Vejam o exemplo do São Paulo, que em menos de três anos demitiu:

Muricy Ramalho – que, em seguida, foi Campeão Brasileiro com o Fluminense e da Copa Libertadores da América com o Santos;

Ricardo Gomes – que foi campeão da Copa do Brasil pelo Vasco;

Paulo César Carpegiani – que fazia um ótimo trabalho pelo
Atlético-PR;

Além de Adilson Batista e de ter rebaixado Sergio Baresi para as categorias de base novamente.

Vocês realmente acreditam que os culpados pelo mau desempenho do São Paulo eram os treinadores? A direção do clube, pelos fatos recentes, acredita que sim e jura que esta fazendo “tudo certo”.

Já dizia sabiamente o “filósofo” Bruce Willis em um de seus filmes: “quem não faz parte da solução… faz parte do problema!”. Vale a reflexão para a diretoria do São Paulo.

É certo de que eu não conheço os bastidores do clube, mas tenho certeza de que se o presidente e seus asseclas fizerem uma reflexão mais cuidadosa e detalhada, identificarão outros pontos impactantes nos resultados pouco expressivos do clube e saberão, se é que já não sabem, que apenas trocar de treinadores “aliviará a pressão”, mas não levará o clube a ter títulos.

O técnico Emerson Leão chegou para buscar o glamour perdido do clube e dos admiradores do futebol. Torcemos para que a direção entenda que ela faz parte do problema e que não “mate” mais um técnico.

Esses casos são apenas exemplos do que acontece no nosso cotidiano. Existem vários outros. O importante é que quando estiverem envolvidos em situações semelhantes, ao invés de achar “um culpado”, reflitam e vejam como podem contribuir para encontrar soluções e, claro, serem parte da solução.

É isso, pessoal! Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Treinamento de força aplicado ao futebol

No futebol moderno, além da resistência cardiorrespiratória já valorizada desde a década de 60/70, a força e a velocidade ganham cada vez mais importância.

Um estudo recente realizado com a primeira divisão do futebol italiano demonstrou que embora a maioria do jogo seja realizada em baixa intensidade, os momentos decisivos são realizados em períodos muito curtos (5s), mas com intensidades muito altas (acima de 17km.h-1) (Castelano et. al. 2011).

Antes de pensarmos em um programa de treinamento ideal para desenvolvimento de força e/ou velocidade, é necessário saber quais estruturas e propriedades musculares permitirão esse desenvolvimento.

Em primeiro lugar devemos considerar a arquitetura do músculo esquelético em questão. Um músculo produzirá mais força quanto maior for sua secção transversa e quanto maior for a quantidade de sarcômeros em paralelo nessa área. A distribuição penada das fibras musculares será capaz de produzir mais força do que a distribuição longitudinal por acumular mais sarcômeros numa mesma região do que os músculos que possuem distribuição longitudinal das fibras. Por outro lado, o músculo com distribuição longitudinal será capaz de produzir mais velocidade, já que a transmissão da força nos sarcômeros distribuidos em pararelo será mais rápida e mais eficiente do que a distribuição penada.

Outro aspecto importante é a natureza das unidades motoras que inervam as fibras musculares. Unidades motoras do tipo F possuem ativação elétrica mais potente e mais rápida do que as unidades motoras tipo S que pelo fato de possuírem potencial de disparo mais fraco e mais lento, geram menor grau de tensão e menos velocidade.

O tipo de fibra também é uma variável importante na determinação de força e velocidade. Fibras tipo IIx, (também denominadas de IIb, rápidas ou brancas), são mais rápidas do que as fibras tipo l (também denominadas de lentas ou vermelhas), pelo fato de o retículo sarcoplasmático, o metabolismo de Ca2+ e as enzimas responsáveis pela produção de energia serem mais eficientes.

A questão hormonal também parece ser importante para maior produção de força, pois quanto mais hipertrofiado for um músculo, maior será sua capacidade de geração de força, já que o conteúdo de sarcômeros em paralelo estará aumentado. Embora isso não seja consenso na literatura, hormônios anabólicos como hormônio do crescimento (GH) e testosterona parecem contribuir sobremaneira para o processo hipertrófico, enquanto hormônios catabólicos, como cortisol, por exemplo, parecem interferir negativamente nesse processo.

A maturação sexual também é um fator crucial na maquinaria de produção de força e velocidade. As atividades de unidades motoras tipo F (rápidas) e das enzimas que participam do fornecimento mais rápido de energia dependem de fatores maturacionais. Isso explica porque atletas mais maduros apresentam maiores níveis de força e velocidade do que atletas ainda não maduros.

Como o músculo é composto basicamente por proteínas, o aspecto nutricional também é determinante para o aumento da força. Embora não exista consenso na literatura sobre o horário ideal de ingestão dessas proteínas (pré, durante ou pós treino), um balanço nitrogenado negativo (ingesta deficitária de proteína) acarretará numa hipertrofia aquém do esperado, enquanto um balanço nitrogenado positivo (ingesta ideal de proteína) acarretará num grau de hipertrofia ótimo. A literatura aponta a necessidade de ingestão protéica na ordem de 0,8 a 1,2g de proteína para cada kg de peso corporal, podendo esses valores alterarem com a idade e com o tipo de treino que se realiza.

A força e a velocidade também são dependentes do tipo da ação muscular realizada. Nesse sentido, ações concêntricas tendem a produzir menos força e menos velocidade do que as ações excêntricas, pelo fato de as primeiras iniciarem o movimento com as unidades motoras tipo S e depois ativarem as unidades motoras tipo F (princípio do tamanho, do recrutamento ordenado, da somação espacial e da somação temporal). Já as ações excêntricas têm capacidade de ativar as unidades motoras tipo F primeiro e por não respeitarem o princípio do tamanho, produzem força mais rapidamente.

A rigidez muscular (stifness) é mais um fator determinante de força e velocidade, pois além do componente contrátil, as fibras musculares também possuem componentes elásticos (tendões, epimísio, perimísio, endomísio e titina) que auxiliam na restituição mais rápida de energia elástica, fazendo com que o músculo consiga ter uma contração “passiva”, especialmente nas ações excêntricas. Desse modo, quanto mais rápida for a restituição de energia, melhor será a produção de velocidade.

Melhora do “retardo eletromecânico” também é um efeito do treinamento de força e velocidade, pois quanto mais rápida for a transferência do estímulo neural para o músculo, mas rápido este produzirá força e maior será sua velocidade.

Por fim devemos lembrar que o maior determinante da produção de força e da velocidade será a carga externa aplicada contra o aparelho locomotor. Cargas altíssimas ou muito próximas da máxima tendem a aumentar a produção de força, porém diminuem a velocidade. Ao contrário, cargas muito leves tendem a proporcionar maior velocidade, mas diminuem sobremaneira a produção de força. Nesse aspecto, para cada grupo muscular que se deseja melhorar força e velocidade, é importante encontrar uma carga ideal que permita maior produção de força com a máxima velocidade possível.

No futebol, pelo fato de a maioria das ações do jogo serem realizadas contra o próprio peso corporal, cargas entre 30 e 60% da força máxima parecem permitir o desenvolvimento de força na máxima velocidade possível e contribuem positivamente tanto para força quanto para velocidade.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Para saber mais

American Dietetic Association; Dietitians of Canada; American College of Sports Medicine, Rodriguez NR, Di Marco NM, Langley S. American College of Sports Medicine position stand. Nutrition and athletic performance. Med Sci Sports Exerc. 2009 Mar;41(3):709-31.

Castellano J, Blanco-Villaseñor A, Alvarez D. Contextual variables and time-motion analysis in soccer. Int J Sports Med. 2011 Jun;32(6):415-21.

Crewther B, Keogh J, Cronin J, Cook C. Possible stimuli for strength and power adaptation: acute hormonal responses. Sports Med. 2006;36(3):215-38.

Faigenbaum AD, Kraemer WJ, Blimkie CJ, Jeffreys I, Micheli LJ, Nitka M, Rowland TW. Youth resistance training: updated position statement paper from the national strength and conditioning association. J Strength Cond Res. 2009 Aug;23(5 Suppl):S60-79.

Guilhem G, Cornu C, Guével A. Muscle architecture and EMG activity changes during isotonic and isokinetic eccentric exercises. Eur J Appl Physiol. 2011 Nov;111(11):2723-33.

Selvanayagam VS, Riek S, Carroll TJ. Early neural responses to strength training. J Appl Physiol. 2011 Aug;111(2):367-75.

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Na dúvida, pergunte ao roupeiro

Estava querendo evitar tocar mais uma vez neste assunto, que é a da demissão e contratação de treinadores sem critérios nos clubes do futebol brasileiro. Contudo, um fato ocorrido nesta semana causou consternação de boa parte da opinião pública, que foi a recontratação de Emerson Leão, seis ou sete anos depois, pelo São Paulo.

Embora os resultados de Leão tenham sido razoavelmente bons dentro de campo, somando um título estadual e uma classificação para a Libertadores no ano anterior, é de conhecimento geral que o mesmo deixou o clube de maneira tumultuada em apenas seis ou sete meses de trabalho, causando mal estar entre jogadores e dirigentes.

O impressionante disso tudo é a insistência no erro e a baixa adesão dos clubes a ciclos de aprendizagem, fruto do amadorismo, que imaginávamos, já não pertencia mais ao clube do Morumbi. A lógica passa por avaliar constantemente o que ocorreu no passado dentro da própria instituição, analisar o comportamento das pessoas (que se pretende contratar) em outras empresas e a evolução e a busca de novos conhecimentos deste.

Já que profissionalizar e manter um registro ativo e contínuo do perfil dos recursos humanos em um banco de dados é tão difícil, que façamos aquilo que o nosso título de hoje sugere: “na dúvida, pergunte ao roupeiro”.

Apesar do seu conhecimento puramente empírico, o roupeiro é um profissional que, em linhas gerais, costuma ficar bastante tempo dentro dos clubes e, por conta disto, deve registrar e acompanhar tudo que acontece, do vestiário ao campo de treinamento, podendo fazer um relato completo do comportamento de cada cidadão que lá esteve.

Óbvio que esta é uma solução esdrúxula. Mesmo assim, me parece mais factível do que a repetição insana e sistemática de erros praticada pelos nossos dirigentes, em que prevalece o método pautado na tentativa-erro.

Por fim, é bom que se diga: resultados esportivos pontuais não refletem organização, planejamento e gestão – ocorrem, em grande parte das vezes, pela incapacidade dos adversários em detrimento da competência momentânea do grupo de jogadores. Mas quando os resultados surgem de maneira duradoura e linear, tenham certeza de que tais premissas tendem a ser verdadeira.

Portanto, pelo referido método tentativa-erro, estamos diante de uma loteria e, como em qualquer jogo de azar, a sorte pode vir por um turbilhão de moedas ao mexer a manivela da máquina caça níquel (ou pela perda total de suas apostas).

Sabidamente, o futebol não é um jogo de azar.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Carta aberta à sociedade: de que adianta tecnologia se não existe moral?

Para que serve a tecnologia se nós, homens, somos medíocres? De que adianta a cura se nós, homens, germinamos os males?

Peço licença aos amigos leitores de toda a semana para, nesta terça, fazer um protesto e uma homenagem.

Escrevi diversos textos falando da tecnologia aplicada ao esporte, dos seus benefícios, dos cuidados e resistências, enfim, vários temas tendo como pano de fundo a tecnologia.

Em comum, a fala constante de que a tecnologia não é nada se o homem não a fizer funcionar, pois é ele quem a cria e é ele quem desfruta de todos os recursos desenvolvidos.

Quando preparava a coluna desta semana recebi a noticia do falecimento de um amigo, amigo que conheci pelo universo acadêmico. Foi meu aluno, orientando, companheiro do futebol semanal e, sobretudo, amigo. Em conversas mais recentes, planejávamos colocá-lo como colaborador neste espaço, tanto pelas ideias brilhantes, como pelo gosto e afinidade em relação a estudos acerca do tema “tecnologia”, seja na educação, seja no esporte.

Na noite de domingo, depois de mais um dia com amigos, voltava para casa em sua bicicleta, e foi atingido por um carro na contramão e supostamente com o motorista alcoolizado.

Você, amigo, pode pensar de novo, mais um caso, já que, infelizmente, tantos têm aparecido na mídia. Assim eu fiquei com as notícias similares de uma semana, de um mês, ou de um ano atrás, quando mencionam a morte de um ciclista por um motorista desqualificado. Porém, quantos mais precisarão sofrer com a perda de uma pessoa próxima para que levantemos protesto?

Eu esperei perder um conhecido para fazer o meu e me arrependo. Se com as noticias anteriores já tivesse começado a questionar, será que não conseguiríamos mobilizar pessoas com intuito de despertar atenção para o tema? Não sei, mas fica a dica: não espere acontecer com você.

A tecnologia constrói carros super poderosos, bicicletas modernas, capacetes super especiais, velocímetros, análise de performance, câmeras de controle de trânsito, radares com fotos dos carros infratores, banco de dados integrado pelo Brasil afora, enfim, a tecnologia está presente no trânsito brasileiro.

Mas a tecnologia depende dos homens, e aí que mora o problema: num país onde se consegue noticiar um acidente com 300 carros engavetados, 300 carros, alguém parou para pensar como isso acontece, senão pela imprudência e falta de responsabilidade? Onde ciclista é xingado nas ruas (que “bom” se ficasse apenas nisso), enfim, de nada adianta. Radar? Suspensão da carteira de motorista? Bafômetro? Podem até desenvolver um exame instantâneo de sangue. Adianta?

Talvez quando a tecnologia ganhar uma inteligência mais do que artificial, ela possa ensinar ética, moral, prudência e justiça aos homens. Porque enquanto nós humanos desenvolvermos os recursos tecnológicos, estes estarão aí, dependendo de algumas boas pessoas para fazer seu bom uso, porém, ainda em meio a tantas outras mediocridades das quais nossa espécie é capaz.

In memorian de Gualberto Rodrigues de Aráujo (07/03/89 – 23/10/11)

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Lie to me

A tradução do título desta coluna, livre e adaptada a esse momento peculiar por que passa o Ministério do Esporte, poderia ser “Me engana que eu gosto”.

Os milhões de reais investidos pela pasta federal não têm tido muito êxito no que se refere a preparar o país para beneficiar e ser beneficiado pelo potencial de transformação social que o esporte proporciona.

Menos ainda diante do fato de que, ao contrário de outros setores da Administração Pública, que preferem seguir linha autônoma e realizar concursos públicos para formar seus quadros, o Ministério do Esporte preferiu “terceirizar” a gestão de projetos para ONGs.

ONGs no mais das vezes pouco sérias. É bem verdade que há muitas de histórico incólume e com legitimidade absoluta de causa.

Não à toa que, conversando com pessoas que, atuando por clubes de futebol profissional, percebe-se a imensa dificuldade de captação de recursos junto à iniciativa privada, embora não tenham tido dificuldade para aprovar e enquadrar os projetos na Lei de Incentivo ao Esporte.

Por isso que, imagino, não seja coincidência que as maiores doadoras sejam estatais – mais sujeitas a intervenções políticas, não a análises técnico-mercadológicas.

As grandes empresas privadas sempre desconfiam quando vão doar dinheiro e associar a sua marca a alguém. Com isso, o balcão de negócios pode existir – corrupção existe em qualquer lado -, mas a vigilância é muito maior.

O Brasil está cansado de tanta corrupção. Não há mais margem para agentes públicos, do quilate de um ministro, afirmarem que não sabiam de nada.

Se na sua casa, some um vidro de perfume por ano, pode até parecer normal e se relevar. Agora, se somem 10 vidros em um ano, você vai dizer que não sabia de nada? E não vai encontrar o culpado?

Comecei a assistir a uma série de TV cujo argumento é sensacional.

Tim Roth interpreta o Dr. Cal Lightman, psicólogo e antropólogo que chefia sua equipe numa empresa contratada para detectar mentiras e extrair a verdade.

O cientista passou anos realizando pesquisas com povos ancestrais do homem moderno e, através da linguagem corporal e de pequenas expressões faciais, sabe exatamente qual é a emoção indicada pela pessoa investigada.

Com isso dirige a investigação ao melhor resultado. Ele faz perguntas diretas e constrangedoras para que, sim, o investigado minta a ele sucessivamente, até que não haja nada além da verdade.
 


 

Poderíamos colocar frente a frente com o Dr. Lightman o Ministro Orlando Silva, Blatter, o PM da ONG de Kung-Fu, Ricardo Teixeira e até o ex-presidente Lula.

Meu receio é que as verdades – obtidas como depuração de muita mentira – serão demasiadamente inconvenientes.

Mas o povo brasileiro pagaria menos impostos e teria mais qualidade de vida.

Sem nenhuma ONG mal-intencionada no meio do caminho pra cumprir o papel do Estado.

Ou Esporte não é tão sério assim que não deve ser política de Estado?

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

 

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Tipos de jogos na prática: das atividades técnicas às contextuais

Na coluna “Os tipos de jogos: o técnico, o conceitual, o específico e o contextual”, apresentei as definições, conceitos e implicações dos diferentes tipos de jogos utilizados no treinamento e na pedagogia do futebol.

Nesta semana, vou transportar esses conteúdos para o campo e apresentar atividades práticas que ilustram os jogos técnicos, os jogos conceituais, os jogos específicos e os jogos contextuais.

Os exemplos práticos serão apresentados a fim de trazer luz às diferenças e similaridades de cada um desses jogos.

Então, vamos lá!
 

 

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Comecemos com os jogos técnicos:

Jogo Técnico

O jogo técnico abaixo tem por objetivo desenvolver o cruzamento e a finalização (com os pés e com a cabeça) dos jogadores em situação de jogo.

Descrição
– Atividade de 4 + Goleiro X 4 + Goleiro + 2 Coringas, em que o objetivo maior das equipes é realizar o gol; contudo, as regras orientarão os jogadores quanto à utilização dos cruzamentos e do tipo de finalização que será utilizado.

Regras e Pontuação
– Equipe marca 1 ponto quando fizer o gol.
– Equipe marca 2 pontos quando fizer o gol originado de um cruzamento.
– Equipe marca 3 pontos se fizer o gol de cabeça originado de um cruzamento.
– Os coringas auxiliarão a equipe que estiver com a posse de bola e poderão fazer gol.
– Será considerado cruzamento toda a bola alçada dentro da área a partir dos corredores demarcados. Qualquer jogador pode entrar nessa área e realizar o cruzamento.

 


 

Jogo Conceitual

O jogo conceitual abaixo tem por objetivo desenvolver o conceito de retirar a bola da zona de pressão na transição ofensiva e pressionar a bola imediatamente após a sua perda na transição defensiva.

Descrição

– Atividade de 4 + Coringa X 4 + Coringa, em que o objetivo da equipe que recupera a bola é retirar imediatamente a mesma da zona de pressão fazendo um passe para seu coringa, já a equipe que perde a posse de bola deve pressionar a bola e evitar que a mesma seja retirada da zona de pressão.

Regras e Pontuação

– Quando a equipe fizer um passe para seu coringa imediatamente à recuperação da posse de bola marca 1 ponto.
– Quando a equipe trocar cinco passes em seu campo marca 1 ponto.
– Os coringas só jogam em posse de bola.

 


 

Na figura, o coringa roxo auxilia a equipe azul e o coringa amarelo auxilia a equipe amarelo/preto. Para marcar ponto, a equipe amarela deve fazer um passe para seu coringa e/ou trocar cinco passes no meio campo da direita (metade do campo onde está o coringa amarelo) e equipe azul deve fazer um passe para o coringa roxo e/ou trocar cinco passes em sua metade do campo (metade direita onde os jogadores estão dispostos).

Jogo Específico

O jogo específico abaixo tem por objetivo desenvolver a progressão individual e coletiva e a recuperação da posse de bola em regiões específicas do campo.

Descrição

Atividade de 11×11, em que o objetivo da equipe que está com a posse de bola é progredir no campo de jogo até a região demarcada e finalizar a jogada; já a equipe sem a posse de bola deve direcionar o adversário para as laterais para tentar recuperar a posse de bola.

Regras e Pontuação

– Equipe marca 3 pontos se fizer o gol.
– Equipe marca 1 ponto se ultrapassar a linha tracejada com a bola dominada (linhas tracejadas vermelhas).
– Equipe marca 1 ponto se recuperar a bola nos corredores laterais do campo (demarcados pelas linhas tracejadas amarelas).

 


 

Jogo Contextual

O jogo contextual abaixo tem por objetivo desenvolver a criação de apoios entre as linhas de marcação do adversário (que a equipe hipoteticamente enfrentará no final de semana), que joga no 1-4-4-2 em linha e deixa espaços entre a defesa e o meio.

Descrição

– Atividade de 11 X 11, em que a “equipe B” jogará conforme o adversário do fim de semana, em um 1-4-4-2 em linha. Como foi detectado que as linhas de marcação desta equipe não jogam muito agrupadas na defesa, o objetivo é potencializar a utilização desses espaços pela “equipe A” para manter a posse de bola e progredir no campo de jogo.

Regras e Pontuação

– Equipe marca 3 pontos quando fizer o gol.
– Equipe A marca 1 ponto quando um jogador receber um passe entre as linhas de marcação do adversário.
– Equipe B marca 1 ponto quando recuperar a bola antes dela chegar entre suas duas linhas de marcação (linha de defesa e meio).

 


 

Na situação acima, se o jogador número 2 da equipe amarela que está com a posse de bola fizer um passe certo para o jogador número 9, sua equipe marca 1 ponto; já se os jogadores número 5 ou 10 da equipe azul interceptarem o passe, quem marca o ponto é a equipe azul.

Espero ter ajudado na prática. Agora, é com vocês…

Até a próxima!

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Título do Brasileirão 2011: a missão

O aproveitamento do Corinthians nas últimas oito rodadas do Campeonato Brasileiro foi de 45,8%, com três vitórias, dois empates e três derrotas. O técnico Tite utilizou 22 jogadores nestes jogos, sendo que Júlio César, Alex, William e Danilo atuaram em todos, Leandro Castán, Paulinho, Alessandro, Jorge Henrique e Paulo André atuaram em sete, Ralf em seis, Fábio Santos e Edenílson, cinco, Liedson e Weldon em quatro, Ramón, Emerson, Wallace e Ramirez em três, Moradei, Chicão e Adriano em duas partidas, e Morais apenas em uma.

A manutenção desse desempenho nas oito rodadas restantes não fará com que o título da competição nacional seja da equipe do Parque São Jorge, portanto, nas próximas semanas, as vitórias necessariamente deverão acontecer em maior número. Segundo cálculos feitos pela própria comissão técnica da equipe alvinegra, cinco vitórias e dois empates, ou seja, 17 pontos e 70,8% de aproveitamento dos 24 pontos a serem disputados, são suficientes para a conquista da competição.

Neste período, somente a 35ª rodada acontecerá numa quarta-feira, o que possibilitará sete semanas completas de treinamento com ocorrência de jogos somente aos sábados ou domingos. Semanas “cheias” de treinamento significam um maior período de recuperação entre jogos e maior disponibilidade para a atuação do treinador nos denominados treinos aquisitivos.

Mais do que o desenvolvimento isolado de qualquer vertente do jogo de futebol nos jogadores e na equipe, as próximas semanas devem ser de total preocupação sistêmica com o Modelo de Jogo, seus pontos fracos, seus pontos fortes e as intervenções estratégicas de acordo com cada adversário.

Então, considerando as oito rodadas anteriores da equipe corintiana, o que esperar da mesma nas oito rodadas finais do Campeonato Brasileiro 2011?

Estruturado preferencialmente em 1-4-2-3-1, a espinha dorsal do Corinthians será composta por Júlio César, Alessandro, Paulo André, Leandro Castán, Ralf, Paulinho, Alex, William. As quatro vagas restantes, serão definidas semana a semana pelo técnico Tite que, entre outras decisões, deverá gerenciar as lesões de alguns jogadores e até a pressão da imprensa e torcida por Adriano.

Optar por Emerson e Liedson, que provavelmente perderão muitos treinos aquisitivos por tratarem suas respectivas lesões, ou então por Danilo ou Jorge Henrique, que causam alterações funcionais no sistema corintiano, são alguns dos questionamentos que o treinador terá que fazer.

Na organização defensiva, o comportamento padrão tem sido uma marcação com referências zonais a partir da linha 3, que pode ser adiantada de acordo com o placar do jogo ou atuação como mandante. Nesta fase do jogo, Paulo André e Leandro Castán dão muita segurança à primeira linha defensiva, com ótima proteção do alvo. Ambos, dificilmente caem às faixas e são muito eficientes no jogo aéreo. Com o suporte da linha de volantes, atacar o Corinthians pelo corredor central com passes curtos tem sido muito difícil.

Uma das limitações nesta fase do jogo passa por dar melhor posicionamento a William e Jorge Henrique que, por vezes, assumem referência individual de marcação percorrendo espaços desnecessários (e cansando). Outro ponto que merece atenção, devido à ausência de Fábio Santos, é o desequilíbrio setorial que pode ocorrer caso a função seja feita pelos jovens Weldon ou Ramón.

Em bolas paradas, Júlio César precisa de maior qualidade de antecipação da ação para saídas do gol, e os demais jogadores necessitam maior ataque à bola.

Quando a marcação se inicia na linha 3, a compactação eficaz entre linhas é frequentemente observada. Se, por necessidade ou situação do jogo, a equipe sobe o bloco, surgem espaços (e problemas), principalmente de transição defensiva que serão mencionados adiante.

Ao recuperar a posse, a transição ofensiva é feita predominantemente com retirada vertical. Com orientação operacional de progressão ao alvo, dificilmente circulam a bola. Neste momento do jogo, a partir da recuperação de Júlio César, as reposições são principalmente em bolas longas, o que resulta em maiores perdas de posse do que manutenções. Quando a recuperação é feita pela linha defensiva, falta melhor linha de passe/desmarcação/mobilidade dos volantes para permitir tempo de deslocamento e progressão dos meias abertos que, muitas vezes, estão recebendo a bola distantes do alvo. Apesar destas limitações, dos últimos oito gols marcados, quatro foram feitos a partir de transição ofensiva (Vasco (2), Atlético-GO e Cruzeiro).

Na fase ofensiva, como já foi mencionado, a progressão é o comportamento padrão. Com exceção do tiro de meta, preferencialmente saem jogando com os centrais; com Alessandro, o jogo fica simples e eficiente pela lateral; Paulinho procura um passe curto e ultrapassagens pela faixa central para criar condições de finalização; Alex e Danilo são os que têm condições (estrutura motriz) de fazer o passe final; William é o melhor do elenco no 1×1 e o pequeno Liedson é um gigante em posicionamento na zona de risco.

Como fatores limitantes para o processo ofensivo, observam-se a menor contribuição de Alex e Danilo quando atuam pelas faixas, a falta de amplitude dos meias abertos quando a equipe adversária bloqueia o corredor central e a recorrente falta de profundidade (e não de um centroavante) para aproximar a equipe da zona de risco e abrir espaço entre linhas das defesas adversárias. Em bolas paradas, Alex é quem pode marcar; em escanteios, Paulo André é a referência da finalização; já em situações de jogo, além de Paulinho e Alex com finalizações frontais, William pode marcar após driblar; Liedson, a partir de assistência/cruzamento e Danilo numa jogada aérea.

Já na transição defensiva, o comportamento observado é o de ataque à bola dos jogadores mais próximos, com simultânea recomposição dos demais em virtude de um posicionamento com ao menos nove atletas atrás da linha da bola. Falhas no balanço e coberturas defensivas resultaram em 37,5% dos gols sofridos nas últimas rodadas. Um comportamento que, sem dúvida, precisa ser melhorado.

Em pouco mais de um mês, o Campeão Brasileiro de 2011 será conhecido. Gosto de parabenizar os campeões, já o fiz com o Oscár Tabarez da seleção uruguaia e Ney Franco, da seleção brasileira sub-20. Desta vez, adianto os parabéns ao técnico Tite, que há um ano no cargo (muito para o futebol brasileiro) suportou a pressão após o péssimo início de ano na Libertadores e na queda de rendimento no Nacional. Parabenizo (mesmo que não seja campeão) não pela ideia de jogo que simplifiquei acima, mas pelas declarações, entrevistas, atitudes e liderança, inspiradoras para um técnico iniciante.

Abaixo, um pouco do Corinthians nos últimos oito jogos.
 


 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Maracanicídio

Então a seleção pentacampeã só entrará no palco mundial de fato e de direito do futebol brasileiro se Neymar e boa companhia nos levarem até a final? Quer dizer que Fortaleza, inegavelmente das mais apaixonadas (e apaixonantes) cidades do futebol pode assistir a dois jogos da seleção anfitriã, e o Rio de Janeiro só terá o privilégio de abrir as portas e os braços do Redentor numa decisão, com todo o peso atômico, histórico e histérico do Maracanazo de 1950?

De fato, e mais que nunca agora, tenho a certeza absoluta: foram os cartolas brasileiros que fizeram a tabela. Só eles para não pensarem no absurdo de não levar a seleção ao menos uma vez para o Rio. Ou é a profana prepotência brasuca quando se trata de futebol (nunca é o Brasil que é derrotado, é a seleção que perde.), ou é mesmo a santa burrice que impera em nossa administração imperial – para usar o termo mais ameno que veio à cabeça.

Fazer política e média é esporte nacional e internacional. Mas não levar ao menos um jogo do país-sede para o estádio principal só aconteceu em 1974. Deu Alemanha, então, no Olímpico de Munique, só visitado na decisão. Que a história se repita como festa – para os brasileiros.

Em todas as demais Copas, pelo menos uma vez o país-sede jogou no palco da final. Em 1930, o time do Uruguai foi campeão no Centenário de Montevidéu ganhando da Argentina por 4 a 2. Em 1934, a Itália venceu a Copa na prorrogação, batendo a Tchecoslováquia por 2 a 1 no Nazionale PNF de Roma. Em 1938, a França atuou no Colombes, de Paris, onde a Itália foi bi mundial.

Em 1950, o Brasil só não jogou no Maracanã a segunda partida da Copa – empatou por 2 a 2 com a Suíça, no Pacaembu. Na final, contra o Uruguai.

Em 1954, a Suíça atuou no Wankdorf de Berna, onde a Alemanha estragou a festa húngara, na decisão. Em 1958, a Suécia perdeu a Copa para o Brasil no Rasunda de Estocolmo. Em 1962, o Chile atuou só uma vez fora do Nacional de Santiago, onde o Brasil foi bi. Em 1966, a Inglaterra jogou todas em Wembley, em Londres, até ganhar na prorrogação da Alemanha, por 4 a 2.

Em 1970, o México foi eliminado na capital federal, no Azteca, palco do tri brasileiro.

Só em 1974 a Alemanha não atuou no palco da decisão. Até 2014, foi a única vez que o anfitrião não conheceu anteriormente o local da volta olímpica.

Em 1978, a Argentina foi campeã vencendo a Holanda, na prorrogação, por 3 a 1, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires. Onde só não jogou mais vezes porque ficou em segundo lugar no grupo. Em 1982, na segunda fase, a Espanha foi eliminada pelos alemães no Santiago Bernabéu, em Madri, palco da vitória italiana. Em 1986, o México não chegou até a decisão no Azteca, mas lá atuou. A Argentina ganhou a Copa no primeiro estádio a receber duas finais – o Maracanã será o segundo.

Em 1990, a Itália foi eliminada na semifinal, em Napoli. Mas sua casa era o Olímpico de Roma, onde a Alemanha foi tri mundial. Em 1994, os EUA jogaram no Rose Bowl, palco do nosso tetra. Em 1998, a França fez a festa no Stade de France, em Saint Denis, ganhando do Brasil por 3 a 0.

Em 2002, o Japão atuou no estádio de Yokohama, onde o Brasil foi penta. Em 2010, a Alemanha jogou ainda na primeira fase no Olímpico de Berlim, onde a Itália foi tetra. Em 2010, a África do Sul estreou no Soccer City de Johanesburgo, palco da conquista espanhola.

No frigir das bolas, o anfitrião ganhou em 1930, 1934, 1966, 1974, 1978 e 1998. E ainda foi finalista em 1950 e 1958. Em 19 copas, 8 vezes o dono da festa participou da mesma. Não é muito. Pode não ser nada.

Em 2014, se tudo estiver pronto, ainda que custando os olhos da cara-de-pau das autoridades, só veremos o Brasil no Maracanã se Deus quiser. Porque os diabinhos.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.