Há cerca de um ano, em uma de minhas primeiras publicações na Universidade do Futebol, escrevi sobre resultado nas categorias de base. Com uma série de questionamentos a dirigentes e membros da comissão técnica, o objetivo do artigo era mostrar que uma infinidade de variáveis, além das vitórias dentro das quatro linhas, deveriam ser analisadas para que, de fato, os verdadeiros resultados fossem mensurados.
Um dos questionamentos feitos segue descrito abaixo:
“Existe um relatório individual de desempenho (banco de dados), que acompanha a performance (tática, técnica, física e emocional) de cada atleta ao longo dos anos?”
Como o recesso das categorias de base do futebol brasileiro ocorrerá nos próximos dias, com exceção dos juvenis que terão oportunidade de jogar a Copa São Paulo de Futebol Jr., o momento é extremamente pertinente para a aplicação, ou então, criação do referido relatório.
É sabido que grandes equipes têm a possibilidade de conquistar campeonatos, porém, tais campeonatos não necessariamente significam retorno financeiro (principalmente nas categorias de base), que se dá predominantemente a partir da negociação de um jogador.
Logo, cada jogador, ou melhor, produto, deve ser analisado quantitativa e qualitativamente de modo a ser definido o seu potencial de valor agregado (para futura negociação) até a conclusão do processo de formação.
Definir o potencial de valor agregado é estimar quais serão as características deste jogador que o diferenciará de seus concorrentes (que são muitos), para que tenha maior atratividade comercial.
Posto isso, como analisar um atleta quantitativa e qualitativamente ao longo de um ano?
As informações acerca de determinado jogador que possibilitam a composição de um relatório não são difíceis de serem conseguidas e não precisam de ferramentas inacessíveis para a grande maioria dos clubes de futebol brasileiros, como por exemplo, softwares de gestão integrada. Com boa comunicação interna e recursos básicos do Office é possível estabelecer um banco de dados eficiente para o clube.
Para os dirigentes da base, ter o registro do desempenho obtido e do potencial que pode ser atingido por cada jogador permite um posicionamento coerente perante os gestores e investidores do clube em relação ao investimento que está sendo feito em cada categoria.
Para os treinadores, ter em mãos um relatório completo dos seus novos atletas no início do ano poupa-lhes tempo ao proporcionar informações importantes como perfil disciplinar, versatilidade e/ou especialidade, liderança, qualidade técnica, etc.
Como informações quantitativas gerais encontram-se o ano de ingresso no clube, a frequência anual de treinamento, a quantidade de jogos disputados, o tempo total jogado, os cartões recebidos, os gols feitos, as assistências, além das informações de crescimento e desenvolvimento como altura, peso e desempenho nas avaliações físicas.
Já como informações qualitativas, é possível estabelecer o desempenho comparativo do atleta em relação a sua própria categoria, uma análise das competências essenciais do jogo (relação com a bola, estruturação do espaço e comunicação na ação), e uma análise subjetiva (feita pela comissão técnica) tática-técnica-física-emocional de acordo com o Modelo de Jogo adotado. Para tornar as informações qualitativas ainda mais completas, uma produção em vídeo, de pontos fortes e pontos fracos do jogador, pode ser criada, dos quatro momentos do jogo (ataque, defesa e transições).
Após esta análise individual completa é função dos dirigentes de base do clube reunirem todas as comissões técnicas para, em conjunto, definirem quais são os atletas que têm condições de serem promovidos para a categoria seguinte e quais terão que ser dispensados.
Essa discussão, que envolve a participação de todos e que tem um gestor como mediador, seguramente, diminui os riscos de um erro extremamente comum nos clubes brasileiros: investir por muitos anos em jogadores que não têm potencial de negociação ou atuação no departamento profissional e dispensar os que têm.
Com informações mais precisas, todos os envolvidos (atletas, comissões, dirigentes e investidores) são beneficiados. O atleta dispensado pode ir em busca de seu objetivo em outro clube ao invés de aguardar aquela ligação para se apresentar no início do ano e, após poucos dias de treino e elenco “inchado” ser liberado, pois o seu último treinador não o fez quando deveria; o atleta que subir de categoria é o que o clube realmente vislumbra retorno futuro e que deu mais um importante passo na pirâmide que ano a ano estreita até a profissionalização; a comissão técnica assume a devida responsabilidade profissional de, por estar no dia-a-dia de treinos e, mais do que os dirigentes, ter a obrigação de conhecer profundamente cada um dos seus jogadores, opinar favorável ou contrariamente a promoção de categoria e ser cobrada futuramente por isso; os dirigentes, com o registro de todos os seus produtos e potencial de valor agregado pode se posicionar perante a concorrência e fazer as readequações estratégicas necessárias; e os investidores poderão saber como andam seus investimentos e para quando está previsto o retorno.
É certo que na vida, digo, no futebol, muitos acontecimentos nos distanciam das práticas descritas acima. Interesses pessoais, influências políticas, autonomia limitada, entre outros fatores presentes no futebol, digo, na vida, ocorrem e sempre ocorrerão.
Para quem não aguarda o “mundo ideal”, já mencionado em outra ocasião, tem muito com o que contribuir para profissionalizar os procedimentos nas categorias de base. Para isso, é fundamental ampliar as discussões profissionais e não opiniões pessoais sobre cada jogador.
Caso alguém se interesse por uma planilha-modelo simples para fazer um relatório anual de um jogador, escreva-me.
Quantos atletas você irá subir de categoria?
Abraços e até a próxima semana!
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br