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Sócrates

Cachaça, que não se perca pelo nome, é um dos tantos grandes amigos que Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira (o mais longo e mais decorado nome de craque da história do futebol brasileiro) curtiu em 57 anos de vida. E que vida.

É dele a melhor e mais completa e complexa definição de um craque indefinível.

“O Sócrates é um artista”.

A explicação socrática: “Ele é um artista porque dizem que foi craque – e só jogava de costas, de calcanhar; dizem que é médico – e nunca operou nem uma galinha. Enfim, o cara é mesmo um artista: dizem que foi craque e médico. E não foi nem uma coisa e nem outra”.

Sócrates adorava a história. Fazia questão de contá-la sempre nas tantas vezes que saímos para jogar conversa dentro, para fazer eventos onde ele contava histórias e estórias onde ele também era a própria história. Embora adorasse apenas se colocar entre tantos operários dessa obra inacabada e imperfeita do futebol que ele soube fazer como arte e ideologia como raros. Mais um operário dentro da máquina que ele adorava contestar com ideias e ideais raros. Até os utópicos. Utopia que o encharcava mais que as cervejas e os vinhos que jamais renegou.

Ou melhor, deixou de lado para se preparar para capitanear o grande Brasil de 1982. Quando emagreceu, parou de beber, ganhou o físico que nunca quis ter. E foi exemplar até o antidoping contra a Escócia, em Sevilha. Quando tomou tudo que podia para colher o material e ser recolhido no vestiário por um velho amigo.

Ainda assim, como todo o Brasil, fez um grande Mundial. Não ganhou a Copa, mas conquistou o mundo. Como, meses depois, começaria a ganhar o respeito do país comandando uma revolução que começou no Parque São Jorge e correu o Brasil. A Democraria Corintiana. Que se garantia em campo no bi paulista de 1982-83. Mas, fora dele, fez muito mais. E não só pelo clube. Pelo torcedor, pelo cidadão. Pela liberdade.

Livre. Era assim o Sócrates que brilhava no Botafogo de Ribeirão Preto até ser comprado pelo Corinthians, em 1978. Onde ficou até o Congresso dizer “não” para as Diretas Já, em abrir de 1984, e ele ir de mala e cuia para Florença. Para receber o primeiro salário na Fiorentina, esquecer de pegar o resto, e ficar só um ano por não jogar o muito que sabia, e não se dar com quem nem sempre dava tudo pelo time e pelo futebol.

Flamengo com Zico, Santos com Wladimir de outras batalhas, e o ponto final na carreira. Médico, músico, comentarista do Sportv (onde trabalhamos juntos em 1995), apresentador de TV (tínhamos um projeto conjunto de programa de TV que nunca conseguimor realizar), e mais um monte de atividades. Tantas quantas mulheres e filhos. Tantos quantos amores e paixões.

Com a bola, não era atleta como o “pivete” Raí, craque-bandeira do São Paulo. Mas era mais genial. Cerebral. Mágico. Brilhante. O artista, na definição do amigo Cachaça. O cara que aceitou do amigo Mazinho o pagamento em cerveja perpétua de diferença em venda de imóvel.

Um amigo leal. Um craque. Um gênio. Um Brasileiro.

“Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes”, disse Sócrates, o que não sabia jogar bola.

Só quem viu jogar e teve o privilégio da amizade pode entender a beleza que não admite julgamentos.

Obrigado, doutor honoris causa.

O Brasil, mais que o futebol, agradece a coragem.

P.S.: Escrevi este texto no Pacaembu, 12h30 deste domingo quando perdemos Sõcrates.

Onde um dia, ainda pelo Botafogo, nos anos 70, o Doutor chegou tarde para um jogo pelo Paulistão. À tarde ele havia ficado em Ribeirão Preto para fazer prova na Faculdade de Medicina. Chegou em cima da hora ao estádio onde não havia atuado. Mal sabia por onde entrar. Sem documento algum, nem RG, foi duro convencer que ele poderia entrar no estádio. Não sabia onde era o vestiário. Mais difícil ainda foi fazer entender ao porteiro que ele era jogador com aquele jaleco e com aquela magreza toda.

Mal chegou, mal se aqueceu, e foi o maior em campo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

Leia mais:
Doutor da Alegria

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Doutor da Alegria

O futebol brasileiro hoje derrama lágrimas e risos.

Nunca havia sido disputado um campeonato nacional tão eletrizante como em 2011 – seja na parte de cima, seja na parte de baixo da tabela.

Risos para os que foram campeões ou se classificaram para as competições internacionais.

Lágrimas para quem se foi para a Série B.

Mas a torcida corintiana – que, junto com a do Botafogo, sempre se diz predestinada aos desígnios dos mistérios da bola – teve um domingo especial.

Agridoce.

Comemorou seu quinto título brasileiro, no mesmo dia em que perdeu, talvez, seu maior ídolo. Ironia desse esporte das multidões.

Sócrates. O Doutor.

Se não fosse pela graduação universitária, assim deveria ser chamado pela nobreza técnica dentro de campo.

E pelo ativismo político-social fora dele. Enquanto jogava também, é bom ressaltar. Não apenas ao pendurar as chuteiras para vestir o jaleco.

A Democracia Corintiana, contemporânea do movimento para as Diretas Já, teve em seu DNA a participação de Sócrates, naquele movimento que se pretendia um microcosmo representativo dos anseios do povo brasileiro pela liberdade de expressão e organização política.

Levou toda sua capacidade de mobilização e pensamento crítico para fortalecer a Fundação Gol de Letra, da qual seu irmão Raí é instituidor, junto com Leonardo.

Ainda, fazia parte da ONG Atletas pela Cidadania, cuja missão era:

“Defender causas importantes para que o nosso país tenha um desenvolvimento social mais justo.

A estratégia é simples: aproveitar a popularidade e a credibilidade dos atletas para chamar a atenção e mobilizar os brasileiros, informando e agindo para todos vivermos numa sociedade melhor.

Cada atleta é admirado, respeitado e seguido como um exemplo de quem aproveitou as oportunidades que a vida ofereceu para batalhar pelas suas vitórias.”

O “Magrão”, como também era conhecido, conseguiu mobilizar e inspirar inúmeras pessoas ao longo de sua vida.

Mas, como tantos outros ícones do esporte, não venceu um dos demônios pessoais, que o levou.

Pelo menos, num domingo de futebol.

Com a faixa de campeão no peito.

A maior condecoração que o Doutor poderia receber.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Treino: é preciso olhar antes para o jogo

Venho discutindo bastante questões que envolvem todo o processo de treino. Abordei teorias, métodos, atividades, intervenções, etc.

Nesta semana vou abordar algo que deve nortear todo esse processo: o jogo!

Todo o processo de treino deve ser orientado pelo e para o jogo. A visão que temos desse fenômeno é que orientará toda a sistematização, intervenção e elaboração das atividades.

Em décadas passadas, o jogo era visto como a soma de suas partes; logo, o treino buscava treinar cada parte isoladamente a fim evoluir o todo, em que cada uma delas seria somada às demais e assim o todo era formado.

Atualmente, os paradigmas que norteavam essa prática vêm se modificando e o paradigma da complexidade ganha cada vez mais “adeptos” que notam a necessidade de olhar para o jogo não mais como uma soma de partes, mas como um fenômeno complexo onde as partes se relacionam, se influenciam, integram e constituem o próprio o todo.

Partindo desse pressuposto, devemos buscar mais referências para intervir e orientar um processo, pois não basta dizer que é complexo e ponto!

É preciso entender o caos!

Entender que mesmo em um ambiente caótico, há padrões e esses padrões podem ser observados e representados através de diagramas. Será?

Para isso é preciso estudar a geometria desde a analítica até a fractal.

É preciso entender de sistemas!

Mas o que tudo isso tem a ver com o jogo?

Tudo a ver!

Como afirma Manuel Sérgio:

“Quem quiser entender de futebol só estudando futebol, nunca vai saber tudo sobre futebol.”

Devemos refletir sobre o que devemos estudar, então…

Cada um terá sua resposta, pois a leitura, assim como o treino, depende de nossa interpretação, que é orientada por paradigmas e por experiências prévias…

Tentemos, então, olhar para o jogo como ele é e pensar sobre o que devemos saber para entendê-lo um pouco mais.

Peço licença e gostaria de terminar com dois “parágrafos abertos” para o Professor Doutor Wilton Santana, a quem tive o privilégio de conhecer pessoalmente no último fim de semana:

Um dos primeiros livros que li foi: “Futsal : apontamentos pedagogicos na iniciação e na especialização”. Nele vi que o processo de ensino poderia ser organizado de uma forma diferente. Naquele momento muitas dúvidas foram geradas e os paradigmas começaram a ser superados e quero te agradecer por isso. Assim como ao Rodrigo Leitão, que me indicou essa excelente leitura.

Espero que um dia você volte para prática, de preferência em uma equipe da liga nacional, pois precisamos mudar muitas coisas no campo e na quadra. Enquanto esse dia não chega, espero que continue disseminando seus conhecimentos e mudando paradigmas assim como ocorreu comigo.

Obrigado e até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br

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A relação entre os princípios operacionais e os meios táticos

As discussões acerca de um determinado tema sempre possibilitam crescimento. No conflito de opiniões de interpretações da realidade, cada indivíduo defende seu ponto de vista fundamentado em experiências, vivências e conhecimentos diversos. Nessas discussões, um ambiente favorável, a liberdade de expressão e a ausência de julgamento de valor são pré-requisitos para que o crescimento seja potencializado.

Em 2009, participei de muitas discussões. Naquele ano, minha capacitação técnica em relação ao futebol teve um salto de qualidade. Uma das pessoas que contribuiu para meu desenvolvimento profissional foi Lucas Leonardo, estudioso da pedagogia dos JDC e, na ocasião, companheiro de trabalho. Lucas, então coordenador do Departamento de Pedagogia, desenvolveu um pequeno material (que recebeu alguns ajustes), estabelecendo uma relação entre os princípios operacionais dos jogos coletivos de invasão e os meios táticos do futebol.

Basicamente, o objetivo deste material era auxiliar a comissão técnica que, ao definir os conteúdos de trabalho em seu planejamento semanal, deveria saber exatamente em qual nível funcional dos jogos elaborados as intervenções ocorreriam.

Por fatores diversos, a discussão sobre este tema nunca foi encerrada; porém, a oportunidade de escrever para um conceituado portal permite que tal discussão, iniciada por um pequeno grupo de pessoas, ganhe o mundo e contribua no aperfeiçoamento da atuação profissional de cada um dos leitores/profissionais do futebol.

Na presente coluna, será apresentada somente a relação entre os princípios operacionais e os meios táticos defensivos, estabelecida com base no Currículo de Formação já abordado integralmente.

Sabe-se que as Referências Operacionais Defensivas dos jogos coletivos de invasão são: impedir progressão ao alvo, proteção do alvo e recuperação da posse de bola.

Já como Meios Táticos Defensivos do futebol, apresentam-se: bloco, cobertura defensiva, compactação, direcionamento, equilíbrio, flutuação, pressão, pressing, recomposição e retardamento.

Cada meio tático se relaciona em níveis hierárquicos com as referências operacionais como mostra a tabela abaixo:

Tabela – Relação entre os Meios Táticos Defensivos e as Referências Operacionais Defensivas

 

Perceba que algumas ações táticas se relacionam com as três referências operacionais, outras ações com apenas duas e há ainda as que se relacionam somente com uma referência, mais especificamente a de recuperação da posse de bola.

Na organização defensiva, a recuperação da posse de bola é o objetivo principal. Porém, é certo que orientar diretamente todas as ações individuais e coletivas exclusivamente para este mecanismo não é o procedimento mais eficaz.

Durante a ocorrência desse momento do jogo, é coerente que a equipe tenha comportamentos (previamente treinados) que, em dadas situações do jogo, estejam orientados (num primeiro nível hierárquico) para uma ação operacional distinta da recuperação da posse de bola.

Ao pensar a semana de treinamento em relação aos conteúdos defensivos, não se esqueça de que, no Jogo, as aplicações destas ações táticas se inter-relacionam e emergem (quer você queira, quer não) de acordo com os inúmeros e imprevisíveis problemas do Jogo. Problemas que, quanto mais experiências de qualidade os treinamentos permitirem aos atletas, mais bem serão solucionados.

Que esta tabela auxilie as comissões técnicas em suas reuniões de planejamento para que um treino criado não fuja das reais necessidades da equipe.

Em relação à tabela dos princípios operacionais e meios táticos ofensivos, escreverei em outra oportunidade.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Os clássicos na última rodada e o Estatuto do Torcedor

Neste fim de semana será realizada a última rodada do Campeonato Brasileiro e a grande sensação é que, pela primeira vez, todos os cálculos serão realizados na derradeira ronda.

Destarte, um dos princípios que rege o Estatuto do Torcedor é o da transparência, motivo pelo qual, com o objetivo de aproximar o torcedor das entidades organizadoras propiciando intercâmbio e clareza das informações, foi criado, pelo Estatuto do Torcedor, o Ouvidor das competições.

Nos termos do artigo 6º, do Estatuto do Torcedor, toda competição deve ter um Ouvidor que possui o dever de recolher as sugestões, propostas e reclamações que receber dos torcedores, examiná-las e propor à respectiva entidade medidas necessárias ao aperfeiçoamento da competição e ao benefício do torcedor.

É, ainda, assegurado aos torcedores o amplo acesso ao Ouvidor da Competição, mediante comunicação postal ou mensagem eletrônica, bem como o direito de receber do Ouvidor da competição as respostas às sugestões, propostas e reclamações, que encaminharam, no prazo de trinta dias.

No que concerne ao regulamento das competições, a entidade responsável organizadora, antes do seu início, designará o Ouvidor da Competição, fornecendo-lhe os meios de comunicação necessários ao amplo acesso dos torcedores.

O Ouvidor tem o dever de recolher as sugestões, propostas e reclamações que receber acerca do regulamento, examiná-las e propor à respectiva entidade medidas necessárias ao aperfeiçoamento da competição e ao benefício do torcedor.

Tais propostas, sugestões ou reclamações devem ser enviadas ao Ouvidor, no prazo de dez dias da divulgação do regulamento.

O Ouvidor da competição elaborará, em setenta e duas horas, relatório contendo as principais propostas e sugestões encaminhadas.

Após o exame do relatório, a entidade responsável pela organização da competição decidirá, em quarenta e oito horas, de maneira justificada, a conveniência da aceitação das propostas e sugestões relatadas.

Somente após este período, será divulgado o regulamento definitivo da competição, obedecendo-se a antecedência mínima de quarenta e cinco dias do início do campeonato.

No início de março de 2010, foi divulgada a tabela e o regulamento do Campeonato Brasileiro da Série A daquele ano.

Com o intuito de contribuir e evitar eventuais dúvidas acerca da lisura das partidas, como ocorrido na última rodada do Brasileirão de 2009, na época devida encaminhei ofício ao Ouvidor sugerindo que a tabela fosse planejada de forma que todos os clássicos ocorressem na rodada derradeira.

Na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2009, o Internacional de Porto Alegre dependia da vitória de seu maior rival (Grêmio) sobre o Flamengo para tornar-se campeão brasileiro.

Durante toda a semana, muito se especulou acerca da possibilidade do Grêmio atuar com a equipe reserva ou de entregar a partida.

A própria torcida do Grêmio era favorável à derrota para prejudicar o rival.

Na partida, o Grêmio, apesar de entrar em campo sem o seu time titular, abriu o placar e o Flamengo venceu de virada, o que, de certa forma, afastou os comentários acerca de eventual “corpo mole”.

O Fundamento do meu requerimento foi a afirmativa de que a realização dos clássicos na ultima rodada, além de trazer emoção e interesse para clubes que não estejam disputando posições, evitaria desconfianças e especulações, bem como traria extrema lisura e transparência à competição e atenderia ao que estabelece o art. 5º, da Lei 10.671/2003, Estatuto do Torcedor.

A referida sugestão foi enviada ao Ouvidor da Série A, o Sr. Ronald de Almeida Silva, pelo endereço eletrônico divulgado no sítio da CBF, qual seja: ronald.ouvidor@cbffutebol.com.br

Até o dia 15 de maio, ainda não havia obtido resposta, oportunidade em que reenviei a sugestão, tendo o “email” retornado sem cumprimento. Pesquisando em outras fontes que não o site da CBF, constatei que o endereço eletrônico havia sido alterado para: ronald.ouvidor@cbf.com.br.

A resposta somente foi efetivada em 28/05/2010, sessenta dias após o envio da sugestão, em desacordo com art. 9º, do ET, eis que, o prazo para a resposta é de cinco dias (quarenta e oito horas para o Ouvidor relatar à CBF e setenta e duas horas para a entidade responder).

O Ouvidor respondeu informando que tal sugestão seria encaminhada para o Campeonato de 2011. Assim, tamanha foi a minha surpresa quando a tabela de 2011 estabeleceu que os clássicos regionais fossem disputados na última rodada.

De fato, mesmo antes da derradeira rodada, já se percebe que a alteração na tabela foi um sucesso. O comentário da semana de norte a sul do país é sobre a satisfação de o Atlético rebaixar o Cruzeiro, de o Palmeiras melar a festa corintiana ou de o Flamengo conferir ao Vasco “mais um vice”. Isso sem falar nas demais sete partidas.

Portanto, aguardemos as fortes emoções que o fim de semana reserva aos torcedores de todo o país.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Do céu ao inferno em 90 minutos e o vestibular da bola

No próximo domingo saberemos quem será o Campeão Brasileiro de 2011.

Na disputa estão apenas Corinthians e Vasco que poderão viver situações opostas.

Se analisarmos a condição dos treinadores das duas equipes eles também poderão viver situações bem diferentes.

Tite começou o campeonato arrasador batendo o recorde histórico de aproveitamento nas primeiras rodadas, teve queda de rendimento ao longo da disputa e até teve seu cargo ameaçado.

Já Ricardo Gomes ganhou a Copa do Brasil, iniciou o Campeonato Nacional sem muito destaque, sofreu um AVC no início do segundo turno do certame e desde então ficou afastado por razões óbvias. Curiosamente, mesmo com seu afastamento, o time do Vasco melhorou e conseguiu chegar de forma honrosa à semifinal da Copa Sul-Americana e também disputa o título brasileiro (ainda que não dependa exclusivamente de si mesmo).

Aproveitando a onda de disputa em nível nacional, imagine se a Fuvest (vestibular mais concorrido no Brasil que se iniciou domingo passado) fizesse para seus candidatos as seguintes questões:

01 – Calcule, em percentil, o peso da contribuição do treinador no resultado final de uma equipe ao término do Brasileirão 2011.

02 – O que acontecerá, respectivamente, com quem vencer ou perder a edição deste Nacional?

Mesmo que você não seja um vestibulando na vida real, gostaria de convidá-lo a enviar sua resposta.

Na próxima semana, com o campeonato já definido, iremos saber o que de fato aconteceu com cada equipe vencedora ou perdedora e as respostas que mais se aproximaram da verdade serão publicadas.

Vamos ver se você acerta essa!

Boa sorte a todos!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

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O papel das Forças Armadas…

Depois de algumas leituras e de acompanhar a palestra de um almirante em evento recente, quando abordou o legado dos Jogos Mundiais Militares, consegui descobrir o papel das Forças Armadas no Brasil: ajudar o esporte nacional.

É óbvio que o primeiro parágrafo tem um tom irônico. As Forças Armadas têm importância ímpar no sentido da defesa de qualquer nação. O artigo 142 da Constituição Federal diz o seguinte:
 

“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acessado em: 29-novembro-2011.
 

Em nenhum momento, nos artigos e parágrafos correspondentes ao Capítulo que trata das Forças Armadas aparece qualquer amparo ou direcionamento para que tal contribua com o esporte do Brasil.

Nos Jogos Mundiais Militares 2011 falou-se que um dos grandes legados foi a militarização de atletas. Ora, a competição que tem por objetivo retirar soldados do campo de batalha, um ambiente estressante, colocando-os em uma disputa sadia de esportes entre nações, não pode admitir que o “gato” para a disputa dos Jogos foi um legado, sob o argumento que agora os atletas recebem um salário militar e podem disputar competições olímpicas com mais tranquilidade. E a seleção brasileira de Beach Soccer também entrou na onda, que nem olímpica é, mas está integrada no Programa Olímpico da Marinha.

Talvez esteja aí a solução de todos os problemas do esporte brasileiro (modo irônico novamente). Vamos fechar todas as federações e confederações, vamos militarizar todos os atletas e, muito provavelmente, a medida resultará em… em… em… um retrocesso de algumas décadas!

Não sei dizer quem está certo ou quem está errado. Mas o fato é que se existem agentes se metendo aonde não devem, é porque quem deveria fazer algo decente para o esporte não o faz da maneira correta. O sistema formal de esporte no Brasil está uma salada e não é de hoje. E como os megaeventos geram repercussão midiática, todo mundo procura um jeitinho de aparecer…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Chip na chuteira. E o investimento dos clubes em tecnologia

Olá, amigos!

No texto desta semana trago uma nota sobre o lançamento de uma chuteira com chip capaz de marcar uma série de informações importantes sobre o desempenho do atleta. A seguir, seguem trechos deste informe, para que possamos debater e estabelecer uma reflexão acerca do tema.

“Esta semana, a Adidas anunciou a chegada no Brasil da chuteira Adizero F50 com o sensor miCoach Speed Cell. Este módulo fica em uma cavidade no meio da chuteira e monitora o jogador, medindo velocidade, distância percorrida, sprints (piques) e tempo total…

A chuteira com sensor permite analisar os dados do jogador após um treino ou partida, e sincroniza com o computador ou dispositivo iOS sem usar fios”.

Alerto que devemos ter um postura crítica em relação à notícia, evitando críticas sem o devido conhecimento e evitando também uma empolgação excessiva. Por isso a reflexão se faz importante para discutirmos o papel dos profissionais do futebol em alto nível, frente ao desenvolvimento de tecnologias e recursos de ponta.

Sem dúvida que, numa comparação imediata, percebemos a Adidas fazendo testes baseados no alto desempenho para alcançar o amplo mercado de consumidores, algo marcante na Formula 1, na qual montadoras e fornecedores testam seus novos componentes que com o tempo chegarão ao mercado.

O mercado de fitness já tem recursos tecnológicos de longa data, como o sistema de anotação de percurso, velocidade e performance de corredores de rua, de pessoas fazendo suas atividades cotidianas preocupadas com a saúde.

O cuidado com a empolgação e utilização dessa chuteira como fonte de informação deve ser focada na necessidade de testes e validações para tirar conclusões a respeito da precisão e da informação fornecida, e ainda pensar nos termos regulamentares que a Fifa pode ter nesse quesito.

Por outro lado, se conseguirmos provar e testar tal recurso, com as informações divulgadas, temos um rico material para investigar desempenho dos atletas, lembrando que tais informações já são utilizadas hoje, porém coletadas de distintas maneiras.

Assim, sem entrar no mérito do recurso propriamente dito, já que carece de testes e estes só com o tempo poderemos fazer, direcionamos nossa discussão sobre quem desenvolve tais recursos, ou melhor, sobre quem se interessa em desenvolver tais ferramentas

De olho no mercado, a Adidas investe alto e desenvolve alternativas e novos produtos. Será que os clubes de futebol não poderiam ser protagonistas no desenvolvimento de pesquisas a fim de investigar modelos, práticas e intervenções voltados ao rendimento?

A Gatorade tem um expressivo instituto de pesquisa voltada à análise de performance; a Adidas, assim como a Nike e outras, mostra preocupação com tecnologia dos uniformes e chuteira – e agora cada vez mais com chuteira e informações sobre o desempenho. Todas, com certeza, buscando valorização da marca além de participação de mercado

Se os clubes investissem mais em tecnologia e ciência não teriam benefícios, como desempenho melhor de atletas, contratações mais precisas, menor número de lesões e treinamentos mais adequados? Qual a sua opinião?

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O esquema tático: o losango da linha média

Na coluna “O esquema tático: estruturando a linha defensiva” abordei o papel do esquema tático dentro do Modelo de Jogo e me aprofundei na dinâmica da linha defensiva no 1-4-4-2 zonal.

Nesta semana vou continuar a discussão sobre o esquema tático e a dinâmica de posicionamento dos jogadores; agora com a linha do meio-campo.

No 1-4-4-2, no 1-3-4-3, no 1-5-4-1 ou em outro esquema com quatro jogadores na linha média, posso adotar algumas dinâmicas de posicionamento. No Brasil, o mais popular deles é o “quadrado” onde se joga com dois volantes e dois meias. Em nosso futebol é comum observarmos também o “losango” no meio, onde se joga ou com três volantes e um meia (mais comum) ou com um volante e três meias. Na Europa é comum observarmos os jogadores dispostos em linha no meio-campo.

Esses são posicionamentos básicos, contudo cada um deles influencia em toda a organização da equipe. Vejam que no posicionamento em “linha” tem um bom equilíbrio horizontal, mas pode se ter dificuldades para marcar em bloco alto. Já no “quadrado” não se tem um bom equilíbrio na linha média, mas se pode pressionar mais a frente. No “losango” há um equilíbrio maior entre a ocupação em largura e em profundidade da linha média, mas há chance de ter dificuldades quando a bola entra nas costas dos meias/volantes das laterais. Esses são apenas pontos básicos que devem ser observados em cada uma das formações.

Volto a destacar que o esquema tático por si só não pode ser a única referência da equipe – ele deve se integrar sinergicamente com os demais conteúdos do Modelo de Jogo da mesma.

Como as implicações são quase que infinitas nas diferentes disposições dos jogadores na linha média, vamos nos focar agora no “losango”.

O intuito aqui não é esgotar as possibilidades nem as discussões sobre tal posicionamento, mas mostrar como ele pode ser definido e treinado na prática.

Então, vamos lá:

No Modelo de Jogo de uma equipe hipotética, o treinador definiu que a mesma estruturaria sua linha média no losango. Na organização defensiva, os jogadores desta linha deveriam se posicionar em zona fechando a região central do losango e direcionando o adversário para as laterais do campo a fim de recuperar a bola nesses espaços.

 

Na transição ofensiva, os jogadores dessa linha devem se deslocar rápido a fim de tornar o campo grande para a equipe. O jogador mais avançado do losango tem a missão de criar rápido uma linha de passe para frente para o jogador que recuperou a bola – se ele foi este jogador, deve buscar progredir no campo de jogo ou buscar um passe em profundidade para os atacantes.

 

No momento ofensivo, os jogadores da linha do meio devem estar dispostos de uma forma equilibrada tanto horizontal como verticalmente, e os meios/volantes das laterais do losango devem jogar cada um em sua metade do campo, podendo haver trocas. O volante menos adiantado deve se posicionar fazendo o balanço da jogada e o meia ofensivo deve sempre criar linha de passe em progressão para seus companheiros.

 

Na transição defensiva, os jogadores devem recompor atrás da linha do meio e fechar os espaços evitando a progressão da equipe adversária.

 

Definida a forma como a equipe se comportará nos diferentes momentos do jogo quando a ocupação do espaço em relação ao esquema tático for necessária, vamos ao treino.

Apresento abaixo, como de costume, três atividades práticas para o desenvolvimento da dinâmica da linha média em losango da equipe hipotética em questão.

Atividade 1

Descrição

– Atividade de 4 X 5, em que o objetivo da equipe composta por quatro jogadores é, sem bola, proteger o meio e, com bola, buscar um passe rápido para fora do quadrado. Já a equipe composta por cinco jogadores deve buscar, com bola, um passe na região central do campo e, sem bola, deve pressionar o adversário.

Regras e Pontuação

Equipe amarela
– Marca um ponto se algum jogador de sua equipe receber um passe após a linha tracejada (fora do quadrado).

Equipe azul
– Marca um ponto se fizer um passe para o jogador dentro do losango menor, na região central do campo.

Atividade 2

Descrição
– Atividade de 4 X 5 + Coringa , em que o objetivo da equipe composta por quatro jogadores, sem bola é proteger os golzinhos e recuperar a bola nas laterais do campo; e, com bola, fazer um passe para um jogador a frente da linha tracejada. A equipe composta por cinco jogadores faz o gol nos golzinhos e deve impedir a progressão do adversário. Coringa joga para a equipe que está com a posse de bola.

Regras e Pontuação

Equipe amarela
– 1 ponto quando recuperar a bola nas laterais do campo.
– 1 ponto quando fizer o passe para um jogador a frente da linha tracejada vermelha.

Equipe Azul
– 1 ponto quando fizer o gol nos golzinhos.

Atividade 3

Descrição
– Atividade de 8 X 11, em que o objetivo da equipe da defesa é proteger os golzinhos, recuperar a bola nas laterais do campo e, com bola, deve passar com a bola dominada ou fazer um passe para um jogador a frente da linha tracejada. Equipe que ataca pode fazer o gol nos golzinhos ou no gol oficial; sem bola, deve impedir a progressão do adversário.

Regras e Pontuação

Equipe amarela
– 1 ponto quando recuperar a bola nas laterais do campo.
– 2 pontos se passar com a bola dominada ou fizer um passe para um jogador a frente da linha tracejada vermelha.

Equipe azul
– 1 ponto se fizer gol nos golzinhos.
– 3 pontos se fizer o gol no gol oficial

Os conteúdos se integram!

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br

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Por que ele vai subir de categoria?

Há cerca de um ano, em uma de minhas primeiras publicações na Universidade do Futebol, escrevi sobre resultado nas categorias de base. Com uma série de questionamentos a dirigentes e membros da comissão técnica, o objetivo do artigo era mostrar que uma infinidade de variáveis, além das vitórias dentro das quatro linhas, deveriam ser analisadas para que, de fato, os verdadeiros resultados fossem mensurados.

Um dos questionamentos feitos segue descrito abaixo:

“Existe um relatório individual de desempenho (banco de dados), que acompanha a performance (tática, técnica, física e emocional) de cada atleta ao longo dos anos?”

Como o recesso das categorias de base do futebol brasileiro ocorrerá nos próximos dias, com exceção dos juvenis que terão oportunidade de jogar a Copa São Paulo de Futebol Jr., o momento é extremamente pertinente para a aplicação, ou então, criação do referido relatório.

É sabido que grandes equipes têm a possibilidade de conquistar campeonatos, porém, tais campeonatos não necessariamente significam retorno financeiro (principalmente nas categorias de base), que se dá predominantemente a partir da negociação de um jogador.

Logo, cada jogador, ou melhor, produto, deve ser analisado quantitativa e qualitativamente de modo a ser definido o seu potencial de valor agregado (para futura negociação) até a conclusão do processo de formação.

Definir o potencial de valor agregado é estimar quais serão as características deste jogador que o diferenciará de seus concorrentes (que são muitos), para que tenha maior atratividade comercial.

Posto isso, como analisar um atleta quantitativa e qualitativamente ao longo de um ano?

As informações acerca de determinado jogador que possibilitam a composição de um relatório não são difíceis de serem conseguidas e não precisam de ferramentas inacessíveis para a grande maioria dos clubes de futebol brasileiros, como por exemplo, softwares de gestão integrada. Com boa comunicação interna e recursos básicos do Office é possível estabelecer um banco de dados eficiente para o clube.

Para os dirigentes da base, ter o registro do desempenho obtido e do potencial que pode ser atingido por cada jogador permite um posicionamento coerente perante os gestores e investidores do clube em relação ao investimento que está sendo feito em cada categoria.

Para os treinadores, ter em mãos um relatório completo dos seus novos atletas no início do ano poupa-lhes tempo ao proporcionar informações importantes como perfil disciplinar, versatilidade e/ou especialidade, liderança, qualidade técnica, etc.

Como informações quantitativas gerais encontram-se o ano de ingresso no clube, a frequência anual de treinamento, a quantidade de jogos disputados, o tempo total jogado, os cartões recebidos, os gols feitos, as assistências, além das informações de crescimento e desenvolvimento como altura, peso e desempenho nas avaliações físicas.

Já como informações qualitativas, é possível estabelecer o desempenho comparativo do atleta em relação a sua própria categoria, uma análise das competências essenciais do jogo (relação com a bola, estruturação do espaço e comunicação na ação), e uma análise subjetiva (feita pela comissão técnica) tática-técnica-física-emocional de acordo com o Modelo de Jogo adotado. Para tornar as informações qualitativas ainda mais completas, uma produção em vídeo, de pontos fortes e pontos fracos do jogador, pode ser criada, dos quatro momentos do jogo (ataque, defesa e transições).

Após esta análise individual completa é função dos dirigentes de base do clube reunirem todas as comissões técnicas para, em conjunto, definirem quais são os atletas que têm condições de serem promovidos para a categoria seguinte e quais terão que ser dispensados.

Essa discussão, que envolve a participação de todos e que tem um gestor como mediador, seguramente, diminui os riscos de um erro extremamente comum nos clubes brasileiros: investir por muitos anos em jogadores que não têm potencial de negociação ou atuação no departamento profissional e dispensar os que têm.

Com informações mais precisas, todos os envolvidos (atletas, comissões, dirigentes e investidores) são beneficiados. O atleta dispensado pode ir em busca de seu objetivo em outro clube ao invés de aguardar aquela ligação para se apresentar no início do ano e, após poucos dias de treino e elenco “inchado” ser liberado, pois o seu último treinador não o fez quando deveria; o atleta que subir de categoria é o que o clube realmente vislumbra retorno futuro e que deu mais um importante passo na pirâmide que ano a ano estreita até a profissionalização; a comissão técnica assume a devida responsabilidade profissional de, por estar no dia-a-dia de treinos e, mais do que os dirigentes, ter a obrigação de conhecer profundamente cada um dos seus jogadores, opinar favorável ou contrariamente a promoção de categoria e ser cobrada futuramente por isso; os dirigentes, com o registro de todos os seus produtos e potencial de valor agregado pode se posicionar perante a concorrência e fazer as readequações estratégicas necessárias; e os investidores poderão saber como andam seus investimentos e para quando está previsto o retorno.

É certo que na vida, digo, no futebol, muitos acontecimentos nos distanciam das práticas descritas acima. Interesses pessoais, influências políticas, autonomia limitada, entre outros fatores presentes no futebol, digo, na vida, ocorrem e sempre ocorrerão.

Para quem não aguarda o “mundo ideal”, já mencionado em outra ocasião, tem muito com o que contribuir para profissionalizar os procedimentos nas categorias de base. Para isso, é fundamental ampliar as discussões profissionais e não opiniões pessoais sobre cada jogador.

Caso alguém se interesse por uma planilha-modelo simples para fazer um relatório anual de um jogador, escreva-me.

Quantos atletas você irá subir de categoria?

Abraços e até a próxima semana!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br