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O Corvo

Conhece alguém que sente azarado, ou que é tido pelos outros como tal?

Aquela pessoa para quem tudo acontece de errado?

Ou nunca, nada, acontece?

Ainda, naquilo que se envolve também costuma não “vingar”?

Como existem muito mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia pode imaginar, assim como “no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, sim, tem gente que anda com o corvo sobre os ombros.

O corvo é tido como símbolo de clarividência, em especial do mau agouro, dos maus presságios – embora estudos recentes apontem que o animal dispõe de traços de instintos apurados de sobrevivência e adaptação.

Apelar para o inexplicável, ou para a sucessão de coisas inexplicáveis na vida pessoal e profissional, como justificativa para que as expectativas se confirmem em verdadeiras frustrações é o que muita gente adota.

“Só acontece comigo”, “nada vai dar certo”, “não tenho sorte”…

Muito daquilo que o folclore do futebol vinculava ao Botafogo, ao cravar que as coisas pesadas, negativas, sofridas, só aconteciam com o clube.

São frases que traduzem pensamento e, principalmente, atitude de derrotado na véspera dos acontecimentos.

Bastou o Botafogo, já há alguns anos, implantar gestão profissional, ter o estádio João Havelange como casa, passar por grande revolução no marketing e comunicação, disputar títulos regionais e nacionais, que os comentários que invocavam o sobrenatural para os infortúnios do clube cessassem.

Muito daquilo que fazemos de nossa vida pessoal e da atividade profissional depende de nossas escolhas, de nosso preparo, de nossa atitude.

Obviamente, o talento também tem sua parte inata, que vem de berço.

“Nasceu pra isso” é a frase que se houve nesse caso.

Nascer pra isso e esperar que todo o restante, também, venha, aleatoriamente, é arriscado demais.

A dedicação, o preparo, o treinamento, a qualificação e o aperfeiçoamento técnico-funcional são imperiosos para que o resultado venha para uma pessoa, ou para um grupo de pessoas, reunidos em torno de uma instituição.

Picasso, uma vez perguntado como ele fazia para produzir suas obras maravilhosas, respondeu: “São 24 horas trabalhando”.

E, na máxima do futebol, que afirma que “o craque tem sorte; o perna-de-pau tem azar”, percebemos que o corvo não costuma pairar sobre os ombros errados, mesmo.

Aliás, conheço um cara que sim, esse sim, não só carrega o corvo consigo, mas também faz a ave negra e reluzente passear pelo ombro de quem estiver por perto de qualquer coisa em que esteja envolvido.

“Craque” no que faz, ele não é.

Isso deve ser o começo de alguma explicação. Deste mundo, não do além.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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A análise de desempenho no futebol – parte II: informações de jogo

Na parte I da trilogia da análise de desempenho, vimos algumas das funções do analista e a interação entre vários tipos de dados.

Na segunda parte da série, gostaria de discutir com vocês a respeito das informações de jogo.

No jogo, por ele ser imprevisível, caótico, complexo, etc., muitos dados podem ser coletados e se transformar em informações para os jogadores, técnicos, preparadores físicos, árbitros, público e assim por diante.

É possível, por exemplo, coletarmos os dados de scout e apresentar para a comissão técnica um relatório com informações técnicas da equipe, como passe.

Vamos utilizar o exemplo do passe e ver como o mesmo pode nos trazer algumas informações do jogo.

Em um relatório X, vejo que a equipe A teve um aproveitamento de passe de 85%.

O que isso me mostra?

Quase nada!

Apenas com essas informações tenho poucos recursos para avaliar o jogo e fazer algum tipo de intervenção na prática, justamente por mostrar apenas uma parte descontextualizada do jogo (!).

Vamos tentar transformar esse dado em uma informação um pouco mais valiosa, se é que podemos dizer isso.

Então, tenho um dado que mostra que a equipe A tem 85% de aproveitamento de passes, contudo vejo que 70% dos mesmos são para trás ou para o lado e mais da metade deles (dos 70%) ocorrem no campo de defesa.

O que esse dado começa a me mostrar?

Que a equipe A tem um bom aproveitamento de passes, mas os mesmos ocorrem para trás e para o lado e no setor defensivo.

Continuo tentando dar sentido aos dados…

Olhando para o jogo vejo que o adversário, equipe B, tem como princípio de defesa impedir progressão atrás da linha 3 (meio-campo) e na transição defensiva os jogadores mais próximos à bola retardam a jogada, enquanto os demais voltar para trás da linha do meio-campo.

A equipe A, por sua vez, na transição ofensiva buscar tirar a bola da zona de pressão e logo inicia um jogo de manutenção da posse em seu campo defensivo e só progride em momentos em que cria superioridade numérica nos setores laterais do campo.

Olhando ainda para os dados vejo que nas regiões laterais do campo próximas à intermediária ofensiva há dois dados distintos em relação ao aproveitamento de passes. Enquanto no lado direito o aproveitamento passa dos 65% em passes para frente, do lado esquerdo esse valor não chega aos 30%.

Indo mais a fundo, vejo que do lado direto há um adversário na linha do meio que não está integrado ao processo e não estrutura bem o espaço em sua região. Por esse fato, a linha defensiva se posiciona a fim de compensar essa falha do jogador.

Por sua vez, essa compensação leva a uma perda do equilíbrio horizontal e os dados mostram que os lançamentos do lado direito para o lado esquerdo da defesa no campo ofensivo tiveram um aproveitamento de 50%.

Quando a equipe virava o jogo corretamente (da direita para a esquerda) e o jogador que recebia a bola buscava a progressão (45% das vezes), a equipe conseguiu criar três jogadas que acabaram em finalizações; em uma delas inclusive o gol aconteceu…

Vejam: de um dado de aproveitamento de passes conseguimos chegar ao gol!

O grande segredo é transformar os dados em informações valiosas.

O analista de desempenho precisa mostrar o jogo e dar informações reais, pontuais e que ajudarão a equipe a ganhar jogos ou a formar atletas melhores!

Dar apenas um pedaço do todo não é o suficiente!

Por isso volto a afirmar que isso é só o começo…

Espero que continuemos com bons mestres para que a cada dia aprendermos mais sobre a essência do jogo e para além disso!

A informação se encaixa?

Até a próxima!

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Leia mais:
A análise de desempenho no futebol – parte I: dados gerais

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Onde estão os nossos craques?

Uma afirmação recorrente tem sido observada por todos profissionais que de alguma forma estão relacionados com o futebol: nossos craques estão em extinção!

Não se observa mais jogadores com a qualidade técnica para lançamentos de longa distância como faziam alguns jogadores nas décadas de 70 e 80. O futebol mágico apresentado pelo Brasil em 1982 não tem a menor condição de ser repetido, pois os jogadores de hoje possuem um nível inferior aos daquele tempo. Salvo Neymar e Ganso, é claro.

Atributos de um craque como visão de jogo, passes precisos e a capacidade de driblar e/ou fazer gols espetaculares são competências dos atletas do passado. Hoje existem, no máximo, bons jogadores.

Treinadores das categorias de base e empresários procuram incessantemente as “moscas brancas” em cada canto possível que se joga futebol no país. Estes espaços, que são os campos de várzea, as ruas e as quadras são cada vez mais escassos, o que colabora com o sumiço de craques.

A evolução da preparação física é outro fator que contribui para o desaparecimento das pedras preciosas. Com o jogo mais disputado, jogadores mais fortes e com excessivos contatos físicos, não sobra espaço para o craque demonstrar seu valioso futebol.

A mídia, que precisa criar ou inventar craques, também tem sofrido com este problema. Supervalorizam jogadores medianos que obtêm destaque pontual, que após um curto período de tempo decepcionam a todos. Por não serem craques, não conseguem manter a performance digna de um jogador acima da média.

E não é só a preparação física a responsável pela falta de craques. Antigamente era dedicado muito mais tempo à repetição de fundamentos do futebol. Os atletas de hoje estão chegando à categoria profissional com uma série de deficiências oriundas do pouco treinamento técnico. Além disso, a robotização originada pelos treinamentos táticos, que limitam a criatividade do atleta brasileiro, é outro fator que impede o surgimento de verdadeiros craques.

Alguns sugerem até que Deus deixou de ser brasileiro e tem resolvido privilegiar com o dom somente o argentino Messi e a turma de Xavi, Iniesta e Cia.

Declarada por jornalistas, ex-jogadores (craques ou não), comentaristas, dirigentes e por treinadores, cada expressão mencionada torna-se verdade absoluta, portanto, inquestionável.

Como a opinião geralmente vem carregada de crenças, qualquer mudança de interpretação da realidade dificilmente será observada. Mas não custa tentar!

Se todos afirmam que faltam craques, assumem que o nível do nosso futebol está baixo. E diante do baixo nível do nosso futebol, facilmente observado na bagunça defensiva das equipes ao tentarem parar o Neymar individualmente (e por isso o Mano quer que ele vá logo para a Europa), repito a pergunta do título da coluna: “Onde estão os nossos craques?”.

Nossos craques, hoje, estão nas disseminadas escolinhas de futebol, sonhando em serem “Messi”, “Cristiano Ronaldo”, “Xavi”, “Neymar”, “Ganso”; estão nos campos de várzea que, mesmo em escala decrescente, ainda existem em quantia assustadora neste imenso país; estão nas categorias de base dos clubes brasileiros que, em muitos casos, não conseguem lapidar as joias que tem.

Temos material humano para ter mais craques que qualquer nação do mundo. O que ainda não temos consciência é de que o craque não está pronto nas escolinhas de futebol, nos campos de várzea ou nas categorias de base. Craque não se nasce, se cria! O craque de ontem jogou o futebol do passado: mais lento, mais espaçado, com mais tempo pra agir e com menor nível de organização coletiva das equipes. O mesmo jogo com outra dinâmica!

Infelizmente, na cadeia produtiva da formação de craques, que deveria se iniciar no processo de transição esportiva da iniciação para a especialização, as lacunas são imensas. É certo que alguns movimentos isolados surgem na tentativa de reverter o atual cenário do futebol brasileiro. É certo, também, que se estes movimentos falharem em pontos capitais da cadeia produtiva poderão desperdiçar milhões de reais.

Cerca de 10 anos é tempo suficiente para a produção de craques. Como estaremos em 2022?

Dependeremos do surgimento aleatório e seguiremos a caminhada em passos largos para a extinção ou conseguiremos formar jogadores inteligentes, completos, adaptáveis à dinâmica do futebol atual e que poderão ser protagonistas da retomada do Brasil ao topo do mundo na modalidade?

Aguardo sua opinião, leitor.

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Alteração de horários pela Justiça do Trabalho viola Estatuto do Torcedor

Um debate recorrente é a alterabilidade dos horários das partidas de futebol pela Justiça do Trabalho, inclusive com decisões da Justiça do Trabalho dos Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul que chegaram a proibir a realização de partidas de futebol em determinados horários, em razão da elevada temperatura, sob o fundamento de que haveria lesão à dignidade e à integridade dos trabalhadores.

Ocorre que para atividades insalubres, incluindo-se exposição a altas temperaturas, a Constituição Brasileira em seu art. 7º, a CLT e a NR 15 preveem o pagamento do adicional de insalubridade. Não há qualquer previsão de alteração de horário de trabalho.

Fosse assim, os demais profissionais que laboram sob altas temperaturas, sob o sol, como carteiros e trabalhadores da construção civil deveriam ter seus horários alterados.

Não bastasse a inexistência de previsão legal para alteração de horário das partidas, tal decisão afronta visceralmente os direitos do torcedor, uma vez que o Estatuto do Torcedor, em seu art. 9º, determina que as tabelas serão divulgadas sessenta dias antes do início das competições e somente podem ser alteradas em casos extremos, cabendo aos interessados, apresentar reclamações e sugestões ao Ouvidor da competição no prazo de dez dias.

Assim, novamente o grande protagonista do evento esportivo foi relegado à coadjuvante e teve seu direito respeitado.

Portanto, caso se constate a condição insalubre, a medida legal cabível é a obrigação dos clubes (empregadores) pagarem aos jogadores (empregados) o adicional de insalubridade e não a restrição das partidas, sob pena de violar, além dos direitos do torcedor, o Princípio da Legalidade previsto no inciso II, do art. 5º, pois determina que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, senão em virtude de lei.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Cidade-sede: Natal

Eis a cidade-sede com um dos estádios mais atrasados da Copa. Um estádio incoerente e sem quase nada a acrescentar – a não ser se, de repente, trouxer investimentos privados para a proximidade do “complexo” dos quais eles se gabam, mas não é o que o povo tem visto dos políticos devida tanta falta de gestão de verba e de capacidade.

Sempre valorizo que se alguém decide por construir um estádio, ele deva ser um marco, algo inusitado, referencial para a arquitetura, para que seja capaz de se tornar um ícone digno de turismo, ou seja, verba entrando para a sua manutenção. Mas pode, a Arena das Dunas, atual, ser parecida com o estádio do Arizona Cardinals, nos Estados Unidos desta forma?

É o mesmo estádio visualmente falando, mas o modelo para o Brasil parece desandar ao sair do forno, como um bolo.

Ambos os projetos de arquitetura são do Populous, escritório internacional, com vasta experiência em equipamentos esportivos e, digamos, com vários de extrema qualidade, como o Incheon Stadium, o Soccer City, o Aviva Stadium, entre tantos outros.

No entanto, isso não os isenta da extrema semelhança. A única diferença que vejo é que o brasileiro foi um pouco mais mal feito e salientarei alguns dos motivos até o fim desta coluna.

Como podemos ver acima, o projeto é um complexo: estádio, anfiteatro, arena de eventos (fora do estádio), hotel, centro comercial, centro administrativo municipal e federal – como se fosse uma “Brasília Potiguar”. Ou seja, nada fica dentro do estádio, praticamente se resumindo aos jogos. É bom para o gramado, mas não é nada bom financeiramente.

E digo isso não só por questão de lógica, mas porque, observando o projeto, vemos gastos imensos que, claro, vão para os cofres públicos; ainda mais que nenhum time tem grande interesse em jogar em um estádio que não é seu.

Pelo leque de projetos do Populous, vemos que eles foram contratados somente para o estádio – ao menos espero que seja – , pois o entorno parece bastante discrepante do padrão do escritório, que geralmente é muito bem elaborado.

Natal tem cerca de 320 dias de sol por ano e tem, no verão, uma média de 31°C e, no inverno, 28°C, ou seja, sempre quente. É, portanto, incompreensível o uso de tantos vidros espelhados.

O vidro espelhado barra o sol, mas exige um uso intenso de ar-condicionado e iluminação artificial, indo completamente contra a sustentabilidade que a “Copa Verde” focava. Então por qual motivo pode ter sido escolhido nos prédios do complexo? Provavelmente por ter dado certo em alguma experiência fora do Brasil. Mas nem tudo pode ser importado na arquitetura: o que pode funcionar muito bem em Londres, jamais funciona bem em Natal, que é o caso.

Nem me aprofundarei na influência dos reflexos de tantos espelhos para o entorno e nos malefícios para os pássaros; isso só complementa a justificativa.

Uma solução possível seria o uso de brises (aletas devidamente orientadas para barrar a insolação, mas também para permitir entrada de luz) ou de elementos vazados, como cobogós ou até mesmo muxarabis, que permitiriam a ventilação natural e luz natural entrando, reduzindo a necessidade de gastos energéticos desnecessários.

São elementos bem conhecidos na arquitetura e seriam muito úteis para a região de Natal, tanto para o estádio, quanto para os edifícios ao redor.

Sobre o estádio, como podemos ver pelas fotos noturnas, há aberturas em toda a fachada, que permite os raios de luz à noite. O que antes fora apresentado com um elemento leve pelo material escolhido, tornou-se, pelo desenho, um elemento pesado e com desenho questionável.

Acima, apresentação original do projeto.

Atualmente, o projeto já apresenta uma solução mais elegante e mais bem trabalhada, como podemos ver abaixo – embora não seja um material muito bem feito e muito bem definido, já mostra uma evolução do projeto.

O interessante do estádio é, felizmente, a circulação, um dos pontos mais importantes na elaboração de um projeto que abriga grandes multidões. Cada bloco de arquibancadas tem escadas logo abaixo às frestas da cobertura, permitindo melhor evacuação e sinalização para momentos de pânico e emergência. Isso pode ser visto tanto nas aberturas na perspectiva interna, quando na externa, onde as escadas podem ser visualizadas saindo do limite do revestimento.

Segundo o escritório, as aberturas transparentes (em ETFE, excelente material com potencial autolimpeza) também servem para captar a brisa e fazê-la circular pelas arquibancadas. A forma ondulada de sua cobertura seria devido à referência às dunas de Natal, por isso o nome do estádio.

Como o andamento das obras neste local é um dos piores, felizmente ainda temos tempo para definir melhor as coisas. Só espero que sejam alertados os governantes e, aí sim, modificado algo no projeto. Além disso, planejado melhor o uso do estádio. Ou será, este sim, o mais promissor elefante branco do país.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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Esporte jovem

Por meio de redes, jogos eletrônicos, jogos sociais ou formas reduzidas do esporte. Esta tem sido uma tendência cada vez mais latente de algumas modalidades para ampliar a base de fãs da modalidade.

E o que se percebe é a preocupação por ocupar cada vez mais espaço entre as preferências do público jovem, classificado como o futuro formador de opinião da sociedade e, por consequência disso, consumidor do seu esporte preferido e que levará tal linguagem para as gerações posteriores.

Na mídia, os movimentos têm caminhado para este sentido também, com a valorização cada vez maior da prática esportiva entre crianças e adolescentes. Em entidades esportivas supranacionais, de administração do esporte, que se preocupam em apresentar uma linguagem mais descontraída da sua modalidade. E, logicamente, o posicionamento na internet e redes sociais, que permitem multiplicar com uma rapidez incrível a mensagem desejada.

Este breve e resumido relato serve para uma reflexão sobre o futebol que, em alguns casos, caminha para o lado contrário da linguagem do público jovem.

Acompanhei algumas pesquisas recentes que mostram o gradual “envelhecimento” dos apaixonados pelo futebol. É verdade que a redução é diminuta – e não poderia deixar de ser, por ainda ser, disparado, o esporte declaradamente preferido pela maioria das pessoas.

Não é preciso grandes revoluções ou transformações no jogo. Não se trata de mudar radicalmente a linguagem do esporte. Mas pensar em uma comunicação mais solta, que alie o universo do jovem com o mundo do futebol não é mais só atacar um nicho de mercado, mas sim competir para a sobrevivência da sua indústria no longo prazo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Chorar

O ato de chorar faz parte de nossas vidas.

Normalmente, segundo as mais intensas emoções, sejam elas positivas, carregadas de alegria, sejam impregnadas de dor e tristeza.

É a resposta fisiológica do corpo humano para algo que vem da mente ou do coração, da alma, do espírito, como queiram nominar.

Verter lágrimas de pranto é um dos gestos mais verdadeiros e belos que uma pessoa pode protagonizar ou testemunhar.

Alegria, tristeza, medo, depressão, raiva, dor, saudade, são alguns dos sentimentos emanados por nós que se concentram nos olhos e correm pelo rosto traduzindo, ao mesmo tempo a soma de tudo aquilo que somos, bem como as circunstâncias que provocam tal reação.

Nascemos chorando como instinto de defesa, para, inconscientemente, avisar aos que nos cercam de algum perigo ou necessidade.

O futebol é sempre pródigo em revelar toda nossa emoção através do choro.

Mais ainda num dia de decisões nos campeonatos estaduais, bem como no “Day after”, em que o luto por derrota ou celebração das vitórias ainda faz conservar o brilho molhado do pranto já derramado.

Um belíssimo exemplo disso veio nesta semana da equipe do Athletic Bilbao.

Na final da Liga Europa, após terem perdido o jogo para o Atletico de Madrid por 3 a 0, os jogadores desabaram no gramado, num comovente choro.


 

Choro esse que, imagino, mistura todas as emoções vividas durante uma belíssima temporada disputada pela equipe basca, sob o comando de Marcelo Bielsa, num momento intenso como uma final de competição européia favorece.

Somado a alegria, tristeza, medo, depressão, raiva, dor, saudade, está também o orgulho pelo trabalho realizado, e pela representação da comunidade basca, ainda que não tenha sido possível sublimar esse conjunto na representação da taça levantada pelo capitão.

Como diria o filósofo espanhol Ortega y Gasset, “Yo soy yo y mi circunstancia”, e o futebol permite aos clubes e a seus torcedores, bem como aos jogadores, viver intensamente cada circunstância de maneira plena, contribuindo, com a sua história, a construção da História e de grandes estórias.

Inclusive chorar.

Principalmente, chorar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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A análise de desempenho no futebol – parte I: dados gerais

Depois da trilogia do Felipão, vamos agora para a série sobre a análise de desempenho!

Nos últimos anos, a análise de desempenho vem ganhando cada vez mais espaços no âmbito esportivo.

Em algumas modalidades, o papel da análise se configura com um dos pontos centrais da performance, como no futebol americano, beisebol, basquete, vôlei, futsal, atletismo, e assim por diante.

Assistindo a algumas partidas de vôlei da Superliga Nacional, notei que muitos treinadores ficam com seus tablets ao lado da quadra (alguns deixam com seus auxiliares) recebendo informações instantâneas sobre onde estão sendo os saques do adversário, onde os pontos estão acontecendo, onde a bola está passando pelo bloqueio, etc.

Será que tudo isso é importante? Será que ganha jogo?

No futebol, a análise de desempenho vem a algum tempo ganhando espaço, principalmente após a contratação do analista Rafael Vieira pela CBF. Quando o mesmo foi apresentado como membro da comissão de Mano Menezes, muitos se perguntaram o que esse profissional faria.

Mas o que ele faz?

Bom, neste ano iniciei um projeto piloto na base do clube e gostaria de compartilhar algumas reflexões e mesmo dúvidas sobre essa função.

No meu primeiro dia como analista de desempenho levantei as funções que pensei ser relevantes se tratando de formação e de resultado.

A lista é extensa.

De uma maneira geral, as funções giram em torno da análise individual dos atletas em treinos, jogos e fora do campo; análise coletiva da equipe em jogos e treinos; análise do adversário individual e coletivamente.

Dentro dessas funções, temos subdivisões que vão desde a análise comportamental do atleta até a análise das suas ações no jogo com controles subjetivos, quantitativos e qualitativos de seu desempenho.

Desempenho que precisa ser entendido com algo complexo, onde as variáveis são fractais do desempenho.

Por exemplo, em um controle hipotético de deslocamento do atleta, vejo que ele percorreu 6,320 km em um período de 80 minutos. Pelos parâmetros utilizados observo que é uma distância relativa baixa; contudo, com a análise do jogo, posso identificar que minha equipe recuperava a bola muito rapidamente e economizava energia para chegar ao gol adversário. Além disso, esse atleta ocupa muito bem o espaço e é ponto fundamental para a progressão da equipe com bola. Analiso também que mesmo tendo um volume total de deslocamento não tão alto. Suas ações de alta intensidade estão na média do grupo, ou seja, um dado apenas pode visto fragmentado do todo: complexidade.

O desempenho de um atleta de futebol não se resume as ações “táticas” ou ao posicionamento em campo. Ele é muito mais do que isso.

Analisar o desempenho do atleta é compará-lo com ele mesmo em toda a sua essência e verificar como cada variável está interagindo com as demais.

Depois de tudo isso é preciso ainda gerar as informações e os relatórios para os diversos departamentos do clube. Cada um deles precisa de um tipo de informação baseado nos próprios dados que eles fornecem para o analista que tem o papel integrador da informação. Ele deve agir como um ser transdiciplinar dentro do clube.

Mas e as informações para o treinador?

O que é importante para ele ganhar os jogos?

Muitas informações!

Mas não todas!

Como diria Renato Russo:

“Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.”

Isso é a análise de desempenho.

Em próximas colunas continuo essa discussão.

Até a próxima!

Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Rafael Vieira, analista de desempenho da seleção brasileira principal

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As regras certas e a dinâmica do jogo: favoreça um treinar (jogar) de qualidade! – parte II

Após a coluna da semana anterior alguns leitores me perguntaram sobre o modelo de periodização que defendo. Como o futebol, em sua essência, é um jogo, qualquer planejamento de treinamentos que não periodize o jogar complexo e sim fragmentos da modalidade estará minimizando resultados, pois dedicará horas cruciais das sessões de treino para o desenvolvimento de capacidades isoladas e, portanto, distantes das situações-problema impostas pelo jogo.

Posto isso, evidencio que sou adepto de uma periodização com fundamentação sistêmica, que não é a tática, dada as diferenças que vejo em minha atuação, e também não é a complexa de jogo, devido às minhas limitações/poucas informações acerca deste modelo.

São por motivos como estes que expus minhas dúvidas e questionamentos num dos ambientes mais favoráveis para se discutir futebol no Brasil. As dúvidas e questionamentos se limitaram à vertente física do jogo. Afirmo, porém, que inquietações também existem para as demais vertentes…

Dúvidas à parte (que sempre existirão numa busca constante por conhecimento), é momento de pensar a sessão de treino. E para criar jogos em que as situações-problema sejam semelhantes as que irão ocorrer nas competições, estejam certos (e para isso, obviamente, não há dúvidas) que as soluções não estão nos intervelados de corrida, nos treinos pliométricos, na sala de musculação, nas caixas de areia, nas trações, nos tático-sobra, nos coletivos sem bola, na repetição de fundamentos ou em quaisquer outros treinos analíticos.

A solução está nos jogos bem criados e corretamente orientados.

Acertar na criação de um jogo parece simples, porém, ao longo de minha jornada profissional como atleta ou gestor de campo vivenciei inúmeras situações que foram jogo, mas, mesmo assim, estavam distantes (ainda que melhor do que os treinos analíticos) do jogar desejado.

Já joguei o conhecido “futebol alemão” durante incontáveis semanas seguidas com as mesmas regras e as mesmas intervenções do treinador. Semana após semana, nossos problemas e adversários não eram os mesmos, porém, os treinos sim. Também já presenciei discussões que o mesmo jogo pode ter objetivos diferentes, inclusive opostos. Por exemplo, trabalhar o igualmente conhecido “passa 10” para objetivos como a posse de bola e para a recuperação da posse de bola.

Penso que para jogos iguais, objetivos iguais (no máximo, semelhantes). Lembrando, é claro, que se houve a adição de uma regra sequer, já não é mais o mesmo jogo.

Enfim, inúmeras situações de treino vivenciadas poderiam ter maior eficácia e contribuição na construção de um jogar coletivo de qualidade. O desconhecimento, gerado pela incompetência inconsciente, e até mesmo a preguiça de pensar o treino são fatores limitantes na criação de jogos.

Algumas ações podem ser suficientes para impedir a ocorrência destes erros. Entre elas:

• Saiba exatamente o nível em que se encontra sua equipe para cada um dos momentos do jogo;

• Saiba exatamente o nível que você pretende atingir em cada um dos momentos do jogo;

• Decida quais são os objetivos do jogo que será criado;

• Defina as regras do jogo.

É justamente ao definir as regras do jogo que muitos se perdem. Definem um objetivo, mas criam regras que se desencontram; estabelecem regras vagas, distantes do que se quer construir; são incoerentes com as pontuações, privilegiando ações de fácil execução; definem muitas regras, deixando o jogo confuso, definem poucas regras, deixando o jogo pouco complexo. Ou seja, erros que podem ser fatais na rodada seguinte.

Para criar regras convergentes para o objetivo de desmarcações, por exemplo, é possível privilegiar o passe recebido em um espaço vazio no campo ofensivo. Para trabalhar recuperação da posse de bola, punir a equipe que não recuperar a posse a partir de um setor delimitado em um curto espaço de tempo é uma opção. Para trabalhar progressão com passes curtos, a obrigatoriedade de passes pra frente até a intermediária ofensiva pode ser uma boa ideia.

Em relação às pontuações, deve se atentar ao fato de nenhuma ação ter maior pontuação que o gol, pois para cumprir a lógica do futebol formal (é para isso que se treina) gols precisarão ser feitos. Exemplificando: dar maior pontuação para a posse do que para o gol pode criar o mau-hábito em uma equipe querer fazer mais a posse do que o gol.

Pode ser interessante pensar na seguinte combinação: posse no ataque por 15 segundos = 1 ponto; gol = 2 pontos; posse + gol = 5 pontos.

Já sobre a quantidade de regras, insira mais ou menos de acordo com os objetivos pretendidos e respeitando o já mencionado nível de sua equipe e o princípio da progressão complexa.

Com o jogo elaborado, o último detalhe, mas não menos importante, compreende a correta intervenção do treinador. É dele a missão de construir referências coletivas comuns que no jogo formal se manifestarão adequadamente em ações correspondentes à auto-organização do jogo.

Na próxima coluna que tratar deste tema, será iniciada a discussão de regras favoráveis à aquisição de determinados comportamentos coletivos referentes à organização ofensiva.

Para quem tiver interesse, disponibilizo por e-mail uma planilha orientadora para treinamentos. Nela, será possível atentar-se para elementos centrais na elaboração de uma sessão de treino e estabelecer as inter-relações e combinações do jogo criado com os objetivos propostos.

Abraços e até a próxima semana!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br 

Leia mais:
As regras certas e a dinâmica do jogo: favoreça um treinar (jogar) de qualidade – parte I

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais exclui responsabilidade de clube e de federação por morte de torcedor

A 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) negou o recurso de um casal em ação de indenização pela morte do filho, resultante de uma briga entre torcidas em abril de 2004. Na decisão, a Federação Mineira de Futebol e o Cruzeiro Esporte Clube foram retirados do processo por serem considerados isentos da responsabilidade pelo ocorrido.

A referida decisão é atinente a um aspecto preliminar do processo; o mérito, se haverá ou não indenização, ainda está pendente de julgamento.

O torcedor foi morto durante briga entre membros das torcidas do Clube Atlético Mineiro e do Cruzeiro Esporte Clube, no terminal rodoviário “BH Bus” na região de Venda Nova, cerca de 10 quilômetros do estádio, em 11 de abril de 2004, dia em que foi disputada a final do Campeonato Mineiro daquele ano no Mineirão.

Os pais da vítima ajuizaram ação de indenização por danos materiais e morais contra o Estado de Minas Gerais, a BHTrans, sociedade de economia mista municipal responsável pelo trânsito, a Federação Mineira de Futebol, o Cruzeiro e alguns torcedores do Atlético.

Em 1ª instância, o Magistrado considerou que a Federação e o Cruzeiro não podiam ser responsabilizados pelo incidente, pois “as atribuições legais dessas instituições se limitam às circunscrições do local onde ocorre o evento esportivo”.

No recurso, o casal solicitou que a Federação Mineira de Futebol e o Cruzeiro também fossem responsabilizados pela morte de seu filho.

O Desembargador relator entendeu que a situação foge da responsabilidade da entidade organizadora da competição e da entidade da prática desportiva, pois os fatos não se deram no lugar do evento ou nas imediações de sua realização e, portanto, manteve a decisão de primeira instância.

“A alegação recursal de que o Estatuto do Torcedor não impõe limite de distância entre o palco do evento e os locais utilizados para transporte dos torcedores não supera, primeiro, a previsão daquele quanto a aspectos e definição de segurança e, segundo, a imposição de aplicação do princípio da razoabilidade”.

O Estatuto do Torcedor estabelece a responsabilidade objetiva do clube mandante, da entidade organizadora e seus dirigentes pelos danos sofridos pelos torcedores em razão do evento esportivo, sendo-lhes garantida a segurança antes e depois da partida.

Ademais, é direito do torcedor ter a segurança nas imediações do estádio em que será disputada a partida, bem como suas entradas e saídas, de modo a viabilizar, sempre que possível, o acesso seguro e rápido ao evento, na entrada, e aos meios de transporte, na saída.

Destarte, considerando-se que as estações de ônibus constituem sistema de transporte público indispensável para o acesso ao evento esportivo e que o dano somente ocorreu em virtude dele. Considerando-se, ainda, que é dever das entidades envolvidas garantir a segurança do torcedor, a federação e o clube possuem, sim, legitimidade para figurarem como réus na ação.

Além deles, nos termos do artigo 39-B, do Estatuto do Torcedor, a torcida organizada responde civilmente, de forma objetiva e solidária, pelos danos causados por qualquer dos seus associados ou membros no local do evento esportivo, em suas imediações ou no trajeto de ida e volta para o evento; ou seja, tendo havido participação de componentes de torcida organizada, a entidade também poderia constar no pólo passivo.

De toda sorte, medidas judiciais como esta são de extrema valia para a efetivação dos direitos do torcedor, uma vez que somente com seu uso reiterado será possível aplicar corretamente e em sua plenitude o Estatuto do Torcedor.

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