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A era da desinformação

Depois da era industrial, da era do conhecimento, da era digital e da era da hiperconectividade, vivemos agora a era da desinformação.

Tenho pensando nos últimos tempos no tema da desinformação e passei a pesquisar sobre seus motivos. Li artigos, participei de debates, conversei com profissionais de diversas áreas e níveis hierárquicos e fiquei atento aos acontecimentos do dia a dia para confirmar a tese.

Reunindo todas as evidencias, cheguei a uma conclusão: a era da desInformação está em curva ascendente e não vejo, pelo menos a curto prazo, um sinal de que irá desaparecer.

Antes de continuar, vamos nos alinhar sobre as definições de senso comum e informação. A maioria das pessoas imagina que o senso comum e informação são sinônimos, não são! De fato, é fácil confundir já que existem situações que podem nos levar a misturar tais definições. Para que não haja dúvidas sobre o que significa uma e outra, vamos a suas definições:

Senso comum: O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas, como as científicas. Enfim, não pressupõe reflexão, é uma forma de apreensão passiva, acrítica e que, além de subjetiva, por vezes é superficial.

Informação: É um conjunto de dados organizados, um fato ou um fenômeno, que no seu contexto tem um determinado significado, cujo fim é reduzir a incerteza ou incrementar o conhecimento sobre algo. Enfim, é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação no conhecimento.

Pode parecer antagônico, mas creio que a causa principal da desInformação, esteja justamente na abundância, no baixo custo e na facilidade em se acessar “conhecimento”.

Acessar conhecimento há alguns anos atrás era um grande diferencial e basicamente era conseguido por intermédio de grande esforço individual, sendo autodidata, sendo um aprendiz atento ou investindo em educação através de cursos e graduações.

Só para relembrar como era difícil buscar conhecimento, comprar uma enciclopédia como a Barsa, um clássico por décadas nos anos 60, 70 e 80, custava caríssimo e era uma meta de compra de pais que investiam forte na educação e no futuro de seus filhos.

Para quem nunca ouviu sobre este material, a Barsa cumpriu por décadas a função hoje exercida por portais de pesquisa como Google, Yahoo!, Bing ou Wikipédia.

Hoje temos facilidade de acesso a conhecimento em questão de segundos, com pouco esforço mental e a custo zero. Esta facilidade em acessar o conhecimento, criou o comportamento das pessoas não terem necessidade de se esforçar, assim como em se satisfazerem com conhecimentos superficiais e sem preocupação com conceitos.

Como consequência, as pessoas têm dificuldade em entender o porquê das coisas, e o efeito é não conseguirem transformar conhecimentos acessados em matéria prima, informação.

Exemplos desta realidade estão por todas as partes:

1) Manifestações no Brasil. Nenhum juízo de valor, nada contra muito pelo contrario.

Ao perguntar para manifestantes o porquê eles estão ali, uma boa maioria respondeu: “estamos reivindicando redução do preço da tarifa de ônibus”, ou seja, eles têm o conhecimento. Todavia, depois dessa primeira pergunta, todas as outras terão em 90% dos casos respostas como “Não sei”.

Vejamos algumas:

Se vocês conseguirem a redução, quais os benefícios para o consumo?
Vocês sabem se a redução nas passagens causará impactos em outras áreas?
As destruições nas ruas podem gerar algum impacto no emprego?
Quem organizou esta manifestação?
Qual foi a discussão de pauta antes de saírem às ruas?

Vemos que 10% das pessoas respondem com inteligência estas perguntas simples, a grande maioria não faz a menor ideia do motivo de estar ali, ou seja, não tem nenhum objetivo de fato e seguem, como um bando de gnus, um “líder” sem saber para onde estão indo. Aqui posso identificar que existe conhecimento, mas não existe informação.

2) Atividades e trabalhos executados nas empresas. O dia a dia da maioria dos profissionais.

Ao perguntarmos aos profissionais, de qualquer área, o que eles fazem, a maioria deles tem uma resposta pronta, por exemplo: Sou responsável pela compra de equipamentos de informática.

Mas depois dessa primeira pergunta, todas as outras terão como resposta “Não sei”, “Não avaliei isso”, “Não perguntei”.

Vejamos algumas:

Você sabe como sua atividade surgiu na empresa?
Outras empresas do segmento tem este tipo de profissional?
Seu cliente interno precisa mesmo dos equipamentos que você compra?
Que uso seus clientes fazem destes equipamentos?

Aqui também apenas 10% respondem mostrando proatividade, interesse em conhecer profundamente seu trabalho e clientes. A maioria faz o mínimo necessário, não entendem o conceito e origem de suas atividades profissionais, não são aptos a sugerir melhorias e inovações.

Citei dois simples exemplos, mas, se olharmos o cotidiano, veremos que há milhares de outros.

A boa notícia é que quem for apenas um pouco diferente, tendo vontade, pesquisando a origem das coisas, avaliando impactos de cada evento em sua atividade profissional, estudando sobre sua área de atuação e investigando formas alternativas de fazer melhor, se destacará e certamente terá sucesso garantido.

Minha sábia avó sempre repetia um ditado popular que faz todo sentido para este momento: “Em terra de cegos, quem tem um olho é Rei”. Reflitam sobre isso e se apropriem de seu cetro!

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Para quem é o espetáculo?

Há algum tempo venho debatendo com colegas ou em sala de aula as transformações que estão acontecendo na indústria do esporte, especialmente naquilo que se refere a mudanças e ajustes de algumas práticas e/ou eventos no sentido do entretenimento.

O basquete, por exemplo, tem investido bastante energia e recursos na divulgação e no desenvolvimento do basquete 3 x 3 – uma forma de prática mais leve, solta e adequada a linguagem da juventude. Nesta mesma linha, surgem adaptações ou amplo crescimento de esportes como BMX, Skate, Beach Tênis e tantos outros. O próprio futebol é recheado de adaptações, seja no tradicional futsal até as práticas na rua ou em outros cenários.

Recentemente, levantei um debate em sala de aula para abordar uma comparação simples do espetáculo proporcionado pela tradicional Ginástica Artística ante o Cirque du Soleil, que apresenta movimentos atléticos similares ao da Ginástica – inclusive, boa parte de seu corpo de artistas é formado por ginastas ou ex-ginastas, alguns deles com participações em Olimpíadas – mas com um aspecto lúdico ímpar.

E foi lendo uma breve entrevista da ex-ginasta brasileira Camila Comin (que trocou os tablados da Ginástica pelos palcos do Cirque du Soleil) na revista de bordo da Azul Linhas Aéreas que pude atestar bem essa relação em uma passagem específica: quando perguntada como era "atuar" agora dentro do circo, Comin respondeu: "Na ginástica, nosso trabalho é voltado para ignorar a torcida e se concentrar apenas na prova. No circo, preciso interagir com o público durante todo o espetáculo".

Pronto. Eis a explicação concreta. Nesses inúmeros debates sobre a ocupação e participação das torcidas em jogos e eventos esportivos, será realmente que estamos entregando um produto que permita a verdadeira interação do público com o espetáculo? Como explicar o fato de uma ex-ginasta passar a atrair um público que paga por um ingresso algumas centenas de reais enquanto, há pouco tempo, era ínfima a quantidade de fãs que pagavam poucos reais para vê-la competir em eventos oficiais de ginástica?

A recíproca e a projeção para o contexto do futebol é linearmente equivalente. Esquecemo-nos de ouvir os anseios do público e entregar um produto adequado a ele. Depois, nos assustamos com arenas vazias. Urge novos formatos para atração de público sob pena do "respeitável público" virar as costas para os nossos produtos, como, aliás, já vem ocorrendo paulatinamente.

E não basta fazer apelo com o ídolo do clube todas as vezes por meio de coletiva de imprensa. É preciso muito mais que isso!!!

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O cabelo do Pato

Substituído por Paolo Guerrero no segundo tempo do jogo contra o Coritiba, no último domingo, o atacante Alexandre Pato foi vaiado por parte dos torcedores do Corinthians que foram ao Pacaembu. Contratado pelo clube paulista no início deste ano, o camisa 7 ainda não conseguiu se firmar. A oscilação que o jogador vive em campo tem relação direta com o quanto ele claudica na comunicação.

Pato tem momentos de absoluta correção em termos de comunicação. Na semana que antecedeu o jogo contra o Coritiba, por exemplo, o atacante mudou o visual. Com isso, transformou em assunto algo totalmente trivial e alheio ao campo.

A estratégia nem é nova, aliás. O exemplo mais famoso disso aconteceu em 2002, antes da semifinal da Copa do Mundo disputada na Coreia do Sul e no Japão. Ronaldo tinha um desconforto muscular e era dúvida para o jogo contra a Turquia. Para evitar que isso dominasse o noticiário da semana, o camisa 9 cortou o cabelo e aderiu a um visual que lembrava o de Cascão, personagem criado por Maurício de Sousa.

A mudança no visual de Pato podia ter sido feita sem estardalhaço. Ele podia ter apresentado o penteado apenas no jogo. Em vez disso, o camisa 7 mostrou como um atleta tem potencial para gerar conteúdo: divulgou em redes sociais o que havia feito no cabelo, gerando notícias e dando visibilidade ao fora de campo.

Desde que chegou ao Corinthians, Pato tem sido um dos jogadores mais habilidosos do elenco alvinegro no quesito comunicação. Poucos (nenhum, talvez) jogadores de futebol que atualmente estão no Brasil têm gerado tanto conteúdo pelo que fazem quando não estão dentro das quatro linhas.

Contudo, a estratégia de comunicação de Pato tem um enorme problema: o jogador sabe aproveitar a mídia que gera, mas não tem contribuído para aumentar esse espaço e ir além do espontâneo.

O primeiro motivo para isso é a postura. Pato tem um comportamento e uma expressão que muitas vezes soam blasé. O que agrava esse aspecto é que ele defende um clube que sempre valorizou atributos como a dedicação e a raça.

Se demonstrasse mais emoções e pensasse a comunicação de forma mais ampla – linguagem corporal e comportamento, principalmente, Pato teria um pouco menos de trabalho para ganhar confiança da torcida. E isso independeria do desempenho.

Outro ponto em que a comunicação de Pato vacila é na prioridade dada ao lado “figura pública”. O atacante se comporta mais como uma estrela do entretenimento do que como um atleta. Para amenizar os efeitos da crise, seria importante a demonstração de emoções.

Por fim, falta a Pato um discurso mais incomodado. Quando não atinge uma meta, um atleta precisa mostrar que isso foi ruim para ele. Essa raiva e essa frustração ajudam a sensibilizar o público.

Em alguns aspectos, Pato tem uma comunicação perfeita. Em outros, erra em grandes proporções. A oscilação talvez seja até maior do que o que ele apresenta em campo.

Nos momentos bons, Pato mostra uma competência que falta a muitos atletas. Na última semana, isso faltou à russa Yelena Isinbayeva. Campeã mundial do salto com vara, ela se colocou no meio de uma polêmica sobre o tratamento a homossexuais.

A Rússia aprovou neste ano uma lei que combate a propaganda de “relações não tradicionais”. Isso terá efeito especialmente em 2014, quando o país vai sediar os Jogos Olímpicos de inverno de Sochi.

Por causa da legislação, atletas que disputaram o Mundial de atletismo deste ano, realizado em Moscou, fizeram um protesto e pintaram arco-íris nas unhas. Isimbayeva, em entrevista coletiva pós-título, criticou esse comportamento.

Depois, Isinbayeva disse que se enrolou no inglês, que não é a língua nativa dela. A saltadora explicou que havia tentado apenas pedir que o público respeitasse as leis de outros países.

A postura de Isinbayeva sobre a lei ou sobre os homossexuais é um problema dela. Entretanto, quando a saltadora expressa isso, sobretudo em um ambiente de competição, o problema passa a ser público.

Um atleta é uma personalidade. Portanto, tudo que ele fala reverbera. Antes de entrar em qualquer polêmica, é fundamental que essa pessoa pondere os efeitos que aquele caminho pode causar para a imagem dela.

Em diferentes mundos e com conteúdos totalmente divergentes, Pato e Isinbayeva são dois exemplos claros de como um atleta pode gerar conteúdo. Para o bem ou para o mal.

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Cavando cartões e a cova – o amarelo de Valdivia e do STJD

Alex, que um dia foi top-10 entre os camisas 10 em 100 anos de Palmeiras, disse com todos os números e letras o que acontece nos bastidores, gabinetes, tribunas de honra e controles remotos. Pagou-para-ver as contas e os contras do futebol brasileiro. Pode pagar-pelo-que-disse, embora não haja como pegá-lo.

Valdivia, que não é top-10, mas é amado como se fosse pelos palmeirenses, também foi sincero antes de a bola rolar contra o Paraná. Disse que forçaria o terceiro amarelo para cumprir a suspensão quando estivesse servindo a seleção chilena. Data que deveria ser guardada pela CBF e mídia para as seleções. Não para mais jogos dos campeonatos nacionais que só cabem nas grades das TVs.

Alex foi sincero e arca com as consequências. Valdivia foi sincero além da conta, "confessou o crime premeditado" (todas as aspas possíveis), cometeu o que provocara e prometera até de modo bizarro, e foi amarelado como queria. Como tinha de fazer o árbitro.

Como já fizeram 28362836266283825238 jogadores desde os anos 70 para zerarem cartões para não se comprometerem depois. Como já fez um centroavante de seleção para não ter de viajar a uma cidade do interior para não ter de enfrentar o ex-futuro avô de uma criança – e foram várias as vezes.

Como um dia forçou o terceiro amarelo um zagueiro de time grande para ir a um churrasco de família na cidade natal. Como muitos forçavam o amarelo para não viajar de ônibus para lugares distantes.

Como em uma manhã de sol um jogador de seleção em fim de carreira passou o segundo tempo todo forçando o terceiro amarelo por um motivo qualquer e o árbitro da Fifa não o mostrou de jeito algum. Nem quando o jogador entrou rachando no adversário.

Como outro árbitro da Fifa entrava em campo avisando que não daria amarelo para quem estava pendurado e forçasse o cartão. No máximo dava vermelho direto.

São boas histórias de gente boa. De nível. De seleção. De Fifa. Parte do folclore daquelas coisas que as crianças não podem fazer em casa. Mas que os adultos podem. E não atentam à integridade, moral e bons costumes.

Mas, Valdivia foi procurado pelo STJD. Por avisar que forçaria o cartão que tomou sem ofender e sem agredir. Tempo que gastou e que foi acrescido pelo árbitro.

O excesso de sinceridade do chileno era evitável. Mas não pode ser combatido. Muito menos julgado. E não tenho palavras para dizer qualquer coisa se "punido".

Forçar uma punição a Valdivia é mais forçado que o cartão que ele recebeu.

Mais risível que a cena que ele armou para recebê-lo. Puni-lo é tão pueril quanto no tribunal suspender treinador que joga bola no gramado em final de jogo. É como punir jogador que dá carrinho na lateral em bola perdida só pra jogar pra galera. É punir goleiro que demora um ano para bater tiro de meta. É punir jogador que sofre falta e parece ter sido esquartejado até voltar em segundos como um Wolverine com nome no BID. É punir quem te chama de "bobo e estúpido" e diz que "seu pai é coxinha e a mãe é empadinha" – embora nada seja mais coxinha que punir quem já se puniu com um cartão.

Zelar pelo bom costume, pela moral, pela ética, pelo justo, pelo correto, pelo direito, é um dever de qualquer tribunal. Dar bons exemplos esportivos e blablablá pelo qual não perderei mais tempo e paciência é mais que louvável.

Mas, evitar o "esportivamente correto" é um dever para evitar o escárnio de uma casa que já não prima por quase tudo isso. Um tribunal que não tem o respeito devido e merecido exatamente por historicamente decidir de acordo com as conveniências e inconveniências. Por julgar com a camisa por cima da toga. Por punir ou deixar o jogo seguir cavando cartões amarelos como os sorrisos dos auditores e membros com a mesma cara dura de Valdivia.

Com a mesma pena dura de quem clama "justiça" por uma malandragem que evita que o clube perca seu principal jogador por conta de uma partida marcada quando há jogo da Fifa para ser jogado.

Esse é o ponto. Que o STJD procure a CBF por simular jogos oficiais quando há outros compromissos oficiais. O que evitaria o amarelo. E todo este texto.

Valdivia errou quando avisou que erraria. Logo, devia ficar quieto e… "Errar" do mesmo jeito. Cavando a punição que, aliás, ele cava há anos no Palmeiras. Ele e Luís Fabiano deveriam ser julgados a cada 15 dias nos tribunais por cavarem cartões infantis e despropositados. Eles e mais um tanto.

Mas, daí, se Valdivia fizesse o que há décadas se faz, ele deixaria de ser notícia. De dar notícia. De cavar notícia.

Triste futebol engravatado e togado. O que cava a cova e os cartões. O do covil dos rábulas de porta de estádio e de estúdios.

 

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Futebol: ruídos da tomada de decisão no alto nível competitivo

Dentro de um jogo de futebol muitas decisões são tomadas o tempo todo.

A cada fração de segundo, a cada nova circunstância e a cada problema emergente, ser rápido e exato para “decidir-agir” é imprescindível.

Se em décadas anteriores não tão distantes a exigência temporal para as tomadas de decisão já era algo muito importante, no futebol atual, tornou-se condição “sine qua non” para se jogar bem em alto nível competitivo.

A velocidade de jogo tem se tornado tão grande, que além do hiato entre o decidir e o agir ter quase que desaparecido nos jogadores mais bem condicionados (condicionados sistemicamente falando), também quase que se tornou invisível o hiato entre o surgimento da circunstância-problema e a ação propriamente dita para resolvê-la.

Isso tudo quer dizer que para se jogar futebol na atual exigência do altíssimo nível competitivo, é necessário que a tomada de decisão e ação dos jogadores se condensem em uma única coisa, indistinguível e indissociável no tempo.

É necessário também que o intervalo entre o problema emergente e a decisão-ação propriamente dita seja infinitamente ínfimo, temporalmente quase que no mesmo instante.

Diversos são os fatores que podem contribuir ou atrapalhar nas boas, exatas e velozes tomadas de decisão.

Poderia enumerar ao menos uma dezena deles.

Mas nesta semana prefiro destacar apenas um – que foi tema de debates dia desses em um fórum informal sobre futebol.

Em certas ocasiões, bons jogadores e equipes podem não conseguir tomar boas decisões e conjuntamente, errar em demasia suas ações.

Um dos motivos que pode levar a isso, por exemplo, é a distorção da percepção do ambiente e das situações que se manifestam nele. Isso quer dizer que equívocos para perceber o que realmente está ocorrendo ou o que está na eminência de acontecer, desencadeia uma série de ajustes individuais e coletivos nas ações, que são potencialmente infrutíferos.

Um dos fatores mais comuns na geração de “ruídos” de percepção, e distorções na organização da ação (distorções neuro-musculares e cognitivas) é a ansiedade.

Claro, não pretendo e não vou me aprofundar, por motivos óbvios, no tema “ansiedade”.

Quero chamar a atenção apenas para o fato de que dentro de uma ideia de complexidade e de treinamento sistêmico, e dentro da possibilidade de jogadores, em ambiente propício mergulharem no “estado de jogo”, podemos e devemos contemplar situações de estresse (estresse complexo/sistêmico) nos treinamentos, que desafiem jogadores e equipes a agirem dentro de contextos de pressão que tentarão gerar “ruídos” de percepção e distorções na organização da ação.

E por mais que isso pareça óbvio, posso afirmar que há negligência no entorno desse conteúdo – ou por ignorância total sobre a necessidade de desenvolvê-lo, ou por ignorância de como fazê-lo, e/ou ainda, por dificuldades contextuais para operacionalizar seu desenvolvimento.

O tema, por si só, até mesmos para especialistas no assunto, é bastante complexo na sua aplicação.

O que temos hoje muitas vezes é quase que um “filtro” gerado espontaneamente, que ao longo dos anos de carreira dos jogadores, desde as categorias de base até o fim de suas atividades como profissionais, vem segurando pelo caminho aqueles mais “influenciáveis” pelos ruídos de percepção, e deixando passar a minoria, apta por uma série de questões (ambientais, culturais, sociais, biológicas, etc.) quase casuais (ou mais pontualmente, caóticas), e muitas vezes pouco relacionadas com o processo de treinamento desportivo propriamente dito.

Operacionalizar o desenvolvimento desse tipo de conteúdo, de maneira organizada e sistêmica, não é trivial.

Por isso, em breve trarei um texto sugerindo possibilidades de como fazê-lo nos treinamentos, na busca de um jogar de altíssimo nível.

Por ora é isso.
 

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Os exemplos dos treinadores brasileiros

A atuação e conduta dos técnicos profissionais do Brasil servem de exemplo para auxiliar a formação dos jovens e aspirantes a treinadores que trabalham nas categorias de base das equipes espalhadas pelo país. Dentro do campo, pode-se aprender muito com a gestão dos 90 minutos.

É possível observar a característica principal das substituições e os efeitos que elas resultam no jogo, o comportamento emocional frente às decisões do juiz, ao placar e aos erros e acertos da equipe. Além disso, o próprio desempenho de campo é um reflexo do que o treinador, enquanto líder, conseguiu transmitir aos seus comandados.

Fora de campo os exemplos continuam. Cada reportagem e entrevista coletiva vão construindo a imagem do treinador desde a descrição de como se preparou para o exercício do cargo, a justificativa das vitórias, os porquês das derrotas, até as respostas de acordo com os questionamentos (muitas vezes sutilmente agressivos) da imprensa.

A construção final desta imagem (que jogo a jogo vai sendo reconstruída), na ótica do jovem profissional, permite classificar cada técnico (em cada uma das suas condutas) como um exemplo a ser ou não seguido, livre de julgamentos.

E nos últimos dias, alguns acontecimentos envolvendo os principais treinadores do país têm servido de ótimas possibilidades de aprendizado.

Você criticaria o grande ídolo da torcida e o apontaria como um dos principais motivos por sua saída do clube?

Você responderia a uma dura crítica após uma goleada com uma ofensa pessoal?

Você declararia abertamente que, talvez, por uma vaga na seleção seja necessário trocar de clube?

Como será que uma equipe lidera um dos campeonatos mais difíceis do mundo mesmo com salários atrasados?

Você assumiria a responsabilidade pela falta de resultados mesmo com pouco tempo no comando de uma equipe?

Se os gandulas não cumprissem com suas obrigações durante o jogo como você reagiria?

Se um atleta reclamasse publicamente que precisa jogar mais e mesmo com mais oportunidades não correspondesse, você o defenderia?

Após uma sequência de maus resultados, você afirmaria à imprensa que, caso você fosse o gestor, também demitiria?

Você assumiria que o principal motivo para uma pausa na atuação profissional se deu para um período de reciclagem, estudos e capacitação técnica?

Você assumiria, sendo um dos responsáveis pelo futebol nacional de alto nível, que o país está atrasado taticamente?

Ser treinador no país do futebol é exercer uma profissão com imensa exposição. Tentar compreender todo o cenário e saber que cada atitude repercute positiva ou negativamente na gestão de pessoas e dos conflitos relativos ao clube pode ajudar a ter sucesso num jogo que dura muito mais que 90 minutos.

O jogo dos jovens treinadores é menos complexo e envolve menos elementos, mas não deixa de ser um ambiente propício de reflexão e aprendizado para comportamentos e condutas futuras.

Pois nestes jogos, que duram mais que 90 minutos, como diria um companheiro de profissão: “dar treino é um mero detalhe…”

Abraços e até a próxima semana.

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Caso Valdivia: jogador pode ser punido por forçar cartão?

O meia chileno Valdívia, do Palmeiras, durante a partida contra o Paraná Clube, forçou cartão amarelo e a consequente suspensão automática uma vez que não poderia jogar a próxima partida de seu clube por ter sido convocado para defender a seleção do seu país no amistoso contra o Iraque. O próprio atleta assumiu ter forçado o cartão relatando o fato aos risos, após a partida.

Em virtude disso, O procurador do STJD, Paulo Schimitt, manifestou-se no sentido que que o meia palmeirense Valdivia poderia ser punido em razão disso.

O atleta estaria incurso no artigo 258, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que dispões sobre "assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificada pelas demais regras deste Código". Eventual suspensão variaria de uma a seis partidas.

Não é a primeira vez que um atleta força cartão amarelo. Em 2011, em uma partida contra o próprio Palmeiras, Ronaldinho Gaúcho e Thiago Neves, jogadores do Flamengo naquela oportunidade, forçaram o terceiro cartão amarelo para não enfrentarem o Ceará, já que teriam uma sequência complicada, com jogos contra o Santos, na Vila Belmiro, Grêmio, no Engenhão, e Cruzeiro, em Sete Lagoas.

Ambos foram denunciados à Justiça Desportiva que os absolveu por unanimidade, aceitando o fundamento do advogado do Flamengo de que não há na regra qualquer proibição em se forçar cartão amarelo.

De fato, não há qualquer proibição. Pelo contrário, os cartões amarelos fazem parte das regras. Quando um atleta utiliza-se de uma jogada mais dura para evitar um lance de perigo, utiliza-se da regra para receber uma advertência e ajudar sua equipe. O mesmo foi feito pelo meia Valdívia que usou a regra do futebol ao seu favor.

Portanto, apesar da possibilidade de enquadramento da atitude de se forçar um cartão como atividade contrária à ética, não há qualquer previsão específica e trata-se, somente de utilização das regras.

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Tomando decisões na carreira esportiva: considere sempre as consequências

Todos os profissionais que atuam no esporte, bem como aqueles que atuam em outros mercados, tomam decisões diariamente e na maioria das vezes não se permite dar um tempo para considerar as consequências sobre essas decisões tomadas em sua vida. Se parar para pensar um pouco, verá que isso também já aconteceu com você.

Já ouvi de muitos profissionais que estes trabalham por trabalhar, sem grandes objetivos ou metas. Imaginem como isso é frequente, pois pela velocidade em que as coisas acontecem atualmente deixamos que a vida nos leve e não tomamos para nós a chave para pilotá-la conforme nossos desejos, sonhos e valores.

Sabia que a característica de todo grande pensador é a sua habilidade para prever corretamente os impactos ou consequências de fazer ou deixar de fazer alguma coisa?

As consequências potenciais de qualquer atividade são a chave para determinar se essas ações são realmente importantes para você e para a sua carreira. Um atleta, como qualquer outro profissional, necessita urgentemente desenvolver essa habilidade de avaliar a relevância de uma determinada atividade.

Uma pesquisa de mais de cinquenta anos realizada pelo Dr. Edward Banfield, da Universidade de Harvard, chegou à conclusão de que a "perspectiva de longo prazo" acaba sendo mais importante para determinar o seu sucesso na vida e na carreira, do que a origem familiar, a educação, a raça, a inteligência, as sua relações ou praticamente qualquer outro fator isolado.

Nossas atitudes em relação ao tempo, ou nosso horizonte temporal, possuem um impacto imenso sobre os nossos comportamentos e em nossas escolhas. Pessoas que realizam projeções mais amplas em suas vidas sempre parecem tomar as melhores decisões sobre seu tempo e sobre atividades a realizar, do que aquelas que pensam pouco sobre o futuro.

Como tem tomado suas decisões na vida? E os impactos têm sido aqueles que você desejava e estão alinhados com seus objetivos? Se sua resposta a essas questões foi negativa, não se preocupe, pois somos a maioria!

E agora, você deseja saber quais regras podem nortear para melhores tomadas de decisão?

Bem, sem reinventar a roda vamos aqui utilizar as orientações ou regras de Brian Tracy para considerar as consequências de nossas decisões, vamos a elas!

1 – O pensamento em longo prazo melhora a tomada de decisões em curto prazo.

Possuir uma ideia clara sobre o que você deseja para si mesmo em longo prazo, na sua carreira, torna mais fácil tomar decisões sobre suas prioridades em curto prazo. Sendo assim, antes de começar a fazer alguma coisa, você deve sempre se perguntar: "Quais são as consequências, em potencial, de fazer ou deixar de fazer essa atividade?".

2 – As resoluções para o futuro frequentemente determinam as ações do presente.

Quanto mais claras forem as resoluções para o futuro, maior será a influência que a clareza terá sobre o que se vai realizar num determinado momento. Esta visão de longo prazo mais clara trará mais capacidade de avaliar uma atividade no presente e poderá aumentar a certeza de que ela será consistente com o objetivo que se deseja alcançar.

Precisamos ter em mente que se uma atividade pode produzir importantes consequências positivas, ela deverá ter uma prioridade máxima e o trabalho para realiza-la deve ser iniciado o quanto antes.

Na prática todos nós, atletas ou demais profissionais do esporte devemos examinar nossa lista de atividades e projetos regularmente; sempre se perguntando: "Qual seria o projeto ou atividade específica que, se eu realizasse eficientemente num bom prazo, produziria o impacto mais positivo sobre minha vida?".

Qualquer que seja este projeto ou atividade, devemos fazer dele um objetivo, traçando um plano consistente para realiza-lo e executando o plano o quanto antes.

Pratique e compare os impactos em sua vida!

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Uefa pune…

Desde setembro do ano passado, tenho acompanhado muitas reportagens intitulando ações proativas da Uefa contra seus filiados, os clubes, no sentido de dar maior transparência para o futebol e procurando resolver questões relacionadas à má gestão ou à falta de uma postura mais ética destas organizações com a retirada deles das principais competições europeias.

Casos como os ligados à corrupção, racismo ou que ferem os princípios do recém criado “Fair Play Financeiro” são os principais alvos das punições, começando a acender um sinal vermelho sobre práticas consideradas maliciosas para a indústria do futebol como um todo.

Para a grande maioria dos casos, a resposta tem sido por meio de sanções esportivas, transmitindo assim uma mensagem mais dura contra aqueles que usam a bandeira do futebol para fins estritamente políticos e/ou econômicos – estes últimos, mais das vezes, pelo viés negativo da questão econômica.

A Uefa vai, a bem da verdade, cumprindo um papel importantíssimo das entidades de administração do esporte, que é o da regulação e adoção de princípios de governança de todos os seus filiados. Protege, por assim dizer, seu bem mais precioso, que é a prática do futebol de acordo com os princípios ligados a sua gênese: de nobreza e respeito a todos os envolvidos.

Já é exemplo! Para nós, aqui do outro lado do mundo, serve como alerta para que não tomemos iniciativas como esta de forma tardia ou meramente parcial, de maneira rasa e politiqueira. Precisamos urgentemente de um novo modelo que direcione e governe a indústria do futebol frente aos mais recentes desafios econômicos e sociais que estamos vivendo.

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A Uefa pune

Desde setembro do ano passado, tenho acompanhado muitas reportagens intitulando ações proativas da Uefa contra seus filiados, os clubes, no sentido de dar maior transparência para o futebol e procurando resolver questões relacionadas à má gestão ou à falta de uma postura mais ética destas organizações com a retirada deles das principais competições europeias.

Casos como os ligados à corrupção, racismo ou que ferem os princípios do recém-criado "Fair Play Financeiro" são os principais alvos das punições, começando a acender um sinal vermelho sobre práticas consideradas maliciosas para a indústria do futebol como um todo.

Para a grande maioria dos casos, a resposta tem sido por meio de sanções esportivas, transmitindo assim uma mensagem mais dura contra aqueles que usam a bandeira do futebol para fins estritamente políticos e/ou econômicos – estes últimos, mais das vezes, pelo viés negativo da questão econômica.

A Uefa vai, a bem da verdade, cumprindo um papel importantíssimo das entidades de administração do esporte, que é o da regulação e adoção de princípios de governança de todos os seus filiados. Protege, por assim dizer, seu bem mais precioso, que é a prática do futebol de acordo com os princípios ligados a sua gênese: de nobreza e respeito a todos os envolvidos.

Já é exemplo! Para nós, aqui do outro lado do mundo, serve como alerta para que não tomemos iniciativas como esta de forma tardia ou meramente parcial, de maneira rasa e politiqueira.

Precisamos urgentemente de um novo modelo que direcione e governe a indústria do futebol frente aos mais recentes desafios econômicos e sociais que estamos vivendo.