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A crise, a comunicação e o esporte

O empresário norte-americano Jeff Bezos, fundador da loja eletrônica Amazon, pagou US$ 250 milhões no último mês para assumir o controle do jornal “Washington Post”. No Brasil, poucos dias depois, a Editora Abril anunciou o fechamento de quatro revistas (Alfa, Bravo!, Gloss e Lola) e o corte de 150 profissionais. As duas iniciativas parecem contraditórias, mas fazem parte de um mesmo cenário. Mais do que uma fase de crise financeira, a comunicação global vive um período de crise de identidade.

Não é por acaso que isso acontece agora. O advento de novas mídias mudou de forma radical a relação que os usuários têm com o segmento. Quem produz conteúdo não poderia passar incólume por essa transformação de paradigma.

Nos Estados Unidos, a recessão econômica começou fortemente em 2008. Foi uma das piores fases do país em todos os tempos, e isso motivou cortes em diversos setores. A mídia foi diretamente afetada, com demissões e encerramentos de veículos.

A crise que assolou a economia europeia tem um perfil um pouco diferente. No Velho Continente, a despeito da quebra de economias como a grega, o que mais aflige é a questão do emprego. A taxa altíssima e ascendente de pessoas fora do mercado de trabalho transformou-se em uma equação de solução complicadíssima para os governantes locais.

O Brasil não vive uma crise econômica. Ao contrário, o país passou há poucos anos por um período de ascensão e euforia. Quanto ao emprego, há um movimento de inclusão. Nas duas últimas décadas, muita gente no país trocou a linha da miséria por um lugar no mercado de trabalho.

Ainda assim, com um cenário diferente dos Estados Unidos e da Europa na economia, a comunicação do Brasil está tão em crise quanto nas duas regiões. Veículos tradicionais, como o “Jornal da Tarde”, encerraram as atividades. O “Jornal do Brasil” fechou a edição impressa. Na última semana, a rádio CBN interrompeu a produção local de notícias em Curitiba.

E o esporte, que durante algum tempo foi uma ilha de otimismo no segmento, também sentiu diretamente o baque. O Brasil vai sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Isso criou um sentimento de euforia no mercado, mas a ansiedade não se justificou até agora.

No caso da comunicação esportiva, existe uma explicação econômica. Com os eventos esportivos no país, empresas concentram seus investimentos para comprar cotas de patrocínio ou para criar campanhas relacionadas a essas competições. Para viabilizar isso, cortam investimentos na mídia. É um movimento recorrente, que já foi visto em outros países que receberam campeonatos desse porte.

Todas essas histórias estão (ou deveriam estar) entre as principais preocupações de quem trabalha ou quer trabalhar com comunicação no Brasil atualmente. Entender um pouco sobre o cenário é um caminho para encontrar alternativas.

O primeiro passo é discutir em que mercado nós estamos hoje. O Brasil tem um perfil extremamente peculiar de uso de mídias sociais – o país trabalha com ondas e com uso intenso dessas ferramentas. Com tanta gente passando tanto tempo em plataformas como Twitter e Facebook, a produção de conteúdo é gigantesca e heterogênea.

O advento das redes sociais transformou todo mundo em mídia. Há vários casos que exemplificam isso, mas poucos são tão elucidativos quanto o do Twitter “Voz da comunidade”. Na época em que houve “pacificação” dos morros do Rio de Janeiro, um garoto usou a ferramenta para narrar o que estava acontecendo ali. Foram os relatos mais fiéis e mais bem construídos. Isso serviu de subsídio para o trabalho de todo o restante da imprensa.

As redes sociais deram a todo mundo o poder de ser mídia. No Brasil, porém, ainda são poucos os que realmente produzem conteúdo para essas plataformas. A maioria do público apenas lê o que é publicado.

Isso leva a outra característica do mercado. As pessoas leem o que é oferecido a elas nas redes sociais – a linha do tempo do Facebook, por exemplo –, mas o índice de direcionamento para outras páginas é baixo. Por mais interessante que um assunto seja, é raro que ele leve um grande contingente de usuários à página que o publicou.

Há dois desafios claros, portanto, nas redes sociais. O primeiro deles é ganhar credibilidade: fazer com que as pessoas entendam que o que você produz tem relevância, apuração e estudo. O segundo é transformar o usuário de uma plataforma digital em um real consumidor da notícia.

Além da questão das redes sociais, é precípuo discutir a publicidade na mídia do Brasil. Anúncios tradicionais estão morrendo, e essa é uma lógica que vale para qualquer plataforma.

Na TV, por exemplo, já há recursos que permitem ao usuário a gravação de um programa ou o download de conteúdo por streaming. A pessoa pode ver o que quiser e no momento em que quiser, sem a necessidade de interromper a atração para assistir a intervalos comerciais.

A internet também mostra um baixíssimo grau de lembrança de marcas expostas em banners ou outros modelos tradicionais de anúncios em sites. Então, como encontrar sustento para essas plataformas?

Essa é a dúvida que a comunicação precisa responder. Essa é a resposta que pode abrir caminho e campo de trabalho para muita gente. Quem tiver a primazia de entender como transformar a mídia em trabalho rentável poderá desfrutar disso por algum tempo.

O segredo é a transformação da mídia em produto. Empresas que entenderem que precisam vender e que encontrarem o que vender vão ser as que sobreviverão com mais facilidade a essa crise de identidade. E a venda, lembremos, não pode ser de publicidade.

Quem trabalha com comunicação, independentemente da ponta em que esteja, precisa entender todo esse processo. Mesmo se não for responsável pela venda ou pelo planejamento, tem de saber que o conteúdo precisa trabalhar a serviço da marca ou do que a empresa pretende vender.

Quando Bezos decidiu comprar o “Washington Post”, a pergunta que eu mais li foi: “Como ele acha que vai recuperar o dinheiro que colocou ali?”. Os próximos anos vão mostrar se ele fez isso por vaidade ou se realmente existe um projeto econômico por trás da aquisição do jornal.

Se houver, Bezos pode ser responsável pela ratificação de um novo paradigma. Por tudo que já fez na Amazon, o empresário é um exemplo de produção de conteúdo individualizado e com foco no usuário, não no produtor.

A mídia brasileira acompanha ansiosamente o início do novo “Washington Post”. Mais do que a esperança de negociações milionárias voltarem ao segmento, a transação do jornal reacendeu a idei
a de que é possível consolidar modelos de negócio. Quem (ainda) trabalha com comunicação agradece.
 

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As concentrações e o mau uso dos recursos no futebol

Algumas verdades do futebol são, para muitos, inquestionáveis. A necessidade da concentração de todos os jogadores convocados de uma equipe na véspera de um jogo (ou até na antevéspera) é uma delas.

Para grande parte da diretoria, comissão técnica, torcedores e inclusive dos próprios jogadores, concentrar-se em hotéis, com conforto, mordomias, refeições à disposição, conexão à internet, TV por assinatura, entre outras regalias, é pré-requisito para o bom desempenho.

Esta prática, realizada empiricamente, é onerosa para os clubes e, mesmo assim, mantida em virtude da importância cultural de sua realização.

Como o futebol brasileiro vive um momento de constantes reflexões, seja pelo novo vexame do nível de jogo de muitas equipes brasileiras em relação ao futebol europeu (previsto, mas não ocorrido na Copa das Confederações e evidente nas recentes turnês das equipes brasileiras na Europa), ou até pela conduta do coordenador técnico das categorias de base da seleção, Alexandre Gallo, que pretende implantar uma nova mentalidade nas jovens promessas do país, o momento é pertinente para mais esta discussão.

Dos clubes grandes aos pequenos, dos que disputam competições nacionais aos que disputam somente as estaduais, da primeira a última divisão, as concentrações (mais ou menos custosas dependendo dos recursos do clube) sempre estão em pauta como despesas inevitáveis.

Como sabemos, as despesas de um clube de futebol são diversas em cada um dos seus departamentos. Fisioterapia, Nutrição, Fisiologia, Técnico, Administrativo, Financeiro, Operações e Marketing. Será que os gastos com concentração não seriam melhor alocados se investidos nos diferentes setores do clube?

Clubes pequenos sofrem com departamentos médicos em péssimas condições, mas não abrem mão da receita para concentração. Não oferecem suplementação, mas no sábado tem uma delegação com 30 concentrados para o jogo de domingo. Tem academias precárias, mas compensam com a hospedagem na véspera dos jogos. Não investem em recursos para o controle da carga de treinamento, porém gastam excessivamente com hotéis. Não possui psicólogo no corpo técnico, mas acredita na "concentração". Existem ainda muitos outros exemplos: ônibus próprio, salários atrasados, manutenção do estádio, etc.

Se as implicações da prática da concentração tivessem impactos somente financeiros/estruturais, os prejuízos seriam reparáveis; no entanto, o principal problema é humano. Da ocupação do tempo e do nível de consciência dos nossos atletas.

O fato é que até o jogador de hoje das nossas categorias de base espera ansiosamente pelo momento em que, após o treinamento na véspera de um jogo, ele e toda a delegação se enfurnem num hotel para passarem horas e horas ociosas. Ou cometemos o ledo engano de pensarmos que os atletas ficam o tempo todo refletindo sobre o jogo do dia seguinte?

Vários são os motivos que perpetuam as concentrações. Como principais, apontam-se a pressão pelas vitórias (que não permite espaço para "pouca concentração") e a conduta do jogador brasileiro, boêmio, "da noite" e descompromissado.

Os que apontam os motivos esquecem que preparar-se para jogar bem é um exercício que independe do quanto de conforto é oferecido ao atleta. Um simples espaço em que ele tenha condições de projetar imagens mentais positivas do confronto é suficiente.

Além disso, ensiná-lo a controlar a respiração, a se conhecer, a sentir-se e a "esvaziar" a mente pode ser muito mais eficiente que um dia todo habitado num quarto de hotel amontoado de aparatos tecnológicos que lhe fazem passar o tempo.

Repetir um processo enraizado em todas as divisões do futebol brasileiro é mais simples que tentarmos buscar novas soluções, mais complexas, mais profundas e que exigem maior reflexão. Nossa e dos jogadores.

Nós, profissionais do futebol e inseridos nesta cultura, deveríamos fazer o melhor para ressignificar a modalidade, da gestão à área técnica. Para isso, uma mentalidade inovadora, transformadora e disposta a quebrar paradigmas é fundamental.

Qual a sua opinião sobre a concentração?

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Copa do Mundo e o retorno dos investimentos

Os grandes eventos esportivos podem trazer grande aquecimento para o turismo brasileiro. Para se ter uma ideia, segundo um gerente do Minas Hostel, em Belo Horizonte, durante a Copa das Confederações, o estabelecimento teve lotação máxima e teve como clientes turistas de dezessete nacionalidades diferentes.

Além da Copa das Confederações, as partidas do Atlético Mineiro pela Libertadores contra Tijuana, Newell’s Old Boys e Olimpia levaram mexicanos, argentinos e paraguaios a lotar o hostel.

Neste esteio, a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) realizou estudo levando em conta somente os gastos de turistas brasileiros e estrangeiros durante os 30 dias de jogos da Copa do Mundo de 2014. A conclusão é que, em razão do turismo, a economia brasileira já terá garantido retorno de todo o investimento público feito para a realização do evento.

O estudo levou em conta os gastos médios de turistas de eventos no Brasil e nos gastos realizados por estrangeiros na Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul.

Segundo os economistas da Embratur os brasileiros vão gastar R$ 18,35 bilhões em suas viagens. Já os estrangeiros devem gastar R$ 6,85 bilhões, e com isso a soma final chega a R$ 25,2 bilhões.

Este valor supera todos os investimentos públicos feitos ao longo dos anos para garantir a realização da Copa, eis que estimados em R$ 22,5 bilhões.

Dessa forma, o valor de ganho com a Copa do Mundo corresponde a mais de 30 vezes o gasto de turistas na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), já que, segundo a Embratur quem esteve no Rio para acompanhar o papa Francisco desembolsou cerca de R$ 660 milhões.

A Copa do Mundo gerará, também, valores muito superiores ao da Copa das Confederações que, segundo dados da Embratur, oportunizou lucros de R$ 740 milhões de reais para o turismo.

Destaque-se que os ganhos não se restringem ao turismo, a AmBev (Companhia de Bebidas das Américas) ,a maior empresa da América Latina, que responde pelas marcas grandes de cerveja, Antarctica, Skol e Brahma divulgou dados de que foi beneficiada pela Copa das Confederações com um acréscimo de 30 milhões de litros nas vendas e um lucro de 1,88 bilhão de reais.

Diante de tudo, percebe-se que os investimentos nos grandes eventos esportivos possuem retorno financeiro e é justamente por esta razão que sempre há uma acirrada disputa para sediá-los. Portanto, desde que bem geridos, os gastos públicos trarão imenso retorno ao povo brasileiro.

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A “Messidependência” do Barcelona e algumas considerações a propósito

O livro de Duncan Watts, Six Degrees: The Science of a Connected Age (New York, 2003) pretende ensinar que uma realidade social, mesmo em uma equipe de futebol (digo eu), deve compreender-se tanto pela maneira como os elementos de um todo se relacionam e ligam (neste caso, a tática) como pela importância que eles têm no funcionamento das redes que compõem o todo, ou o sistema de jogo.

A Ciência das Redes não se limita, portanto, às redes, mas também ao reconhecimento de que há redes e redes, ou seja, em termos futebolísticos, a tática também resulta das virtualidades de cada um dos jogadores.

Diz-se que o futebol é um jogo predominantemente tático. E assim é. Mas, uma boa tática, sem jogadores de excelência e motivados, pouco mais é que uma geometria sem eficácia. Quando nos ocupávamos de uma análise da equipe do Barcelona, até à saída do Guardiola, descobríamos o DNA desta equipe, na tática, interpretada de modo tão mecânico, tão interiorizada por cada um dos jogadores, que julgávamos que a tática, por si só, resolve os problemas de eficiência e produtividade de uma equipe.

Havia uma tão perfeita cognição distribuída (expressão que encontrei na Psicologia Cognitiva) de uma determinada tática, uma partilha tão equilibrada e sensata dos mesmos modelos mentais, que o Barcelona parecia imbatível. Já eram muitos os teóricos que escreviam livros onde matematicamente se tentava provar que o Barcelona não tinha par… hoje e sempre!

Creio que fui eu (passe a imodéstia), em língua portuguesa, e há mais de 30 anos (veja o meu livro Filosofia das Atividades Corporais, Compendium, 1981), que adiantei a hipótese de descobrirmos na Educação Física um produto do dualismo antropológico cartesiano, ou seja, onde ressoavam as palavras de Galileu: “a natureza está escrita em linguagem matemática” e, porque o corpo era natureza tão-só, os números determinavam cabalmente as atividades corporais.

Galileu é o pai da física moderna, que Descartes aceitou respeitosamente, e portanto, no entender do autor do Discurso do Método, o corpo humano não passava de matéria mecanicamente em movimento. A Educação Física nasce, no século XVIII, a idade por excelência do racionalismo, na cultura ocidental, com as taras próprias do racionalismo (de que só em meados do século XX entrou de libertar-se). Portanto, no Barcelona, a tática, matematicamente assumida e mecanicamente praticada, parecia a “causa das causas” dos seus êxitos.

Depois da Liga dos Campeões, de 2012/2013; depois da superioridade incontestável do Bayern, sobre o Barça, nas meias-finais – não pode dizer-se que os jogadores da Catalunha esqueceram a tática, mas que queriam e não podiam, enquanto os alemães queriam e podiam.

Do que venho de escrever se infere que, numa equipe de futebol, o Homem está antes de tudo o mais. O que, muitas vezes, falta ao futebol não é de ordem tática – o que lhe falta, muitas vezes, é a dificuldade, neste tempo onde o mais publicitado se resume ao imediato e ao fragmentário, é a dificuldade, dizia, de pensar o Homem, o que ele é e sente e ama, antes de tudo o mais.

Ora, o Barcelona parece, hoje, uma equipa, onde a lesão física do Messi é tão extensa e profunda como o cansaço físico, psiquico e psicológico dos seus colegas de equipa. O treino ideal, para o Barcelona, hoje, é não treinar e escutar, com atenção, as análises dos jogadores ao momento menos feliz que atravessam.

Depois, a liderança do Guardiola não pode substituir-se com adjuntos, nem com os adjuntos dos adjuntos, mas com treinadores de grande sabedoria (que é mais do que saber) que os jogadores admirem e respeitem e que lhes proponham valores que os jogadores sintam a subir do mais íntimo de si mesmos. No meu modesto entender, a grande revolução a fazer no futebol reside aqui: praticá-lo, como se não se pudesse viver sem a sua prática.

Vergílio Ferreira, no seu livro Pensar, afirmou: “Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu (…). Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão” (pp. 35-36).

No dia em que o Ronaldo, o Messi, o Lewandowski, o Ribéry e o Robben “jogarem para ser”, serão de certo melhores jogadores e, na constituição das redes, ajudarão ao nascimento de um futebol diferente… para melhor!

O meu amigo Gonçalo M. Tavares tem este poema: “É uma parede com afetos (o corpo)/ Mas, a coragem e o silêncio não são anatomia”. Nem tática…

 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@149.28.100.147

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A "Messidependência" do Barcelona e algumas considerações a propósito

O livro de Duncan Watts, Six Degrees: The Science of a Connected Age (New York, 2003) pretende ensinar que uma realidade social, mesmo em uma equipe de futebol (digo eu), deve compreender-se tanto pela maneira como os elementos de um todo se relacionam e ligam (neste caso, a tática) como pela importância que eles têm no funcionamento das redes que compõem o todo, ou o sistema de jogo.

A Ciência das Redes não se limita, portanto, às redes, mas também ao reconhecimento de que há redes e redes, ou seja, em termos futebolísticos, a tática também resulta das virtualidades de cada um dos jogadores.

Diz-se que o futebol é um jogo predominantemente tático. E assim é. Mas, uma boa tática, sem jogadores de excelência e motivados, pouco mais é que uma geometria sem eficácia. Quando nos ocupávamos de uma análise da equipe do Barcelona, até à saída do Guardiola, descobríamos o DNA desta equipe, na tática, interpretada de modo tão mecânico, tão interiorizada por cada um dos jogadores, que julgávamos que a tática, por si só, resolve os problemas de eficiência e produtividade de uma equipe.

Havia uma tão perfeita cognição distribuída (expressão que encontrei na Psicologia Cognitiva) de uma determinada tática, uma partilha tão equilibrada e sensata dos mesmos modelos mentais, que o Barcelona parecia imbatível. Já eram muitos os teóricos que escreviam livros onde matematicamente se tentava provar que o Barcelona não tinha par… hoje e sempre!

Creio que fui eu (passe a imodéstia), em língua portuguesa, e há mais de 30 anos (veja o meu livro Filosofia das Atividades Corporais, Compendium, 1981), que adiantei a hipótese de descobrirmos na Educação Física um produto do dualismo antropológico cartesiano, ou seja, onde ressoavam as palavras de Galileu: "a natureza está escrita em linguagem matemática" e, porque o corpo era natureza tão-só, os números determinavam cabalmente as atividades corporais.

Galileu é o pai da física moderna, que Descartes aceitou respeitosamente, e portanto, no entender do autor do Discurso do Método, o corpo humano não passava de matéria mecanicamente em movimento. A Educação Física nasce, no século XVIII, a idade por excelência do racionalismo, na cultura ocidental, com as taras próprias do racionalismo (de que só em meados do século XX entrou de libertar-se). Portanto, no Barcelona, a tática, matematicamente assumida e mecanicamente praticada, parecia a "causa das causas" dos seus êxitos.

Depois da Liga dos Campeões, de 2012/2013; depois da superioridade incontestável do Bayern, sobre o Barça, nas meias-finais – não pode dizer-se que os jogadores da Catalunha esqueceram a tática, mas que queriam e não podiam, enquanto os alemães queriam e podiam.

Do que venho de escrever se infere que, numa equipe de futebol, o Homem está antes de tudo o mais. O que, muitas vezes, falta ao futebol não é de ordem tática – o que lhe falta, muitas vezes, é a dificuldade, neste tempo onde o mais publicitado se resume ao imediato e ao fragmentário, é a dificuldade, dizia, de pensar o Homem, o que ele é e sente e ama, antes de tudo o mais.

Ora, o Barcelona parece, hoje, uma equipa, onde a lesão física do Messi é tão extensa e profunda como o cansaço físico, psiquico e psicológico dos seus colegas de equipa. O treino ideal, para o Barcelona, hoje, é não treinar e escutar, com atenção, as análises dos jogadores ao momento menos feliz que atravessam.

Depois, a liderança do Guardiola não pode substituir-se com adjuntos, nem com os adjuntos dos adjuntos, mas com treinadores de grande sabedoria (que é mais do que saber) que os jogadores admirem e respeitem e que lhes proponham valores que os jogadores sintam a subir do mais íntimo de si mesmos. No meu modesto entender, a grande revolução a fazer no futebol reside aqui: praticá-lo, como se não se pudesse viver sem a sua prática.

Vergílio Ferreira, no seu livro Pensar, afirmou: "Escrevo porque o encantamento e a maravilha são verdade e a sua sedução é mais forte do que eu (…). Escrevo para tornar visível o mistério das coisas. Escrevo para ser. Escrevo sem razão" (pp. 35-36).

No dia em que o Ronaldo, o Messi, o Lewandowski, o Ribéry e o Robben "jogarem para ser", serão de certo melhores jogadores e, na constituição das redes, ajudarão ao nascimento de um futebol diferente… para melhor!

O meu amigo Gonçalo M. Tavares tem este poema: "É uma parede com afetos (o corpo)/ Mas, a coragem e o silêncio não são anatomia". Nem tática…

 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

Para interagir com o autor: manuelsergio@universidadedofutebol.com.br

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O encontro do mercado com o populismo

A interferência do estado no esporte brasileiro tem crescido de maneira assustadora e tem atacado em pontos nevrálgicos do desenvolvimento de alguns projetos que se julgavam mais voltados para o mercado e a profissionalização de um modo geral. Esta participação mais "ativa" do estado não é novidade, é verdade – faz parte da construção histórica de muitas modalidades no país.

Contudo, começa a incomodar à medida que adota posturas intervencionistas, sob o argumento de "proteger" o esporte como identidade nacional, e inibe que haja a construção de uma estrutura de mercado para esta indústria.

Na história recente e, olhando especificamente para o futebol, me lembro de quatro exemplos que mexem amplamente as relações comerciais da modalidade: (a) mudança na lei que inibiu a entrada de investidores estrangeiros nos clubes brasileiros, após amplo movimento no início da década de 2000, sob o argumento de proteger a identidade dos clubes; (b) a proibição da venda de bebidas alcoólicas, justificada pela relação com a violência; (c) a obrigação de tocar o hino nacional antes dos jogos (e, em alguns estados e municípios, os hinos regionais), que prejudicam a construção de um cenário de entretenimento antes dos jogos; e (d) a meia entrada para estudantes e idosos, intervindo na gestão de preços e relacionamento dos clubes com seus torcedores e diferentes públicos.

Agora, mais recentemente, pela intervenção direta na gestão de estádios após decorrido processos licitatórios e entregas para a iniciativa privada, em que se firmou acordos e se previu investimentos por parte dos operadores de arenas. O argumento tangenciou, novamente, sobre o "benfeitor estado", que visa "proteger" o bem público e os "clubes indefesos" contra os "tiranos" da iniciativa privada, sedentos por altos lucros.

O que se vê, no fim das contas, é o poder público fazendo um aporte para "enxugar lágrimas". Quem grita mais, independente de sua competência, ganha. Esportes (e até mesmo o futebol) que são incapazes de gerir de forma eficiente seus recursos, tampouco de gerar receitas pela comercialização do mesmo, constantemente choram por migalhas para sobreviver – e entregam muito pouco.

No futebol, apesar de sua Confederação ser movimentada tão somente por recursos privados, tem seus filiados, os clubes, como perigosamente dependentes de recursos públicos, uma vez que não pagam corretamente seus tributos e não são cobrados por isso. Vez por outra surgem leis ou projetos com a proposta de isentar ou perdoar as dívidas, que foram resultado de um longo processo de má gestão.

Não há mercado que sobreviva com tanta intervenção do poder público. Ainda mais em se tratando de um mercado em desenvolvimento como é o esportivo, que precisa encontrar modelos sustentáveis de negócios e gestão de seus ativos. Ficamos, com isso, a mercê da "melhor ideia do dia", e isso não é nada bom para quem tenta fazer planejamentos de 5-10 anos.

De outro lado, não vejo o Estado totalmente à margem dos investimentos e participação dentro do mercado esportivo. Bem ao contrário. Ele tem sim importância na estruturação, apoio a eventos, a projetos sustentáveis e tantos outros – nos esportes olímpicos, por exemplo, desde que se invista na base e no esporte educacional, tal e qual prevê nossa constituição; e nos grandes eventos, que parecem ser insustentáveis apenas com recursos privados, e se mostram benéficos para a cidade e/ou regiões sob o ponto de vista de imagem e turismo…

Enfim, desde que o Estado saiba exatamente seu papel, pondo limites sobre sua forma de atuação no mercado e respondendo minimamente os porquês, o como, o quando e o quanto investir. E essa lógica, em raros casos, acaba sendo de fato explicada. Não à toa, este texto foi inspirado pela seguinte notícia: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2013/08/1320530-sergio-cabral-estuda-cancelar-concessao-do-maracana.shtml.

Não é preciso dizer mais nada!!!

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Seedorf, Rogério Ceni e o gato no telhado

A vitória do Botafogo por 3 a 2 sobre o Vasco, no último fim de semana, pelo Campeonato Brasileiro, teve várias cenas emblemáticas. Foi um jogo marcado por um golaço de Rafael Marques ou por um lindo lance de Juninho Pernambucano no gol de André, por exemplo.

No entanto, outro episódio chamou muita atenção. Durante o duelo, o meio-campista holandês Clarence Seedorf foi até a lateral do campo e passou alguns instantes conversando com o técnico Oswaldo de Oliveira. Foi um exemplo completo e eficiente de comunicação.

O teor da conversa entre Seedorf e o técnico do Botafogo ainda não foi revelado, mas os dois faziam movimentos com as mãos em direção ao campo. Claramente, ambos trocaram ideias sobre o posicionamento e as alternativas da equipe para superar o Vasco.

Num time de futebol, assim como acontece em uma empresa, funcionários (jogadores) devem ter autonomia para questionar processos e apresentar alternativas aos superiores. Desde que isso seja feito com respeito e nos momentos certos.

Comunicação é conteúdo, mas também é forma. É importante pensarmos no que transmitimos quando trocamos mensagens, independentemente do caminho escolhido para isso (telefone, internet ou pessoalmente, por exemplo). Mas, também é relevante pensarmos em como fazer.

O exemplo mais óbvio disso é a história do gato no telhado. Em vez de dizer ao dono que o animal de estimação dele havia morrido, a pessoa conta antes que ele subiu ao topo da casa. Depois, diz que o bichano caiu e que a queda foi grave. Por fim, revela que a mascote não resistiu.

Usar eufemismos é uma solução, mas não resolve sempre a questão. O jeito de falar e o momento também interferem nas reações de quem recebe a mensagem. Se a história do gato for contada a partir do roteiro citado anteriormente, mas apresentada em meio a uma festa e diante de muita gente, o dono certamente responderá de forma diferente de quem a ouve em casa e sozinho.

Repito: um funcionário que discorda de um processo pode questionar seus superiores. Ele tem direito a isso sempre. Se o fizer com voz alta, postura arrogante e no meio de outros empregados, contudo, essa pessoa terá pouca chance de sucesso.

Seedorf deu exemplo disso no domingo. Ele não gritou com Oswaldo de Oliveira de dentro do campo. Tampouco falou diretamente para os atletas e se insurgiu contra as propostas do superior. Independentemente do teor da mensagem, o holandês soube como passá-la.

Há um exemplo contrário na história recente do futebol brasileiro. No ano passado, o goleiro Rogério Ceni discordou do posicionamento do São Paulo em um jogo contra a LDU de Loja, válido pela Copa Bridgestone Sul-Americana. Ele começou a gritar e pediu que Cícero entrasse no lugar de Ademilson.

"Eu não aprovo isso. Acho que tem de ser cada um na sua função. Se eu achasse que o Cícero deveria entrar, teria colocado", disse Ney Franco depois do jogo, em entrevista coletiva.

Rogério Ceni, posicionado atrás da defesa, tem uma visão do jogo que é totalmente diferente do ângulo de qualquer treinador. Por isso, é até natural que ele identifique outros aspectos da partida. O que ele não pode é escancarar isso.

A atitude do goleiro, independentemente dos motivos, é um exemplo de como uma mensagem mal transmitida pode gerar um resultado bem diferente da proposta inicial. Ele fez o contrário de Seedorf, que esperou o momento adequado e não transformou uma discordância em polêmica.

A diferença de postura entre os dois jogadores é um resumo do quanto a comunicação é fundamental para o cotidiano de qualquer instituição. O futebol não foge a isso.

Todavia, a eficiência da comunicação não depende apenas do conteúdo das mensagens. A dimensão das coisas é alicerçada diretamente no formato.

Isso vale também para o exemplo contrário. Um técnico comedido e controlado, como José Roberto Guimarães, pode oferecer muito conteúdo para a seleção feminina de vôlei e transmitir informações relevantes para as atletas. Bernardinho, cujo estilo é radicalmente oposto, é outro exemplo de eficiência à frente da seleção masculina.

Um bom líder precisa saber como mexer com os comandados e em que momentos é necessário dar ênfase a uma mensagem. É impossível ser José Roberto Guimarães o tempo todo, mas também não dá para ser puramente Bernardinho. Aliás, nem eles são 100% fiéis aos estereótipos que lhes foram impingidos.

Dos funcionários para os líderes ou dos líderes para os funcionários, a comunicação sempre permite troca de ideias e discussão de conceitos. Para que isso não crie crises, porém, é fundamental que se pense nos caminhos.

Mais do que um resultado

Volto ao assunto da semana passada, mas resultados recentes tornaram relevante a insistência na discussão. Analisar Bayern de Munique 2 x 0 São Paulo e Barcelona 8 x 0 Santos apenas pelos resultados é uma falha grave de comunicação.

No esporte, temos a tendência de avaliar o caminho fácil, que é o resultado. No entanto, essa não pode ser a única medida. Quem protagoniza lances mais agudos nem sempre é mais importante do que quem apenas se esforça para viabilizar essas individualidades.

Analisar a distância entre o Barcelona e o Santos apenas pelos oito gols é fechar os olhos a tudo que cerca o amistoso. Da mesma forma, a vitória do Bayern de Munique sobre o São Paulo não traduziu tudo que aconteceu.

Há vários caminhos para aprofundar essas discussões. É possível debater a diferença de proposta de jogo entre Brasil e Europa, a distância física ou as condutas táticas, por exemplo. É possível falar sobre o desnível técnico que esses amistosos apresentaram. É possível até falar sobre individualidades. Analisar apenas o resultado é cabotino. Mas, como é mais fácil, ainda é recorrente.

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A possibilidade se proibir acesso aos estádios de torcedor violento

Esta semana uma notícia chamou a atenção. A Fonte Nova Negócios e Participações, que gerencia a Itaipava Arena Fonte Nova, puniu um torcedor do Bahia que destruiu uma cadeira no novo estádio baiano com a proibição de acesso ao estádio nas próximas duas partidas do Bahia, contra Flamengo e Grêmio, ainda, e terá de pagar pela reposição da cadeira.

A identificação do torcedor se deu por meio do sistema de monitoramento do estádio e publicou o vídeo mostrando o torcedor pulando em cima da cadeira durante o jogo contra o Goiás.

Durante os jogos, o torcedor se recolherá à sede da "Organizada" Bamor, que será responsável por garantir que o torcedor não vá à Itaipava Arena Fonte Nova.

Por meio de nota oficial a Administradora do estádio assim se manifestou:

"A FNP vem a público informar que não vai tolerar a violência e o vandalismo na arena, a fim de defender a segurança e integridade dos torcedores e de suas famílias que entendem que este é um local de lazer e diversão. As mais de 200 câmeras de segurança do local estão registrando os atos e as punições serão aplicadas com rigor"

A medida é inédita no país e encontra respaldo no artigo 39-A do Estatuto do Torcedor, veja-se:

Art. 39-A. A torcida organizada que, em evento esportivo, promover tumulto; praticar ou incitar a violência; ou invadir local restrito aos competidores, árbitros, fiscais, dirigentes, organizadores ou jornalistas será impedida, assim como seus associados ou membros, de comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até 3 (três) anos.

Trata-se assim de interessantissima mudança de paradigma na aplicação da legislação já existente . Ademais, o apoio da Bamor e do Batalhão Especial Para Eventos da Polícia Militar (BEPE) foram essenciais para a aplicabilidade da medida.

Por outro lado, a medida foi aplicada poe uma entidade privada e é passível de questionamento judicial por eventual limitação ao direito constitucional de "ir e vir".

De toda sorte, a Fonte Nova Negócios e Participações abre um precedente fantástico no combate à violência nos estádios de futebol do país.

Em pesquisa recente o Campeonato Brasileiro de futebol aparece em sexto lugar como o mais rentável do mundo, não obstante isso, apenas três clubes figuram entre as 100 maiores médias de público do mundo e a sensação de segurança do torcedor nos estádios corresponde a aspecto de extrema relevância para a melhora nesse quadro.

Parabéns à Fonte Nova Negócios e Participações e que as demais Administradores de estádios do país trilhem o mesmo caminho.

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Muito prazer! Como técnicos podem criar empatia e confiança?

Ao vermos o cenário atual dos times da série A do Campeonato Brasileiro, percebemos que ainda é comum a troca de técnicos durante a competição. Vejamos, neste ano até o momento após nove rodadas, metade dos times já trocaram seus treinadores; sendo o caso mais recente o desligamento do técnico do Fluminense, o décimo dispensado.

Porém, antes deste outros nove já foram dispensados de seus clubes e mais, dos dez clubes que já promoveram mudança de comando técnico, sete deles aprecem na parte de baixo da tabela de classificação.

Mas, nesta coluna, não pretendo falar sobre a questão da continuidade do trabalho dos treinadores e da necessidade amadora dos clubes de não cumprirem seus planejamentos. Minha intenção é abordar uma situação mais do que real no Brasil e falar sobre o outro lado da moeda, ou seja, daqueles que chegam para substituir os desligados.

Para estes fica uma reflexão: como gerar empatia e conquistar confiança do elenco e dos funcionários do clube em tão pouco tempo?

Construir uma relação de confiança e empática é extremamente importante para o estabelecimento de um ambiente de alta performance, em que o treinador possa apoiar o desenvolvimento da equipe, bem como desafiá-la, nas doses certas ao longo do trabalho realizado.

Devemos compreender que sem a confiança e empatia, os envolvidos (atletas e funcionários) tendem a desconfiar e ocorre o aumento da resistência a assumir riscos ou a experimentar novos comportamentos, indispensáveis num cenário de mudança necessária.

Stephen Covey comenta sobre a empatia no quinto hábito em seu livro "Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes", hábito denominado "Procure primeiro entender, e depois ser entendido". Neste hábito, Covey comenta sobre a comunicação efetiva e a necessidade de se escutar o outro com empatia.

O ser humano tem uma forte tendência para atropelar os sentimentos das outras pessoas, de correr para resolver as coisas através de conselhos, mas com frequência se deixa de reservar algum tempo para o diagnóstico, para tentar compreender verdadeira e profundamente o problema antes de qualquer coisa. A maior parte das pessoas não consegue escutar com a intenção de compreender, elas ouvem com a intenção de retrucar e com os treinadores de futebol essa regra não é diferente.

A escuta empática se refere à escuta com a finalidade de compreender, ela entra dentro do quadro de referências da outra pessoa. Se o indivíduo olhar para dentro dele, vê o mundo como as pessoas o vê, compreende seu paradigma.

A empatia não é igual à solidariedade. Este último é um modo de concordar, uma forma de julgamento. As pessoas frequentemente dependem da solidariedade e tornam-se dependentes dela. A essência da escuta empática não está em concordar com alguém, mas sim em compreender aquela pessoa profundamente, tanto no plano emocional quanto no intelectual.

Complementando a escuta empática, podemos e devemos lançar mão de conhecimento da Leitura Corporal dos atletas, uma vez que os gestos muitas vezes comunicam muito mais do que tudo que é verbalizado pelo atleta.

Na prática, inicialmente para se estabelecer uma relação de confiança, são necessárias duas ações:

1. Criar uma genuína e autêntica relação um-para-um com os atletas;

2. Conseguir empatia através de um olhar incondicional sobre a realidade do time e dos atletas.

E você amigo leitor, acha missão fácil para todo técnico assumir uma equipe durante um campeonato em andamento? Será tão simples assim conseguir rapidamente conquistar a confiança e empatia da equipe?

Até a próxima.