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Filosofia e Futebol: troca de passes – um livro de grande atualidade

Quero crer que, escondida no meio dos meus inúmeros defeitos, se encontra em mim uma virtude: dá-me prazer o ato de admirar o que verdadeiramente deve ser admirado, por outras palavras: o que é mesmo admirável. Entre o pouco que sou ou valho, deixem-me então distinguir uma qualidade: na minha indispensável atitude judicativa de “aprendiz de filosofia”, de tudo o que me parece um trabalho honesto e competente me aproximo, com a boa fé suficiente, para aplaudir, para julgar, para aprender. Este sentimento de admiração o senti diante do livro Filosofia e Futebol: troca de passes (Editora Sulina, Porto Alegre, 2012) da autoria de Luiz Rohden, Marco Antonio Azevedo, Celso Cândido de Azambuja e outros.

É um livro de prosa pujante e significativa cujo colorido e graça, bem brasileiros, dão uma agradável tonalidade de originalidade e frescura ao aparato das ideias. Trata- se, portanto, de uma obra de intelectuais brasileiros, simultaneamente “torcedores” do futebol. E assim o seu estilo vivo e castiço é um nítido espelho onde se reflete o que o futebol (nomeadamente o brasileiro) é e o que vale. Nela se descobre uma citação de Hilário Franco Júnior, a qual sublinha que, no Brasil, o “futebol é bastante jogado e insuficientemente pensado”. Mas o mal, que os autores e o Hilário Franco Júnior lastimam, não o surpreendemos tão-só no Brasil. Por esse mundo fora, há muita gente, estudiosa e imaginosa, que se ocupa do futebol, espiolhando até o que de mais escondido tem a sua originalidade. Mas muitas vezes o seu pessimismo demolidor e negativista não é acompanhado do realce das enormes virtualidades em que o futebol (no meu entender: o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo) se desentranha, na sociedade hodierna. Os agentes do futebol têm defeitos? É evidente, pois são seres humanos! Por isso, os defeitos do futebol estão nele… por contágio de cada um de nós!

No futebol, como em qualquer atividade humana, assoma uma primeira constatação: ele não encontra em si mesmo a sua plena inteligibilidade, porque não pode conceber-se fora da totalidade social e cultural que o sustenta. Não há futebolistas, porque há futebol, mas há futebol, porque há futebolistas. Lá volto eu a uma ideia que defendo, há 40 anos: o futebol não é só uma atividade física, mas uma atividade humana. Com as qualidades e os defeitos de qualquer atividade humana! Ruy Carlos Osterman assinala o futebol como modelo de solidariedade. “A sociedade é muito mais individualista, é muito mais fechada em si mesma e nos seus valores de consumo do que gregária, unida, solícita, colaboradora (…). O futebol não é apenas uma metáfora da vida real. Ele é, na verdade, a reprodução idealizada da vida real, embora em outros termos – o que é diferente de uma metáfora.

A metáfora é uma ideia no lugar de outra ideia. Mas aqui é um fato no lugar de outro fato” (p. 123). Luiz Rohden, associando, com mestria, a filosofia ao futebol, escreve: “A filosofia precisa ser posta em jogo sempre, faz parte da sua natureza estar em jogo, jogar com o real. Disso decorre o pressuposto segundo o qual ela vive do diálogo incessante com outras áreas do conhecimento e nisso ela tem sua razão plena de ser” (p. 181). No entanto, “há alguns povoados e vilarejos do Brasil que não têm igreja, mas não existe nenhum sem campo de futebol” (Alex Bellos, Futebol, o Brasil em campo, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2003, p. 10). Ou seja, no Brasil, o futebol é filosofia e a filosofia é futebol. Neste caso (e no meu modesto entender) o futebol de Pelé e Garrincha e Didi e Sócrates e Tostão e Zico e Ronaldo, o fenómeno, e Romário e Ronaldinho Gaúcho e Neymar, etc., etc. diz respeito a uma atitude filosófica brasileira resultante do modo-de-ser do homem brasileiro.

O sentimentalismo incontido, a sensibilidade ardente, a emotividade, de preferência à frieza e ao intelectualismo e racionalismo doutras culturas formam um corpo de doutrina que os futebolistas e os filósofos traduzem, cada um à maneira que lhes é própria. Há uma filosofia brasileira, como há um futebol brasileiro. A filosofia é um conhecimento apátrida, pela sua metafísica, pelo plano lógico em que se coloca. Mas, enquanto pesquisa, num lugar e num tempo, ela nacionaliza-se, espacializa-se, temporaliza-se. Do futebol poderíamos dizer outro tanto: pelas instituições e pelas regras, não tem pátria; pelo caráter, personalidade e linguagem corporal dos jogadores, o futebol tem alma. Há pois um laço profundo entre o futebol e a filosofia e uma reciprocidade tão profunda que uma rutura entre ambos é absolutamente impossível. Recordo as minhas conversas, na Unicamp, com o João Batista Freire, naqueles irrequietos anos de 1987 e 1988, onde tudo se discutia, do futebol à filosofia e à política. Era ele, um homem de ternura e de bondade incomparáveis, acudindo de pronto às minhas dúvidas, que me dizia: “O futebol brasileiro é também a consciência da nossa historicidade como povo, com alma própria. Por isso, o nosso estilo de jogar futebol é inconfundível. É artístico, como nenhum outro o é”. Para Luiz Rohden, com o extenso horizonte dos seus olhos fascinados pelo futebol, “a produção do jogo belo fascina e continuará a cativar os amantes do futebol. Garrincha é exemplo eterno disso; é a encarnação do paradoxo segundo o qual é possível jogar a sério, visto que jogar é caçoar, é gracejar (…). Enfim, no futebol-arte estão conjugados dois elementos básicos: por um lado, possui regras e requer técnicas repetitivas, aplicáveis universalmente, que são produtivas e eficientes; por outro lado, participam dele a criação, a improvisação e também a beleza” (p. 189). Do futebolista de recursos técnicos e físicos e táticos invulgares, emerge quase sempre trabalho e beleza, há portanto muito para uma objetiva análise de índole filosófica e futebolística.

Celso Cândido de Azambuja (mais um dos autores deste magnífico livro) afaga, com deslumbramento, o futebol brasileiro e sustenta que “no Brasil, o futebol não é simplesmente uma alienação, como pretendem alguns críticos de estirpe (…). Para outros, muitos, o futebol é uma verdadeira benção, um caminho, uma esperança, uma salvação (…). Faz parte da saúde física e mental do povo brasileiro” (p. 261).

O livro Filosofia e Futebol: troca de passes é uma oportuna chamada de atenção para o respeito que o futebol, como atividade humana, nos merece – atitude de respeito tantas vezes substituída pela absolutização do mercado e pela ditadura do lucro. O ser humano ocupa uma posição privilegiada, pois que é nele que a natureza se faz consciência. Parece-me, por isso, imperioso e urgente uma reflexão antropológica, no futebol, como treino e como competição e como espet&aa
cute;culo. O futebol, pela sua inigualável popularidade e até pela sua atitude normativa, tem condições únicas de assumir a tarefa específica de apontar caminhos para uma organização solidária e fraterna das relações sociais. O futebol tem de viver-se como valor, como experiência de comunhão e de humanização. É isto, no meu pensar, o que o futebol tem o dever de cultivar. O perigo que nos espreita, no futebol e no mais, não é o choque de civilizações, mas a ausência de valores compartilhados. Parabéns aos autores e ao editor deste livro – que vai ser, tenho a certeza, um ponto de partida, para novas reflexões filosóficas, sobre o futebol, se possível mais atuais e mais atuantes.

 

*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

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Entre o céu e o inferno

O técnico Luiz Felipe Scolari já disse em várias ocasiões que o título é o único caminho possível para a seleção brasileira na Copa do Mundo de 2014. Para José Maria Marin, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a campanha da equipe nacional será o diferencial entre “céu” e “inferno”. No entanto, jogos realizados nos últimos dias contrariaram radicalmente essas teses deterministas.

No último domingo, por exemplo, o futebol brasileiro conheceu nove campeões estaduais. Um deles foi o Ituano, que venceu o Campeonato Paulista após bater o Santos nos pênaltis por 7 a 6.

O Ituano acabou o Campeonato Paulista com a defesa menos vazada e com uma perspectiva nada positiva: o elenco, cuja folha salarial gira em torno de R$ 350 mil mensais, deve ser inteiramente desfeito. A campanha no torneio regional rendeu uma vaga na Série D do Brasileiro.

Além da quarta divisão, o Ituano jogará a Copa Paulista em 2014. O título estadual representa muito para a história do clube, mas pouco para o momento. A maior surpresa do ano no futebol de São Paulo é um exemplo do quanto o atual formato do futebol brasileiro distorce rapidamente conceitos como céu e inferno.

“Ah, mas o Estadual não vale mais nada”, alguém pode argumentar. Veja então as consequências dessas competições no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul – Flamengo e Internacional, respectivamente, foram os campeões desses Estados.

O Flamengo precisava de um empate com o Vasco, mas perdia por 1 a 0 até os 46min do segundo tempo. O volante Márcio Araújo, impedido, anotou o gol do título rubro-negro.

A taça manteve um tabu de 26 anos e seis decisões. O Flamengo não perde um título para o Vasco desde 1988. A derrota ainda serviu para uma série de provocações: o zagueiro Chicão debochou de funcionários do rival, e o goleiro Felipe chegou a dizer que “roubado é mais gostoso”.

A decisão do Rio Grande do Sul também teve muito significado. O Internacional, que já havia batido o Grêmio fora de casa no primeiro jogo, fez 4 a 1 na segunda partida e ficou com a taça.

Certamente, jogos assim ainda vão reverberar. No fim, vitórias e derrotas são lados indissociáveis do jogo. O que marca é a jornada.

O torcedor do Grêmio não ficará triste apenas por ter perdido o título, mas pela superioridade do Internacional. O vascaíno não lamenta apenas a derrota, mas o histórico de frustrações contra o Flamengo.

E o santista? O time da Vila Belmiro não venceu o Campeonato Paulista, a despeito de ter enfrentado na decisão um rival com potencial econômico infinitamente menor. Ainda assim, foi a equipe que mais encantou em vários momentos da competição.

A campanha do Santos incluiu goleadas, bons jogos e a afirmação de garotos como Gabriel e Geuvânio no time profissional. No fim, é o caso de o torcedor olhar para a derrota como “apenas uma derrota”. Nem céu, nem inferno.

Uma das seleções brasileiras mais lembradas na história das Copas é a de 1982, que não venceu. Em compensação, o Brasil foi campeão com times pragmáticos e deterministas (em 1994 e 2002). Foram títulos que marcaram pelos feitos, não pelas campanhas.

O futebol, no fim, é um instrumento para criar momentos emocionantes. O torcedor guarda os instantes em que perdeu o ar: um gol decisivo ou uma vitória encantadora, por exemplo.

É essa crise de identidade que o Barcelona tem vivido. O time catalão não deixou de tocar a bola ou de pressionar a saída do adversário. Contudo, deixou de encantar.

Na última quarta-feira, o Barcelona foi eliminado da Liga dos Campeões da Uefa pelo Atlético de Madri. O time catalão teve mais de 60% de posse de bola, mas finalizou pouco.

Em outro jogo das quartas de final do torneio, o Bayern de Munique passou pelo Manchester United. O time alemão é comandado por PepGuardiola, ex-técnico do Barcelona, e também teve mais de 60% de posse de bola. Mas foram quase 20 conclusões.

A diferença entre Barcelona e Bayern não é apenas a quantidade de chutes a gol. O time espanhol enfrenta problemas de postura e de posicionamento, e isso o transformou numa versão estéril de um futebol que já chamou atenção do planeta. No sábado, os catalães perderam por 1 a 0 para o Granada.

O que Granada e Atlético de Madri fizeram para bater o Barcelona não foi muito diferente do que outros times adotaram como prática nos últimos anos: um jogo truncado, com muitas faltas no campo de ataque, forte marcação e rápida transição.

O Atlético de Madri, aliás, é um caso especial. Há um encaixe entre time, técnico e torcida. Há um clima favorável em uma equipe que reconhece suas limitações, pratica um futebol simples e prioriza a intensidade.

Na reta final da temporada, o Atlético de Madri ainda pode vencer o Campeoanto Espanhol e a Liga dos Campeões da Uefa. Se nenhuma dessas coisas acontecer, porém, o orgulho do torcedor não será abalado. Pelo estilo de jogo e pela dedicação, já é possível ter certeza de que o time da capital espanhola “cairá de pé”.

Vitórias e derrotas determinam o rumo de livros de história. No futebol, porém, há muita emoção que independe do resultado de um jogo ou de um campeonato. Entre o céu e o inferno, o que vale é o caminho.

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Semifinais da Champions League 2013/2014: quem vai chegar?

Na última semana a Champions League 2013/2014 definiu seus semifinalistas.

Duas equipes espanholas, uma inglesa e uma alemã.

Mais uma vez o Bayern e mais uma vez o Real Madrid.

Mais uma vez Josep Guardiola e José Mourinho.

O espanhol Atletico de Madrid chega as semifinais com seu “super” sistema defensivo – concentrado, consistente, eficaz, maleável – como grande trunfo. Seu ataque funciona bem, sem desperdícios…

O também espanhol Real Madrid, bem diferente da gestão Mourinho na maneira de jogar o jogo, tem tirado proveito de conceitos trazidos pelo seu treinador italiano Carlo Ancelotti, e ainda que menos consistente sob certos aspectos que o concorrente Atlético de Madrid, parece apresentar melhor controle do jogo com bola do que esse último, maior número de opções de ataque e mais variações ofensivas.

Já o inglês Chelsea tem sido um “time de Mourinho” – algo que parecia ter sido perdido pelo português em seu trabalho no Real Madrid. E ser um time de Mourinho significa ser um time com um pragmatismo dominante, que faz emergir até nos momentos mais improváveis a demonstração de que o jogo está sob controle.

O alemão Bayern de Munique tem sido cada vez mais Guardiola. E ainda que insistam em dizer que o treinador espanhol é avesso a centroavantes, jogadores de área e cruzamentos, ele mesmo já fez questão de desmentir em uma de suas coletivas de imprensa, acrescentando algo assim: “minha equipe deve ter obsessão por possuir a bola e controlar o jogo a partir dela. Devo aproveitar as características dos jogadores que tenho para compor o jogo da minha equipe. O jogo que preciso que ela saiba jogar. É uma troca do que a equipe em sua maneira de jogar pode oferecer aos jogadores, e o que eles com suas características podem oferecer a ela. E dentro disso nada deve ser descartado”.

Quatro equipes, três países, quatro estilos diferentes de proposição do jogo. Em comum, talvez cinco aspectos:

a) alta intensidade de jogo (física, cognitiva, técnica, etc.),

b) maneira de jogar bem definida,

c) grande capacidade dos jogadores para executarem estratégias coletivas,

d) jogadores com grande eficiência em suas ações,

e) gestores de campo (treinadores) que são profundos estudiosos do jogo.

De “estranho” nisso tudo, a ausência do FC Barcelona – que rompeu com o processo que modelava a construção do seu jogar – e que agora precisa definir qual caminho deve ser seguido – o atual ou o anterior.

Quem vai chegar às finais e conquistar o título?

Ainda que as apostas estejam maiores em cima de Bayern e Chelsea, é difícil dizer.

De certo mesmo, é que poderemos saborear grandes jogos e aprendermos um pouco mais sobre o futebol de dentro do campo…

Por hoje é isso…

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Enfim, temos o campeão brasileiro de 1987 (!)

A fim de impedirem o vexame da não realização do campeonato brasileiro, em 1987 os grandes clubes brasileiros se reuniram e criaram a Copa União.

Assim, naquele ano, a maior competição de futebol do país foi organizada por uma associação de clubes, o Clube dos Treze, e teve dezesseis equipes.

A Copa União foi um marco, eis que correspondeu a uma verdadeira liga profissional de clubes com o patrocínio de grandes empresas, como a Coca-cola que patrocinou quase todas as equipes.

Entretanto, o sucesso da competição organizada sem a ingerência da CBF causou insatisfação na entidade que resolveu criar outro módulo com os clubes que não participaram da Copa União e estabeleceu que o campeão brasileiro deveria sair de um quadrangular entre os dois primeiros colocados de cada competição.

O Clube dos Treze negou-se a participar deste quadrangular e o Sport Recife, campeão do outro módulo foi declarado campeão brasileiro.

Inclusive, Sport Recife e Guarani foram os representantes brasileiros na Copa Libertadores de 1988, em detrimento de Flamengo e Internacional, respectivamente, campeão e vice da Copa União.

Desde então, Sport, Flamengo e CPF travam batalha judicial para definir o campeão brasileiro de 1987.

A disputa se acirrou ainda mais quando o São Paulo conquistou o quinto campeonato brasileiro e pleiteou a posse definitiva da “taça de bolinhas”.

Enfim, após 27 anos, o Superior Tribunal de Justiça declarou o Sport Recife o único campeão brasileiro de 1987.

Todo esse imbróglio trouxe algumas considerações relevantes à comunidade jusdesportiva:

– A demora na sentença demonstra o quão é prejudicial a interferência da Justiça Comum no desporto.

– A CBF é uma entidade privada e tem o monopólio na organização de competições oficiais no Brasil.

– Independente da decisão judicial ou da chancela da CBF, para os amantes do futebol e para a história, o campeão da competição nacional mais importante de 1987 foi o Flamengo.

Por fim, imprescindível destacar a grande lição que a Copa União deixou. Sim, é possível realizar um campeonato brasileiro com 16 clubes, calendário racional e organizado pelos protagonistas do espetáculo e toda a polêmica serviu, somente, para enfraquecer o projeto e fortalecer a CBF.

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Blindagem do atleta

Quando a maior competição do mundo de futebol se aproxima, muitas são as situações que podem prejudicar o desempenho dos atletas antes de uma Copa do Mundo de Futebol.

Desde publicações de cunho particular da vida dos atletas, até críticas indevidas sobre os desempenhos recentes dos atletas que disputarão esta competição. Isso acontece em maior escala com os melhores do mundo, aqueles que possuem a capacidade de decidir ou desequilibrar dentro de uma competição deste valor.

Por isso é importante estarmos atentos e utilizar algumas ferramentas que possibilitem uma blindagem eficaz para o atleta. O processo de coaching pode contribuir de maneira objetiva promovendo uma adequada especificação de objetivos, caso o atleta já tenha feito uma esta pode ser revista e caso ele ainda não tenha realizado nenhuma especificação de seus objetivos, é momento para isso. A elaboração dos objetivos contribui de forma eficaz para evitar a distração e o desequilíbrio que o mundo exterior pode exercer sobre o atleta.

Uma boa maneira para realizarmos esta definição de objetivos deve responder três perguntas:

O que se deseja?

Aqui é preciso o atleta descrever o objetivo de maneira contextualizada, específica, positiva, que seja iniciada e mantida pelo atleta, alcançável e com uma data projetada para sua realização. Este é o próprio OBJETIVO declarado. Ainda, necessita-se estipular qual será a evidência que representará a realização do objetivo, que chamamos de EVIDÊNCIA.

Porque se deseja isto?

O POR QUE é uma etapa para descrever tudo que motiva o atleta, o que pode sabota-lo e em quais valores ele se baseia para buscar seu objetivo. Os MOTIVADORES representam os ganhos, ou seja, o que o atleta ganha se conquistar o objetivo. Os SABOTADORES, representam as perdas, ou seja, o que ele perde com a realização do objetivo e o que pode ser feito para minimizar as possíveis perdas. Já os VALORES, representam a razão pela qual seu objetivo é importante, o quanto ele é relevante para sua vida.

Como atingir este objetivo?

No COMO o atleta deve elaborar suas estratégias, descrever as ações e quais recursos ele necessitará para conquistar o seu objetivo. Em relação as ESTRATÉGIAS ele pode descrever de quais formas ele pretende conseguir seu objetivo. As AÇÕES representam os passos que ele precisará realizar para atingir o objetivo e os RECURSOS reúne tudo aquilo que ele necessitará para realizar seu grande objetivo.

Com a definição de um objetivo, o atleta se reconecta com algo interno e maior do que as situações criadas no mundo externo. O objetivo bem definido, com os passos para atingi-lo são um grande aliado para que o atleta mantenha o foco e a dedicação, sem abalar-se com problemas que muitas vezes são criados apenas com o intuito de enfraquecer sua capacidade mental e física de realizar sua profissão com altíssimo desempenho durante a maior competição de futebol que um atleta profissional pode estar, a Copa do Mundo de Futebol.

E você amigo leitor, o que pensa a respeito?

Até a próxima!.

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Sobre credibilidade

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou na última semana o resultado de uma pesquisa sobre tolerância social à violência contra as mulheres. Segundo o levantamento, 65% dos homens concordam total ou parcialmente com a afirmação: “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

A divulgação dos dados gerou enorme repercussão. E na última sexta-feira, depois de tudo isso, o instituto emitiu uma correção: na verdade, “apenas” 26% dos homens assentiram quando questionados sobre a tal afirmação.

“Foi um erro absolutamente bobo na parte mais fácil do processo, que é justamente trocar duas colunas do [programa de computador] Excel”, justificou Sergei Soares, chefe de gabinete da presidência do Ipea, em entrevista ao portal “G1”. “Espero que não [percamos a credibilidade] porque o que um instituto tem é a credibilidade”, continuou.

Polêmica sobre o resultado à parte, o que aconteceu no “caso Ipea” é uma demonstração perfeita do quanto a comunicação tem alcance e do quanto é importante a responsabilidade de quem a dissemina. É um exemplo que entra para uma longa lista de episódios emblemáticos no Brasil – alguém aí se lembra da história da escola Base?

Credibilidade é algo que facilita demais qualquer relação de consumo. No caso de comunicação, é um aspecto com potencial decisivo. Aliás, mais do que isso: é o item a ser vendido.

O advento das redes sociais transformou todo mundo em mídia e deixou isso mais claro. Qualquer um pode produzir e publicar conteúdo, funções que eram anteriormente limitadas a um pequeno grupo de pessoas.

O que diferencia um usuário qualquer de redes sociais de um profissional ou de um veículo de comunicação é justamente a credibilidade. As informações podem ser as mesmas, mas o consumidor da informação paga por algo em que ele pode confiar.

Mas essa não é uma discussão apenas para jornalistas. Entender a relevância da credibilidade é fundamental para qualquer profissional. No esporte, isso pode ter influência determinante em diferentes setores.

Um técnico, por exemplo, depende de credibilidade. Ele precisa que os atletas entendam conceitos e acreditem nisso. Só assim a aplicação será feita de forma consistente durante os jogos.

Não são raros os exemplos em que um atleta discorda do técnico. E durante o jogo, o responsável pela decisão é o atleta. Ainda que o técnico tenha uma visão diferente sobre um aspecto do jogo, a palavra final não é dele.

Credibilidade também é um item fundamental na relação entre os próprios atletas. No futebol, um jogador precisa confiar no que o companheiro pode produzir com ou sem a bola. Esse repertório depende de treinos e jogos anteriores.

A discussão sobre credibilidade está longe de ser pertinente apenas para jornalistas. Confiança, afinal, é o que baliza todas as relações humanas.

Independentemente do resultado e do saldo do evento, é isso que a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, tem negligenciado até o momento. Trata-se de um evento que já não conta com qualquer resquício de credibilidade.

Isso começa pelas obras: ninguém acredita em prazos ou orçamentos desde que começaram os prazos e orçamentos. Não há como acreditar.

E mesmo depois de inaugurações e estouros colossais nas contas, ninguém acredita no resultado. O estádio Mané Garrincha, em Brasília, tem acabamento ruim, goteiras e necessidade de intervenções antes da Copa. O custo total da arena chegará a R$ 1,9 bilhão.

Os estádios, contudo, ao menos ficarão prontos. É diferente do que acontece, por exemplo, com obras de mobilidade urbana e infraestrutura.

Quando o Brasil foi aclamado como sede da Copa do Mundo – o país articulou politicamente e foi candidato único –, dirigentes responsáveis pela candidatura venderam a ideia de que o evento seria um propulsor de mudanças no país. A pouco mais de dois meses do evento, já é possível dizer que essas mudanças não virão.

A Copa do Mundo tem sido um engodo. E essa percepção dificilmente será alterada pelo evento, ainda que tudo aconteça com perfeição durante o mês de jogos.

No fim, um evento com potencial gigantesco pode ser um golpe na credibilidade do esporte brasileiro. Como a pesquisa do Ipea mostrou, nem toda repercussão é uma boa repercussão.

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Ser treinador de futebol

Ser treinador de futebol profissional é um sonho de milhões de brasileiros. Muitos alimentam tal sonho comandando equipes virtuais em jogos de vídeo game, ou então, em jogos de gerenciamento para computador. Outros são professores de escolinha ávidos por uma oportunidade nas categorias de base. Muitos deles, já nas equipes de formação, almejam um dia alcançar o cargo. Centenas de jogadores em atividade fazem planos de seguirem no futebol como treinadores assim que “pendurarem as chuteiras”. É corriqueiro observarmos comentários dos sonhadores em geral iniciados pela seguinte expressão: “Se eu fosse o treinador…”.

Aqueles que optam por tornar o sonho uma realidade devem aprender a conviver num ambiente em que a luta pela manutenção ou por um espaço no mercado são cotidianas, a instabilidade é constante e as condições de trabalho, muitas vezes, se opõem ao que, teoricamente, é garantido por lei.

Ter condições para sobreviver no referido ambiente implica a aquisição de diversas competências que podem destacá-lo no mercado e aumentar as possibilidades de empregabilidade. Obviamente, conseguir vencer jogos é a principal delas.

Neste sentido, recentemente, uma entrevista televisiva (possibilitada pela capacidade que o treinador tem de vencer jogos) sequencialmente foi espalhada nas redes sociais e reacendeu a discussão de quem deve (ou pode) ser treinador de futebol.

Uma discussão ultrapassada, desnecessária e que pode nos fazer gastar energia improdutiva tanto por parte de quem já realizou o sonho tanto por parte de quem ainda o alimenta.

Então, se você é ou pretende ser treinador de futebol profissional foque em suas competências, pois o mercado, dia após dia, abre espaço para os profissionais mais preparados, independentemente de suas origens.

Para auxiliá-lo, será proposto um exercício de autoavaliação das funções de um treinador como um gestor de pessoas. As competências foram listadas a partir de uma publicação feita por um treinador brasileiro de futebol profissional.

Para cada item, estabeleça uma pontuação de 1 a 5 de acordo com a seguinte classificação:

1– Competência não realizada;
2- Competência pouco realizada;
3- Competência às vezes realizada;
4- Competência quase sempre realizada;
5- Competência sempre realizada;

As competências seguem abaixo:

1. Avaliar nível de competitividade coletiva;
2. Avaliar nível de motivação da equipe;
3. Avaliar nível de motivação pessoal;
4. Exercer liderança efetiva;
5. Exercer comunicação eficaz;
6. Dar feedback;
7. Intervenção adequada na relação esforço x punição;
8. Exercer cobranças devidas;
9. Transmitir informações claras e coerentes;
10. Detectar burnout;
11. Auxiliar a construção da personalidade;
12. Formar valores (morais, esportivos, sociais, etc.);
13. Conhecer nível de aprendizagem da equipe;
14. Conhecer nível de aprendizagem individual;
15. Criar ambiente para obtenção de sucesso;
16. Estabelecer regras e limites;
17. Ser assertivo na relação vitória x fracasso;
18. Desenvolver autoestima;
19. Transformar o grupo em equipe;
20. Planejar metas e objetivos individuais e coletivos;
21. Conhecer a história de vida e esportiva dos atletas;
22. Ser responsável pela composição e funcionamento da comissão técnica;
23. Ser assertivo na relação dispensa x admissão de atletas;
24. Propor atividades dinâmicas, atrativas e variadas;
25. Converter as atividades em desafios, nunca em ameaças;
26. Observar individualmente os atletas;
27. Ser capaz de corrigir as metas estabelecidas;
28. Analisar o próprio estado emocional para não transmitir ansiedade.

Uma vez estabelecido o número relativo a cada competência, some-os para verificar o valor final. Quanto mais próximo de 140 pontos (28 x 5) melhor está sua atuação enquanto gestor de pessoas. Uma análise crítica do seu desempenho pode definir claramente quais são os seus pontos fortes e fracos nesta prática indispensável ao treinador moderno.

Aproveito para encerrar a coluna desta semana agradecendo à Universidade do Futebol pelo espaço que me proporciona há três anos para discutir, refletir e pensar futebol com os milhares de seguidores do portal.

Comandado seriamente por quem não mede esforços para transformar o (aparente) vitorioso futebol brasileiro, acompanhar cada publicação do site me torna um treinador melhor, uma pessoa melhor. Agradeço também aos leitores que dedicam parte de seu precioso tempo para compartilhar conhecimento.

E nesta jornada sigo, como milhões de brasileiros, sonhando…

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O Campeonato Brasileiro de 2013 tem mais uma rodada

Insatisfeita com a decisão da Justiça Desportiva, a Portuguesa propôs ação na Justiça Comum e o magistrado da 43ª Vara Cível de São Paulo, concedeu liminar determinando que a CBF devolva os quatro pontos retirados pela punição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) o que rebaixaria o Flamengo que também perdeu pontos pela escalação irregular do lateral André Santos.

Além de devolver os quatro pontos, a decisão da Justiça Comum, proíbe a eventual punição desportiva à Portuguesa pelo fato de ter ingressado em juízo.

A decisão pode trazer graves consequências para o futebol brasileiro, já que o Campeonato Brasileiro tem seu início marcado para 19 de abril.

O debate sobre o acesso à Justiça Comum para discutir questões desportivas não é recente. Em outras oportunidades, alguns clubes se valeram de decisões judiciais para participarem de competições.

Inicialmente, é imprescindível destacar o direito constitucional do cidadão de ter acesso ao Poder Judiciário. Ou seja, o acesso à Justiça Comum é garantido.

No que tange ao mérito da questão, a Justiça Desportiva possui natureza “sui generis”, pois é prevista constitucionalmente no art. 217, da Constituição Brasileira e possui, ainda, características que a aproximam do Juízo Arbitral.

Assim, aplicando-se subsidiariamente a Lei de Arbitragem, constata-se que, nos termos do seu artigo 33, o Poder Judiciário pode analisar tão somente os requisitos formais da decisão exarada pela Justiça Desportiva declarando-a nula ou não. E esta ação deve ser proposta no prazo de noventa dias.

Ou seja, ainda que no mérito a Portuguesa possa ter razão, o prazo para propositura deve ser respeitado e o Poder Judiciário não pode alterar a decisão da Justiça Desportiva declarando, por exemplo, que a escalação do atleta foi regular.

No caso do deporto deve-se analisar, também, o Princípio “pro competicione” que regula as relações jusdesportivas. Ora, a Justiça Desportiva foi criada para assegurar a celeridade das decisões atinentes ao evento esportivo, sob pena da morosidade do Poder Judiciário inviabilizar a prática desportiva.

Outrossim, o artigo 217 da Constituição Brasileira assegura a autonomia das Federações Esportivas e o artigo 5º, por sua vez, traz o direito à liberdade de associação.

Destarte, a Confederação Brasileira de Futebol é uma associação de clubes que se reúnem livremente para participarem de competições de futebol e eventual decisão que obrigue a instituição a manter associada qualquer entidade retira-lhe direito constitucional.

Sendo assim, proibir a CBF de, por exemplo, desfiliar a Lusa afronta cabalmente a Constituição Brasileira.

Ao lado de toda essa discussão, há, ainda, a FIFA que em seus estatutos elaborados sob a égide da legislação suíça abomina qualquer forma de interferência externa no desporto o que pode, em tese, trazer consequências ruins à CBF e aos demais clubes brasileiros como proibição de disputa de competições internacionais e até a desfiliação.

Não se pode esquecer, ainda, do Estatuto do torcedor que proíbe alterações na tabela após a sua publicação. A Lei proíbe, ainda, o desrespeito às regras de acesso e descenso, o que afasta a legalidade da realização de um campeonato com 21 clubes.

Diante de toda essa polêmica, caso a ação da Lusa seja tempestiva, e parece não ser, ao Poder Judiciário caberia tão somente anular a decisão do STJD por vícios formais, cabendo à Justiça Desportiva, efetuar novo julgamento, eis que se trata de “árbitro” escolhido livremente pelas partes.

É lamentável que no ano da Copa do Mundo, o Campeonato Brasileiro de futebol seja envolto de questões jurídicas e não desportivas.

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Regulando as emoções do atleta

Quando chegam os momentos decisivos das competições é inevitável que os atletas sejam impactados emocionalmente por um desempenho ruim, uma derrota ou até mesmo uma desclassificação.

E esse impacto emocional pode afetar uma ampla variedade de fenômenos no time aonde o atleta atua. O descontrole emocional pode afetar a aprendizagem do atleta, a sua memória, a interação social e as tomadas de decisão. A emoção negativa pode ter um impacto particularmente desestabilizador nas equipes de futebol.

O atleta enquanto ser humano que atua com alto nível de emoção, necessita de apoio e desenvolvimento para poder autorregular a sua emoção, para que não deixe sua performance piorar devido a pressões cotidianas ou estresse excessivo.

Neste ponto acredito que o trabalho de um coach pode contribuir e muito, promovendo o desenvolvimento do atleta quanto ao aprendizado de valiosas técnicas de comportamento para serem empregadas e utilizadas para que este possam se autorregular e desta forma combater seus estados afetivos negativos.

Para ilustrar a questão da regulação emocional, compartilho algumas das técnicas, sugeridas por Skiffington & Zeus (2003), que considero como extremamente úteis para uma aplicação por parte do atleta.

• Reconheça seus padrões estáveis de repostas emocionais – Todos nós, inclusive os atletas, tendemos a ter maneiras estáveis e conscientes de responder emocionalmente à estímulos e ambientes. A nossa capacidade de entender nosso próprio padrão nos permite reconhecer quando ela se manifesta e quando necessitaremos aplicar técnicas de regulagem no momento inicial da emoção;

• Humor – Este é um método efetivo de regular estados emocionais negativos, especialmente a frustração e a raiva. Os atletas podem ser encorajados a olhar com humor algumas situações de dificuldade, afinal de contas, ou se acredita que o atleta pode render mais e desenvolver-se ou se acredita que tudo está errado no elenco e desfaz-se uma equipe inteira após uma desclassificação. Neste ponto, o bom senso é bem empregado para avaliar com sensibilidade a melhor forma de utilizar o humor;

• Intervalo – Ausentar o atleta de uma situação de alto estresse permite que ele tenha tempo necessário para relaxar a reavaliar toda a situação em busca de clareza e assim conseguir tomar as melhores decisões para seguir adiante;

• Meditação e técnicas de relaxamento – Estas são sempre muito úteis e contribuem para manutenção de tranquilidade, além de nutrir um pensamento claro no atleta.

• Compartilhar as emoções – Esta técnica pode contribuir para a diminuição dos estados de tensão e emoções negativas. Porém devemos ter cuidado com os excessivos desabafos de sentimentos negativos, especialmente no que se refere a raiva, pois corremos o risco de aumentar o sentimento negativo ao invés de conseguirmos regulá-lo.

Então amigo leitor, eu penso ser de extremo valor para os atletas a capacidade de autorregular uma emoção negativa pois como disse anteriormente uma desclassificação sempre será inevitável para muitos deles, afinal de contas em toda competição apenas um time se sagra campeão, certo? Porém, como o ano e a própria carreira do atleta não acaba ali, ele deve estar preparado pois uma outra competição já baterá à sua porta.

Até a próxima.

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Quase 1º de abril: um país que não respeita contratos

A Copa do Mundo no Brasil está sendo muito boa para mostrar para o mundo o quanto este país é péssimo na celebração e cumprimento de contratos. Assim como em qualquer ramo de negócio, que por vezes não aparece para o grande público, no esporte esta premissa não é verdadeira, uma vez que escancara para a opinião pública o nosso “modus operandis”, de firmar acordos e depois empurrar com a barriga ou deixar a conta para terceiros, E NÃO PAGAR.

Ora, o último causo da vez são “as tais” estruturas móveis e “as tais” FAN FESTS. Pelo visto, a grande novidade que contaram recentemente aos brasileiros é que a Copa do Mundo de Futebol é um evento de PROPRIEDADE da FIFA. O Brasil “apenas” desejou e venceu uma pseudo concorrência para o sediar.

A lógica, por óbvio, é que o detentor dos direitos de realização de um evento firmasse contratos para garantir a entrega conforme suas prerrogativas técnicas e de qualidade. Nada além disso e foi o que a FIFA fez. Se há problemas com a FIFA de ordem política ou se acham que as exigências são “pesadas demais”, isso deveria ter sido debatido minimamente quando se apresentou o “Caderno de Encargos” para a realização do evento e/ou no ato da assinatura dos inúmeros contratos firmados, que estão públicos nos respectivos portais de transparência das sedes e do Governo Federal.

Ah, quer dizer que não lemos os contratos antes de assinar? http://wp.clicrbs.com.br/duplaexplosiva/2014/02/14/estruturas-temporarias-da-copa-inter-alegara-que-texto-da-fifa-e-dubio-e-que-municipio-e-estado-tambem-sao-responsaveis-pelo-pagamento/?topo=13,1,1,,,13. Em que parte está dúbio o “artigo 6”, “letra g” do “Stadium Agreement” que todas as sedes assinaram: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/copa/transparencia/stadium_agreement.pdf (este é o contrato do Corinthians com a FIFA, com tradução juramentada, sendo que os termos são padrões para todas as sedes)? Em que parte não percebemos uma “pequena conta”, de “uns equipamentos sem significado”, que gira em torno de R$ 20 e R$ 60 milhões?

A ironia do parágrafo anterior é válida, pois, francamente, está claro, em todos os termos e em todas as alíneas que os custos de equipamentos e salas pertencem à “Autoridade de Estádio”, que é o dono do equipamento. Ou seja, o fato de não termos organização interna para dialogar e definir a quem cabe algumas despesas pertence tão somente a acordos paralelos entre o proprietário do estádio e os entes públicos, conforme cada caso. Para a FIFA, o único entendimento é que o dever de entregar todas as benfeitorias é de obrigação de fornecimento do proprietário do estádio.

Enfim, começo e termino este texto para acabar no mesmo termo: a Copa está escancarando, de verdade, como os brasileiros lidam no dia a dia com contratos e acordos formais. Eis o legado negativo que este importante megaevento vai deixando. No campo dos negócios ou dos negócios esportivos, a regra, mais das vezes, passa por não respeitar as regras. Poderíamos ter aproveitado para mostrar um novo Brasil, com eficiência política, ética, econômica e social. Optamos por nos manter com os mesmos conceitos que se fazia dos brasileiros.

Se queremos aparecer para o mundo como uma nação globalmente importante, precisamos mudar para um sentido diametralmente oposto esta cultura que não dá vantagem para ninguém. Só nos afunda!!!