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A liderança primal dos técnicos

“Os grandes líderes mobilizam as pessoas, inflamam a paixão e inspiram o melhor dentro de seus liderados.” Esta frase extraída do livro O poder da inteligência emocional, de Daniel Goleman, traduz a essência do que pode ser entendido por Liderança Primal, aquela liderança que inspira não apenas por uma capacidade de ver estrategicamente ou por ideias poderosas de um líder, mas sim por se tratar de um tema mais fundamental da liderança, que os grandes líderes agem por meio das emoções!

Podemos compreender que os técnicos de futebol, tal qual um grande líder de pessoas, possui também uma tarefa emocional primal, ou seja, uma tarefa primeira em tudo que faz enquanto líder, afinal eles sempre desempenham um papel emocional decisivo. Quer um exemplo? Se analisarmos os primeiros líderes da humanidade, fossem eles chefes tribais ou xamãs, todos conquistaram seus postos em grande parte pelo fato de sua liderança ter sido emocionalmente vibrante.

Na vida moderna, isso também é verdadeiro, a principal de muitas funções da liderança é canalizar as emoções coletivas em uma direção positiva e limpar uma neblina causada pelas emoções negativas em sua equipe. Dito isto, torna-se importante sabermos que o segredo para exercer uma liderança primal proveitosa é desenvolvermos as competências de liderança relativas à inteligência emocional.

Os técnicos vivem situações em que suas equipes passam por maus resultados e se perguntam como fazer para que seus atletas possam segui-lo enquanto líder e com isso terem crença em suas orientações e ensinamentos. Pensando na inteligência emocional dos técnicos e no conceito da liderança primal, estes devem desenvolver sua capacidade de contagiar os atletas, ou seja, tornarem-se verdadeiros imãs humanos atraindo no papel de líder emocional o maior número de atletas para a direção comum que promoverá melhores resultados na prática.

O primeiro passo para o técnico iniciar sua liderança primal é estar atendo ao impacto que o seu humor causa no ambiente em que convive, por mais triviais que as emoções e os humores possam parecer do ponto de vista estritamente profissional, elas exercem uma influência real sobre a realização do trabalho cotidiano. Por exemplo, um estado de ansiedade branda causado pelo líder aos seus atletas, ponde apontar para uma situação próxima que exija mais foco e atenção dos atletas na sua execução.

Porém, a pressão prolongada pode sabotar os relacionamentos de um grupo com seu líder, bem como limitar claramente o desempenho dos atletas, devido ao fato de reduzir a capacidade do cérebro de processar informações e responder de maneira eficaz conforme a expectativa. O estresse gerado pelo ambiente negativo prolongado prejudica as habilidades mentais e também a inteligência emocional das pessoas.

Por outro lado, uma boa conversa bem humorada, os risos, ou uma disposição positiva por parte do treinador, em geral reforçam as capacidades neurais mais críticas dos atletas para a realização de um ótimo trabalho. Ou seja, fica claro para nós que o conjunto de emoções sentidas durante a realização do trabalho refletem o real e melhor indicador da verdadeira qualidade de vida profissional e no esporte isso não é diferente, uma vez que já ouvimos várias vezes no meio esportivo atletas elogiando determinados ambientes nos clubes em que atuam; se isso acontece fica clara sua percepção de ter qualidade de vida profissional no determinado clube.

Assim, se faz prudente por parte dos técnicos atuais desenvolverem suas competências de Inteligência emocional e com isso iniciarem o quanto antes uma atuação destacada em suas lideranças primais junto aos seus atletas e as pessoas que são lideradas por eles.

Até a próxima! 

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A lei resolve?

Tenho acompanhado muitos debates, textos, comentários e projeções sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE), que na verdade se presta a resolver parte dos problemas dos clubes brasileiros. Parte!!!

Assim como na votação de outros temas importantes para o país, o jogo de forças e de análises de diversos lados para que se aprove as próprias convicções no texto da lei são claras para o caso da LRFE.

Mas a grande questão que coloco é: será que a lei irá mesmo resolver os problemas mais crônicos do futebol brasileiro? Será que as entidades que fazem parte formalmente do sistema (clubes, federações e confederação) tem a dimensão real deste problema? Quem se adapta melhor e mais rápido a novos sistemas – governo ou clubes?

Tenho plena convicção de que a lei não estanca todos os problemas. Pelo contrário, pode criar novos, se mal formatada e, principalmente, mal administrada – tal e qual ocorreu com a Timemania, que se prestava a zerar todos os passivos das entidades de prática esportiva, mas que levou a um problema ainda mais crônico oito anos mais tarde (atualmente).

A bem da verdade, acredito muito mais em estímulos para boas práticas em detrimento a sanções para quem não faz. Isso torna o processo muito mais saudável, uma vez que poderia apresentar alguns mecanismos de melhoras de gestão dos clubes (customizado ou não para cada realidade) mesclados com a solução das questões fiscais e endividamento das entidades. Por seu turno, não se evidenciaria as más práticas, mas sim as entidades que evoluíram positivamente em seus processos internos.

Ao invés de criar mecanismos esportivos (agora o debate é verificar se a fiscalização deve ocorrer de três em três meses ou anualmente, tendo o rebaixamento de divisão como punição esportiva), que pode resolver em partes, mas que também pode criar um emaranhado de interpretações que retarde qualquer processo de punição que esteja previsto no texto.

Por ser um tanto quanto cético quanto a aplicabilidade de novas leis no país – até por acompanhar a construção de bons textos em determinados momentos, mas que acabam “não pegando”, pelo jargão que se coloca a cada sanção/regulamentação – proponho pensarmos em uma agenda positiva sobre a gestão do futebol. Precisamos criar novos mecanismos que resulte efetivamente em mudanças. Construção de novas leis tem se mostrado ineficiente na prática. 

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Na faixa

Começou com jogadores do Vasco, que entraram em campo em jogo da Série B do Campeonato Brasileiro carregando uma faixa sobre apoio do clube à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (LFRE). No último fim de semana, times como Chapecoense, Sport, Botafogo e Flamengo repetiram o gesto. O Coritiba também, mas com uma sutil peculiaridade: os atletas não carregaram o banner. Com um gesto simbólico, o elenco do time paranaense mostrou que é possível se posicionar politicamente sem apelar para o confronto.

A LFRE é um dispositivo de refinanciamento da dívida fiscal dos clubes brasileiros. A lei impõe contrapartidas, mas não exige mudanças drásticas na gestão e nem cria mecanismos para um controle severo desse retorno. E aí existe um risco enorme para o esporte: se for aprovada sem alterações no texto, há um risco de os débitos das equipes serem extintos sem que o país ganhe algo com isso. Algo como um prêmio pela má gestão que se arrasta há décadas.

Há enorme pressão de clubes, federações e de congressistas ligados à “bancada da bola” para que a lei seja aprovada urgentemente. O governo já admitiu via Ministério do Esporte que “é possível que times quebrem” se o dispositivo não for alinhavado ainda neste ano. E o que os atletas têm a ver com isso?

Na sexta-feira, o zagueiro Paulo André, que desde fevereiro defende o Shanghai Shenhua, publicou na rede social Facebook um texto que questiona exatamente isso. O jogador, líder mais proeminente do grupo Bom Senso FC, usou o exemplo do Vasco e cobrou que os atletas deixassem de ser “inocentes úteis”.

“Chegamos ao cúmulo da inocência e da exploração. Tudo nos parece normal, rotineiro, inerente ao meio em que vivemos. Dizemos uns aos outros: ‘Ah, deixa para lá, sempre foi assim’. E alguns cartolas, por sua vez, chegam no limite da malandragem, da lei de Gerson”, escreveu o zagueiro.

Os jogadores do Coritiba deram um exemplo. O time paranaense entrou em campo com uma faixa de apoio à LRFE, mas o objeto foi carregado por funcionários do clube. Os atletas não colocaram a mão.

O Coritiba pode ser favorável ao dispositivo, mas os jogadores têm o direito de pensar de outra forma. E se o fizerem, têm o direito de se posicionar. A questão é: quantos são os atletas que realmente estão preocupados com o futuro do esporte que lhes dá sustento?

A lógica é muito clara na questão da LRFE, mas vale praticamente para todas as questões que permeiam o cotidiano da modalidade. Para ficar em um exemplo simples: quantos jogadores repensaram seu comportamento (dentro e fora de campo) depois dos exemplos da Copa de 2014? Quantos adotaram novas condutas depois da goleada por 7 a 1 que a Alemanha impôs ao Brasil?

Responsabilizar dirigentes e gestores é uma necessidade, mas tratá-los como único mal do esporte é apenas um reducionismo conveniente. É cobrar dos outros uma mudança que só será possível quando for sistêmica.

É por isso que o Bom Senso FC renovou esperanças em 2013, quando foi criado. O grupo reuniu atletas que queriam repensar o esporte e trabalhar por um futebol melhor. Os jogadores resolveram entender que são parte de um processo e que isso não se limita às quatro linhas.

Essa consciência precisa atingir também outras classes. Jornalistas não podem seguir apenas falando na necessidade de mudanças se seguirem adulando dirigentes inadvertidamente ou se esquecerem do papel transformador que a mídia tem. Mais uma vez: qualquer mudança no esporte só vai ser possível quando todos entenderem que são partes de um processo complexo.

O futebol brasileiro precisa desesperadamente de mudanças. Isso está claro, e os resultados recentes apenas escancararam isso. Mas nenhuma alteração contundente vai acontecer enquanto se limitar a uma classe ou a uma esfera.

Jogadores podem carregar faixas sobre a LRFE se concordarem com isso e defenderem a aprovação da lei como está. Jornalistas podem calar sobre isso se também forem favoráveis ao dispositivo. Desde que essa seja a posição deles, e não apenas uma omissão.

A lógica acima vale para qualquer classe e para diferentes discussões. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou uma série de problemas recentemente por causa de problemas em seu sistema de registro de atletas. O colapso foi público e vexatório, mas talvez tivesse mais reações se houvesse um movimento articulado entre atletas, advogados, gestores, clubes, federações, mídia e até torcedores. Ninguém pode ser excluído de discussões pertinentes para o futuro coletivo.

A questão é que a lógica coletiva não é a que norteia a gestão do esporte no Brasil. As lutas são individualizadas, mesmo quando em classe. Basta ver o que acontece com a negociação de direitos de mídia do Campeonato Brasileiro: desde a implosão do Clube dos 13, times conseguiram aumentos significativos e adotaram negociações solo. Isso aumentou consideravelmente a distância de faturamento e concentrou receita nas mãos dos mais poderosos. E o bem do futebol?

Times pequenos perceberam isso e já começaram a cobrar mudanças. Agora, contudo, falta força política para isso. Não há um fórum em que a força das equipes seja equiparada, independentemente do potencial econômico ou esportivo.

Pode parecer utópico, até porque essa não é uma característica apenas do esporte, mas o futebol precisa pensar como classe. E isso só vai ser possível quando todos entenderem a força que têm. Os jogadores do Coritiba deram uma aula disso.

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Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte

Pegando carona na comoção gerada após a épica derrota por 7 gols sofrida pela Seleção Brasileira diante da Alemanha, o Governo Federal tem envidado esforços para aprovar uma lei que traria moralidade fiscal na administração das entidades desportivas.

Segundo o projeto de lei, a referida norma trará transparência na execução do dinheiro gasto pelos clubes, proibição de antecipação de receitas além de limitação do mandato dos dirigentes e renegociação das dívidas dos times brasileiros, cujo valor atualmente passa de R$ 4 bilhões.

A fiscalização se daria por meio de apresentação anual de Certidões Negativas de Débitos Fiscais e a penalidade seria o rebaixamento.

Há uma clara intenção de se viabilizar o pagamento das dívidas de INSS, IR, FGTS, Timemania e Bacen por parte dos clubes.

Ademais, as entidades desportivas não são obrigadas a se adequar aos ditames da norma, mas, apenas o fazerem por opção, caso queiram refinanciar suas dívidas com a União por um prazo de 25 anos.

A não obrigatoriedade afasta a inconstitucionalidade da norma, eis que o artigo 217, da Constituição Brasileira assegura a autonomia das entidades esportivas.

Dessa forma, o Estado cumpriria com seu dever constitucional para com o desporto de fomentá-lo, ou seja, incentivar, patrocinar e promover a sua prática.

Outrossim, com toda a importância que o futebol e o esporte possuem na vida e na cultura do brasileiro, trata-se de medida menos relevante que as necessárias reformas fiscais, tributárias e políticas, áreas em que o Governo deveria centralizar esforços.

Sem dúvidas, é necessária uma reformulação no esporte brasileiro, não porque perdemos de 7 a 1, mas porque estamos perdendo o trem da história de sua profissionalização.

Entretanto, não será uma lei que conseguirá mudar os rumos do esporte brasileiro. As mudanças devem ser mais profundas e estruturais.

Todos os dias pululam casos de alteração de resultados desportivos pela Justiça Desportiva por amadorismo dos clubes que analisam equivocadamente a condição de jogo de um atleta ou por inoperância da CBF que erra ao lançar as informações no BID.

Em 1990, a Espanha criou a Lei 10/1990 que teve como objetivo reorganizar o esporte espanhol e um de seus pontos de destaque diz respeito à reorganização financeira dos clubes. Passados 24 anos, os clubes espanhóis permanecem endividados, o que demonstra que somente uma alteração legal não é suficiente.

A Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte pode trazer bons frutos, mas, a melhora na situação gerencial do esporte brasileiro passa, obrigatoriamente, por uma mudança drástica de paradigmas.

Que os debates da LRFE sejam somente a ponta do imenso iceberg que deve ser desbravado para o crescimento do futebol e do desporto brasileiro. Caso contrário, as medidas serão inócuas.