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Pau de selfie nos estádios: vilão?

A grande sensação das férias de verão no Brasil tem sido o “selfie stick”, mais conhecido como “pau de selfie”.

Assim como grandes sucessos musicais de verão como “A Festa” e “Explode Coração”, o “pau de selfie” chegou aos estádios brasileiros.

Entretanto, a utilização do “selfie stick” está proibida na grande maioria dos estádios brasileiros diante do entendimento de que poderia ser utilizado como uma arma e prejudicaria a segurança nos locais de evento esportivo.

O fundamento legal para a medida está no artigo 13-A, inciso II, do Estatuto do Torcedor que proíbe o porte de objetos suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência.

A grande questão é avaliar se o “pau de selfie” é de fato um instrumento hábil a causar violência nos estádios de futebol.

Ano após ano, a violência é presença constante no futebol brasileiro. Já tiraram dos estádios as hastes das bandeiras, a bebida alcoólica, as torcidas rivais e a violência persiste.

Na contramão do mundo, ao invés de se preocupar com o conforto dos torcedores, com melhor preparo dos agentes públicos de segurança e com a contratação segurança privada, o futebol brasileiro optou pelo caminho das proibições.

Na Inglaterra, em alguns estádios, como o do Arsenal, o “selfie stick” foi proibido não pela violência, mas, para impedir que sua utilização prejudicasse a visibilidade dos torcedores durante os jogos.

O fato é que as autoridades brasileiras ainda não perceberam que a questão da violência não se resume a momentos circunstanciais potencializados pela bebida alcoólica, por uma haste de bandeira ou pelo “pau de selfie”.

Vale dizer que o potencial de violência do “selfie stick” é o mesmo de um radinho, de suas pilhas, de um celular ou de um cinto.

A violência no futebol é um fenômeno multifacetado e que merece medidas específicas, como as adotadas pela Inglaterra na década de oitenta após a conclusão do Relatório Taylor que foi um minucioso estudo da violência no futebol inglês e apontou suas causas e soluções.

Quase trinta anos depois, a Inglaterra tem a Liga de futebol mais valiosa e mais rentável do mundo e a violência, outrora generalizado, hoje é raríssima.

Já passou da hora do futebol brasileiro se inspirar nos bons exemplos de Inglaterra, Espanha e Estados Unidos e extirpar a violência dos estádios, eis que com ou sem “pau de selfie”, infelizmente, a violência tende a permanecer.
 

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Da poesia ao futebol

Gonçalo M. Tavares pode saudar-se como um dos grandes escritores, portugueses e europeus, do nosso tempo. Professor da Faculdade de Motricidade Humana, é hoje o docente da disciplina que eu lecionei também: Epistemologia da Motricidade Humana. Do seu Livro da Dança, colhi o poema seguinte:

“o dedo que é só dedo nem sequer é dedo o corpo que é só corpo só tapa o espaço só tapa o espaço só tapa o espaço – deixem-me ver o espaço ou então – deixem-me ver tudo (para que importa exibir o corpo se é só para exibir o corpo; só importa exibir o corpo se é para exibir o que não é corpo) para que importa exibir o corpo se é só para exibir o corpo?”.

 

O poeta Eugénio de Andrade, num livro que fez história, Poesia, liberdade livre, escreveu: “De Homero a S. Juan de la Cruz, de Vergílio a Alexandre Blok, de Lio Po a William Blake, de Basho a Cavafy, a ambição do fazer poético foi sempre a mesma: Ecce Homo (Eis o Homem) parece dizer cada poema”. Na leitura crítica da poesia, ou seja, após um estudo lúcido e interrogativo, é o autor que emerge, sobre o mais, dando sentido ao processo poético. António Ramos Rosa, também poeta de grande originalidade, no seu livro, A poesia moderna e a interrogação do real – assinala que a liberdade da linguagem poética não nega, acentua a “experiência vital, por vezes exaltante, que subjaz ao poema”.

Não há fenómeno cultural que, para compreender-se, não deva compreender-se antes o homem que o produziu. Escrever um poema é a revelação originária do poeta criador. Por isso, venho dizendo, há algum tempo já, que no futebol não há saltos, mas homens (e mulheres) que saltam, não há fintas, mas homens (e mulheres) que fintam; não há remates, mas homens (e mulheres) que rematam. À semelhança da poesia, nos remates e nas fintas e nos saltos, há a revelação originária daqueles (daquelas) que os produziram. Quando a poesia se adensa e indetermina, tal significa que o homem-autor ainda está por conhecer. O Homem é um ser em perpétua e constante redefinição…

Não conheci (posso mesmo adiantar: e não conheço), no mundo do futebol, nem em Portugal nem no estrangeiro, um treinador com a cultura literária do nosso Fernando Vaz, infelizmente já falecido e jornalista de A Bola. Um dia (julgo que na década de oitenta) encontrei-o no bar do Hotel Tivoli, em Lisboa, na Avenida da Liberdade. Ele tinha entre mãos um livro. Disparei a pergunta: Que livro é esse? E ele: “É um livro do José Cardoso Pires”. E, com um sorriso cordial, acrescentou uma frase que nunca mais esqueci: “Quando será que os homens do futebol descobrem que livros, como este, nos ajudam a uma melhor compreensão do futebol?”. E lá volto eu, com os meus oitenta e um anos, a repetir-me: é que o futebol, como o desporto, é uma Atividade Humana, não é só uma Atividade Física. Quem ainda não entendeu isto sabe bem pouco de futebol.

Nas táticas de Josep Guardiola, de José Mourinho, de Jorge Jesus, ou de qualquer outro treinador; no instante criador de golos inesquecíveis – há, antes do mais, pessoas. Ou se conhecem as pessoas, ou não se entendem, nem as táticas, nem os golos. Como é lógico!

O meu Amigo, Dr. Aldo Rebelo, ilustre Ministro do Esporte, ofereceu-me, em Brasília, o livro A Pátria das Chuteiras, do jornalista e escritor Nelson Rodrigues, um dos grandes intérpretes do Brasil, tendo no futebol a sua grande metáfora. Nele encontrei o seguinte, de um artigo que o Nelson publicou, em Janeiro de 1959: “Amigos, o meu personagem do ano de 1958 tem de ser um jogador do escrete que levantou a taça do Campeonato do Mundo. Mas é um problema catar, num time invicto, um jogador que seja, exatamente o símbolo pessoal e humano desse time e desse escrete. E logo um nome me ocorre, de uma maneira irresistível e fatal: Pelé! Olhem Pelé, examinem suas fotografias e caiam das núvens. É, de fato, um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado, seria enxotado. Mas reparem: é um génio indubitável. Pelé pode virar-se para Miguel Ângelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los, com íntima efusão: Como vai, colega?”.

É que, em Miguel Ângelo, Homero, Dante e Pelé, há o que de melhor tem a arte, isto é, há poesia! E se procurássemos, todos nós os que vivemos atentos e presos ao futebol, a poesia que dele desponta? Seriam outras, com toda a certeza, a lucidez e a serenidade, nas conversas que se escutam sobre o “desporto-rei”. E muito menor o agressivismo verboso, a diatribe exibicionista, venenos da sociabilidade, que por vezes o sacodem.
 

*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

 

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Gerindo conflitos no esporte

No esporte, como em qualquer outro ambiente profissional, um dos grandes desafios dos líderes e gestores é gerir os conflitos que acontecem ao longo do tempo. Ainda mais se pensarmos na necessidade sempre urgente de bons resultados que pressionam todos os profissionais envolvidos, principalmente no futebol, essa questão demanda preparo e conhecimento para ser tratada com o devido êxito.

Mas como gerir conflitos, se eventualmente não compreendemos o que é um, e quais os seus níveis de gravidade; informações estas básicas e importantes para compreendermos a necessidade de gerirmos os conflitos.

Para tal tarefa, vamos os basear nas contribuições de Idalberto Chiavenato feitas em seu livro Gerenciando com as pessoas. As pessoas nunca possuem têm objetivos e interesses idênticos. As diferenças de objetivos e de interesses individuais sempre produzem alguma espécie de conflito. Assim podemos compreender que um conflito é inerente à vida de cada pessoa e faz parte inevitável da natureza humana e no ambiente esportivo de alto rendimento como o futebol, ele está cada dia mais presente.

O conflito existe quando uma das partes envolvidas, seja indivíduo ou grupo, tenta alcançar seus próprios objetivos interligados com outra parte e esta interfere diretamente na que procura atingir os objetivos. São dois os tipos de interferência:

• Ativa – mediante ação para provocar obstáculos, bloqueios ou impedimentos;

• Passiva – mediante omissão ou deixar de fazer alguma coisa.

Um conflito então pode ser visto como mais do que um simples desentendimento, na verdade ele se constitui numa interferência ativa ou passiva, porém deliberada, para impor algum bloqueio sobre a tentativa de outra parte em alcançar seus objetivos ou resultados.

Um time de futebol pode sofrer grandes impactos por conflitos mal geridos, pois o conflito pode acontecer no contexto do relacionamento de duas ou mais partes, seja entre pessoas ou entre grupos, enquanto conjunto de pessoas, bem como entre mais de duas partes ao mesmo tempo. Ou seja, entre dois atletas apenas ou até mesmo entre grupos distintos de atletas de uma mesma equipe.

No caso de conflitos individuais, eles podem ser:

• Internos – quando ocorrem intimamente dentro de uma pessoa em relação a sentimentos, opiniões, emoções, desejos e motivações divergentes. Este conflito provoca um colapso nos mecanismos decisórios normais e pode provocar dificuldade na escolha entre alternativas de ação.

• Externos – quando ocorre entre uma pessoa e outra ou entre dois grupos de pessoas. Mais conhecido como conflito social, que ocorre entre pessoas ou grupos de pessoas com interesses ou objetivos antagônicos.

É importante saber também que os conflitos possuem níveis de gravidade, conforme abaixo.

• Conflito percebido – ocorrem quando as partes percebem e compreendem que o conflito existe porque sentem que seus objetivos são diferentes dos objetivos dos outros e que existe oportunidade para interferência.

• Conflito vivenciado – acontece quando o conflito provoca sentimentos de hostilidade, raiva, medo, descrédito entre uma parte e outra. É o chamado conflito velado, quando é dissimulado, oculto e não manifestado exatamente com clareza.

• Conflito manifesto – este reflete o conflito expresso e manifestado pelo comportamento, que é a interferência ativa ou passiva por pelo menos uma das partes. É o chamado conflito aberto, que se manifesta sem dissimulação entre as partes envolvidas.

E quando o líder, gestor ou treinador percebe a existência de conflito, como ele deve proceder? Para poder lidar com estas situações, é importante que saibamos quais são os tipos de estilos que podem ser utilizados para uma eficaz gestão de conflitos.

Fique ligado e acompanhe nossa coluna da próxima semana, pois abordaremos esses estilos para lidar com os conflitos em suas equipes. Até lá! 

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Dá uma ajudinha aí…

A medida que procuramos fazer uma abordagem sobre negócios no futebol brasileiro, vez por outra nos deparamos ainda com uma linha arcaica de raciocínio, que se inicia no discurso do clube e chega, naturalmente, ao torcedor. Pela forma como esta relação é construída atinge-se tão somente o torcedor e não o consumidor!

Já manifestei aqui na Universidade do Futebol minha resistência a alguns projetos de sócio torcedor, que hoje, a bem da verdade, são tratados como “a salvação da lavoura”. Não pelo projeto de relacionamento com o torcedor, que é salutar e fundamental para a sustentação financeira dos clubes, mas a crítica é sim pela forma como é apresentado e desenvolvido na grande maioria dos casos.

A tal resistência é sustentada precipuamente pela ausência de um trabalho efetivo de CRM dos clubes para com seus torcedores, que, a bem da verdade, deveria ser a razão de existir deste tipo de projeto – hoje, no final das contas, ele é administrado por uma empresa patrocinadora dos clubes, a AMBEV, que, por sinal, faz muito bem este trabalho.

E também porque ele se pauta no viés de descontos em ingressos ou acesso livre aos estádios/arenas, que via de regra se torna um tiro no pé em casos de grande desempenho esportivo ou fracasso esportivo temporada após temporada. Ou seja, os extremos, em termos financeiros, acabam transformando alguns programas de sócio torcedor difíceis de se administrar em função das expectativas criadas, sejam elas positivas ou negativas.

Repito, para reforçar o conceito: no mundo todo, nos países onde a taxa de ocupação dos estádios é significativa e a rentabilidade proveniente da bilheteria segue a mesma premissa, os Programas de Sócio Torcedor servem tão somente para o desenvolvimento de um trabalho de relacionamento com o torcedor, a um custo de anuidade baixo e a bilheteria está centrada nos Bilhetes de Temporada e/ou na comercialização de ingressos avulsos. Ponto.

Na prática, aqui no Brasil, não se vende o “senso de pertencimento” a um grupo, que poderia atrair melhor as tribos de cada clube, tampouco se oferece algo que tangibilize benefícios para o torcedor.

Uma síntese da percepção que o torcedor tem sobre o Programa de Sócio Torcedor está no Tweet que copiei e colei abaixo: 

Um torcedor de um grande clube que vê no programa de sócio-torcedor a possibilidade de ajudar o seu clube de coração. Apesar do exemplo isolado, esta premissa ocorre sim em escala. E isto só ocorre pelo baixo valor percebido destes programas. Ora, o dirigente ou o gestor do clube, em entrevistas coletivas, não vende efetivamente o benefício de consumo. Naturalmente, quem compra, o faz seguindo esta lógica.

Ajudar funciona apenas uma vez. Qualquer dificuldade financeira, o primeiro corte é na “ajuda”. Qualquer mudança de humor, o corte é na ajuda. A fidelização para o consumo só vai ocorrer se de fato passarmos a vender benefícios. Eis uma prerrogativa bem distante de acontecer no curto prazo em muitos projetos de sócio-torcedor.

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A TV e a promoção do espetáculo

O nome do adversário; o logotipo; o nome do estádio; a programação pré-jogo. O canal fechado “Sportv” exibiu ao vivo o amistoso entre Palmeiras e Red Bull Brasil, no último domingo (25), no Allianz Parque. Para isso, porém, “escondeu” uma série de elementos da partida e evitou a divulgação de parceiros comerciais das duas equipes. De quem é a culpa?

Em vez de Allianz Parque, o estádio que recebeu a partida foi chamado de Arena Palmeiras em toda a transmissão. O Red Bull Brasil virou RB Brasil, e o escudo do time paulista foi desfocado para evitar a exposição da empresa patrocinadora. O Sportv também não mostrou a extensa programação pré-evento, com apresentações de motocross, paraquedismo e de ídolos alviverdes.

Quer pensar em como podia ter sido? Poucas horas depois do amistoso, a liga profissional de futebol americano (NFL) realizou seu jogo das estrelas. É um evento anual conhecido por ser um jogo de pouco apelo esportivo (é difícil imaginar uma disputa atraente de futebol americano sem ter alto grau de competitividade). Ainda assim, é um show de enorme popularidade global. E o perfil de transmissão televisiva do evento tem a ver com isso.

Transmitir a NFL envolve acordos como exibição de compactos durante a semana, inclusão da liga em programas de notícias, enquadramento de câmera em dias de transmissão, hora de abertura e encerramento de jornada e nomenclaturas da liga, das franquias e dos parceiros. Até os comerciais são regulados.

O modelo das ligas esportivas dos Estados Unidos é adotado há tempos pela Liga dos Campeões da Uefa – não por acaso, esse é o maior torneio de clubes do futebol mundial. Quando a TV Globo comprou o pacote de transmissão da competição para rede aberta no Brasil, foi preciso um enorme acordo para respeitar os parceiros comerciais da emissora. A Uefa exigia comerciais da cerveja Heineken, por exemplo, mas o canal tem a Ambev como anunciante de todo o pacote de futebol. O conflito só foi dirimido por um adendo ao contrato de direitos de mídia.

A Globo precisou de um aval da Uefa para não incluir comerciais da Heineken nos intervalos dos jogos. Também teve de negociar com a entidade para traduzir o nome do torneio – o padrão internacional é “Uefa Champions League”, em inglês. Mas precisou fazer concessões de enquadramento e conteúdo, em contrapartida.

Menos permissiva nesse sentido, a Fifa é outro exemplo de controle absoluto de conteúdo no futebol. Jogos da Copa do Mundo têm um padrão determinado pela entidade, e as emissoras dispostas a mostrá-los precisam concordar com isso.

Para garantir esse padrão, aliás, a Fifa assumiu há décadas a geração do conteúdo. A entidade tem uma empresa chamada HBS, que é a responsável por toda a transmissão ao vivo de eventos. Parceiros de mídia têm direito a um número determinado de câmeras exclusivas, mas elas só respondem por uma pequena parcela do que é mostrado ao público.

E aí chegamos ao futebol brasileiro. A Globo boicota deliberadamente os parceiros comerciais das equipes nacionais. A explicação da emissora para isso é que essa é uma forma de separar o conteúdo informativo e jornalístico do que é publicidade. Em teoria, notícias não servem para divulgar nenhuma marca.

O problema é que essa lógica não é irrestrita. A Globo faz concessões a parceiros comerciais e a empresas que pagam por isso. Na década passada, a emissora chegou a oferecer a algumas marcas a possibilidade de cobrir digitalmente as placas de campo da Copa do Brasil, que eram vendidas na época pela Traffic. Times e organizadores do campeonato faziam prospecção e buscavam empresas interessadas em aparecer numa propriedade deles, e a TV cobriria tudo isso para priorizar seus anunciantes. Isso só não aconteceu porque nenhuma companhia quis comprar a briga.

Ao fazer isso, a Globo se coloca como um concorrente direto dos clubes. Empresas interessadas apenas em mídia preferem investir no canal do que nas equipes. Isso enfraquece os times financeirametne, e o processo tem duas consequências diretas: eles usam a parceira de transmissão quando precisam de socorro financeiro e têm menos poder quando vão negociar direitos de mídia. É um ciclo que só interessa à TV.

O caso do amistoso de domingo escancara duas necessidades prementes no futebol brasileiro: é preciso criar projetos que não sejam focados apenas em mídia (e o que a Red Bull faz é exatamente isso), assim como é preciso rever o papel da TV no esporte. O termo “parceiro de mídia” não parece correto para alguém que deliberadamente trabalha para asfixiar os times e criar relação de dependência.

Contudo, os dois caminhos dependem de ação dos clubes. Em uma frente, ação individual (criação de departamentos de marketing mais eficientes, com métricas e protocolos que sejam menos balizados pela exposição, alicerçados no conteúdo e no vínculo com o torcedor). Em outra direção, é fundamental uma ação coletiva (isoladamente, nenhum clube tem poder suficiente para contestar o modelo vigente de parceria com a TV).

As duas frentes passam necessariamente por um mesmo processo. Clubes precisam desenhar a experiência de seus torcedores com a marca, independentemente do modelo de consumo dessa marca. A comunicação só vai subir de nível no futebol brasileiro quando as diretorias entenderem que esse é um processo sistêmico, que abrange toda a relação das pessoas com o esporte – e com o time, por consequência. Nesse sentido, todo conteúdo é relevante e precisa ser bem cuidado. Isso vale até para os parâmetros adotados pela TV. Há tempos, a exposição deixou de ser suficiente.

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A carreira e o mercado de trabalho no futebol

Existe um ditado popular que afirma: “Se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia”.

Esta máxima, que você já deve ter escutado inúmeras vezes e, talvez, pronunciado quando estava avesso às opiniões alheias, retrata bem o que não deve balizar a sua conduta profissional.

Com alguns exemplos, na coluna de hoje tentarei retratar a relevância dos (bons) conselhos em nossa trajetória profissional. Se considerarmos os cargos disponíveis na gestão de campo (treinadores, assistentes, analistas, preparadores e adjuntos), é certo que existem cerca de 50 vagas no Brasil, para cada uma destas funções, que representam o topo do mercado de trabalho. É claro que dentre estas 50 vagas, as diferentes condições estruturais e financeiras dos clubes proporcionam um ranking que elitiza ainda mais os principais cargos de gestão de campo do futebol brasileiro.

É grande a chance de você que está lendo esta coluna não estar (bem como este que vos escreve), atualmente, numa destas vagas. Ao mesmo tempo, cabe a você construir a sua história, trilhar os seus caminhos e tomar as decisões que poderão conduzi-lo ao topo de sua profissão, ao menos no âmbito nacional.

Ao longo de minha ainda curta carreira profissional, uma das decisões que tomei (mais de uma vez) foi ter os ouvidos sempre prontos para escutar profissionais que, de alguma forma, exercem influência sobre minha atuação.

E entre os inúmeros conselhos que ouvi ao longo de quase 8 anos de profissão, três (de três profissionais diferentes) marcaram muito e foram determinantes nas constantes tomadas de decisão que são inerentes a nossa carreira. Foram estes:

“O mercado precisa saber quem você é, pois quem não é visto não é lembrado.”

“Você está preparado. Acredite!”

“A carreira no futebol não é linear.”

O primeiro conselho surgiu num momento de pouca experiência profissional e crença de que um trabalho bem feito, independentemente do local, seria suficiente para atrair os olhares do mercado e proporcionar um convite/proposta de crescimento profissional. Na ocasião fui alertado que o mercado precisaria saber quem eu era e quais eram as minhas ideias sobre o jogo de futebol.

O segundo conselho surgiu num momento em que hesitei participar de um processo seletivo (se é que podemos chamar de processo seletivo a maneira que o clube em questão contratava profissionais) para ser treinador numa das equipes das categorias de base de um grande clube do futebol brasileiro.

Ao comentar com um companheiro de profissão, ele me disse que eu estudava futebol constantemente, estava atualizado em relação as metodologias de treinamento e não possuía menos competências do que muitos outros profissionais que já haviam ocupado o cargo e, portanto, estava preparado. Naquele momento aprendi que deveria acreditar mais em mim e em meu trabalho.

E, por último, o conselho que inicialmente me incomodou, pois estava certo de que, após trabalhar como auxiliar-técnico do profissional e técnico de uma equipe sub-20, os próximos trabalhos seriam exclusivamente com estas categorias. Em minha (equivocada) opinião, profissionalmente, não seria cabível retornar as equipes iniciais de formação. Era mais uma de minhas crenças e esta classificava como um “rebaixamento” retornar a uma função com crianças e adolescentes. Através do conselho pude ampliar o olhar e entender melhor a rotatividade e dinâmica do mercado de gestores de campo e o quanto são distintas de outras profissões. Do momento em que o conselho foi dado até hoje, saí de uma equipe sub-17, passei pela sub-13, 17 e profissional de outra e, agora, estou em uma sub-23 de outra. Como “vítima” da rotatividade e dinâmica, uma crença poderia ter me impossibilitado de vivenciar experiências profissionais incríveis.

Quem me deu o conselho, recentemente saiu de uma equipe sub-15 para trabalhar com profissionais. Mais uma grande prova de que “a carreira no futebol não é linear”.

Para terminar, é bem provável que você ainda não esteja no ponto máximo que almeja para a sua carreira (bem como esse que vos escreve). É certo também que alguns conselhos não são suficientes para conduzir uma vida profissional de sucesso. Some a essa caminhada inúmeros desafios, aprendizados, escolhas, acertos, erros, vitórias, derrotas, alegrias, decepções, conquistas e fracassos. Some também inúmeros conselhos que não lhes serão úteis. Cabe a você ouvi-los e ter capacidade de discernimento.

Para você, deixo o meu conselho: Dedique-se muito, mantenha expectativas realistas e acredite que é possível chegar aos principais cargos de gestão de campo do futebol brasileiro. Dizem que se conselho fosse bom, ninguém dava, vendia. Você tem algum?

ps: Obrigado a todos que, em algum momento, me deram conselhos e, em especial, aos 3 profissionais que me referi na coluna. 

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Leandro Damião é multado pela Justiça

Recém-contratado pelo Cruzeiro para a temporada de 2015, o primeiro destaque do atacante Leandro Damião se deu nos Tribunais.

O atacante propôs perante a Justiça do Trabalho de Santos reclamatória trabalhista a fim de se desvincular do clube alvinegro praiano.

No intuito de se isentar das taxas e custas processuais, o atleta, com base no artigo 4º, da Lei 1060/50, apresentou “Declaração de Pobreza” e requereu os benefícios da Justiça Gratuita.

Segundo a lei 1060/50, terá os benefícios da Justiça Gratuita a parte que não estiver em condições de pagar as custas do processo e honorários de advogado sem prejuízo próprio e de sua família.

O Juiz da 4ª Vara do Trabalho de Santos, conhecedor da condição financeira de Leandro Damião que recebe cerca de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinquenta mil reais) por mês, negou o pedido de Justiça Gratuita e condenou o atacante ao pagamento de multa de 1% e a indenizar o clube santista no valor de 20% do valor da causa , nos termos do artigo 18, do Código de Processo Civil.

Como a causa tem o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais), Leandro Damião deverá pagar ao Santos R$ 5.000,00 (cinco mil reais) de multa e R$ 100.000,00 (cem mil reais) a título de indenização.

Prática bastante comum, especialmente na Justiça do Trabalho, a Justiça Gratuita tem o condão de permitir o acesso à Justiça aos cidadãos que não possuam condição financeira de arcar com as dispendiosas taxas e custas processuais.

Entretanto, tal prerrogativa há de ser avaliada com bastante cautela a fim de se evitar que cidadão com boa condição financeira não se beneficie em detrimento de partes verdadeiramente carentes.

Por outro lado, tanto a multa, quanto a indenização, foram bastante desproporcionais, eis que, além do processo ainda estar em seu início, a Lei 1060/50 estabelece a presunção do direito à Gratuidade da Justiça até que a parte contrária, no caso o Santos, a impugne.

Assim, por mais que seja correto, o indeferimento e consequente condenação do atleta não observaram a tramitação prevista em lei.

Ainda que o Magistrado esteja no exercício de seu dever de impedir violação dos direitos tributários do Estado, seria mais razoável negar o pedido de Justiça Gratuita e intimar o atleta a pagar as custas, sob pena de extinção do processo.

Por fim, destaque-se que a medida judicial no caso do atacante Leandro Damião pode instaurar precedente e acabar por inspirar decisões semelhantes em ações em que as partes não sejam tão claramente capazes de arcar com as taxas e custas processuais. 

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Sanção x Solução

Ganhamos uma batalha! Mas levamos? Essa é a dúvida que paira minha mente há algum tempo após inúmeros movimentos que vem surgindo no âmbito do futebol para pressionar por melhorias da governança da modalidade no país.

Nesta segunda-feira veio o esperado (???) veto presidencial da Lei de Responsabilidade Fiscal dos Clubes, a partir de um texto que previa o refinanciamento de dívidas dos clubes sem as contrapartidas destes para o implemento de um trabalho mais qualificado de gestão e de efetiva responsabilidade sobre as contas das entidades.

Ótimo! Ponto para aqueles que querem as mudanças, como eu. Na verdade, conquistou-se tempo para voltar a um debate sobre um modelo de legislação e efetiva aplicação desta lei (coisas de um país com amplo descrédito institucional: a lei pega ou não pega? Eis uma dúvida ridícula, mas factual. Se é lei, deveria ser lei. E ponto!).

E não se enganem: a CBF já trouxe a solução para a fiscalização da Lei. Prometeu incluir no regulamento de competições, evitando qualquer ensaio de agentes externos sobre o sistema. Disse, inclusive, que quem mais está apto a fazer este tipo de julgamento são eles mesmos, com sistema de justiça constitucionalmente reconhecidos. Olhando sob a ótima institucional, não estão errados em pensar desta maneira.

Enfim, por todo o histórico (passado e recente) de movimentos sobre ajustes econômicos, fiscais e financeiros dos clubes de futebol, o fato é que ainda não vejo com bons olhos o caminho que se está tentando seguir.

Não consigo ter a clareza de que uma lei possa provocar a mudança no comportamento dos gestores de clubes de futebol. Haverá, sim, uma adaptação aos pré-requisitos de uma regulamentação que poderá vir e, por mais que seja bem feita e respeitada, não será a garantia para que haja melhor gestão destas organizações.

Eu já fiz esta abordagem em outros textos aqui na Universidade do Futebol e, por isso, insisto: precisamos de um modelo de estímulos ao invés de punição. É preciso ensinar boas práticas de gestão aos clubes e, por seu turno, ao mercado, que compreende muito mal as similaridades e as diferenças das entidades esportivas de outras organizações que exercem uma atividade qualquer de negócios. Os dirigentes precisam, antes de tudo, competir para serem melhores gestores, na acepção da palavra!

Em suma: antes de punir, que tal estimularmos aqueles que fazem direito? Se o que se quer efetivamente é uma solução do problema para o futebol brasileiro, é fundamental rediscutir a forma desta solução e como se chega até ela. O veto presidencial deu tempo para este repensar – para todos os lados, é bom que se diga – e, quem sabe, buscarmos uma solução mais inteligente para aquilo que queremos. 

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Comunicação de crise no esporte

Não é qualquer pessoa que tem humildade suficiente para admitir que precisa de ajuda. Aliás, são poucos os que têm capacidade de analisar um ambiente com distanciamento necessário para entender que uma ação externa é necessária. Falar sobre isso, então, é um tabu para a maioria. O futebol brasileiro é prova disso.

Ter dívida não é um problema. Toda grande empresa tem. Quase toda pessoa tem (considere que compras parceladas, financiamentos de imóveis e até alguns investimentos são “dívidas”). No entanto, por décadas de absoluto despreparo para lidar com essa realidade, os clubes brasileiros acumularam déficit que afeta negativamente a gestão.

Pense na realidade de uma pessoa: alguém que contrai uma dívida de longo prazo (a compra de um carro, por exemplo) e se compromete a pagar esse valor em parcelas mensais precisa fazer concessões. Para ter receita suficiente, é fundamental cortar custos em outras frentes e ter responsabilidade com o salário recebido.

Clubes brasileiros fazem o contrário: têm dívidas, mas seguem gastando mais do que recebem. Na prática, a dívida aumenta constantemente até se tornar impagável.

Em tempo: pagar a dívida nem sempre é o melhor negócio no Brasil. Em muitas situações, o melhor negócio é conseguir uma renegociação com taxas menores, reservar o dinheiro necessário para o pagamento e lucrar com rendimento. Não é a saída mais ética do mundo, mas é muito usual.

O problema é que clubes brasileiros não fazem nem isso. Não há um planejamento para lidar com déficit, e tampouco existe uma equação financeira adequada a uma realidade de crise. Não é uma unanimidade, mas essa é a realidade mais comum no esporte do país – e não apenas no futebol.

Esse cenário tornou-se ainda mais cruel quando os times de futebol do Brasil passaram a lidar com orçamentos maiores. Com mais dinheiro, a saída responsável seria equacionar a dívida e criar um cenário sustentável para os anos seguintes. A saída imposta pelo mercado foi inflacionar contratos, pagar mais por profissionais e fazer negociações menos responsáveis.

A análise financeira do futebol brasileiro precisa ser mais aprofundada e individualizada, é claro, e esse texto não seria suficiente para isso. A questão aqui é que a comunicação precisa estar preparada para um dos momentos mais complicados da história do futebol brasileiro.

Clubes não têm dinheiro, e isso não é novidade. A novidade é que as dívidas altas têm influenciado diretamente o processo de gestão. Além dos prejuízos, clubes lidam com receitas antecipadas e pouca margem de negociação de curto prazo.

A negociação irresponsável de atletas também entra nessa conta. Clubes passaram anos abrindo mão de direitos sobre seus principais talentos, em negócios cujo foco era equacionar a dívida. O resultado? Em vez do déficit, o que diminuiu foi o ativo.

No último domingo, dois comentaristas de um programa do canal fechado “Fox Sports” discutiram sobre a reação a isso. Falando especificamente sobre o caso do Flamengo, que tem se esforçado para incluir austeridade na gestão e reduzir a dívida, um deles defendeu os preceitos incutidos na gestão do clube durante a gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello. Outro respondeu que a torcida liga pouco para isso e que qualquer avaliação do trabalho de um mandatário depende exclusivamente da quantidade de vitórias.

O Santos tem vivido dicotomia similar. Alguns dos principais jogadores do clube saíram por falta de pagamento – nomes como Edu Dracena, Arouca, Mena e Leandro Damião acionaram a Justiça para encerrar vínculo com o clube. Ainda assim, a diretoria contratou reforços para a temporada 2015 e foi atrás de nomes como o centroavante Ricardo Oliveira, que assinou um contrato de risco.

Se você fosse jogador do Santos e estivesse com salários atrasados, como reagiria a essas contratações? Como você lidaria com uma empresa que deixa de pagar o que deve para fazer novos investimentos?

O exemplo contrário é o Palmeiras. Depois de um ano extremamente conturbado, a diretoria alviverde fez uma montagem de elenco em 2015 que não teve apenas sentido técnico. As 15 contratações também foram feitas para mexer com a autoestima dos torcedores, que se empolgaram com a perspectiva de uma equipe mais forte.

O ápice disso foi a contratação do atacante Dudu, ex-jogador do Grêmio. O Palmeiras contratou o jogador depois de Corinthians e São Paulo terem passado dias disputando. Foi uma vitória que mostrou à torcida e ao mercado que o clube alviverde era uma alternativa real para os atletas mais badalados do mercado. Antes da justificativa técnica, foi uma negociação de fundo emocional.

O problema é que muitos clubes usam exclusivamente essa ideia. Contratações não são estratégicas, mas caminhos para mexer com a autoestima do torcedor e para dar respostas ao mercado.

No caso do Palmeiras, a contratação de Dudu foi atrelada a uma comunicação voltada a incrementar o programa de sócios do clube. Em um dia, foram mais de duas mil adesões.

E o Santos, o que tem feito para justificar tantas contratações? E os outros clubes que vivem momentos complicados? Fazer comunicação na crise é mais difícil, mas muito mais importante.

O futebol brasileiro precisa parar de agir como ricos falidos. Os clubes precisam deixar de ser aquelas pessoas que agem como se ainda fossem poderosas e que gastam como se tivessem como pagar.

As dívidas dos clubes brasileiros deixaram de ser administráveis. Pior: elas têm comprometido a gestão. Se os dirigentes quiserem pensar minimamente em um futuro rentável, é fundamental que eles adotem práticas austeras. E para isso, é fundamental fazer comunicação com foco em gestão de crise.

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Direitos econômicos, fair play financeiro e a nova realidade do futebol brasileiro

Enquanto a bola não rola, nos bastidores o momento é de muitas novidades, eis que a CBF decidiu incluir em suas normas e regulamentos a proibição de titularidade de direitos econômicos por investidores e regras de transparência e fair play financeiro e trabalhista.

No que tange aos investidores, a norma que foi inspirada inspirada em medidas da UEFA e da FIFA estabelece que a partir de maio, somente os clubes poderão ser titulares de direitos econômicos de atletas.

Os investidores são indispensáveis para a estrutura econômica dos clubes brasileiros, razão pela qual, acredita-se que os investidores acabarão por firmar contratos civis com os clubes que serão registrados em cartório.

Este contrato preverá que determinado percentual nas transações envolvendo atletas de futebol. Caso, após a transação, o clube não repasse a participação dos investidores, será cabível medida judicial, como, por exemplo, processo de execução para recebimento dos valores.

Com relação à transparência e fair play financeiro, trata-se de medida igualmente inspirada em medidas já adotadas na pela UEFA e por diversos países como a Espanha e Portugal e que, sem dúvidas corresponde a uma verdadeira revolução, já que, a partir de agora os clubes serão obrigados a comprovar a regularidade de suas obrigações tributárias; a existência e autonomia de Conselho Fiscal nas respectivas entidades; a redução do déficit operacional ou do prejuízo; o cumprimento de todos os contratos de trabalho e o regular pagamento dos respectivos encargos, de todos os profissionais contratados, mediante a apresentação dos comprovantes de pagamento de salários, de recolhimento de FGTS, de recolhimento das contribuições previdenciárias e de pagamento das obrigações contratuais e quaisquer outras havidas com os atletas e demais funcionários, inclusive direito de imagem, ainda que não guardem relação direta com o salário. As demonstrações financeiras dos clubes deverão ser transparentes ao explicitar receitas e despesas de forma clara.

Outrossim, a inobservância das regras de transparência e fair play poderá gerar punições gravosas como perda de de pontos, desclassificação ou rebaixamento. Tais medidas são aplicadas na Europa onde, em 2013, o Málaga ficou fora da Liga Europa por falta de pagamento dos salários dos atletas. Caso semelhante ocorreu na Itália em 2002, quando a Fiorentina teve sua vaga na série B negada e teve que disputar a C2.

Doutro giro, o fair play financeiro adotado na Inglaterra desde 2012 fortaleceu os clubes, já que como a organização financeira, as equipes passaram a ter maior facilidade para conseguir patrocínios e tiveram diminuída sua dependência de adiantamento de despesas ou empréstimos bancários.

No momento em que o país perde Ricardo Goulart e Diego Tardelli, dois de seus maiores craques, para o futebol chinês, as medidas implementadas pela CBF, se bem geridas podem revolucionar a gestão dos clubes brasileiros tornando-os mais profissionais e economicamente viáveis.