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Sanção x Solução

Ganhamos uma batalha! Mas levamos? Essa é a dúvida que paira minha mente há algum tempo após inúmeros movimentos que vem surgindo no âmbito do futebol para pressionar por melhorias da governança da modalidade no país.

Nesta segunda-feira veio o esperado (???) veto presidencial da Lei de Responsabilidade Fiscal dos Clubes, a partir de um texto que previa o refinanciamento de dívidas dos clubes sem as contrapartidas destes para o implemento de um trabalho mais qualificado de gestão e de efetiva responsabilidade sobre as contas das entidades.

Ótimo! Ponto para aqueles que querem as mudanças, como eu. Na verdade, conquistou-se tempo para voltar a um debate sobre um modelo de legislação e efetiva aplicação desta lei (coisas de um país com amplo descrédito institucional: a lei pega ou não pega? Eis uma dúvida ridícula, mas factual. Se é lei, deveria ser lei. E ponto!).

E não se enganem: a CBF já trouxe a solução para a fiscalização da Lei. Prometeu incluir no regulamento de competições, evitando qualquer ensaio de agentes externos sobre o sistema. Disse, inclusive, que quem mais está apto a fazer este tipo de julgamento são eles mesmos, com sistema de justiça constitucionalmente reconhecidos. Olhando sob a ótima institucional, não estão errados em pensar desta maneira.

Enfim, por todo o histórico (passado e recente) de movimentos sobre ajustes econômicos, fiscais e financeiros dos clubes de futebol, o fato é que ainda não vejo com bons olhos o caminho que se está tentando seguir.

Não consigo ter a clareza de que uma lei possa provocar a mudança no comportamento dos gestores de clubes de futebol. Haverá, sim, uma adaptação aos pré-requisitos de uma regulamentação que poderá vir e, por mais que seja bem feita e respeitada, não será a garantia para que haja melhor gestão destas organizações.

Eu já fiz esta abordagem em outros textos aqui na Universidade do Futebol e, por isso, insisto: precisamos de um modelo de estímulos ao invés de punição. É preciso ensinar boas práticas de gestão aos clubes e, por seu turno, ao mercado, que compreende muito mal as similaridades e as diferenças das entidades esportivas de outras organizações que exercem uma atividade qualquer de negócios. Os dirigentes precisam, antes de tudo, competir para serem melhores gestores, na acepção da palavra!

Em suma: antes de punir, que tal estimularmos aqueles que fazem direito? Se o que se quer efetivamente é uma solução do problema para o futebol brasileiro, é fundamental rediscutir a forma desta solução e como se chega até ela. O veto presidencial deu tempo para este repensar – para todos os lados, é bom que se diga – e, quem sabe, buscarmos uma solução mais inteligente para aquilo que queremos. 

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Comunicação de crise no esporte

Não é qualquer pessoa que tem humildade suficiente para admitir que precisa de ajuda. Aliás, são poucos os que têm capacidade de analisar um ambiente com distanciamento necessário para entender que uma ação externa é necessária. Falar sobre isso, então, é um tabu para a maioria. O futebol brasileiro é prova disso.

Ter dívida não é um problema. Toda grande empresa tem. Quase toda pessoa tem (considere que compras parceladas, financiamentos de imóveis e até alguns investimentos são “dívidas”). No entanto, por décadas de absoluto despreparo para lidar com essa realidade, os clubes brasileiros acumularam déficit que afeta negativamente a gestão.

Pense na realidade de uma pessoa: alguém que contrai uma dívida de longo prazo (a compra de um carro, por exemplo) e se compromete a pagar esse valor em parcelas mensais precisa fazer concessões. Para ter receita suficiente, é fundamental cortar custos em outras frentes e ter responsabilidade com o salário recebido.

Clubes brasileiros fazem o contrário: têm dívidas, mas seguem gastando mais do que recebem. Na prática, a dívida aumenta constantemente até se tornar impagável.

Em tempo: pagar a dívida nem sempre é o melhor negócio no Brasil. Em muitas situações, o melhor negócio é conseguir uma renegociação com taxas menores, reservar o dinheiro necessário para o pagamento e lucrar com rendimento. Não é a saída mais ética do mundo, mas é muito usual.

O problema é que clubes brasileiros não fazem nem isso. Não há um planejamento para lidar com déficit, e tampouco existe uma equação financeira adequada a uma realidade de crise. Não é uma unanimidade, mas essa é a realidade mais comum no esporte do país – e não apenas no futebol.

Esse cenário tornou-se ainda mais cruel quando os times de futebol do Brasil passaram a lidar com orçamentos maiores. Com mais dinheiro, a saída responsável seria equacionar a dívida e criar um cenário sustentável para os anos seguintes. A saída imposta pelo mercado foi inflacionar contratos, pagar mais por profissionais e fazer negociações menos responsáveis.

A análise financeira do futebol brasileiro precisa ser mais aprofundada e individualizada, é claro, e esse texto não seria suficiente para isso. A questão aqui é que a comunicação precisa estar preparada para um dos momentos mais complicados da história do futebol brasileiro.

Clubes não têm dinheiro, e isso não é novidade. A novidade é que as dívidas altas têm influenciado diretamente o processo de gestão. Além dos prejuízos, clubes lidam com receitas antecipadas e pouca margem de negociação de curto prazo.

A negociação irresponsável de atletas também entra nessa conta. Clubes passaram anos abrindo mão de direitos sobre seus principais talentos, em negócios cujo foco era equacionar a dívida. O resultado? Em vez do déficit, o que diminuiu foi o ativo.

No último domingo, dois comentaristas de um programa do canal fechado “Fox Sports” discutiram sobre a reação a isso. Falando especificamente sobre o caso do Flamengo, que tem se esforçado para incluir austeridade na gestão e reduzir a dívida, um deles defendeu os preceitos incutidos na gestão do clube durante a gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello. Outro respondeu que a torcida liga pouco para isso e que qualquer avaliação do trabalho de um mandatário depende exclusivamente da quantidade de vitórias.

O Santos tem vivido dicotomia similar. Alguns dos principais jogadores do clube saíram por falta de pagamento – nomes como Edu Dracena, Arouca, Mena e Leandro Damião acionaram a Justiça para encerrar vínculo com o clube. Ainda assim, a diretoria contratou reforços para a temporada 2015 e foi atrás de nomes como o centroavante Ricardo Oliveira, que assinou um contrato de risco.

Se você fosse jogador do Santos e estivesse com salários atrasados, como reagiria a essas contratações? Como você lidaria com uma empresa que deixa de pagar o que deve para fazer novos investimentos?

O exemplo contrário é o Palmeiras. Depois de um ano extremamente conturbado, a diretoria alviverde fez uma montagem de elenco em 2015 que não teve apenas sentido técnico. As 15 contratações também foram feitas para mexer com a autoestima dos torcedores, que se empolgaram com a perspectiva de uma equipe mais forte.

O ápice disso foi a contratação do atacante Dudu, ex-jogador do Grêmio. O Palmeiras contratou o jogador depois de Corinthians e São Paulo terem passado dias disputando. Foi uma vitória que mostrou à torcida e ao mercado que o clube alviverde era uma alternativa real para os atletas mais badalados do mercado. Antes da justificativa técnica, foi uma negociação de fundo emocional.

O problema é que muitos clubes usam exclusivamente essa ideia. Contratações não são estratégicas, mas caminhos para mexer com a autoestima do torcedor e para dar respostas ao mercado.

No caso do Palmeiras, a contratação de Dudu foi atrelada a uma comunicação voltada a incrementar o programa de sócios do clube. Em um dia, foram mais de duas mil adesões.

E o Santos, o que tem feito para justificar tantas contratações? E os outros clubes que vivem momentos complicados? Fazer comunicação na crise é mais difícil, mas muito mais importante.

O futebol brasileiro precisa parar de agir como ricos falidos. Os clubes precisam deixar de ser aquelas pessoas que agem como se ainda fossem poderosas e que gastam como se tivessem como pagar.

As dívidas dos clubes brasileiros deixaram de ser administráveis. Pior: elas têm comprometido a gestão. Se os dirigentes quiserem pensar minimamente em um futuro rentável, é fundamental que eles adotem práticas austeras. E para isso, é fundamental fazer comunicação com foco em gestão de crise.

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Direitos econômicos, fair play financeiro e a nova realidade do futebol brasileiro

Enquanto a bola não rola, nos bastidores o momento é de muitas novidades, eis que a CBF decidiu incluir em suas normas e regulamentos a proibição de titularidade de direitos econômicos por investidores e regras de transparência e fair play financeiro e trabalhista.

No que tange aos investidores, a norma que foi inspirada inspirada em medidas da UEFA e da FIFA estabelece que a partir de maio, somente os clubes poderão ser titulares de direitos econômicos de atletas.

Os investidores são indispensáveis para a estrutura econômica dos clubes brasileiros, razão pela qual, acredita-se que os investidores acabarão por firmar contratos civis com os clubes que serão registrados em cartório.

Este contrato preverá que determinado percentual nas transações envolvendo atletas de futebol. Caso, após a transação, o clube não repasse a participação dos investidores, será cabível medida judicial, como, por exemplo, processo de execução para recebimento dos valores.

Com relação à transparência e fair play financeiro, trata-se de medida igualmente inspirada em medidas já adotadas na pela UEFA e por diversos países como a Espanha e Portugal e que, sem dúvidas corresponde a uma verdadeira revolução, já que, a partir de agora os clubes serão obrigados a comprovar a regularidade de suas obrigações tributárias; a existência e autonomia de Conselho Fiscal nas respectivas entidades; a redução do déficit operacional ou do prejuízo; o cumprimento de todos os contratos de trabalho e o regular pagamento dos respectivos encargos, de todos os profissionais contratados, mediante a apresentação dos comprovantes de pagamento de salários, de recolhimento de FGTS, de recolhimento das contribuições previdenciárias e de pagamento das obrigações contratuais e quaisquer outras havidas com os atletas e demais funcionários, inclusive direito de imagem, ainda que não guardem relação direta com o salário. As demonstrações financeiras dos clubes deverão ser transparentes ao explicitar receitas e despesas de forma clara.

Outrossim, a inobservância das regras de transparência e fair play poderá gerar punições gravosas como perda de de pontos, desclassificação ou rebaixamento. Tais medidas são aplicadas na Europa onde, em 2013, o Málaga ficou fora da Liga Europa por falta de pagamento dos salários dos atletas. Caso semelhante ocorreu na Itália em 2002, quando a Fiorentina teve sua vaga na série B negada e teve que disputar a C2.

Doutro giro, o fair play financeiro adotado na Inglaterra desde 2012 fortaleceu os clubes, já que como a organização financeira, as equipes passaram a ter maior facilidade para conseguir patrocínios e tiveram diminuída sua dependência de adiantamento de despesas ou empréstimos bancários.

No momento em que o país perde Ricardo Goulart e Diego Tardelli, dois de seus maiores craques, para o futebol chinês, as medidas implementadas pela CBF, se bem geridas podem revolucionar a gestão dos clubes brasileiros tornando-os mais profissionais e economicamente viáveis.
 

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Um real motivo para a busca pelo melhor desempenho

Muitas vezes percebemos que diversos atletas não obtém o melhor desempenho de suas carreiras, mesmo tendo condições de atuarem nos melhores clubes e nem com a participação das melhores preparações em diversas pré-temporadas.

Podemos nos perguntar o que realmente acontece com a carreira destes atletas. Será que estão sem estímulo para avançar em seus melhores desempenhos ou não acreditam que podem evoluir em termos profissionais?

Quero contribuir com uma reflexão sobre um ponto que talvez possa ser um elemento chave nesta investigação: a falta de uma grande missão em sua vida profissional e a consequente ausência de metas que podem levá-lo a alcançar este resultado final de carreira.

Uma missão que pode nos trazer um propósito para nossas vidas é fundamental para cada um de nós e com o atleta funciona da mesma forma. Dentro de um processo de coaching esportivo o atleta pode definir sua missão e propósito, de forma que estes possam impulsionar seu desempenho profissional e consequentemente sua carreira.

Ao se elaborar a missão e o propósito, o atleta pode elaborar uma lista de grandes metas ou realizações desejadas para sua carreira, como se fosse uma verdadeira lista de sonhos ou desejos, até porque é importante compreender que todo bom planejamento de ações começa com um sonho a realizar.

Esta lista de metas ou objetivos podem ser categorizadas e classificadas, de forma que isto facilite a consequente priorização das ações a serem executadas, bem como os prazos para realiza-las. A partir deste ponto o atleta é orientado e estimulado a construir objetivos bem formulados, que sejam valiosos para ele e estejam de acordo com sua missão e propósito.

Neste ponto em particular acredito estar a grande chave do sucesso da formulação de metas e objetivos para um melhor desempenho profissional, pois de nada adiante termos metas audaciosas e objetivos bem formulados se estes não possuem alinhamento ou congruência com os desejos mais genuínos de quem os persegue.

É de fundamental importância este alinhamento e penso que muitas vezes esta reflexão e questionamento não acontece na vida do atleta, que passa muito mais a navegar conforme o sabor do vento, do que buscar sinceramente conquistas que o permitirão a ele ter inspiração e motivação suficientes para superar seus próprios obstáculos.

Como disse um dia Viktor Frankl: “Quem tem um porquê, enfrenta qualquer como”, e esta frase ilustra exatamente a importância de termos missão e propósito bem definidos nas faces profissional e pessoal de nossas vidas, independente de sermos atletas profissionais ou não.

Até a próxima!
 

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Precisamos de um projeto de nacionalização dos clubes brasileiros

É impressionante a energia que é gasta por “grandes especialistas” que analisam a gestão dos clubes brasileiros sobre a magia de se construir projetos de internacionalização das marcas destas entidades. De fato, trata-se de um campo ainda pouco explorado pelo mercado brasileiro e com grande potencial de aferição de receitas. Fluminense e Corinthians estão fazendo as primeiras incursões em solo americano, registrando grande repercussão positiva. É inegável!

Mas o que me preocupa mais e me tira um pouco o sono quando pensamos em “futuro do futebol brasileiro” é, na verdade, a necessidade de editarmos um projeto consistente de NACIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO, com o perdão da redundância.

Aliás, esse termo não é novo. Aod Cunha, em um famoso documento que versa sobre o futuro da gestão do futebol, aborda em um dos itens que apenas os clubes que forem capazes de ter uma base nacional e internacional de torcedores / consumidores / simpatizantes terão orçamentos competitivos.

O fato é que, a cada semana, há algum tempo, leio ou vejo projetos de clubes europeus com projetos voltados para o mercado brasileiro. E com grande sucesso. Nas redes sociais, são raros os jovens (torcedores / consumidores / simpatizantes) que levantam uma bandeira em defesa do futebol brasileiro. Muito pelo contrário: a grande maioria dos debates redunda naquilo que ocorre no futebol internacional.

Em uma série de reportagens recente do “Bom Dia Brasil”, da TV Globo, o último episódio (em 26-dez-2014 – pode ser acessado aqui: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/edicoes/2014/12/26.html) mostrou o crescimento do apreço das crianças por craques e equipes internacionais. Nas escolinhas, as crianças preferem ir treinar com uma camisa de clube estrangeiro e não brasileiro. Isso é assustador!!! Sem falar na programação da TV Fechada, do acesso a Internet e dos jogos de vídeo game, que aproximaram este público do que ocorre lá fora.

Muito mais por eficiência do projeto de internacionalização que os europeus começaram já na última década que se somou ao trabalho de marketing ainda em fase de “descobertas” no futebol brasileiro. Ou seja, por aqui, os bons projetos, quando feitos, são isolados e/ou de curta duração.

Um exemplo da premissa acima está na escolha aleatória de jogos que alguns clubes do sudeste fazem no Norte, Nordeste ou Centro-Oeste, aproveitando as novas arenas da Copa 2014. A ideia, a bem da verdade, seria ótima, se fosse bem executada. O que ocorre é uma tomada de decisão baseada, mais das vezes, no desespero: o time vem mal há três jogos e a torcida não comparece. Então a “solução” é tirar o jogo do estádio principal para colocá-lo em um lugar X, que naquele momento poderá render uns trocados a mais. Um projeto como este pode e deve ser bem estruturado para o alcance de algo positivo, focado no fortalecimento da marca dos clubes em território nacional, cumprindo uma ação dentro de uma estratégia maior.

Em síntese, a premissa para iniciar um projeto de internacionalização dos clubes brasileiros deveria ser a seguinte: apenas quando a maioria dos jovens torcedores do clube conseguir, espontaneamente, falar mais de meia dúzia de nomes de jogadores do elenco atual do próprio time.

A ironia não é uma provocação. É simplesmente por acreditar que a conquista de novos territórios só é saudável sob o ponto de vista dos negócios quando se tem bases sólidas no seu mercado de origem.

E finalizo para reforçar todo o potencial que o mercado brasileiro ainda possui. Os clubes do exterior perceberam isso há algum tempo, após uma boa análise do nosso mercado. Se continuarmos ignorando esse fato, talvez as próximas gerações irão aprender língua estrangeira com o futebol e não mais dentro de escolas de idiomas especializadas… 

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Coisas que só acontecem no Botafogo

Há coisas que só acontecem no Botafogo. Diversos episódios históricos contribuíram para a consolidação dessa frase na cultura popular do futebol brasileiro – não existe clube nacional que seja mais ligado a superstições, por exemplo. Em 2015, porém, já é grande a lista de coisas que só acontecem no Botafogo. Ao menos no segmento de comunicação, o time alvinegro não precisou sequer de um mês para ser um caso raro no país.

Dois exemplos disso estão ligados à reformulação do elenco. Rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, o Botafogo mudou muitas peças desde o término de 2014. O processo de renovação do grupo de atletas tem sido norteado por uma contundente corta de custos – nenhum dos contratados tem salário superior a R$ 100 mil mensais.

O corte é ainda mais claro do que o que havia acontecido na temporada 2014, quando o Botafogo já havia feito um ajuste na realidade econômica de seu elenco. No início do ano passado, o time alvinegro reduziu de R$ 5 milhões para R$ 3,5 milhões mensais a folha salarial e acabou com arroubos como o negócio com o holandês Clarence Seedorf, que recebia R$ 700 mil por mês quando defendia o clube.

A adequação financeira é um processo, portanto, que tem relação com uma série de fatores. É um reflexo de aspectos como a realidade do mercado, as dívidas acumuladas pelo clube em anos passados e a busca por uma política de austeridade. A lista que podia compor uma justificativa para o novo momento é extensa, mas não foi nada disso que o gerente de futebol do Botafogo, Antonio Lopes, usou ao apresentar os reforços Alisson e Bill.

“Todos sabem que o Botafogo tem um orçamento elaborado pela direção, e o futebol precisa cumprir isso. Temos essa missão e logicamente temos uma faixa salarial para contratar e cumprir. Contratar com um salário de R$ 200 mil é fácil, mas a nossa realidade é outra. Tivemos de garimpar e monitorar jogadores”, explicou o dirigente.

A torcida do Botafogo já tinha vários motivos para estar preocupada. O time tem graves problemas financeiros, vem de um descenso no Campeonato Brasileiro e sofreu diversos abalos recentes de auto-estima. E aí, em meio a um processo de reformulação, um dirigente assume o discurso de “é o que tem para hoje” ao se referir aos reforços. Num momento assim, independentemente dos nomes, o processo de comunicação deveria ser o contrário. Alisson e Bill podiam ser arautos da esperança de um novo momento e da reconstrução do time, mas viraram reflexos de um momento ruim.

A apresentação deles, aliás, teve uma segunda aula de comunicação. Uma repórter interpelou Bill durante a entrevista coletiva e fez uma primeira pergunta sobre a transferência para o Botafogo.

“A gente comentou há pouco que você fez uma ótima campanha com o Ceará no ano passado, fez vários gols e foi artilheiro. Você ajudou o Ceará a ir para a primeira divisão, e mesmo assim aceitou vir para o Botafogo e voltar a disputar a segunda divisão. Queria que você dissesse o que o estimulou a ficar na segunda divisão”.

A resposta de Bill foi sensacional: “Olha, o Ceará não subiu. Ficou na segunda ainda. Infelizmente, por seis pontos a gente não subiu”.

A repórter fez uma segunda tentativa, e isso deixou a história ainda mais insólita. “A gente conversava com seu pai lá embaixo também, e ele disse que era Fluminense, mas que agora o time dele é o Botafogo. Queria saber se é um pouco isso para toda sua família, se jogar no Rio de Janeiro estimulou você. Outro ponto que ele acabou confessando é que um problema que você teve no Ceará foi com mulheres, mas ele já puxou sua orelha para isso não acontecer aqui”.

“Não. Sou casado, e graças a Deus muito bem casado. Isso que você falou é mentira. Você está doida? Esse negócio com mulheres já passou. Hoje eu sou muito bem casado, tenho dois filhos maravilhosos e chego ao Botafogo muito feliz de poder trabalhar aqui. Você me quebrou, hein? E outra coisa: não era meu pai, não. Só se meu pai saiu do caixão. Infelizmente, meu pai faleceu e minha mãe também”, respondeu Bill em tom bem humorado.

A repórter esbarrou em uma das questões mais básicas sobre comunicação. Não há mensagem adequada sem uma preparação bem feita, bem associada ao repertório. Não há conversa que não seja alicerçada em informações.

Na sexta-feira (09), no auge da crise em Paris, a repórter Cecília Malan entrou ao vivo na TV Globo. Questionada pelo apresentador Evaristo Costa sobre notícias de momento, ela respondeu com um sincero “Estou na rua, e aqui não tem internet”.

São duas distorções interessantes. A primeira repórter confiou totalmente em conversas, sem ter sequer checado se a fonte com quem havia conversado era realmente o pai do jogador. A segunda se resignou por dificuldades técnicas – agravadas, é claro, pela instabilidade da cidade e pela dificuldade para buscar informações num cenário tão ameaçador. A jornalista da Globo tinha ouvido o estouro de duas bombas enquanto fazia a entrada ao vivo anterior.

Ainda assim, os dois episódios são exemplos de como a comunicação pode ser truncada pela falta de repertório do emissor da mensagem. Independentemente da finalidade, a preparação é uma etapa preponderante nesse processo.

Também é o repertório que transformou uma terceira notícia do Botafogo em um dos episódios mais marcantes da janela de transferências do futebol brasileiro. Jefferson, principal ídolo do atual elenco e titular da seleção brasileira, renovou contrato e vai disputar a segunda divisão.

O movimento de Jefferson não é inédito – Marcos havia feito o mesmo quando o Palmeiras caiu, por exemplo –, mas o momento fez com que essa decisão tivesse enorme repercussão. Com o ocaso de Rogério Ceni, que está cada vez mais perto da aposentadoria, e a saída de outros bons valores, como Neymar, quais são os ídolos que sobram no futebol brasileiro? Quais jogadores que atuam no país são realmente identificados com seus clubes e servem como exemplos para seus torcedores?

Jefferson é uma raridade. Não apenas por ser ídolo num contexto em que isso é cada vez mais raro, mas também por ter valorizado a história. Ele podia ter priorizado aspectos como dinheiro ou permanência na seleção brasileira, por exemplo.

A questão agora é o que vai ser feito disso. O Botafogo tem obrigação de dar a Jefferson um tratamento adequado. A temporada atual tem de ser a de consolidação do goleiro como grande referência do futebol nacional.

O repertório que faltou à repórter é a maior arma do Bot
afogo no caso de Jefferson. Não é necessário fazer nada além de exaltar o que ele já fez pelo clube, mesmo nos momentos mais conturbados. Jefferson é exceção e deve ser tratado como nenhum outro jogador no cenário nacional. Mas será que “há coisas que só acontecem no Botafogo” também sobre isso? 

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O termômetro do futebol brasileiro

A temporada de 2015 começou!

Algumas contratações, muitas dificuldades econômicas, a manutenção no cargo de muitos treinadores na elite do futebol nacional e as dúvidas constantes sobre quais problemas limitam o retorno ao protagonismo individual e coletivo, do jogador e do jogo brasileiro, no cenário mundial.

Nas mesas redondas e reportagens que se discutem tais problemas, tem sido comum apontarem: o trabalho desenvolvido nas categorias de base, a pressão constante por resultados que afeta a qualidade do jogo, o desaparecimento gradativo dos campos de várzea (e, consequentemente, dos craques), a gestão predominantemente não profissional da maioria dos clubes brasileiros e até a baixa qualificação profissional dos nossos treinadores.

Opiniões com visão mais ampliada inter-relacionam os fatos e diagnosticam que um conjunto de elementos de todas as áreas que envolvem a modalidade, seja política, técnica ou administrativa, estão desajustados. Isto reflete negativamente nos 90 minutos.

Afinal, como atividade-fim, os 90 minutos (e somente eles) importam. É por esta preciosa hora e meia que todos os processos de um clube, dos administrativos aos técnicos são planejados e executados.

Sucesso terão os clubes que aliada às buscas por vitórias nos 90 minutos privilegiarem a sustentabilidade e o lucro como prática organizacional.

Sabemos, no entanto, que a obsessão pela vitória a qualquer custo desconsidera a fórmula básica de uma gestão empresarial.

Retomando o foco do texto para os 90 minutos e, mais especificamente, para o produto tático que muitas equipes do nosso futebol têm apresentado, na sequência da coluna serão divulgadas duas imagens (transferidas ao software Tactical Pad) extraídas de um jogo da Série A do Campeonato Brasileiro.

O objetivo da exposição destas imagens é instigá-lo e questioná-lo sobre como terminamos a temporada anterior e cronologicamente iniciamos a temporada atual, sem tempo hábil para profundas transformações em nosso jogo.

Abaixo, a primeira imagem:


 

A equipe do lado esquerdo da imagem tem a posse de bola com o jogador destacado. O adversário, em organização defensiva, mostra-se estruturado em 1-4-2-3-1, com a linha de defesa identificada em vermelho, de volantes em laranja e de meias em amarelo.

Nesta jogada, a equipe com posse realizou uma circulação da bola, alterou o corredor de ataque e realizou as seguintes movimentações durante a referida circulação:

Na sequência, a resposta coletiva da equipe sem bola na tentativa de neutralizar o ataque oponente:

Não “cobrir” a bola (pressionando a região do oponente portador da bola), expor o eixo central e acompanhar individualmente as trocas de posição gerando espaços vazios perigosos são alguns comportamentos de jogo que podemos observar nesta imagem.

Incomoda afirmar que as respostas desta equipe, bem diferentes do que as principais equipes do futebol mundial executariam num lance semelhante, também é a resposta de muitas outras espalhadas pelo país.

No final das contas, o que vale são os 90 minutos. No futebol brasileiro atual temos apresentado problemas durante boa parte deste tempo.

Gostaria de saber a sua opinião!

 

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Futebol amador e a Lei de Incentivo ao Esporte: aspectos jusdesportivos

Em Minas Gerais, nos meses de dezembro e janeiro, enquanto a bola não rola com Atlético, Cruzeiro e América, entra em campo a Copa Itatiaia que reúne equipes amadoras de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Na região, o futebol amador, celeiro de craques, atrai a atenção desportiva neste início de temporada há mais de 50 anos.

Sob o ponto de vista técnico, a atividade esportiva pode ser profissional ou não-profissional (amadora). Segundo a Lei Pelé o desporto profissional é caracterizado pela remuneração pactuada em contrato de trabalho entre o atleta e a entidade desportiva. Por outro lado, a atividade não-profissional é identificada pela liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio.

Assim, somente poderão disputar a Copa Itatiaia equipes que não possuam atletas com vínculo empregatício. Doutro giro, são permitidos incentivos como ajudas de custo e prêmios.

Importante destacar que a Copa Itatiaia é realizada pela Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) "De Peito Aberto", por meio da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, em parceria com a Vivo e Rádio Itatiaia.

As Oscips recebem esse título do Ministério da Justiça de forma a viabilizar parcerias e convênios com o governo e órgãos públicos, ou seja, “De Peito Aberto” é uma Organização Não Governamental que, ao comprovar uma série de requisitos como transparência administrativa, recebeu o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

Já a Lei de Incentivo ao Esporte (Lei 11.438/2006) permite que empresas e pessoas físicas invistam parte do valor que pagariam a título de Imposto de Renda em projetos esportivos aprovados pelo Ministério do Esporte, ou seja, para receber apoios financeiros, o projeto da Copa Itatiaia foi previamente aprovado por um órgão governamental.

Tais apontamentos mostram que a tradicionalíssima Copa Itatiaia, que se encontra em sua fase final, além de ser sucesso de público e qualidade técnica, ainda conta com o apoio de grandes empresas como a Vivo e a Rádio Itatiaia e com a aprovação de órgãos governamentais como o Ministério dos Esportes.

Portanto, a Copa Itatiaia é um grande exemplo de envolvimento social com atividade desportiva não-profissional viabilizada por meio da Lei de Incentivo ao Esporte.
 

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Liberdade de expressão

– Pai, o que é liberdade de expressão?

– É poder falar o que você quiser, filho.

– Valeu, pai. Então deixa eu xingar esse macaco filho da p#$@ do Luan!

– Não, filho. Peraí. Não é assim. Você não pod…

– Vou chamar aquele mico de chaminé do avesso! Ele vai se fu$5#@ aquele retardado, placenta de p#$%! Viado da p%$$@, só faltava ser judeu, aquela b2$&@ de terrorista muçulmano do cacete!

– Filho!!! Que é isso?

– É o que penso desse m#@$% do c@#@&%$!

– Não é assim. Você pode falar o que pensa só quando você pode arcar com isso. Não é para sair detonando, xingando, maltratando.

– É o que eu penso dele, pai. Vou falar o que eu acho dele. Ninguém tem nada a ver com isso.

– Quem fala o que pensa não pensa no que fala, filho.

– Mas você falou que liberdade de expressão é isso?

– É. Mas você precisa respeitar a liberdade de quem não gosta da sua expressão.

– Então você é contra falar o que pensa?

– Não. Eu sou contra quem fala o que vem à cabeça – se é que vem alguma coisa. Sou contra quem fala pelos cotovelos e com cotovelite. Sou contra quem pensa com o fígado. Sou contra quem usa o que há de melhor no humor para causar e tacar terror. Sou a favor de que todos se manifestem sobre tudo. Mas que todos arquem com as consequências e com a própria consciência. Ou a falta dela.

– Eu acho que tem mais é de ser sincero sempre, pai!

– Nem sempre é virtude a sinceridade. Certas coisas podem ser pensadas. Mas não ditas. E, sobre certos assuntos mais complexos, eu gostaria que as pessoas entendessem e respeitassem as opiniões contrárias. Até dos que não parecem entender muita coisa, e menos ainda respeitar quem pensa diferente.

– Não entendo.

– Você vai entender um dia quando for adulto, filho.

– Mas e isso que aconteceu em Paris com o pessoal daquela revista? Eles foram mortos por detonarem todo mundo? Mas não era brincadeira? Você não diz que com bom humor a gente supera tudo?

– Isso você vai entender menos ainda quando for adulto, filho.

– Tem hora que eu não quero crescer, pai.

– Tem dia que eu gostaria de pegar você e o mundo no colo e botar para dormir para ver se a gente pode começar tudo de novo.
 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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O atleta pensando no futuro

Sempre que iniciamos uma temporada no futebol, muitos atletas têm a oportunidade de viver um momento de reflexões e avaliações sobre o que se deseja para um futuro próximo. Uma boa estratégia para avançar na direção que se deseja são usar a abusar do poder das metas e vou compartilhar com vocês alguns pontos valiosos sobre esse assunto na coluna de hoje.

James Allen disse: “Você se tornará tão pequeno quanto seu desejo de controlar; tão grande quanto sua aspiração dominante”. Sabemos que uma das maiores descobertas da humanidade é que as pessoas possuem a possibilidade de tornarem-se aquilo em que pensam a maior parte do tempo. Se pesquisarmos o comportamento de muitos atletas profissionais de alto desempenho poderemos perceber que eles possuem em comum um pensamento no futuro, para onde desejam ir e o que podem fazer para aumentar as chances de chegar lá. Assim, podemos compreender quer orientação para o futuro é de grande importância na vida dos atletas que buscam seus melhores resultados na carreira esportiva.

Existem dois pontos citados por Brian Tracy, em seu livro Metas, que podem auxiliar um atleta que deseja estar orientado para o futuro.

•Recusar-se a comprometer seu sonho

Ao se praticar a idealização e orientação para o futuro o atleta geralmente não compromete seus grandes sonhos de carreira e consegue manter-se mais alinhado com o que deseja. Assim, passa a não aceitar metas muito pequenas e fáceis de atingir, ele sonha alto e passa a se projetar mentalmente para frente. Para imaginar como seria isso, sugere-se ao atleta responder às seguintes perguntas sobre a sua carreira daqui num período de cinco anos:

1.Como seria ela?
2.O que você estaria fazendo?
3.Onde estaria?
4.Em qual clube ou país estaria jogando?
5.Que nova habilidade teria desenvolvido?

•Fazer

A diferença básica entre as pessoas que realizam muito e as que realizam pouco é a “orientação para a ação”. Os grandes destaques esportivos que geralmente alcançam grandes resultados são intensamente voltados para a ação, estão constantemente em movimento e colocam muitas ideias valiosas em prática. Os atletas podem refletir sobre a capacitação de se orientar para a ação respondendo as perguntas abaixo, imaginando que alcançou o mais algo grau de desenvolvimento profissional possível para ele.

1.Quais ideias inovadoras em seu campo de atuação teriam concretizado daqui a cinco anos?
2.O que deveria ter feito diariamente para manter o foco na ação de tarefas para desenvolver competências e aptidões de que se precisa para ser um dos profissionais de mais alto desempenho na sua área esportiva?

Com essas reflexões o atleta estará mentalmente estimulado para conseguir responder a seguinte e importante pergunta: Como posso alcançar as aptidões, habilidades e competências necessárias para ser uma referência no alto de desempenho nos próximos anos e com isso conseguir materializar os resultados desejados?

Acho muito valiosa a reflexão acima sugerida neste momento do ano, porém cabe lembrar que ela também poderá ser feita em qualquer momento da carreira, desde que o atleta passe a ter intenso desejo de ter uma carreira acima da média no seu campo de atuação.

Até a próxima.