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Jogo é o reflexo do treino

Precisamos aprender com nossos erros. Aliás, os erros são fundamentais para a evolução em qualquer seguimento da vida e até mesmo para a vida. No futebol não é diferente. Costumo dizer que a derrota só é derrota quando não aprendemos nada com ela. Os problemas gerados com uma derrota aumentam o estresse em tudo que é interveniente no futebol. O estresse não é somente um perigo para a vida, que deve ser controlado e neutralizado por mecanismos adaptativos, mas também é criador de uma vida superior. O ideal seria aprender com o erro dos outros, mas, infelizmente, é raro ver isso acontecer, principalmente na cultura que vivemos. Na sua maioria, precisa-se errar para aprender. O que, como nós bem sabemos, em alguns casos nem assim aprendemos. Continuamos sempre cometendo os mesmos erros. Albert Einstein já dizia: “insanidade mental é fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes”.

Uma analogia que faço com essa introdução está no processo de ensino-treino no futebol. Onde uma condição essencial para gerar um bom futebol é a qualidade do estímulo que oferecemos aos nossos atletas. O treino é tudo. A única forma de construirmos e criarmos algo no jogador e na equipe, é com o treino. Ficamos muito apreensivos com o que o jogador irá produzir em campo, só esquecemos que o jogo é reflexo do treino. Assim como o comportamento do jogador é reflexo diretamente proporcional da qualidade do treino e informação que oferecemos a ele. Uma teoria na qual o reflexo é a base do aprendizado.

Contudo, o ser humano pode aprender e se desenvolver sem uma fonte específica de ensino. Mesmo sem estímulos externos, o ser humano não é um sistema passivo, mas um sistema intrinsicamente ativo. A teoria do reflexo supôs que o elemento primário do comportamento é a resposta aos estímulos externos. O estímulo não causa um processo em um sistema, mas apenas modifica processos em um sistema autonomamente ativo. A teoria educacional do estímulo-resposta considera que o comportamento humano é uma resposta a estímulos provenientes do exterior. A parte mais importante (comportamentos reflexos e instintivos)  são as respostas adquiridas ou condicionadas.

Um dos sintomas da doença mental é a danificação da espontaneidade. Não pretendo, nem quero fazer com que o não tenha criatividade na solução de respostas. Mecanizar o jogador e a equipe, é se auto-destruir aos poucos. Mas precisamos entender que o jogo é reflexo do treino. Tão quanto o nível da qualidade de informação, será a qualidade do jogo apresentada, individualmente e coletivamente. O treino é o único meio que temos para modificar o comportamento da nossa equipe. Precisamos tratá-lo com mais cuidado e nos dedicarmos mais na sua construção e elaboração.

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Corinthians 2017

Ver o futebol jogado pelo Corinthians do Carille é prazeroso!

Já não sou mais tão jovem, mas mesmo assim, se há uma coisa que sei apreciar é a beleza moderna deste jogo que evoluiu tanto nos últimos anos! Gosto da riqueza de detalhes do campo que transformou o jogo em tático por excelência. Além de toda a competência coletiva que adquiriu, não o vejo perder nada dos espetáculos individuais de outrora, ao contrário…

Da mesma forma que amava assistir o Flamengo, Cruzeiro, Atlético-MG, Internacional-RS, Santos, São Paulo, Seleção Brasileira, Milan, dentre outros, em seus tempos de glória há duas ou três décadas atrás, sei apreciar o que há de moderno neste mesmo jogo em nossos dias. Confesso que a intensidade e qualidade do meu prazer não mudou nada! Condeno ainda, e veementemente, o “saudosismo ignorante” (o que ignora) e que valoriza o futebol do passado em detrimento do atual.

Para começar a aceitar as ideias do “novo”, temos que aferir nossos olhos e mentes para os progressos no esporte em geral e no futebol em particular. O treinamento esportivo evoluiu assim como quase tudo na vida. Nesta reflexão, não me referirei a questões extra-campo. Somente os fenômenos das quatro linhas estarão em pauta!

O Corinthians de 2017 tem algo em seu jogo que responde ao fruto cultural do trabalho do treinador Mano Menezes, passando pelo Tite e culminando com o desempenho do ótimo pupilo dos dois anteriores, Fábio Carille. Não há como negar. Não se cria uma ideia de jogo tão consistente em apenas alguns meses de trabalho. O brasileiro precisa enxergar e acreditar nisso. Mais ainda, precisamos, entendendo isso, jogar ao lixo vários paradigmas ultrapassados que seguram a qualidade do nosso jogo em patamares de muito baixo nível tático.

Por quanto tempo mais algumas importantes personalidades do futebol brasileiro vão continuar acreditando que o futebol não mudou nada nas últimas décadas? Ouvi isso recentemente, dito por grandes protagonistas do nosso jogo. Fiquei pasmo!

Por outro lado alguns bons exemplos brasileiros vêm remando na contramão desta ignorância tática. O Corinthians do Carille joga um jogo de aplicação de muitos conceitos táticos modernos, o que confere ao seu time um “aspecto de imbatível”, indiferentemente a um ou outro tropeço numa trajetória admirável como a desse ano. Os times que o enfrentam o fazem já “pré” sentindo que não vai dar. Estamos falando de um jogo de proposição constante e de consistência tática. O jogo moderno, que o mundo moderno do futebol está jogando.

Me causou espanto assistir o comentarista do Sportv, Maurício Noriega, por quem tenho muito apreço pela competência das suas análises e reflexões, dizer que o time corintiano não tinha o hábito de propor o jogo. Contra o Fluminense, quando o placar era 0x1, Noriega afirmara que o Corinthians era um time reativo. Não sei se ele quis dizer que a equipe paulista tinha também ótimos contra-ataques ou só contra-ataques como forma de jogar. Tenho visto algo muito diferente quando assisto ao Corinthians jogar: em vários jogos, mas vários mesmo, o Corinthians do Carille foi o grande proponente do jogo.

Contra o Fluminense mesmo, o atual campeão brasileiro jogou o tempo todo “buscando o jogo”. Vide os elogios do Abel Braga ao time do Carille. No entanto, o nível tático aplicado pelo Corinthians não permite a ele, nem a time nenhum do mundo, defender grandes invencibilidades incondicionalmente. Em nosso caso então, estamos no Brasil e não temos ainda um jogo taticamente consolidado a exemplo dos excelentes modelos europeus. Além do mais, repito, estamos no Brasil! O jogador brasileiro continua sendo um grande diferencial no jogo, organizado ou não, sempre perturbando sua ordem sistêmica, seja ela qual for!

Estou aqui defendendo metodologia moderna de treinos e nova concepção para o jogo de futebol. Que os brasileiros a entendam, concebam, busquem analisar as táticas sob os parâmetros do jogo moderno e, para os treinadores em especial, procurem construir jogos para esta demanda!

O mais interessante disso tudo é saber que ainda assim, mesmo estando a frente de todos os seus concorrentes brasileiros, o jogo corintiano tem muito a evoluir. Bastariam mais alguns bons talentos e um bom tempo de trabalho para que atinjam performances ainda maiores.

É isso mesmo! Os craques sempre terão lugar de destaque no jogo coletivo. Desde que joguem coletivamente. A Seleção Brasileira com o Tite está dando um ótimo exemplo aos clubes brasileiros e ao mundo. A transformação não precisava ser tão evidente para que olhos atentos a percebessem! Está tudo muito claro!

Se os grandes e inúmeros craques brasileiros que estão espalhados pelo mundo permanecessem por aqui e disseminássemos o jogo corintiano em nossas equipes, talvez tivéssemos alguns “Barcelonas parecidos ao da era Guardiola” figurando nas competições nacionais. Estamos vendo a transformação do jogo neste sentido em vários clubes e seleções espalhados pelo mundo. Por quê não no Brasil, onde estão os melhores jogadores?!

Não quero passar a imagem de um sonhador ingênuo, apesar de nunca ter deixado de sonhar quando o assunto é futebol brasileiro. Sei que muitas coisas no extra-campo devem acontecer para que o nosso jogo cresça. Mas, como já falei, quero me ater às quatro linhas nesta reflexão. Mesmo porque os atores principais deste post, Carille e sua equipe, são brasileiros e estão “fazendo chover” no Brasil do futebol, repleto de dificuldades.

O Corinthians tem um jogo coletivo, compactado, com transições rápidas e competentes, posse de bola objetiva, momentos defensivo e ofensivo muito eficientes, com proposição, além de ótimos jogadores. Não preciso dizer que está também revelando um grande treinador, pois isso salta aos olhos!

O que nos interroga e chateia é saber que nem por isso devemos acreditar que a administração do Corinthians apostou no Fábio Carille com a convicção de que poderia estar dando a tacada certa. Nada de pessoal! Pode até não ter acontecido no Corinthians, assim como também em um ou outro clube brasileiro. Mas é quase sempre baseado em apostas convenientes para isto ou aquilo, este ou aquele momento, que fazemos no Brasil as contratações dos nossos treinadores. Estamos, invariavelmente, “jogando um pouco de água na fervura” de ambientes turbulentos pelos quais passamos “torcendo” para que a loteria das nossas apostas dê certo.

Aliás, via de regra, a eleição de treinadores para o time A ou B no Brasil é sempre feita como aposta! Se assim não fosse, não teríamos tantas trocas como as que temos. E um número cada vez maior de treinadores desempregados na fila de espera pela sua chance!

Parabéns com honra ao Fábio Carille e ao seu Corinthians campeão, e até a próxima!

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Reina o camarote

Outrora relacionado a um vínculo muito próximo com “oligarcas” do futebol, as áreas mais exclusivas e com melhor campo de visão dos estádios têm deixado esta imagem – retrógrada – de lado para serem espaços – ainda exclusivos – de relacionamento, experiência, retenção e fidelização de clientes. Ou melhor, torcedores, mas clientes também, que consomem um produto esportivo e que possuem condições de ter uma experiência “de camarote”.

Por isso, este tipo de área tem se voltado muito mais para fazer relacionamentos. Utilizados pelo próprio clube, empresas ou particulares, conseguem receber muitos convidados que entram em contato direto com os produtos da organização esportiva: o jogo, o estádio e a loja oficial, por exemplo. Ademais, são mergulhados em uma atmosfera de entretenimento e são alvo das ativações de patrocínio que buscam proporcionar o contato direto com as marcas mas, sobretudo, uma experiência agradável.

Imagem: Divulgação
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Além disso, é uma vital fonte de receitas para a manutenção do estádio. O plano anual de um camarote é caro. Entretanto o potencial de viabilização de negócios – através de relacionamentos interpessoais e organizacionais – também é alto, o que viabiliza a sua venda. Para vendê-lo, é preciso também ter bons produtos (bons jogos, bons eventos). O estádio Azteca, na Cidade do México, possui 4 anéis de arquibancadas. Os dois maiores são o superior e o inferior. Os dois do meio, menores, são divididos em mais de uma centena de camarotes, todos eles vendidos com uma margem de lucro bastante confortável para a operacionalização não apenas destes espaços, mas de todo o estádio.

O futebol do Brasil aos poucos volta-se mais para o mercado. Portanto, buscam outras opções de receita para formar equipes mais competitivas e produzir bons espetáculos esportivos. Como consequência, conseguem atrair mais público para os estádios e mais clientes para os camarotes. Dentro de um trabalho de relacionamento das marcas e experiência proporcionada ao torcedor (cliente), o camarote possui este importante papel.

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Lições de comunicação do Campeonato Brasileiro

É difícil medir a história em dias, meses ou anos. Em algumas situações, até décadas são recortes pequenos demais. Poucas horas depois do término, portanto, ainda é cedo para dizer quais serão as marcas do Campeonato Brasileiro de 2017. Mesmo entre as certezas tão propaladas pelo senso comum, como a valorização do jogo reativo, é fundamental ter cautela para atribuir rótulos a um certame. No entanto, as 38 rodadas disputadas neste ano foram suficientes para apontar uma série de lições de comunicação.

O campeão Corinthians, por exemplo: há poucos casos mais explícitos do quanto a comunicação pode influenciar no rendimento. O elenco não era o mais estrelado ou o que tinha mais recursos no futebol nacional. O macro era um caos (atrasos de salários e premiação, falta de convicção em decisões e uma iminente eleição presidencial que esfacelou a atual diretoria, por exemplo). Não havia condições de inovar em processos ou de encontrar soluções que demandassem investimento. A resposta do elenco e da comissão técnica liderada pelo neófito Fábio Carille passou diretamente por comunicação: respostas mais ágeis, espaços mais curtos, alinhamento maior de discurso, intenção e vontade.

A unidade do trabalho gerou um título estadual e uma campanha histórica no primeiro turno do Campeonato Brasileiro. Também isso criou desafios de comunicação: jogadores ganharam mais notoriedade, outros clubes começaram a assediar peças do elenco, atletas precisaram lidar com mudanças em graus de expectativa, mobilização e visibilidade.

O vice-campeão Palmeiras também tem suas lições. Foi o time que investiu mais de R$ 100 milhões na montagem do elenco para esta temporada, mas escolheu um treinador sem ter a convicção de que suas ideias estavam alinhadas ao perfil do elenco. Depois, tentou retomar o elã que Cuca havia criado na temporada anterior e retomou uma relação com o técnico esperando que isso de alguma forma acalmasse o público e servisse como um escudo para o trabalho. Entendeu então que gestão de pessoas demanda processos e que não é possível impor ideias a quem não concorda com elas.

A falta de convicção com Eduardo Baptista, o erro de avaliação do atual momento de Cuca e as decisões equivocadas na montagem de elenco fizeram com que o Palmeiras perdesse vários meses do ano. Ainda assim, o time alviverde chegou ao fim da temporada com um vice-campeonato e pôde celebrar o fato de ter continuado a brigar no topo da tabela. Foi uma lição de que é possível errar e escolher caminhos ruins se você tiver tempo para consertar, capacidade para reinvestir e talento para se reposicionar.

A temporada do Palmeiras acabou sem títulos, mas com lições que podem pavimentar um 2018 melhor. A diretoria já começou de forma diferente e contratou Roger Machado, um treinador que terá algum estofo e capacidade de colocar em prática uma série de conhecimentos que têm sido burilados em trabalhos anteriores. Saber mudar de práticas e comunicar de forma clara essas alterações também é uma lição importante de comunicação.

O Santos, nesse sentido, é um contraexemplo. O time da Vila Belmiro investiu em jogadores e treinadores com perfis absolutamente distintos em 2017. Contratou mais por nomes do que por convicção. Frequentou o topo da tabela em quase todo o Campeonato Brasileiro, mas não conseguiu passar a mensagem de que sabia o que estava fazendo. Foi o time da trocação, do jogo aberto, do ataque e defesa, sem que isso significasse o resultado de apostas de médio ou longo prazo.

Atlético-MG e Flamengo, duas das grandes decepções da temporada, ofereceram outras lições de comunicação. São times que investiram demais, prometeram demais e perceberam que juntar nomes de peso nem sempre é suficiente para construir um trabalho de sucesso. Essa receita pode gerar conteúdo e chamar constantemente a atenção do público, mas nem sempre estabelece etapas e degraus para um sucesso em maior escala.

É totalmente diferente do que aconteceu com Fluminense e São Paulo, times que também não tiveram bom desempenho na temporada. Os percalços dos times tricolores foram resultados de temporadas atribuladas, de mudanças de rumo e de sucessivas alterações nos grupos de trabalho. Não houve estabilidade suficiente em nenhum desses casos.

No São Paulo, porém, houve outros pontos a serem ressaltados. O time do Morumbi correu algum risco de ser rebaixado à segunda divisão nacional. Quando percebeu que essa ameaça era latente, a diretoria reforçou o elenco e deu a sorte de encontrar no mercado um jogador do perfil técnico e anímico do meio-campista Hernanes. O retorno dele foi fundamental para a salvação dos paulistas, que também souberam transmitir ao público a ideia do quanto eles seriam importantes para evitar a queda. A aposta em um bom protagonista, a busca por talento no meio do processo e a capacidade de se aproximar do consumidor em um momento ruim são excelentes lições para qualquer gestão de crise.

O Botafogo não soube fazer esse processo tão bem, por exemplo. O time carioca teve duelos decisivos desde o início da temporada (disputou as fases preliminares da Libertadores, o que antecipou sobremaneira o início do período decisivo). Por isso e pela própria situação do clube, que não tem dinheiro ou certeza de que seus atletas seguirão no próximo ano, a temporada também acabou de forma precoce. Houve um desgaste resultante da combinação entre elenco curto, sucessão de jogos importantes e falta de perspectiva. Tudo isso custou a vaga na próxima edição da Libertadores, e a equipe fez pouco para evitar que isso acontecesse durante o Brasileiro.

Um bom exemplo das falhas no processo de comunicação que permeou essa trajetória é que o Botafogo não conseguiu encher estádios ou aumentar sua média de público quando precisou de um apoio extra para compensar o desgaste.

O Campeonato Brasileiro de 2017 ensinou que processos claros e ágeis de comunicação podem compensar erros de instâncias superiores e tirar mais de cada peça da engrenagem. Também mostrou que é fundamental comunicar com clareza, construir mensagens que não estabeleçam um grau de expectativa mais alto do que o ideal, refazer o plano quando for necessário e ter convicção quando tomar cada caminho. Por fim, ofereceu um grande exemplo do quanto é difícil fazer comunicação com longevidade – sobretudo se essa comunicação não tiver respaldo constante de uma grande fatia do público.

No entanto, e novamente falando sem o distanciamento ideal, a grande lição de comunicação do Campeonato Brasileiro talvez seja a do Grêmio. O time gaúcho soube olhar para si desde o início da temporada e montou um plano claro para brigar pelas copas (Copa do Brasil e Libertadores). Preteriu o Campeonato Brasileiro sempre que necessário e acabou alijado da briga do título por causa disso, mas conquistou seu terceiro título sul-americano.

Fazer comunicação com objetivos claros é extremamente prolífico. O Grêmio também mostrou que é possível fazer um planejamento longo, que não seja focado apenas “no próximo jogo”. O discurso do senso comum foi derrubado pelos gaúchos, que desde o início do ano priorizaram as retas finais das copas e a ascensão técnica/física/tática/mental no momento adequado.

Não existe apenas um caminho em comunicação. Não é uma seara binária, de certo e errado tão marcados. O Grêmio fez uma trajetória que não tinha muitos correspondentes no passado nacional – até porque a atual temporada é a primeira de um novo calendário da Libertadores.

Há muitas lições evidentes no Campeonato Brasileiro de 2017. A maior delas talvez seja a demonstração de que é possível atingir o sucesso com clareza de objetivos, autoanálise e paciência. Toda essa ideia do Grêmio poderia ter ruído se a diretoria não tivesse bancado e tivesse cobrado em algum momento do ano que a comissão técnica não preservasse tanto os titulares.

Comunicar é saber o que se quer, mas também é ter paciência quando a convicção for testada.

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Entre o Direito e o esporte

Eu sei, é sempre difícil conhecer alguém do zero. Sempre dá aquele medo de ter aquela sensação de perda de tempo ou de ser chato até. Ainda mais uma coluna nova, daquele alguém que gosta de esporte só que é formado em direito. E é bem sobre isso que eu vim conversar com vocês hoje!

Bem vindo à minha (nova) coluna aqui na Universidade do Futebol, a “Entre o direito e o esporte”. Hoje, na minha estreia, eu gostaria de fazer um convite para vocês: prazer, vamos conversar sobre direito desportivo hoje?

Eu sei, de cara parece aquele assunto complicado e meio sem sal, mas eu prometo fazer o meu melhor para mostrar o porquê desse tema ser importante para o nosso dia a dia de fã do esporte, e como isso pode ajudar naquela resenha no sábado jogando bola, naquele churrasco com a família ou até mesmo na escola.

E para chegar aí, vou fazer a minha apresentação. Assim, hoje vamos falar do seguinte: um pouco mais sobre a nova coluna, o que eu vejo para ela e o que vocês podem esperar de mim toda semana. Depois, vou falar um pouco sobre mim – afinal, essa coluna é um pouco sobre o que eu penso entre o esporte e o direito, né? E, depois, a gente vai conversar um pouco sobre os temas que vou falar nesses próximos meses. Espero que vocês gostem!

Vamos lá… entre o direito e o esporte? Imagina você jogando bola e indo bater aquele pênalti. Quando você olha para frente dá para ver o gol entre as duas traves. E é bem aí que essa coluna fica, tudo o que acontece quando você chuta essa bola entre o direito e o esporte. Ou seja, aqui você vai ver um pouco sobre como o que a gente gosta é afetado pelas regras e regulamentos do jogo. Olha aí uns exemplos:

Cartão vermelho. Está no meio do jogo do campeonato, seu time precisa ganhar e realmente está ganhando. Você não se aguenta de emoção, seu time está chegando no objetivo da temporada – ainda mais a duras custas, já que sofreu o ano inteiro com lesões, desmanches e falta de dinheiro (coisas que a gente nunca vê no nosso futebol, né?). E me vem o jogador, capitão do time, olha para a torcida e para o juiz e… dá aquela bela “mãozada” no atacante do outro time, na hora do escanteio, de costas. E aí, como fica? Sim, seu jogador foi expulso, seu time ficou com 10 em campo, e todo mundo (menos o outro time) saiu perdendo.

Acredite ou não, amigo, o cartão vermelho é parte do jogo e parte das regras do jogo – do mesmo jeito que a proibição daquela mão boba, mesmo quando precisa de alguma interpretação do juiz. O futebol, assim como qualquer esporte, depende de regras que são parte da partida.

Senão, imagina só ver um jogo do campeonato brasileiro assim: numa mesma rodada um campo é triangular e você tem que fazer um gol de dentro da área (mas só com bola aérea, viu? – alguns técnicos até suspiram aliviados agora) e outro que tem dois andares e você só marca pontos ao lançar a bola de um andar para o outro. Isso é justo? Ok, fora esse exemplo bizarro… pensa agora que numa mesma rodada uma partida tem árbitro de vídeo e outra não. E aí, agora pode? É bem por isso que as regras do jogo precisam existir.

Aquele chá. Sexta-feira, dia de decreto. Você é um jogador de futebol, gringo. Está jogando pela sua seleção, num país vizinho. Lá, como em qualquer lugar, algumas coisas são diferentes. Lá, como em qualquer lugar, certas comidas são típicas. Lá, como em qualquer lugar (ou não), um chá “diferentão” é servido no mesmo recipiente que o seu chá no hotel que a sua delegação está.

Você tomou o chá. Chá de erva-mate. Chá que não tem problema. Mas aquele chá “diferentão” que foi servido antes deixou um restinho bom no bule. Você tomou esse um pouco. Esse um pouco você não pode tomar. Não porque o nutricionista não deixa, mas porque existe uma organização internacional que avisa todo mundo que essa ou aquela substância não pode. E não pode porque pode fazer mal para você, te dar um fôlego extra no jogo, ou ser um perigo para os outros em campo.

Nesse dia, você entrou no jogo. Nesse dia você marcou um gol. Nesse dia você levou o seu time para o maior evento do futebol no mundo. E, isso, representando a sua nação, o seu país, a sua pátria. Você está em êxtase! E em tanto êxtase que resolvem fazer um exame em você para ver se não tem nada de errado.

Esse é o exame de doping (ou antidoping). O exame foi feito e o resultado saiu. Aquele chá lá do hotel, aquele mesmo, fez você ser “pego”. Você foi suspenso. A sua seleção precisava de você para duas últimas batalhas para ter certeza que ia para a Copa. Você não pode e você não vai jogar. Você foi suspenso.

Isso é justo? Isso pode? Tem alguma coisa que pode ser feita? São algumas das perguntas que espero conseguir responder ao longo desses meses. O doping também faz parte das regras do esporte, e seus regulamentos levam a casos bem interessantes. A ver.

Bola fora. É início de ano. O campeonato estadual vai começar em duas semanas. Seu time tem técnico novo. Patrocinador novo. Elenco novo. Talvez até um nome novo. E, mais importante, um dinheiro sobrando em caixa – o que é raro, como sabemos.

O gerente de futebol resolve que vai usar aquela grana extra para trazer um grande nome para o seu time. Esse atleta joga fora do país, vem de um dos grandes centros do futebol mundial. Esse atleta tem contrato de mais de ano com o time dele. Esse atleta tem uma multa estipulada no contrato que o seu time não consegue pagar – mesmo com aquela grana extra.

E aí, como o seu time vai fazer? Dá para trazer esse atleta de fora mesmo assim? O regulamento do futebol também prevê essas situações, e cada país também tem umas regras específicas aqui e ali que só deixam o esporte mais legal (#sqn) para quem acha que o jogo dentro das quatro linhas é só jogado dentro dessas quatro linhas.

Resumindo tudo isso: o direito desportivo é feito pelas regras e regulamentos do esporte, tanto aqueles aqui no Brasil, quanto aqueles de fora. Incluindo até mesmo um regramento aqui e outro ali do Comitê Olímpico Internacional, da FIFA, da CBF, e de muitos outros atores do esporte ao redor do mundo – até mesmo aqueles que a gente não espera, como regulamento da ANVISA sobre aquele sanduíche de pernil que você come na porta do estádio, sabe?

E, assim, o futebol, como qualquer modalidade, está entre o direito e o esporte. Daí quer a gente queira, quer não, temos que “aguentar” o direito desportivo no nosso dia a dia. E o objetivo dessa minha coluna é justamente traduzir esse tal de “juridiquês” num jeito que seja “entendível” por todos nós!

Afinal, direito já é complicado o suficiente sozinho. E se a gente não entende como isso afeta o nosso dia a dia e a nossa paixão, daí sim que complica. Numa dessas a gente tenta se consagrar, e às vezes acaba fazendo uma grande burrada ou chutando a bola para fora.

Agora vocês sabem um pouco mais sobre essa coluna, o que eu vejo para ela e o que vocês podem esperar de mim toda sexta-feira nesse mesmo horário – e no meu caso sem decreto, mal. Mas continua aquela pergunta… afinal, quem raios sou eu?

Bom, sempre é difícil conhecer alguém por completo. O eu do futebol vai mais ou menos por essas linhas. Desde cedo, sempre gostei de esporte no geral (de xadrez a arco-e-flecha) e acabei indo parar no futebol. Joguei em alguns clubes cedo (aquela sensação de já ouvi essa história antes), até que tive que escolher entre tentar virar jogador ou tentar ir para a faculdade. Sinceramente? Eu era ruim demais para virar um jogador meia boca, então resolvi afogar minhas mágoas no estudo.

Acabei indo parar em direito, mais porque queria virar diplomata do que pela profissão em si. Me via viajando o mundo como “o cara do esporte”, falando sobre como o esporte é importante para a cultura brasileira e tudo mais. No primeiro ano desisti disso tudo (boa!). E entrei em crise com a faculdade (boa!). Ai tive que me virar nos trinta para ver o que ia fazer dali pra frente já que sabia onde tinha parado, né.

Tropecei em dois livros e um evento que “mudaram a minha vida” (ou o meu destino na faculdade). Acabei descobrindo o tal do “direito desportivo” que eu achava que existia, mas jurava que era direito do esporte ou coisa assim. Não vou mentir, não era o melhor aluno do mundo. Só que quando eu gostava de alguma coisa, me empenhava ao máximo para tentar entender e ler tudo o que podia.

Foi assim com o esporte. E nas minhas idas e vindas, acabei tendo uma conversa aqui e outra ali que me levaram para mil caminhos diferentes entre a vida acadêmica e a vida profissional que me fizeram eu. Trabalhei em clube no Brasil, em times nos EUA, em faculdade, com direito, com gestão, estudei, ralei e… agora estou aqui.

Continuo no esporte, e ainda acredito que a gente pode fazer melhor. E até acho que consigo ajudar de uma maneira ou outra. E essa minha coluna faz parte dessa minha história, e de como eu espero fazer a minha parte. Ajudando os outros a entender um pouco mais desse mundo que é o direito desportivo.

Falando em mundo, nesse meu primeiro mês vou trazer o que é falado de novo (e não tão novo) nos quatro grandes eventos de direito desportivo dessas próximas duas semanas que acontecem em São Paulo. Mais a seguir.

Espero que agora vocês me conheçam um pouco melhor, e fico à disposição de vocês. Ideias e curiosidades sobre o direito desportivo serão sempre bem vindas, só entrar em contato que eu adoro uma conversa. Fica o meu convite para continuarem aqui comigo toda sexta-feira, e que venha o final de semana.

Aliás, obrigado Universidade do Futebol pelo convite. Convite que virou mais um presente de aniversário – já que a minha estreia aqui foi bem no dia certo!

Até semana que vem, e obrigado!

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Gestão do comportamento humano

Quando falamos de perfil de atleta, também falamos, quase que intrinsicamente, da questão de como é formatada as “características humanas”. Há diversas formas de pensamento e linhas a se seguir sobre este assunto, mas eu particularmente penso que elas não são providas de uma fonte aleatória, fruto do acaso, mas sim resultado de um sistema não linear que segue as leis da complexidade. E, mais uma vez, só porque não entendemos a lógica, não significa que não há lógica.

Muito se fala em dividir o “desempenho”, entrando na questão que o comportamento do jogador é oriundo de 25% dos aspectos técnicos, 25% dos aspectos físicos, 25% dos aspectos táticos e 25% dos aspectos comportamentais e que nós poderíamos alterar o comportamento através do gerenciamento de cada um destes fatores isoladamente. Penso muito ao contrário, para mim a verdade está em outra direção de raciocínio. A aquisição dos aspectos técnicos, táticos e físicos que o treinador necessita para implementar sua forma de jogar, não é igual para todos os jogadores, pois depende das características individuais. Se o treinador possui no plantel somente jogadores cooperativos, por mais que atue nos fatores técnicos, táticos e físicos, ele terá imensas dificuldades em formar um time impositivo (relação todo x parte). Entenda estas características inatas e você entenderá em quais zonas de comportamento que cada  jogador poderá atuar.

Um dos mais renomados pensadores da complexidade, Morin expõe que a aptidão individual para aprender não depende de uma plasticidade análoga à da “cera”, mas supõe estruturas cognitivas/organizadoras, e depende de onde se desenvolveu mais um aparelho neurocerebral, o qual, na sua gênese, na sua constituição, na sua organização, é necessariamente inato. A aptidão para adquirir é, portanto, a aptidão inata para adquirir aptidões não-inatas. Toda a teoria da aprendizagem (aquisição de um saber, de uma competência) deve definir um estado inicial que comporta dispositivos inatos, e quanto mais rico for o dispositivo inato, mais rica será a disponibilidade para a aprendizagem. O ideal seria que discutíssemos sobre fatos que nos levam a determinados raciocínios e que estes raciocínios busquem teorias para explicar estes mesmos fatos, permitindo o gerenciamento eficaz.

O normal é  discutir teorias,  as quais comandam os nossos  raciocínios e  que nos fazem ver os fatos de determinadas maneiras.  Mesmo utilizando caros recursos, os fatos reais teimam em desafiar a nossa forma de gerenciar.  Solução aparentemente óbvia é culpar os profissionais envolvidos  e investir mais recursos em ferramentas que prometem maior eficiência.

O fatos devem comandar a lógica do raciocínio. Mas na ciência, as ideias, geralmente mais teimosas que os fatos, resistem à força dos dados e das provas. Os fatos efetivamente se batem contra as ideias, tanto que não existe nada que possa reorganizar de outro modo a experiência. Infelizmente o conhecimento não cai do céu.

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O bom senso na gestão de um produto em que todos os clubes fazem parte

Os principais torneios de clubes do futebol do Brasil estão chegando ao fim e dois episódios chamaram a atenção nos últimos dias. O primeiro deles foi de o treino do Sport Recife – enquanto se preparava para a partida contra o Fluminense – nas instalações do Flamengo ter incomodado alguns dirigentes do clube do Rio de Janeiro. Aqueles (felizmente) que não tomam as decisões. Em Campinas, o outro episódio: a invasão de torcedores ponte-pretanos revoltados com o resultado da partida que rebaixou a Ponte Preta para a Série B.00

Imagem: Divulgação
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Por todas as discordâncias que existem entre os Rubro-Negros – carioca e recifense -, sobretudo pelo título nacional de 1987, conduzidas ao plano jurídico inclusive, não impede que as agremiações mantenham saudáveis relações esportivas. É direito de alguns dirigentes do Flamengo se incomodarem com isso. Entretanto, impedirem o treino do Sport ou mesmo ameaçarem seus afastamentos do clube (como foi o que aconteceu), é fazer “tempestade em copo d’água” e comprometer com sua cultura organizacional, já previamente estabelecida. Uma coisa é a rivalidade dentro de campo, compartilhada de maneira saudável, com respeito ao adversário. Outra completamente diferente é deturpar esta rivalidade e potencializá-la para atitudes extremas e sem o mínimo de bom senso. Ora, um não existe sem o outro. Todos fazem parte do mesmo negócio, um depende do outro.

O outro episódio – também infeliz – foi a invasão de campo por alguns torcedores da Ponte Preta, indignados com o rebaixamento do clube para a série B do campeonato nacional. Estamos no ano 2017 do século 21 e ainda vemos cenas assim. Alguns podem dizer que isso também acontece nos campeonatos mais ricos ou nos países com os melhores indicadores sociais. Sim, de fato. Mas nem por isso são aceitos pelas autoridades e sociedade. E nem aqui também deve ser. O clube foi rebaixado, mas a vida continua. Ela segue. Uma oportunidade para recomeçar e se reinventar. Ver o que deu errado e corrigir. Observar o que deu certo e continuar. Infelizmente a ausência do Estado na promoção do bem-estar é tão grande que boa parcela dos torcedores se apega de tal maneira ao clube, que o êxito dentro de campo passa a ter o mesmo significado para a vida do adepto. No entanto, não se pode mais tolerar este tipo de comportamento.

Com tudo isso, episódios como estes são inadmissíveis atualmente no universo esportivo atual.  Remetem a uma ideia de amadorismo, impunidade e conivência com o que é, no mínimo, absurdo. É preciso romper com isso. O rompimento só se dará, entre os muitos fatores, através de muito profissionalismo e uma comunicação bem clara e abrangente que valorize a cultura do futebol – que é de paz – e os bons valores.

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O treino (novamente) é tudo que temos

Quando se assume uma equipe, há a necessidade de se ter bem definido como se deve e vai trabalhar. Ter estabelecido como vai ser arquitetada a metodologia, como liderar, como se quer jogar, que tipo de atleta precisa-se, que perfil de atleta deseja-se, que perfil de auxiliares é o mais aconselhável, que departamento necessita-se, etc. Enfim, ter antecipadamente formado o que se quer para a equipe. Nada mais é que um processo de codificação da performance. Ou seja, modelagem. Modelar algo que quero seguir, que tenho como verdadeiro, perante minhas experiências, crenças e valores. Minhas representações internas. O meu ideal como equipe, como comportamento, minha opção de jogo. Devemos modelar algo que deve estar pré-estabelecido. No caso do treinador, envolve a reprodução da mesma seqüência de padrões de pensamento e comportamento do “meu” modelo, daquilo que pretendo. Com relação ao futebol, é como eu devo me comportar perante determinada situação no jogo.

Como dizia Vitor Frade: “Modelo de jogo é tudo. É uma sintonia com tudo que é envolvido. E pode, existindo, estar de acordo com aquilo que quero modelar ou, existindo, contrariar bruscamente aquilo que quero modelar” (atrevo-me a dizer que tudo depende do treino). O modelo de jogo é a concepção geral onde eu quero fabricar o jogo. Que alberga também a forma de jogar. E parafraseando o mesmo autor (V.Frade) “Modelo de jogo é algo que não existe a lado nenhum, todavia a gente procura encontrar”. E se, por virtude de um bom trabalho, eu chegar perto do meu ideal, devo imediatamente estabelecer um novo modelo, para a devida manutenção da máxima forma competitiva. Melhor dizendo, o modelo deve constantemente se “auto-desenvolver”, sempre buscando a sua constante evolução.

Alcançar, enfim, verdadeiramente, o alto rendimento. Essas são as necessidades fundamentais. Ser, independentemente, coerente com o tipo de jogo que pretendo, e a forma como se constrói esse jogar.

Na minha percepção, o que há de mais fascinante nisso tudo, é que não interessa qual é o modelo de jogo, qual minha opção de jogo. O que interessa realmente é que haja um modelo de jogo, invariavelmente de qual seja. Que exista uma opção de jogo bem definida, caracterizado e bem estruturada. Porque formas de jogar há muitas. E no futebol não há uma relação linear com uma dada metodologia e o sucesso na competição. Outras equipes que ganham alicerçam essa fabricação de jogar, essa forma de jogar em processos totalmente diferentes e antagônicos, mas também ganham. E, com certeza, também terão alguma validade.

Sendo o treino um meio de repetição do processo de resolver problemas, e não apenas uma repetição do meio de resolver problemas, devemos considerar o treino como um processo de ensino-treino. Desde cedo devemos estar preocupados com esse processo. Esse processo é identificado fundamentalmente pela presença de conteúdos que tenham a ver com o jogar que se pretende. Temos que, com isso, ser coerentes com os princípios desse jogar. Porque é esse processo que vai possibilitar a tal “cultura de jogo”, um conjunto de operações e comportamentos que identificam a equipe.

O entendimento desse processo passa por reconhecer a necessidade do jogo e de sistematizar e inventar os princípios inteiramente indispensáveis. E depois viabilizar o seu aparecimento, a sua construção, a sua engendração, o seu desenvolvimento, com mais ou menos tempo (dependendo do treino). Isto alicerçado numa lógica de ensino-treino que tem uma caracterização muito peculiar, a sua. Porém, devendo sempre ser arquitetada com preceitos científicos e metodológicos. Temos que assimilar nossa forma de jogar. Isso que promove identidade. Isso que faz jogar de olhos fechados. Isso só se consegue treinando, com coisas bem precisas e concretas, que são os princípios. A fim de automatizar o nosso modelo.

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Temporada de 2017 foi produtiva para o Marketing e Comunicação dos clubes

O futebol de clubes do Brasil caminha para o fim da temporada e já tem o seu máximo campeão. Teve pontos altos e pontos baixos dentro e fora de campo. Muitos dizem que foi sem graça, haja vista o nível competitivo. Entretanto, é preciso observar todas as divisões: Copa do Brasil, campeonatos regionais e participações brasileiras em taças continentais, e então percebe-se totalmente o contrário. Teve muita graça! Em termos de marketing e comunicação o futebol do Brasil está muito atrás dos grandes mercados internacionais. No entanto, esta temporada foi a mais “produtiva”.

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Reprodução: Twitter

 

Nunca as postagens, os tweets e os memes foram tão criativos. A criatividade daqueles que controlam as redes sociais dos clubes é imensa e confere um aspecto mais leve e bem-humorado ao futebol. De valores e jogo limpo. Deixa de lado uma rivalidade doentia e rompe com um comportamento de ignorância e intolerância de alguns torcedores em relação aos de um outro clube. É um grande instrumento para a implementação de uma cultura de paz e tolerância.

Em termos de produto, como logomarca e identidade própria, a “Copa do Nordeste” foi mais uma vez muito bem-sucedida. O êxito da competição em 2017 faz com que as equipes se preparem mais para a edição do próximo ano. Aumenta-se a competitividade e o nível de jogo. Fica mais agradável ao torcedor. A idealização do “Derby do Centenário” entre Palmeiras e Corinthians, gerou conteúdo e expectativa entre imprensa e adeptos. Há poucos dias, para fins de comparação, os especialistas levantavam estatísticas dos confrontos deste ano que marcaram os cem anos do clássico.

Sorteio da Copa do Nordeste. Foto: Divulgação
Sorteio da Copa do Nordeste. Foto: Divulgação

 

Diante disso, 2017 – que ainda não terminou – sem sombra de dúvidas foi o ano mais criativo para o marketing e comunicação dos clubes de futebol do Brasil. São vários os exemplos desta temporada. E ainda há espaço para muito mais. O mercado publicitário no Brasil é enorme, maior que os de muitos dos grandes mercados mundiais do futebol de clubes. Trabalhá-lo como um produto é questão de tempo, mas que pode se antecipar conforme a estrutura profissional dos clubes aumentar: voltar-se para o mercado, predomínio de uma visão estratégica e corporativa, em busca de resultados não apenas financeiros, mas também institucionais. 2018 promete ser bem melhor.

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Sonhar, não basta. Desejar, não basta

Nos enganamos em pensar que o futebol é um jogo apenas de execução. Antes de fazer precisamos pensar no que fazer. Antes da execução temos a cognição, mesmo que de forma subconsciente. Não devemos cair na ilusão do “basta saber fazer” para termos sucesso nos diversos e distintos confrontos que ocorrem durante os 90 minutos. Necessitamos pensar sobre o que estamos fazendo e sobre o que fazemos (mesmo quando não há tempo para isso).

E aqui falo de subconsciente! Sim, a principal atuação do treinamento é no subconsciente! O movimento individual e coletivo foi trabalhado de um forma tão qualitativa que ficou para aquele lugar na “caixa craniana” que fica guardada as memórias de longo prazo.

Neste caso, preciso pedir para que relembremos daquele conhecimento que já vigora no campo da ciência há algum tempo: ⅔ do tempo total de realização do movimento é gasto em tomada de consciência e decisão, e apenas ⅓ é gasto em execução do movimento em si. O comportamento individual e coletivo é um hábito que se adquire na prática, e que fica “impregnado” na consciência. Se executar representa ⅓ de todo o tempo gasto no jogo, por qual motivo devemos apenas se preocupar com o executar?

Assim, fica inviável preocupar-nos somente em aumentar a velocidade/frequência/plasticidade do gesto, temos que ter uma atenção maior com relação ao “pensar rápido”, ao raciocínio e ao poder de decisão que um atleta pode vir a alcançar, sendo essa característica que diferencia um atleta de alto nível dos demais jogadores de futebol. É necessário captar e selecionar a informação relevante de forma rápida; é preciso conscientizar e decidir rápido para que os mecanismos de tomada de decisão e execução sejam também rápidos, eficazes e eficientes.

Não podemos dissociar corpo de mente; os dois interagem unidos e em mesma intensidade com o ambiente. O que foi o “Erro de Descartes” (filosofo francês) no ponto de vista de Antonio Damásio (Neurocientista), que escreveu um livro com este título. Neste livro ele fala da importância das emoções nos processos de memória. Conforme o mesmo, as emoções são conjuntos de reações químicas e neurais, visando sempre a sobrevivência de um organismo. Damásio demonstrou que razão e emoção não “jogam em campos diferentes”, contrariando a perspectiva amplamente difundida de que “decisões sensatas provêm de uma cabeça fria e de que emoções e razão se misturam tanto quanto água e azeite”. Hoje devemos reconhecer que as emoções estão implicadas nas percepções que fazemos do mundo, nas tomadas de decisões, nos raciocínios, na aprendizagem, nos processos de memorização, nas ações, na concentração, etc. E, quanto mais treinamos com “qualidade”, mais percebemos que as emoções são os pilares para um aprendizado concreto e duradouro (subconsciente).

Por isso, treino é tudo. Na teoria dos sistemas dinâmicos, entende-se que os comportamentos e as destrezas motoras se adaptam de forma intencional aos constrangimentos impostos pelo envolvimento, durante a realização de uma tarefa. Ou seja, quanto mais a alto rendimento estamos ou pretendemos estar, mais precisamos entender que o treino deve ser considerado o principal meio a se chegar em níveis mais elevados de futebol. Mas precisamos ter um treino de “qualidade”, que almeje a qualidade e não a quantidade.

Executar é uma parte do processo. Um processo que depende de outras partes. Um processo que pode ser melhorado e aperfeiçoado. Todavia, não basta executar. Aliás, se pensarmos assim, estaremos pensando de uma forma analítica um problema complexo, o que não parece de todo certo. Deixando de pensar o futebol de uma forma sistêmica. E, em outros casos, quando optamos a se predispor em seguir (ou entender, ou copiar, etc.) determinada “forma de pensar”/metodologia, se contradizer (principalmente na relação palavras x ação) não facilita a um “possível” aprender com o mentor.