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Discutindo Treino – 3

Olá, caro leitor!
Na coluna desta semana iremos discutir sobre dois exercícios de treino nos quais o foco das abordagens será para as referências operacionais de manutenção da posse da bola, progressão ao alvo adversário e recuperação da posse da bola.
O gol, para a ampla maioria daqueles que jogam e que desfrutam ao assistir uma partida de futebol, é talvez o objetivo máximo do jogo. Digo talvez pois, o jogo desperta várias emoções naqueles que o vivenciam e, não necessariamente para todos, o gol seja o evento do jogo onde haja a maior descarga de serotonina (um dos hormônios responsáveis pela sensação de prazer). Porém, é o número de gols marcados que determina qual será a equipe vitoriosa, sendo assim, são os principais objetivos do jogo, e podem ser alcançados de diversas formas a partir dos comportamentos treinados e manifestados numa partida.
Trago, hoje, dois exercícios que utilizo, no intuito de criar comportamentos na equipe a fim de aproximar (a partir das crenças e experiências com o jogo que o clube, atletas e eu possuímos) a equipe deste objetivo essencial para se vencer os jogos: marcar gols.
 

Jogo Conceitual para Manutenção da Posse de Bola

  • Conteúdos Primários: gerar apoio, criação constante de linhas de passe (próximas e distantes) para o portador da bola, retirada rápida da bola de zonas de pressão adversária, pressão constante ao portador da bola e coberturas.
  • Conteúdos Secundários: mobilidade, desmarques, passe, domínio, rápida transmissão da posse individual da bola e abordagens de marcação.
  • Desenvolvimento: equipes de 4 jogadores, num campo dividido em 4 setores. Ficam 4 jogadores da equipe “A” dentro do campo contra 2 jogadores da equipe “B”, os outros 2 jogadores da equipe “B” ficam fora do campo demarcado, sendo apoio aos seus companheiros. Os jogadores da equipe “A” buscam manter a posse da bola trocando 8 passes entre si para ganhar 2 pontos, estes não podem devolver um passe para o mesmo jogador de quem recebeu, a não ser que este se desloque para um setor diferente do que fez o passe. Os jogadores da equipe “B” buscam recuperar a posse da bola e rapidamente realizar passes para os apoios, pois sempre que a bola sair de um apoio e chegar ao outro, a equipe ganha 1 ponto. Não são permitidos passes de apoio para apoio. É livre a quantidade de toques na bola para todos, porém os apoios tem 3’’ de posse individual da bola.
  • Feedbacks: são realizados com o intuito de que os jogadores busquem gerar constante apoio e linhas de passe ao portador da bola, busquem espaços vazios e desmarcar-se do adversário, rápida transmissão da bola entre eles, pressão constante ao portador da bola e realização de coberturas pelos demais, rápida retirada da bola de zonas de pressão adversária e rápida mudança de comportamento.

 

Jogo Conceitual para Progressão ao Alvo Adversário

  • Conteúdos Primários: gerar apoio, criação constante de linhas de passe (próximas e distantes) para o portador da bola, busca por passes de ruptura, dribles verticais, pressão constante ao portador da bola e coberturas.
  • Conteúdos Secundários: mobilidade, desmarques, penetrações, passe, domínio, rápida transmissão da posse individual da bola, retirada rápida da bola de zonas de pressão adversária e abordagens de marcação.
  • Desenvolvimento: equipes de 4 jogadores, em um campo dividido em 2 setores. Assim, 8 jogadores se enfrentam com o objetivo principal de cruzar a linha de fundo adversária com a bola dominada para ganhar 1 ponto.
  • Feedbacks: são realizados com o intuito de que os jogadores busquem gerar constante apoio e linhas de passe ao portador da bola, busquem espaços vazios (principalmente próximos a linha de fundo adversária) e desmarcar-se para que haja rápida transmissão da bola entre eles, pressão constante ao portador da bola e realização de coberturas pelos demais, rápida retirada da bola de zonas de pressão adversária e rápida mudança de comportamento.

Após a exposição das duas atividades, pode surgir a seguinte dúvida: “Ok, mas, Danilo, você disse que as atividades visavam facilitar a equipe para que conseguisse marcar gols. Porém, não há gols e nem goleiros na atividade! Como então estes trabalhos irão facilitar isso?”

Caro leitor, peço que retorne ao primeiro parágrafo do texto. Nestas atividades, não está evidenciada a Referência Operacional do Ataque Alvo (não na forma de balizas defendidas por goleiros), porém todos os outros conteúdos que irão facilitar a equipe a marcar gols estão evidenciados. Basicamente, faz gols a equipe que está com a bola e quanto mais perto da baliza adversária, maior será a chance de se conseguir fazer um gol.

Nestas atividades faço a inserção dos goleiros realizando ações com os pés, e/ou com as mãos. Podendo ser um apoio ofensivo ou um coringa que pode recuperar a bola com as mãos em qualquer parte do campo e a repor para a equipe contrária, ficando a critério da comissão inserir os goleiros da melhor forma como entender para o momento.

Não há empecilhos para que nestas atividades, sejam adicionadas balizas, desde que o treinador saiba como manipular as regras do treino a fim de serem coerentes com os seus objetivos para a sessão.

Muitas variações podem decorrer destas atividades, assim como inúmeros outros exercícios podem ser realizados para se trabalhar estes conteúdos. Convido o leitor para que expresse sua opinião sobre estes exemplos e que traga novos também, afinal, vamos agregar, vamos evoluir, vamos discutir treino!

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VAR que veio pra ficar

“Por mais justiça nos jogos”. Esta foi a frase do suíço Gianni Infantino, presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA) sobre a utilização do vídeo-árbitro, que será feita em quatro momentos: situação de gol, identificação de atletas, penalidades máximas e cartões vermelhos. O uso desta tecnologia é marco para a modalidade e é caminho sem volta.
Outros esportes mostram o quanto é possível o recurso existir sem prejuízo do jogo. Historicamente percebe-se o quanto atletas, equipes e torcedores sofreram com decisões incorretas. Para não falar dos inúmeros interesses comerciais (e até políticos[1]) que tiveram outros rumos (não os mais favoráveis) após contestáveis decisões dos árbitros. Ademais, se um dos pilares da entidade máxima do futebol é a transparência, a decisão sobre a institucionalização do VAR vai em encontro aos pressupostos da organização.
Obviamente este assunto gerou polêmica e incontáveis comentários, sobretudo sobre sua implementação no Brasil, os custos gerados e a conta a ser paga por quem. Claro que existem inúmeros protocolos a serem seguidos – cada modalidade possui o seu -, e outros esportes conseguem fazer isso de maneira mais barata. Por outro lado, como bem disse o presidente da FIFA, haverá mais justiça nos jogos. Foi o que se concluiu depois de mais de 20 torneios analisados e, com isso, o jogo ficará mais interessante. Ora, como se sabe disso? Clareza e transparência na arbitragem do futebol. Os dois objetivos máximos de uma federação esportiva (quer seja local, regional, nacional e internacional) são: preservar e difundir o jogo.
Com o VAR, preserva-se o esporte porque a utilização do recurso sugere a justiça, a clareza e a transparência. Com isso o jogo é mais aceito, contribuindo para a sua difusão.
Com tudo isso, a sua implementação no Brasil é questão de tempo. O futebol pede por isso e a grande maioria dos torcedores, também. A mudança está em curso pelo mundo todo. Saber lidar com este recurso (Árbitros, vídeo-árbitros, atletas, torcedores e imprensa) é posicionar o Brasil em posição de vanguarda no universo do futebol. E isso não se dá apenas dentro de campo, mas fora dele também e que diz respeito à gestão e desenvolvimento da modalidade.
 
[1] Em 21 de Junho de 1982, o Príncipe do Kuwait, Al-Sababe, desceu das tribunas em direção ao campo de jogo para reclamar com o Árbitro, o soviético Miroslav Stupar, de um gol francês de Michel Platini marcado supostamente de maneira irregular. O Príncipe conseguiu a anulação do gol mas não impediu a vitória da França sobre o Kuwait por 4 a 1 pela Copa do Mundo da Espanha daquele ano.

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Quando o silêncio é criminoso

O Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, serviu como mote para demonstração de alinhamento com o tempo. Corinthians e São Paulo estão entre os exemplos positivos, com destaque para a equipe do Morumbi. Com dados, embasamento e um tom tão assertivo quanto acertado, a diretoria tricolor aproveitou a data não para comemorar, mas para criar um marco e aderir a uma luta constante por direitos, igualdade de gênero e avanço social. Não foi apenas um reconhecimento do que realmente é o significado da data, mas uma comunicação que demonstrou entendimento ao mundo de hoje. Cada vez faz menos sentido tratar o feminino a partir de estereótipos que pulularam a comunicação durante década – o que é extremamente positivo –, ainda que a efeméride deste ano tenha alicerçado campanhas como a rede de restaurante que deu folga ou remanejou homens para ter uma loja apenas com mulheres ou a prefeitura que colocou cílios gigantes nos semáforos.
Entre tantos escorregões e absurdos disfarçados de boas intenções também há os que se calam. Não apenas numa data simbólica, mas a conivência que permeia o dia a dia. A conivência com “piadas”, comentários ou gracejos, aprendemos nos últimos anos, é tão nociva quanto a disseminação desse tipo de conteúdo. Quem fecha os olhos diante de injustiças está inevitavelmente se colocando de um lado da história.
É por essa lógica do silêncio nocivo que não se pode aceitar manifestações como o programa constrangedor da “TV Bandeirantes” com musas do Goiás e do Vila Nova em Goiás; é por causa disso que não se pode aceitar a “justificativa” da emissora local, que tentou tratar a atração como uma provocação ou exposição de como o machismo é cruel; é por causa disso que tampouco se pode calar diante da complacência da Fundação Getúlio Vargas, que puniu com três meses de suspensão um aluno que compartilhou imagem de um estudante negro com a legenda “esqueceram esse escravo no fumódromo”. Ora, se a instituição entende que o estudante é culpado, e portanto cometeu um crime ao propagar tamanho absurdo, o mínimo a se fazer é a expulsão. Sobre isso, recomendo o pertinente documentário “The Hunting Ground”, disponível na plataforma Netflix. O silêncio não é exclusividade da FGV e não devasta apenas as minorias do Brasil.
Casos de temas pungentes, como machismo e racismo, tornam mais simples a compreensão do quanto o silêncio pode ser destrutivo. O futebol brasileiro ofereceu outro exemplo na última semana, ainda que menos grave, mas igualmente didático: a articulação para conduzir Rogério Caboclo à presidência da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Caboclo é braço-direito de Marco Polo Del Nero, último presidente eleito da entidade, alvo de investigação sobre corrupção em contratos internacionais do futebol. Ciente de que a Fifa e o FBI impedirão seu retorno ao cargo, o ex-mandatário promoveu articulação com federações estaduais para promover seu sucessor e garantir uma continuidade de diretrizes na instituição nacional. Como diz o ditado, é como mudar as moscas para manter o bolo.
Del Nero recebeu em um apartamento da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, os presidentes de federações estaduais. Conseguiu assinaturas de 20 deles para viabilizar a candidatura de Caboclo e afastar qualquer movimento opositor.
O colégio eleitoral da CBF é constituído por 27 federações, e cada uma tem peso três em seus votos. Também participam os clubes da Série A (20 equipes e peso dois) e da Série B (20 equipes com peso 1). Nessa composição, obra de outra manobra de Del Nero, as entidades diretivas valem 81; os times somam 60.
A articulação da última semana incluiu farta distribuição de cargos. Os vices da CBF, que antes eram cinco, serão oito a partir do próximo mandato. Além disso, a entidade nacional literalmente sustenta a maior fatia de seu colégio eleitoral – há uma “mesada” para federações, e nos casos dos estados menos ricos esse dinheiro representa parte indispensável no orçamento.
E os clubes, que já haviam sido passados para trás na composição do colégio eleitoral, mais uma vez silenciam. Ainda que a articulação de Del Nero tenha sido reprovada por muitos, não houve qualquer manifestação pública ou ação política em direção contrária. Sabe-se lá por qual motivo, mas as direções de equipes acompanham bovinamente a mais essa movimentação para mudar sem sair do lugar.
Paralelamente, o Santos ignorou acordo para negociação em bloco, rompeu o que havia combinado com diretorias de times como Atlético-PR e Bahia e fechou com a Globo a cessão dos direitos de transmissão de seus jogos para a rede aberta. O grupo é formado por times que haviam alinhavado com o Esporte Interativo a exibição em TV fechada, e a presença do clube da Vila Belmiro dava mais peso nas conversas com a emissora carioca.
Assim como tem acontecido escancaradamente desde o fim do Clube dos 13, o movimento do Santos é uma luta individualista e pensa apenas no bem do clube. É lícito e compreensível que a diretoria adote esse comportamento, mas isso também diz muito sobre o atual momento do futebol brasileiro.
Qual é o espaço que os clubes têm para discussões sobre o futuro do jogo? Em que momento eles pensam sobre detalhes, plano estratégico ou ações de comunicação para melhorar o futebol nacional como produto? Quando eles conseguem estabelecer parâmetros para formação de atletas, pensar num projeto de longo prazo e entender a concorrência com outras ligas e/ou outras formas de entretenimento?
O futebol brasileiro trilha um caminho de perda de relevância, e isso tem relação direta com o individualismo dos clubes. Tem relação direta com a ausência de uma articulação que realmente represente os torcedores e que pense no que o público quer para o jogo.
Essa discussão demanda vontade política. É preciso comprar brigas e adotar posicionamentos. É preciso reagir. O silêncio, no caso do futebol brasileiro, é a pior resposta e apenas fomenta a imagem de morosidade ou de que é impossível fugir de um sistema completamente viciado.
Mas quem vai ser a voz a gritar?

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Entre o jogador e o clube

Bem-vindos ao nosso mês de março aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Hoje vamos continuar a nossa conversa sobre o contrato de trabalho do jogador profissional de futebol no Brasil. Um contrato que como qualquer outro tem o que quem está lá pode e não pode fazer. E é assim que a gente chega no foco dessa semana: os mandamentos no contrato do jogador de futebol.
O atleta é um empregado. E como um empregado tem que seguir algumas regras. Essas regras têm um “que” de “pode” ou “não pode” para deixar tudo mais claro – pelo menos quando o contrato é bem pensado e escrito. Deixando tudo mais claro para o seu clube e para o atleta, fica muito mais fácil cuidar desse namoro (que em alguns casos vira até casamento, como com alguns goleiros da nossa história recente). Já para deixar tudo mais claro para a gente aqui, deixo escrito o que vamos ver hoje: o que todo contrato tem, o que a maioria dos contratos têm, e o que alguns contratos têm.
Bora lá?
Semana passada a gente conversou por cima sobre a ideia do “modelão” e que tem muita coisa que é igual para todo jogador profissional de futebol, né? Bom, essa regra geral continua no que a gente acha em todo contrato desse tipo. Parte dessas cláusulas padrão traz o básico que um jogador deve fazer para continuar como empregado de um clube. É como ano novo por aqui… muda de cidade para cidade e de família para família, só que a gente sabe que uma hora vamos ver fogos de artifício ou pelo menos um rojão lá em cima!
No caso do contrato especial de trabalho desportivo (CETD) são três conjuntos padrão: o “serviço” do jogador, o “comportamento” dele, e “senão”. Lá você vai achar que o atleta só pode jogar por um time por vez e que tem que jogar (amistoso ou não) onde o time tiver a partida e na posição que pedirem quando for escalado. Nessas partidas, o jogador tem que ter disciplina e obedecer a equipe técnica de sua equipe (viu?). E também não pode reclamar com o juiz ou com a torcida, além de respeitar os seus companheiros de equipe e os adversários (mesmo que seja difícil de aguentar). E o atleta tem que participar dos exercícios físicos além dos treinamentos técnicos e táticos exigidos pelo seu clube (mesmo num domingo chuvoso as oito horas da manhã).
No seu dia a dia o atleta também tem que ter uma disposição tremenda no seu comportamento fora do jogo. Já que tem que se esforçar nos treinamentos e estar sempre em forma (em tese). Fora isso, o jogador tem que se comportar na sua vida pessoal de um jeito que não deixe ele cansado, e que não prejudique seu rendimento nos treinos e em campo (vida fácil, né?). É claro que aí depende de cada caso. Todo jogador tem vida fora das quadras, e tem que lembrar das consequências das suas escolhas pessoais depois. Aliás, até remédio e suplemento alimentar é bom checar com a equipe médica do seu time antes de tomar – senão pode dar ruim, ainda mais se for sem autorização do clube.
E ai do atleta se não se cuidar ou não seguir essas regras básicas. Os “senão” variam, e certeza que cada um aqui lembra ao menos uma multa que o seu clube aplicou em alguém do time. Não é? A vida de um jogador é tudo menos fácil, e tudo menos simples. Ainda mais quando essas regrinhas afetam até o que o jogador pode usar durante jogos e treinos – sim, tem isso no contrato!
Deixando de lado essa base, a gente vai achar no CETD algumas cláusulas que tem na maioria dos contratos. Essas são as “cláusulas extras”, e lá a gente vai achar algumas curiosidades que certeza que vão te lembrar alguma história do seu time. Como exemplo, o atleta tem que nas suas horas vagas participar de eventos do clube. Isso além de cuidar de tudo que é do clube como se fosse dele, inclusive da imagem do clube (ou seja, sem falar m**** nas entrevistas. Feito?). Senão, multa.
Geralmente também vai ter uma cláusula que fala alguma coisa sobre “praticar atividades físicas que não relacionadas ao futebol” que é um pouco mais específica do que a “padrão” de todos os contratos. Isso está lá para evitar que o atleta vá no fim de ano e jogue aquela pelada com os amigos sem avisar o clube – e se machuque em uma dessas. Ou pior, que vá viajar no inverno gringo e numa “esquibundada” acabe se quebrando inteiro. Numa dessas, o seguro não vai cobrir o acidente e vai ser um “problemão” para o atleta. A dica aqui é: cuidado! Cuidado, aliás, que também vale para os exames médicos que o clube pede ao atleta – tem que fazer, e ponto (afinal, a gente só tem uma vida. Né?).
Outra regra que é até de bom senso, é que o atleta não pode apostar em futebol ou em outros esportes que o seu clube pratique. Aliás, imagina se pudesse! Não ia ser incrível comer aquele sanduíche no banco de reservas do seu time e ganhar um extra com isso? Ou que tal morder o amigo adversário no meio da partida? E marcar um gol contra do meio de campo? As opções são infinitas e as tentações também. Agora, se isso está no contrato… aí do jogador se fizer uma besteira dessas.
Nisso de ter aqui e ali, outra cláusula importante fala sobre a imagem do atleta – e não estamos conversando sobre o contrato de imagem que aí é outro assunto, beleza? Aí tem umas regras bem interessantes que falam desde videogame até as chuteiras. Gente, futebol passa na televisão (e em vários outros lugares). Futebol é entretenimento. Futebol é um produto. E o futebol que é um produto de entretenimento e passa na televisão gera dinheiro. Esse dinheiro vem de algum lugar, e esse algum lugar se preocupa e muito com isso. Um jogador que aparece com um boné na entrevista que não é do patrocinador do clube pega mal, e pior… paga mal – até para o próprio atleta!
Agora outra cláusula interessante e menos comum é a que fala das consequências para o atleta quando ele faz uma bela besteira fora de campo. É o botão de desligar do contrato. Aí a carreira do atleta quase que acaba quando o jogador age como uma pessoa pouco civilizada e bate em alguém no meio da rua, quando o jogador vende o resultado da partida para ganhar um dinheirinho extra, ou quando o jogador resolve tomar o que não deve antes de um jogo. Essa cláusula é importante. E mais do que importante é uma das que tem mais efeito na vida do atleta dentro e fora de campo. De novo, ser atleta parece legal só que não é nem um pouco fácil – e não só dentro de campo.
Fico por aqui essa semana, gente! E na próxima sexta-feira vamos conversar sobre o que o clube “pode” ou “não pode” fazer com o atleta pelo seu contrato. Espero que tenham gostado de hoje, e vejo vocês daqui sete dias! Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn, ou pelo meu Twitter. Valeu? Bom final de semana, e até daqui a pouco!

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Formação completa e integral no futebol

Quando vou falar de formação, categoria de base, no futebol brasileiro procuro sempre contextualizar o ambiente sócio-cultural de hoje.
A pedagogia da rua que nos consagrou por anos e por Copas do Mundo a fio quase não existe mais. As dez mil horas, sempre aperfeiçoadas por novos estímulos que o ambiente lúdico proporcionava aos nossos garotos, ficaram restritas a alguns poucos campinhos. Se antes jogávamos dois contra três, mais novo e mais velho juntos, gol a gol, três dentro três fora, hoje jogamos vídeo game, vamos ao cinema, ficamos no celular ou simplesmente fazemos outra coisa em casa porque é mais seguro. Com isso, o funil ficou mais estreito. Não produzimos mais craques como antigamente.
O papel do formador, do técnico das categorias inferiores, ganhou então uma nova conotação. Sai o profissional que apenas deixava os talentos aflorarem e fazia poucas lapidações para entrar aquele que vai ensinar, doutrinar os jovens que demonstram boas aptidões técnicas, táticas, físicas e emocionais. Hoje há um processo muito mais longo para formar integralmente um jogador de futebol. Insisto que saíram as dez mil horas de prática da rua para a entrada de um “aprender a jogar” novo.
Quando falo em processo me refiro fundamentalmente a entregar ao profissional um atleta que tenha o maior número de conceitos possível. E esqueça qualquer tipo de engessamento. Pelo contrário. Me refiro a variedade de formas de jogar e funções desempenhadas na base para que no profissional esse atleta tenha uma maior capacidade para por si só tomar as melhores decisões que resolvam os problemas de jogo.
Por tudo isso, me incomoda ver um jogador de 17 anos subir ao profissional. Não me refiro a jogadores do calibre de um Neymar, de um Gabriel Jesus, etc. Esses têm uma capacidade superior que faz com que tomem as melhores decisões em qualquer ambiente. Mas a maioria não é assim.
Hoje um atleta que se destaque com 18 anos nem passa pela categoria sub-20. A ânsia estrutural dos nossos clubes faz com que ele seja içado ao profissional direto. Lá, na maioria das vezes, ele vai treinar ou no segundo ou no terceiro time, jogar alguns poucos minutos por semana e parar de receber novos conteúdos de treino já que ‘não dá tempo’. Se a condição emocional desse atleta não for boa ele já vai se sentir um jogador profissional e a ‘fome’ pode escassear. Se tiver então que ‘descer’ para a base, mais difícil ainda. O desânimo tomará conta. Em ambos os casos, perdemos o processo!
Precisamos entender o momento e termos um melhor processo de transição para nossos jovens. Muitos se perdem pelo caminho não por falta de qualidade. Mas sim para um ambiente que pressiona, suga e cospe fora em algumas poucas partidas.

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Conhecimento no futebol

Depois de um período ausente, retorno para escrever as colunas com uma periodicidade de 15 em 15 dias. Entendo que poderei abranger temáticas pontuais e que realmente adentrem o cotidiano e o contexto dos leitores. Bem, vamos ao que interessa.
O mundo em si é uma diversidade, o futebol mais ainda. Pontos de vistas são levantados a todo instante, palavras e expressões são pronunciadas com seus únicos, poucos ou muitos significados. Dentro deste ambiente, um mundo definitivamente “circular” surge. E o futebol, apesar de ter seus desenhos gerais marcantes, é um pouco isso: um fenômeno antropológico em que cada contexto abarca alguns traços culturais exclusivos, hábitos e costumes.
E no Brasil, evidente, temos isso e uma maneira de assistir o jogo, organizar um clube, um processo de treinar, de jogar, de formar jogadores e encarar a derrota ou a vitória. É algo que vem de gerações, de anos, não é certo ou errado, apenas singular. Isso acentua uma “determinada construção de conhecimento”. Ademais, julgar se é correta ou não comparativamente a outras culturas não é o predicado da questão.
Mas apesar desse mapa, atualmente vivemos numa rede e numa proliferação informacional que temos que reconhecer que há uma cultura “macro global”, ou o entendimento que o mundo não acaba no final da minha rua. Isso proporciona uma permuta e uma correlação de ideias que se bem concebidas criam cenários que não desvirtuam a cultura local e sua identidade. Essa sintomática do velho com o novo e da cultural local com a cultura não local, ainda é um paradoxo. Entender que atualmente temos que estar com “os demais” para nos sustentar como ser humano em transformação, abre horizontes variados.
Até por que a humanidade, a espécie humana, além desses aspectos regionalizados mais particulares, também está evidenciada pelos códigos ambientais globais que carregamos desde quando nascemos, ou seja, fomos criados e estruturados por uma simbologia reducionista, pelo parcelamento e pela diminuição em qualquer parte do mundo. Desde as primeiras instruções de nossos pais, a escola e nossos primeiros conhecimentos de treino e de jogo, fomos orientados pela e para unilateralidade e redução sem nos darmos conta de nada.
Bom, essa tendência da cultura que cega e dos códigos ambientais que paralisam, são evidências que dificultam o entendimento da realidade, instante e unidade. Então, essa combinação entre cultura e códigos ambientais arrasta repercussões no conhecimento de todas as áreas, mas especialmente para as principais do futebol: jogador-jogador, jogador-treinador e treinador-jogador.
Assim, o conhecimento de jogo e sua expressão dentro das quatros linhas é baseado pelo que expressamos e o que conhecemos, e não é uma interpretação apenas dos diferentes meios e diferentes formas de jogar, mas sim uma interpretação da raiz etnológica, axiológica e praxiológica dessa construção do conhecimento e sua transferência com realidade, instante e unidade. Dessa identificação, alguns perfis de “conhecimento” que temos no futebol podem ser vistos na sequência.
Conhecimento por chavões (sempre a mesma coisa)
No futebol temos verdades absolutas que ficarão eternizadas até a extinção do esporte. Independente do que está acontecendo e das particularidades contextuais, aquelas mesmas expressões ou definições pronunciadas a vida toda, sempre estarão à tona. Basicamente são aspectos repetidos que viraram verdades e servem de protocolos para qualquer área, sem reflexão ou evolução, podendo ser oriundos de experiências passadas, de pessoas que treinaram daquela forma ou venceram daquela forma no passado algumas vezes.
Conhecimento por que ouvi alguém falar (escuto e faço sem contexto)
Habitualmente quando ouvimos alguém falar algo, especialmente pessoas que tem um currículo vencedor, pessoas em cargos superiores, pessoas que têm um peso em escolhas, pessoas do momento, amigos ou até mesmo pessoas que formam opinião com veículos informativos, começamos a balançar algumas ideias que temos e submergimos um pouco naquilo. Se alguém falar que é certo, é bom, vai resolver e colocar aquilo como fundamental sem conhecer a realidade, o dia a dia pode perder suas circunstâncias naturais. Essa excitabilidade de ouvir algo e querer aplicar negligenciando a realidade, é um problema sintomático que enfrentamos atualmente muito pela falta de coragem e convicção.
Conhecimento por modinhas (copio da internet)
Nossa geração está obcecada pela busca. Isso é fantástico. A globalização no futebol vem gerando cada vez mais materiais e possibilidades. Mas ao mesmo tempo em que lemos e assistimos com muito mais frequências, copiamos também mais. Esse é o problema: como o copiar afeta na transferência de conhecimento? Essa utilização da cópia pela cópia não reproduz fidedignamente o conhecimento e transfere muito pouco pra a prática. A internet, dependendo como usada, ao mesmo tempo em que é importante para as novas concepções, é também um cancro para a alienação da tarefa principal de um processo que é a criatividade.
Conhecimento por conceitos mecanizados (desnaturalizo o jogador)
Nos últimos anos começamos a abordar com frequência a palavra conceito. Mas o que é realmente um conceito? Acredito que estamos num processo de persuasão conceitual que aparentemente demonstra supostas vantagens momentâneas para o ambiente envolvido ou para a formação de jogadores. Apenas ensinar uma somatória de conceitos, intervindo nisso sem levar em consideração que os jogadores em si carregam conceitos e o quanto isso tira sua autonomia, parece algo conflitante. Por mais que pareça transcendental, dependendo da forma como o conceito é abordado e planificado, pode ser danoso. Os melhores conceitos estão na realidade, nas relações gerais e no jogo, ou seja, nas relações dos jogadores e na simplicidade da interação com o tempo-espaço-bola-companheiro-adversário.
Conhecimento por interpretação real do que realmente está acontecendo em cada treino e cada jogo (enxergo realidade, instante e unidade)
Uma das questões difíceis do futebol é olhar para o aqui e agora e viver nele. Identificar a atividade atual, as novas adaptações no curso das interações, levando em consideração a subjetividade do jogador que constrói seu contexto local com novas experiências, é um grande dilema. O dia a dia é o maior referente evolutivo-vivo como fonte de compartilhamento de informações e interpretações. Não podemos ficar o tempo todo atrelado em papéis, em ideias passadas e certezas conceituais mastigadoras. A co-construção entre jogadores e treinadores, gera uma interpretação que todas as mudanças que ocorrem dentro do ambiente, terão uma consciência interpretativa que é mutável todo o tempo, elevando o nível de conhecimento sobre o jogo em todos os pormenores e em todas as coordenações pretendidas. Merleau-Ponty fala que “a percepção não é apenas consagrada no mundo que a rodeia ou simplesmente restrita por ela; ela contribui para a interpretação deste mundo circundante. O corpo dá forma ao seu ambiente ao mesmo tempo em que é harmonizado por ele”.
Não há verdades absolutas em cima do conhecimento, mas o grande desafio atual é ter uma sensibilidade mais aguçada do que realmente está acontecendo com a realidade, o instante e a unidade e perceber se sua escassez, inércia ou transformação (aí depende da transformação do conhecimento), representa realmente um contexto natural que se comunica harmonicamente.
O conhecimento não é único ou pré-existente em um só lugar, ele está expresso em cada situação peculiar. O conhecimento é uma arte, a aquisição do conhecimento é uma busca sem fim. Podemos ter diversos estímulos, mas todo o conhecimento do mundo nunca será suficiente se não interpretarmos o que realmente está acontecendo. Como treinadores, interpretar o jogo ou o treinamento é uma revelação criativa que pode melhorar se suprimirmos duas questões: abolir nosso ego inflado dominador de certezas inegociáveis e reconhecer que as interações potenciais dos jogadores em cada dia e em cada jogo nunca serão as mesmas, ou seja, o verdadeiro conhecimento, o conhecimento transformador, vem da inteligência contextual e situacional de um caminho que não existe de antemão, que vai emergindo enquanto os passos são dados.

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O Marketing do Futebol do Interior

Futebol de rendimento requer muito investimento. As cifras são infinitas. Há pouco mais de duas décadas o cenário não era tanto assim. Havia mais competitividade entre o futebol de clubes de grandes centros com os do interior. Em textos anteriores desta coluna foi mencionado que os clubes com mais torcida têm mais oportunidades de receita em função do número de torcedores que possui. Ou seja, esta relação entre número de torcedores é diretamente proporcional ao rendimento financeiro da instituição.
Ao longo da história, alguns fatores foram determinantes para concepção de um clube com torcida numerosa: estar estabelecido em uma grande cidade, que possui inúmeras comunidades étnicas, religiosas e sociais que favorecem o surgimento de associações esportivas, além da criação de rivalidades e o poder econômico e político que a urbe possui, para fins de obtenção de patrocínios e viabilização de sedes sociais e estádios. Com mais recursos, maiores as possibilidades de investimento na formação de futebolistas, plantel e infraestrutura. E os clubes que não possuem uma massa associativa capaz de gerar receitas para se manterem na elite do futebol? Podem viver em uma – nada saudável – “gangorra”, num vai-e-vem prejudicial à estabilidade financeira e institucional do clube: vulneráveis a investimentos de terceiros e interesses alheios aos da organização. À prazo isso pode ter uma terrível consequência.
Entretanto, existem sim soluções. Sabe-se que o modelo norte-americano do esporte profissional é baseado em um sistema de não-rebaixamento e promoção de clubes, bem como da igualdade de condições de competitividade entre os seus participantes. Em outras palavras, as piores equipes da temporada têm benefícios a fim de estabelecer uma equipe competitiva para a disputa da próxima. Há também o teto salarial que contribui para a saúde financeira da liga, seus integrantes e os atletas, que têm seus contratos cumpridos por toda a temporada. Um modelo como o norte-americano, adaptado ao futebol do interior do Brasil (conforme suas condições, contexto e realidade) é sim possível: a formação de ligas. Para que isso seja viável é preciso antes de tudo que os interesses dos clubes sejam convergentes com esta ideia.
Portanto, com uma regularidade dos jogos e adversários, a atratividade do torneio a partir das rivalidades que existem dentro do futebol do interior, estabeleceriam um produto interessante para torcedores e potenciais patrocinadores. Com uma estabilidade de recursos e austeridade nas finanças, maiores as chances de investimento em categorias de base, infraestrutura (estádio) e plantel. O clube respira e sobrevive. Evita-se a gangorra e o vai-e-vem de divisão (muitos vão dizer que isso é que dá a graça). Entretanto, preserva-se a instituição, o torcedor e, sobretudo, o atleta.

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O espetáculo de Neymar

#tamojuntoNeymar era a inscrição na parte superior das costas de todos os jogadores do Santos no último domingo (04), no Pacaembu, em clássico contra o Corinthians. Quatro anos mais tarde, a despeito da desconstrução anímica que a seleção brasileira vivenciou na Copa do Mundo após a lesão do atacante, sua condição física voltou a movimentar o noticiário e interferir no cotidiano de outros atletas. Ele pode ter evoluído em campo ou fora das quatro linhas, mas o “espetáculo Neymar” segue sendo parcela fundamental do que é o personagem Neymar.
Em 2014, o camisa 10 da seleção brasileira teve um problema nas costas após disputa de bola com um jogador da Colômbia em partida das quartas de final. Perdeu as duas últimas partidas do país na Copa, e sua ausência foi uma das histórias mais relevantes para a derrota dos anfitriões por 7 a 1 para a Alemanha. Os dias que precederam aquele acachapante também foram dias de “espetáculo Neymar”: cobertura ostensiva de tudo que acontecia com o jogador, dos deslocamentos aos procedimentos médicos; discussão frequente sobre os efeitos técnicos e emocionais que sua ausência poderia acarretar; debate intenso sobre os possíveis substitutos e a responsabilidade que esses atletas teriam; criação da hashtag #ForçaNeymar, que chegou a ter mais de uma foto publicada por segundo na rede social Instagram. Durante alguns dias, a condição física do atacante assumiu grau de protagonismo que contribuiu sobremaneira para fomentar o mito em torno dele, mas que também aumentou consideravelmente a pressão sobre o entorno.
Há muitos elementos paralelos entre as duas histórias. Assim como em 2014, Neymar sofreu uma lesão antes de um jogo extremamente decisivo. Após derrota por 3 a 1 no primeiro duelo do mata-mata da Liga dos Campeões da Uefa, o Paris Saint-Germain jogará a temporada contra o Real Madrid no dia 6 de março, em Paris. Contratação mais cara da história do futebol, o camisa 10 também era a grande aposta dos franceses para uma reação no confronto – um ano antes, ele já havia dado sinais de que poderia liderar reações assim ao comandar uma vitória do Barcelona por 6 a 1 sobre o próprio PSG na mesma competição.
Além do impacto técnico e da evidente carga emocional que um protagonista carrega em momentos assim, as duas histórias têm em paralelo a espetacularização do pós-lesão de Neymar. Em 2014, jornalistas, torcedores, curiosos e o séquito mantido pelo atacante participaram de cada momento entre a joelhada que ele levou nas costas e o 7 a 1 que o Brasil levou no Mineirão. A comoção tem muito a ver com a relevância dada ao fato (e vice-versa).
Um exemplo disso é uma entrevista recente do zagueiro Kimpembe, que tem alternado jogos como titular e reserva no PSG. Depois de uma vitória por 3 a 0 sobre o Olympique de Marselha em jogo da Copa da França, o defensor ficou irritado com a enorme quantidade de perguntas sobre Neymar: “Mais uma vez? Neymar aqui, Neymar ali. Já não tenho mais o que falar. Se não pode atuar, não pode. O treinador vai escalar outro”.
Existe um circo em torno da lesão de Neymar, mas é pertinente questionar: a notícia é reflexo do interesse ou o interesse é reflexo da ostensiva aparição do conteúdo? O dilema Tostines desse caso é uma das chaves para entender o mercado de celebridades no mundo atual. Quando tentamos humanizar as mensagens e dar mais atenção aos personagens, criamos uma cultura de consumo de informação que superestima dados pessoais e que muitas vezes ultrapassa limites do que é privado.
A cobertura em torno da lesão de Neymar também alicerça uma parte fundamental da personalidade de Neymar. Esse interesse e a supervalorização de tudo que acontece com o jogador são facetas de um ambiente totalmente descolado da realidade. É até possível que o contexto não contamine o protagonista, mas isso demandaria um esforço e um desgaste que Neymar não parece disposto a oferecer.
Você pode até estar espantado com o fato de a operação de Neymar ter recebido mais atenção do que a Guerra da Síria, que começou há quase uma década e nunca encontrou enorme espaço no noticiário brasileiro. Discutir a pauta de noticiários, porém, é enfrentar apenas parte do problema. Neymar é um exemplo extremamente bem acabado de uma geração mimada, que tem problemas para desenvolver empatia ou pensar no outro.
O problema de Neymar nunca foi o espaço que ele ocupa; o que assusta é como esse espaço é ocupado.

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Desenvolvimento de longo prazo: Quem ensina? Quem aprende? Do que se trata?

Todos nós experimentamos os efeitos da educação. Diariamente, assimilamos conhecimentos, corrigimos defeitos, adquirimos novos hábitos… e somos influenciados por outras pessoas em nosso modo de ser e agir. Em maior ou menor grau, exercemos um estímulo educador sobre os outros e vice-versa.
Olhando para a sociedade, percebe-se que ela forma o indivíduo segundo suas normas, regras, crenças e costumes, através de um processo permanente de impregnação e também de convivência com as gerações anteriores. Mas a educação também implica uma conscientização daquele que aprende, ou seja, para desenvolver suas potencialidades o indivíduo precisa estar disposto a isso. Este é um processo exclusivamente humano. Somente o homem é capaz de educar-se. A planta se cultiva e o animal se adestra.
Trazendo esta realidade para o futebol, na prática, o clube (sociedade) precisa se preocupar em transmitir os conhecimentos da forma mais adequada e eficiente possível, adaptando os métodos práticos às necessidades apresentadas. Para isso, precisa construir um conjunto de procedimentos e normas cujo objetivo primordial é orientar como o indivíduo será ensinado.
E como as pessoas aprendem a fazer bem somente aquilo que praticam; seguir os princípios que dão a identidade ao clube (diariamente e pelo maior tempo possível) é o primeiro passo para se atingir os objetivos propostos. Além disso, o modo de ensinar (forma de comunicação, recursos utilizados, gestos técnicos) direciona o aprendizado para algo mais adequado.
Seguindo esta estrutura (o que ensinar, como ensinar e por quanto tempo ensinar), esperamos então que a resposta individual e coletiva seja precisa, imediata e sincronizada. Mas a última coisa que queremos é limitar os jogadores à simples reprodução mecânica; por isso, aprender a encontrar a resposta mais adequada de acordo com os próprios princípios torna-se fundamental para o desenvolvimento cognitivo do jogador.
Pensando neste aspecto e ainda levando em conta que existem muitos fatores que incidem no ritmo e progresso de desenvolvimento de cada um, quais qualidades humanas e profissionais, aquele que transmite o conhecimento e conduz o ensino deve possuir? Organização, respeito às individualidades, coerência, responsabilidade, equilíbrio mental e emocional, conhecimento pleno do objeto de trabalho, são apenas alguns exemplos e certamente são bons requisitos para qualquer função. Entretanto, algumas questões relacionadas às ações do treinador antes, durante e depois dos treinos, podem e devem fazer parte do processo de ensino-aprendizado.
De forma sucinta, a elaboração do trabalho deve ser metodicamente organizada e realizada respeitando as etapas de aprendizado. Por isso, ao planificar e organizar uma sessão de treino, devemos considerar o planejamento anual e o que realizar de acordo com o objetivo principal do dia, respeitando sempre uma progressão lógica entre os exercícios.
Durante o treino, momento que necessita a participação integral de todos, cabe ao treinador reforçar jogadas e decisões corretas, se posicionar de forma que possibilite uma visão ampla do que se passa no campo, corrigir falhas com demonstrações corretas e dar feedbacks específicos e precisos. Nada que impeça a fluidez do treino, mas que o conduza para aquilo que se pretende.
Assim como o feedback é importante para o jogador, é também para o treinador, para coordenar e para o clube. Por mais que os objetivos do dia ou da semana tenham sido alcançados, há sempre algo a melhorar. Como podemos então, fazer melhor o que estamos fazendo? Qual é ou foi o nosso maior problema (no jogo ou em algum treino)?
Reproduzir diariamente os comportamentos que desejamos e buscar algo melhor mesmo quando já somos bons, torna menos difícil alcançar a excelência e menos custoso sair da zona de conforto. Então, respondendo a última pergunta do título, não importa o quanto seus jogadores sejam excelentes; os treinadores, supervisores, coordenadores… os líderes devem sempre buscar avançar no aprimoramento da qualidade e na uniformidade da condução do processo de desenvolvimento de longo prazo. Nada muito positivo acontecerá caso as possíveis ações não saiam do discurso. Portanto, todos precisam saber que seus líderes se dedicam diariamente, com fervor e responsabilidade pelo tempo que for, em relação aos princípios do clube.

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Entre o esporte e o trabalho

Bem-vindos ao mês de março aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessas próximas cinco semanas nós vamos conversar um pouco sobre o que a gente acha entre o esporte e o trabalho quando o seu clube traz um jogador. Ou melhor, a gente vai dar uma olhada no contrato de trabalho do jogador de futebol. E aqui no Brasil esse contrato tem uma base que é dada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
A base desse contrato é um “modelão”, e por isso acaba sendo bem parecida para quase todos os jogadores – desde aqueles que ganham um salário mínimo, até aqueles que ganham bem mais que isso. E para conversar sobre essa parte básica, a gente vai ver nesse mês quatro temas: o que o jogador pode ou não pode fazer, o que o clube pode ou não pode fazer, como o mundo do futebol traz seus regulamentos para esse contrato, e como a legislação brasileira dá a sua cara também. Assim, quando der aquela (…) com o contrato do jogador, você vai poder soltar aquele “ah, já sei isso. Funciona assim”.
Bora conversar?
A gente sabe que não dá para fazer tudo o que quiser quando a gente trabalha e dá para imaginar que no caso de um jogador de futebol tem algumas regrinhas básicas, né? Pois é, o próprio contrato de trabalho do atleta fala um pouco do que o jogador pode ou não fazer enquanto for empregado do seu clube. É como aquele código de conduta (ou qualquer outro nome) que tem lá no seu Facebook quando você clicou naquela caixinha do “eu li e concordo”, sabe? Isso, aquela mesma que eu cliquei e não li!
Esse “modelão” traz o básico de orientação para o jogador manter o emprego. Se não respeitar esse básico, o bicho pega (ou o bicho não entra no bolso, dependendo do ponto de vista). E é por isso que é legal de saber um pouco mais sobre isso. Afinal, uma vez por temporada sempre tem aquela história do jogador e do clube que estão de mal, certo? Vamos ver isso semana que vem!
Nesse contrato também tem o lado do clube. Ou seja, o mínimo que o clube tem que fazer para manter o jogador e não perder ele “de graça” e “do nada”. Que nem aquele contrato de celular que a gente tem, sabe? Nós temos que fazer um mínimo para garantir a linha (ou número), sabe?
É aí que de vez em quando dá encrenca. Só lembrar de uns casos recentes do ano passado que ainda estão rolando esse ano – ainda mais se você é do Rio de Janeiro e teve um jogador que foi parar em outro estado, naquele estado. Aliás, ano sim e ano não tem disso… e é por isso que na terceira semana de março vamos conversar sobre isso.
Como a gente sabe, o mundo do futebol tem um monte de regulamento próprio – só lembrar do Licenciamento de Clubes. E a regra geral aqui não muda, os regulamentos da CBF e FIFA também vão parar dentro desse contrato. É como as regras da sua pelada de final de semana, acaba mudando como você pode jogar.
E no caso do futebol profissional no Brasil, muda o “jeitão” desse contrato com algumas regras próprias e algumas consequências lá fora. E a gente vai conversar sobre tudo isso no dia 23 de março. Fechou?
E… bom, a gente vive no Brasil e a gente sabe muito bem que tem lei para tudo, não é? No caso do futebol também é assim, e a Lei Pelé (Lei n. 9.615/98) é uma das bases de “modelão”. É tipo quando a gente é criança e vai passar um tempo na casa do amiguinho – valem as regras da casa dele, e não as da sua casa.
É por isso que a Lei Pelé acaba dando a cara do contrato do jogador do seu clube. E lá tem alguns pontos bem importantes quando a gente vê aquela notícia de jornal que tira a gente do sério ou faz a gente rir do rival. E é bem por isso que é bom pelo menos saber como a legislação brasileira aparece nesses contratos. Aliás, é com esse tema que vou fechar o mês de março.
Resumindo tudo isso: o futebol é uma caixinha de surpresa, só que o contrato do seu time com aquele jogador não deveria ser!
Por hoje é isso, pessoal. Como falei, hoje é só o “geralzão” do que a gente vai conversar nesse mês. Espero que tenham gostado, e vejo vocês por aqui na próxima semana! Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn, ou pelo meu Twitter. E aproveitem com moderação, fui!