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As crias do Palmeiras não brotaram do nada

Crédito imagem: Thais Magalhães/CBF

Quando o Palmeiras conquista essa Copa do Brasil 2020, com 2 a 0 no segundo jogo da final contra o Grêmio, um simbolismo muito grande acontece: esses gols são marcados por dois jovens jogadores formados no clube: Gabriel Menino e Wesley. Poderia ter sido Patrick de Paula, Danilo, Gabriel Veron, o zagueiro Renan, enfim, quero falar de processos, de ideias e não de pessoas. Um paradigma está sendo quebrado na história do clube. O Palmeiras já teve inúmeros títulos importantes, eras vitoriosas, mas nunca com uma consistência tão grande na formação. Se no passado recente falávamos de parcerias com a Parmalat e até mesmo com a Traffic, hoje falamos de um processo nas categorias de base que dá retorno dentro de campo e que muito em breve trará retorno financeiro, com vendas robustas. Grandes contratações já deram títulos. Mas esse rompimento histórico, de pouco revelar, trará frutos ainda mais consistentes.

Já falei inúmeras vezes aqui nesse mesmo espaço sobre a gestão profissional que hoje impera no Verdão. Um marco para isso foi a construção do estádio, que trouxe não só modernidade estrutural, mas também diretiva e de recursos humanos. Hoje nada se negocia no Palmeiras sem passar por alguém especializado. A política ainda existe já que trata-se de uma associação. Mas a profissionalização está consolidada em tudo que fica direta ou indiretamente ligado ao futebol. Méritos, claro, sempre de Paulo Nobre que foi o presidente que rompeu com o ultrapassado modelo antigo, mas também para o atual presidente Maurício Galiotti, que apesar de ser mais flexível do que Nobre, manteve a essência dessa gestão profissional.

Mas voltando para dentro das quatro linhas, o bom técnico português Abel Ferreira encontrou talento puro nos jovens jogadores palmeirenses. E isso não é obra do acaso. Não foi à toa, ou como muitos dizem, não brotaram talentos na Academia de Futebol por sorte ou destino. Isso é fruto de captação qualificada, de metodologia eficaz, de pessoas preparadas para formar melhores homens que serão melhores jogadores. O Palmeiras nunca  teve tradição em revelar porque nunca colocou energia, recursos, paciência e pessoas competentes nessa área. A lei da causa e efeito é irrefutável. Só se vai colher o que for plantado.

O futebol está longe de ser uma ciência exata, mas há caminhos e decisões que aumentam as probabilidades de sucesso. Não pense você que essa fase vencedora do Verdão é inesperada. No médio prazo vai vencer quem trabalha melhor. E o Palmeiras não está desde 2015 chegando sempre por uma simples coincidência. 

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As possibilidades do Coaching no futebol

Crédito imagem: CONMEBOL/Divulgação

O processo de coaching vem ganhando muita atenção nos últimos anos. Cada vez mais questionado, entre profissionais de diversas áreas e contextos de atuação, a metodologia e as ferramentas apresentadas por diferentes instituições no mundo todo, ganhou espaço e popularidade graças à procura das pessoas pelo tal “processo que torna o indivíduo mais capaz de alcançar seus objetivos em uma ou diversas áreas da sua vida”.

Não é à toa que algumas instituições consagradas, como a Universidade de Harvard, já adotam de acordo com seus próprios cenários, assuntos relacionados ao desenvolvimento pessoal, como: felicidade, autoconhecimento, psicologia positiva e inteligência emocional. Até “pouco” tempo atrás, tais assuntos eram abordados de uma forma ainda singela apenas por psicólogos, com uma abordagem voltada para o desenvolvimento da saúde mental. Hoje em dia, percebe-se tais assuntos e outros relacionados às competências comportamentais, ganhando força ao se multiplicar “pelos olhos” do processo de Coaching.

Pois então, vamos lá. O que é o tal do Coaching propriamente dito?

Segundo Gallwey, o Coaching é uma relação de parceria (entre o profissional – coach e o cliente – coachee) que revela, ou liberta, o potencial das pessoas de forma a maximizar o seu desempenho. O processo ajuda o coachee a aprender ao invés de ensinar determinado conteúdo. ( Timothy Gallwey – Conhecido como fundador do processo de coaching,  e  Autor do Livro “ O jogo interior do tênis”)

O termo “coach” é proveniente do inglês e tem origem no mundo dos esportes com o trabalho de Gallwey, que em 1971 ao perceber que seus alunos de Tênis eram atormentados por muitos pensamentos que os impediam de ter mais concentração, atenção e foco, se dedicou a desenvolver uma nova consciência mental e comportamental em seus jogadores. Assim  fundando, aliado à base da psicologia esportiva  – o processo de coaching.

Desde lá o coach, conquistou muitas outras áreas de atuação, e ferramentas de trabalho. Podendo ser considerado hoje em dia, que coach é o papel que você assume quando se compromete a apoiar alguém a atingir determinado resultado. Normalmente visto como algo desafiador, em que coloca o indivíduo em movimento de aprendizado, evolução, e mudança, diante do cenário em que esta inserido.

 Visto como um processo eficiente em mapear o chamado momento atual, encontrar ferramentas eficazes para que o coachee,  se capacite a alcançar o estado desejado (objetivos traçados a serem atingidos), podemos considerar que estamos falando de um processo de autoconhecimento, com foco no desempenho comportamental bastante pragmático.

Diante de uma assertiva análise de perfil comportamental, bem como, o mapeamento de crenças mentais relacionadas à capacidade, merecimento e até identidade, gera-se durante o processo uma competência chamada autorresponsabilidade, diante dos resultados alcançados até então, proporcionando ao coachee um “ponto de virada” dentro do processo. Digamos que o sujeito que está realizando seu processo de Coaching, terá a oportunidade de adquirir com mais facilidade o controle mental e a consciência emocional necessária para obter melhores resultados.

E ao falar de melhoria contínua e alta performance, cabe citar a inteligência emocional, que está diretamente ligada ao autoconhecimento e identificação das emoções. Precisamos conhecê-las antes de gerenciá-las, não é mesmo?

Muitas vezes diante de situações corriqueiras da vida pessoal ou profissional, diante de uma partida bem ou mal jogada, situações de exposição, mudanças de time, de técnico, lesões, cansaço físico entre outras tantas conhecidas no universo do futebol, é perceptível que muito além do mental – existe nosso estado emocional que não nos da a garantia de que “o melhor será feito”, desde que ele esteja sendo vigiado e gerenciado pelo sujeito.

Temos cenários com algumas possibilidades já conhecidas da atuação do coach dentro do futebol, como facilitador para que o jogador consiga colocar de pra fora – em campo – todo seu potencial, utilizando técnicas para a superação de desafios mentais. Temos também exemplos de “trabalho de vestiário” – voltado para a sensibilização mental e emocional de forma coletiva com o time.  

Porém, acredito, que ainda podemos trazer o trabalho de treinamento mental (como prefiro chamar) de uma forma mais estruturada, previsível, contínua e aliada ao desenvolvimento cognitivo e comportamental do atleta e/ou time.

Outro ponto relevante a ser mencionado, é o trabalho direcionado não só para atletas, mas também para todo profissional que esteja direta ou indiretamente “jogando o jogo” e que tem sim, grande influencia no resultado obtido dentro de campo. Utilizando um pouco da minha experiência de mais de dez anos como psicóloga, posso considerar que todo e qualquer indivíduo que esteja em sua busca pela excelência mental e emocional, atingirá mais facilmente sua alta performance, independente do cargo ou papel que desempenhe, influenciando positivamente o ambiente de trabalho.

Independente da área de atuação, hoje percebe-se mais atenção das pessoas voltada para as competências comportamentais, inteligência emocional e foco nos resultados, de diferentes profissionais. E é justamente aí que o processo Coaching ganha espaço entre grandes empresas de diferentes seguimentos, na busca da alta performance de suas equipes/colaboradores. E dentro do futebol, não seria diferente.

Assuntos relacionados ao desenvolvimento humano, deixaram de ser tratados como específicos para determinados contextos, para se tornar amplamente necessários no mundo atual. Ao nos depararmos com a velocidade da evolução da Era digital, a rápida evolução da inteligência artificial, inevitavelmente precisamos de seres humanos mais inteligentes emocionalmente e aptos a controlar e reprogramar seus pensamentos, para que essa “pareceria” tenha sucesso.

Para finalizar, gostaria de destacar um exemplo real, onde as competências comportamentais foram muito bem utilizadas para a conquista do resultado desejado. José Mourinho, no documentário “The Playbook”, ressalta que durante sua trajetória de sucesso, tomar decisões baseadas na coragem foi o que o fez chegar tão longe. Claramente quando ele assume o comando do Porto, time de Portugal, relata que precisaria recuperar, de todos, os princípios da paixão pelo time, e para isso um dos seus principais critérios de escolha seria o perfil psicológico dos atletas. Apostaria em jogadores locais, que gerassem conexão com a torcida e resgatassem o espírito de competitividade. 

 Se comprometendo com a capacidade de vitória, baseado no desenvolvimento da sinergia do time, na conexão que acreditava ser capaz de gerar entre os atletas, e na autoconfiança, podemos aí entender como fatores psicológicos e comportamentais são primordiais quando bem analisados e trabalhados.

Ainda mais do que isso, para Mourinho, despertar o lado humano dos atletas, traz o conceito de família para dentro do time, e só assim, um poderá contar com o outro, numa relação mútua de confiança potencializadora da performance individual e coletiva, que se faz de um time, campeão.

Com propósitos alinhados, capacidades comportamentais fortalecidas, a mente bem treinada, a sinergia acontece. E o papel do coach, é facilitar todo esse processo dentro da comissão Técnica, elenco – time, e setores da organização do clube.