Bem vindos a mais uma “Entre o Direito e o Esporte”. Espero que tenham passado bem a virada de ano, e que tenham começado 2018 com o pé direito! Assim como a nossa querida Copinha – ou Copa São Paulo de Juniores. E em homenagem a minha competição favorita, esse mês vamos conversar um pouco sobre o futebol de base no Brasil.
Calma, 2018 mal começou e já vamos falar sobre como o direito afeta a vida do seu clube (e de você, torcedor) até na base? Sim! Aliás, esse é um tema bem importante. Ainda mais quando o seu time quer se reforçar para os próximos anos – e fazer um caixa no caminho.
Hoje vou falar um pouco sobre o que vamos ver nesse janeiro. E a regra geral dessa vez é “pagar as contas” – afinal, começo de ano e nem aqui dá para fugir disso, né? Vamos ver como o direito e o esporte fazem da base um jeito dos clubes conseguirem um dinheiro. Bom, ao menos quando o clube investe nela.
E, assim, vamos falar sobre: o certificado de clube formador, a indenização por formação (ou compensação por treinamento), e o mecanismo (ou contribuição) de solidariedade. Um por semana, bem tranquilo e sem correria. Daí quando a próxima prata da casa se transferir, você vai saber se foi um bom negócio – para o seu time.
Vamos lá?
Certificado de clube formador e o “licenciamento de clubes de base”. Imagina que o seu time vai jogar a Copinha de 2018. No seu time tem um camisa 10 de respeito. Esse camisa 10 marcou dois gols na estreia e um foi olímpico – de canhota. Esse gol do camisa 10 do seu time deixou um monte de gente de olho nele. Conhecendo as histórias do futebol brasileiro, a gente sabe que logo ele sai do seu time e vai jogar em outro. A vida segue, e o dinheiro… pelo menos isso fica?
Esse é justamente um dos motivos do Certificado de Clube Formador (CCF) da Confederação Brasileira de Futebol. O CCF é quase como o licenciamento de clubes que vimos semana passada – só que para o futebol de base. Esse certificado serve também para proteger o seu time nessas horas e é quase que um “manual do bom clube” só que de base”. Mais sobre isso semana que vem, agora já te adianto que é a base do que vem em seguida.
“Obrigado pelo jogador”, a indenização por formação. Seu clube chegou na semifinal da Copinha. Jogou muito. O time todo. E um dos atacantes chamou tanta atenção que meio Brasil queria ele. Ele não tinha contrato profissional. Ele ainda estava “em formação”. Ele foi embora. E o seu clube?
É aí que entra a indenização de formação. Ela é um jeito do clube que contrata o jogador do seu time te agradecer por formar aquele craque – e pagar um pouco por ele, é claro. Por isso que vamos conversar sobre esse trocado na terceira coluna desse mês
Esse é um dos dois “respiros” para a base. Além da indenização por formação, vamos ver outro jeito de entrar dinheiro em caixa com o futebol de base esse mês.
O mecanismo de solidariedade e aquele bom e velho “eu voltei”. Lembra uns dez anos atrás? Seu time, na Copinha, jogando. E o técnico me colocava para jogar aquele moleque de 15 anos que nem parecia desse mundo. Tudo bem, a gente não ganhou o título. Mas o moleque cresceu, virou ídolo e foi para fora.
O moleque e ídolo virou craque. E como craque que saiu do seu time, ainda contribui com um dinheirinho extra no fim do mês toda vez que saí de um clube e vai para outro (só não vale se for de graça!). Esse é o mecanismo de solidariedade. Quase que um jeito de cantar “eu voltei” toda vez que chega janeiro ou julho no futebol brasileiro. E é sobre isso que vamos conversar no dia 26 de janeiro. Combinado?
É, o futebol de base não é brincadeira. De guia para os clubes formadores até as transferências, tudo é regulado e tudo passa pelo Direito. Até o que é futebol de base! Aliás, é justamente aí que vamos começar nossa conversa na próxima coluna, que tal?
Convido vocês para continuarem comigo aqui semana que vem. Qualquer dúvida ou ideia, só me chamar por aqui e pelas redes sociais. Um bom final de semana a todos, e um ótimo 2018… e até a próxima “Entre o Direito e o Esporte”!
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Nivelado por baixo

Comentários não faltaram ao compararem os finalistas da Libertadores e da Sul-Americana de 2017. Grêmio e Lanús, Independiente e Flamengo, respectivamente. Que estas duas últimas equipes eram dignas de uma decisão do principal torneio de clubes do continente. Em uma analogia aos torneios europeus, é comparar com a Liga dos Campeões e com a Liga Europa. Haja vista que os finalistas da Liga Europa não possuem a mesma competitividade e histórico que um finalista de Liga dos Campeões, um ‘romântico’ (desses filósofos do esférico) diria: “Que maravilha e competitivo o futebol sul-americano. Decanos da bola neste continente a fazerem a final de um torneio menos importante que o principal”.
Ledo engano. Classificam-se para a Copa Sul-Americana aquelas equipes não tão bem colocadas em seus países. As “melhores” vão para a Libertadores. Nem é preciso ficar na ponta da tabela para isso. Sobretudo entre brasileiros e argentinos. Em um continente em que mesmo os campeões nacionais escancaram um diagnóstico de falta da gestão do futebol, os torneios se nivelaram por baixo. Aquela equipe que isso tiver, desponta. Em terra de cego, caolho é rei. Já diz o ditado. É por isso que no início de cada campeonato brasileiro, muitos são surpreendidos em função do grande número de clubes que podem ser campeões. A administração amadora, os interesses pessoais em jogo, a predominância de um grupo político – que chega a propor a tomar decisões populistas – acaba por nivelar o torneio por baixo e conferir este ilusório equilíbrio.
É claro ser desinteressante que os títulos do futebol nacional estejam concentrados em dois ou três clubes. Entretanto, com uma gestão voltada para o mercado e levada a sério, o futebol fica de alto nível. Dentro de campo e fora dele. E o Brasil possui mercado consumidor para atingir estes objetivos. Na França, o Olympique Lyonnais (Lyon) foi multicampeão por conta de como encarou a administração do clube. A sequência foi quebrada quando outras instituições quiseram fazer o mesmo e quando chegou o investimento externo: russo e árabe, sobretudo.
Portanto, Flamengo e Independiente fizeram a mais importante final de sempre da Copa Sul-Americana. Sem dúvidas disso. No entanto é exagero afirmar que o futebol daqui possui uma excelência em sua gestão – como é capaz de ter – que faz com que os torneios sejam equilibrados e competitivos. É a falta de gestão, otimização e potencialização de recursos: o nivelamento por baixo. Enquanto que o ideal, correto e de bom senso deveria ser o nivelamento por cima.
Obrigado a todos por seguirem esta coluna. Um bom ano 2018 a todos, repleto de prosperidade.
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Entre o Direito e o seu clube
E estamos de volta para mais uma semana de “entre o Direito e o Esporte”. Essa semana vamos falar um pouco sobre o chamado “licenciamento de clubes” e seu regulamento feito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Vamos lá?
Imagina que você está na escola. Lá na escola você tinha que seguir regras. Essas regras falavam como era o seu dia, o que você podia vestir, e até mesmo o que você podia fazer lá – certo? A ideia do “licenciamento de clubes” é quase a mesma coisa.
O “licenciamento de clubes” serve como um guia para os times de futebol no Brasil.
E falando em guia, esse é o nosso de hoje: primeiro vamos falar sobre como o Regulamento de Licença de Clubes afeta o seu time. Depois a gente vai ver as regras para o ano que vem (ou para a semana que vem, né?). Para aí conversamos um pouco sobre as punições possíveis para quem não segue esse guia – e não vai ser só uma advertência na caderneta. Fechou?
O Regulamento de Licença de Clubes veio de “cima para baixo”. Ou seja, a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) que pensou nisso na “FIFA 2.0: visão para o futuro” lá em 2016. É um jeito para “melhorar” o futebol – deixar o futebol mais profissional e desenvolvido (ao menos é o que falam).
A CBF se alinhou com a FIFA e a CONMEBOL e criou o regulamento aqui no Brasil. E aqui tem duas posições em campo: desenvolver os clubes e servir como base para que se possa estudar o nosso futebol (assim a CBF não vai só “chutar” o que é bom para cá). E o seu clube precisa dessa licença para jogar o campeonato brasileiro se estiver na Série A, na Copa Sul-Americana ou na Copa Libertadores.
Conseguir essa licença é como passar de ano. Imagina se você chegou no fim do ano na sua escola e não fechou alguma matéria. O que acontece? Ou você vai para um conselho para ver se dá para te passar de ano, ou você leva uma “dependência” para o outro ano, ou você reprova. A mesma coisa acontece com os clubes agora.
E sem a licença, você não joga.
É claro que a CBF criou regras para que um clube consiga essa licença. Essas regras afetam todo o seu clube, desde o que você come no estádio até quem é o preparador físico do seu time. E para o ano que vem as regras ficarão mais duras!
Imagina que você é o dono da escola. Imagina que a escola está indo bem e o dono sabe que os alunos podem ir ainda melhor. Imagina que o dono quer que a escola seja a número um no mundo. É quase essa a ideia da CBF, e é por isso que as regras para o “licenciamento de clubes” ficam mais fortes a cada ano. Afinal, em vez de tirar um “cincão” e passar de ano, a gente quer tirar um 10, né?
Ano que vem os clubes terão regras a mais para o futebol de base, para os médicos do clube e para os estádios. Isso além de regras para o seu dia a dia e no jeito que seu time fala sobre quanto dinheiro ele tem e quanto gastou.
Como exemplo, seu clube vai ter que descrever para a CBF o programa de desenvolvimento das categorias de base para a formação de atletas detalhando objetivos e a filosofia adotada assim como o organograma desse departamento. Traduzindo: quem faz, o que faz, e como faz para transformar aquele seu amigo perna de pau em um jogador nível profissional.
A ideia é deixar o futebol melhor, e melhor para você torcedor. O futebol, como um esporte, é uma paixão e um produto. É algo que a gente compra no nosso dia a dia, e por isso a gente fala que é uma indústria. E quanto melhor essa indústria for para o torcedor, quanto melhor o produto for para o torcedor, mais vai valer – e quem sabe um dia a gente consegue deixar um Neymar aqui em vez de ver ele jogando só pela TV, né?
É fato que a CBF pode fazer quantas regras quiser. Só que quem garante que os clubes vão fazer o que ela manda? É justamente aí que entra a história de advertência, suspensão, conselho, dependência e reprovação. Deixaram o nosso futebol quase que como uma escola. E uma escola rígida e, quem sabe um dia, boa!
A CBF pode punir o seu time se ele não seguir o Regulamento de Licença de Clubes.
Imagina que você é o presidente do seu clube. Chegou começo do ano e você pensa “ah, não quero nem saber de todo esse papel. Vou só botar meu time em campo”. Seu time não pede a licença. Seu time não consegue a licença. O que acontece em seguida? É, o seu time não vai jogar!
Agora imagina que o seu time pediu a licença. Seu time enviou até tudo sobre o futebol de base. E… errou! Seu time não tinha um médico para a base. O que a CBF pode fazer? Uma lista de opções: desde uma advertência (vulgo tapinha na mão) até falar que não vai ter licença não – agora eu acho mais provável que a CBF diga “contrate um médico, agora” e dê uma multa até que o seu time contrate esse médico. E se demorar muito, ainda é capaz da CBF falar que não vai poder trazer aquele jogador para o seu time (sim, a CBF pode) ou que o seu capitão não vai poder registrar aquele contrato novo (sim, a CBF pode).
Essas punições são maneiras de fazer com que os clubes sigam na linha as regras fora das quatros linhas. E de fazer o nosso futebol melhorar – espero.
Bom, hoje falamos um pouco sobre o Regulamento de Licença de Clubes e como essa regra da CBF afeta o seu clube. E esse é só o começo, em 2019 serão mais regras – e para a Série B também!
Espero que tenham gostado de mais uma semana aqui. Como sempre, quem quiser conversar é só me chamar lá no LinkedIn. Desejo a todos vocês um ótimo ano novo e aproveitem o final de semana! Vejo vocês ano que vem agora, bem na hora de falar sobre o futebol de base. E viva a Copinha!
Muito se pensava que o futebol do continente fosse tomar outro rumo depois das mudanças que aconteceram na Confederação Sul-Americana (CONMEBOL), sobretudo depois da queda dos ex-presidentes Nicolás Leoz e Juan Angel Napout, e um antigo vice-presidente, Eugenio Figueredo. Com eles, uma legião de apoiadores de uma gestão amadora baseada nos interesses, nepotismo e propina, em prejuízo de um dos maiores patrimônios da região: o futebol, seus atletas e torcedores.
Houve avanços, sem dúvida. As competições estão com uma produção melhor, identidade visual, protocolo. É “perfumaria”, isso ajuda, mas não resolve. O principal torneio de clubes, a Taça Libertadores, está com muito mais brasileiros e argentinos do que de outras nações. Dizem lá que esses países têm grande mercado consumidor e muito interesse no torneio. Não discordo. No entanto a impressão que dá é a de ser uma “casa da mãe Joana”, que sempre cabe mais um. A prazo, desvaloriza o torneio, e certamente isso a CONMEBOL não quer. Quanto mais seletivo o acesso, maior a competitividade e a imprevisibilidade dos resultados. Logo, mais interesse comercial.
Não é questão de voltar a competição em ter dois representantes de cada país, mas de restringir mais o acesso, para a valorização do torneio. Até a premiação em dinheiro vai melhorar. Do jeito em que está, jogadores e comissão técnica são sobrecarregados e expostos ao péssimo sistema modal que se tem no continente, como foi a Chapecoense no ano passado, na maior tragédia de sempre do esporte na região. Mais parece o sistema classificatório ter como base uma troca de favores, que lembra os campeonatos brasileiros do fim dos anos 70 e início dos 80, com quase uma centena de clubes, em que havia a máxima: “Onde a ARENA vai mal, mais um no nacional”.*
O que tem ido mal na América do Sul?
Gestão. Governança. Transparência. Comunicação. Igualdade de gêneros. Falta à entidade máxima do futebol daqui cumprir seu papel: proteger e difundir o esporte. Não é isso que se tem percebido. Saiu um grupo, entrou outro. No entanto, quem são os donos do produto “jogo de futebol”? Os atletas, os clubes! Portanto, a organização deles em uma outra entidade privada (criação de uma liga) pode resolver em parte o futebol sul-americano. À CONMEBOL apenas o que lhe diz respeito.
Um feliz Natal a todos.
*ARENA: Aliança Renovadora Nacional, partido criado em 1965 para dar suporte político ao regime em vigor no Brasil. Foi dissolvido com a implementação do multipartidarismo em 1979. Ou seja, no estado onde o partido ia mal era só colocar um clube local na competição nacional para favorecer a elite política dali
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Entre o Direito e os cartolas
Essa semana nós vamos conversar um pouco sobre essa história de cartola. Não aquele que rola durante o campeonato na internet, mas aquele que a gente fica sabendo por aí nas notícias e no dia a dia do esporte. Vamos conversar sobre as Federações: o que elas fazem, como se encaixam na estrutura do nosso futebol, e como podem afetar os nossos clubes.
Convido você para mais uma semana dessa conversa sobre o que a gente acha entre o direito e o esporte. Bora?
Bom, vamos começar falando sobre o que essas entidades “enigmáticas” fazem. As Federações mandam no esporte e no futebol. Até aí tranquilo, acho que a gente esperava que fosse assim mesmo. Afinal, a FIFA, a CBF, e a FPF são Federações e mandam no futebol global, brasileiro e paulista respectivamente – aliás, como os próprios nomes dizem: Fédération International de Football Association, Confederação Brasileira de Futebol e Federação Paulista de Futebol.
Aqui a palavra chave é “pirâmide”. Mas acho que um dos jeitos mais fáceis para se entender esse sistema é o seguinte: imagine agora que você tem uns 10 anos de idade e mora com seus pais e um irmão mais velho. Você é o mais novo da casa, e é quem tem que seguir mais regras. Seu irmão mais velho consegue te convencer a fazer uma coisa ou outra, mas também tem que seguir a regra dos seus pais. Já seus pais meio que tem a mesma autoridade, só que na prática a gente sabe que ouve mais um do que o outro, né?
Então, funciona dessa mesma maneira a pirâmide do futebol mundial. Você, clube, faz o seu jogo e tem que seguir os regulamentos da Federação da qual você é filiado. Essa Federação estadual vai conseguir fazer algumas regras específicas para você, mas ela também tem que seguir as regras de ao menos duas outras Federações: uma nacional e outra mundial. Essas duas têm seus próprios regulamentos e influenciam o seu dia a dia. Só que, na prática, você tem muito mais contato com a Federação Nacional do que com aquela em nível global.
É dessa maneira que um clube, como o XV de Piracicaba, segue a FPF. Como um irmão mais velho, essa Federação consegue influenciar um pouco o seu dia a dia – mas também tem que seguir as regras da CBF e da FIFA. A CBF tem muito mais contato com o clube, e consegue ter uma influência direta no que ele faz. Só que a própria CBF convive com a FIFA que também regulamenta o que você pode ou não fazer, já que as duas dividem essa autoridade sobre o clube.
E até aí, sem problemas. As Federações mandam no dia a dia do futebol e dos clubes porque o “sistema” funciona assim. Agora, como que é a estrutura do nosso futebol brasileiro? – e essa foto aí embaixo faz parte da coluna, não se assuste!
No topo, você tem só uma Federação em nível global – no caso do futebol é a FIFA. Só cabe uma dessas no sistema, senão é que nem comer muito óleo e fritura (dizem não faz bem para a saúde). Logo abaixo, o futebol tem seis Federações Regionais em nível global (no nosso caso é a CONMEBOL). Tem um pouquinho mais já que precisa uma sustância para construir esse sistema, assim como as proteínas e o leite. Logo depois vem as Federações Nacionais, como a CBF no Brasil. Existe uma por país, e elas regulam o futebol no seu quadrado. Logo em seguida estão as Federações Locais que colocam a energia na base da pirâmide. Aqui no Brasil temos uma por Estado, por exemplo. Já os clubes são como água, sem eles não existe futebol e praticamente quanto mais o sistema tiver é melhor.
E isso afeta o seu clube de várias maneiras, desde a contratação de atletas até o calendário do ano do seu clube.
Nessa “pirâmide alimentar” do futebol você vai achar um monte de regras, regulamentos e “modelos” que são conectados pelos Estatutos das Federações Locais, Nacionais, Regional e global – além daquele do seu time.
E tudo isso o seu clube tem que saber de cor e usar no dia a dia. Um modelo adotado pelos Cartolas lá em Zurique na Suíça onde é a sede da FIFA vai ser repassado aos que estão em Luque no Paraguai na sede da CONMEBOL. A Confederação Sul Americana de Futebol vai passar essa regra para a Confederação Brasileira de Futebol. A CBF que regulamentou esse assunto vai avisar a Federação Local – como a FPF. Essa Federação vai cobrar o seu clube para que adote isso “para ontem”. Um exemplo ajuda?
Ano que vem é ano de Copa do Mundo FIFA. A FIFA decide o calendário e passa para a CONMEBOL. A CONMEBOL adota esse calendário e fala para a CBF adequar os dias de jogos de seus campeonatos para não ter jogo da série A do brasileiro na época da Copa. A CBF avisa a FPF que vai adiantar os jogos do Brasileirão para não ter problema de calendário ano que vem. E a FPF conta para o XV de Piracicaba que o campeonato Paulista de 2018 vai começar algumas semanas antes. É assim que o Cartola do seu clube segue o que foi decidido lá pelo topo da pirâmide.
Agora que a gente tem a hierarquia do futebol, o próximo passo é juntar um pouco de tudo que a gente viu nessas últimas quatro semanas em um tema só: licenciamento de clubes!
Um ótimo final de semana a todos, e vejo vocês na última coluna do ano!
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Um processo construído
Na tomada de decisão a sabedoria é mais importante do que o conhecimento. Sabemos que conhecimento é deter a informação do “correto” em determinada situação, podemos chamar também de conhecimento declarativo. Já a sabedoria é o “saber fazer”, transformar o conhecimento em uma ação correta, chamamos também de conhecimento processual. Precisamos enquanto gestores do rendimento fazer com que o atleta tenha o conhecimento da informação correta, assim ele pode unir o seu “saber fazer” com o conhecimento de como fazer certo. Ensinar o atleta a pensar o “porquê” daquilo que ele faz, certo ou errado, desenvolvendo o entendimento coletivo e individual dele. Com isso, criando um grupo de atletas que saibam “onde” estão, “porque” estão e “para que” estão. Uma organização onde cada membro saiba o seu papel para o desenvolvimento do todo.
O jogador precisa saber o que está fazendo. E isso envolve um processo educacional de treino que usualmente não se utiliza. Um processo de ensino-treino que o jogador também faz parte da construção do seu jogo e da equipe. Exemplificando no lado social: isso significa deixar que as crianças brinquem um pouco, e só um pouco, com “fogo”, aprendendo a lidar com as “lesões” para seu próprio desenvolvimento futuro. Isso também significa deixar que os jogadores experimentem algum nível de estresse, não em excesso, para que possam despertar (sair da zona de conforto). Mas ao mesmo tempo, eles precisam ser protegidas de perigos maiores. Penso que devemos ignorar os pequenos perigos, devemos investir nossas energias em protegê-los de perigos maiores, danos significativos. Assim criaremos uma organização que aprende e se desenvolve com os próprios erros, gosto de chamar de uma organização antifrágil. Antes de mais nada precisamos diminuir as desvantagens significativas, aquele mínimo que já faz toda a diferença.
Meu ideal de equipe competitiva é aquela e aqueles que transformam medo em prudência, sofrimento em informação, erros em iniciação e desejo em comprometimento. Mas para isso, penso que o treinador tem um papel fundamental no processo de liderança. Atrevo-me a fazer uma analogia com o processo de condução dos problemas do empresário Steve Jobs: a sua força empresarial estava, justamente, em desconfiar das pesquisas de mercado e dos grupos focais (talvez aqui posso usar, atualmente, as mídias sociais), aqueles em que se pergunta às pessoas o que elas querem, e seguir sua própria imaginação. Ou sua via de pensamento para resolver seus problemas era o de que as pessoas não sabem o que querem até mostrarmos a elas. Vitor Frade dizia que “Ninguém sente falta daquilo que desconhece”.
O erro de pensar que sabemos exatamente para onde estamos indo e supor que sabemos “hoje” quais serão nossas preferências “amanhã” traz consigo outro erro. É a ilusão de pensar que os outros também sabem para onde estão indo, e que diriam o que pretendem, se alguém, simplesmente, perguntassem.
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O Brasil da Europa
Exatamente. “Brasil da Europa”. Era assim que era conhecida a antiga seleção da Iugoslávia, país que existiu até 2003 e que começou a se desintegrar em 1991, dando origem à Sérvia, à Croácia, à Eslovênia, à Bósnia & Herzegovina, à Macedônia, ao Montenegro e ao Kosovo. A herdeira direta do palmarés esportivo ficou sendo a Sérvia. Talvez ela seja a nação mais distante – não apenas geograficamente – do Brasil entre os três oponentes na fase de grupos do Mundial, que também tem a Suíça e a Costa Rica. Entretanto, há bastante coisa em comum.
Para além da alcunha supracitada, em função do estilo de jogo, o principal clube de Split (antiga Iugoslávia e atual Croácia) tem como principal torcida organizada a “Torcida”, fundada em 1950 depois de atletas iugoslavos que foram jogar a Copa do Mundo de 1950, citarem o estilo “brasileiro” de torcer. Este mesmo evento, cuja monumental construção, o Estádio Jornalista Mário Filho, influenciou a nomenclatura do principal estádio de Belgrado (capital da Sérvia): “Marakana”. Lá joga o principal clube do país, o Estrela Vermelha, campeão da Copa dos Campeões Europeus (atual Liga dos Campeões da Europa) em 1991.
Petkovic é a principal referência do futebol sérvio – e mesmo da Sérvia – para os brasileiros, quer seja pela carreira dentro e fora dos gramados do país. Por aqui acumulou títulos, estabeleceu residência e foi nomeado cônsul honorário. É de impressionar como ele se adaptou ao Brasil. Leonardo, Juca, Cleo e atualmente Everton Luiz, são as grandes referências no Partizan, o outro grande clube de Belgrado.
Apesar de distantes, há muito em comum entre Brasil e Sérvia para além destes exemplos no futebol. As oportunidades de comunicar este jogo da Copa da Rússia e potencializá-lo, a fim de atrair mais interesse dos torcedores, para além do jogo, imensas. Que bom que a Copa do Mundo dá esta oportunidade. Portanto, é chance única na construção da marca-país (dos dois), com o futebol sendo instrumento para isso, uma vez que a seleção do futebol daqui é um dos principais produtos e grande embaixador do país.
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Entre o Direito e o jogo
Meio de dezembro, fim de ano já para o esporte brasileiro, e o começo dos preparativos para 2018. É bem nesse clima que começo a coluna de hoje. Bem vindos à nossa terceira semana juntos aqui no “entre o Direito e o esporte”! Hoje vamos conversar um pouco sobre o que tem entre o Direito e o jogo, ou seja, sobre as regras do jogo.
Tá… regras do jogo? Isso mesmo! Existe uma espécie de manual internacional do que pode e do que não pode no futebol. E é disso que vamos falar hoje. Assim, vou dividir essa coluna em três partes: quem é o guardião das regras do jogo (spoiler, não é a FIFA), o que tem nas regras do jogo, e como essas regras chegam no Brasil.
Vamos começar?
“O Guardião das Regras do Jogo”. Esse é o título da IFAB (dado pela própria instituição), ou o Conselho da Associação Internacional do Futebol. O órgão existe já há bem mais de 100 anos e hoje em dia é uma associação independente da FIFA. É quase como aquela história do Conselhão da Presidência (o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social) – existe e todo mundo sabe, fala que é independente e que está lá para ajudar. Só que ninguém entende muito bem o que faz ou quem faz parte dele.
Aliás… quem faz parte desse “clube” da IFAB? As Federações Nacionais da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, e a própria FIFA. Esses cinco associados, via seu Conselho, escolhem os outros membros que compõem outros dois miniconselhos: um sobre futebol em geral, e outro que é o conselho técnico. Lá você vai achar gente de todo o lugar.
A IFAB, via seus conselhos, é a responsável por criar e alterar as regras do nosso futebol. Em todo o mundo. E cada mudança costuma seguir os seguintes passos: uma associação de futebol (como a CBF) faz uma proposta ou recomendação à IFAB. Na instituição essa ideia é revisada pelos técnicos dos “Guardiões” e é apresentada no Encontro Anual de Negócios (ABM). Dando tudo certo, vai para o Encontro Geral Anual (AGM) e lá a IFAB decide se irá testar essa proposição ou se precisa de mais um tempo para pensar. E tudo indo bem, temos uma mudança nas regras do jogo – como o famoso VAR ou árbitro de vídeo.
É assim que a IFAB cuida do nosso jogo ao mesmo tempo em que “tenta o melhor para melhorá-lo” – seja lá o que isso quer dizer no nosso dia a dia, né?
Mas e o que tem nas regras do jogo? Bom, lá você vai achar o que a gente precisa para jogar uma partida de futebol. Ou seja, desde aquelas sobre o campo de jogo (formato, linhas, tamanho) e sobre a bola (material, peso) até outras sobre os atletas (seus equipamentos, como as chuteiras) e os árbitros (inclusive seus assistentes)… e por ai vai, até chegar no impedimento. É que nem a pelada de domingo, ou quase.
E te lembra de alguma coisa? Sim, isso mesmo! É quase que nem o manual do seu carro. Aquele negócio que você sabe que existe, sabe que é importante… mas que a gente nunca lê – afinal, a gente sabe as regras do jogo, não?
Agora imagina que você é o árbitro de uma partida. É um jogo da Copa do Brasil. O placar foi zero a zero no jogo de ida e no jogo de volta. Você não aguentava mais de sono porque o jogo era muito ruim e vai ter que aguentar os pênaltis. E… opa, um dos times tem 6 jogadores com câimbra e não vão conseguir mais jogar. O time fica com 5 atletas em campo bem na hora da cobrança de pênaltis. O que você faz? Com certeza acaba a partida por w.o., né?
Só que não! Nesse caso específico a regra diz que o árbitro tem que deixar as cobranças de pênalti continuarem – mas só fala isso… então se você souber como continua e puder contar para o amigo aqui, fico agradecido!
Espero que alguém já esteja reclamando e pensando “calma, não é bem assim!”. E, de fato, não é sempre assim. As regras do jogo são necessárias para o futebol, são. O futebol é um jogo mundial, é. E as regras precisam ser as mesmas em todo lugar, certo. Só que… como fica o famoso spray brasileiro usado pelos árbitros em campo e pelo resto do país no Carnaval? Aquilo é usado por aqui já faz um bom tempo, mas é quase que novidade na gringa. Por quê?
A própria IFAB diz que as Federações Nacionais (como a CBF) precisam ter uma maior liberdade para adaptarem o jogo para a sua própria realidade. Assim, essas federações podem alterar as regras propostas pelos “Guardiões” com certa flexibilidade – e, claro, dentro de certos limites. Como o jogo é jogado e como o árbitro apita a partida deve ser igual ao redor do mundo. Agora, quanto tempo o jogo dura numa partida do sub 11, quantas pessoas podem participar num jogo sênior, e qual a punição por um carrinho são regras que podem variar de país para país – dependendo do nível de competição, é claro. E, numa dessas, a nossa CBF passou a adotar o spray e deixou o futebol muito mais brasileiro.
Resumindo, a coluna dessa semana: as regras do jogo são iguais para todos, até que não sejam.
Em tese, o futebol é jogado com as mesmas regras ao redor do mundo – tanto é que a gente sabe que está assistindo uma partida de futebol quando vê o Brasileirão numa quarta-feira à noite e também na pelada de final de semana. Agora, regras como o uso de spray, árbitro de vídeo, ou bola com chip não necessariamente são vistas em todo lugar. E é assim até que a IFAB, como “Guardiões das regras do jogo do futebol”, escolham que isso é obrigatório em qualquer lugar.
É isso por hoje, espero ver vocês por aqui na semana que vem quando falarei um pouco mais sobre as Federações e como elas funcionam. Qualquer dúvida, ou sugestão, fica o convite para falar comigo por aqui e pelas redes sociais. Bom final de semana, e até daqui a sete dias!
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Reaprender a aprender
A cada dia que tenho nesse “universo” do futebol, compreendo que o ideal em qualquer conhecimento é sempre inatingível. Ou pelo menos deveria ser, se quisermos chegar em níveis mais alto de rendimento. Penso isso, primeiro pelo fato de que a evolução na forma de jogar é construída constantemente, tanto individualmente como coletivamente. Sempre haverão acertos a serem reforçados ou reformulados e vulnerabilidades a serem consertadas. As dúvidas que temos não são absolutas (há diversas ideias sobre o futebol e sua forma de jogar), mas também não podem ser absolutamente esvaziadas. Pois como sabemos o jogo de futebol é um jogo de hábitos, e hábitos são sempre difíceis de serem modificados ou acrescentados.
Originalmente a palavra método significa caminhada. No futebol é preciso aceitar caminhar sem um caminho, necessitamos fazer o caminho enquanto se caminha. Sempre com preceitos científicos e metodológicos e respeitando o processo educacional no ensino-aprendizado do jogador. O método só pode ser construído durante a pesquisa e o estudo entre a equipe a ser trabalhada e as ideias a serem implementadas. O método só nasce depois do devido conhecimento de tudo que é envolvente ao jogo que se pretende. O que diferenciamos neste caso é o “modelo de jogo” e a “concepção de jogo”. Esta por sua vez é o “ideal” de jogo do treinador com suas convicções na organização de equipe e do jogo. Essa está vinculada diretamente com a filosofia de jogo da instituição, com sua história e tradição futebolística e “empresarial”.
Eu, frequentemente, penso o quanto é que vão polemizar apenas contra o erro (dar ou não dar certo): este renasce sem parar de princípios e ideias de jogo, que como falado anteriormente, variam de “cabeça” para “cabeça”. Por isso, precisamos ter ideias definidas daquilo que queremos e pretendemos para aquilo que construimos, se for uma equipe, uma forma de jogar ou um departamento. Pois, só dando “tempo” àquilo que queremos, é que iremos colher os frutos do que semeamos. Temos a opção em trabalhar naquilo que acreditamos para alcançar um objetivo específico, ou “deixar” acontecer e “ver” no que vai dar. Nós somos o que fazemos repetidamente; a excelência não é um feito, mas sim um hábito (Aristóteles).
Compreendi, também, o quanto é que vão provar apenas o que diz respeito ao que está acontecendo aqui e agora: o jogo é reflexo do(s) treino(s) e de tudo aquilo que fizemos para a construção do jogar e do jogo, e isto logo é esquecido. Afinal, penso que é inútil apenas contestar: apenas uma nova concepção pode arruinar a antiga. É por isso que eu penso que a questão crucial é a de um princípio organizar do conhecimento, e o que é vital hoje em dia não é apenas aprender, não é apenas reaprender, não é apenas desaprender, mas reorganizar nosso sistema mental para reaprender a aprender. Como um sistema geral de solução de problema.
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Olhar local, chance mundial

Imortal. Copeiro. A “Alma Castelhana”. A Baixada, o Olímpico Monumental. A República Riograndense. O mate. A milonga. Da bola que não é perdida. Do jogo que não termina. Tricolor de Grenais, glórias, craques, histórias, lendas. Lara, Foguinho, Tarciso, Baltazar, Portaluppi, Mazaropi, Adilson Batista…Luan, Grohe, Geromel. Na casamata: Espinosa, Scolari, Tite…Portaluppi. São (tricampeões) da América.
Atributos do Grêmio, sem dúvida alguma. Na construção de uma marca está toda uma história que é contada com base em uma narrativa. A do clube se confunde com a história da região e mistura drama, tradição, valores, heroísmo e sucesso. Constrói no imaginário do seguidor do clube uma simbologia inviolável, que se traduz na formação de uma atmosfera única que envolve a sua vida pessoal com a existência da instituição e vice-versa. Incorruptível. Infalível.
O campeonato continental sem dúvida já deixou o Grêmio ser mais conhecido pelo continente e pelo mundo. Pode ser muito mais. Não é ousadia dizer que tem sido importante embaixador do Rio Grande do Sul e da cultura Gaudéria nas últimas semanas. Isso é capaz de atrair mais, turistas e investimentos na região, que passarão a conhecê-la mais com a projeção mundial dos seus representantes. Neste caso, o Grêmio. Entretanto, só ele é capaz, sobretudo, de tornar o clube ainda mais mundial, atrair simpatizantes e, consequentemente, torcedores. Torná-lo global, com base nos elementos locais a ele associados.
Com tudo isso, os sociólogos dizem que há um termo para esta conjuntura: “glocal”. É a valorização das particularidades de cada local dentro de um contexto de internacionalização. O futebol e o Grêmio fazem parte deste cenário. Afinal, a modalidade possui implicações nas esferas econômica e política. Molda uma sociedade. É um fato social total.