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Balanço entre o esporte e o capital

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Recentemente o presidente da Fifa, Joseph Blatter, informou que a entidade máxima do futebol está estudando alterações nos regulamentos da Copa do Mundo para evitar excessivos empates nos jogos e a consequente monotonia e falta de gols para os espectadores.

Essa preocupação nos remete mais uma vez à discussão sobre a necessidade de os esportes, e no nosso caso do futebol, serem adequados para o seu melhor aproveitamento comercial e até que ponto essa adequação pode ser feita sem que os princípios fundamentais do esporte sejam colocados em um segundo plano.

Todos já sabemos que a Fifa sempre adotou uma postura conservadora com relação a eventuais mudanças no futebol. Sempre foi assim com relação à introdução de inovações tecnológicas na arbitragem, por exemplo. Nesse caso, para a Fifa, o erro humano da arbitragem faz parte da cultura do futebol, e, assim, não poderia deixar de existir.

Ocorre que, na última Copa do Mundo da África, erros capitais de arbitragem começam a prejudicar o espetáculo e a causar efetivos danos financeiros para diversas partes. É nessa medida que agora a Fifa já considera introduzir determinadas inovações de tecnologia para auxiliar e balizar a atividade dos árbitros.

No caso objeto desta coluna, inovações que visem aumentar a atratividade do jogo como ora divulgado pela Fifa, são, em nossa opinião, bem vindas. As constantes reduções na participação do goleiro no jogo são, por exemplo, algumas das iniciativas de sucesso para essa finalidade. No passado mais distante, a criação da disputa de pênaltis também veio nessa esteira, e também já faz parte integrante do espetáculo, sem que o futebol fosse radicalmente alterado.

O que não podemos aceitar é a pressão de patrocinadores e outras forças com grande poder financeiro no futebol para que algumas medidas que valorizem o espetáculo em termos financeiros altere as “cláusulas pétreas” do esporte.

Pequenos ajustes são sempre bem-vindos. Vivemos em uma sociedade dinâmica, e o esporte deve sim adequar-se para atender as demandas de cada época em que vivemos. E, ressalte-se, essa adequação é fundamental para que os investidores do futebol permaneçam interessados e continuem a garantir a viabilidade financeira do esporte.

Por outro lado, não podemos “vender” a integridade e a confiabilidade das competições de futebol, sem as quais o futebol não seria tão popular ao redor do mundo.

Encontrar a justa medida é difícil, mas necessária. E deve ser revista, caso a caso, sempre que houver a necessidade. Vamos aguardar as propostas concretas para alteração dos regulamentos da Copa do Mundo e torcer para que, se aprovadas, elas de fato viabilizem uma maior quantidade de gols por partidas e mais emoção aos jogos, que é o verdadeiro combustível dessa modalidade.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Quem são os stakeholders do futebol?

Saber quem se interessa pelos seus negócios e é afetado, direta ou indiretamente, pelas ações relativas à atividade econômica de um empreendimento é um dos passos fundamentais para o implemento de um posicionamento estratégico voltado para o mercado.

Os stakeholders são compreendidos pelos clientes, empregados (ou colaboradores), fornecedores, comunidade, investidores e outros de natureza análoga. São todos os agentes que de alguma maneira influenciam ou são influenciados pelas decisões de uma organização.

E a dúvida é: os clubes de futebol sabem quem são seu stakeholders? Quais são os clubes que possuem uma cultura alinhada e voltada para fora? Quais são os clubes que colocam na balança todas as hipóteses que acarretarão em melhorias para a sociedade em detrimento de uma tomada de decisão em nível gerencial?

Os negócios são compreendidos pelo relacionamento entre esses diversos grupos. O ambiente corporativo tem entendido muito bem tal premissa e aplicado na prática uma visão de fora para dentro, procurando adotar melhores práticas em benefício do todo, por um alinhamento bem estreito com os conceitos de responsabilidade social corporativa.

No caso dos clubes de futebol, os clientes são a gama de torcedores que consomem os produtos oferecidos pelo clube, seja em espécie (compra de ingressos, produtos licenciados e outros) ou mesmo o simples fato de acompanhar noticiários sobre o dia-a-dia da equipe e seus ídolos. Alimentar a paixão dessas pessoas não deixa de ser um papel importante dos clubes em um ambiente social.

Daí discorremos para os colaboradores, que são diretamente afetados por decisões e rumos de qualquer organização, valorizando-se neste quesito o componente da ética nos negócios e o cumprimento de pressupostos legais.

Os fornecedores, que fazem parte de uma cadeia grande de consumo e precisam receber em dia, como um exemplo bem simples daquilo que poderíamos tratar como elemento-chave neste relacionamento – o ciclo vicioso de inadimplência tem reflexo indireto em vários níveis sociais e econômicos de pessoas e empresas.

Investidores, que estão traduzidos no futebol pelos patrocinadores e demais parceiros comerciais, podem ter sua imagem arranhada ou glorificada em detrimento de conquistas e/ou derrotas de um clube, sendo ela alcançada dentro ou fora do campo de jogo.

Ignorar todos esses agentes ou boa parte deles pode ser um primeiro passo para a falência nos negócios. Trabalhar sob uma plataforma voltada para fora, sem aquele olhar míope de cuidar somente de seus problemas, tem se mostrado a melhor solução para as organizações e perfeitamente passível de aplicação no ambiente de negócios do futebol.

O desafio é: quem são os stakeholders de seu clube? Enumere, defina e aponte o canal de relacionamento entre o seu clube e eles para perceber até que ponto a organização está sendo um bom agente social.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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São Paulo: sobre planejamento e troca de técnicos

Nas últimas semanas a discussão sobre a equipe do São Paulo foi intensa, muitos se perguntam o que teria acontecido com o clube mais planejador do país. A resposta mais simples que vi e que não deixa de ter sua verdade é que quando os resultados aparecem, o planejamento é bom, quando não, ainda que seja o mesmo, tudo foi por água abaixo, o planejamento não existiu.

O foco só no resultado absoluto de dois ou três jogos, ou mesmo de uma temporada única, não serve para avaliar um planejamento. Para aqueles que não concordam, basta olharmos os técnicos do Arsenal e do Manchester, as equipes não ganham todos os anos, e em alguns inclusive sofrem fortes decepções, inesperadas desclassificações em fases preliminares da copa dos campeões.

O São Paulo demitiu Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro com o clube, com a justificativa das eliminações nas Libertadores de que disputou. Neste ano, Ricardo Gomes pagou pela eliminação na semifinal frente ao Internacional, que seria mais tarde campeão do torneio.

Enfim, se compararmos os últimos 5 anos das equipes mencionadas, acredito que possamos dar mais clareza a discussão.

O amigo poderia questionar minha crítica ao planejamento observando que o São Paulo mesmo com as trocas efetuadas, mantém um cenário de destaque, porém, o que gostaria de discutir, sem ficar na especulação de onde poderia ter chegado se tivesse mantido um determinado treinador, é justamente o perfil da relação clube-treinador no Brasil.

Existem temporadas que são de transição, para um elenco que vem de um período em alto nível competitivo é inevitável que se faça essa transição com a reformulação do elenco. Será que os técnicos brasileiros não conseguem fazer isso, ou os projetos não duram mais do que três anos porque é o prazo máximo no Brasil?

Sabemos que existe uma saturação entre o relacionamento técnico-atleta, porém a renovação pode ser feita paulatinamente, como o próprio São Paulo foi fazendo na era Muricy, ora mantinha a defesa, ora o meio ou o ataque, mas aos poucos havia uma renovação natural no elenco. O Corinthians vem na mesma perspectiva, basta ver que a escalação da equipe na serie B 2007 em relação à atual. Mudou, porém, paulatinamente, e na cabeça do torcedor e da imprensa é um time com a espinha dorsal mantida.

No Brasil, felizmente, alguns clubes já vem alongando a vida do técnico independente de resultados específicos de alguns jogos ou uma temporada, o Adilson Batista, hoje no Corinthians, ilustra isso com sua passagem longa (para os padrões brasileiros) no Cruzeiro.

A questão é perceber que a renovação de elenco não precisa passar necessariamente pela troca de técnico. Uma eliminação numa fase semifinal ou mesmo na final de uma Libertadores deve ser considerada como um resultado de fracasso? Chegar sempre nas fases decisivas de uma dessas competições é fracasso? Mesmo a oscilação que resulta numa eliminação precoce pode ser entendida se estiver alinhada com uma política de renovação mais forte no plantel, uma política de reconstrução do plantel.
Basta observamos que o quadro de resultados do São Paulo é muito similar ao do Arsenal e do Manchester, talvez o erro possa estar na obsessão que o título da Libertadores trás aos dirigentes brasileiros, que acaba por avaliar um trabalho como insuficiente com base na falta do título do torneio intercontinental.

Que nossos dirigentes, que já vem percebendo aos poucos a importância da manutenção de elencos e treinadores, comecem a perceber melhor o papel de suas equipes nos cenários nacionais e internacionais para e, a partir disso, avaliarem os cursos e percursos do planejamento da equipe.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O treinamento técnico: da técnica ao jogador ou do jogador à técnica?

 Até pouco tempo atrás, quando participava de fóruns de discussão para debater sobre as novas perspectivas da preparação do futebolista, da base ao alto nível competitivo, uma das “barreiras” iniciais para se avançar em discussões, digamos, mais adiantadas, tratava da dimensão física do desempenho do jogador de futebol.

Para os possuidores de raízes mais profundas em um paradigma sustentado pelo conhecimento da preparação desportiva emergente na década de 1960, as propostas atuais, pautadas no desenvolvimento integral e total do jogador de futebol (a partir de meios e métodos integrais e complexos), sempre trouxeram à tona uma desconfiança sobre sua competência e efetividade para o desenvolvimento de capacidades físicas tidas como importantes para o bem jogar futebol.

Tal desconfiança ganhou força especialmente pela distorção feita por alguns treinadores e por alguns pesquisadores das Ciências do Desporto, sobre aquilo que o treinador português José Mourinho e seu inseparável adjunto Rui Faria vinham e vêm fazendo em grandes equipes da Europa.

O fato é que, após muitas e muitas mesas redondas, muitos e muitos debates, muitas avaliações fisiológicas, muitos jogadores formados e muitas vitórias, tanto a comunidade científica, quanto as grandes equipes do futebol mundial, se deram conta, de que a grande dúvida sobre aquilo que propõem as novas reflexões para a preparação do jogador, em busca da excelência, (com relação a sua capacidade de “condicionar fisicamente” o futebolista) estava sanada.

Porém, os caminhos para a sustentação de um novo paradigma, devem, para o bem comum, ser submetidos a uma diversidade de olhares e questões, para testar e atestar, suas possibilidades de contribuição para resolver problemas emergentes (e outros nem tanto).

Então, após quase findado o debate sobre a dimensão física, ganhou evidência aquele que diz respeito a dimensão técnica da preparação do jogador de futebol.

Pois é.

Hoje, nos mesmos fóruns, em que o debate sempre girou em torno de questões, digamos “físicas”, ganham, cada vez mais espaço, discussões que colocam à prova, a capacidade de meios e métodos de treinamento orientados pela complexidade, de promover o bom e melhor desenvolvimento da dimensão técnica daqueles que jogam.

Ora, ainda que seja saudável a discussão a respeito do tema, eu pergunto: de que “dimensão técnica”, se está a falar?

Daquela que é orientada por um “estereótipo” de gesto “perfeito”, em que se estabelece biomecanicamente o que é bom e o que não é, e se tenta “imitar” ou copiar? Ou daquela que é a expressão da autonomia e criatividade do indivíduo, para resolver problemas do jogo quando ele está ou não de posse da bola?

Se estivermos falando da primeira, em que a partir de uma “técnica perfeita” é construído o movimento do jogador, não gastemos tempo com argumentos; não os temos.

A técnica perfeita, ainda que alguns de meus amigos acadêmicos esbravejem, não é um desenho acabado, cheio de detalhes e verdades! Não é algo para ser copiado.

A técnica perfeita é aquela que se expressa circunstancialmente, de acordo com o problema, resolvendo-o.

Ela é individual, não é única para todos. Ela é aberta, não é fechada. Ela se manifesta, não é remotamente controlada. Ela não é gesto por gesto, é ação com significado.

Então se estivermos falando da segunda, não sei como pode ser mais óbvio, que a solução para o desenvolvimento de “habilidades técnicas” de um jogador em jogo, seja sua requisição, manifestação e expressão, no próprio jogo.

A “habilidade técnica”, que se expressa no jogo, melhora e se desenvolve perfeitamente quando se treina de maneira integrada e complexa.

Então, que tal esquecermos, de uma vez por todas, a padronização de gestos. Vamos investir em autonomia, em criatividade, enfim, em liberdade!

Para terminar hoje, trago em seguida, um trecho de um texto, que para os desavisados, pode parecer não ter nada a ver com futebol. Mas se tem a ver com a vida, tem a ver com o futebol, então de tão belo e didático, mesmo para os desavisados, digo que vale muito a leitura.

É o trecho de um texto do professor João Batista Freire, publicado por ele em seu blog.

Transportá-lo ao ensino e aperfeiçoamento no futebol? Esse é um dos exercícios…

“Para mim, o que decide os destinos de um povo, é a educação, para o bem ou para o mal, e em todas as circunstâncias em que ela pode acontecer. Uma pessoa se educa sozinha, por exemplo, quando uma criança brinca desacompanhada, se educa em família, se educa no quartel, na igreja, na escola, em contato com a natureza, vendo televisão, assistindo filmes, etc. Creio que os principais veículos de educação são a família, os meios de comunicação e a escola. A escola é a que reúne o sistema mais formal de educação. E para que nos educamos tanto? É porque a maior parte do que precisamos saber para viver não nasce com a gente, é preciso ser aprendido. De modo que podemos dizer que nos educamos para a vida. Ou seja, não aprendemos História ou Geografia para saber História ou Geografia apenas, mas para ampliar nossas chances na vida. Em princípio, saber viver poderia significar, por exemplo, eliminar animais, árvores e pessoas; muita gente faz isso. Acontece que os humanos são animais fisicamente frágeis; precisam do outro e da natureza para se manter. Portanto, não vale tudo, não vale eliminar o outro, não vale eliminar a natureza. Ser solidário é uma condição de vida. Ser caridoso, ser social, são requisitos básicos para viver. Tudo isso remete para a ideia de que a educação deve ser focada no princípio de aprender a viver, mas a viver eticamente”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O futebol como Ciência ou o fenômeno Sporting

Na edição do jornal “A Bola”, do último dia 27 de Fevereiro, o jornalista e escritor Vítor Serpa levantava a interrogação seguinte: “Que ciência pode afinal vir explicar o último jogo europeu do Sporting?”. E continua: “Uma equipa aparentemente esfrangalhada, sem vestígios de autoestima, acossada por cães de fila sedentos de protagonismo (…), ressurge das cinzas, como fénix e explode numa festa de energia e de luminosidade exibicional, carregando com três festejados golos o peso de incredulidade inglesa”. Mas voltemos à questão que é a matriz deste oportuníssimo artigo: qual a ciência que pode explicar a exibição do Sporting, em Lisboa, diante do Everton?

Venho dizendo, há mais de trinta anos, que o desporto só como ciência social e humana se poderá entender e que portanto analisar a prática desportiva não se confunde com o determinismo e com as certezas do treino e da ciência, positivistas e tradicionais. No desporto (como no mais), o simples é aparência, o fundo do real é complexo. Com efeito, da termodinâmica à teoria da informação, da microfísica à biofísica, da informação à ciência das redes – a complexidade é o grande signo da nossa cultura e… a denúncia do logro que é o simples, a ordem, a lei, a certeza! Só a desordem, o acaso, o singular são processos genésicos, isto é, organizações nascituras.

Por isso, o treino há-de percepcionar-se como o uno em si mesmo múltiplo. Treinar não é só concretizar o que vem nos livros de técnica e táctica dos jogos desportivos (o simples), mas descobrir a dialéctica entre as chamadas “leis do treino” e a complexidade que é cada um dos jogadores que as interpretam. As leis surgem com uma exactidão deslumbrante. Ora, tudo o que é muito exacto não é humano e está errado.

O Vítor Serpa, um homem culto (eu tenho razões, para dizer do director deste jornal, isto e muito mais), percebeu, facilmente, que o problema dos “leões” não se resume a “um”, porque são “muitos” os problemas e é porque são “muitos” e em rede que o fenômeno Sporting é também desordem, caos, incerteza. Como escreve Lyotard, a ciência pós-moderna (actual, portanto) não passa do anti-modelo de uma ciência estável. Os “torcedores” (quem torce retorce e distorce), diante da desordem em que o futebol se manifesta e porque a desordem os confunde, descambam em atitudes demasiado emocionais, normalmente ao ritmo da mentira veemente, dos “slogans”, do oportunismo do instante de certas pessoas, com lugar de relevo na Comunicação Social.

O Marx tinha razão: “a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante”. Os treinadores sabem também que o futebol é desordem, no meio de toda a ordem inicial. Dutante um jogo, há por vezes a sensação que está por descobrir a ciência que o explica. Só que eles não desconhecem, como Aragon, que “a experiência nunca é transmissível; apenas o dogmatismo o é”. E dogmáticos só o podem ser alguns tontos cuja audiência está na razão directa da precariedade social, da perda de senso e de frustrações recalcadas. Por isso, as “massas associativas” os escutam, com tamanho deleite. O abrigo no irracional não exige muito esforço: basta não pensar!

Estou certo que, com José Eduardo Bettencourt, atual presidente do Sporting Clube de Portugal, pode desenhar-se, com nitidez, um novo Sporting e, portanto, com homens novos, capazes de aceitar, decifrar e dominar o incerto, ou seja, capazes de descobrir na desordem a necessidade de uma ordem nova.


 

Os cientistas de superior perfil, os mais notáveis dirigentes nunca o foram por obra exclusiva da razão, mas pela aventura da imaginação. Diria o mesmo dos treinadores mais conhecidos, como o sportinguista Mário Moniz Pereira, grande entre os grandes treinadores de atletismo que eu conheci.

Creio que foi o Francisco Varela a escrever que, antes da nossa consciência, está a inconsciência da nossa consciência. Que o mesmo é dizer, neste caso: antes da organização, está o sportinguismo; antes da causalidade, que se explica, está a “caosalidade”, que se compreende e donde brota a estrutura do sagrado e do numinoso. É verdade: nem tudo se explica. Só a morte é racionalidade total. Mas tudo se pode compreender, quando se tem o sentido do que se faz.

Qual o sentido último do Sporting Clube de Portugal? Que o digam os sportinguistas! E os “pseudocientíficos analistas da coisa da bola” não tentem explicar tudo. Porque não o podem fazer. Os golos, sim, esses é que explicam e justificam… tudo!


*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal

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Arena sustentável do Corinthians

O previsível desfecho de ter o Estádio do Corinthians como sede da Copa em 2014 se concretizou nesta semana. A cronologia é interessante: eleições atribuladas no Clube dos 13; Andrés Sanchez como chefe de delegação da Seleção Brasileira na Copa da África; Geróme Valcke, secretário geral da FIFA, a afirmar ainda na África que o Morumbi estava fora em definitivo; as inúmeras conjecturas de espaços e ideias mirabolantes para uma arena em São Paulo até… chegar no tão sonhado Estádio do Timão.

Destarte as negociações de bastidores – que, aliás, são normais e não precisam ser vistas apenas como algo negativo. O lobby político faz parte de qualquer negócio e não poderia ser diferente no futebol, com ressalvas apenas para aqueles casos em que são utilizados artifícios antiéticos, ilegais, práticas de suborno e tantos outros mecanismos de corrupção.

Falando especificamente sobre o projeto do estádio, que ainda apresenta muitas indefinições, começo destacando o comentarista da ESPN, Paulo Vinícius Coelho (PVC), que pontuou muito bem na noite de segunda (30-ago, no programa Linha de Passe) e também em seu blog ao abordar a área em Itaquera, que foi doada ao Corinthians pelo então governo em 1978. Passados 32 anos, finalmente ocorre esse desfecho e, pelas palavras do próprio PVC, será que podemos acreditar no projeto agora?

O questionamento tem reflexo direto na falta de um plano. Deveríamos imaginar que o planejamento urbano, as instalações e a operacionalização da arena de forma sustentável está próxima da perfeição, tendo todo esse tempo para pensar, analisar, promover estudos de impacto social e ambiental, fazer benchmarking etc.

O problema que nossa cultura latina tem dificuldades enormes em projetar algo com tamanha antecedência e é por isso que, há menos de 4 anos da Copa, ainda não sabemos onde será o jogo de abertura da mesma.

Outro ponto que preocupa tem reflexo também na cultura das pessoas, em particular no Brasil e a relação com o futebol. A taxa de ocupação nos jogos do Corinthians no Estádio do Pacaembu neste Campeonato Brasileiro beira a casa dos 63% (é a melhor entre os 20 clubes da Série A). A média de público chega a 24.200 pessoas (2ª melhor), em um Estádio com capacidade para 37.950 espectadores – no ano passado o Corinthians recebeu em média 20.213 fiéis torcedores, comportamento este que se repetiu nos últimos anos, só superado pelo ano vitorioso de 2005, com média na casa dos 27 mil, mas que caiu vertiginosamente em temporadas de performance esportiva ruim, segundo estatísticas apresentadas no site da CBF.

A dúvida é: será que o torcedor brasileiro tem sensibilidade e irá a um estádio de futebol a partir do momento que possui uma arena de jogos moderna, confortável e segura? Os clubes possuem um plano de marketing que desvincule os resultados esportivos da percepção direta do consumidor e interesse pelo espetáculo, como plataforma de lazer?

Temos que lembrar que o custo de manutenção de uma praça esportiva, de acordo com especialistas, chega a 10% ao ano do valor investido no espaço. Estamos falando de cerca de R$ 35 mi por ano a partir da construção do Estádio, ou seja, aproximadamente 20% do faturamento do clube, utilizando números atuais.

Por isso, vejo como insana a ideia de fazer um espaço fixo para 65 mil pessoas e, em contrapartida, me parece plausível a ideia de 45 mil lugares (ou 48.800, com tem sido noticiado) pelos números apresentados acima.

O exemplo do Estádio Olímpico de Londres é fantástico: durante os Jogos Olímpicos serão 80.000 lugares, que prontamente se transformarão em uma arena para 25 mil pessoas logo após o evento, sendo que parte da arquibancada utilizada será redirecionada a outras praças esportivas, multiplicando o legado e fazendo chegar o esporte à população.

Para pensar em alternativas para rentabilização dos espaços, de maneira sustentada, eu não tenho dúvidas que o Corinthians possui e poderá contratar os melhores profissionais. A questão é o tempo atrelado ao projeto urbano e arquitetônico, que deve estar diretamente ligado e em constante relacionamento com a inteligência de marketing desde a sua concepção.
Mas o que nos deixa mais tranquilos, citando Oliver Seitz em sua coluna semanal aqui na Universidade do Futebol, é que, a priori, apesar do financiamento público, o investimento é totalmente privado – e isso é um grande alento.

Por fim, parabenizo o Corinthians pelos seus 100 anos de glórias e pela conquista da tão sonhada arena. Que o espaço traga boas energias, muitas alegrias à imensa torcida do clube e, principalmente, excelentes ações de marketing, com um modelo sustentável de gestão profissional e rentável no uso e exploração comercial de instalações esportivas.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Porque o futebol não gosta de mudança?

Olá amigos,

Hoje quero discutir com vocês algo que já comentamos em diversas situações: a dificuldade das pessoas, ou seria da instituição chamada futebol, em aceitar e lidar com as mudanças e com o novo.

Falamos essencialmente sobre a adoção da tecnologia na arbitragem, sobre a utilização destes recursos por parte de técnicos e dirigentes como ferramentas auxiliares. Refletimos ainda sobre tal receio ser observado não só com os recursos tecnológicos, mas com tudo que é novo em termos de processo e ações diferenciadas.

Comentamos ser, até certo ponto, natural do ser humano o medo de lidar com o desconhecido, como primeira reação antes de uma adaptação com ambientação e controle do novo. Mencionamos esse fato com o exemplo do dentista incorporado a seleção de 58 por Paulo Machado, que foi alvo de inúmeras críticas e hoje é reverenciado como o Marechal da Vitória, destacando dentre suas ações ter percebido a importância do tratamento das infecções dentárias dos jogadores para o desempenho naquela época.

Enfim falamos sobre o processo digestivo do impacto tecnológico, utilizando a expressão de Lima para compreender que é necessário um tempo para se digerir e acostumar com o novo.

Porém, o que observamos é que o mundo do futebol insiste em ir na contra-mão de todos os segmentos. E que me desculpem os mais conservadores, isso não é romantismo, isso é atraso.

Utilizo como referência o técnico interino Sergio Baresi do São Paulo. Na semana que vem farei novamente uma reflexão tendo como base o São Paulo, focando a questão de planejamento e troca de técnicos.

Em meio a todo o turbilhão que vive a equipe paulista, Sergio Baresi assumiu interinamente com a perspectiva e esperança que pudesse fazer o que Jorginho fez no Palmeiras na saída de Luxemburgo, e o que Andrade fez com Flamengo: se der certo vai ficando.

Porém, Sergio Baresi representa, comparando o que existe no mundo do futebol hoje, o novo. E como tudo que é novo, sofre com o impacto digestivo. E pior, não só dos costumeiros críticos de carteirinha, sofre críticas dos mais diversos segmentos, de dirigentes, de imprensa e dos próprios jogadores, pasmem.

Ilustram essas críticas, manchetes e reportagens que relatam que o técnico quis inventar num determinado jogo, um jogador que fala que demorou o treino inteiro para entender o que o técnico pedia, um dirigente que apóia sem apoiar. Enfim, na emergência recorre-se ao novo, porém, sem dar espaço para que ele possa desenvolver suas idéias, porque corre-se o risco do novo “contaminar” a estrutura velha e precária do futebol.

É assim com Baresi, é assim com a tecnologia, é assim com qualquer processo que traga inovação para o futebol, porque como diriam alguns: “processo é coisa de advogado e não do futebol.” Que os novos processos incorporados à prática e gestão do futebol possam inocentar-me.

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Clube de futebol falido

A expressão “clube de futebol falido” vem perseguindo o ideário deste esporte há muito tempo no Brasil.

Talvez o seu clube do coração já tenha padecido deste rótulo outrora.

Nesta semana, um deles foi à falência. Não legalmente, de direito, como se costuma dizer.

Mas de fato.

O Moto Club, de São Luís, no Maranhão, fundado em 1937, decretou o encerramento das atividades.

O clube venceu 24 campeonatos estaduais, mas já vinha sofrendo dificuldades financeiras e esportivas, confusões com a Federação de Futebol do Maranhão, o que o conduziu ao rebaixamento para a 2ª divisão estadual em 2009.

Atualmente, qualquer 2ª divisão estadual é uma penúria para os clubes…

Juridicamente, a falência decorre de um processo judicial de arrecadação dos bens do falido e verificação do passivo deixado pela empresa, tendo como finalidade o pagamento de credores e apuração de eventuais crimes falimentares.

Neste caso, foi mais uma declaração de autofalência proposta pelo clube do que algo perpetrado por terceiro.

Acredito que, realmente, a situação do clube deveria estar irreversível.

Na atividade econômica privada e com fins lucrativos, normalmente, antes da falência, tenta-se salvar a empresa e tudo aquilo que dela depende com um período antigamente chamado de concordata.

A concordata foi substituída pelos conceitos de recuperação judicial ou extrajudicial. São termos que expressam melhor o instituto jurídico que visa prolongar a existência de um empreendimento, beneficiando credores e trabalhadores, segundo parâmetros de saneamento legal-financeiro da gestão.

Seria benvinda uma força-tarefa, no futebol brasileiro, capaz de mapear e indicar soluções para a sustentabilidade da indústria, baseadas numa matriz de gestão, jurídica, financeira, econômica e de marketing.

À exceção de raros clubes e de raríssimas federações e, principalmente, da CBF, muita coisa chegaria à autofalência ou à declaração de falência, sem sequer ter fôlego para um processo de recuperação.

Triste, mas verdadeiro, pois o mercado do futebol no Brasil é demasiadamente saturado.

Mercados saturados costumam ter concentração de negócios visando à eficiência, ganhos de escala e sustentabilidade. Fusões e aquisições costumam ocorrer naturalmente entre empresas.

No futebol, fica quase impossível imaginar.

Difícil supor que o Moto Club fosse incorporado por ou fundido com o Sampaio Corrêa para se tornar uma força do futebol regional.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A mídia e a Copa

A mídia está preparada para a cobertura da Copa do Mundo no Brasil? Essa pergunta, a cada dia que passa, fica maior, pelo menos para mim. Não, a questão aqui não é simplesmente nos perguntar se nossa imprensa saberá falar do tema futebol com mais ênfase do que já existe. Isso, está muito claro, os jornalistas estão mais do que aptos a falar.

O problema reside fora das quatro linhas. Em busca do furo, da notícia em primeira mão, do inédito, muitos jornalistas têm, no que tange à organização da Copa do Mundo, deixado de lado o senso crítico para adotar o interesse pela informação.

Saber onde será a abertura do Mundial, ter uma notícia exclusiva sobre a escolha de um estádio ou poder dizer primeiro qual a nova cifra envolvendo uma construção da Copa.

Em busca dessas informações, o senso crítico muitas vezes é deixado de lado pelo jornalista. E é aí que reside o maior problema do Mundial.

Será que o jornalista brasileiro vai conseguir se manter crítico em meio a uma disputa feroz por audiência e prestígio? Em nome da fama, muita gente deixa se levar por jogos políticos e interesses maiores em relação à Copa do Mundo no Brasil.

A mídia talvez não esteja preparada para perder a audiência, mas ganhar pelo Brasil no Mundial. Em nome de muito furo de reportagem teremos, até 2014 e além, muita derrota da análise crítica e da isenção.

Na era do controle do envio de informações, o jornalismo tem cada vez mais ficado longe da sua essência, que é o combate ao que se faz de errado.

A questão do estádio paulistano para o Mundial, ou o atraso das sedes em simplesmente todo o processo de construção do país da Copa mostra, claramente, como estamos despreparados para a Copa do Mundo. Pelo menos fora das quatro linhas.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br 

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Fatores da derrota

Muitos de nós que estudamos e trabalhamos com o esporte, em algum momento de nossa jornada, já ouvimos, desconfiamos e/ou concordamos, que o desempenho esportivo depende de muitos fatores (ao mesmo tempo!).

Esses fatores interagem entre si, e dependem, com mais, ou com menos força, uns dos outros.

No futebol, no entanto, quando se ganha, ou quando se perde (ainda que exista consenso sobre a “multivariedade” de fatores que estão ligados ao desempenho final de uma equipe), a tendência rotineira é de que as explicações para uma vitória ou uma derrota sejam “unifatoriais”.

Em outras palavras, quero dizer que existe uma força quase incontrolável no futebol, que gera uma necessidade de se atribuir relações simples e diretas de causa-efeito, para explicar coisas complexas, de maneira que heróis e vilões são construídos e desmanchados de um jogo a outro.

Ora, se a preparação e o desempenho competitivo de um futebolista dependem de um emaranhado de fatores, isolar causas, perdendo a visão de todo um contexto global-integral para justificar resultados, significa dar ao acaso, qualquer possibilidade de prever, dimensionar e controlar os “efeitos”.

Se em uma equipe de futebol, o objetivo de seus gestores é conseguir fazer com que o todo (a equipe), seja maior que a soma das partes (os jogadores), sem perder de vista as particularidades dessas partes, e ao mesmo tempo propiciar que elas (as partes), tenham seus desempenhos potencializados pelo todo, como conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore ao ponto de se conseguir vitórias e conquistas?

Ainda que o que vou escrever agora possa soar “simplista” ou cartesiano (e eu adianto e garanto, não é nada simplista, e muito menos cartesiano), com os óculos certos poderemos ver a imagem que quero desenhar. Se tomarmos o conceito de “inteligência” como algo dinâmico, vivo, circunstancial, e se aceitarmos que em um jogo de futebol ela se manifesta individual e coletivamente; vencerá jogos aquela equipe que for mais inteligente!

Então, respondendo a pergunta que antecedeu o último parágrafo, para conseguir concretamente que a performance coletiva de uma equipe melhore, ao ponto de conquistar vitórias, precisamos torná-la mais inteligente para jogar.

Não vou entrar no mérito de uma saudável discussão sobre questões que envolvem o conceito de inteligência. Isso já foi imensamente discutido por mim em outro fórum.

Quero aqui apenas salientar que se assumirmos que dentro de um jogo de futebol, a cada fração de segundo, novas circunstâncias se desenham, e propõem dinamicamente novos problemas para que jogadores e equipe os resolvam com urgência, dar solução à eles significa estar apto, integralmente (fisicamente, mentalmente, tecnicamente, taticamente, etc.), para agir da melhor maneira possível.

E agir da melhor maneira possível é a expressão de uma inteligência circunstancial de jogo, individual e coletiva.

Essa inteligência, dentro do contexto de jogo, se manifestará muitas vezes em situações extremamente emergenciais, onde o hiato entre o pensar e o agir praticamente desaparece, e a intenção se tornará a principal norteadora da ação.

A construção de uma equipe vencedora passa, então, pela intencionalidade vencedora dos elementos que através de suas interações a compõe.

E o que isso significa? Significa que se o desempenho esportivo é multifatorial, talvez seja o ponto de partida para o entendimento dos motivos que levam a vitória ou a derrota, a compreensão sobre o conceito de intencionalidade.

Claro, não quero reduzir a ideia de intencionalidade, ao vencer ou perder no jogo de futebol. Muito longe disso! Mas entendê-la melhor (a ideia a respeito de intencionalidade), pode ajudar a enxergar o processo de preparação do “ser humano futebolista”, e especialmente possibilitar aos gestores de uma equipe (diretores técnicos, gerentes de futebol, coordenadores, treinadores, etc.) a perceber as pequenas sutis questões do processo que eu chamarei de pedagógicas (porque todas são), que podem fazer toda diferença!

Aí, quem sabe, grandes quedas possam ser evitadas, e turbulências, mesmo quando forem inevitáveis, recebam atenção prévia de um planejamento que permita ao voo seguir em frente…

Para fechar esta semana, um texto que já utilizei em algum outro momento do passado, mas que dada minha indignação com as “palhaçadas” que acontecem no Brasil, e que especialmente afloram em época de eleições, acho que cabe novamente.

Escrito por Elisa Lucinda, e declamado por Ana Carolina, segue a composição “Só de sacanagem”:

“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração tá no escuro.
A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam:
– Não roubarás!
– Devolva o lápis do coleguinha!
– Esse apontador não é seu, minha filha!
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas-corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar, e sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda eu vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão:
– Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba.
E eu vou dizer:
– Não importa! Será esse o meu carnaval. Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos. Vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão:
– É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal.
E eu direi:
-Não admito! Minha esperança é imortal!
E eu repito, ouviram?
IMORTAL!!!
Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br