Categorias
Sem categoria

Estudiantes de la Plata vs FC Barcelona: como a equipe argentina "amarrou" a equipe espanhola e, por causa disso, perdeu o jogo

O FC Barcelona parecia preso pelo Estudiantes. Enquanto a equipe espanhola mostrava dificuldades ofensivas estruturais, o que é incomum, a equipe argentina apresentava jogo zonal com estruturas móveis muito bem organizadas. No final, somente no final, o Barcelona conseguiu fazer o que devia…

Muitas matérias, colunas, relatos e análises foram feitas a respeito da partida final do Mundial de Clubes da Fifa 2009.

Li artigos ingleses, espanhóis, portugueses, argentinos, paraguaios, uruguaios, brasileiros, enfim de diversas origens, e com diferentes tipos de abordagem e enfoque.

Muitas coisas boas e interessantes, coisas que não precisam ser ditas novamente, porque já foram muito bem colocadas.

Como também vi o jogo, e inevitavelmente, tive minha atenção captada por algumas questões que envolveram as dinâmicas das equipes, quero apresentar e acrescentar novos ingredientes a todas as discussões já feitas até então.

Vou então, explorar alguns detalhes do jogo que dizem respeito a organização das equipes, sob a perspectiva funcional e estrutural de suas dinâmicas, especialmente sobre o primeiro tempo da partida. Quero chamar a atenção e fazer apontamentos para as dificuldades da equipe do FC Barcelona que pareceu ter seu jogo “amarrado” pelo Estudiantes, o que de certa forma surpreendeu alguns torcedores desavisados, que esperavam um “atropelo” por parte da equipe espanhola.

O FC Barcelona tem um Modelo de Jogo bem definido, credenciado faz anos e posto à prova inúmeras vezes. Manutenção da posse da bola, ataques apoiados, transições defensivas rápidas e agressivas, tentativas constantes de recuperação da posse da bola. Esquema tático base (matriz), o 1-4-3-3. Não foi diferente no jogo (pelo menos em grande parte dele).

O Estudiantes de la Plata, com ações bem definidas e estruturadas, optou por um jogo de progressão rápida ao ataque, com intensas transições ofensivas. Defensivamente, realizou pressões setorizadas tentando recuperar a posse da bola, predominando porém, as ações organizadas para impedir a progressão do Barcelona ao campo de ataque (ações de ocupação racional do espaço, e não de ataque a bola). Sem a bola, estruturou um 1-4-4-2 (com meio campo em losango), que por vezes se pareceu com um 1-4-3-1-2 (mas não era), com excelentes estruturas móveis. Com a bola, construiu em campo um 1-3-4-1-2, que foi mais transitório do que realmente concreto.

Pois bem, com as equipes com propostas de jogo bem definidas, boa parte dos “especialistas” acreditavam que o FC Barcelona ia impor sua maneira de jogar, e que restava ao Estudiantes esperar o apito final do árbitro para formalizar a derrota.

Pois é, mas o que se viu foi um Barcelona, com posse de bola sim, mas com muita dificuldade para fazer evoluir seu jogo ao campo de ataque. A equipe espanhola teve tantos problemas que nem sequer seu jogo zonal de ocupação dos espaços conseguiu predominar.

O primeiro grande obstáculo para o FC Barcelona foi a forma com que o Estudiantes de la Plata estruturou seu posicionamento base (matriz) para a ocupação dos espaços. O encaixe entre os esquemas táticos das equipes, especialmente pela geometria apresentada pelo Estudiantes quando estava sem bola, fez com que a equipe espanhola tivesse quase que a todo tempo desvantagem numérica de jogadores nas regiões do campo onde estava a bola (principalmente a partir da linha do meio-campo, aumentando consideravelmente conforme o Barcelona tentava progredir).

A equipe argentina, apresentou um jogo zonal bastante interessante. Com estruturas móveis bem definidas, alguns jogadores, especialmente no setor de meio campo e na direita da linha de defesa, puderam trocar constantemente de posição nas recomposições após perda da posse da bola. Essas estruturas facilitaram a manutenção do esquema tático proposto por seu treinador, principalmente sem a posse da bola.

Como o jogo definido pelo Estudiantes preconizava, como uma das referências defensivas mestras, a vantagem numérica na região da bola (impedindo progressão, direcionando e depois atacando-a), com certa frequência precisou ter um número grande de jogadores recompondo atrás de sua linha (a linha da bola); o que foi uma vantagem defensiva, mas ofensivamente trouxe dificuldades.

Isso principalmente porque apostou em um jogo de progressão rápida ao campo de ataque – o que demonstrou problemas já que ao recuperar a posse da bola, normalmente tinha poucos jogadores já posicionados a frente dela, em condições de recebê-la e mantê-la no campo de ataque.

O FC Barcelona, com as dificuldades iniciais, desmanchou diversas vezes o seu sempre bem definido desenho tático. Não obteve êxito. Até mesmo o jogador Ibrahimovic, normalmente um dos principais responsáveis por aumentar o espaço efetivo de jogo em profundidade quando o Barcelona está com a posse da bola, passou a buscá-la entrando na linha do meio campo (tentando compensar a desvantagem numérica de sua equipe nesse setor).

O que aparentemente poderia ser parte da solução, na verdade aumentou os problemas da equipe espanhola, já que acabou por diminuir seu espaço efetivo de jogo, e eliminou diversas vezes a possibilidade dos passes em profundidade alongados (o Estudiantes marcava zonalmente, portanto a movimentação de Ibrahimovic não desencadeava desequilíbrios na linha de defesa argentina).

A força defensiva do Estudiantes de la Plata foi aumentada pelas típicas características da equipe espanhola, que nas transições ofensivas, primeiro buscava tirar a bola da zona de pressão para depois progredir; e que nas progressões sempre preferiu o jogo apoiado.

A inteligência do Estudiantes de la Plata, foi fazer com que o jogo preferido do FC Barcelona se tornasse de certo modo confortável a ele (Estudiantes); não tentou mudá-lo. Seus grandes pecados, foram, não estar totalmente pronto para a possibilidade (ainda que pequena) de uma mudança de comportamento típico da equipe espanhola (o que aconteceu no final do segundo tempo), e de ter perdido força ofensiva para cumprir suas referências defensivas.

O resto da história, todo mundo já sabe…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Destino inócuo

Certa vez, alguém disse que futebol não é importante. Mas, que das coisas menos importantes, futebol certamente era a mais importante.

Isso deveria ser um lema.
Um mantra a ser entoado por qualquer pessoa que passa de certo limiar entre o mundo real e o “avataresco” mundo futebolístico.

Afinal, futebol não é mesmo importante.
Mas tem lá a sua importância.

Muito mais importante do que discutir o futuro do futebol, por exemplo, é discutir o futuro da humanidade.
E foi isso que os líderes mundiais resolveram fazer em Copenhagen, noutro dia.
Discutir o futuro do mundo.
Que, de acordo com eles e com um monte de outras pessoas, está a perigo por conta das alterações climáticas derivadas da poluição gerada pela humanidade.
Tem um número considerável de gente que diz que tudo isso é balela.
Que alteração climática é normal e que as conclusões são baseadas em dados limitados e direcionados.
Num dos pontos turísticos de Londres, tem um negócio no chão que conta a história da cidade, acho. E lá diz que, logo depois que a cidade foi criada, o rio Tamisa congelou. E, depois, isso nunca mais aconteceu. Depois que eu li isso, fiquei mais reticente sobre qualquer previsão futura. Basta lembrar que, cerca trinta anos atrás, nevou em Curitiba. Tivesse acontecido isso esse ano, seria um pandemônio.

Mas fiquemos com o “castatrofismo”, que é sempre muito mais engraçado.
O mundo vai acabar se a humanidade não der um jeito de diminuir a emissão de gases poluentes.
E o único jeito de fazer isso é os governos do mundo inteiro convencerem suas respectivas populações a poluírem menos.
E sabe quando isso vai acontecer?
Nunca.
O motivo é simples: do jeito que as coisas são, poluir menos implica em produzir menos. Se você mandar uma empresa parar de poluir, ela vai mudar de país que, por sua vez, vai produzir mais e gerar mais riquezas, o que implica em poder e tudo o que vem junto. E isso nunca irá acontecer.
Ou seja, o único jeito de uma mudança significativa acontecer é se todo mundo concordar em poluir menos ao mesmo tempo. E isso também não vai acontecer.
Porque os países pobres, como o Brasil, querem aproveitar a oportunidade para diminuir o gap existente entre eles e os países mais desenvolvidos. Para isso, ele argumenta que é injusto punir os países que poluem menos por causa de um problema criado pelos países que poluem mais. E os países mais desenvolvidos, que não são bestas, sabem que para manter a vantagem econômica mundial é imprescindível que a diminuição de produção seja igual para todo mundo.

E aí se cria o dilema. E aí nada é resolvido.

E essa é a coisa importante.
Que tem reflexos na coisa que não é importante, mas é importante.
A discussão inócua da redução da emissão de gases poluentes funciona exatamente no mesmo sistema em que funciona a discussão inócua sobre teto salarial, ou outras soluções financeiras, para clubes de futebol.

Igualzinho.

Os dois problemas abrangem a sustentabilidade de um sistema desigual. E, para que o sistema desigual possa sobreviver, é preciso que ele fique mais igual. Mas quem tem mais não quer ter menos. E quem tem menos quer ter muito mais.

É uma equação de interesses insolúvel, que só o tempo vai poder tornar mais contornável.

O mundo não chegará a um consenso sobre o clima. Assim como o futebol não chegará a um consenso sobre seus problemas financeiros.

O problema irá se arrastar.
Mas o mundo não irá acabar.

A não ser que o futebol um dia acabe.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Avatar

Pela primeira vez, assisti a um filme em 3D.

Não, nada a ver com a tentativa da revista Super Interessante, no início da década de 1990, de demonstrar como funcionava a tecnologia, com os óculos de lentes azul e vermelha e algumas fotos, naquela edição, supostamente apropriados para seduzir e impressionar.

Falo da fantástica experiência proporcionada pelo filme Avatar, em uma tela gigante, de 300m2, e sistema de som mais do que perfeito.

Não só a tecnologia, como a história do filme, nesse caso, nos põe completamente dentro do filme. E ele foi feito para isso mesmo. Levou mais de 10 anos para que James Cameron se sentisse amparado pelos recursos do 3D, além de outros 4 anos produzindo o filme.

Avatar vem do sânscrito, descida, e designa a chegada de uma divindade à Terra e seu aparecimento como um ser mortal. Não é bem a encarnação da teologia cristã, segundo a qual, em Jesus, Deus se fez carne; é mais uma manifestação, uma representação, do deus Vishnu.

Avatar também nomeia desenhos animados da Nickelodeon, é o personagem central da série de games Ultima, fez sucesso mundial com o jogo Second Life, é nome de álbum da banda portuguesa Blasted Mechanism e é, no mais conhecido termo, qualquer representação gráfica de quem está jogando um game.

O avanço da tecnologia favorecerá os filmes, nos quais, o que importa são muito mais efeitos especiais e experiências sensoriais do que artistas desempenhando um papel. Filme e videogame têm em comum o fato de que, através do roteiro e dos controles, transformamos uma figura imaginária numa projeção de nós mesmos – num avatar.

No caso da tradição hindu, o avatar tem poderes especiais, e é isso que certamente nos atrai nesse gênero de diversão. Na ficção habitual, a identificação era feita através da imaginação. Líamos um livro e nos colocávamos no lugar do personagem. Agora a técnica nos faz ir mais adiante, e a identificação adquire uma dimensão sensorial, mais intensa.

O envolvimento das pessoas com o futebol e tudo aquilo que lhe rodeia é, no mais das vezes, desejado que aconteça com a licença poética e ficcional de entrar na pele de outra pessoa, ou de se imaginar ocupando tais funções. Todos nós avocamos o direito de ser jogador, dirigente, narrador, comentarista, jornalista, treinador, torcedor. Ainda que uma vez na vida.

Todos queremos ter nossos avatares no futebol. O problema é que, normalmente, nosso avatar não terá identidade com aquilo que somos realmente. Será o que gostaríamos de ser.

Em breve, com essa tecnologia, é bem provável que tal experiência seja amplificada a níveis inimagináveis de realismo e imersão. Aquilo que desejamos pode se tornar realidade. E o ditado alerta que devemos tomar cuidado com o que desejamos, pois isso pode se tornar realidade mesmo.

O desafio será procurar em nós mesmos a figura que realmente somos e com a qual deveríamos nos identificar, de modo a assumirmos plenamente a nossa personalidade e a responsabilidade sobre atos e omissões.

Essa é a dúvida que surge diante desse admirável mundo novo.

Caberá encontrar o avatar que vai respondê-la, quando estivermos na pele do jogador, dirigente, narrador, comentarista, jornalista, treinador, torcedor.

Ainda que uma vez na vida.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Videocoluna: debate sobre novas tecnologias no futebol em Portugal

Olá amigos,

Hoje retomaremos um apanhado de discussão acerca da tecnologia no futebol. Mas, ao invés de fazê-los acompanhar meu raciocínio ou minhas opiniões, permito-me tentar junto a vocês uma vídeocoluna. Utilizaremos, por meio dos recursos disponíveis, o auxilio de um vídeo para completar esta coluna. Da mesma forma, tentaremos enriquecer o debate com opiniões diversas.

Para tanto, utilizo o vídeo do programa “Aqui Agora”, não o nosso popular e famoso do SBT, mas o do veículo de comunicação SIC de Portugal, que fez um programa com foco no debate sobre as novas tecnologias no futebol.

O material tem várias partes, quem tiver oportunidade de se aprofundar no tema, fica a indicação de acompanhar as outras. Aqui colocamos apenas a parte I.

Nesse programa português com o tema “Verdade Esportiva”, observamos o eixo central da questão na fala do apresentador: “Para alcançar toda a verdade desportiva, o futebol deve aderir às novas tecnologias? Será mesmo por ai que deve caminhar o futebol? Há quem entenda que sem uma boa polêmica, deixará de ser futebol”.

Participam do debate, Rui Santos (jornalista, idealizador da causa verdade esportiva), Rui Costa (ex-jogador e atual diretor do Benfica), Vitor Pereira (presidente da comissão de árbitros), José Guilherme Aguiar (comentarista, ex-dirigente do Porto e membro da Uefa), além da participação de telespectadores e entrevistas com personalidades, dentre elas, Luis Felipe Scolari.

Eis o vídeo:

Em síntese, seguem algumas partes interessantes:

“O grande problema é definir o que compete ao homem e o que compete à máquina” (comentário de uma telespectadora).

Luis Felipe Scolari fica em cima do muro dizendo que algumas coisas ele usaria e outras não, acreditando na aceitação do erro humano.

Rui Santos defende a fiscalização sem a robotização, valorizando a parte técnica e tática, ressaltando os talentos, e defende essencialmente atuar sobre a suspeição da indústria do futebol, agindo como ferramentas de apoio para reduzir a margem de erro, meios auxiliares e não substitutivos.

Rui Costa diz que se deve refletir sobre “quais as tecnologias podem beneficiar o árbitro e quais tecnologias podem prejudicar o futebol?”.

Vitor Pereira julga que o debate é nulo, pois não surtirá efeito uma vez que a Fifa não tem predisposição em mudar os fatos, mas ressalta que as novas tecnologias não devem ser centradas na arbitragem, mas no futebol como um todo, lembrando o exemplo da adoção das caneleiras que geraram custos não previstos e polêmicas na época.

Enfim pessoal, o vídeo pode ser uma pouco longo, sobretudo se quisermos assistir todas as partes. Mas vale a pena para ouvirmos e refletirmos sobre diferentes pontos de vistas.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

As vencedoras

Neste 2009 que se aproxima do fim, antes do balanção de final de ano, vale um momento de reflexão. Qual foi a categoria do futebol que mais evoluiu neste ano? Seria o futebol masculino, principalmente o da Série A do Brasileirão, que chutou qualquer crise financeira, bateu recorde de patrocínios, repatriações de atletas e afins? Ou seria o das mulheres?

Sinceramente, tendo a acreditar que o futebol feminino foi o grande vencedor neste ano.

Nem tanto pelo show de Marta e Cristiane, que levaram o Santos ao primeiro título da primeira edição da Copa Libertadores. Ou pelos jogos da seleção brasileira, que mais uma vez mostrou que tem tudo para ser campeã mundial muito em breve.

O maior barato do futebol feminino foi ter mostrado que é possível se pensar no desenvolvimento do esporte sem depender do “status quo” de entidades e mídia da atualidade.

No último domingo, a seleção brasileira colocou quase 40 mil pessoas no estádio do Pacaembu (público igual ao do Corinthians na final da Copa do Brasil) para ver a vitória do time nacional no inexpressivo “Desafio Internacional” com outras três seleções (México, China e Chile). Na TV, a audiência beirou os 10 pontos na medição do Ibope.

O resultado mostra que, para uma modalidade vencer no país, não precisa necessariamente “estar na Globo“, ou ser “oficial”.

A história do vôlei nacional foi feita via TV Bandeirantes e desafios internacionais para promover o encontro do público com o esporte. Cerca de 20 anos depois, as meninas do futebol começam a reescrever essa história.

Demanda trabalho, é claro, mas o que o futebol feminino brasileiro mostra é que a mídia, quando parceira de divulgação de uma modalidade, é um dos melhores instrumentos de popularização do esporte.

As vencedoras deste 2009, definitivamente, são as mulheres da bola. E os marmanjos que se cuidem…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Mini-jogos e "preparação física" do jogador de futebol: alguns problemas

Hoje, vou escrever apresentando dados coletados por mim, faz algum tempo, com objetivo de discutir algo que parece óbvio, mas que, em conversa recente com alguns colegas treinadores, realmente não é!

Atualmente, existe uma tendência na preparação desportiva do jogador de futebol, que é a “preparação física” a partir de jogos em espaços reduzidos e com regras adaptadas.

Há muito também, se ouve falar (com “ar de crítica”), da boca de alguns de nossos treinadores que se aventuraram fora do Brasil que, na Europa, por exemplo, o trabalho com os tais “mini-jogos” é o que predomina no desenvolvimento “físico” do atleta.

Pois bem. Algumas vezes, nesse mesmo espaço, defendi a preparação do jogador de futebol subordinada ao jogo, mas isso não quer dizer simplesmente treinar o “jogo pelo jogo”.

Treinar o jogo pelo jogo significa introduzir os tais “mini-jogos” nas sessões de treinamento sem preocupação com uma organização lógica de cargas, desenvolvimento da maneira de jogar, ou processo pedagógico.

Quando o “mini-jogo” aparece nos treinos como parte desconexa de um modelo de jogo, ou seja, sem ter preocupações com o desenvolvimento da identidade da equipe e sem ter objetivo de fortalecer o jogo que se quer jogar, ele, o “mini-jogo”, se afasta totalmente da ideia que defendo há tanto tempo.

Para que haja sentido, um trabalho que se utilize de jogos diversos, em espaços variados e com regras adaptadas, é necessário realmente que a preparação esteja subordinada, de fato, ao jogo, e isso quer dizer, em outras palavras, à construção de um jogar, de um saber fazer, individual e coletivo.

Para esclarecer o que estou dizendo, apresento na sequência alguns dados interessantes:
 

  MOMENTO 1
pós 20 sessões de treinos Exemplo de variação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de posse de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 20% Melhora de 6%
GRUPO 2 Melhora de 3% Melhora de 6%

No quadro do momento 1, temos um grupo de jogadores de futebol de base dividido em dois outros grupos submetidos a 20 sessões de treinos, a partir de jogos. Nesse momento (momento 1), o grupo 1 foi aquele submetido a treinos subordinados ao jogo, com objetivo planejado de construção de um modelo de jogo. O grupo 2, no momento 1, também foi submetido aos mesmos exercícios (jogos) do grupo 1, mas sem respeitar uma sequência pedagógica condizente com o objetivo de construção de um modelo de jogo (ou seja, treinou por meio do “jogo pelo jogo”).

Notemos que ambos melhoraram igualmente no teste de resistência de sprints, mas foram especialmente diferentes na evolução do tempo de recuperação da posse da bola nas transições defensivas. O grupo 1, treinado de acordo com um processo definido para construção do modelo de jogo teve melhora muito superior ao grupo 2.

Na sequência, temos o momento 2, quando os trabalhos foram invertidos. O grupo 1 passou a treinar “o jogo pelo jogo’ e o grupo dois objetivando a construção de um modelo de jogo.
 

  MOMENTO 2
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Decréscimo de 2% Melhora de 3%
GRUPO 2 Melhora de 30% Melhora de 2%

Após 20 sessões de treinos, mais uma vez o grupo submetido aos treinos concebidos processualmente (grupo 2) teve evolução, eu diria, absurdamente superior a do grupo submetido aos treinos a partir de jogos descontextualizados do processo.

Mais uma vez também, a evolução nos testes de resistência de sprints foi semelhante.

No momento 3, tanto grupo 1, quanto grupo 2 foram submetidos a treinos subordinados ao jogo, contextualizados, e com objetivo de melhorar o jogo que se desejava jogar.
 

  MOMENTO 3
pós 20 sessões de treinos Exemplo de avaliação de uma das variáveis do modelo de jogo (scout de modelo de jogo de seis jogos) Exemplo de avaliação de uma das variáveis dos “testes tradicionais”
Variação média no tempo de recuperação de bola nas transições defensivas Variação média no índice de fadiga no teste de resistência anaeróbia de sprints
GRUPO 1 Melhora de 15% Melhora de 1%
GRUPO 2 Melhora de 13% Melhora de 0%

Os dois grupos evoluíram de maneira parecida, e continuaram a demonstrar boa melhora no tempo de recuperação da posse da bola.

Notemos que, comparando a evolução percentual dos tempos de recuperação da posse da bola, somando os três momentos, que o grupo 1, no momento 3 poderia ter maior potencial para evolução, quando comparado ao grupo 2, mas que os treinos subordinados ao jogo, de certa forma, homogeneizaram os ganhos percentuais no mesmo momento.

O fato é que, é notório, que os treinos a partir de jogos desvi
nculados de um processo definido de construção de modelo de jogo, não propiciam ganhos satisfatórios na evolução do jogar.

Ressalto, mais uma vez, que os mesmos exercícios foram empregados aos dois grupos. A ordem dos mesmos é que foi diferente. Nos grupos em que os treinos estavam contextualizados com o jogar, respeitou-se uma ordem pedagógica de “sobrecarga” (e entenda-se aqui, sobrecarga, como algo que integra as dimensões tática, física, técnica e psicológica). Nos grupos em que os treinos foram no formato “jogo descontextualizado”, os exercícios (os jogos) foram alocados nos treinos e semanas de trabalho, em ordem aleatória.

Não tenho objetivo, aqui nesse espaço, de descrever minuciosamente aspectos referentes à metodologia para coleta de dados ou análises estatísticas. Isso é coisa para outro fórum de discussões – e já foi, outrora, bem discutido.

Espero, porém, ter contribuído para avançarmos com algumas ideias e esclarecer certas dúvidas.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A luta contra a fome

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Estamos chegando próximo das festas de final de ano, e com elas, o sentimento de solidariedade e de esperança de termos um mundo melhor.

O futebol é parte integrante da luta por esse ideal. Falamos muito aqui na função social desse esporte, que é o mais popular do mundo e movimenta uma riqueza inestimável todos os anos.

Não só o povo precisa do futebol, como também o futebol precisa do povo. E, portanto, um deve cuidar do outro. As entidades que governam o futebol têm enorme responsabilidade por exercer a função social do esporte e promover, por meio dele, dentre outras coisas, a inclusão social, a luta contra a pobreza, e a luta contra a fome.

A FAO, agência da ONU para o alimento e agricultura, divulgou recente número que atesta que mais de um bilhão de pessoas sofrem de fome e desnutrição ao redor do mundo. Muitas vezes, é difícil de visualizar uma forma de ajudarmos essas pessoas (é mais fácil entender que a responsabilidade são dos governantes, ou como dizia o compositor baiano Raul Seixas, “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”).

É nessa medida que as entidades do futebol podem promover ações coletivas, grandes parcerias para que um simples jogo de futebol profissional possa representar, também, um prato a mais de alimento para uma pessoa carente.

Vamos nos unir no espírito natalino e pensar em grandes projetos contra a fome para o próximo ano.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Retorno indesejado

Eu achei que o assunto tinha morrido.
De verdade. Mas me enganei profundamente.

É o tipo de assunto que não morre.
Fica, no máximo, colocado no cantinho. Quieto. Escondidinho.
Até que aparece alguma coisa que o coloca de novo sob os holofotes.

A tal da bendita carteirinha de identificação do torcedor.

Eu, sinceramente, não entendo porque algumas pessoas gostam tanto de uma carteirinha.
Confesso que não sou muito chegado. E olha que tenho muitas carteirinhas, entre outros documentos.
Identidade, CPF, habilitação, carteira de trabalho, passaporte, plano de saúde, academia, supermercado, universidade, hostels, banco, clube, jornal e por aí vai.
Tudo pra provar que eu sou eu mesmo.
Como se ninguém acreditasse nisso.
Pressupõe-se, assim, que estou mentindo quando digo que eu sou eu mesmo. Porque talvez eu não seja.
Shakespeare daria piruetas filosóficas.

Como já escrevi por aqui, naquela que deve ter sido a minha coluna mais pop de todos os tempos, já que foi publicada pelo Juca Kfouri e me levou a dar uma entrevista para o Diário de Pernambuco, a ideia da carteirinha de torcedor foi rejeitada na Inglaterra.
Dias atrás, foi rejeitada na Itália.
E jurava que tinha sido rejeitada no Brasil.
Mas não foi.
O projeto continua.
Ainda que outros países não tenham adotado a ideia e que os próprios clubes brasileiros já tenham se posicionado contra.
Mas são coisas do Estado Brasileiro.
Que, na realidade, não dá “lhufas” de importância para a opinião da sociedade.

É, na verdade, uma medida populista.
Uma resposta política que se dá a uma população alarmada por uma ocorrência de violência dentro do estádio.
Como o Estado não sabe o que fazer, ele sugere o cadastramento.
Como se isso fosse a solução para alguma coisa.
É como quando um secretário de segurança anuncia que a principal medida para acabar com a violência é acabar com a torcida organizada. E só.
Como fizeram as autoridades paulistas nos anos 1990. Como fizeram outras tantas autoridades no mundo inteiro, desde que as torcidas organizadas tomaram o formato atual, nos anos 1970 e 1980.
Com fez o Secretário de Segurança do Estado do Paraná, dias atrás, para dar uma resposta imediata à sociedade curitibana, em polvorosa após os graves incidentes do jogo que decretou o rebaixamento do Coritiba.

Ao mesmo tempo, a Câmara de Vereadores votou a favor de um projeto municipal de cadastramento de torcedores.
Parece um script de resposta a acidentes em estádio: carteirinha e acabar com torcida organizada.
O empirismo mostra a eficácia das medidas.
A proposta dos vereadores curitibanos foi quase aprovada em unanimidade na primeira votação. Um único vereador, Professor Galdino, votou contra. Seu argumento contra a proposta foi a não concordância com o estabelecimento de um “Estado policialesco de violência do cidadão”. Um argumento exemplar.

Como também foi exemplar a postura das polícias e da mídia paranaense.
Que identificaram e repercutiram de modo incessante a prisão de 18 dos envolvidos na confusão.

O que mostra que é possível identificar, julgar e prender aqueles que tomaram parte do confronto.

Sem que, para isso, seja preciso você portar mais uma carteirinha.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Lavagem de dinheiro

Sempre me preocupa barulho de água na caverna, por causa do Arnaldo, meu amigo bagre cego. Todas as vezes que ele se irrita, ou se excita além da conta, agita-se a tal ponto que acaba caindo fora do lago. Já o recolhi diversas vezes estrebuchando no chão de pedra. Eu e Oto vivemos de olho nele. Por isso, abandonei a contemplação do mormaço da tarde e corri ver o que se passava. Eufórico, o bagre nadava em círculos dentro do lago.

– Vencemos! – ele disse, depois de se acalmar um pouco, mas em lágrimas. – As Olimpíadas, Bernardo, vencemos as Olimpíadas.

Demorei a perceber. Afinal, de quais Olimpíadas éramos campeões? Arnaldo falava da escolha do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016. Passou-me despercebido. Que lapso! O país inteiro em festa e eu contemplando poeira, não mais que poeira no meio de uma tarde quente e ensolarada.

– Foi a vitória da competência, da insistência, da perseverança. Calamos os detratores, os maus brasileiros – enfatizou o bagre.

– E você confia que as verbas para 2016 serão bem utilizadas, Arnaldo? Lembra do Pan?

– Claro que sim, Bernardo. Você se deixa influenciar muito pela imprensa brasileira, principalmente por aqueles jornalistas que pedem a queda dos nossos maiores dirigentes. Onde já se viu dizer que homens como Ricardo Teixeira e Carlos Nuzman deveriam deixar os cargos. Antes, que caia o presidente da república.

– Mas, no que o Rio de Janeiro será beneficiado com as Olimpíadas?

– Será outro, Bernardo, após os jogos. Acabaremos com o tráfico de drogas, despoluiremos a Baía de Guanabara, disciplinaremos o trânsito, não cuspiremos mais nas ruas, urbanizaremos as favelas. Até medalhas ganharemos, aos montes, mas isso é o de menos. Você acha que nossos dirigentes já não pensaram em tudo?

Poderíamos ter esticado esse assunto por muito tempo, não fosse minha atenção ter sido chamada por um papel que boiava nas águas do lago. Aproximei-me e peguei-o: uma nota de cinquenta reais.

– O que é isso? – perguntei.

O bagre era cego, portanto, não podia saber do que eu falava. Expliquei que me referia ao dinheiro no lago.

– A notícia das Olimpíadas me distraiu – disse o bagre. – Até me esqueci do dinheiro. Eu estava lavando essa nota.

– Lavando dinheiro, Arnaldo! Por quê?

– Ora, parece que lavar dinheiro é um grande negócio. A coisa funciona assim: eu pego uma nota de cinquenta, lavo, lavo, e ela fica valendo muito mais.

A inocência do bagre me comovia.

– Arnaldo, meu amigo, não é assim que se lava dinheiro.

– Então, como é? – ele perguntou.

– Vou dizer o que li sobre isso. Mas antes quero saber o que um bagre quer com tanto dinheiro.

Ele me explicou, um tanto por cima, e eu não entendi nada, que tinha uns planos para o futuro. Só mais tarde, tempos mais tarde, pude entender a que se referiam tais planos.

– Para lavar dinheiro, Arnaldo, primeiro a pessoa tem que abrir uma conta num paraíso fiscal. Sabe aqueles lugares que recebem depósitos de dinheiro sem perguntar de onde ele veio?

– E de onde vem esse dinheiro? – perguntou o bagre.

– De muitas fontes – expliquei. – Do tráfico de drogas, vendas de armas, corrupção, compra e venda de jogadores e clubes de futebol, entre outras.

– Jura, Bernardo? Tem gente no futebol que faz isso? Mas não os nossos grandes dirigentes!

Eu disse que não sabia quem fazia isso, mas era o que eu tinha lido sobre o assunto.

– Arnaldo, se você tem um jogador que vale quinhentos mil dólares e ele é negociado por dois milhões, sobram aí um milhão e quinhentos mil dólares. Ora, se você fez um negócio sujo qualquer que lhe rendeu essa enorme quantia, ela pode ser lavada nessa transação. Faz de conta que você recebeu dois milhões pelo jogador quando, na verdade, um milhão e meio foi dinheiro sujo de outra transação lavado na venda do jogador.

O bagre arregalava os olhos à medida que eu descrevia o caso. Pediu detalhes. Contei que o dinheiro seguia uma rota. Abria-se, por exemplo, uma conta em Liechtenstein, um conhecido paraíso fiscal. Lá poderia ser depositado todo o dinheiro ganho nessas transações sujas. Mas, para ele entrar no Brasil, era preciso ter um esquema qualquer. Aí era só abrir uma empresa fantasma em alguma cidade brasileira e essa empresa poderia receber o dinheiro de Liechtenstein como se fosse um empréstimo, empréstimo esse que nunca seria pago.

– E as pessoas que fazem isso não são presas, Bernardo?

– Depende – eu respondi. – Se você for uma pessoa importante, poderosa, mesmo havendo investigações, não dará em nada. Ainda mais se você for um dirigente muito bem sucedido, cheio de títulos. As vitórias fazem o povo esquecer os crimes e os políticos fecharem os olhos.

– Você está de brincadeira, Bernardo. Anda assistindo muita televisão e ouvindo muito aqueles programas de esporte subversivos. Lavar dinheiro é lavar dinheiro, ora. Basta pegar uma nota e esfregar na água, quem sabe com um pouquinho de sabão.

Deixei-o com sua distração. Ele que lavasse à vontade sua nota de cinquenta reais. Mal não faria. Não é fácil diminuir a solidão. Quando me sinto muito só, é ao Arnaldo que recorro, quando não a Aurora ou Oto.

Na semana seguinte encontrei-o eufórico. Oto, meu morcego correio, encontrara uma nota de um dólar, caída de algum bolso distraído, e a trouxe para o bagre. Se lavar real é bom negócio, imagine o que não se faz com dólares.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br  

Categorias
Sem categoria

Longe de casa

O Coritiba FC recebeu pena máxima do STJD, em primeira instância, pelo conjunto de infrações desportivas e distúrbios ocorridos dentro e nos arredores do Couto Pereira, no jogo disputado contra o Fluminense e que determinou seu rebaixamento.

Decisão unânime. Banimento do clube de sua própria casa. Trinta jogos serão disputados a mais de 100 quilômetros de distância de Curitiba. Longe da torcida, em sua maioria absoluta, pacífica e cordial, que suportará o ônus, de ter em sua composição, vândalos que mancharam a centenária história do clube.

Banimento não é um sinônimo de exílio nem de cassação de direitos, mas pode levar uma pessoa a exilar-se ou asilar-se em outro país, sem direito a permanecer na sua pátria de origem. Torcida e clube estarão distantes um do outro.

O banimento foi usado com frequência pela ditadura militar do Brasil para punir dissidentes políticos e guerrilheiros que cometessem “crimes contra a Segurança Nacional”, como seqüestro de diplomatas estrangeiros e luta armada nas cidades e em áreas rurais.

Nossa Constituição Federal em vigor proíbe a pena de banimento sob todas as suas formas.

Em que pese a linha de defesa do clube invocar a possibilidade de que o STJD decidisse aplicar, de forma draconiana, a pena máxima, transformando o Coritiba em exemplo geral de punição à violência no futebol brasileiro, e não ficar restrito a um julgamento técnico-jurídico, foi exatamente isso que ocorreu.

O banimento é uma medida jurídica pela qual um cidadão perde direito à nacionalidade de um país, passando a ser um apátrida (a não ser que previamente possua dupla-cidadania de outro país). O banimento é usado como método de repressão política.

Os auditores do STJD, portanto, sentenciaram não só o Coritiba, mas também com uma espécie de medida socioeducativa geral o nosso futebol, sinalizando, com tempo, necessidade de mudanças estruturais na organização desse esporte no Brasil – a começar por conforto, segurança nos estádios, e punição aos bandidos travestidos de torcedores.

Não se pretende, aqui, discutir a amplitude da pena aplicada, segundo critérios de justiça e equidade. A intenção é desvelar o pano de fundo dos fatos levados a julgamento e que permeiam, sim, todo o ambiente do futebol. E existem exemplos de rigor exemplar nas punições.

A final da Copa dos Campeões entre Juventus e Liverpool é lembrada como “A Tragédia de Heysel”, quando 38 torcedores morreram. A polícia não efetuou nenhuma prisão, mas os hooligans (torcedores ingleses violentos) foram responsabilizados e todos – todos – os times ingleses foram impedidos de disputar as competições europeias por cinco anos.

O conjunto destas mudanças exigidas pelo futebol no Brasil vale dinheiro para os clubes. Que ganhariam mais, num cenário civilizado e confortável – e também, deixariam de perder, pois o déficit do Coritiba será grande longe de casa.

Afinal, em pesquisa da consultoria TNS realizada recentemente, 61% dos entrevistados voltariam aos estádios de futebol se não houvessem torcidas organizadas e sensação de insegurança generalizada.

Infelizmente, não estamos acostumados a fazer com que nossas instituições passem por uma evolução gradativa. São necessários choques para fazer com que todos nós despertemos para a realidade, que exige mudanças, no país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br