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Habilidades e competências do treinador em Fernando Pessoa

Olá amigos,

Para o texto de hoje, havia dedicado um espaço para refletirmos sobre algumas questões que estão por trás de muitos dos conceitos e ideias que discutimos acerca da tecnologia no futebol e de outras coisas mais.

Separando os temas e lapidando os parágrafos para dar mais objetividade às ideias, parei, numa daquelas pausas estratégicas para o pensamento “ganhar corpo” e fluir com mais naturalidade. Nesse meio tempo, entre um sanduíche aqui e um site ali, li o texto (“O que estudar para ser um treinador de futebol?”) do nosso colega Alcides Scaglia em sua coluna passada.

Fiquei indignado! Sim, isso mesmo. Não me conformei.

Calma pessoal, e, sobretudo, ao amigo e inspirador Alcides, a indignação não foi com seu conteúdo, mas sim com algumas ideias por ele apresentadas que seriam parte do tema que eu abordaria ou, pelo menos, tentaria, mas que o colega conseguiu expressar de forma muito mais clara e adequada. E agora o que me restaria falar sobre esse tema, teria de mudá-lo?

Antes de decidir o que faria, veio a “pá de cal”. No fim da leitura, me surpreendi… Este verso era meu!!!!

“Para ser grande, sê inteiro: nada. Teu exagera ou exclui. / Sê todo em cada coisa. Põe quanto és / No mínimo que fazes. / Assim em cada lago a lua toda / Brilha, porque alta vive”.

Sic, sic… Não é que o verso seja de minha autoria, desculpem-me pela pretensão… Aquele verso é  sim de  Ricardo Reis, uma ode desse heterônimo de Fernando Pessoa, citado por Alcides. Mas era o verso que eu usaria de epigrafe no meu texto. Oras, por um momento achei que estivesse num plano de conspiração e espionagem, afinal quantas pessoas usariam Fernando Pessoa num texto sobre futebol. Mas não amigos, com certeza não, e isso apenas tornou mais evidente para mim a importância desses pontos para o profissional do futebol.

Sobre usar Ricardo Reis num texto de futebol, não é tão fora de contexto assim, pois como o próprio Pessoa definia, Reis era um médico português que em 1919 veio residir no Brasil (que hoje chamamos de país do futebol) e se caracteriza pela busca do equilíbrio. Equilíbrio esse que constitui uma das habilidades primordiais do profissional do futebol.

Um técnico é um líder. Exerce essa função ou habilidade (poderia ser colocada como competência) de várias formas, seja por autoridade, por confiança, enfim, por diferentes contextos que possam caracterizar seu papel. Mas quanto à legitimidade dessa liderança cabe ao próprio treinador colocá-la a brilhar (“Para ser grande, sê inteiro”).

E como fazer isso? Aliás, que aspectos devem ser considerados? Daí, talvez, a freqüência atual de discussões acerca do treinador José Mourinho e sua referência às Ciências Humanas, na figura do professor português Manuel Sérgio.

Para além do embate acadêmicos x boleiros devemos entrar num acordo (seria talvez um consenso, ainda que nem sempre isso seja positivo) de que um e outro devem complementar-se para a riqueza de um profissional moderno.

Um amigo com muitos anos de prática no esporte de alto nível e que, atualmente, contribui com o meio acadêmico questionou se essa abordagem das ciências humanas não seria um modismo e se isso se manteria por algum tempo, uma vez que o esporte se sustenta por resultados concretos enquanto o ser humano é abstrato?

Pensei, e na hora respondi ainda no calor da provocação, que depois entendi como ponto primordial para discussão: que o então José Mourinho dentre outros títulos de liga nacional havia conquistado a Copa dos Campeões da Europa com o Porto, enfatizando que havia sido com o Porto, e se isso não seria resultado, o que mais poderia ser.

Com o passar da enfática e encalorada resposta, a reflexão estimulada pelo amigo trouxe um importante eixo.

O que é concreto e abstrato? Será algo entre o real e irreal? Se for assim, o ser humano não é concreto, é irreal, e, por sua vez, se assim entendermos, como pensar em soluções reais tendo como base alguém abstrato?

Talvez, seja essa a contribuição que as ciências humanas podem dar ao profissional, que precisa, dentre outros aspectos, ter o equilíbrio característico de Ricardo Reis para exercer a liderança, que a “bola já provou” que, junto ao conhecimento e aos estudos, às vezes até mais alardeada do que estes, traz resultados.

Compreender, e mais do que isso, incorporar as Ciências Humanas no momento de atuação, traz noções importantes sobre aspectos como serenidade, coerência, autenticidade, relacionamento, comprometimento, confiança e segurança. Tão importantes para as habilidades de um técnico como conhecimento técnico e tático.

O profissional que entender que um e outro não devem ser antagônicos e transformar isso por meio de sua capacitação profissional (e não apenas pelo fator acaso) em diferenciais, terá o tempo (e também os resultados) para mostrar que entender o complexo (abstrato, mas concreto) ser humano que joga o futebol assim como a ciência futebol tem algum sentido.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Nadando com a maré

Nos próximos dias, o país viverá uma enxurrada de matérias sobre a natação. Como é, o que é, os benefícios da prática, onde nadar, com quem nadar… Enfim, uma série de matérias que vai fazer com que o brasileiro tenha mais próximo de si o debate sobre uma modalidade esportiva.

Os ouros conquistados por Cesar Cielo mostram claramente que a imprensa precisa do ídolo para que possa desenvolver uma modalidade esportiva. Num país carente de vitórias, ter um atleta brasileiro no alto do pódio entre grandes nomes do esporte mundial é sinônimo de manchetes de jornais, capas de sites e revistas.

E o futebol em meio a esse contexto?

Historicamente nos acostumamos a ver o futebol dominar e sufocar todas as outras modalidades esportivas por conta da presença dos grandes jogadores nos torneios nacionais. Isso ajudou a desenvolver a paixão clubística que, por sua vez, fomentou a manutenção do futebol na mídia constantemente.

Só que, hoje, o futebol brasileiro ganha cada vez mais concorrentes. Não, no caso não falamos aqui dos ouros conquistados por Cielo, que sem dúvida merecem ser destaque em todo o noticiário, mas que provavelmente não se sustentará por muito tempo graças à insistência do país em não criar projetos duradouros de formação de atletas.

O futebol, no Brasil, concorre com o próprio futebol, mas aquele jogado na Europa. Hoje o torcedor brasileiro se acostumou a ter de assistir aos campeonatos europeus para poder ter contato com os principais jogadores brasileiros.

E esse é o grande dilema do país na atualidade. A imprensa nada conforme a maré. Se o ídolo está lá, ela também estará. Se o astro da seleção brasileira jogar no exterior, ela mostrará o jogo desse atleta. E o futebol no Brasil, como é que fica?

Enquanto não se preocupar em manter o jogador em atuação no país, em dar melhores condições para o acesso dos torcedores e em buscar outros meios de contato com o torcedor, o futebol do Brasil corre o risco de virar a exceção. Obviamente que isso é muito no longo prazo.

Mas os clubes têm de encontrar maneiras para manterem a atenção da mídia não apenas pela força de marca que têm, e sim pelo produto que podem oferecer. Do contrário, a maré vai lá para o Velho Continente.

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O drible no futebol, e o árbitro 'Minority Report'

Em 2002, foi lançado um filme, dirigido por Steven Spielberg, chamado “Minority Report – A Nova Lei” (já na versão para o Brasil). Nele, crimes eram resolvidos pela polícia, antes mesmo que acontecessem, a partir de “previsões” que apontavam criminosos que ainda não haviam cometido seus crimes (e que, algumas vezes, nem sequer sabiam que o cometeriam).
 
Pois bem, dia desses em um jogo de futebol profissional, no Brasil, aconteceu algo parecido. Pelo menos, pelas explicações do árbitro do jogo.
 
Lá pelas tantas, um jogador de uma das equipes desse jogo, deu dois ou três dribles e… Bom, eu deveria substituir as “reticências” por pontos de interrogação e exclamação; mas é tão “surreal” que; hum, “reticências”…
 
Pois então. O jogador deu dois ou três dribles, e ao final da jogada foi advertido pelo árbitro do jogo.
 
Não, ele não desrespeitou o adversário… Ele driblou. E não foi nada “espalhafatoso”.
 
Depois do jogo, o árbitro “A Nova Lei”, disse que sua intenção, ao advertir o “jogador driblador”, era de, na verdade, preservá-lo. Ele pressentiu que algum adversário, estava na iminência de praticar um ato violento, e agredir o tal driblador.
 
Então, para evitar “o crime”, resolveu coibir o drible.
 
Isso quer dizer, mais ou menos assim; “que pressentindo o possível crime, puniu a vítima, e deixou feliz, o criminoso”.
 
O pior, é que no dia seguinte, alguns comentaristas, que falam sobre arbitragem, disseram que o árbitro estava certo; o drible, no caso, foi ato de desrespeito ao adversário…
 
Desrespeito é se despir da roupa de árbitro e vestir a de juiz (o que o árbitro não é), sem direito.
 
Não é possível que driblar constitua desrespeito. Se alguém acha que um jogador está fazendo “graça” (o que não foi o caso na situação que descrevi), então faz igual o pessoal lá da Vila Bela, onde na infância joguei muitas peladas; se fez graça, e faz gol, quero no meu time (aplausos!); se fez “graça” sem objetividade, então rouba a bola dele, porque se ele está fazendo graça sem objetividade, então está sem tempo para prestar a atenção no jogo (aí, os próprios colegas de equipe chamam a atenção).
 
Lá, ninguém cometia crime contra ninguém (pelo menos, não jogando futebol). E nem havia árbitro.
 
No filme Minority Report, os policiais previam os crimes, e os evitavam, pelo menos, prendendo os criminosos. Já no nosso “surreal” acontecimento, nosso árbitro, prevendo o crime, acabou dando a arma para o bandido, e tentou enjaular a vítima.
 
Então, que acabe o drible no futebol!
 
Que saiam todos de campo! E que fiquem apenas alguns árbitros dentro dele (não todos, porque a maioria faz um ótimo trabalho); afinal, não é para assisti-los que a massa preenche os estádios?
 
Era só o que faltava…

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Coragem e estabilidade

A recente atitude do Internacional de Porto Alegre deve ser celebrada.
Talvez, não pelos seus mais radicais torcedores, mas pelo menos para quem se preocupa um pouco com o cenário econômico e estrutural do futebol do Brasil.

A manutenção do técnico Tite deve ser enaltecida pela indústria, mais até que o programa de sócio-torcedor do clube, que tem lá suas controvérsias.

Não é nada fácil manter um técnico no comando de um clube de futebol por muito tempo. As tentações são enormes. Ainda mais em um período em que o mercado de técnicos está bastante ativo e que a performance do clube está em baixa. A primeira solução é, sempre, trocar o comando do clube. É a solução mais rápida, fácil e, por que não, a mais pedida por torcedores e conselheiros.

O planejamento do futebol, no mundo inteiro, é baseado em cima dos resultados da equipe, já que o ambiente do clube se altera, e muito, de acordo com o desempenho. Não tem como dissociar uma coisa da outra. E quem executa a performance, boa ou ruim, são os jogadores. Se os jogadores vão bem, o clube vai bem. Se os jogadores vão mal, o clube vai mal, também.

Naturalmente, os jogadores ganham um grande poder de barganha em relação ao clube. Por conta do formato da indústria do futebol brasileiro, baseada na transferência de atletas, esse poder fica ainda maior, uma vez que as cláusulas de rescisão são altas e o clube também depende dos jogadores não só por conta da performance, mas também por conta de futuras receitas. O poder de barganha do jogador, dessa forma, fica ainda maior. Sendo assim, o clube fica quase que refém dos seus atletas. Ele funciona, essencialmente, como uma instituição que visa atender os interesses de seus jogadores, porque, caso esses não sejam atendidos, a performance do clube corre o risco de ser minimizada, e a receita futura de transferências acaba ficando comprometida.

Eis, portanto, uma das razões pelas quais a rotatividade de técnicos no Brasil é alta. Técnico é só um, e a rescisão não é tão alta quanto a de atletas, uma vez que ninguém ganha o direito sobre transferência de técnicos. Ainda não, pelo menos. Isso faz com que os jogadores tenham muito poder sobre o clube de futebol, o que significa dizer que a instituição tem um foco em atender o interesse dos seus trabalhadores, e não o contrário, como seria o natural, em uma organização qualquer, ao manter o técnico e afastar jogadores, essa lógica é invertida. O poder de barganha passa a ser do clube, e a lógica do interesse se inverte. Quem precisa atender os objetivos passam a ser os jogadores, aí sim criando um ciclo produtivo mais apropriado.

Para manter um técnico é preciso coragem e, principalmente, força política dentro do clube. Aparentemente o Internacional tem os dois. Resta saber só se ambos resistem a mais alguns eventuais resultados negativos.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Razão e sensibilidade

Vivemos num mundo de excessos atualmente.

Tudo nos remete ao advérbio “muito”: comer muito rápido; o trânsito é muito lento; muita informação; muito futebol na TV; muita violência nas cidades e nos estádios; muita gente no mundo; muito trabalho; muita crise econômica.

Sobra pouco espaço para refletirmos sobre o “pouco” de que necessitamos para levar nossa existência adiante.

O “pouco” que podemos dedicar à nossa vida – e também a de outros ao nosso redor, como família, amigos e colegas de trabalho – faz muita diferença. Basta olhar com atenção e por em prática o conceito.

Nossos referenciais de qualidade foram deturpados, uma vez que, num brevíssimo espaço de tempo, ligou-se o turbo para que fôssemos impulsionados a viver tudo ao mesmo tempo, agora. Como se tivéssemos pouco tempo para experimentar o bem-viver.

Quando mais novo, lembro que a ânsia de viver as experiências existia. Mas tenho a sensação de que era mais sadia, havia tempo para aprender sobre ela.

Naquela época, comprava-se um disco da banda favorita e se escutava todo, para depois julgar se aquilo era bom ou ruim. Enfim, mais razão e mais sensibilidade para entender os sabores e dissabores do que fazíamos ou experimentávamos.

Hoje, tudo é efêmero. Inclusive nossas percepções sobre a vida, ao se tomar como base o futebol. Hoje, julga-se como um grande time, um grande jogador, um grande clube, uma grande pessoa. Amanhã, não mais.

Não à toa, existe um movimento organizado em torno do conceito “slow” – devagar. Comer mais devagar, fazer tudo na vida mais devagar, porém, melhor. 

Pude perceber que necessitamos de menos e melhor, não mais e pior, após ter passado uma semana em contato com a energia pura de crianças dedicadas ao futebol num acampamento temático.

Ali, a ideia do “menos é mais” faz absoluto sucesso, pois funciona quase que como um refúgio dos excessos mencionados a que se sujeitam todos os envolvidos – crianças e adultos.

Ainda mais nítida, resta a ideia de que buscamos paz – de diferentes formas, mas, todos, buscamos.

Na coluna de hoje, escrevo menos. Mas quero escrever melhor a cada dia.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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E aí, Mano: planejamento ou desmanche?

Olá, pessoal. Sempre falamos em processo como parte da tecnologia no esporte. Hoje, o foco é discutir um pouco de processo, que é importante também para outros aspectos que não só a tecnologia. Para tratar dessa questão discutiremos um pouco da questão de processo e planejamento. Em análise, o Corinthians.

Planejamento x Desmanche

No Corinthians, o assunto da vez é o desmanche que vem sendo feito na equipe. Enquanto imprensa e torcedores, por um lado, evidenciam os riscos e perigos do que vem sendo feito, diretoria e técnico ressaltam o tempo inteiro que tudo ocorre conforme o planejado.

Difícil compreender e assumir um lado como o correto.

Olhando pelos óculos do torcedor, o receio é justificado. Perder jogadores até então fundamentais, tendo em vista a disputa do torneio mais importante na história do clube, a Libertadores, no ano do centenário, por si só já é motivo de alerta máximo.

Pela visão da imprensa, o discurso converge com o do torcedor e a preocupação de um planejamento que começa errado. Além é claro do sensacionalismo iminente.

Conforme a comissão técnica, o planejamento está de acordo com o previsto, discurso que não seria diferente, mesmo se não estivesse tudo dentro dos conformes.

Nesse emaranhado de opiniões e interpretações do que ocorre, arrisco-me a tomar uma posição, uma interpretação com base no passado da comissão técnica que comanda o Corinthians.

Não sou defensor ferrenho nem parente do Mano Menezes, mas me sinto confortável em dar-lhe credito quando se fala em planejamento. Explico o porquê.

Em algumas palestras, cursos e entrevistas, após levar o Grêmio da série B à final da Libertadores, Mano Menezes enfatizava dois aspectos que faziam parte de seu planejamento: o primeiro era desenvolvê-lo, tendo em mente, a janela de transferências e, em seguida, compreender o tempo de maturação de uma equipe, assim como o tempo de saturação. Eis aí um aspecto que pode ser determinante para essa aparente tranquilidade do técnico corintiano.

Mano ministrava suas palestras com grande base no desempenho obtido por ele, não em suposições ou utopias.  Permito-me explanar algumas ideias com base no que ouvi e interpretei nesses vários momentos em que ouvia o treinador gaúcho falar.

Sobre a janela, é inevitável que saiam jogadores de destaque, e o técnico tem de contar com isso, criando alternativas durante a temporada. Esse time do Corinthians foi montado no inicio de 2008, com a chegada de outros jogadores no decorrer da temporada, que, aliás, vieram já com a intenção de compor e complementar o elenco que tinha possíveis perdas para a janela. Basta lembrar que, Elias e Cristian, por exemplo, chegaram depois da temporada iniciada. Assim, outros nomes vieram, alguns deram certo outros não. Exemplos como Elias e Cristian deram muito certo. Vale lembrar que ambos vieram na iminente saída de Fabinho na então janela de transferência. Saiu melhor que a encomenda. Entre Carlos Alberto, Fabinho e Perdigão, a chegada dos dois com certeza foi muito positiva.

Isso, por si só, gera um crédito ao treinador que já havia passado por similar processo no Grêmio, e já vem fazendo isso no próprio Corinthians.

Já estão chegando alguns nomes (Edu, Bill, Paulo André). Resta saber quais deles se tornarão novos Elias e Cristians, e quais serão os novos Sacis e Eduardo Ramos.

O outro ponto é ter noção do tempo de saturação de uma equipe. Confesso que é difícil compreender essa ideia, uma vez que não conseguimos manter elencos por muito tempo no Brasil, mas em sua estrutura de elenco como um todo, alguns clubes têm conseguido manter e conseguido destaque no cenário nacional, apenas com ajustes de “peças” ou reposição. Um exemplo é o São Paulo tricampeão brasileiro. E esse mesmo São Paulo serve de exemplo para esse conceito de saturação ao qual me referi.

Será que depois de três anos, só ajuste e reposição de peças funciona, ou é preciso trocar o motor, ou ao menos recondicioná-lo? O São Paulo está aí de exemplo.

Com certeza se o motor (jogadores-chave) que vêm funcionando pudesse continuar, valeria a pena, afinal, já se tem intimidade e confiança, mas existindo uma eventual tendência de quebra (janela de transferência) e possibilidades de cair de rendimento (saturação),  é importante que, quem dirige, tenha essa percepção, pois, se não, o carro desalinha e não se sabe a razão.

Talvez, seja essa percepção que o Mano tem, e o ajude a compreender e planejar antecipadamente para essas situações.  O Grêmio do próprio treinador, o que se passa com o São Paulo atualmente, e o que o Mano já fez no próprio Corinthians podem ajudar-nos a refletir sobre o caso… ou não.

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Acabaram com os furos no futebol

É cada dia mais notório que o futebol vive um período de “pasteurização” da cobertura da imprensa. O jornalismo investigativo, descobridor de grandes histórias do mundo da bola, está com os dias contados. Ou, pelo menos, com a tendência a ficar cada vez mais raro de existir.

E qual é o motivo para isso?

A acomodação da imprensa, em parte, explica esse fenômeno. Em tempos de internet e comunicação mais do que instantânea, é cada vez mais fácil você obter informações de fontes oficiais sem a necessidade de correr atrás da notícia. Basta acessar o twitter, o site oficial, o blog e semelhantes que a informação está à disposição.

Mas talvez essa seja a origem para que esteja cada dia mais complicado o jornalismo esportivo ser uma escola de formadores de bons repórteres, como já foi no passado. O amadurecimento dos profissionais que atuam no futebol tem provocado uma certa preocupação com a qualidade da transmissão da notícia. E isso faz com que, finalmente, o futebol discuta a necessidade de profissionalização dos departamentos de comunicação.

Não é mais comum vazarem informações sobre negociações de patrocínio. Demissões de treinadores são alinhadas com todos os envolvidos antes de serem comunicadas à imprensa. Saída e chegada de atletas são cada vez mais oficializadas depois de o contrato ter sido assinado ou, pelo menos, todas as partes terem chegado a um acordo.

Foi-se o tempo em que o clube permitia vazar informações antes de o negócio estar consumado. E isso mostra uma evolução na maneira como o futebol está preparado para ser gerido como negócio. Às vezes, se uma história é passada à imprensa antes de ter sido consumada, atrapalha a negociação, que muitas vezes vira pó.

Esse cenário é péssimo para o jornalismo de investigação, mas permite que o futebol caminhe cada vez mais para uma profissionalização num dos campos mais carentes, que é o da gestão. Aos poucos, essa evolução no comando do futebol se refletirá nas outras áreas.

O jornalismo já “sofre” um pouco com isso. Mas, do outro lado, os dirigentes nunca estiveram tão tranquilos no comando de suas funções.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Parabéns, Universidade do Futebol!!!

Hoje escrevo, me desprendendo dos temas que normalmente abordo, para felicitar a Universidade do Futebol (nome adulto), que já foi Cidade (quando criança, mas criança madura) e um dia só o sonho de alguém (só?!).

Em um país como o Brasil (o “país do futebol”), falar ou escrever sobre futebol não é das coisas mais fáceis. Todos sabem sobre futebol, todos dissertam sobre ele.

Fomos tricampeões mundiais – antes de todo mundo -, depois também tetra e penta. Nós, brasileiros, temos tradição no futebol.

E se falar sobre futebol é difícil, imaginem construir uma Universidade do Futebol!

Quantos desafios, quantas batalhas, quantas conquistas. Projetos, idéias… Quantas coisas são pensadas e realizadas todos os dias… Produzir conhecimento, levá-lo ao maior número de pessoas possível; grandes metas…

O sonho já foi de um homem só, mas hoje, é também a vida de cada um de nós. Parabéns a todos.

E como hoje é uma data especial, sem perder o conteúdo, reproduzo abaixo um texto bem humorado do Luís Fernando Veríssimo, afinal de contas, parafraseando o filósofo Manuel Sérgio, para saber futebol, é preciso saber mais do que futebol. Então, por que não?…

“Sexo e futebol” (Luís Fernando Veríssimo)

A dissertação nada-a-ver de hoje é: no que o sexo e o futebol se parecem?

No futebol, como no sexo, as pessoas suam ao mesmo tempo, avançam e recuam, quase sempre vão pelo meio mas também caem para um lado ou para o outro e, às vezes, há um deslocamento. Nos dois é importantíssimo ter jogo de cintura.

No sexo, como no futebol, muitas vezes acontece um cotovelaço no olho sem querer, ou um desentendimento que acaba em expulsão. Aí um vai para o chuveiro mais cedo.

Dizem que a única diferença entre uma festa de amasso e a cobrança de um escanteio é que na grande área não tem música, porque o agarramento é o mesmo, e no escanteio também tem gente que fica quase sem roupa.

Também dizem que uma das diferenças entre o futebol e o sexo é a diferença entre camiseta e camisinha. Mas a camisinha, como a camiseta, também não distingue, ela tanto pode vestir um craque como um medíocre.

No sexo, como no futebol, você amacia no peito, bota no chão, cadencia e tem que ter uma explicação pronta na saída, para o caso de não dar certo.

No futebol, como no sexo, tem gente que se benze antes de entrar e sempre sai ofegante.

No sexo, como no futebol, tem o feijão com arroz, mas também tem o requintado, a firula e o lance de efeito. E, claro, o lençol.

No sexo também tem gente que vai direto no calcanhar.

E tanto no sexo quanto no futebol o som que mais se ouve é aquele “uuu”.

No fim, sexo e futebol só são diferentes, mesmo, em duas coisas. No futebol, não pode usar as mãos. E o sexo, graças a Deus, não é organizado pela CBF.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Incentivo ao clube-empresa

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Muito já se discutiu no Brasil sobre a transformação de clubes em empresas. Por um lado, isso seria muito positivo ao novo modelo do futebol, por conferir maior transparência e maior segurança para investidores. Por outro lado, os clubes-empresa, que fatalmente são constituídos na forma de sociedades limitadas ou por ações, teriam um maior custo operacional envolvido.

A legislação apropriada, nomeadamente a Lei Pelé, já “foi e voltou” diversas vezes a respeito dessa matéria.

Uma coisa ficou entendida: obrigar os clubes atuais a adaptarem-se ao novo modelo empresarial não funciona. Há muita pressão contrária, principalmente de grandes clubes, que não têm o menor interesse na transformação da atual forma societária do clube, e, ainda por cima, não querem elevar os seus custos operacionais (que não sejam aqueles custos diretamente envolvidos com a contratação de jogadores e técnicos).

Essa discussão geralmente não leva a lugar nenhum, o que ficou comprovado com as idas e vindas da Lei Pelé.

Por outro lado, um outro interessante fenômeno está acontecendo. Devido a um grande interesse de novos investidores no mundo do futebol, diversos clubes estão optando pela transformação, por livre iniciativa.

Investidores bem informados e bem assessorados sabem que o clube na forma de sociedade empresária tem maior flexibilidade para realizar os diversos negócios pretendidos, de forma profissional e organizada.

Nesse ambiente, que acaba sendo favorável para às diversas partes do mercado, incluindo jogadores, torcedores, patrocinadores e mídia, temos que incentivar as transformações. Elas são boas para todos nós.

As autoridades do futebol devem permitir que isso seja viável. Mas, como é óbvio, com a devida atenção para que a transformação do jogo em negócio não deturpe a verdade desportiva e os demais princípios básicos do esporte, como a imprevisibilidade dos jogos, o respeito pelos ascenços e descenços com base em resultados exclusivamente obtidos dentro de campo, etc.

Enfim, temos que não obrigar os clubes a se transformarem, mas incentivar aqueles que assim desejarem, dentro de um ambiente jurídico apropriado às peculiaridades do futebol.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Deuses brancos

Eu gosto do Kaká. Acho um ótimo jogador e com excelente personalidade dentro de campo. Lembro que, em um dos seus primeiros jogos com a camisa do Milan, ele deu uma peitada no Killy González. Eu, que nunca gostei do Killy González, passei a respeitar o Kaká.

Bem verdade que ele não tem nada a ver com isso, tampouco, eu tenho a ver com qualquer coisa da vida dele. Tanto faz pro Kaká eu falar qualquer coisa sobre ele, assim como tanto faz pra mim o Kaká fazer qualquer coisa da vida dele. É por isso que eu não implico com a sua devoção a sua religião. Muita gente implica. Mas, bem verdade, ninguém tem nada com isso.

Assim como eu também não tenho nada a ver com a devoção da mulher dele, que foi bastante reproduzida por websites afora, por conta de uma pregação feita nos Estados Unidos, acho. Não me pareceu que houvesse qualquer intenção dela em disseminar a sua palavra pelo mundo. Tampouco acho que ela prega por dinheiro. Tem gente que, obviamente, faz isso. Mas, se tem alguma coisa que o Kaká e sua família certamente não precisam é de dinheiro. Respeite-se, portanto.

De qualquer maneira, é importante corrigir um equívoco cometido. A mulher do Kaká disse que foi Deus quem colocou dinheiro no Real Madrid para eles comprarem o Kaká. Porém, acredite, isso não é verdade.

Quem colocou dinheiro, indiretamente, foi o presidente do clube, Florentino Pérez, um dos caras mais ricos da Espanha. Os bancos emprestaram a grana, e, naturalmente -como em qualquer outra associação esportiva, o presidente do clube tem que dar lá suas garantias de pagamento. Tem tudo explicadinho em uma matéria da revista Trivela desse mês. Nesse caso, pode-se endeusar, portanto, Pérez e os bancos. Mas não a Trivela.

Ou então, pode-se endeusar o Di Stéfano, que foi possivelmente o grande responsável por fazer do Real Madrid aquilo que ele é hoje. Dizem que ele jogou mais que o Pelé, que não é deus, mas é rei. Dizem também que se não fosse pelo Di Stéfano, o Real Madrid não teria ganhado tudo o que ganhou, não teria conseguido atrair tantos torcedores, tampouco teria sido escolhido o time do século XX pela Fifa. Ou então, pode endeusar o Santiago Bernabéu, não o estádio, que foi o presidente que conseguiu tirar o Di Stéfano do Barcelona e levar para o Real, por meio de um monte de supostas maracutaias. Ou, ainda, dá pra endeusar o Kubala, atacante e principal estrela do Barcelona na época que o Di Stéfano foi para lá, apontado por muitos como uma das razões pela qual o jogador resolveu trocar de clube, uma vez que não queria dividir atenções com ninguém.

Enfim. Se a lógica que quem deu dinheiro para o Real Madrid foi Deus prevalecer, dá pra dizer que todos esses aí podem ser deuses. Só não diga que o Cristiano Ronaldo é deus, porque ele mesmo provavelmente já acredita que é.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br