Categorias
Sem categoria

Intuição, teoria e prática no futebol

O papel da intuição está em alta no mundo empresarial e dos negócios. Descobertas científicas recentes demonstram que as tomadas de decisão de líderes, apoiadas apenas na razão, sem a devida participação de variáveis emocionais que regulam nossa vida, devem ser consideradas coisas do passado.

 

Mas se este ingrediente para as decisões parece ser novo dentro das empresas, no futebol, entretanto ele é usado à exaustão. A intuição ocorre dentro de campo, a todo instante, nas decisões que cada jogador deve tomar para ajudar seu time a atacar e a se defender. Acontece também nas decisões dos treinadores que, muitas vezes, utilizam-se essencialmente dela para balizar suas ações estratégicas. E ocorre também até entre muitos dirigentes que, por exemplo, após derrotas de seu time, têm constantes intuições de que, se mudarem o treinador, o time vai reagir e render mais em campo, já a partir do próximo jogo.

 

Mas refletir sobre o papel da intuição nos leva, quase que inevitavelmente, a pensar na relação entre teoria e prática. O quanto a intuição, a teoria e a prática podem, de fato, ser úteis nas vitórias e conquistas de um time de futebol?

 

Para algumas pessoas, ser teórico é estar desligado da realidade e ser pouco prático. Mas há os que contrapõem esta afirmativa dizendo que nada é tão prático como uma boa teoria. 

 

Como nos ensinam Henry Mintzberg e James Brian Quinn no interessante livro O Processo da Estratégia, todo médico, engenheiro e físico de sucesso seriam incapazes de praticar seu trabalho competentemente sem teorias que dêem suporte às suas práticas. E concluem fazendo a seguinte pergunta: “Como alguém pode dirigir sistemas complexos se não compreender estes sistemas complexos?”.

 

E aí concluo que, salvo melhor juízo, um clube ou um time de futebol é um sistema complexo. Dirigi-lo, portanto, é um ato de tentar controlar variáveis de muitas ordens: física, técnica, operacional, administrativa, social, psicológica, emocional, espiritual entre tantas outras.

 

Se concordarmos com esta hipótese e levando-se em consideração que tudo evolui ou se transforma a todo o momento, é possível refletir que, será cada vez mais difícil conseguirmos bons resultados no futebol apenas com intuição, como ainda fazem muitos dirigentes e treinadores.

 

Definitivamente, dentro em breve não haverá mais espaços para profissionais apenas intuitivos e práticos. Estes se quiserem evoluir terão que entender que, sem boas teorias, não se faz boas práticas.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br 

Categorias
Sem categoria

O real valor do adversário

Os simpatizantes do futebol e, particularmente, os que torcem para este ou aquele clube, costumam, muitas vezes, depreciar o valor de seus adversários ou oponentes. Alguns mais apaixonados chegam a torcer para que esses times se enfraqueçam cada vez mais. Não duvido que até comemorariam se vissem seus rivais caírem de divisão.

 

Em um desses arroubos de desprezo pelo oponente, geralmente chamado de inimigo, li certa vez em um pára-choque de caminhão a seguinte frase: “Não basta vencer o adversário, é preciso humilhá-lo”.

 

Alguns argumentariam, em defesa destes apaixonados, que esta é uma reação natural ao próprio significado do futebol e do esporte, de uma forma geral. Assim também é a própria vida. O desejo que o adversário perca é inseparável do desejo de que o seu time ganhe. Pode ser, mas cabem aqui algumas reflexões em torno desta questão.

 

Numa outra perspectiva, mais oriental, mais holística talvez, a abordagem deveria ser diferente. E pensando nisso fico imaginando um outro cenário para o esporte e, em especial para o futebol, esta modalidade esportiva que tanto significado tem em nossa cultura. A competição é, via de regra, uma luta de oponentes em busca da vitória. Quanto a isso creio que estamos todos de acordo.

 

Entretanto não podemos negar que é a força do adversário que nos fortalece. Quanto mais poderosos nossos oponentes mais iremos precisar de força, técnica, estratégia, inteligência para superá-los. Um pensamento zen-budista chega a afirmar que em uma competição você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre um e outro. Eles se completam.

 

Por outro lado precisamos saber que, para sermos vencedores, temos que entender não só as forças e fraquezas do nosso oponente, mas, fundamentalmente, as forças e fraquezas que estão instaladas dentro de nós mesmos. Este é o ensinamento que nos dá o mestre em artes marciais, o japonês Hidetaka Nishiama: “O oponente mais poderoso está dentro de nós mesmos”.

 

E para completar esta pequena reflexão sobre o real valor dos nossos adversários, deixo-os com o pensamento do grande líder político indiano Mahatma Gandhi que costuma nos inspirar com suas idéias. Mas que também na prática provou ser possível vencer de uma forma diferente. Ele nos dizia: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio”.

 

Será que a humanidade chegará a este grau de desenvolvimento espiritual capaz de levar estes conceitos para a prática do futebol?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

 

Categorias
Sem categoria

As estratégias de Luxemburgo

Questionado por suas atitudes e também pelo seu alto salário, que segundo alguns chega perto dos R$ 500 mil por mês, Vanderlei Luxemburgo foi o grande personagem do último clássico entre Corinthians e Santos pelo Paulistão 2006.

 

Quem esperava pelo destaque de alguns jogadores presentes em campo, corintianos ou santistas, acabou vendo a astúcia do treinador prevalecer sobre o talento dos atletas.

 

Tudo começou a ser tramado bem antes do jogo. Durante a semana Luxemburgo já ensaiava as ações estratégicas que ajudaram a levar seu time à vitória contra o badalado e atual campeão brasileiro, o Corinthians.

 

Na hora do jogo, armou um cenário que surpreendeu a todos, atrapalhando completamente o trabalho da imprensa e confundindo a cabeça do experiente Antônio Lopes, treinador corintiano.

 

Luxemburgo não divulgou a escalação da equipe santista. O time entrou em campo com 12 jogadores e só permitiu revelar os 11 que começariam a partida dois ou três minutos antes do jogo começar. 

 

Tal procedimento obrigou o treinador corintiano a correr, na última hora, atrás de seus jogadores para dar as últimas orientações sobre o plano tático, comprometido pela ausência de informações sobre o seu oponente.

 

Claro que poderíamos argumentar: se o Corinthians tivesse aproveitado as chances que criou, se as bolas na trave tivessem entrado, se isso, se aquilo… Mas acontece que, como costumamos dizer no futebol, o “se” não joga. E como o “se” não jogou no domingo, o que conta é a vitória do time santista.

 

O resultado final, favorável ao Santos, queira ou não, consagrou as ações de Luxemburgo. Tivesse o time corintiano vencido o jogo, provavelmente o técnico teria sido duramente criticado por suas atitudes. Mas não aconteceu isso.

 

Assim é o futebol. Assim é nossa cultura. Só sabemos dar valor ao vencedor. É a versão do vencedor que vale. E se assim é, esta foi uma vitória de Vanderlei Luxemburgo.  

 

Infelizmente nossa cultura ainda não aprendeu a levar em conta os méritos do perdedor. Tanto é que o vencedor brasileiro de 2005, Antônio Lopes, dois meses após a conquista do campeonato brasileiro, já corre riscos de perder seu emprego.

 

Lamentável, mas é assim que funcionamos.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Ronaldinho Gaúcho e seu personal trainer

Dias desses lendo as páginas esportivas dos jornais deparei com uma notícia interessante. O nosso craque Ronaldinho Gaúcho, jogador do Barcelona, possui um personal trainer que cuida dos detalhes de sua preparação como atleta.

 

A medida embora não seja pioneira, pode representar um marco em se tratando daquele que acaba de ser eleito pela segunda vez o melhor jogador de futebol do mundo.

 

Esta tendência de personalizar-se a preparação dos atletas de modalidades esportivas coletivas também não é nova, mas deve ser incentivada pela preocupação implícita de individualização do trabalho que carrega em si.

 

Duas coisas, entretanto, causaram-me preocupação na reportagem sobre o profissional que cuida da saúde e da forma física do atleta.

 

Primeiro, pelo que li na notícia, o Moraci Sant’Anna, competente e cuidadoso preparador da seleção brasileira de futebol, desconhecia a existência do Quim, que é primo e o personal trainer de Ronaldinho Gaúcho.

 

Em um trabalho que se caracteriza pelo detalhamento e sutiliza de suas intervenções, tal desconhecimento não pode ocorrer. Tudo que é feito pelo Ronaldinho, dentro e fora do campo, deveria ser discutido entre os responsáveis por sua preparação, no caso, entre os preparadores físicos do Barcelona, da seleção brasileira e o personal trainer.

 

Como cada um dos profissionais que trabalha com o atleta poderá dosar de forma equilibrada e adequada as atividades se um desconhece o trabalho do outro?

 

A segunda preocupação é em relação ao fato do personal trainer declarar que o Ronaldinho chega a praticar perto de três horas de futevôlei na areia, às vezes, altas horas da noite ou de manhã, bem cedo, para evitar o assédio de curiosos e fãs.

 

Qualquer preparador físico, minimamente competente, sabe a importância do trabalho na areia para melhorar força e velocidade, estes dois componentes fundamentais para a prática do futebol moderno. Mas praticar cerca de três horas desta modalidade em paralelo com a programação de treinamentos e jogos do clube e seleção é, sem sombra de dúvidas, preocupante.

 

Torço para que o personal trainer do Ronaldinho Gaúcho tenha exagerado nas declarações sobre as cargas de trabalho que está aplicando a um dos maiores talentos do futebol da atualidade. Mas se a informação for verdadeira, um dos nossos mais destacados craques corre sérios riscos de não poder mostrar todo o potencial de sua arte durante a próxima Copa do Mundo a ser realizada na Alemanha.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Romário, futebol e envelhecimento

A vida de todo ser humano tem seu ciclo vital. Qualquer profissional, seja qual for a carreira escolhida, também terá os seus ciclos. Com o jogador de futebol não é diferente.

 

Todos sabemos que o futebol hoje em dia exige uma apurada condição física e fisiológica. O esporte é praticado em uma velocidade cada vez maior e este fato tende a eliminar aqueles que não conseguem acompanhar um ritmo tão intenso.

 

Após os 29, 30 anos, o corpo do atleta começa a perder a massa muscular e, conseqüentemente, a velocidade e a força, entre outros aspectos. Mudanças hormonais provocam o processo de deterioração das melhores condições atléticas necessárias à alta performance.

 

Nesta perspectiva um jogador como o Romário, com perfil de boêmio e que acaba de completar 40 anos pareceria, a um primeiro olhar, um exemplo típico de profissional em decadência, totalmente incapaz de acompanhar a dinâmica exigida pelo futebol atual.

 

De certa forma isto tem se dado, na prática. Visivelmente o jogador já não tem mais a mesma condição de 10 ou 20 anos atrás. Entretanto, e felizmente, o ser humano não é constituído apenas por aspectos puramente biológicos ou fisiológicos. 

 

O envelhecimento pode ser considerado como a perda das habilidades de adaptação ao meio e, portanto, pesam aqui os aspectos biológicos e funcionais.

 

Mas contrapondo-se aos aspectos biológicos, puramente físicos, existem outros elementos, como os psicológicos, sociais, culturais e espirituais que permitem aos mais tenazes, aqueles que amam a vida e aquilo que fazem, enfrentar o inexorável processo do envelhecimento.

 

Neste sentido, inteligência, maturidade, equilíbrio e autoconfiança são alguns dos ingredientes necessários para este embate. E é interessante ver como algumas pessoas conseguem fazer isso com graça e sabedoria.

 

Por outro lado, o desenvolvimento cultural e científico acelerado pelo qual estamos passando, cujo pano de fundo é a globalização, vai obrigar-nos a buscar novos conceitos em termos de idade e velhice.

O futebol também passará por processos profundos de mudanças. Uma delas será permitir que os atletas prolonguem sua vida útil como profissionais, apesar da velocidade crescente com que o jogo é jogado.

 

Concordando com esta tendência, e facilitado pelo fato de que o melhor do futebol brasileiro não está no Brasil, já podemos antever o ano que vem, quando Romário estiver completando 41 anos, o craque chamando a atenção do mundo todo para as partidas-exibição que estará realizando numa obstinada busca pelo seu milésimo gol, encerrando assim sua polêmica e brilhante carreira.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A evolução do futebol e o conceito de talento esportivo

Aos poucos a comunidade que trata as questões do futebol, de forma séria e profissional, vai se distanciando do senso comum e entendendo que o jogador talentoso, o craque, o “fora de série” não é mais aquele que apenas reúne algumas habilidades motoras específicas para a prática do esporte.

 

Até a década de 60 o futebol era baseado essencialmente na técnica e, portanto, aquele que dominava alguns fundamentos tais como drible, chute, passe, cabeceio etc. conseguia se destacar em sua equipe e em relação aos demais jogadores, sem necessitar de outras qualidades. 

 

Passado este período de predomínio da técnica, tivemos uma fase onde a preparação física passou a ocupar, literalmente, quase todos os espaços. O futebol se tornou mais veloz, mais corporal, com disputas físicas mais intensas. A Copa do Mundo da Inglaterra em 1966 foi um marco neste sentido.

 

O mundo do futebol, através de seus especialistas, começou a investir neste fator. Grandes transformações começaram a ocorrer. Os jogos, a certa altura, passaram a ser demasiadamente violentos, tal a importância que se deu ao empenho físico aplicado pelos jogadores.

 

Já a partir da década de 80 notou-se uma evolução acentuada em relação aos esquemas táticos, as estratégias de jogo. Por conseqüência os treinadores começaram a ter maior importância na performance das equipes. Estes, juntamente com suas comissões técnicas, cada vez mais multidisciplinares, começaram a buscar uma integração dos fatores físicos, técnicos e táticos para conseguirem melhores resultados.

 

Neste alvorecer do século 21, sem desprezar estes fatores físicos, técnicos e táticos, vivemos um momento onde se destaca a necessidade de cuidadosos planejamentos de curto, médio e longo prazo e, sobretudo, de investimentos na atitude, envolvendo aspectos psicológicos, emocionais e sociais dos atletas. Exige-se que sejam cada vez mais profissionais sem, porém, perderem seu potencial técnico criativo. Este parece ser um dos grandes desafios dos especialistas interdisciplinares nestes tempos atuais.

 

Os grandes clubes do Brasil e do mundo, que possuem técnicos e profissionais qualificados, estão procurando superar a visão ainda espontânea  e empírica de formação do atleta de futebol, substituindo-a por um novo modelo, ainda em construção, apoiado na interdisciplinaridade, entendida aqui como a integração das diversas áreas científicas que dão suporte à performance dos atletas e das equipes, tais como a fisiologia, a nutrição, a psicologia entre outras.

 

Nesta perspectiva, o entendimento sobre o que seja o talento esportivo começa a sofrer alterações, em relação ao sentido mais tradicional que vínhamos dando a ele. Não podemos mais considerar talentoso o atleta que apenas possui a virtude para realizar alguns movimentos técnico-motores de inegável plasticidade. 

 

O verdadeiro craque ou talento, mais do que nunca, passa a ser aquele que é capaz de transformar suas qualidades não só técnicas, mas também físicas, psicológicas, emocionais, espirituais e sociais em resultados práticos em termos de ganho de performance da equipe da qual faz parte.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O cozinheiro da seleção da Arábia Saudita

Minha experiência no futebol como preparador físico, coordenador, diretor executivo e mais recentemente como consultor técnico independente, em clubes do Brasil e no exterior, tem me permitido vivenciar algumas situações bastante interessantes.

Recentemente, por exemplo, estive na Alemanha assessorando a Federação de Futebol da Arábia Saudita que se prepara para participar pela quarta vez de uma Copa do Mundo e pude observar uma dessas curiosidades.

Acostumados que somos ao contato com as estrelas principais do futebol, na maioria das vezes representadas por jogadores, treinadores e alguns dirigentes, não imaginamos que nos bastidores existam outras estrelas. São estrelas que não reluzem nem para a imprensa e nem para o grande público que aprecia esta modalidade esportiva, mas que têm papel fundamental para o brilho das equipes dentro de campo.

Um desses personagens é o cozinheiro. Muitos times e seleções têm o seu próprio cozinheiro, profundo conhecedor do tipo de culinária que agrada aos jogadores. Numa análise mais psicológica, poderíamos concluir que o cozinheiro, talvez, substitua de alguma forma, a figura da mãe, que por motivos óbvios, sempre está ausente das concentrações dos jogadores pelo mundo afora.

É interessante perceber a relação que normalmente se estabelece entre os jogadores e o responsável pelas iguarias presentes no sagrado momento das refeições.

Uma das grandes dificuldades quando se está organizando a infra-estrutura para uma seleção jogar em um outro país, é convencer os gerentes dos grandes hotéis, onde normalmente se hospedam as delegações, em permitir a presença e interferência do cozinheiro da seleção no preparo das refeições dos atletas. 

Há hotéis que contratam seus “chefs” de cozinha, como alguns clubes contratam seus treinadores. Alguns deles são considerados como verdadeiros “cartões de visita” do próprio hotel.

Imaginem, portanto, a minha dificuldade, como responsável pela adequada organização de uma concentração, tentando convencer o gerente que não queremos a comida feita pelo famoso “chef” do seu hotel, às vezes contratado a peso de ouro, mas sim aquela comida caseira, feita pelo velho egípcio Ahmed Al Fatah que há 25 anos cozinha para os jogadores da seleção da Arábia Saudita.

Confesso que não é uma das tarefas que mais me agrada fazer no meu trabalho. 

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Imprevisibilidade no futebol

Dias atrás alguns órgãos de imprensa deram destaque a uma pesquisa realizada nos Estados Unidos sobre a imprevisibilidade no esporte, comparando os resultados de diversas equipes em diferentes modalidades. Como conclusão, o futebol foi apontado como o esporte mais imprevisível num grupo formado por várias práticas esportivas coletivas.

Não tenho maiores detalhes desta pesquisa para poder avaliar o grau de credibilidade que ela merece. Contudo, o fato é que os comentários sobre o assunto suscitaram-me algumas reflexões.

Acostumado a participar de planejamentos para clubes e seleções de futebol, fiquei imaginando em minhas experiências práticas o quão imprevisível, realmente, é este esporte adorado por milhões nos mais diferentes países e culturas do mundo todo.

Mesmo antigamente, há uns 30 ou 40 anos, quando a técnica e a habilidade sobrepujavam os aspectos físicos e táticos do jogo, as surpresas já aconteciam com alguma freqüência.

Hoje, com a evolução científica dos métodos de treinamento, com uma preparação física cada vez mais minuciosa, com a evolução dos esquemas táticos e estratégias de jogo e, enfim, com o fenômeno da globalização, permitindo o acesso aos processos de preparação aos times grandes e pequenos, o futebol ficou ainda mais imprevisível.

É interessante notar que, paralelamente ao encanto que o jogo de futebol causa nas pessoas, os comentários em torno dele atraem tanto quanto o jogo em si.

Além de apreciarmos uma partida, curtimos também a discussão sobre o futebol. E entre debates e embates, um dos temas preferidos é tentar adivinhar quem serão os vencedores. É também por isso que o futebol entusiasma, provoca e motiva.

No momento, por exemplo, muitos estão apostando que o Brasil será hexacampeão na Copa do Mundo da Alemanha. E para isso cada um apresenta os seus argumentos. Mas, se procurarmos um pouco, vamos encontrar aqueles que acham que o Brasil não será campeão pela sexta vez nesta Copa. E também aqui cada um apresenta os seus argumentos.

Da minha parte entendo que as condições objetivas para se avaliar quem vai vencer um jogo de futebol ou um campeonato dependem de fatores físicos, emocionais, táticos, culturais, sociais e até espirituais que ainda não conseguimos definir muito bem. E ainda bem que seja assim.

Talvez seja isso o que torna o futebol o esporte mais imprevisível entre todos, dando a ele um charme especial. O futebol como a vida, carrega mistérios que ainda não conseguimos desvendar.

 

 

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Brasil: vida, futebol e política

 

Todo início de ano provoca em cada um de nós algumas reflexões. Alguns priorizam um balanço do ano que passou, comemorando algumas conquistas ou lamentando algumas “pisadas de bola”. Outros preferem esquecer o passado e olhar para o que vem pela frente, planejando novas metas, renovando esperanças ou se preparando para novos desafios. 

 

Seja qual for o nosso perfil, sempre surge um momento em que nos perguntamos sobre o que será o nosso futuro. Dentro disso, há aqueles que rezam e torcem para que tudo dê certo, mas pouco fazem para que as coisas, realmente aconteçam. Já outros se concentram nas tarefas que podem auxiliar na transformação de suas realidades e vão à luta, independentemente das dificuldades que têm pela frente.

 

O ano de 2006 promete. O mundo se movimenta. Alguns lutam para se manter no poder. Outros para conquistá-lo. Mas a maioria luta apenas para sobreviver. Este é o atual estágio de desenvolvimento da humanidade.

 

No Brasil, a movimentação não se dá de forma diferente. Talvez de diferente mesmo haja apenas a nossa esperança no poder de nosso futebol. Afinal, é ele que nos permite um sentimento de que, pelo menos no campo esportivo, somos primeiro mundo.

 

É esta manifestação e fenômeno cultural que é capaz de unificar toda uma Nação. Neste sentido, não há pobres nem ricos. E por ser capaz até de acabar com a divisão de classes sociais alguns já afirmaram que o futebol é o ópio do povo.

 

Se esta conclusão é verdadeira ou não, pouco importa. O importante é que este ano é ano de Copa e estaremos todos unidos para torcer pelo hexacampeonato.

 

E isso não é sinal de alienação como pode pensar alguns. Após a Copa do Mundo na Alemanha, teremos eleições aqui no Brasil. Passada a ressaca da vitória ou da derrota, como cidadãos, temos que saber separar nossas paixões dos nossos direitos e deveres. E nada deve nos impedir de exercer nossa cidadania em sua plenitude.

 

O sentimento de Nação, que vem da torcida pelo Brasil, em campo, pode ajudar nesse processo, despertando a consciência cívica e fortalecendo a idéia de que o nosso destino deve estar mais em nossas mãos do que dos nossos governantes.

 

Torçamos para que, no final de 2006, todos nós brasileiros, independentemente de nosso perfil, possamos comemorar não só o hexa, como também uma nova etapa do nosso desenvolvimento, com menos corrupção, menos injustiças e menos crises, dentro e fora de campo.      

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Futebol, longo prazo e desenvolvimento

Um dos maiores economistas do século 20, John Keynes, certa vez disse que “no longo prazo estaremos todos mortos”. A frase, fora de contexto, parece desestimular ou criticar aqueles mais precavidos que buscam no planejamento uma ferramenta para programar mais adequadamente o futuro.

Sem deixar de considerar o aspecto positivo da mensagem do economista Keynes, alertando para a necessidade de pensarmos o planejamento sintonizado com a nossa realidade ou com o momento presente, temos que entender a nossa dificuldade em pensar no futuro de forma mais objetiva e clara.

No Brasil, via-de-regra, somos avessos aos projetos de longo prazo.  No futebol, então, nem se fale! Conheço dirigentes que não conseguem vislumbrar horizontes maiores além de uma semana ou um mês. E pautam suas atitudes, única e exclusivamente, em função dos resultados imediatos dos jogos de seu time. Ganhando, aproveitam para fazer a propaganda de sua “administração” na mídia. Perdendo, demitem o treinador e assim procuram renovar as esperanças dos torcedores no curto prazo. O panorama traçado é um pouco caricato, mas infelizmente verdadeiro em muitos casos.

Apesar dessa resistência quase cultural ao planejamento, vivemos um momento oportuno para repensarmos nossas instituições e, dentro delas, o futebol, este que é um dos nossos maiores patrimônios.

E neste repensar, bem que poderíamos começar um movimento para discutir e pensar seriamente na possibilidade de realização da Copa do Mundo em 2014 no Brasil.

A idéia já conta com o apoio oficial da CBF e a simpatia do governo federal, embora ainda divida um pouco a opinião pública. Seria ótimo se essa discussão fosse aprofundada. 

Que tal se utilizássemos o futebol como metáfora da vida? Será que, com isso, ao organizar melhor o nosso futebol não conseguiremos contribuir para o desenvolvimento de nossa sociedade como um todo?

A organização de uma Copa do Mundo não é tarefa simples. Exige a mobilização de forças políticas e econômicas. Mas depende também da compreensão de todo cidadão que participa da construção de um país como o Brasil, dentro de toda a sua complexidade.

Encarar o desafio de realizar uma Copa do Mundo vai exigir muito trabalho e competência. Mas está aí um bom motivo para exercitarmos nossa capacidade de construir uma grande Nação através do futebol.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br