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A função social do futebol

Já afirmei que o futebol nem sempre é sinônimo de saúde, como muitos imaginam. Sempre que abordo este assunto, as pessoas parecem ficar surpresas com este meu ponto de vista sobre o futebol, esporte que sem dúvida é uma das maiores manifestações culturais do século 20 e nada indica que não será assim, também neste século 21.

Muitas pessoas me questionam. “Medina como você, sendo professor e trabalhando no futebol há tanto tempo, pode falar mal do futebol?”

Penso que ter um olhar crítico sobre o futebol não significa necessariamente falar mal dele.  Pelo contrário, toda visão crítica pode contribuir mais para a valorização das práticas esportivas, do que uma visão ufanista ou de senso comum. 

Defendo que precisamos ter a capacidade para aproveitar o enorme potencial do futebol, para realmente assegurar a promoção da saúde, educação e cultura.

Se o esporte em geral, e o futebol em particular, fosse algo bom por si só, que dispensasse a necessária intervenção competente, positiva e pró-ativa de seus agentes, não veríamos em vários momentos exemplos de atletas envolvidos em drogas, atos de violência e corrupção que se repetem dentro e fora dos campos.

Cabe, portanto, àqueles que são os atores responsáveis pelas práticas esportivas, ou seja, treinadores, atletas, líderes comunitários e dirigentes, terem sempre em mente os valores que devem permear o esporte: solidariedade, cooperação, busca de superação dos limites, constante aperfeiçoamento, o espírito democrático,  respeito aos nossos oponentes etc.

Com uma visão crítica que dê mais clareza quanto à forma em que as relações sociais se dão no interior das atividades lúdicas, educativas e competitivas, talvez, possamos realmente entender o esporte e, em especial, o futebol, como um privilegiado instrumento que auxilia o desenvolvimento do ser humano de uma forma geral.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br 

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Futebol e desenvolvimento humano

Acompanhando os acontecimentos no mundo e no Brasil, fico imaginando como poderíamos medir o grau de desenvolvimento que a humanidade atingiu neste início de século 21. E quando falo em desenvolvimento, refiro-me não apenas ao processo de acumulação de riquezas materiais, mas às possibilidades de ascensão das pessoas de uma forma mais ampla, ou seja, também nos aspectos biológico, psicológico, ideológico, cultural, espiritual e social.

 

Somos surpreendidos a cada instante com escândalos de toda ordem que nos fazem questionar se vivemos, realmente, numa sociedade civilizada. 

 

Para aumentar estas dúvidas basta vermos, também, o que acontece no mundo do futebol, onde a busca pela vitória, vantagens pessoais e institucionais, muitas vezes, atropelam qualquer apelo que realmente justifique tudo aquilo que entendemos como civilizado.

 

Esta reflexão me trás à mente uma experiência muito interessante, contada há anos por um antropólogo, sobre o comportamento de um povo selvagem. Disse ele que certa vez visitou, com seu grupo de estudos, uma tribo no Mato Grosso, que nunca teve contato com a cultura civilizada.

 

Ao pesquisar aquela população indígena, buscando entender seus relacionamentos, ele e sua equipe aproveitaram para ensinar algumas práticas de nossa cultura, entre elas o futebol. Os índios gostaram tanto do jogo que começaram a praticá-lo diariamente. 

 

Mas um fato chamou muito a atenção dos antropólogos. Como os índios aprenderam que o grande objetivo da competição era a marcação do gol, quando isto acontecia, de um lado ou de outro, os dois times comemoravam entre si, indistintamente. Afinal alguém atingiu a meta e, portanto, cabia uma celebração coletiva que dispensava o conceito de vencedores e perdedores.

 

Bom, talvez, este modelo “selvagem” de ver o futebol não seja o ideal a ser seguido por nós, chamados “civilizados”, participantes de uma sociedade tão competitiva e focada em resultados, mas com certeza pode nos inspirar a colocar alguns limites nas nossas ambições, muitas vezes exageradas, para não dizer doentias.  

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Charleroi e a revolução do futebol

Uma revolução consiste, basicamente, em uma transformação fundamental de valores, buscando equilibrar o sistema de poderes entre oprimidos e opressores. Coisas que eram, de repente, deixam de ser. Tornam-se outras.

 

Na cultura e na economia, uma revolução demora para se consolidar. Ela acontece de forma lenta, porém constante. Nas instituições sociais e políticas, porém, ela é repentina. De uma hora para outra, tudo muda. Quando não conseguem pacificamente, os oprimidos vão à luta.

 

O futebol volta e meia convive com revoluções. Em sua maioria, elas afetam o jogo em si, seja através das regras – como a do impedimento – ou das táticas – como o WM e o futebol total.

 

O caso Bosman

 

Muito de vez em quando acontecem revoluções que afetam a estrutura do esporte.

Uma destas poucas foi liderada por Jean Marc Bosman, um atacante até então insignificante que jogava pelo também insignificante RFC Liège. Tão insignificante que hoje não mais existe.

 

O jogador reclamou na justiça belga o direito de livre transferência para outro clube no final do seu contrato. Buscava um salário maior, que um clube da segunda divisão – o Dunkerque – estava disposto a bancar. Eles só não estavam dispostos a pagar pelo preço da transferência que o RFC Liège estava pedindo. Bosman não só ganhou a causa como fez com que todo o sistema de transferência de jogadores fosse transformado pela Fifa.

 

Foi criada então a Lei Bosman, que alterou substancialmente o sistema de transferência de jogadores e revolucionou a relação de poderes entre o clube e seus atletas. Os atletas ganharam, os clubes perderam. A Fifa, que não tinha nada a ver com a história, continuou na mesma.

 

Cadeia de poder

 

A cadeia de poder do futebol mundial é bastante simples: a Fifa é o órgão principal, com poderes de alterar leis e definir o calendário de jogos. Quem compõe a Fifa são as confederações continentais, que por sua vez é composta por confederações nacionais. No caso brasileiro, existem ainda as federações estaduais.

 

Dentro dessa cadeia, os clubes não têm voz. São subjugados às diretrizes e delegações dos órgãos citados acima. Possuem, no máximo, papel consultivo. Uma certa opressão, por assim dizer.

 

Revolta dos oprimidos

 

Como todos os oprimidos, eventualmente os clubes começaram a buscar uma revolução. Um espaço para dar o seu grito de liberdade. E por liberdade entenda dinheiro.

 

Primeiramente criaram as ligas, campeonatos independentes formados e organizados pelos clubes e que atendem ao interesses dos próprios. E por interesses entenda dinheiro.

 

Depois, os maiores clubes europeus se uniram e criaram o G14, formado inicialmente por 14 clubes, mas que hoje conta com 18. E deve crescer mais ainda.

 

Apesar de parecer bastante com o Clube dos 13, ambos sendo uma organização formada pelos maiores clubes de um determinado perímetro geográfico, o G14 possui um papel um pouco diferente.

 

Enquanto o C13 cada dia mais se estabelece como uma liga, o G14 funciona como um sindicato. Foi criado para dar uma voz conjunta aos maiores clubes da Europa, um meio deles se inserirem na cadeia de poder do futebol mundial para ter poder decisório de forma a defender seus interesses. E por interesses entenda novamente dinheiro.

 

Liberação de jogadores

 

Um dos grandes conflitos entre os grandes clubes da Europa e a Fifa é a respeito da liberação de jogadores para as seleções nacionais.

 

De acordo com o G14, os clubes são obrigados a liberarem os jogadores para disputar partidas internacionais, muitas v
ezes insignificantes, e não recebem nenhuma compensação financeira por isso. Muito pelo contrário, acabam perdendo dinheiro, uma vez que jogadores voltam cansados e, não raramente, contundidos, ficando impossibilitados de atuar pelos seus clubes, ainda que estes continuem a pagar seus salários.

 

A Fifa, por sua vez, argumenta que já destina parte de sua arrecadação para o desenvolvimento de clubes pelo mundo todo, e que uma compensação financeira por convocações só ajudaria aos principais clubes de futebol, que por si só já são bastante ricos e não precisariam necessariamente de mais essa fonte de renda.

 

O problema é que, por vezes, a contusão de um jogador em um jogo pela sua seleção afeta substancialmente a performance do clube dentro do campeonato, o que também afeta diretamente em outras fontes de renda, como renegociação de patrocínios e possíveis classificações para competições mais rentáveis.

 

Charleroi, um novo caso

 

Foi exatamente o que aconteceu com o Charleroi, um time mediano que disputa a primeira divisão belga. É um novo caso que pode revolucionar novamente a relação de poderes dentro do futebol, desta vez entre os clubes e a Fifa.

 

O Charleroi ia muito bem no campeonato, beirando a classificação para a Champions League, muito por causa de Abdelmajid Oulmers, um talentoso meio-campo marroquino. Tanto talento lhe rendeu uma convocação para a seleção marroquina. Orgulho para ele e para o próprio Charleroi.

 

Mas eis que Oulmers volta da seleção seriamente contundido e fica oito meses afastado dos gramados. O Charleroi, que antes beirava a classificação para a Champions League, termina o campeonato se classificando apenas para a Intertoto, uma competição pequenininha que serve como pré-classificatório pra Copa da Uefa. É disputada por clubes que acabam os principais campeonatos nacionais europeus em posições intermediárias e por clubes de países de menor importância futebolística, como as Ilhas Faroe.

 

Indignados com a perda de um de seus principais jogadores, que conseqüentemente levou à perda de bastante dinheiro, o Charleroi resolveu acionar a Fifa na Justiça belga. Exige ser financeiramente ressarcido pelas conseqüências da convocação de seu jogador para o selecionado marroquino.

 

O G14, que há tempos ansiava por uma oportunidade de acionar a Fifa na justiça para conseguir mudar as regras da compensação financeira por convocações, viu o potencial da briga e ofereceu, voluntariamente, toda a sua ajuda ao Charleroi.

 

O caso agora está na Corte Comercial de Charleroi. Envolve o Charleroi, o G14 e a Fifa. Foi aberto no dia 5 de setembro de 2005 e a audiência está marcada para o dia 6 de março de 2006.

 

É uma briga maior do que parece. Mais do que a compensação financeira por convocações, o G14 busca maior representatividade dos clubes na tomada de decisões dos rumos do futebol mundial. Querem ter poder decisório em questões-chave, como a definição do calendário, pois isso afeta diretamente seus interesses. E por interesses, entenda mais uma vez dinheiro.

 

Caso vença a sua causa, o belga Charleroi transformará toda a estrutura do futebol, tal qual fez o também belga Bosman. Se no caso do segundo a estrutura foi obrigada a dar mais poderes aos jogadores, no caso do primeiro ela dará mais poderes aos clubes.

 

Busca-se, dessa forma, equilibrar o sistema de forças do futebol mundial entre os seus componentes.

 

Busca-se, enfim, uma revolução.

 

Hay que endurecerse sin perder jamás la ternura.

 

Oliver Seitz é relações públicas, pós-graduado em Administração para profissionais do esporte (FGV) e mestrando em Administração de Futebol pela Universidade de Liverpool.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Profissionalização não garante lisura

O assunto da semana no futebol é, sem dúvida, o escândalo deflagrado em função da revelação do esquema de arranjos de resultados de jogos que beneficiaram financeiramente algumas pessoas.

 

O episódio me fez lembrar do Barão de Itararé que dizia: “o homem que se vende recebe sempre mais do que vale”. O escândalo do apito e a frase do Barão de Itararé nos remete a uma reflexão de caráter eminentemente ético.

 

Será que se os árbitros de futebol fossem profissionais, como sugere alguns, com salários e dedicando-se exclusivamente à sua tarefa de apitar os jogos, as coisas seriam diferentes?

 

Há os que acreditam que sim. Entre eles, encontra-se nada mais nada menos do que Joseph Blatter, o presidente da Fifa, defensor da tese.

 

Para mim é difícil entender esta lógica. Se pensássemos que a profissionalização da arbitragem poderia melhorar a qualidade dos espetáculos, através de uma melhor preparação e concentração dos árbitros, até que poderia concordar.

 

Absurdo

 

Achar, porém, que pelo simples fato do árbitro receber um salário, mais ou menos polpudo, garantiria mais lisura e princípios éticos nas arbitragens é, em outras palavras, admitir que todo homem tem seu preço. Ou, então, tomar, como princípio que o rico é mais honesto e o pobre mais desonesto, o que se constitui num verdadeiro absurdo.

 

Mas, com profissionalismo ou sem profissionalismo, tomara que essas denúncias, que parecem não ter fim em nosso país, sirvam não só para reflexões profundas, mas fundamentalmente, para fortalecermos nossas instituições esportivas e políticas, através dessas experiências dolorosas que somos obrigados a passar. Poderemos, assim, punir corruptos e corruptores, criando-se mecanismos para que fatos semelhantes não se repitam.

 

Se isto ocorrer será o lado positivo de toda esta crise moral a qual fomos submetidos.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

 

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O melhor do futebol brasileiro está na Europa

Os jogos do campeonato brasileiro estão cada dia mais difíceis de assistir. Não se está falando de ir ao estádio não, porque isso o torcedor brasileiro já não faz há muito tempo. A qualidade ou falta dela é cada dia maior em gramados tupiniquins, pois temos a possibilidade de ver na televisão nossos craques fazendo gols e jogadas geniais na Europa, em clubes ou países que muitos de nós nunca havíamos ouvido falar antes. No inicio do torneio até existiam algumas equipes com jogadores de um bom nível técnico, contudo depois da abertura do mercado europeu, vimos pelo segundo ano seguido o êxodo em massa de jogadores brasileiros e, conseqüentemente, a qualidade do campeonato nacional despencou.

 

 

 

Os clubes europeus sempre buscaram no Brasil reforços para suas equipes. Desde meados dos anos 50 as grandes equipes européias levavam algumas estrelas do futebol brasileiro. A partir da década de 80 equipes de menor porte da Europa também passaram a comprar jogadores de destaque no nosso futebol (Zico-Udinese, Socrates-Pescara). Nos anos 90 abriu-se o mercado asiático, e foram os japoneses com o objetivo de montar uma liga forte os primeiros a buscar nossos talentos. No inicio desse século foi à vez do Leste europeu descobrir o mercado brasileiro e, como não podem competir financeiramente com outros clubes europeus, levaram atletas do segundo escalão. Ou seja, os grandes clubes levam os craques, os menores, jogadores jovens com futuro promissor e os outros (Japão, Coréia e Leste Europeu) levam atletas sem muito destaque, mas de boa qualidade. Deixam para nossos clubes, jogadores com pouca qualidade, de pouca idade ou os experientes que já fizeram a vida lá fora e querem apenas encerrar a carreira no Brasil.

 

 

 

Se por um lado à venda dos melhores jogadores brasileiros para os maiores clubes europeus é inevitável, hoje nossas equipes vendem jogadores bons para clubes médios na Ásia ou Leste Europeu. E com toda essa receita, os clubes continuam endividados.

 

         

 

Assistimos à debandada de talentos para o exterior, pois os clubes brasileiros estão em geral quebrados, mantendo a mesma estrutura associativa amadora, que é incapaz de gerar recursos para manter as estrelas no país do futebol.  Até quando o torcedor agüentará o mau futebol? Será que o nobre esporte bretão não corre o risco de ser globalizado?

 

 

 

Está cada dia mais fácil obtermos qualquer tipo de informação no mundo de hoje, esta tudo a um clique do nosso alcance. No futebol, esporte mais popular do mundo isso não é diferente. É possível saber tudo o que acontece em todos os campeonatos do mundo sem sair da frente do computador. Além do mais, no Brasil temos a possibilidade de assistirmos os melhores campeonatos europeus todos os fins-de-semana. Os jovens, que estão sempre ligados em novidades são os alvos mais fáceis dessa oferta abundante de bom futebol.

 

 

 

Aos poucos cria-se uma grande identificação com esses craques internacionais (em sua maioria brasileiros) e os novos fãs de futebol passam a seguir seus ídolos mais de perto (através da TV e internet) e, conseqüentemente, torcem pelo sucesso da agremiação onde eles atuam (é comum vermos garotos com as camisas de times europeus).  Com grandes jogos, os ídolos em campo e um time para torcer, o jovem torcedor brasileiro acostuma-se a assistir os campeonatos europeus e esquece das terríveis partidas do campeonato brasileiro com seus jogadores medíocres. Assim sem se dar conta o torcedor brasileiro começa a torcer mais pelo clube europeu do que pelo time local (da sua cidade ou país).

 

 

 

As camisas e produtos oficiais também não são difíceis de serem encontradas. Toda loja de esporte que se preze vende produtos dos clubes europeus.Com isso é possível tornar-se um torcedor cada vez mais fanático daquele clube que joga tão bem com jogadores muito habilidosos, porém em um estádio distante. Afinal, ir ao estádio já não é mais um hábito do brasileiro.

 

 

A paixão pelo futebol não é tão cega como pensam nossos dirigentes. No longo prazo, nossos filhos e netos poderão nos achar tolos por nos preocuparmos com nosso time brasileiro, enquanto eles torcerão pelos times de verdade.  Para quem acha que essa é uma visão pessimista ou de uma completa insanidade, basta apenas olharmos para o passado. Há alguns anos quando no Brasil, um país de dimensões continentais, os moradores das regiões Central e Nordeste acompanhavam o futebol de duas maneiras; no estádio vendo equipes locais (de baixa qualidade) ou pela televisão, onde assistiam na maioria das vezes jogos do campeonato carioca por onde desfilavam os craques de Flamengo e Vasco. Coincidentemente hoje a torcida dessas duas agremiações são esmagadora maioria nessas regiões. Dessa forma é possível entender que uma equipe com bons jogadores mesmo que vista apenas pela televisão atrai novos torcedores.

 

 

 

Guilherme Momensohn I. dos Santos é administrador de empresas formado pela FAAP, e profissional de Marketing Esportivo.

 

        

 

Caio Medauar é advogado militante, sócio do escritório Medauar Advogados, membro das Comissões de Defesa do Consumidor e de Direto Desportivo da OAB/SP e especialista em administração do esporte pela FGV-SP.
Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

 

 

 

 

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https://drive.google.com/a/universidadedofutebol.com.br/file/d/0B8aBth76C0ciSWtRX0pfY0ZLb28/view
 
 

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Antes do artigo, quero salientar que na estreia (começou sábado e terminou na última segunda) da Premier League, das 20 equipes, 7 jogaram no 1-4-3-3 (Chelsea, West Ham, Liverpool, Bournemouth, Man.City, Swansea, Hull City), 6 no 1-4-2-3-1 (Arsenal, Man.United, Cristal P., Tottenham, Middlebrough, Stoke), 4 no 1-4-4-2, 2 linhas (Sunderland, Burnley, Bromwich e Leicester), 1 no 1-3-4-3 (Everton), 1 no 1-4-3-1-2, losango (Southampton, ) e 1 no 1-3-5-2 (Watford).

Quanto mais os seres organizados diferem um dos outros em relação a sua estrutura, aos hábitos e a constituição…, tanto mais probabilidades têm de ser bem sucedido na luta pela sobrevivência ( Darwin, 1859). 

Ao se objetivar a organização de uma equipe de futebol, operacionalizam-se as convicções em forma de treino e jogo. Colocando em prática tais ideias, busca-se tamanha ordenação das ações entre os atletas, como equipe. Há um esquecimento desprezo do “querer” do atleta, com suas decisões, sua criatividade, sua forma de ver o jogo.

Para a construção de uma organização coletiva, precisa-se ter em mente a organização individual e a forma de jogar de cada atleta. Necessita-se conhecer o atleta, sua personalidade, suas características e suas ideias. Se esta não for a base da organização coletiva tender-se-á a um número maior de ocorrências durante o jogo, que propiciarão uma quantidade desnecessária de situações de risco, tendendo à ruptura organizacional da equipe.

No desenrolar do jogo de futebol, dois locais merecem ser considerados para análise, observação, construção e  desenvolvimento de “uma” certa organização em equipe: o local onde está a bola (jogo local/núcleo do jogo/micro) e o local onde a bola não está (jogo global/fora do núcleo/macro). No primeiro a organização baseia-se na vertente setorial, organização coletiva dada por um número de atletas (1, 2, 3, 4, etc.) menor que o todo. Ou seja, a parte é responsável pelo cumprimento e eficácia da organização do todo. No segundo local, a organização tem como pilar a vertente coletiva, organização coletiva dada por um número de atletas, jogo fora do núcleo onde está a bola, próximo do todo (11 atletas). Neste caso, um grupo de atletas, na maioria das vezes maior, sustenta e dá forma a organização da equipe.

“O jogo local está para o jogo global, assim como o jogo global está para o jogo local”

O jogo local manipula todo o contexto do jogo de futebol. O(s) atleta(s) que está onde a bola está, tem o poder de guiar e dar sentido ao jogo. Este(s) atleta(s) tem o “poder” do jogo em suas mãos. Isto ocorre pois o resultado do confronto, de quem tem e de quem não tem a posse de bola, pode prejudicar ou favorecer o jogo global/macro: a chegada da bola, em um local onde ela não estava, poderá ocorrer em um contexto de prejuízo. Por exemplo, muito se fala e se faz para pressionar o local onde a bola se encontra, contudo, se a equipe não está preparada tática/estrategicamente, talvez seja melhor a bola não sair do local onde se encontra. Neste caso, melhor seria não pressionar o local da posse. A fim de pressionar, se torna imprescindível estar preparado coletivamente (vale salientar aqui a diferença entre pressão (individual) e pressing (coletivo)). Outro exemplo, agora ofensivamente, o que muitas equipes fazem com a bola está na atração do adversário para abrir um determinado local do campo. Mostro no vídeo o Manchester City (treinado por Pelegrini), na transição ofensiva, a equipe “acelera” o passe/posse de um lado para abrir o lado oposto, atraindo a marcação em bloco do Southampton. Este por uma interpretação da marcação zonal praticada como princípio defensivo, basculam por completo para um lado e depois para outro, abrindo o lado oposto, onde sai o gol do Manchester City.

 

Caso o jogo local (deixar jogar sem pressão, atrair com posse acelerada, etc) permita que o global (lado oposto, cobertura defensiva, estrutura da linha defensiva, etc) seja exigido, este tende a ter maior probabilidade de erro/acerto. Quando a bola está no jogo local e, por “escolha” de quem está na defesa há passagem para o jogo global, a equipe será exigida e testada perante sua organização coletiva defensiva, por exemplo (caso do vídeo). Caso esteja devidamente estruturada e estabelecida na sua vertente defensiva, tenderá a não sofrer mal algum. Ao contrário, não estando precisamente organizada defensivamente, sofrerá as consequências de sua falta como conjunto, ou seja, será desorganizada, romper-se-á em sua própria estrutura aumentando positivamente as chances de sucesso da equipe adversária.

Levando isto em conta, conclui-se que não pode preocupar-se somente com a organização coletiva e/ou setorial de uma equipe pois esta organização, mesmo que bem executada e eficiente durante o jogo, sofrerá com as frequentes situações que colocam em prova sua organização. Porém, estas situações estarão na dependência do jogo local, ou seja, só estarão presentes se o jogo local o permitir! Sem esta anuência do jogo local, o número de situações que colocaram em teste a organização defensiva coletiva/setorial será bem menor, sendo também menores as probabilidades de ruptura. Precisa-se ter como preocupação a tomada de decisão de cada atleta em cada momento do jogo, fazendo com que o atleta perceba que a sua decisão e a sua ação são extremamente importantes, independente do local ou momento do jogo, para o bem da equipe, para o bom andamento do jogo, para que o desenvolvimento do jogo seja favorável à equipe, defensiva e ofensivamente.

Perante o pensamento sistêmico: determinada situação só está certa ou errada se a bola ali chegar. Caso contrário, não se pode inferir que aquilo que num primeiro momento parecia incorreto realmente o é.

O resultado do jogo local que dará sentido/forma à organização coletiva. 

Não se pode focar isoladamente/prioritariamente na organização coletiva da equipe. Uma boa orientação deve estar preocupada com a “organização individual” do atleta, em cada situação do jogo. Fazer com que o atleta perceba que a decisão dele é fundamental para o ideal desenvolvimento da partida, fazendo-o entender que sua decisão influenciará a decisão de outros atletas (da mesma equipe ou não) e que a mesma foi influenciada pelas decisões anteriores. Nada além do que decisões interativas.

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“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças. ”

Leon C. Megginson

Olá!
Em minha primeira coluna intitulada “Crise Técnica do Futebol Brasileiro” busquei instigar os leitores a refletirem sobre o atual momento do nosso futebol, aproveitando a recorrente ideia de que “não possuímos mais tão bons jogadores como antigamente”, presente na maioria das discussões sobre o futebol brasileiro dos dias de hoje. A participação dos leitores tanto no site da Universidade do Futebol, como em sua página no Facebook, foi muito bacana, e a maioria dos comentários levam à conclusão de que nosso futebol necessita de mudanças em toda a sua estrutura.
Nestes tempos em que os Jogos Olímpicos têm dominado todas as mídias, me deparei com um vídeo muito interessante. Este apresentava a diferença entre as competições de ginástica da década de 1950 para a Olímpiada do Rio. Segue o vídeo:

A diferença entre a ginástica praticada há mais de 60 anos para a atual é gigante! Ao longo dos anos a modalidade foi ganhando mais dinâmica, novos movimentos, novos métodos de treino, etc. Tudo conduziu para a modalidade se tornar o que é hoje, e a tendência é que ela continue se modificando…

Motivado por esse vídeo, decidi fazer o mesmo com o futebol, porém em um espaço de tempo de 20 anos. Para isso, resolvi assistir às finais das Copas de 1970, de 1990 e de 2010 para buscar identificar as mudanças mais visíveis na modalidade. Seguem os vídeos.

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Clássico, bandeiras, mascotes e o estatuto do torcedor

O superclássico entre Atlético-MG e Cruzeiro começou quente fora das quatro linhas. A equipe celeste, detentora do mando de campo, vetou a entrada de instrumentos de bateria e de bandeiras na torcida do Atlético, no Mineirão, bem como a entrada do mascote. Ademais, o mandante estuda vetar a entrada das crianças com a equipe do alvinegro.

Natural que a rivalidade acirre os ânimos, no entanto, os clubes não podem esquecer que existe uma norma de interesse público e coletivo que regula os direitos e deveres dos torcedores: O Estatuto do Torcedor.

O art. 17 do referido Estatuto determina que a Federação e os clubes devam elaborar planos de ação referentes à segurança, transporte e contingência durante a partida. Ou seja, não cabe ao mandante, mas a ambos, clubes e a Federação, conjuntamente estabelecerem eventuais vedações justificando-as.

Em outras palavras, eventuais restrições aos direitos dos torcedores devem encontrar amparo legal e/ou fundamentar-se na segurança.

Nesse sentido, não há justificativa legal para conceder tratamento diferenciado entre as torcidas, ora, se é seguro a torcida do Cruzeiro adentrar com instrumentos de bateria e bandeiras, o mesmo se aplica à torcida adversária.

A questão do mascote e até mesmo da entrada das crianças, como não interfere diretamente nos direitos dos torcedores, ocorrem dentro do campo de jogo e dizem respeito às questões mais mercadológicas (marketing, por exemplo) do que práticas, é natural que o clube mandante queira divulgar sua marca e seus símbolos no jogo que realiza em sua casa, portanto, não existe vedação legal.

Importante acrescer que o art. 13-A do Estatuto do Torcedor estabelece expressamente as proibições, veja-se:

Art. 13-A.  São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei:

I- estar na posse de ingresso válido;

II- não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência;

III- consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança;

IV- não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;

V- não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos;

VI- não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo;

VII- não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos;

VIII- não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza; e

IX- não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores.

X- não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável.

Por mais tradicional que possa ser a rivalidade, ela deve se ater aos torcedores e as quatro linhas. Nesse momento em que o combate à violência nos estádios do futebol é uma necessidade, determinadas medidas além de nada contribuírem para a paz, acabam por acirrar ainda mais os ânimos e estabelecem um verdadeiro clima de guerra entre as torcidas.

Enquanto a dupla Grenal realiza partidas com torcida mista (isso mesmo, misturada!) Atlético-MG e Cruzeiro, que haviam dado um belo exemplo com o fim da torcida única, dão um passo atrás ao permitir que questões menores, pautadas em uma rivalidade extracampo que não devia existir, tomem corpo.

Os clubes precisam dar exemplo aos seus torcedores demonstrando tratamento recíproco e cordial a fim de que toda essa hostilidade não prejudique o espetáculo e faça mais vítimas.

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Bahia apresenta parceria com programa do UNICEF