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Telê Santana – mito e realidade

Telê Santana faleceu no dia 21 de abril de 2006 aos 74 anos de idade. Morreu recebendo as mais diferentes manifestações de homenagem e reverência.

Tive a oportunidade de trabalhar com o Mestre (como era conhecido) no São Paulo Futebol Clube, entre 1994 e 1995. Fui contratado, vejam só, para amenizar as tarefas excessivas, segundo a diretoria do clube, que Telê tinha com a administração de todas as atividades do Departamento de Futebol e do Centro de Treinamento da Barra Funda.

Como coordenador técnico, procurei cumprir minhas funções da melhor maneira possível, tentando aliviar as inúmeras incumbências que o próprio Telê tinha tomado para si, como controlar os horários de chegada dos atletas que residiam no CT, zelar pelos gramados, supervisionar o refeitório e a recuperação física dos jogadores, entre tantas outras.

Confesso que não consegui.

Depois de algum tempo de tentativas, preferi sair para não ter que me indispor com o Mestre. A esta altura ele já começava a apresentar os primeiros sintomas das patologias que o iriam conduzir ao afastamento daquilo que ele mais amava: o futebol. Posso imaginar o quanto isso foi penoso para ele.

Dentro de campo seu trabalho era obstinado, tanto caçando as paquinhas, pragas que infestavam e destruíam, naquela época, os gramados do CT, como nos detalhes para ensinar os jogadores a melhorar sua precisão no passe, no chute, nas cabeçadas e nos cruzamentos.

Suas maiores virtudes, além destes detalhes que procurava cuidar com todo o zêlo, concentravam-se mais no discurso ético para que cada atleta, sob o seu comando, fosse correto e profissional e que praticasse um futebol sem violência e estético.

Não era, como muitos pensam e o rotulavam, um estrategista, na acepção do termo hoje adotado no vocabulário futebolístico. Em suas preleções, que duravam cerca de 30 minutos, não falava mais do que 2 ou 3 minutos sobre a tática de jogo. Sua palestra era de caráter mais moralista e ético. E talvez aí esteja sua grande estratégia: a de deixar que o talento pudesse aflorar de forma mais espontânea e fluente. 

O resultado desta filosofia, todos puderam testemunhar na evolução de sua carreira. Derrotas e vitórias se sucederam ao longo do tempo. Com os fracassos teve que conviver com críticas tão ásperas e maldosas que quase o fizeram se aposentar prematuramente.

Mas predominou, felizmente, o lado positivo desta postura. Prevaleceu o incentivo ao futebol bonito, bem jogado e com fair play. Veio, finalmente, a consagração. Virou sinônimo de sucesso, profissionalismo, liderança e referência para muitos brasileiros que trabalham no futebol e, também, fora dele. Com sua morte o mito se consolidou.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Copa-2014 no Brasil

Quando falamos na possibilidade de o Brasil sediar uma Copa do Mundo, dois grupos distintos se formam: o daqueles que defendem e o daqueles que condenam de forma intransigente a idéia.

 

Levando-se em conta a posição do primeiro grupo, que considera legítimo o direito de um país de terceiro mundo poder realizar uma Copa, não basta que o Brasil manifeste vontade de sediar o evento de 2014 por meio de seu presidente da República e do presidente da Confederação Brasileira de Futebol.

 

Independentemente das razões, a vontade de trazer a sede do mundial para o Brasil deve ser acompanhada de organização, planejamento, alocação de recursos humanos e financeiros.

 

Antes disso, porém, é preciso um aprofundamento dessa questão.  Que tal começarmos por um grande debate sobre a possibilidade de realização desse evento tão bilionário quanto planetário? Uma análise que, sem perder o calor de sua paixão, seja suficientemente racional e objetiva.

 

Em um país que ainda está construindo um projeto democrático de nação, nada melhor do que colocarmos à mesa, juntos para debate, todos os setores da sociedade que podem dar uma contribuição neste sentido.

 

Mas um debate que não fique nos chavões de que o futebol é uma coisa menor e que temos coisas mais importantes para tratar. Ou que a realização de uma Copa do Mundo só interessa às pessoas desonestas cujo único pensamento é ganhar dinheiro ou tirar vantagens pessoais dela.

 

Futebol pode ser cultura e poderosa ferramenta de educação de um povo, dependendo da forma como o utilizamos. E se futebol pode ser cultura e educação, não é disso que mais precisa um país de terceiro mundo?

 

Enfim, do debate sério e fundamentado podem surgir tanto idéias quanto envolvimentos e compromissos com a construção não só de uma melhor e saudável estrutura para o nosso futebol, mas sobretudo de um país melhor.

 

Sabemos todos que não vamos mudar a estrutura e o modus operandi do futebol profissional brasileiro do dia para a noite. É preciso começar passo-a-passo. É preciso, entre outras coisas, equacionar os problemas administrativos e de gestão dos clubes.

 

A decisão sobre a Copa de 2014 será feita daqui a dois anos, em 2008. O tempo para mobilização é pequeno e requer providências. E muitas destas providências não exigem muitos recursos financeiros. Aliás, algumas delas não exigem nenhum recurso financeiro. O debate é uma delas.

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O futebol como tema de estudo escolar

Neste período que antecede mais uma Copa do Mundo de futebol é comum surgir nos meios de comunicação inúmeras matérias sobre este esporte, abordado sob os mais diferentes ângulos.

Dias desses, alguns órgãos da imprensa comentaram a respeito de uma iniciativa do governo argentino incluir a Copa do Mundo no programa de ensino fundamental das escolas públicas. Comentou-se, inclusive, sobre a possibilidade do governo brasileiro, através do Ministério da Educação, introduzir esta proposta também em nossas escolas. As opiniões a favor e contra logo se multiplicaram.

De fato a proposta pedagógica é polêmica por todas as suas implicações.

Contudo, numa análise cuidadosa deste fenômeno cultural chamado futebol, não podemos negar o seu papel e sua importância no mundo contemporâneo. E por esta sua relevância não seria descabida a idéia de incluir o assunto para apreciação e debate nos bancos escolares.

A riqueza do futebol, enquanto manifestação popular, cultural e tema sociológico tem um espectro tão amplo de abordagens que mereceria um aprofundamento dentro das escolas.

Particularmente penso que o futebol não deveria ser tema-gerador para aprendizagem de apenas algumas matérias, como estão pensando os argentinos e brasileiros, responsáveis pela educação formal de crianças e adolescentes.

Através dele podemos estudar não só a geografia, a história e as línguas de inúmeros países que praticam com paixão esta modalidade esportiva, mas também muitos outros aspectos.

Com um pouco de imaginação podemos relacionar o futebol com praticamente todas as áreas que compõem o currículo escolar: seja a matemática, a física, a química ou a biologia.

Através dele podemos ter uma compreensão ampliada da arte, por exemplo. Afinal o futebol é, ele próprio, a mais pura expressão artística. Tentar entender o papel do futebol e do islamismo em países tão distintos como a Arábia Saudita, Tunísia, Irã e Costa do Marfim seria outro exercício fascinante. E que tal discutirmos a ética através do futebol? Ou então a sua relação com a política?

Enfim, as correlações são praticamente infindáveis. Bastaria apenas um pouco de boa vontade, inteligência e criatividade por parte dos professores. O sucesso destas aulas, em minha opinião, seria garantido, tanto para os jovens quanto para as jovens estudantes.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

 

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Futebol, valores e racismo

É comum o futebol ser entendido como um fenômeno que favorece o processo educacional, cultural e de conquista da saúde de um povo. Contrapondo a este entendimento podemos observar também que ele pode ser expressão de todas as mazelas presentes na sociedade.

 

Este esporte pode ser privilegiado instrumento de educação, mas pode ser também exemplo de mau comportamento. Pode ser expressão de cultura, como pode ser a mais clara representação de violência, agressividade e egoísmo. Pode significar caminho à saúde, como também uma forma de utilização de drogas em busca indiscriminada da alta performance.

 

O esporte, e em particular o futebol, não é bom nem ruim, por si só. Ele apenas representa aquilo que somos com nossas virtudes e defeitos.

 

Recentemente vimos manifestações que comprovam este paradoxo representado pelo futebol. O racismo é um exemplo bem acabado disso.

 

Seja no Brasil, na Arábia Saudita, ou em países considerados mais desenvolvidos como Espanha, Alemanha e Itália as manifestações racistas são observadas com bastante freqüência, mesmo em pleno século 21.

 

Tais fatos, indiscutivelmente intoleráveis, sempre que visiveis, são denunciados pela imprensa, pelo menos nos países mais livres, e provocam reações que permitem reflexões, muitas vezes, bastante instrutivas.

 

Por outro lado, entretanto, na maioria das vezes estas manifestações racistas são expressas em círculos tão fechados e restritos que não possibilitam o debate, a crítica e o repúdio no sentido de sua superação.

 

Fica apenas aquele sentimento de impotência e até de certa conivência na medida em que entendemos algumas dessas colocações e atitudes como simples brincadeiras inofensivas e que não devem ser levadas muito a sério.

 

E uma vez que tais fatos não sejam capazes de provocar indignação, com certeza também não provocarão qualquer modificação neste estado de coisas. 

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As estatísticas e o futebol

A estatística é uma ciência que muito tem contribuído para o desenvolvimento humano. No sentido de que ela pode ser tudo aquilo que conseguimos extrair dos dados, transformando-os em informações e conhecimentos, é inegável sua importância para o progresso de diferentes áreas do saber.

 

Há, entretanto, aqueles que contestam radicalmente as estatísticas. Aaron Levenstein, por exemplo, diz que elas são iguais a biquínis porque o que revelam é sugestivo, mas infelizmente escondem o essencial. Alguém disse também que há três espécies de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.

 

Sem querer desprezar o seu valor, penso que o mais sensato é manter-se uma visão crítica sobre o seu papel, caso contrário corremos o risco de, ao invés de revelar, escondermos a realidade das coisas e dos fatos, através dela.

 

Podemos encontrar provas de como a estatística pode falsear a realidade em qualquer campo do conhecimento, mas vamos ficar aqui no exemplo do futebol que é o nosso campo de reflexão e atuação.

 

Todos que acompanham com certa atenção o futebol sabem que alguns dados estatísticos costumam balizar as análises de jornalistas e profissionais que têm a tarefa de interpretar uma partida.

 

Porcentagem na posse de bola, número de chutes a gol, passes certos e errados, são alguns dos dados utilizados para justificar a superioridade de uma equipe sobre a outra.

 

Quando os dados, aparentemente frios e isentos, coincidem com o resultado final da partida, a estatística é a prova mais cabal da importância decisiva dos números apresentados.

 

Mas quantas vezes constatamos que uma equipe teve mais posse de bola, chutou a gol muito mais vezes do que o adversário, teve um número superior de acertos e menor de erros nos passes e, contudo, foi derrotada em campo?

 

Diriam alguns, contrapondo o argumento da fragilidade das estatísticas, que os exemplos citados se tratam de exceções. Penso que cabe aqui uma análise mais quantitativa dos números.

 

Concentremo-nos na questão dos passes certos e errados numa partida de futebol. É muito comum os analistas destacarem os jogadores com altos índices de acertos nos passes, sem levar em conta as circunstâncias e situações de jogo. Uma coisa é um jogador acertar 95% dos passes, muitas vezes passes laterais e curtos, mas que em dois errados pode ser o causador direto da derrota de sua equipe.

 

Outra bem diferente é o atleta que acerta apenas cerca de 70% dos passes, mas que numa função de criação, de construção de situações ofensivas, pode propiciar a marcação de vários gols e decidir a partida em favor de sua equipe. 

 

Façam o teste. É quase matemático. Basta analisar os números e constatar: os jogadores mais criativos são exatamente aqueles que erram mais. Paradoxal mas verdadeiro. 

 

Não seria hora de revisarmos nossos conceitos sobre as estatísticas?

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O profissionalismo e a velocidade das mudanças no futebol

A velocidade com que as informações e o conhecimento circulam à nossa frente está cada vez maior.  Pensando nisso, e fazendo um exercício de futurologia, é bem provável que nas copas de 2020 ou 2024 a maior parte das coisas que sabemos hoje sobre futebol estará obsoleta. 

 

Fico imaginando que tipo de profissional teremos no mercado de trabalho daqui a 15 ou 20 anos. Teremos a capacidade de acompanhar esta velocidade sempre crescente e que ultimamente atinge níveis vertiginosos?

 

Vejam, por exemplo, o desafio que é fazer-se uma consulta ou pesquisa na internet. Teoricamente, através deste recurso tecnológico maravilhoso, temos à nossa disposição tudo quanto é tipo de informação, desde um simples horóscopo elaborado por um charlatão até trabalhos científicos valiosos contendo textos, sons, fotos, vídeos ou imagens animadas.

 

Acontece, porém, que o exercício de encontrarmos aquilo que realmente nos interessa não é tarefa das mais fáceis. Se bobearmos ficamos horas navegando na rede sem encontrarmos aquilo que precisamos ou que nos possa ser útil de alguma maneira. Além do mais é fundamental que saibamos transformar os dados, as informações em verdadeiro conhecimento. E esta tarefa também não um coisa simples para ser realizada.

 

Fica, portanto, o impasse entre a velocidade alucinante da circulação das informações e a nossa real capacidade de assimilarmos aquilo que possa nos servir para sermos melhores profissionais e, em última hipótese, termos uma vida melhor.

 

Tendo como modelo este nosso embate com os desafios de utilização dos recursos da internet, concluo que, embora nas copas de 2020 ou 2024 tenhamos à nossa disposição uma infinidade de novas informações que poderão transformar nossas práticas para melhor, nada garante que isso, de fato, ocorrerá.

 

Aqueles que forem capazes de superar, passo a passo, os obstáculos e tiverem sabedoria para driblar os desafios que terão pela frente, serão os profissionais mais preparados para este futuro não tão distante.

 

A capacidade de entendimento e interpretação dos dados e informações que chegam até nós depende de fatores psicológicos, neurológicos, sociais e culturais. O profissional que quer vencer este desafio terá que ter uma clara noção disso. Caso contrário não conseguirá pensar no futuro de forma muito diferente do que pensa no presente.

 

Para constatar isso basta observar que ainda hoje convivemos com profissionais que analisam, interpretam e intervêm no futebol exatamente da mesma maneira que faziam há 20 ou 30 anos.

 

De nada adianta termos um telescópio Hubble à nossa disposição se quisermos enxergar o mundo através de uma lupa.  

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Livros e futebol

A 19ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo começou e poderá ser visitada até o dia 19 de março. Este tipo de evento sempre estimula reflexões, reportagens e matérias nos meios de comunicação sobre a importância do livro na formação das pessoas.

Infelizmente, devido ao nosso atual estágio de desenvolvimento, somos um povo que tem dificuldades para o acesso à leitura. Ainda possuímos um grande número de analfabetos funcionais, cidadãos incapazes de interpretar textos elementares.

Para muitos outros, a aquisição de um simples exemplar é totalmente inviável devido ao seu preço. E ainda, se quisermos visitar ou freqüentar uma biblioteca pública, descobriremos que quase a totalidade delas, em nosso país, está descuidada, empobrecida, com enorme falta de recursos ou sucateada.

Portanto, um evento como a Bienal do Livro deve não só estimular a discussão sobre a fundamental importância do ato de ler como também a reflexão sobre como gerar as soluções para que os problemas estruturais que nos afetam sejam enfrentados com força e determinação.

Entre os profissionais do futebol, a exemplo da sociedade em geral, este fenômeno da falta de leitura é também facilmente observado. Em pesquisa informal feita com alguns treinadores, descobri que são bem poucos aqueles que efetivamente gostam ou têm o hábito da leitura sistemática e séria. Alguns apreciam, no máximo, os livros de auto-ajuda, de fácil leitura, enquanto muitos nem a isso se dão ao trabalho.

A própria produção literária no futebol brasileiro é pobre e incipiente. Felizmente nos últimos anos este quadro começa a mudar e algumas boas obras têm surgido no mercado. Neste ano de 2006 uma quantidade acima da média já começa a surgir nas livrarias. Mas nada comparável com a produção observada em alguns outros lugares.

Outro dia, por exemplo, viajando por países europeus, deparei-me com nada menos do que quatro livros diferentes sobre o treinador português José Mourinho, que possui uma carreira de sucesso relativamente recente. Um número ainda maior pode ser encontrado sobre Alex Ferguson, o treinador do Manchester United, já há mais anos na estrada.

Espero que este ano de Bienal do Livro e de Copa do Mundo possa representar um marco na produção de livros de boa qualidade sobre os diferentes aspectos e dimensões do futebol. Torço também para que estes eventos possam estimular a leitura crítica destas obras.

E para finalizar vale lembrar a frase do escritor francês André Maurois afirmando que a leitura de um bom livro é um diálogo incessante com a alma. De um lado, o livro fala; de outro, a alma responde.

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Lições do futebol inglês

Acabo de chegar da Europa onde prestei alguns serviços de consultoria ligados ao futebol. Numa passagem por Londres, capital de um país cujo povo, como nós brasileiros, também é apaixonado pelo futebol, pude notar algumas características que fazem com que os ingleses sejam diferentes de nós em vários aspectos.

 

Se, por um lado, o Brasil possui uma cultura futebolística capaz de produzir talentos em profusão, coisa que os ingleses têm muita dificuldade em conseguir, por outro, eles nos dão algumas lições quando o assunto é a administração do futebol voltada para o espetáculo e aos negócios.

 

Os responsáveis pelas instituições esportivas do país, com apoio governamental, conseguiram em poucos anos, transformar um futebol feio, de baixo nível técnico e cercado de violência e vandalismo, em um espetáculo altamente valorizado e profissional.

 

É bem verdade que muitos clubes das principais divisões ainda lutam com dificuldades para sobreviver e outros ainda podem ser questionados pela adoção de métodos administrativos pouco ortodoxos.

 

Entretanto, o fato é que algumas agremiações como Manchester United, Arsenal, Liverpool e Chelsea, com apoio da Football Association, conseguem, cada um ao seu modo, demonstrar que é possível fazer do futebol algo que vale a pena ser consumido enquanto produto.

 

Pena que nós, brasileiros, às vezes inebriados pelo talento natural de nossos craques, deixemos de aprender as lições que os ingleses têm para nos dar em termos de profissionalismo no futebol.

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Intuição, teoria e prática no futebol

O papel da intuição está em alta no mundo empresarial e dos negócios. Descobertas científicas recentes demonstram que as tomadas de decisão de líderes, apoiadas apenas na razão, sem a devida participação de variáveis emocionais que regulam nossa vida, devem ser consideradas coisas do passado.

 

Mas se este ingrediente para as decisões parece ser novo dentro das empresas, no futebol, entretanto ele é usado à exaustão. A intuição ocorre dentro de campo, a todo instante, nas decisões que cada jogador deve tomar para ajudar seu time a atacar e a se defender. Acontece também nas decisões dos treinadores que, muitas vezes, utilizam-se essencialmente dela para balizar suas ações estratégicas. E ocorre também até entre muitos dirigentes que, por exemplo, após derrotas de seu time, têm constantes intuições de que, se mudarem o treinador, o time vai reagir e render mais em campo, já a partir do próximo jogo.

 

Mas refletir sobre o papel da intuição nos leva, quase que inevitavelmente, a pensar na relação entre teoria e prática. O quanto a intuição, a teoria e a prática podem, de fato, ser úteis nas vitórias e conquistas de um time de futebol?

 

Para algumas pessoas, ser teórico é estar desligado da realidade e ser pouco prático. Mas há os que contrapõem esta afirmativa dizendo que nada é tão prático como uma boa teoria. 

 

Como nos ensinam Henry Mintzberg e James Brian Quinn no interessante livro O Processo da Estratégia, todo médico, engenheiro e físico de sucesso seriam incapazes de praticar seu trabalho competentemente sem teorias que dêem suporte às suas práticas. E concluem fazendo a seguinte pergunta: “Como alguém pode dirigir sistemas complexos se não compreender estes sistemas complexos?”.

 

E aí concluo que, salvo melhor juízo, um clube ou um time de futebol é um sistema complexo. Dirigi-lo, portanto, é um ato de tentar controlar variáveis de muitas ordens: física, técnica, operacional, administrativa, social, psicológica, emocional, espiritual entre tantas outras.

 

Se concordarmos com esta hipótese e levando-se em consideração que tudo evolui ou se transforma a todo o momento, é possível refletir que, será cada vez mais difícil conseguirmos bons resultados no futebol apenas com intuição, como ainda fazem muitos dirigentes e treinadores.

 

Definitivamente, dentro em breve não haverá mais espaços para profissionais apenas intuitivos e práticos. Estes se quiserem evoluir terão que entender que, sem boas teorias, não se faz boas práticas.

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O real valor do adversário

Os simpatizantes do futebol e, particularmente, os que torcem para este ou aquele clube, costumam, muitas vezes, depreciar o valor de seus adversários ou oponentes. Alguns mais apaixonados chegam a torcer para que esses times se enfraqueçam cada vez mais. Não duvido que até comemorariam se vissem seus rivais caírem de divisão.

 

Em um desses arroubos de desprezo pelo oponente, geralmente chamado de inimigo, li certa vez em um pára-choque de caminhão a seguinte frase: “Não basta vencer o adversário, é preciso humilhá-lo”.

 

Alguns argumentariam, em defesa destes apaixonados, que esta é uma reação natural ao próprio significado do futebol e do esporte, de uma forma geral. Assim também é a própria vida. O desejo que o adversário perca é inseparável do desejo de que o seu time ganhe. Pode ser, mas cabem aqui algumas reflexões em torno desta questão.

 

Numa outra perspectiva, mais oriental, mais holística talvez, a abordagem deveria ser diferente. E pensando nisso fico imaginando um outro cenário para o esporte e, em especial para o futebol, esta modalidade esportiva que tanto significado tem em nossa cultura. A competição é, via de regra, uma luta de oponentes em busca da vitória. Quanto a isso creio que estamos todos de acordo.

 

Entretanto não podemos negar que é a força do adversário que nos fortalece. Quanto mais poderosos nossos oponentes mais iremos precisar de força, técnica, estratégia, inteligência para superá-los. Um pensamento zen-budista chega a afirmar que em uma competição você e o seu oponente são um só. Há uma relação de coexistência entre um e outro. Eles se completam.

 

Por outro lado precisamos saber que, para sermos vencedores, temos que entender não só as forças e fraquezas do nosso oponente, mas, fundamentalmente, as forças e fraquezas que estão instaladas dentro de nós mesmos. Este é o ensinamento que nos dá o mestre em artes marciais, o japonês Hidetaka Nishiama: “O oponente mais poderoso está dentro de nós mesmos”.

 

E para completar esta pequena reflexão sobre o real valor dos nossos adversários, deixo-os com o pensamento do grande líder político indiano Mahatma Gandhi que costuma nos inspirar com suas idéias. Mas que também na prática provou ser possível vencer de uma forma diferente. Ele nos dizia: “Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio”.

 

Será que a humanidade chegará a este grau de desenvolvimento espiritual capaz de levar estes conceitos para a prática do futebol?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br