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A vida dele é você

Me chamo Vitória.

Nasci em 6 de junho de 2000. Terça-feira à noite. Se fosse menino, seria Marcos. Segundo meu bisavô, que escolheu Vitória, ele queria um nome de santo. Especialmente naquela noite. Não sei porquê. Só sei que minha bisavó, que torce pelo maior rival do time do meu bisa, queria Marcelinho se eu fosse menino. De raiva, ela falou que eu me chamaria Darinta se fosse menina e ela pudesse ter a chance de escolher. Também não sei o que significa esse nome. Mas sei que meu bisavô não quis nem saber.

Ele é beeeem velhinho. Tem mais de 90 anos. Moramos juntos em Perdizes. Ele diz que não tem lugar melhor. Cheio de altos e baixos. Parece a vida dele e da maior paixão dele. Mais que eu, os filhos e a minha bisavó. Amor que ele vive de
perto. Sempre.

Em 18 de novembro de 2012 ele caiu. Quebrou um monte de osso. Foi no final de uma tarde de domingo. Só sei que ele estava vendo TV, deu um monte de grito durante horas, mas só se machucou feio quase de noite. Quando daí eu não entendi nada. Ele não gritou e nem xingou. Nem chorou. Ficou quieto. E quebrado.

Foram meses este ano de 2013 em que ele ficou de cama. Mas sempre gritando. Principalmente de terça e de sábado. Quando ninguém podia entrar no quarto dele. Ninguém. Muitas vezes ele me chamava depois e contava muitas histórias de muitos amigos que ele diz ter. Mas acho que algumas são mentiras. Coisas incríveis. De super heróis.

Alguns nomes ele fala sempre. Outros ele não quer nem falar. Mas sempre ele fala deles. Como velhos conhecidos.

Nas últimas semanas ele começou a sair de casa. Passeou pelas ruas de cadeira de rodas. Toda hora passava alguém dIzendo que ele estava bem, voltando, retornando ao lugar dele. Ele abria o sorriso e dizia que isso era normal. Anormal era a queda que ele teve no ano
passado. Quando ele se quebrou todo.

E muita gente achou que ele já era. Que não iria mais se levantar. Era muito chato tudo isso.

Mas, neste sábado, exatamente 16h20, ele pediu para sair comigo. Estava um sol lindo em Perdizes. Eu fui empurrando a cadeira de rodas dele. Ele me falou de muitas coisas que viveu. Disse que vira na televisão um monte de amigos que ele gosta. Valdir, Edu, Rosemiro, Alfredo, Dudu, Ademir, Leivinha, César, Evair, Amaral, Edmundo, Marcos. Falou um monte de coisas deles. Tudo deve ser invenção. Mas eu quase acreditava nele. O brilho nos olhos do meu bisavô me fazia achar que tudo aquilo era possível.

Eu reparei que quando ia caindo o sol ele ficava mais inquieto. Não parava. Toda hora perguntava que horas eram. Eu respondia. Ele parava fazendo contas com os dedos. E toda hora que ouvia um rádio ligado ele pedia para eu ficar quieta.

Eu ficava. Mas ele não.

Quando era 18h11, meu bisavô pediu a hora. No mesmo momento a gente ouviu gritos, aplausos, palavrões. E logo aquela música que meu bisavô sempre canta todo dia. E ele sempre me disse que teve alguns anos quando ele cantou mais ainda. Eu até lembro quando foram. Em 1951. Em 1959. Um monte de vezes nos anos 60 e 70. Depois ele disse que durante uns anos essa música ele cantava sempre. Mas só ele.

Ele sempre me fala que ficou semanas seguidas em 1993 cantando e ouvindo. Só que, desde que eu nasci, em 2000, ele ouviu pouco.

Mas não importava. Porque essa era uma canção que sempre estava com ele. E ele disse que queria muito estar comigo nesta tarde.

Acho que entendi o porquê quando ouvi alguns carros buzinando. Não muitos. Um velho amigo dele o veio abraçá-lo na padaria.

– Parabéns, meu grande amigo!

Meu avô não disse nada. Apenas sorriu.

– Ufa! Agora vai! Estamos de volta!

Meu avô mal olhou para ele. Apenas ficou olhando pra frente. Segurou firme na cadeira de rodas. Levantou a cabeça. Se apoiou no braço da cadeira. E se levantou sozinho pela primeira vez desde que ele tinha caído e se quebrado todo em 2012.

Eu e o amigo dele não acreditamos. Ninguém imaginava que com mais de 90 anos ele ainda pudesse se levantar. Sozinho. Com a força das próprias pernas e braços.

Eu corri para ajudar. Como acho que todo mais jovem precisa ajudar quem nos ajudou a vida toda. Mas meu bisavô disse que não precisava.

– Eu caí sozinho. Eu me ergo sozinho.

E ele se levantou. Quem estava por perto ficou meio sem graça de aplaudir. Mas todos se emocionaram com ele. Até os que achavam que nada mais aconteceria com ele.

Meu bisavô foi até o balcão da padaria e pediu a mesma coisa que toda vez ele pede:

– Um cafezinho e um pouco de água pro meu São Marcos.

Eu não aguentei e falei:

– Bivovô, você estava fingindo, estava com preguiça, ou estava sem vontade de andar?

– Vitória. Nunca duvide das minhas histórias. Nem das minhas vontades. Eu posso já não ser o mesmo de antes. Mas eu ainda sou a nossa família. Eu acredito. Eu me supero.

Eu chorei. Tenho amiga que não tem bisavós, nem avós. Algumas nem pai. Eu sei que um dia eles não vão estar aqui. Morro de medo disso. E disse chorando pra ele:

– Bivovô, eu morro de medo de te perder!

– Vitória. Eu só morro se não lutar. Nunca perco amando. Só deixo de ganhar algumas vezes. Eu não sou eterno. Mas o meu amor é pra sempre.

E meu bisavô abriu um sorriso, gritou alguma coisa em italiano que parecia algo como cópia, escópia, sei lá. Berrou Palestra e só então sentou.

Chorando. Mas, desta vez, não de dor.

Acho que é isso que meus pais chamam de amor incondicional.


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Alguns erros e acertos táticos do Novorizontino sub-20

Dentre as 45 equipes que iniciaram a disputa do Campeonato Paulista sub-20, a equipe do Grêmio Novorizontino terminou entre as 16 melhores. Mesmo com a vitória por 2 a 1 no primeiro jogo das oitavas de final, a eliminação ocorreu após derrota por 1 a 0 em partida contra o Santos FC que, devido à melhor campanha nas fases anteriores, tinha a vantagem do empate.

Como já fiz em outra oportunidade, em que publiquei fotos da equipe principal do Novorizontino após a campanha do acesso à Série A-3, em 2012, repito o tema da coluna, desta vez como treinador e não como adjunto.

A comissão técnica do Novorizontino não possui um profissional específico para a análise de jogo. Sendo assim, todas as fotos no decorrer da competição foram tiradas pelo preparador de goleiros, Carlos Eduardo, que contribuiu significativamente para que o material fornecesse subsídios para intervenções individuais e coletivas visando à melhora do nível de jogo da equipe.

As 13 primeiras fotos referem-se aos problemas apresentados pela equipe, em que alguns deles foram solucionados/minimizados ao longo da competição e as 17 fotos restantes ilustram acertos circunstanciais relativos ao Modelo de Jogo.

Confira o material na íntegra clicando aqui.
 

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Betim Esporte Clube e a Justiça Comum

Apesar de contrariar a Fifa, o futebol brasileiro, para ser mais exato a Série C, está na pauta da Justiça Comum.

Trata-se ação com pedido de antecipação de tutela aviado por Betim Esporte Clube objetivando que a Federação Mineira de Futebol (FMF) e CBF – Confederação Brasileira de Futebol, restituam os 06 (seis) pontos conquistados no Campeonato Brasileiro da Série “C”, e possibilite, por consequência, o seu prosseguimento na competição.

O Betim alega que a punição imposta pela Justiça Desportiva viola a legislação brasileira, e por consequência, a soberania nacional, além de lhe causar graves prejuízos.

Em virtude da decisão Desportiva o Mogi Mirim herdaria a vaga nas quartas-de-final da competição e o Betim poderia até ser rebaixado para a Série D.

Atendendo ao pedido do Betim Esporte Clube, o Juiz da ss Vara Cível da cidade que dá nome ao clube concedeu a medida liminar para determinar que a Confederação Brasileira de Futebol e a Federação Mineira de Futebol restituam os 06 (seis) pontos retirados do Betim Esporte Clube, no Campeonato Brasileiro da Série C, sob pena multa diária de R$ 10.000,00, bem como se abstenham de aplicar outras penas do Código Brasileiro de Justiça Desportiva ao autor e seus dirigentes decorrente do objeto constantes destes autos, suspendendo, ainda, o jogo marcado para segunda-feira, 21/10/2013, que preteriu o clube mineiro, e designem, imediatamente, outra data para realização do jogo entre o Betim Esporte Clube, e o Santa Cruz/PE.

Nesse contexto, importante destacar os efeitos deletérios que decisões da Justiça Comum podem causar ao futebol brasileiro que podem ir desde suspensão de campeonatos, culminando-se com desfiliação da Fifa.

Destarte, ao se filiar à FMF, à CBF e, por consequência à Fifa, o Betim Esporte Clube aceitou uma espécie de cláusula arbitral na qual eventuais demandas desportivas seriam decididas pela Justiça Desportiva.

A busca pela Justiça comum corresponde, em tese, a uma espécie de descumprimento contratual do que o clube avençou para se filiar.

Assim, além de haver incompetência da Justiça Comum por aplicação análoga da Lei de Arbitragem, o clube deve ser punido por descumprimento das normativas que consentiu ao se filiar à FMF, CBF e Fifa.

Urge destacar a imensa insegurança que pode pairar sobre o desporto brasileiro caso os conflitos desportivos sejam levados à Justiça Comum, afastando-se patrocinadores e grandes atletas. Neste sentido, cabe aos operadores do Direito Desportivos auxiliarem a Justiça Comum na adequação de suas decisões aos princípios jusdesportivos.

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Lesão em final de temporada, como reagir?

A temporada do futebol se aproxima do fim e, devido ao excesso de jogos, muitos atletas chegam ao limite do estado físico e mental, fato este que eventualmente levam alguns a sofrerem lesões que podem tirá-los das partidas finais do calendário.

Imaginem os atletas que se encontram nesta situação: como eles podem reagir e buscar motivação para buscar a recuperação em final de temporada?

Sabemos que uma lesão ocasiona reações psicológicas adversas no atleta e um dos modelos mais aceitos que explicam como um atleta reage é o modelo de grief reaction, proposto por Kubler-Ross. Neste modelo, após a lesão o atleta passa por cinco estágios emocionais:

• Negação
• Raiva
• Barganha ou negociação
• Depressão
• Aceitação e reorganização

A maioria dos atletas passa pelas cinco fases, mas a velocidade e a facilidade para a transição entre elas variam de um atleta para outro, podendo durar dias ou até meses.

Conhecendo o cenário citado acima, como podem os clubes contribuir para promover um adequado processo de reabilitação do atleta lesionado?

Várias técnicas de superação podem ser utilizadas com o objetivo de potencializar e facilitar de alguma forma o processo de reabilitação. Dentre as existentes podemos citar:

• Estabelecimento de metas
• Auto conversação
• Relaxamento
• Visualização

Aqui iremos detalhar a auto conversação como uma das técnicas que podem ser utilizadas com os atletas.

A adoção desta técnica é importante pois ajudar a lidar com o baixo nível de confiança apresentado pelo atleta no período de reabilitação. O atleta aprender como e ser capaz de conseguir bloquear pensamentos negativos, como por exemplo: “Eu nunca vou melhorar”; ele precisa substituir estes pensamentos por outros realísticos e positivos tais como: “Estou me sentindo mal hoje mas estou cumprindo meus planos traçados para a reabilitação. Devo ser paciente e assim vou conseguir me recuperar”.

Pensar de maneira positiva contribui para o bem estar pessoal e a saúde do atleta, e este comportamento indica uma boa orientação para a busca para a melhora clínica. Ievleva & Orlick (1991) mostraram em estudo que os indivíduos cujas auto conversações eram positivas, auto encorajadoras e determinadas recuperavam-se mais rapidamente do que aqueles cujas auto conversações eram negativas e autodepreciativas.

Confira alguns exemplos de auto conversação, adaptado de Ievleva & Orlick (1991). Auto conversação positiva do grupo de reabilitação rápida

• “Como eu posso fazer o máximo?”
• “Eu posso vencer isto!”
• “Eu quero jogar. Eu vou me curar totalmente para isso.”
• “Estou me sentindo muito melhor.”
• “Estou melhorando cada dia mais.”

Auto conversação positiva do grupo de reabilitação rápida

• “É provável que isto vá demorar muito para melhorar.”
• “Eu nunca vou conseguir recuperar o tempo perdido.”
• “Nunca vou estar forte como antes.”
• “Que coisa estúpida para fazer, erro ridículo.”

Caro amigo, com o conhecimento acima acredito que os clubes devem utilizar as técnicas de superação para potencializar a recuperação de seus atletas, seja para a temporada atual ou até para que iniciem a próxima aptos à prática desportiva.

E você, o que acha desse investimento de tempo, vale a pena?!

Até a próxima!

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Doutor Honoris Causa da Universidad Católica Rogério Ceni

Eu só aposentaria quem teima em apostar contra e a todo momento fica aposentando um mito como Rogério Ceni.

Só ele tem o direito de saber a hora de parar. Não apenas por tudo que é para o São Paulo e para o são-paulino. Mesmo se não fosse tudo que é também para o futebol brasileiro e mundial, ainda assim só cabe a ele decidir se o ano para parar é 2013.

Mesmo se não fosse o que mais ninguém foi no futebol mundial, ainda assim um mínimo de respeito seria necessário ao craque-bandeira tricolor.

Exagerei?

Veja o exagero do jogo de Ceni contra a Universidad Católica.

Ele classificou um time que pediu para ser eliminado, não fossem os gols de Aloísio, os passes de Ganso e, sim, ele, Ceni. O velho Rogério. O ultrapassado goleiro. O… O…. O 01 do São Paulo.

Na primeira defesa difícil, uma cabeçada para o chão ele mandou a escanteio de mão trocada. Não é para qualquer um. Foi para o 01.

Na segunda defesa de cinema de Ceni, a bola já havia passado por ele, e o goleiro tricolor foi tirar quase sobre a linha. Não é para qualquer um. Foi de novo para o 01.

Na terceira defesa espetacular, um chute estranho ele foi buscar como se fosse um animal que não existe. Certamente não para um sujeito de 40 anos. Só possível para o 01 parar aquela bola impegável. Se é que existe o termo. Só existe o Rogério para fazer o que fez.

Na quarta, no segundo tempo, ele foi pego no contrapé numa tijolada. E pegou com as mãos que só ele ainda tem. Não qualquer um. Só para o 01.

Na quinta, uma pancada de canhota, com um monte de gente à frente, ele foi buscar no canto baixo direito. Como milhões torciam e sonhavam. Mas só ele defenderia aquela pancada que ainda bateu no chão. Mas não bateu o 01

Na sexta, canhotaço de sem-pulo, a bola não era tão difícil, mas o quarentão teve reflexo de menino, e de mão trocada de novo salvou os pés são-paulinos. Como só o 01 poderia.

Na sétima, antevisão de craque, ele subiu junto com o rival e espalmou lá no alto. Como só o 01…

Enfim, você sabe.

E ele sabe ainda mais.

Desde 2005, contra o Liverpool, Rogério não defendia tanto.

Desde então, nenhum goleiro deve ter defendido tanto quanto o goleiro que já ganhou mais um título de doutor honoris causa da Universidad Católica.

Atuação tão inacreditável que não lembro de elogiar tanto um goleiro que tenha sofrido três gols – um de pênalti.

Olha que o marketing são-paulino deve ter pedido para Douglas errar tudo que errou (e a arbitragem também…) para Rogério fazer os 2938745 milagres realizados no Chile.

Em homenagem ao aniversário de Pelé, Ceni teve uma partida de Pelé.

Ou simplesmente de Rogério.


*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Plateia

O futebol brasileiro já começou a viver uma nova realidade. Deflagrado pela Copa do Mundo de 2014 e pelo bom momento que a economia do país viveu, o processo de rejuvenescimento de arenas esportivas impingiu ao público um patamar diferente de ambiente. Dentro dessas "cascas", contudo, o cenário local ainda está longe de evoluir. E isso inclui o comportamento de quem as frequenta.

Foi essa situação que o atacante Walter, do Goiás, escancarou no último domingo. O time esmeraldino bateu o Atlético-PR por 3 a 0, chegou ao quarto triunfo seguido no Campeonato Brasileiro e ficou a quatro pontos da zona de classificação para a próxima edição da Copa Libertadores. Ainda assim, o comportamento dos torcedores foi reprovado pelo jogador que já anotou 12 gols no certame nacional.

"Isso é uma palhaçada. Não é torcedor. Nosso times está brigando pela Libertadores. Podemos pensar nisso, já que a parte debaixo da tabela ficou para trás. Mas com essa torcida nós não vamos chegar", opinou Walter no domingo, em entrevista coletiva.

O Goiás jogou contra o Atlético-PR no Serra Dourada – um estádio da “velha guarda”, diga-se. A partida teve apenas 13.713 pagantes, e o árbitro Péricles Bassols chegou a interromper o duelo durante o segundo tempo por causa de um tumulto entre torcedores nas arquibancadas.

“Hoje era jogo para 30 mil pessoas. Não chegamos [a esse número], e quem veio ainda fez isso”, disse Walter.

O Goiás tem média de 12.796 pagantes por jogo como mandante no Campeonato Brasileiro de 2013 – número inferior à média da competição, que é de 14.250 pessoas por jogo. O time esmeraldino é o décimo na lista dos que mais levam gente aos estádios.

O primeiro ponto nessa discussão é a quantidade. E quantidade, no caso de um evento, tem relação direta com promoção. Os números do campeonato e do Goiás estão muito aquém do potencial de ocupação das arenas, e um dos fatores que justificam isso é a falta de uma promoção adequada.

Outro aspecto a ser considerado é o que foi discutido aqui na semana passada, quando falamos sobre o primeiro jogo da NBA no Brasil: a experiência de um torcedor não começa e não acaba dentro do estádio. O sucesso depende do que as pessoas vivem desde quando descobrem que o evento vai acontecer, passando pela compra e pela vivência no interior da arena. O último estágio encerra-se apenas quando o adepto volta para casa.

E se a NBA teve problemas nas fases antes e depois do evento, ao menos entregou ao público algo absolutamente bem feito entre essas etapas. Foi algo bem produzido, com várias atrações e uma execução muito competente. Havia vendedores bem treinados, lojas com produtos especiais, ações dentro e fora da quadra. Tente comparar isso, agora, com o que acontece em qualquer partida de futebol.

O futebol brasileiro está diante de 14 novas arenas (as 12 da Copa do Mundo, além das novas casas de Grêmio e Palmeiras). No entanto, a gestão desses aparatos ainda é exatamente a mesma que existia em estádios antigos. Só a casca mudou.

Essa lógica vale para serviços, ações de marketing e para o uso comercial das arenas. Hoje, estádios servem para sediar jogos e shows. E as outras incontáveis formas de se ganhar dinheiro com um aparato como esses?

No Brasil, estádios novos e estádios velhos têm gestão envelhecida. Em diferentes instâncias, o comportamento arredio dos torcedores é reflexo disso.

A falta de uma promoção adequada afasta muitos perfis dos estádios e concentra os fanáticos. Esse é um ponto. Entre os que vão às arenas, também é notória a falta de zelo com algo que não entrega um bom serviço. Mas falta, independentemente do cuidado, algum tipo de didática destinada ao público.

Comportamento reflete o repertório das pessoas, é claro, mas comportamento de grupo pode – e deve – ser minimamente doutrinado. Não é por acaso que aeromoças fazem todo aquele mis-en-scène antes de qualquer voo.

Cinemas também têm, antes de qualquer filme, uma série de recados sobre o comportamento adequado para aquele ambiente. Isso não evita que pessoas conversem durante os filmes ou incomodem com a luz de tablets e smartphones da vida, mas o combo aviso + controle ajuda a reduzir bastante a incidência desse tipo de prática.

A gestão eficiente de uma arena está intrinsecamente ligada à capacidade de doutrinar o público. Ensinar que as pessoas devem adotar algumas práticas e abolir outras é muito importante para alavancar o potencial de negócios de um espaço.

No futebol, iniciativas voltadas a ensinar o público muitas vezes são mal interpretadas ou mal vistas. O argumento mais usado é que torcedores são diferentes da plateia de qualquer espetáculo.

Torcedores são diferentes, sim. Eles têm com o evento e os times uma relação mais passional do que consumidores regulares, e isso influencia no julgamento e nas decisões. Entretanto, é inadmissível um gestor esperar que isso e uma casa bonita sejam suficientes para que as pessoas mudem comportamentos que são mais do que tradicionais.

Walter tem total razão ao condenar o comportamento da torcida do Goiás no jogo do último domingo. Ele só não pode achar que a culpa é apenas do público e que a solução será natural.

As declarações dadas pelo maior destaque individual do atual elenco do Goiás podem ajudar a criar uma conscientização entre os torcedores. Isso seria melhor e mais eficaz, porém, se pelo menos para isso tivesse havido algum planejamento.

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A quebra na rotina da elite do futebol brasileiro

Pouco mais do que 90 minutos são suficientes para instigar bruscas transformações nos distintos procedimentos de um clube de futebol.

Após o término de um jogo, se o resultado positivo se concretiza, qualquer alteração (seja de ordem técnica ou administrativa) é vista com restrição sob a máxima “time que está ganhando não se mexe”.

Porém, se após o apito final o placar é desfavorável, rapidamente está instalada a “crise”, que pode surgir de diferentes esferas que compõem a modalidade: imprensa, dirigentes, comissão técnica e torcida.

O fato é que, movidos pela suposta crise, as soluções encontradas quase nunca convergem com as reais necessidades dos jogadores/equipe. Sendo assim, o Jogar apresentado, ou seja, o produto final, que pede uma análise fria, precisa e criteriosa é constantemente distorcido por uma visão em que o termômetro é a emoção.

E é neste cenário que o futebol brasileiro vai encerrar a temporada de 2013. Das 20 equipes que disputam o Brasileiro Série A, 14 já trocaram de treinador totalizando 21 demissões. O resultado é fácil de ser observado: equipes desorganizadas, baixa qualidade de jogo e evidente distanciamento do futebol coletivo evoluído. Como afirmou um companheiro de profissão: a luta que iremos observar nas rodadas restantes é a dos "jogos-feios" contra o rebaixamento. O campeão já está virtualmente decidido.

Também neste cenário, uma equipe tenta sobreviver à crise. O atual campeão mundial de clubes, Corinthians, mesmo com a sequencia de resultados negativos, ameaça de rebaixamento e pressões externas e internas extremas, mantém o treinador Tite (há três anos no cargo) e dá um bom exemplo ao futebol brasileiro.

O treinador não tem conseguido reajustar o sistema após a saída de uma peça fundamental, não possui qualidade semelhante na reposição e o calendário atual não permite o tempo adequado de treinamento e, consequentemente, de novas aquisições complexas ao jogar.

Somam-se estes elementos ao ambiente atual e a permanência de Tite deve ser considerada uma vitória, da classe, da gestão, do planejamento, da coerência e do longo prazo. Expressões esquecidas/inutilizadas em nosso futebol.

Após mais um mau resultado e mais uma reunião, a diretoria afirmou que segue com o treinador até ao final da temporada. Tite, por sua vez, disse que nas condições atuais não abandona o cargo. Com esta decisão, não existe a certeza de reversão do quadro atual. Existe, porém, a sensatez de que a mudança de treinador tampouco é garantia de vitória.

Pode ser que a torcida, a imprensa e até parte da diretoria, habituados à "dança das cadeiras" nas comissões técnicas do futebol brasileiro não compreendam a decisão da permanência de Tite.

Os que não compreenderem, provavelmente são os mesmos que ainda não perceberam que o futebol brasileiro está estacionado e que precisa, com mais frequência, de quebras de rotina.

E você: costuma quebrar paradigmas?

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De novo, a violência

Novamente atos de violência dos torcedores permeiam os noticiários esportivos. As cenas de violências protagonizadas nos clássicos de Minas Gerais (Atlético e Cruzeiro) e São Paulo (São Paulo e Corinthians).

Em Minas Gerais, no estádio independência, a torcida do Cruzeiro arremessou objetos e até um fogo de artifício contra a torcida do rival. Já no Morumbi, a torcida tricolor chegou às vias de fato com a polícia.

Como sempre tem acontecido, após incidentes de violência nos estádios de futebol o Poder Público promete medidas enérgicas e o Ministério Público ameaça a existência das torcidas organizadas.

A sensação é de que o Poder Público busque dar uma resposta rápida à sociedade sem preocupar-se com sua efetividade. Impedir bebidas alcoólicas ou extinguir as torcidas organizadas não fará cessar a violência nos estádios de futebol.

O Estatuto do Torcedor estabelece medidas prevendo proibição de se frequentar arenas esportivas e até mesmo prisão, mas ainda reina a impunidade.

Ademais, as forças policiais não são treinadas adequadamente para lidar em grandes eventos esportivos e acabam não tendo aptidão para lidar com o tumulto e com a violência.

Além disso, apesar das arenas modernas e da melhora na infraestrutura, o tratamento ao torcedor brasileiro ainda está muito aquém do ideal.

A Justiça Desportiva que havia aplicado pena rigorosa ao Vasco e ao Corinthians, após violência no estádio Mané Garrincha, acabou abrandando punições ao Cruzeiro (fogos na partida contra o Botafogo) e ao ABC (violência e tumulto no Frasqueirão em partida contra o Palmeiras).

A soma da impunidade (de torcedores e clubes), da falta de preparo dos policiais e da precariedade da infraestrutura dos estádios (e do tratamento aos torcedores) forma um perigoso coquetel que traz como resultado a violência.

O fato é que as autoridades brasileiras não precisam "inventar a roda", basta adequarem medidas de sucesso utilizadas na Inglaterra, Espanha, Itália e Estados Unidos para dizimar a violência do futebol brasileiro.

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Movimentos do futebol

Legitimidade, poder e urgência. Princípios bases para o estudo e análise de stakeholders sobre organismos sociais. No futebol (e no esporte, de uma maneira geral), dos poucos stakeholders que conseguem reunir os três fatores em conjunto são os atletas, artistas do espetáculo.

Todas as vezes que estes perceberam sua força e poder, o resultado é uma ampla transformação do formato de operação e tratamento que se tinha perante as entregas do espetáculo e as relações contratuais e formais com equipes, ligas e comercialização de direitos.

Caso emblemático disto, no futebol, foi o do caso Bosman, cujo resultado transformou completamente as relações contratuais entre atletas e clubes no mundo inteiro.

Dito isto, a união de atletas no Brasil que começa a se consolidar nas últimas semanas sinaliza cenários de mudança sólida e de fato transformadora para o futebol do país.

O "Bom Senso Futebol Clube" tem um sentido positivo em seu formato e reivindicações, preocupando-se com as entregas de um melhor espetáculo para o torcedor e a mídia, procurando, acima de tudo, proteger os verdadeiros astros do esporte – coisa que os dirigentes ainda não perceberam.

Importa, ainda, que as reivindicações passem a ter cada vez mais respaldo técnico – do contrário, como em muitos movimentos tidos como revolucionários que fracassaram, perde-se o foco ou há um exagero na dose e na medida da transformação.

As mudanças têm que ocorrer e irão ocorrer, cada uma a seu tempo. A boa solução é que a iniciativa parta realmente de um lado que consiga ter poder de barganha com as lideranças do segmento.

E, que acima de tudo, foque em projetos consistentes, pensando em um desenvolvimento gradativo, sem que haja necessariamente uma ruptura drástica que dê margem para a desvalorização do movimento.

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O que a NBA ensina e o que a NBA tem para aprender

A HSBC Arena, no Rio de Janeiro, sediou no último sábado o primeiro jogo da NBA na América do Sul em todos os tempos. O espaço recebeu um confronto entre Washington Wizards e Chicago Bulls, válido pela pré-temporada da liga profissional de basquete dos Estados Unidos, e o evento serviu para criar sensações dicotômicas. Além de ter ensinado muito, a organização da competição recebeu enormes lições no Brasil.

A primeira grande lição da NBA aos brasileiros começou, na verdade, muito antes do jogo. A liga escolheu times que têm relevância no Brasil – os Bulls pela torcida, os Wizards pela presença do pivô brasileiro Nenê – e iniciou há pelo menos seis meses um plano de divulgação do evento.

Outra aula da NBA foi dada nos dias que antecederam a partida. Os dois times chegaram ao Brasil no início da semana e fizeram um intenso roteiro. Os jogadores foram, por exemplo, ao Cristo Redentor e ao Morro do Alemão. O segundo passeio foi usado para promover o “NBA Cares”, programa assistencial da liga.

O ápice dessa programação foi o “Dia do Torcedor”, promovido na última quinta-feira. Os times se apresentaram na HSBC Arena e abriram o espaço para cerca de 4 mil torcedores. Dois garotos que estavam nas arquibancadas ainda foram convidados para entrar na quadra e tentar arremessos de três pontos.

Para completar, Bulls e Wizards tiveram agenda atribulada de compromissos com veículos de mídia. O atendimento a diferentes plataformas incluiu jogadores, ex-jogadores e dirigentes da NBA.

O roteiro foi muito bem montado, portanto. A NBA soube promover o jogo e maximizar a exposição relacionada a ele. A partida no Brasil serviu como mote para a liga interagir com a mídia, promover aspectos que importam a ela e mostrar pontos turísticos locais – afinal, isso serviu para valorizar o investimento do Rio de Janeiro no evento e reforçar o caráter único da partida.

No sábado, a NBA completou a aula ao montar um verdadeiro show para o público que foi à HSBC Arena. Houve apresentações de mascotes, dançarinos e cheerleaders. A partida contou com ações no telão e na quadra. Todo o entorno foi bem montado.

E aí começaram os pontos em que o controle fugiu das mãos da principal liga de basquete do planeta. O show que precedeu a partida foi acompanhado por uma HSBC Arena vazia. Até o fim do segundo quarto havia enormes clarões no ginásio, que teve 13.635 espectadores.

Arnon de Mello, presidente da NBA no Brasil, disse que a liga ficou satisfeita com a experiência proporcionada a quem entrou na arena e que o atraso do público foi causado por problemas fora do equipamento. Houve uma clara divisão entre o que os torcedores vivenciaram dentro e fora do ginásio.

Como gestora do evento, a NBA tem razão ao dizer que não pode assumir a culpa por problemas estruturais da cidade. No entanto, é impossível dissociar as coisas para quem vai ao jogo. O público paga por uma experiência completa, que começa na compra do ingresso e acaba no retorno para casa.

Uma lição que o jogo de sábado oferece, portanto, é que a gestão de um evento precisa ser sistêmica. É fundamental que a organização se preocupe com detalhes, mas a partida precisa ser abordada como algo muito maior do que os 90 minutos. É o que a NBA fez com maestria até o dia da partida.

A realização de um evento esportivo precisa de suporte de autoridades locais. A partida depende de apoio logístico em aspectos como trânsito e entrada de torcedores.

Além disso, a organização precisa se esforçar para minimizar o impacto de problemas externos. O Botafogo fez isso há dois anos, quando instituiu shows gratuitos antes dos jogos a fim de reduzir as filas que se formavam no Engenhão.

A NBA também tinha uma programação antes da partida. O que faltou à liga foi entender quais atrações fariam a chegada do público à HSBC Arena ser paulatina e menos atribulada.

Entre as pessoas que chegaram cedo, chamou atenção a animosidade. Nenê foi vaiado quando aquecia e quando pegou o microfone para falar uma mensagem de abertura da partida. O jogador Leandrinho e o cantor Naldo, que estavam na torcida, também sofreram com apupos do público quando apareceram nos telões.

A situação ficou ainda pior porque o ex-jogador Oscar Schimdt, que estava na torcida, foi ovacionado pelo público. E porque o “Mão Santa”, interpelado por jornalistas sobre as vaias, endossou as críticas a Lendrinho e Nenê, jogadores com histórico conturbado na seleção brasileira.

“Quer que eu diga o quê? Há anos eu venho dizendo. Ele [Nenê] vem aqui falar de país? Que país ele tem? Sobretudo sobre ele e o Leandrinho, não tenho nem o que dizer. O povo não esquece”, declarou Oscar.

Neste ano, Leandrinho e Nenê estiveram entre os jogadores que pediram dispensa da seleção brasileira que disputou a Copa América de basquete. O Brasil perdeu todos os jogos, foi eliminado ainda na primeira fase e agora depende de um convite para disputar o Mundial da categoria.

Leandrinho e Nenê tiveram problemas físicos, mas as dispensas também refletiram negociações mal conduzidas com as equipes que eles defendem na NBA. “Isso não me abala. Estou calejado. É coisa de gente egoísta, mesquinha e pobre de espírito”, disse o pivô do Washington Wizards depois do jogo de sábado, quando questionado sobre as vaias e as declarações de Oscar.

Responsáveis pela organização da liga admitiram que as vaias foram frustrantes. A NBA esperava uma torcida participativa e simpática, sobretudo pela presença de um brasileiro na quadra.

A reação do público, contudo, é um reflexo claro de uma escolha feita pela própria NBA. O Washington Wizards não está entre os times mais fortes da competição, e o principal atrativo da franquia no Brasil era a presença de Nenê, um pivô que está nos Estados Unidos desde 2002 e tem histórico raso no país natal.

Entre os brasileiros que estão na NBA, Leandrinho causaria reação parecida. Tiago Splitter (San Antonio Spurs) talvez não fosse vaiado, sobretudo por ter um histórico de participações na seleção brasileira, mas é pouco carismático. A única opção da liga seria ter no Brasil o Cleveland Cavaliers do pivô Anderson Varejão.

Varejão também teve problemas com a seleção brasileira no passado e é outro que pediu dispensa da Copa América. No entanto, o pivô é extremamente carismático, o que o transformou em personagem até nos Estados Unidos.

A NBA deu várias lições ao esporte brasileiro em toda a fase que precedeu o jogo de sábado. Depois da realização da partida, porém, está claro que a liga também recebeu dois grandes ensinamentos: é impossível ignorar os problemas externos ao planejar um evento e nenhum campeo
nato pode ser maior do que seus ídolos.